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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS BACHARELADO VINÍCIUS DESCOVI RODRIGUES O CONSERVADORISMO NO BRASIL: O legado de Alberto Torres e a Constituição de 1934. Santa Maria 2013 INTRODUÇÃO Desde os princípios da colonização, observa-se um predomínio de ideais conservadores ante aos liberais na sociedade brasileira, influenciando o pensamento constitucional e, consequentemente, a história constitucional brasileira. No império do absolutismo não existia Constituição. As colônias eram regidas pelas Ordenações Filipinas. Somente após a independência, o Brasil escreve a sua primeira Constituição, em 1824, influenciada pelo liberalismo reinante no ocidente. Em verdade, escrita por uma elite que se dizia liberal, mas que defendia interesses particulares em detrimento dos ideais liberais e do bem comum. Assim, o elemento caracterizador do pensamento conservador no período do Império foi a defesa dos ideais da elite tradicional, isto é, o prestígio na corte, a apologia à escravidão e a manutenção do regime senhorial desenvolvido pela oligarquia agrária, representante maior de tal pensamento. Contudo, o Poder Moderador, deferido na Constituição de 1824, era característica predominante do período, marcado pela centralização de poder nas mãos do Imperador. Em contrassenso, as províncias queriam autonomia e pleiteavam a descentralização do poder, destarte, começam nos bastidores do governo os proclames para o golpe de Estado que destituiu D. Pedro. Pretende-se, com este artigo, elucidar questões defendidas pelo movimento conservador no período de transição do Império para a República, com enfoque nas contribuições de Alberto Torres e seu legado que se alavancou em base teórica para Constituição de 1934, e quais os seus reflexos no pensamento constitucional brasileiro. O movimento conservador no Brasil Imperial Apesar da estruturação do Estado Moderno e da difusão dos ideais liberais, influência predominantemente francesa no século XVIII, devido à gloriosa Revolução de 1789, ao se adentrar no estudo da história constitucional brasileira, vislumbra-se a ascendência do pensamento conservador e sua práxis no cotidiano político- jurídico. Assim, como nos modelos da comunidade internacional, que evoluía do absolutismo para o liberalismo, o Estado Imperial nascente outorga a Carta Política de 1824, implementando no Brasil uma Monarquia Constitucional, que se diferencia dos demais países do globo, pois incluía, dentre os poderes do Estado o Moderador, o que dava ao Imperador o direito de intervir nos demais poderes e dissolver a Câmara dos Deputados. Logo, podia coibir os excessos revolucionários, bem como os riscos de democracia. Oliveiros Ferreira (2007: 11), aponta a situação do Estado imperial brasileiro como mal colocado diante da América, pois como sendo uma monarquia hereditária baseando-se no sistema de governo de gabinete inglês, contrasta com as Repúblicas em que toda a América estava a se organizar. É preciso ressaltar que, como todas as Constituições brasileiras, a Constituição de 1824 era mais evoluída que o povo a que se destinava, devido a sociedade da época predominantemente escravista e seguidora do regime senhorial. Desta forma, os ideais de liberdade do mundo ocidental que nortearam o viés da constituição eram contrários aos interesses da elite dominante, porquanto esta se fez omissa aos ditames libertários, não constando na Carta Magna qualquer alusão à escravidão. Ato reflexo aflora em Recife a Confederação do Equador sob os ideais libertários e republicanos. No entanto, não resistem ao poder do Império e sucumbem, deixando latentes tais tensões e inconformismos, que acabam por se manifestar tão logo, em 1831, contribuindo para a abdicação de D. Pedro. Inicia-se o período das regências, caracterizado pelas divergências entre o Estado Liberal e o Império brasileiro, isto é, o debate em voga era centralização versus descentralização, sendo propício o momento para reformas constitucionais que estruturassem o Brasil como Estado moderno. Demarcados os grupos políticos, verifica-se que, segundo a visão conservadora, de um lado ficava o ‘governo dos bons patriotas’, que lutavam pela grandeza do Império do Brasil e pela liberdade nacional; do outro, grupos anárquicos, que pleiteavam o fracionamento do Brasil em estados fracos e infelizes. Com a promulgação do Código de Processo Penal, em 1832, e dentre as inovações o reconhecimento do habeas corpus, houve um incentivo liberal ao Estado, principalmente, no sentido de dar autonomia municipal, iniciando assim a descentralização, mas colaborando imensamente para a acentuação das diferenças entre liberais e conservadores. Após muitas discussões e expectativas de reformas constitucionais, o Ato Adicional de 1834 não descentralizava os mecanismos de poder político nem concedia total autonomia às províncias, mas transformou os Conselhos de Estado em Assembleias Legislativas Provinciais, as quais tinham poder para deliberar sobre jurisdição civil, judicial e eclesiástica, saúde pública, impostos, dentre outros. O retorno à centralização foi alçado então, pelo partido conservador. Fatores diversos ascenderam a reação centralizadora, tais como o desaparecimento de D. Pedro, em 1834, a renúncia da Feijó à regência (setembro de 1837) e a subida de Araújo Lima. No intuito de defender as prerrogativas do poder centralizador do Estado e garantir as estruturas sociais e políticas do Império, a Regência de Diogo Feijó, seguida por Araújo Lima, foi combatente com o objetivo de reformular o Ato Adicional e anular as prerrogativas autonomistas dadas às províncias, restaurando assim a unidade do Império. Neste contexto, Raymundo Faoro em sua obra mor “Os Donos do Poder”, aponta a obra centralizadora do império na época da regência: A obra centralizadora posta em prática pela independência, aglutinada em séculos de unidade monárquica, não sofre desafio nos seus fundamentos. As províncias não querem a separação, a autonomia, a desintegração ao modelo da América Espanhola. Elas, ao contrário, reclamam maior parte e melhor quinhão na partilha do poder. (...) A renúncia de Feijó, com a ascensão de Pedro de Araújo Lima, indica o fim do governo liberal moderado, inaugurado em 1831. Outra corrente – o regresso, crisálida do partido conservador – corrente que disputará, com base inicialmente na política do norte, o poder a Feijó, apropria-se do governo, mediante a câmara dos deputados. (FAORO, R. 1995. p. 316-322) Neste período definiam-se os dois grandes partidos do Brasil Imperial: o Conservador e o Liberal. Foi no período regencial que teve início o Partido Conservador do Brasil Imperial. Originário de uma cisão entre os liberais moderados, o partido era composto por figuras ilustres ligadas à cultura do café. Em nome da preservação da unidade territorial do Império, ameaçada pelos planos de separação das províncias rebeladas, esses políticos defenderam com determinação e vigor o fortalecimento do Poder Imperial, através do reforço dos mecanismos da centralização, além de sustentarem com firmeza a continuidade da utilização da mão de obra escrava para maior incremento da produção do café, cada vez mais dependente de novas terras e mais braços escravos. E como aponta Faoro (pagina): A participação do café no comércio exterior projetou-se de 18,3% no período 1821-30 para 43,8% mo decênio seguinte. (...) A nova cultura tem efeitos de longo alcance em toda a estrutura política, social e econômica.(...) A corte, de ponto de referência de interesses conjugados, seria o centro da produção econômica, com a prosperidade de sua área geográfica contigua. Há uma teia de situações convergentes que conspiram para a reorganização: a fazenda se abre no rumo exportador com o traço monocultor em ascendência, e com vínculos comerciais adensando-se na sua intensidade. O investimento se compunha, basicamente, de escravos e terras, além da pequena parcela consagrada às construções de maquinaria. (FAORO, R. 1995. p. 326) Desta forma a economia nacional se alavanca com a produção cafeeira, a mão de obra escrava como sendo a peça chave das fazendas de café é vista como fora dos interesses ingleses, há enfrentamento por seu turno da parte da regência vigente à política inglesa de repressão ao tráfico negreiro para permitir a continuidade do abastecimento da mão de obra escrava, e não mediram esforços para realizar as reformas que achavam necessárias para concentrar no Governo Geral todo o poder de decisão política. As contribuições de Alberto Torres para a Constituição de 1934 Alberto Torres está ligado intimamente ao pensamento autoritário brasileiro. Torres é apontado como pai desta tradição, pois sendo responsável por parte da formação de Oliveira Vianna, símbolo do pensamento autoritário. A obra de Torres recebeu reconhecimento a partir da década de 1930, quando suas ideias frutificaram na Constituição de 1934 (FERNANDES, M. 2010). Ao adentrar na carreira política, Torres, assim como muitos liberais de sua época, entra para o partido republicano, o qual aproximou-se da linha moderada. Desencantou-se com o regime republicano vigente, e passou a criticar o excesso de descentralização com o governo de oligarquias. Fernandes (2010: 99) aponta “A partir de então propôs reformas que visavam à instituição de mecanismos de controle das oligarquias e de centralização do poder”. Por ser republicano, Torres defendia o movimento abolicionista. Mas o que se provém após a libertação dos escravos foi uma chamada desorganização da produção. Deste modo o país que se enxergava era desorganizado e sem projeto. A sensação de que as coisas estavam “fora do lugar” no caso da República brasileira levaram o fluminense a refletir sobre a realidade brasileira – sempre a partir do Rio de Janeiro – e as implicações do passado escravista e monocultor tiveram sobre o país. (...) Por adequação institucional, podemos entender a centralização anárquica da república federativa (FERNANDES, M. 2010. P. 100) Devido a esses desencantos com a república vigente, Torres defendera um Estado organizado de maneira centralizada e de uma visão orgânica da sociedade. Em sua elaboração do projeto de revisão constitucional de 1891, preconizava a proposta de centralização política e de representação classista. Suas ideias foram apropriadas por discípulos como Oliveira Vianna e Plínio salgado. Em suas propostas, Torres defendia maior centralização política, mediante a criação de um Estado forte; tinha em mente a necessidade da construção de uma identidade nacional, criticando o que chamava de “federalismo de caudilhagem”, em que o Estado somente representava a interesses de grupos privados que se apropriam do país. Em seu projeto, Torres ampliou o escopo intervencionista do governo central, limitando o poder dos estados; para evitar a tendência de o executivo usurpar o poder legislativo, criou-se assim o poder coordenador com fins de harmonizar e preservar os interesses nacionais. Oliveira Vianna posteriormente elogia a Alberto Torres e sua proposta de introduzir a representação classista e defende a criação dos chamados “conselhos técnicos”, que substituiriam as, vistas por ele como facciosas, as assembleias meramente políticas. A constituição de 1934 instituiu a figura da representação classista, já defendida por Alberto Torres em 1914. É visto, portanto, em Oliveira Vianna a essência das ideias de Torres, há uma formulação mais aprimorada em Vianna. Sua proposta constitucional seria necessariamente rotulada como autoritária, aproximando-se da defesa dos órgãos classistas dos regimes fascistas. Quanto a questão do poder coordenador, Oliveira Vianna a considera como um arranjo um tanto confuso e pouco exequível. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora no Brasil – contribuição ao estudo da formação brasileira. Rio de Janeiro. Topbooks, 2003. BRANDÃO, Gildo Marçal. Linhagens do pensamento político brasileiro. São Paulo. Hucitec, 2007. FERNANDES, Maria Fernanda Lombardi. O pensamento político de Alberto Torres: a reforma constitucional e o Estado brasileiro. In: FERREIRA, Gabriela Nunes & BOTELHO, André. Revisão do pensamento conservador – Ideias e políticas no Brasil. São Paulo. Hucitec. 2010. FERREIRA, Oliveiros S. Elos Partidos – uma nova visão do poder militar no Brasil. São Paulo. HABRA, 2007. FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder –I. São Paulo. Globo, 1995.
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