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Dor Crônica

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Dor Crônica
 Introdução
 O diagnóstico de uma doença traz consigo a mudança da condição de sadio para a condição de doente. Em tal situação, o paciente passa a lidar com o risco eminente de adoecer, sofrer e morrer. Isso faz com que ele viva constantemente ameaçado por essa situação, que representa um ataque não somente ao seu corpo, mas também ao seu psiquismo. Na medicina, o objetivo da dor é informar ao médico acerca da localização e da natureza do problema orgânico, a fim de lhe dar condições de tomar as medidas corretivas necessárias. Na psicologia, é por meio da palavra e da expressão que se tem acesso à dor do paciente. A Psicossomática e a Psicologia da Dor são embasados em estudos e pesquisas para que se possa compreender um pouco mais os problemas que podem ser apresentados pelos pacientes que sofrem de dor crônica e suas sequelas emocionais.
 Segundo Roudinesco (2000), um dos aspectos inerentes a todo ser humano é a capacidade de perceber, sentir e elaborar sentimentos. Tais sentimentos se expressam dentro de um padrão específico em um meio sócio cultural. Também não se podem eliminar os potenciais genéticos que produzem padrões flexíveis sob influência de fatores externos. A depender de como o indivíduo e seus potenciais interagem com o meio ambiente, dentro de uma área afetiva, cria-se uma simbologia própria de cada ser humano, em um comportamento idealizado para a coexistência. A forma mais importante de contato que estabelecemos com nossos processos subjetivos é a emoção. Percebemos que, a partir de todo estímulo, externo ou interno, dependendo de sua intensidade imediata e afetos individuais, poderá se desencadear uma situação conflitante e surgir uma sensação dolorosa que estabelece a ação do estresse (BERLINCK,1999).
 As sensações dolorosas vivenciadas pela maioria das pessoas podem resultar de uma ação mecânica externa, provocadora de lesões, ou de origem interna, através de uma hiper ou hipo função de um determinado órgão ou sistema. As dores, normalmente, se apresentam de duas formas: agudas, quando mais facilmente se determina sua causa, ou crônicas, de difícil determinação e que parecem fazer parte da vida do indivíduo. Essas duas formas se comprometem com os processos fisiológicos do organismo, mas, no entanto, uma terceira forma se configura e se entremeia às outras. É a dor psicológica, a dor da alma. Desde os tempos mais remotos, a dor tem tido profundas raízes morais e religiosas, podendo representar a vontade divina, ou um “elixir” para limpar a alma (Karma).
 De acordo com Teixeira (1999), dores que tendem a manifestar-se continuamente, como as psicossomáticas, são muito difícil de serem extintas, mas uma vez que o sintoma da dor cede, o lugar fica vazio, e muitas vezes outo sintoma, outro transtorno acaba aparecendo. As pessoas com dores crônicas experimentam um certo desamparo diante da dor. Depois de buscarem em diversos médicos, e tentarem todos os medicamentos possíveis parece que nada funciona, que nada dá certo. A dor então de certa forma deixa de ser um problema aos poucos, passa a fazer parte da pessoa, de sua personalidade, de sua vida. A pessoa se lembra muitas vezes de sua vida antes e depois da dor, como se fosse um marco, uma marca que ficou para mostrar que antes a vida era muito melhor. Hoje em dia utiliza-se com muita aceitação alguns antidepressivos para tratar estas dores. São chamadas de dores crônicas que não tem necessariamente uma fonte etiológica definida. E quando tem, parece que de alguma forma os medicamentos comuns são inúteis. 
 A psicossomática é uma dor, uma doença, que teve sua origem mais ou menos diante de algum, ou mais provavelmente alguns traumas, nos primórdios de nossa vida, por exemplo no nascimento. A psicossomática é um atuar, uma ação determinada em algum órgão específico que no momento do nascimento representou, significou uma quantidade de sofrimento em um momento em que segundo Freud o ego ainda era um ego corporal.
 Essas famosas dores crônicas no entanto em sua maioria, são diferentes. Costumam aparecer mais frequentemente entre pessoas que já tem uma vida estabilizada, ou estão perto disso. Elas deixam apenas uma marca, você tem que se cuidar, porque dói. As dores crônicas são em outras palavras uma parte de nós que responde a um estímulo específico que nos engana, aos estímulos das infinitas possibilidades que o capitalismo nos passa a todo instante (LIMA,1992).
 Em um exemplo, o Lima (1992), comenta certa vez em que foi ao shopping em Londrina com sua namorada e eis que ela disse, "Amor olha como a gente é pobre!!!" Acho que nunca ri tanto de minha miséria. Fazer um Chiste diante da nossa impossibilidade valeu muito mais que a dor de cabeça de ter que pagar um produto que eu não tenho condições de comprar. Aqui aparece a dor crônica. Diante do que eu não poderia (ao menos não me autorizo) ter ou ser, a dor crônica vem como uma forma de punição, de castigo por algo que eu não deveria experimentar.
 
 DEFINIÇÃO DE DOR
 
 O fenômeno dor sempre intrigou e desafiou a comunidade científica. A International Association for the Study of Pain (IASP) foi fundada, em 1973, visando a reunir profissionais interessados em aprofundar estudos sobre a dor e a trocar experiências clínicas, levando a uma maior sistematização do tratamento da dor, oficialmente definida como sendo uma "desagradável experiência sensorial e emocional associada a um dano atual ou potencial do tecido, ou descrita em termos deste dano". O termo "desagradável" desta definição já denota o caráter subjetivo da dor, que abrangeria mecanismos fisiológicos, psicológicos e comportamentais, sendo que o suas experiências sucessivas criariam um "comportamento de dor" que envolveria os pensamentos, os valores culturais, e o ganho secundário. Os fatores neuro-hormono-químicos também fazem parte, junto com os biológicos, psicológicos e comportamentais, da complexa síntese que define a dor. A relação entre estímulo psicossocial e a resposta endócrina foi explorada nos anos 70-80, e a Psiconeuroendocrinologia estabeleceu-se como disciplina. Mais adequado seria dizer Psiconeuroimunoendocrinologia, por revelar a inter-relação entre estes sistemas, ligação esta que explicaria a associação encontrada, na prática clínica, entre estresse psicológico e infecção, e a associação encontrada entre depressão e uma menor resistência à infecção e a propensão ao desenvolvimento, morbidade e mortalidade por câncer 
 OS MECANISMOS DA DOR 
 Muitos são os desafios encontrados quando se procura compreender os mecanismos de dor, dentre eles a "dor fantasma", relativamente comum em pacientes amputados. Deve-se estar ciente da possibilidade de ausência de dor na presença de um estímulo nocivo, da percepção de dor na ausência de um estímulo nocivo e da manutenção da dor mesmo após o desaparecimento deste, quando a resposta de dor na ausência do estímulo que a originou tornar-se uma resposta a diversos estímulos semelhantes ou não ao original, encontrando uma maneira de se manifestar. Só não se sabe por que isto acontece, e por que com algumas pessoas sim e com outras não. Estudos sobre a capacidade dos paraplégicos sentirem seus corpos revelaram que o cérebro poderia gerar qualquer tipo de experiência provocada normalmente por um estímulo sensorial, e que a dor fantasma poderia aumentar devido a problemas psicológicos, excitação ou depressão dos pacientes, sendo possível, ainda, associar um estado de bem estar à diminuição da dor. A etiologia da dor fantasma é desconhecida, mas supõe-se haver uma memória somato-sensorial que não se localiza especificamente em uma região do cérebro, mas envolve, sim, uma complexa interação de redes neurais no cérebro. Já em 1933 Freud acreditava que os estados afetivos, como a dor ou a ansiedade, seriam uma reprodução de um evento antigo (experiências traumáticasprimevas) que representaria uma ameaça de perigo, uma vez que paralisaria a função reguladora do princípio de prazer. Para ele, a partir do momento em que uma experiência dolorosa primeva se gravasse no psiquismo, ao ocorrer uma situação semelhante, por mais parcial que fosse, os estados afetivos precipitados pela antiga experiência dolorosa seriam revividos como símbolos mnêmicos. A resposta consensualmente confiável para esta e outras questões ainda está por vir, mas atualmente concorda-se que múltiplos fatores em diversas esferas contribuem, todos, para o desenvolvimento das síndromes de dor crônica, que as vias da dor são a sensação, a transmissão, a percepção e a reação, e que as medidas de sensibilidade são individuais, assim como todos os demais mecanismos de dor. 
 Esta subjetividade que permeia tais mecanismos leva-nos a rejeitar a existência de uma verdade quanto à etiologia, à manutenção e à eficácia do tratamento da dor. A filosofia kantiana do fim do século XVIII já havia distinguido o objeto em si (objeto "real"), que é inatingível, do objeto como ele aparece (objeto percebido e interpretado individualmente), este sim por cada um cognoscível. E a Psicanálise, por outro lado, advertiu ser possível que um desejo ou uma ameaça sejam tão fortemente experimentados a ponto de serem reconhecidos, pelo indivíduo, como fatos reais. Cada pessoa vai perceber, reagir e elaborar sua dor de forma particular e assim, o ser humano estará sempre desafiando os saberes e reformulando novas teorias e técnicas. Para Nasio (1992), a dor resulta de uma dupla percepção: uma que é externa, somato-sensorial, voltada para captar a sensação dolorosa, e outra que é interna, somato-pulsional, voltada para captar o transtorno psíquico que se segue após a primeira. Não se pode dizer o que é realidade absoluta, já que as diversas imagens (perceptivas, evocadas a partir de um passado real e evocadas a partir de planos para o futuro) são construções do cérebro, sendo reais para quem as têm. As imagens mentais seriam construções momentâneas, tentativas de réplica de padrões que já foram experienciados, e o que seria armazenado não seria a imagem em si, mas um meio de reconstruir um esboço dessa imagem. 
 
 A Psicossomática da Dor: As teorias psicológicas
 Algumas teorias psicológicas trouxeram suas contribuições em direção à uma reinterpretação dos mecanismos da dor. À semelhança do conceito de homeostase, em 1895, Freud lançou a ideia da existência de um princípio de constância do aparelho psíquico, formulando-a em 1920, como sendo uma tendência inerente ao sistema nervoso, para reduzir totalmente (Princípio de Nirvana) ou pelo menos manter constante as excitações presentes, de modo a manter o equilíbrio do aparelho psíquico. Em 1926, Freud considera todo processo mental de forma dinâmica, topográfica e econômica, havendo duas classes de instintos (de Eros e de Morte) e três instâncias psíquicas: o ego representante da realidade; o id reservatório dos instintos de conteúdos inconscientes e o superego, juiz, censor do ego
 Na tentativa de explicar não somente a etiologia como também a manutenção de sintomas observados nas neuroses, Freud teoriza que um determinado impulso instintual geraria um desprazer, levando o ego a tentar suprimir tal impulso. Caso o ego falhasse, em maior ou menor escala, este impulso ainda tentaria ser admitido no sistema consciente, e para tal encontraria um substituto, "mais reduzido, inibido e deslocado", isto é, o sintoma, que seria um compromisso entre o impulso inconsciente e as exigências defensivas, reduzindo assim a situação de conflito. O sintoma seria uma fuga para a doença, um benefício (ganho) primário, tendo a qualidade de uma compulsão. O esforço do ego para incorporar o sintoma acaba por aumentar a sua fixação, tornando mais difícil desfazer esse compromisso entre eles e levando o indivíduo, então, a tirar o melhor proveito da sua doença (ganho secundário). A partir de Freud, considera-se a multiplicidade causal dos sintomas. E sendo a dor um sintoma, um estado afetivo, a psicodinâmica da dor envolveria a predisposição à dor e os mecanismos de manutenção e perpetuação desta dor, lembrando que os estados afetivos têm a característica da subjetividade. Em 1926 Freud observou que mesmo as dores físicas mais intensas deixavam de surgir quando havia um desvio psíquico ocasionado por outro foco de interesse e que a ansiedade realística (devida a perigos externos) podia mesclar-se à ansiedade neurótica (devida a perigos internos), manifestando-se de forma mais comedida ou desmedida.
 Paralelamente à Psicanálise, a primeira metade do século XX nos traz informações novas, como o conceito de stress e a evidência da interação entre os sistemas nervoso e imunológico, ficando claro que as experiências cotidianas da vida poderiam causar impressões físicas no corpo e que toda doença afetaria a psique e o soma, como explicam as novas disciplinas: a Psiconeuroimunologia e a Medicina Psicossomática. A partir de então, a dor passa a ser vista como um fenômeno não somente biológico como também psicológico.
 Na segunda metade do século XX as teorias cognitivo-comportamentais, em oposição à Psicanálise, afirmam que o 366 comportamento poderia ser modelado, alterado, enfraquecido ou fortalecido como resultado direto do ambiente, sendo a dor sensorial, "respondente", distinta da dor "operante", está motivada por necessidades psicológicas. Ao contrário dos psicanalistas, os behavioristas acreditavam na simples causalidade existente entre a manutenção da dor e as influências ambientais e que a dor seria reforçada mantida apenas pelo ganho secundário através dela obtido, sendo desconsiderada a psicodinâmica da dor. Também por volta dos anos 50, os primeiros terapeutas de família e teóricos sistêmicos estudam a comunicação humana concluindo que, em condições de interação, é impossível não comunicar, e que toda comunicação tem um aspecto de conteúdo e um aspecto de relação, sendo portanto digital-manifesta, mas também analógica-latente. Pode-se afirmar que há mais de uma forma de se comunicar a dor. Pode-se ainda dizer que a dor, como qualquer outro sintoma, comunicaria aspectos que escapariam ao observador desatento e até mesmo àquele mais curioso, aspectos que não estariam claramente conscientes nem mesmo para o sofredor. Assim, diante de um paciente com dor é preciso pesquisar do que fala esta dor, e o que é que ela cala. 
 Os teóricos sistêmicos, primeiramente, viam o sintoma como uma disfuncional característica do sujeito, mas a afirmativa, em 1977, do físico Prigogine de que um sistema tenderia tanto à homeostase quanto à mudança, havendo "ordem através da flutuação" levou à consideração do sintoma como uma característica do sistema. De todo modo, o "sistema observador" continuou sendo visto como distinto do "sistema observado" até a década de 80, quando o Movimento Construtivista defendeu a ideia da não existência de dois sistemas separados, mas de apenas um, chamado por Von Foerster "sistema observante", onde a realidade é co-construída sendo o conhecimento, portanto, uma ilusão, uma invenção. Ao trazer estes conceitos para a prática clínica, percebe-se que são importantes não somente os contextos que contribuíram para a produção e manutenção da dor, sendo o sistema familiar um exemplo, como também o contexto que envolve o momento do diagnóstico e o tratamento oferecido.
 Pensando assim, qualquer diagnóstico seria uma invenção, uma co-produção, pois envolveria não somente os sintomas - fala do paciente, como também os sinais - fala do técnico, este também possuidor de sistema próprio de crenças e valores e passível da ocorrência e da alternância dos mais variados estados afetivos. De certa forma o paciente denuncia esta co-produção, especialmente quando, ainda assintomático, tem o câncer precocemente diagnosticado, dizendo-nos: "Ele (o médico) é quem diz que eu tenho isto (leia-se: fez isto a mim, deu-me isto), maseu não sinto nada!" Como vemos, o tratamento começa pelo cuidado na hora do diagnóstico.
 A complexidade da dor
 
 Algumas dores crônicas são mais dificilmente controláveis em determinado paciente, fazendo-se necessário que ele tenha que conviver com ela, em algum nível, e com as limitações por ela trazidas. Uma maior aceitação de sua dor leva o paciente a conhecê-la e controlá-la melhor, esforçando-se para ter uma vida satisfatória apesar dela. Isto implica em relatos de dor de intensidade mais baixa, menos ansiedade e sintomas depressivos e menos incapacidade física e psicossocial. A experiência de dor crônica é estressante tanto para o paciente quanto para seus familiares, amigos, cuidadores e também para a equipe que o trata. 
 Sabe-se que o sistema familiar funciona de acordo com padrões e regras próprios, e que quando um membro adoece toda a organização deste sistema é abalada, "adoecida", compelida a mudanças muitas vezes complicadas que podem ser difíceis de elaborar. A despeito da multiplicidade de modalidades de tratamento que um Centro multidisciplinar de Dor pode oferecer, é o familiar, o cuidador, quem se responsabiliza, em grande parte dos casos, pela administração da medicação e pelo oferecimento de outras medidas que aliviam a dor, pelo transporte do paciente, inclusive para a realização do tratamento, pelo seu bem estar físico e psicológico. Cabe à equipe orientar os familiares/cuidadores do paciente, e se preciso tratá-los psicologicamente, formando uma aliança de mútua confiança e divisão de responsabilidades e buscando identificar e solucionar problemas por eles enfrentados ou criados. É preciso não apenas demandar, mas também viabilizar mudanças. A percepção e a reação do adulto, e principalmente da criança e do adolescente, à sua dor, dependerá não somente de si mesmo e de sua família, como já foi visto, mas também do ambiente hospitalar, da rotina hospitalar e da equipe terapêutica. Pequenas modificações e grandes mudanças devem ser consideradas, em micro e macroescalas, para realmente tratar um indivíduo que tem dor.
 
 Dores Somáticas X Dores Psicossomáticas
 
 As dores somático emocionais são dores que existem e doem no físico (no corpo) e que se sentem no corpo mas que têm uma componente emocional muito forte. Elas são memórias celulares de traumatismos físicos e emocionais que se alojaram no corpo aquando de algum traumatismo ou problema que a pessoa viveu. As dores somático emocionais têm uma componente física e emocional (e por vezes também psicológica) e que se manifestam no corpo e nos tecidos (LOBATO,1992).
 Elas normalmente têm uma componente física de dor, uma vez que se formaram aquando de um traumatismo físico. Elas por norma são formadas aquando de um traumatismo físico em situações em que existia uma forte componente emocional (e por vezes psicológica) envolvida.
 No entanto muitas destas dores somático emocionais podem não ter qualquer traumatismo físico associado e terem apenas uma origem emocional e ou psicológica. Ou seja, de acordo com Ávila (2004), a pessoa pode ter passado por uma situação demasiado forte em termos emocionais e somatizou essas emoções em algum lugar do seu corpo. Com o tempo ela começa a ter dores nesse local e os tecidos vão alterando e sofrendo alterações até essas alterações se tornarem visíveis. As emoções contraem o corpo e os nossos órgãos e dessa forma provocam dores sem a existência de qualquer traumatismo físico.
 Para Guimarães (1999), estas dores somático emocionais são bem reais e provocam dores físicas bem reais mas têm uma forte componente emocional por detrás, componente emocional essa que pode alterar por completo a maneira da pessoa ver a vida e de lidar com a vida. Para além da dor e das disfunções que este tipo de dor provoca no corpo ou órgão, ela também afeta toda a parte emocional e psicológica da pessoa. Muitos dos problemas psicológicos que as pessoas apresentam vêm não de problemas psicológicos mas sim das somatizações emocionais que se encontram nos tecidos e que alteram por completo a pessoa em termos psicológicos. Ou seja são as somatizações existentes no corpo que provocam alterações emocionais e psicológicas uma vez que estão constantemente a enviar essa informação ao sistema nervoso.
 Isto explica os fracos resultados que algumas pessoas obtêm com bons tratamentos psicológicos. Após a remoção de uma dor somático emocional é muito frequente a pessoa mudar bastante em termos emocionais e psicológicos, (para além de se livrar da sua dor física e das disfunções corporais associadas). Estas dores conseguem confundir qualquer profissional pois as queixas da pessoa são bem localizadas e muitas vezes não têm a ver com traumatismos físicos. Para além disto, todos os exames e testes que a pessoa faz ou faça, não mostram qualquer problema. Da mesma forma, todos os tratamentos tradicionais que a pessoa faça não costumam dar quaisquer resultados.
 Dores Psicossomáticas, como o seu nome diz, são dores que apesar de doerem no corpo e de serem bem reais em termos físicos, nada têm a ver com o físico. Isso parece mentira mas é mesmo assim que funciona. Dói imenso em termos físicos e a dor pode ser ou não localizada mas ela não está lá no físico apesar de dar essa sensação. Ou seja, não existe alteração de tecidos, nem existe alteração da fáscia, nem existe uma somatização capaz de provocar dor.
 A verdade é que até pode existir algo no físico, mas essa dor não está no físico. A dor não existe no corpo. Ou seja a dor não tem uma causa física para a sua existência. A dor não existe nos tecidos (não existe nada físico a provocá-la) apesar de ser bem sentida e das dores que provoca serem bem reais. Ela pode estar relacionada com algum traumatismo físico ocorrido no passado, mas agora essa dor não é física mas sim psicossomática. Ou seja esta dor não existe em termos físicos mas em termos psicossomáticos (manifesta-se no físico, mas não porque exista um problema físico, mas sim porque existe algo a nível psicológico, mental e ou emocional).
 O fato da pessoa ou do local ter sofrido dor no passado, leva a pessoa a acreditar que a lesão ainda se mantém e leva os profissionais a acreditarem que o problema ainda se mantém. Estas dores enganam quer a pessoa/paciente quer os mais diversos profissionais pois são bem reais e são bem dolorosas, apesar de não serem físicas. Estas dores são quase sempre constantes ao longo do dia e muitas das vezes incapacitam a pessoa por completo para o seu dia a dia. Esta é outra das razões das dores crónicas. A resolução destas dores psicossomáticas passa por:
1) Compreender e levar a pessoa/paciente a ver que elas não são físicas.
 Esta é uma tarefa muitas vezes bastante complicada, pois a pessoa não acredita que algo que dói tenha um origem emocional ou psicológica e continua a teimar que o que tem é dor física. Afinal o que dói é o corpo e torna-se difícil alguém acreditar que o seu corpo não tem nada. Infelizmente enquanto a pessoa não permitir que se faça outro tipo de abordagem, não é possível eliminar as suas dores "físicas" (que se manifestam no físico). Esta é uma das causas de algumas fibromialgias e dores crónicas "não terem cura". Quando a pessoa não admite que as dores possam ser da sua cabeça e ela não aceita fazer tratamento à sua parte mental, emocional e psicológica ela não se vai conseguir libertar deste tipo de dor. Algumas fibromialgias e dores crónicas são psicossomáticas e nada têm a ver com o físico.
2) Fazer um trabalho de procura e libertação das origens emocionais ou psicológicas que estão por detrás das dores psicossomáticas.
Também aqui o problema não é nada fácil pois a pessoa nunca vai ao psicólogo para trabalhar um dor "física". Como se não bastasse, o psicólogo muitas das vezes não está preparado para lidar com estas queixas e sintomas, pois são demasiado físicas. E por último, as causas psicológicas costumam estar bem alémdas técnicas e dos conhecimentos do psicólogo ou dos muitos profissionais que lidam com o assunto. Muitas destas dores psicossomáticas são dores que vêm do inconsciente ou que vêm da alma que são áreas ainda desconhecidas para muitos profissionais.
3) Muitas das vezes as dores psicossomáticas também têm uma mistura de dores físicas e emocionais (sobretudo na sua origem) que estão de tal maneira interligadas que se torna muito difícil saber por onde começar e mesmo quando se sabe por onde começar, os resultados levam tempo e dão demasiado trabalho.
 As dores psicossomáticas são também muitas vezes encontradas na fibromialgia e em dores crónicas e o facto de doerem no físico leva os pacientes a nunca acreditarem que elas tenham uma causa emocional nem psicológica e dessa forma torna-se impossível fazer seja o que for para as aliviar. Esta é a principal razão porque muitas dores crónicas e algumas fibromialgias não se conseguem eliminar enquanto a pessoa não aceitar fazer um trabalho emocional e psicológico para se libertar das suas emoções  e dos  problemas (e de outros componentes) que lhe provocaram fortes alterações emocionais e ou psicológicas. Chegados aqui, poderíamos pensar que bastava fazer apenas um trabalho a nível emocional e psicológico e tudo se resolveria. Nada mais errado. A maior parte destes problemas emocionais e psicológicos estão muito abaixo do nível de consciência da pessoa e ela não se apercebe de que eles existem nem de que eles a afetam. A pessoa por mais que olhe para o seu passado nunca consegue encontrar nenhum trauma nem nenhum problema emocional e muito menos um que possa ser responsável pelas suas dores. (Na verdade pode nem existir nenhum problema no seu passado). A maior parte destes problemas emocionais existem a um nível inconsciente e sem qualquer percepção da pessoa acerca da sua existência. Da mesma forma podem nem existir no seu passado como traumas ou problemas.
Esta é também a razão de serem muito poucos os profissionais que se apercebem de que existe uma razão emocional e psicológica por detrás da dor que a pessoa tem. E menos ainda aqueles que conseguem trabalhar estas situações.
Esta é uma daquelas situações que não se vê nem se percebe, quer pela pessoa quer pelo profissional. Quando determinada dor se mantém ao longo de anos, apesar das boas abordagens e terapêuticas efetuadas, então é bom suspeitar de que pode existir algo "invisível" por detrás da dor. E que lidar com essa dor e com essa pessoa não vai ser um trabalho fácil e que irá sempre falhar até ao dia em que a pessoa/paciente pare e aceite a possibilidade da sua dor ter uma causa emocional/psicológica. Depois há que encontrar quem se entenda com esse tipo de problema pois não é um trabalho para as abordagens tradicionais.
 Problemas deste tipo têm causas que não se vêm nem se estudam nas abordagens tradicionais. As dores psicossomáticas (tal como as somático emocionais e as fasciais e miofasciais) são muitas das vezes as responsáveis pela dor crónica e pelas fibromialgias. Muitas doenças, dores, disfunções, etc. são psicossomáticas ou seja têm a sua origem na mente. Saber identificar quais as suas causas e corrigi-las a uma arte que requer aprendizagem e experiência e não apenas formação. Isto explica a razão de muitas doenças, dores, problemas físicos, disfunções, etc. se dizem sem tratamento ou não reagem aos tratamentos.
 Quando se aprende a identificar e a corrigir as causas dos problemas, tudo ou quase tudo se torna possível. É desta forma que dores crónicas, dores miofasciais, dores psicossomáticas, fibromialgias e muitos problemas que frequentemente se dizem sem solução, podem ser corrigidos em muito pouco tempo. No entanto, levar a pessoa a olhar sua mente e as suas decisões tomadas a nivel inconsciente ou que existem no seu inconsciente não é nada fácil uma vez que isso requer prática; e muita colaboração da pessoa. Este costuma ser o factor mais dificil de ultrapassar uma vez que nunca ninguém nos ensinou a fazer esse trabalho.
 Para além disso o problema, a dor e a doença foram a solução encontrada pela pessoa e pelo seu inconsciente para lidarem e resolverem determinado problema e ficar sem esse problema, dor ou doença é algo que a pessoa inconscientemente nunca quer fazer. E como todos sabemos, o nosso inconsciente tem muito mais força do que a nossa vontade consciente. E esta é a principal razão pela qual muitas pessoas nunca se conseguem libertar de fibromialgias, dores crónicas, doenças, problemas, sentimentos, etc. Ela quer uma coisa mas o seu inconsciente quer outra e ele acaba sempre por vencer... a menos que ela faça algo de diferente por forma a entender e vencer o seu inconsciente e as suas decisões inconscientes (GUIMARÃES,1999).
 
 Conclusão
 No campo de estudo da Psicossomática, percebe-se através do exposto, a repercussão em nosso organismo. Ao passo que a fala e sentimentos não se exteriorizam, o corpo somatiza e adoece, pois não há meios de exteriorizar tais complexidades de seres subjetivos que são os seres humanos, portanto, o corpo pede ajuda através de métodos que tornem-se visíveis a olho nu. A ideia de dor crônica é uma dessas repercussões, pois as variabilidades do não verbal, viabiliza-se através do corpo física, no qual, o que seria um sentimento recalcado no inconsciente, torna-se desta forma, uma dor que o ser humano pensa não ter cura, mas porque está tentando sanar a dor no ponto errado, quando na realidade o campo a ser cuidado é o psíquico. Portanto, a dor crônica é um eixo no qual, ao mesmo tempo em que se divide em duas correntes independentes entre si, a soma e a psique, ambas podem confluir mutuamente, agindo no que se diz respeito à psicossomática, ou seja, a corrente psíquica infringindo de uma ou mais formas no corpo físico.
Referências
Ávila, L.A. (2004). O eu e o corpo. São Paulo: Escuta.
Berlinck, M.T. (1999). A dor. São Paulo: Escuta.
Freud, S. (1974). Conferência XVII: o sentido dos sintomas. In. J. Salomão (Trad.), Edição standard brasileiras das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 16 pp. 305-322). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1917)
Guimarães, S. S. (1999). Introdução ao estudo da dor. São Paulo: Sammus.
Lima, M. (1992). A dor crônica sob o olhar do médico: modelo biomédico e prática clínica. Rio de janeiro. Cadernos de saúde pública.
Lobado, O. (1992). O problema da dor: psicossomática hoje. Porto Alegre; Artes médicas sul.
Roudinesco, E. (2000). Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
Teixeira, M.J. Dor no doente e contexto interdisciplinar. Curitiba: Editora Maio.
Nasio JD. (1997). O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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