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O Princípio da Insignificância E sua Aplicação no Direito 
Penal Brasileiro 
 
Autor: Roberta Gomes da Silva 
Orientador: Heli Gonçalves Nunes
DIREITO
ROBERTA GOMES DA SILVA 
 
 
 
O Princípio da Insignificância 
E Sua Aplicação no Direito Penal Brasileiro 
 
Monografia apresentada à Banca examinadora 
da Universidade Católica de Brasília como 
exigência parcial para obtenção do grau de 
bacharelado em Direito sob a orientação do 
Professor Heli Gonçalves Nunes. 
 
 
 
 
 
 
Taguatinga 
2008 
 
 
 
2
ROBERTA GOMES DA SILVA 
 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
E SUA APLICAÇÃO NO DIREITO PENAL BRASILEIRO 
 
Monografia apresentada à Banca examinadora 
da Universidade Católica de Brasília como 
exigência parcial para obtenção do grau de 
bacharelado em Direito sob a orientação do 
Professor Heli Gonçalves Nunes. 
 
Aprovada pelos membros da banca examinadora em ____/____/____, com 
menção_____ (__________________________________________). 
 
Banca Examinadora: 
 
______________________________ 
Presidente: Prof. Dr. 
Instituição a que pertence 
 
______________________________ ______________________________ 
Integrante: Prof. Dr. Integrante: Prof. Dr. 
Instituição a que pertence Instituição a que pertence 
 
 
 
 
3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço ao dr. Haroldo Nóbrega, pelas 
valorosas considerações e por deixar a minha 
disposição a sua biblioteca pessoal, à 
Fernanda, pela revisão gramatical e ao 
pessoal da biblioteca da PGR, pelo suporte 
inestimável e pela paciência. 
 
A Deus, por Sua magnitude. A minha mãe 
querida, que sempre está disposta a fazer 
sacrifícios pelos meus estudos e sonhos. 
 
Ao Prof. Álcio Sinott Lopes, modelo de 
advogado e ser humano consciente, o primeiro 
a reconhecer a minha paixão pelo direito 
penal. 
 
Ao Prof. Heli Gonçalves Nunes, orientador 
deste trabalho, pelos conhecimentos 
transmitidos e orientação paciente.
 
 
4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A verdadeira medida dos delitos é o dano 
causado à sociedade”. 
 Cesare Beccaria 
 
 
 
5
RESUMO 
O caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal demanda que sua atuação se restrinja a 
casos onde haja ofensa relevante a bens jurídicos fundamentais. Nesse contexto, surge o 
princípio da insignificância como causa excludente de tipicidade e instrumento de restrição do 
tipo penal, de forma que condutas que acarretem lesões desprovidas de reprovabilidade não 
mereçam ser valoradas pela norma incriminadora. Uma vez que inexiste previsão legal acerca 
dos crimes bagatelares, ainda há muitas dúvidas quanto aos limites e requisitos para sua 
aplicação, o que não impede, todavia, seu reconhecimento pelos Tribunais pátrios. 
 
Palavras-chave: Princípio da Insignificância (direito penal), Crime de bagatela, Intervenção 
do Estado. 
 
 
 
6
ABSTRACT 
The fragmentary nature of criminal law and alternative demand that its role is confined to 
cases where there is significant harm to fundamental legal goods. In this context, it is the 
principle of insignificance as the cause of tradition and exclusive means of restricting the 
criminal type, so that conduct that would cause injuries devoid of merit disapproved not be 
valued by the standard prosecuted. Since absent forecast legal nonsense about the crimes, 
there are still many doubts about the limits and requirements for its application, which does 
not, however, their recognition by the Courts homeland. 
 
Keywords: Principle of insignificance (criminal law), Crime of trifle, intervention of the state. 
 
 
 
7
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ABREVIATURAS 
Id por idem 
Ibid por ibidem 
 
SIGLAS 
AP Crim – Apelação Criminal 
HC – Habeas Corpus 
RE – Recurso Extraordinário 
RESP – Recurso Especial 
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
TJDFT – Tribunal de Justiça do Distrito Federal 
TRF1 – Tribunal Regional Federal da 1ª Região 
CF – Constituição Federal 
CP – Código Penal 
CPP - Código de Processo Penal 
 
 
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................10 
Capítulo 1...................................................................................................................13 
Teoria Geral do Delito ...............................................................................................13 
1.1 Evolução da Teoria Geral do Delito........................................................................ 13 
1.2 Conceito de Crime ....................................................................................................... 14 
1.3 Elementos do Crime.................................................................................................... 16 
1.4 Das Concepções de Tipicidade Penal: Formal, Conglobante e Material .................. 17 
Capítulo 2...................................................................................................................20 
Os Princípios Constitucionais Penais .......................................................................20 
2.1 Os Princípios Penais....................................................................................................... 21 
 2.1.1 Os Princípios Constitucionais Explícitos .................................................................. 22 
 2.1.1 Princípio da Legalidade ........................................................................................................ 23 
 2.1.2 Princípio da Humanidade ..................................................................................................... 26 
 2.1.3 Princípio da Individualização da Pena ................................................................................. 27 
 2.1.4 Princípio da Irrelevância Penal do Fato................................................................................ 28 
 2.1.2 Os Princípios Constitucionais Implícitos...................................................................30 
 2.1.2.1 Princípio da Adequação Social .......................................................................................... 30 
 2.1.2.2 Princípio da Intervenção Mínima....................................................................................... 32 
 2.1.2.3 Princípio da Proporcionalidade......................................................................................... 34 
 2.1.2.4 Princípio da Ofensividade ou Lesividade ........................................................................... 35 
 2.1.2.5 Princípio Insignificância .................................................................................................... 35 
Capítulo 3................................................................................................................... 36 
O Principio da Insignificância..................................................................................36 
3.1 Histórico .......................................................................................................................... 36 
3.2 Natureza Jurídica........................................................................................................... 38 
3.3 A Necessidade de Aplicação do Princípio.................................................................... .41 
3.4 Os aplicadores do Princípio da Insignificância........................................................... .42 
3.5 Fundamentos Autorizadores do seu uso no Direito Penal Brasileiro ........................ 44 
3.6 Principais Críticas ao Princípio da Insignificância .....................................................47 
3.5.1 Segurança Jurídica.................................................................................................................... 47 
3.5.2 Imprecisão terminológica ........................................................................................................ 47 
3.5.3 A previsão legal de tipos privilegiados.................................................................................. 48 
3.5.4 Sensação de ausência de direito e de tutela jurídica ............................................................ 50 
Capítulo 4...................................................................................................................52 
Tipicidade Penal ........................................................................................................52 
4.1 Conceito de Tipo Penal .................................................................................................. 52 
4.2 Funções do Tipo.............................................................................................................. 53 
4.3. Elementos do Tipo......................................................................................................... 54 
4.4 Evolução do Pensamento sobre a Tipicidade............................................................... 58 
4.5 Conceito de Tipicidade................................................................................................... 62 
4.6. Tipicidade Material....................................................................................................... 63 
4.7 Excludente de Tipicidade e o Princípio da Insignificância......................................... 64 
 
 
9
Capítulo 5...................................................................................................................68 
Da aplicação do Principio da Insignificância pelo Judiciário .......................................... 68 
CONCLUSÃO............................................................................................................76 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................80
 
 
10
INTRODUÇÃO 
Em razão da dinâmica, bem como a complexidade da vida em sociedade, o homem é 
regido por uma série de normas de condutas, criadas por ele mesmo, por meio do Estado 
(direito positivo), que visam a assegurar uma convivência harmônica. 
Assim, as normas jurídicas são comandos que devem ser obedecidos por todos os 
homens, vez que eles demarcam o que é lícito ou ilícito, permitido ou proibido, certo ou 
errado. 
A vista disso, pode-se afirmar que todos os valores importantes para a sociedade 
(bem jurídicos) estão sob a tutela do direito, por meio das regras jurídicas. Pode-se citar, a 
título de exemplificação, a vida, a liberdade, o patrimônio, dentre outros. 
Desse modo, ao afirmar que os bens jurídicos adquirem a função de garantia, tem-se 
como conseqüência que tais bens encontram-se tutelados (assegurados) pelo Estado, atuando, 
este, em sua atividade punitiva (ius puniendi), ao sancionar quaisquer condutas que lesionem 
ou ponham em risco os referidos bens. 
Tais condutas encontram-se devidamente tipificadas no ordenamento jurídico 
brasileiro, por meio do Código Penal Brasileiro. 
Contudo, salienta-se que há condutas que podem ser passivas de exclusão da 
tipicidade (ainda que tais fatos sejam formalmente típicos), por aplicação do princípio da 
insignificância. 
O princípio da insignificância, postulado que, apesar de ainda não previsto 
expressamente no ordenamento jurídico brasileiro, vem sendo constantemente aplicado pela 
jurisprudência, considera materialmente atípica a conduta que, apesar de formalmente prevista 
no tipo penal, não possui lesividade suficiente para atingir o bem jurídico tutelado pela norma. 
Isso porque como o conceito dos tipos penais é abstrato, não se pode evitar que 
tenham alcance maior que o previsto, de forma que até mesmo condutas adequadas 
socialmente podem ser enquadradas no conceito formal do crime. 
 
 
11
Assim, se uma conduta, a princípio criminosa, não tem o condão de 
ofender significativamente o bem jurídico tutelado, estaremos em face de um crime bagatelar, 
que enseja o reconhecimento da atipicidade do fato e a aplicação do princípio da 
insignificância. 
O problema é que embora aceito, até o presente momento não foram definidos seus 
limites de aplicação, de forma que a jurisprudência, não raro, decide casos análogos de 
maneira extremamente conflitante, sobretudo em razão da existência de figuras privilegiadas e 
previsão legal de sanções penais para crimes de menor potencial ofensivo. 
Por isso, apesar de os ensinamentos doutrinários caminharem na mesma direção, o 
vazio legislativo acerca de sua regulamentação possibilitou o surgimento de diversos 
posicionamentos jurisprudenciais para seu reconhecimento no caso concreto. 
Alguns defendem que poderia ser reconhecida a insignificância de lesões 
patrimoniais no valor de até um salário mínimo, enquanto outros preferem analisar a situação 
econômica da vítima. 
Criado por Claus Roxin, o princípio da insignificância veio como uma forma de 
conter a aplicação de sanções exacerbadas a crime insignificantes. Assim, a partir dele se 
permite que uma conduta descrita no tipo penal seja excluída do rol da tipicidade por causar 
danos de pequena importância. Para se chegar a essa conclusão, antes faz-se necessário tecer 
alguns comentários sobre a teoria geral do delito, a sua evolução, o conceito de crime e, por 
fim, os elementos do delito. 
A evolução do Direito Penal não se limita mais a analise da tipicidade puramente 
descritiva. Hoje, é necessário que além dela seja levado em conta o conteúdo valorativo da 
conduta, ou seja, se realmente o bem jurídico tutelado pelo Estado sofreu alguma lesão 
significativa, caso contrário não será necessário a movimentação do poder judiciário, pois 
seria desproporcional a sanção a ela aplicada. 
A essa analise valorativa dá-se o nome da tipicidade material. E por isso a 
importância do seu estudo, pois é a partir dela que se verifica se o princípio ora em comento é 
aplicável ou não. 
Por essas razões enfrentaremos os seguintes problemas: 
 
 
12
- O princípio da insignificância exclui a tipicidade da conduta? 
- Quais são os limites para que se reconheça, no caso concreto, a possibilidade de 
aplicação do Princípio da Insignificância? 
Para obtermos tais respostas, utilizaremos o método indutivo/dedutivo, com suporte 
na pesquisa de obras dos principais autores que se posicionam sobre o tema dentre eles: 
Maurício Antônio Ribeiro Lopes, Ivan Luiz da Silva, Carlos Vico Mañas, Luiz Luisi, 
Francisco de Assis Toledo, Ney Mouro Teles, Cezar Roberto Bittencourt, José Henrique 
Guaracy Rebelo, Júlio Fabrini Mirabete, Damásio de Jesus, dentre outros. 
Como fonte complementar, utilizaremos julgados de alguns tribunais, artigos 
jurídicos extraídos da internet, periódicos, com destaque para o autor Luiz Flávio Gomes, bem 
como, consulta a legislação, principalmente o Código Penal e a Constituição Federal. 
Por meio da comparação entre o que é dito pela doutrina com o que é aplicado pela 
jurisprudência, buscou-se abstrair a finalidade para se destina o princípio da insignificância, 
demonstrando que seu reconhecimento deve ser precedido de uma analise criteriosa em cada 
caso, de modo que a conduta criminosa não seja banalizada e que a prática de ilícitos não seja 
estimulada. 
 
 
13
Capítulo 1 
TEORIA GERAL DO DELITO 
1.1 Evolução da Teoria Geral do Delito 
Teoria geral do delito ou teria do crime tem como objetivo estudar os elementos do 
delito. Para Zaffaroni, a teoria do delito é 
a parte da ciência do direitopenal que se ocupa de explicar o que é o delito em geral, 
isto é, quais são as características que devem ter qualquer delito. Esta explicação não 
é um mero discorrer sobre o delito com o interesse de pura especulação; 
contrariamente atende ao cumprimento de um propósito essencialmente prático, 
consistente em tornar mais fácil a averiguação da presença, ou a ausência, do delito 
em cada caso concreto.1 
Insta salientar que, ao longo dos anos, a teoria do crime foi evoluindo, passando por 
três fases (conceito clássico de delito, conceito neoclássico de delito e conceito finalista do 
delito). De acordo com Bitencourt2, tais fases “apresentam uma certa integração, na medida 
em que nenhuma delas estabeleceu um marco de interrupção completo, afastando as demais 
concepções”. 
Em relação ao conceito clássico de delito, Von Liszt e Beling foram os seus autores. 
Para essa concepção, o delito se caracteriza por meio de uma modificação do mundo exterior 
em função de ação natural, além disso, o crime dividia-se em elementos objetivos (que eram a 
tipicidade e a antijuricidade) e subjetivos (representados pela culpabilidade). 
Segundo Bitencourt, o conceito clássico de delito 
deu um tratamento exageradamente formal ao comportamento humano que seria 
definido como delituoso. Assim, a ação, concebida de forma puramente 
naturalística, estruturava-se com o tipo objetivo-descritivo, a antijuridicidade era 
puramente objetivo-normativa e a culpabilidade, por sua vez, apresentava-se 
subjetivo-descritiva.3 
 
1 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: 
parte geral. 3° ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 383 
2 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 138. 
3 Idem, p. 139. 
 
 
14
Percebe-se, então, que o conceito clássico analisou o crime somente sob o 
aspecto naturalístico. 
Quanto ao conceito neoclássico de delito, o referido conceito acabou modificando o 
clássico. Ao contrário que ocorreu com este, que se baseou apenas no direito positivo, aquele 
teve influência da filosofia neokatiana. Nesse sentido, Bitencourt afirma que “que foi 
substituída a coerência formal de um pensamento jurídico circunscrito em sim mesmo por um 
conceito de delito voltado para os fins pretendidos pelo Direito Penal e pelas respectivas 
valorativas que o embasam (teoria telelógica do delito)”.4 
Cumpre ressaltar que essa nova concepção modificou o conceito de ação e de 
culpabilidade e estabeleceu uma nova atribuição ao tipo penal. No entanto, o crime continuou 
sendo uma ação típica, antijurídica e culpável. 
Com essa modificação, o tipo, que era antes um mero processo de exteriorização da 
conduta, passou a ter, em algumas situações, elementos subjetivos e/ou elementos normativos 
(tipo injusto). A antijuridicidade, que no conceito clássico era apenas um juízo valorativo 
puramente formal, começa a trabalhar um conceito material de antijuridicidade, representado 
pela danosidade social5. 
A terceira fase representada pelo conceito finalista de delito, que teve Welzel6 como 
representante, marcou pela retirada dos elementos subjetivos, dolo e culpa, da culpabilidade, 
integrando-os na conduta e no injusto pessoal. Verifica-se que o crime permanece sendo uma 
ação típica, antijurídica e culpável.7 
1.2 Conceito de Crime 
Para que possa falar em princípio da insignificância, é preciso definir o que seja 
crime ou delito. Insta salientar que o Código Penal Brasileiro em vigência não define o que 
 
4 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 140. 
5 Idem, p. 140. 
6 COSTA, Álvaro Mayrink da. Direito penal: parte geral. 6ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense, 1998, v. 1, 
t. 1, p. 548. 
7 BITENCOURT, op. cit., p. 143. 
 
 
15
venha a ser crime, verifica-se, todavia, que a Lei de Introdução ao Código Penal, 
em seu artigo 1°, conceitua-o de forma expressa, in verbis: 
Art. 1° Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou 
de detenção, quer isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a 
pena; contravenção, a infração a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão 
simples ou de multa, ou ambas, alternativamente ou cumulativamente. 
Lendo o artigo supracitado, observa-se que a Lei de Introdução ao Código Penal não 
definiu o crime, apenas o distinguiu da contravenção. Nesse sentido, Greco preleciona que “o 
artigo 1° da Lei de Introdução ao Código Penal somente nos trouxe um critério para que, 
analisando o tipo penal incriminador, pudéssemos distinguir o crime de uma contravenção”.8 
Tendo em vista a omissão dos nossos legisladores no que se refere à positivação do 
conceito de delito, nota-se que esta tarefa de definir tal instituto passou a ser executada pelos 
doutrinadores. Cumpre ressaltar que estes expõem o crime sob o aspecto material, formal e o 
analítico. 
O aspecto material define crime, segundo Bitencourt, como “ação ou omissa que 
contraria os valores ou interesses do corpo social, exigindo sua proibição como a de pena”9. 
Já o aspecto formal conceitua o delito como toda conduta que contraria a lei.10 
Quanto ao conceito analítico, aspecto este que analisa os elementos do crime, nota-se 
uma divergência doutrinária. Damásio11, Delmanto12 e Mirabite13 – seguidores da teoria 
bipartide, consideram que o delito é um fato típico e antijurídico (ilícito). Insta salientar que, 
para esses doutrinadores, a culpabilidade seria apenas um pressuposto da pena. 
Enquanto Greco, Assis Toledo, Luiz Regis Prado14, Bitencourt15 e Zaffaroni16, 
adeptos da corrente tripartide, entendem que o crime é composto pelo fato típico, pela 
 
8 GRECO, Rogério. Direito penal – Lições. 2ª ed. Belo Horizonte: Praetorium, 2000, p. 125. 
9 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 143. 
10 GRECO, Rogério, op. cit., p. 122. 
11 JESUS, Damásio E. de. Direito penal: parte geral. 25ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 
12 DELMANTO, Celso et al. Código penal comentado. 6ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
13 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral – arts. 1° a 120 do cp. 17ª ed. São 
Paulo: Atlas, 2001. 
14 GRECO, Rogério. Direito penal – Lições. 2ª ed. Belo Horizonte: Praetorium, 2000, p. 123. 
15 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003, 
p. 238 e 278. 
16 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: 
parte geral. 3° ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 390. 
 
 
16
ilicitude (antijuridicidade) e pela culpabilidade. Observa-se que o Welzel, 
conforme já foi dito, adotou esse posicionamento ao elaborar o conceito finalista. 
Insta ressaltar que a doutrina majoritária entende que o crime seja fato típico, 
ilícito ou antijurídico e culpável.17 
1.3 Elementos do Crime 
Adotando a teoria tripartide, conforme mencionados anteriormente, os elementos do 
crime são: fato típico, antijuridicidade e culpabilidade. 
Cumpre esclarecer que essa divisão é apenas um meio de utilizado pela doutrina para 
analisar o delito, já que este possui caráter unitário. Nesse sentido, Bitencourt expõe que: 
A divisão do delito em três aspectos, para fins de avaliação e valoração – tipicidade, 
antijuricidade e culpabilidade -, facilita e racionaliza a aplicação do direito, 
garantindo a segurança contra as arbitrariedades e as contradições que 
freqüentemente poderiam ocorrer. Essa divisão tripartide da valoração permite umresultado final adequado e justo.18 
Para a concepção finalista, o fato típico é composto pelos seguintes elementos: 
ƒ conduta (comissiva e omissiva, dolosa e culposa); 
ƒ resultado (somente nos crimes materiais); 
ƒ nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado); 
ƒ tipicidade (que engloba o elemento objetivo – adequação da conduta humana ao tipo 
penal; os elementos subjetivos – intenção especial do agente; o elemento normativo – 
juízo de valor; e por fim o dolo ou a culpa). 19 
Em relação à ilicitude ou a antijuridicidade, Assis Toledo conceitua-a como “a 
relação de antagonismo que se estabelece entre uma conduta humana voluntária e o 
 
17 GRECO, op. cit., p. 124. 
18 BITENCOURT, op. cit., p. 238. 
19 Este elemento será analisado com maiores detalhes no próximo capítulo. 
 
 
17
ordenamento jurídico, de modo a causar lesão ou expor a perigo de lesão um bem 
jurídico”.20 Percebe-se, então, que a ilicitude é tudo aquilo que contraria o direito. 
Também compartilha desse entendimento Greco, in verbis: 
(...) a ilicitude ou juricidade da conduta praticada é encontrada por exclusão, ou seja, 
somente será lícita a conduta se o agente houver atuado amparado por uma das 
causas excludentes de ilicitude previsto no art. 23 do Código Penal. Além das causas 
legais de exclusão da antijuridicidade, a doutrina ainda faz menção a uma outra, de 
natureza supralegal, qual seja, consentimento do ofendido (...)21 
No entanto, além da conduta ser típica e ilícita, ela também deve ser culpável. De 
acordo com o Greco, a culpabilidade é “o juízo de reprovação pessoal que se realiza sobre 
conduta típica e ilícita praticada pelo agente”.22 Em ouras palavras, Zaffaroni afirma que o 
conceito de culpabilidade “é um conceito de caráter normativo, que se funda em que o sujeito 
podia fazer algo distinto do que fez, e que, nas circunstâncias, lhe era exigível que o 
fizesse”.23 
São elementos da culpabilidade, segundo a concepção finalista:24 
ƒ imputabilidade; 
ƒ potencial consciência sobre a ilicitude do fato; 
ƒ exigibilidade de conduta adversa. 
1.4 Das Concepções de Tipicidade Penal: Formal, Conglobante e Material 
Sabendo-se que a tipicidade constitui um dos elementos do crime, para que uma 
conduta seja taxada de criminosa, ela deve se ajustar a um tipo penal, nos termos do princípio 
 
20 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 
163. 
21 GRECO, Rogério. Direito penal – Lições. 2ª ed. Belo Horizonte: Praetorium, 2000, p. 125. 
22 Idem, p. 349. 
23 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: 
parte geral. 3° ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 602. 
24 GRECO, op. cit., 360. 
 
 
18
da legalidade: nullum crimen nulla poena sine praevia lege25, que se traduz na 
correspondência entre a conduta do agente e um fato descrito na lei como crime. 
Ocorre, no entanto, que a mera correspondência entre a conduta do agente e tipo 
legal, não basta, por si só, para que se configure a tipicidade penal. 
A definição do tipo penal é matéria altamente complexa, uma vez que é impossível 
que o legislador preveja todas as formas de condutas lesivas aos bens jurídicos protegidos 
pela norma. 
Por outro lado, seu caráter abstrato dá margem a que condutas sem significação 
jurídica sejam alcançadas pela descrição típica. Conforme preleciona Assis Toledo: 
[...] Como os tipos são conceitos abstratos, é impossível evitar que sua previsão 
legal tenha um alcance legal maior que aquele que deveria ter. [...] Condutas 
socialmente adequadas e até socialmente necessárias podem, pelo seu aspecto 
externo, ser atraídas para o campo de força do tipo legal de crime.26 
Por isso, a tipicidade penal não se reduz à tipicidade formal, ensinando parte da 
doutrina ser necessário, ainda, que se comprove que a conduta legalmente típica também seja 
proibida pela norma globalmente considerada. 
Assim, para a configuração da tipicidade penal, devem estar presentes, de um lado, a 
tipicidade formal e, de outro, a tipicidade conglobante27. 
A primeira é verificada quando um fato apresenta características essenciais 
coincidentes com as de algum tipo legal. Segundo Greco: 
Figurativamente, poderíamos exemplificar a tipicidade formal valendo-nos daqueles 
brinquedos educativos que têm por finalidade ativa a coordenação motora das 
crianças. Para essas crianças, haveria “tipicidade” quando conseguissem colocar a 
figura de um retângulo no lugar que lhe fora reservado no tabuleiro, da mesma 
forma sucedendo com a esfera, a estrela e o triângulo. Somente quando a figura 
móvel se adaptar ao local a ela destinado no tabuleiro é que se pode falar em 
tipicidade formal; caso contrário, não.28 
A tipicidade conglobante pressupõe que o fato típico seja proibido no ordenamento 
jurídico globalmente considerado, não se possibilitando que seja admitido em alguma esfera 
 
25 BITENCOURT, op. cit., p. 21. 
26 Apud SILVA, Ivan Luiz. Principio da Insignificância no Direito Penal. Curitiba: Jaruá, 2004, p. 79. 
27 Zaffaroni e Rogério Greco abordam o conceito de tipicidade conglobante em suas obras. 
28 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, 5° Ed. Rio de Janeiro: Impetrus, 2006, p. 176. 
 
 
19
do direito e não o seja em outra, haja vista ser o direito um só. Dessa forma, as 
condutas que constituírem direitos ou deveres serão atípicas, mesmo se se adequarem a um 
tipo formal. 
Capez complementa a definição, asseverando que “[...] tal teoria da correta premissa 
de que todo fato típico é antinormativo, uma vez que embora o agente atue de acordo com o 
que está escrito no tipo (quem mata alguém realiza exatamente a descrição típica de ‘matar 
alguém’)”. 
Dessa forma, verificam-se na tipicidade conglobante conduta antinormativa e 
tipicidade material29, sendo esta última a exigência de a conduta típica ser relevantemente 
lesiva ao bem jurídico tutelado. Avalia-se, portanto. A proibição, através da indagação do 
alcance proibitivo da norma não considerada isoladamente, mas conglobada na ordem 
normativa.30 
Embora reconheça ser insuficiente a tipicidade formal, Capez entende que a 
tipicidade conglobante cria conclusão, deslocando para o tipo condutas permitidas pelo 
ordenamento jurídico, tais como exercício regular do direito e estrito cumprimento de dever 
legal: 
Deste modo, se a lesão for insignificante, se não houver lesão ao bem jurídico, se 
não existir alteridade na ofensa, se não for traída a confiança social depositada no 
agente, se ação punitiva do Estado não for desproporcional ou excessivamente 
interventiva, dentre outros, o fato será materialmente atípico, sem precisar recorrer à 
tipicidade conglobante. 
Propõe assim, que se substitua a tipicidade conglobante pela exigência de que o fato 
típico seja assim definido não somente pela descrição legal, mas também pelo conteúdo de 
crime, analisando-se igualmente a conduta no contexto dos princípios constitucionais do 
Direito Penal. 
 
29 Nesse sentido, GRECO, op. cit., p. 176/177 
30 ZAFFARONI e PIERANGELLI, op. cit., p. 461. 
 
 
20
Capítulo 2 
OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS 
Na Definição de Celso Bandeira de Mello31 princípio é 
o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele; disposição 
fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e 
servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por 
definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere à tônicae 
lhe dá sentido harmônico. 
Violar um princípio é muito mais gravoso do que agredir uma norma ou comando 
determinado, porquanto implica repúdio a todo sistema. É a mais grave forma de ilegalidade 
ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa 
insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais. 
Os princípios demonstram a sua utilidade quando da “capacidade conformadora do 
raciocínio interpretativo da lei como forma de se manter a coerência e unidade das interações 
normativas fundamentais, quer no âmbito interno, quer no aspecto externo a própria 
legislação.”32 
Maurício Ribeiro Lopes33 se posiciona acerca dos princípios da seguinte forma: 
o que define algo como princípio é precisamente sua capacidade de superar os 
limites de sua força interna para irradiar comandos operadores do funcionamento de 
estruturas alheias ao próprio ser. O princípio projeta sua relevância sobre a 
existência de outros seres, por isso seu caráter transcendental, superior e vinculante. 
O autor ressalta ainda que “os princípios são mandados de otimização, quer dizer que 
o seu comando deve ser realizado da melhor maneira possível. A otimização repercute em 
diferentes graus de cumprimento do mandado, pois depende das possibilidades fáticas e 
jurídicas do problema”34. 
Os princípios constitucionais representam a estrutura ideológica de uma dada 
sociedade refletindo ainda todos os seus valores. “São, portanto, mandamentos jurídicos 
 
31 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de direito administrativo. São Paulo: RT, 1998. p. 
230. 
32 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei 
9.099/95. São Paulo: RT, 1997, p. 30. 
33 Idem, p. 31. 
34 Idem, p. 31. 
 
 
21
primaciais e fundamentais, compostos de valores da cultura sociojurídica da 
sociedade, que servem de substrato às outras normas jurídicas quando aplicadas na solução de 
casos concretos”35 
Não são simples instruções, os princípios constitucionais são premissas básicas que 
devem refletir sobre todo o sistema, indicando critérios de direção e aplicação das outras 
normas jurídicas. 
2.1 Os princípios penais 
Um pouco menos abrangente que os constitucionais, os princípios penais são 
mandamentos fundamentais que irradiam um comando superior e vinculante sobre o processo 
de construção e aplicação das normas penais, exercendo a função de modelo constitucional do 
sistema penal. 36 
A Constituição Brasileira possui inúmeros princípios concernentes ao Direito Penal, 
tais postulados vêm em defesa das garantias individuais na medida que condicionam e 
restringem a atuação penal do Estado. 
Luiz Luisi37, afirma que os princípios além de fixar os limites punitivos do Estado, 
também são um instrumento de tutela dos bens que são importantes para atingir os fins sociais 
do Estado, ou seja, “um novo direito criminal onde os princípios inarredáveis da herança 
iluminista se mesclam em convívio, às vezes tenso, mas plenamente possível, com as 
exigências de proteção dos valores transindividuais e os imperativos de justiça material.” 
Segundo Ivan Luiz38 os princípios constitucionais penal, 
“visam garantir os direitos fundamentais dos cidadãos em face do poder punitivo do 
Estado, propondo, ainda, a adoção de um Direito Penal mínimo, ou seja, dirigindo 
exclusivamente a necessidade de uma repressão penal”. 
 
35 SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da insignificância no direito penal brasileiro. Curitiba: Juruá, 2044. p. 
24. 
36 Idem, p. 74. 
37 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2ª. ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris. 2003. 
p.12. 
38 SILVA, op, cit., p. 73. 
 
 
22
São, portanto, todos aqueles princípios que expressam os objetivos 
fundamentais do Estado Democrático de Direito, bem como os seus valores supremos como a 
dignidade da pessoa humana e a idéia de justiça social, a serem necessariamente observados 
pelo Direito Penal, sob peba de carecer de fundamentação constitucional. 
Luiz Luisi39 identifica duas formas de presença da matéria penal na Constituição 
Federal. A primeira, por meio de princípios especificamente penais, princípios de direito 
penal constitucional, que podem se apresentar explicitamente ou implicitamente. A segunda, 
por princípios constitucionais influentes em matéria penal, que não são criminais referindo-se 
prevalentemente ao aspecto de conteúdo das incriminações no sentido de fazer com que o 
direito penal se constitua em um poderoso instrumento de tutela de bens de relevância social. 
Todos esses princípios, hoje incertos implícita ou explicitamente, em nosso 
ordenamento jurídico tem a função de orientar o legislador ordinário para adoção de um 
sistema de controle voltado para os direitos humanos. 
Os princípios básicos segundo Mauricio Ribeiro Lopes40 são reconhecidos e 
absolvidos pelo direito penal, pela norma expressa ou pelo conteúdo de muitas normas que 
sejam adequadas a ele. Afirma, ainda, que eles têm um sentido programático, e almejam ser 
uma base mínima sobre a qual possa-se construir um Direito Penal de um Estado Democrático 
de Direito. 
2.1.1 Princípios Constitucionais Explícitos 
São princípios, expressos no texto constitucional, por isso a nomenclatura 
explícitos. Dentre eles, serão estudados, o princípio da legalidade, da humanidade, da 
individualização da pena e o da irrelevância penal do fato por serem importantes para análise 
do tema proposto. 
 
39 LUISI, op. cit., p. 13. 
40 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei 
9.099/95. São Paulo: RT, 1997. p. 32. 
 
 
23
2.1.1.1 Princípio da Legalidade 
O artigo 5°, II, da Constituição Federal, define: “Ninguém será obrigado a fazer ou 
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. No mesmo sentido, o inciso XXXIX do 
mesmo artigo estabelece: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pensa sem prévia 
cominação legal.” São estes, exemplos de aplicação do princípio da legalidade dentro do 
nosso ordenamento jurídico. Para José Afonso da Silva41 o texto constitucional não deve ser 
“compreendido isoladamente, mais dentro de um sistema constitucional vigente”. 
É talvez, o mais importante dos princípios do Direito penal. Seu significados é bem 
claro, alguém só poderá ser punido, se antes disso existir uma lei que defina uma sanção por 
aquela conduta. Ney Moura Teles enfatiza: “O Homem só pode sofrer pena criminal – ser 
privado da sua liberdade, em regra – se tiver realizado um comportamento previamente 
definido como crime, por uma lei em vigor.”42 
Ele é indispensável, à conservação do Estado Democrático de Direito, pois atua 
como um limitador do poder estatal, para este não intervir na esfera das liberdades 
individuais.43 
Maurício Lopes44 acrescenta que o principio da legalidade “atingiu foros de 
unanimidade constitucional e também na legislação penal ordinária, indistinta em relação ao 
homem, não limitada no tempo e no espaço e de conteúdo garantidor inequivocamente 
primordial em relação às colocações mais subjetivas sobre sua incidência”. É, ainda, fonte das 
doutrinas mais modernas sobre a análise do crime, agindo diretamente como premissa da 
teoria da tipicidade, pois para ser punível a ação deve antes de tudo ser típica. 
O princípio da legalidade ou nullum crimem, nulla poena sine lege, como também é 
conhecido, atualmente, se desdobra em quatro outros princípios a saber: proibição de edição 
de leis retroativas que fundamentem ou agravem a punibilidade (nullum crimem,nulla poena 
sine lege praevia); proibição da fundamentação ou do agravamento da punibilidade pelo 
direito consuetudinário (nullum crimem, nulla poena sine lege scripta); proibição da 
 
41 SILVA, op. cit., p. 400. 
42 TELES, Ney Moura. Direito Penal. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Atlas, 2001. v. 2, p. 58. 
43 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo. 1994. p. 21. 
44 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Teoria constitucional do direito penal. São Paulo: RT, 2000. p. 
253. 
 
 
24
fundamentação ou agravamento pela analogia (nullum crimem, nulla poena sine 
lege stricta) e a proibição de leis penais indeterminadas (nullum crimem, nulla poena sine 
lege certa).45 
O primeiro princípio está inscrito no inciso XL do artigo 5 da Constituição Federal 
que preceitua: “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu”. A regra geral, portanto, 
é a irretroatividade da lei penal. Com essa vertente do princípio da legalidade, ninguém 
poderá ser punido se no momento da ação ou omissão, o fato não era considerado crime, por 
ausência de previsão da norma incriminadora. 
A irretroatividade da lei penal impõe que a norma atinja apenas os fatos cometidos 
depois de sua vigência. Esse postulado segundo Luiz Luisi46 garante ao indivíduo a certeza e 
segurança do direito, isso porque o cidadão não ficará vulnerável as mudanças de valorações 
do legislador. Assim, como ocorre com o princípio da reserva legal, só poderá ocorrer a 
retroatividade quando for em favo do réu, mesmo quando já houver a sentença com trânsito 
em julgado. 
A reserva está prescrita no já citado artigo 5°, XXXIX, da Constituição Federal. 
Damásio47 entende que o princípio da reserva legal tem um significado político, pois se 
mostra como uma garantia constitucional dos direitos do homem e da liberdade civil, que não 
consiste no indivíduo fazer tudo o que se quer, mais sim numa liberdade limitada pela lei. E é 
esta lei que irá fixar o que é ou não é ação criminosa. Seria então essa a condição de 
segurança e liberdade individual. 
Diferentemente da posição de Assis Toledo, Luiz Luisi48 considera que a partir da 
reserva legal decorre a “proibição do direito costumeiro e da analogia como fonte do direito 
penal”, só permitindo o seu uso quando for em benefício do réu. Realmente, estes princípios 
devem ser utilizados para beneficiar o réu, entretanto, são considerados autônomos e por isso 
serão estudados separadamente. 
 
45 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei 
9.099/95. São Paulo: RT, 1997. p. 73. 
46 LUISI, Luiz. Os princípios constitucionais penais. 2ª ed. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris. 2003. p; 
26. 
47 JESUS, Damásio de. Direito penal: parte geral. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 1, p.61/62. 
48 LUISI, op. cit., p. 22. 
 
 
25
O segundo desdobramento se desenvolve a partir da idéia de que só a lei 
pode criar crimes e penas, não podendo invocar o direito consuetudinário para fundamentação 
ou agravação da pena. Essa posição, entretanto, não afasta os costumes, como fonte de direito 
penal, como bem esclarece Assis Toledo49: 
não se deve, cometer o equívoco de supor que o direito costumeiro esteja totalmente 
abolido do âmbito penal. Tem ele grande importância para elucidação do conteúdo 
dos tipos. Além disso, quando opera como causa de exclusão da ilicitude (causa 
supralegal), de atenuação da pena ou da culpa, constitui verdadeira fonte do direito 
penal. 
Portanto, a vedação do direito consuetudinário se limita a vedação de sua aplicação 
como fundamentação ou agravação da pena, mais não como fonte de direito penal. 
Atualmente, a doutrina reconhece o costume como tal, sempre que este beneficie o cidadão. 
Assim como no direito consuetudinário é vedada a utilização da analogia para 
fundamentar ou mesmo agravar a pena, seja criando crimes, seja incluindo novas causas de 
aumento de pena, de circunstâncias agravantes, enfim, tudo aquilo que de certa forma 
prejudicar o agente. Esse terceiro princípio limita “o interprete de socorrer-se da analogia 
afim de tentar abranger fatos similares aos legisladores em prejuízo do agente (nullum 
crimem, nulla poena sine lege stricta)”50 
O quarto e último princípio é o postulado da determinação taxativa. Ele exige que as 
leis penais sejam claras e precisas, isso para que seja diminuído o grau de variabilidade 
subjetiva na aplicação da lei. A principal função da taxatividade é fazer com que qualquer um 
possa entender o conteúdo das normas. Paulo Queiroz ensina que: 
o princípio da reserva legal implica a máxima determinação e taxatividade dos tipos 
penais, impondo-se ao Poder Legislativo, na elaboração das leis, que redija tipos 
penais como a máxima precisão de seus elementos, bem como ao Judiciário que as 
interprete restritivamente, de modo a preservar a efetividade do princípio.51 
Em estudos mais modernos realizados por Claus Roxin o princípio da legalidade 
tomou novos rumos, isso porque para que um crime e a pena a ele ser cominada não basta que 
a lei seja anterior ao fato. “É mister que a lei defina o fato criminoso, ou melhor, enuncie com 
 
49 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5° ed. São Paulo. 1994. p.25 
50 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 5ª ed. Niterói: Impetus, 2005, v. 1. p. 106. 
51 Apud GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 5ª ed. Niterói: Impetus, 2005, v. 1. p. 106. 
 
 
26
clareza os atributos essenciais da conduta humana de forma torná-la inconfundível 
com outra, e lhe comine pena banalizada dentro de limites não exagerados”.52 
O princípio da legalidade é sem dúvida, o princípio de maior interligação com o 
princípio da insignificância. Acerca, dessa importância e a idéia de correlação. Os traços 
conjuntivos entre o princípio da insignificância e a idéia de tipicidade que deriva do princípio 
da legalidade; os traços relativos a insignificância e nullum criminem e seus reflexos; e o 
elemento crítico que dá a insignificância uma extralegalidade sistêmica.” 53 
Continua ainda o autor: “Todo o desenvolvimento da teoria da tipacidade através de 
ricas construções que procuram relacioná-la com a estrutura orgânica e o funcionamento do 
Direito Penal teve por nascedouro e fonte de constante alimento a noção do nullum crimem, 
nulla poena sine lege.”54 
Resta, portanto, inegável a importância da análise deste princípio, uma vez que além 
de traçar alguns aspectos da insignificância, é a base da teoria da tipicidade, objeto de estudo 
do nosso último capítulo. 
2.1.1.2 Princípio da Humanidade 
A humanidade decorre de estudos muitos antigos, entretanto teve sua consagração 
com o iluminismo. Para Luz Luisi55 o pensamento iluminista permitiu a transformação do 
Estado, que a ratificou a existência de direitos inerentes ao homem, através de um contrato 
social. “Daí um direito penal vinculado a leis prévias e certas, limitadas ao mínimo 
estritamente necessário, e sem penas degradantes”. 
O postulado na humanidade institui que a pena não pode ofender a dignidade, não 
pode ser usada como vingança pela sociedade. Não admitido, portanto, a pena de morte, nem 
a prisão perpétua, porquanto o Estado não pode usar seu poder punitivo para outra finalidade 
que não seja a reeducação e reinserção daquele que cometeu um delito. 
 
52 LOPES, op. cit., p. 258. 
53 Idem, p.70. 
54 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei 
9.099/95. São Paulo:RT, 1997. p. 71. 
55 LUISI, op. cit., p. 47. 
 
 
27
A pena é o meio pelo qual a sociedade responde ao cometimento de delito 
e o princípio da humanidade não deve ser usado para afastar a sanção de suas funções. Na 
precisa lição de H. H. Jescheck: ‘O direito penal não pode se identificar com o direito relativo 
a assistência social. Serve em primeiro lugar a justiça distributiva [...] não podendo ser 
atingido sem dano e sem dor [...]’”.56 
2.1.1.3 Princípio da Individualização da Pena 
Previsto no artigo 5°, XLVI, 1ª parte, da Constituição Federal, dispõe que a pena 
deve ser individualizada, deve variar de acordo com o agente, e de acordo aos casos 
concretos, não podendo ocorrer a padronização da sanção penal. 
Para Rogério Greco57 a individualização da pena começa quando o legislador faz a 
seleção de algumas condutas para perpetrarem no âmbito do Direito Penal. Uma vez 
terminada a seleção é feita a valoração da conduta e as respectivas cominação de penas, que 
variam de acordo com o bem tutelado e a sua importância. 
Afirma ainda58 que o segundo momento da aplicação da individualização da pena 
cabe ao julgador, que tendo confirmado que o fato é típico, ilícito e culpável, dirá qual a 
infração praticada pelo agente. A partir de então, começará a individualizar a pena observando 
os artigos 59 e 68 do Código Penal e também a presença de atenuantes, agravantes, causas de 
aumento ou diminuição de pena. A última etapa da individualização da pena ocorre na fase da 
execução em que os condenados serão classificados, segundo seus antecedentes e 
personalidade. 
Fica evidente que neste princípio o juiz aplica a sua discricionariedade que deverá ter 
os limites fixados pela lei, ou seja, uma discricionariedade juridicamente vinculada na qual o 
juiz está preso aos parâmetros que a lei estabelece. Luiz Luisi59, assevera que o “componente 
emocional e imponderável pode atuar na opção do juiz, determinando-lhe apenas uma escolha 
dentre as alternativas explícitas e implícitas contidas na lei”. 
 
56 Idem, p. 50. 
57 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral. 5ª ed. Niterói: Impetus, 2005, v. 1. p. 76. 
58 Idem, p. 76. 
59 LUISI, op. cit., p. 54. 
 
 
28
Outra relevância na individualização da pena é o objeto que se quer 
alcançar com a aplicação da sanção. De acordo com ele é que se dará um ou outro tratamento 
penitenciário, observando então os aspectos retributivos, aflitivos ou intimidatórios da pena. 
Para Luiz Luisi60 a nossa orientação constitucional e ordinária admite que a sanção penal é 
polifuncional, tem uma função eclética em que se integram retribuição e reinserção social. 
Diante do princípio da individualização da pena observa-se instâncias objetivas e 
subjetivas. O objetivismo vem da Escola Clássica que acreditava que a resposta penal devia 
ser proporcional ao bem jurídico ofendido e a intensidade desta ofensa. Com relação ao 
subjetivismo, ele está presente na individualização da pena nas fases judiciária e executória, 
observando o indivíduo que cometeu o delito como um todo. 
2.1.1.4 Principio da Irrelevância Penal do Fato 
O princípio da irrelevância penal do fato está previsto no artigo 59 do Código Penal, 
que preceitua: 
O juiz atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, 
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá conforme seja necessário e 
suficiente para reprovação e prevenção do crime.61 
Este princípio tem ganhado grande destaque por uma corrente jurisprudencial, que 
considera que um delito de pequena lesividade não se baseia apenas no desvalor do resultado, 
mais também no desvalor da ação e no desvalor da culpabilidade, isto é, quando todas as 
circunstâncias judiciais (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos 
do crime, conseqüências, circunstancias, etc.) estejam favoráveis. Portanto, o princípio da 
irrelevância penal do fato se atém a não aplicação da sanção penal.62 
Quando o fato é irrelevante, em virtude da presença de todos os requisitos 
bagatelares, ou seja, quando o resultado, a conduta e a culpabilidade são bagatelares, a pena 
torna-se desnecessária. Nestes casos, a aplicação do princípio da irrelevância será 
incontroversa. 
 
60 Idem, p. 55. 
61 BRASIL. Código Penal. Vade Mecum xxxx . p. . 
62 GOMES, Luis Flávio. Delito de bagatela: princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato. 
Boletim IBCCRIM. Ano 9. n. 102. Maio/2001. p. 1. 
 
 
29
A grande discussão que se faz hoje sobre o assunto é justamente sua 
distinção com o princípio da insignificância. Ambos vem sendo aplicados cumulativamente, 
entretanto não se confundem. Nas palavras de Luiz Flávio Gomes: “não ocupam, os dois 
princípios, a mesma posição topográfica dentro do fato punível. O princípio da insignificância 
é causa de exclusão de tipicidade do fato; o princípio da irrelevância penal do fato é causa de 
dispensa da pena (em razão da sua desnecessidade no caso concreto).”63 Outra distinção, 
nitidamente perceptível, diz respeito a ausência de previsão legislativa do primeiro princípio, 
que por usa vez se enquadra no rol dos princípios constitucionais implícitos, objeto de análise 
do nosso próximo tópico. 
2.1.1.5 Principio da Irrelevância Penal do Fato 
O princípio da irrelevância penal do fato está previsto no artigo 59 do Código Penal, 
que preceitua: 
O juiz atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à 
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, 
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá conforme seja necessário e 
suficiente para reprovação e prevenção do crime.64 
Este princípio tem ganhado grande destaque por uma corrente jurisprudencial, que 
considera que um delito de pequena lesividade não se baseia apenas no desvalor do resultado, 
mais também no desvalor da ação e no desvalor da culpabilidade, isto é, quando todas as 
circunstâncias judiciais (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos 
do crime, conseqüências, circunstancias, etc.) estejam favoráveis. Portanto, o princípio da 
irrelevância penal do fato se atém a não aplicação da sanção penal.65 
Quando o fato é irrelevante, em virtude da presença de todos os requisitos 
bagatelares, ou seja, quando o resultado, a conduta e a culpabilidade são bagatelares, a pena 
torna-se desnecessária. Nestes casos, a aplicação do princípio da irrelevância será 
incontroversa. 
A grande discussão que se faz hoje sobre o assunto é justamente sua distinção com o 
princípio da insignificância. Ambos vem sendo aplicados cumulativamente, entretanto não se 
 
63 Idem, p. 1. 
64 BRASIL. Código Penal. Vade Mecum xxxx . p. . 
65 GOMES, Luis Flávio. Delito de bagatela: princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato. 
Boletim IBCCRIM. Ano 9. n. 102. Maio/2001. p. 1. 
 
 
30
confundem. Nas palavras de Luiz Flávio Gomes: “não ocupam, os dois princípios, 
a mesma posição topográfica dentro do fato punível. O princípio da insignificância é causa de 
exclusão de tipicidade do fato; o princípio da irrelevância penal do fato é causa de dispensa da 
pena (em razão da sua desnecessidade no caso concreto).”66 Outra distinção, nitidamente 
perceptível, diz respeito a ausência de previsão legislativa do primeiro princípio, que por usa 
vez se enquadra no rol dos princípios constitucionais implícitos, objeto de análise do nosso 
próximo tópico. 
2.2.2 Princípios Constitucionais Implícitos 
Como dito anteriormente,em nosso ordenamento jurídico, há princípios explícitos e 
implícitos. Ele não é composto apenas de disposições expressas, mas também, de normas não 
expressas, que defluem do sentido de suas outras regras e princípios. 
Os princípios implícitos são tão importantes quanto os explícitos e constituem, como 
estes, as disposições fundamentais do sistema jurídico penal. Segundo Cardozo, estes 
princípios são normas decisórias diretamente aplicáveis, mas que só têm essa característica 
quando a ciência ou a jurisprudência os concretiza. 67 
Para Maurício Lopes68 “sem uma prévia afinação de critérios e paradigmas para o 
Poder Judiciário na interpretação desses princípios”, não haveria como manter as teses 
apresentadas pela doutrina sobre a validade dos princípios não expressos. 
Não há uma hierarquia entre princípios implícitos ou explícitos e, ainda, a aplicação 
de um não exclui a aplicação de outro. Dentre todos os princípios implícitos, veremos cinco 
que darão base ao presente estudo. São eles o princípio da adequação social, princípio da 
intervenção mínima, princípio da ofensividade ou lesividade, o princípio da proporcionalidade 
e o da insignificância, que é o principal objeto de discussão deste trabalho. 
2.1.2.1 Princípio da Adequação Social 
 
66 Idem, p. 1. 
67 Apud. LOPES, op. cit., p. 392/393. 
68 LOPES, op. cit., p. 411. 
 
 
31
Não podemos falar do princípio da adequação social sem antes citar o 
precursor de sua teoria. Wezel foi o responsável por sua introdução no Direito Penal, surgindo 
como um princípio geral de interpretação, ou nas palavras de Assis Toledo, como um 
princípio geral de hermenêutica. 
Na precisa lição de Luiz Regis Prado: 
A teoria da adequação social, concebida por Hans Welzel, significa que 
apesar de uma conduta ser subsumir ao modelo legal não será considerada típica se 
for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem 
social da vida historicamente condicionada. 69 
Portanto, “se o tipo delitivo é um modelo de conduta proibida, não é possível 
interpretá-lo, em certas situações aparentes, como se estivesse também alcançando condutas 
lícitas, isto é, socialmente aceitas e adequadas.”70 De acordo com essa teoria, a medida que 
uma conduta praticada é socialmente adequada, não poderá ela constituir um delito e portanto, 
não se revestirá de tipicidade. 
É certo que muitas vezes condutas consideradas típicas são toleradas pela sociedade. 
Nas lições de Bitencourt, se verifica que: 
[...] certos comportamentos em si mesmos típicos carecem de relevância por 
serem correntes no meio social, pois muitas vezes há um descompasso entre as normas 
penais incriminadoras e o socialmente permitido ou tolerado.71 
A ação socialmente adequada exclui desde logo o tipo, pois se realiza dentro do 
campo de aceitação da sociedade, ou seja, no âmbito da normalidade social. 
Do exposto podemos concluir que o princípio da adequação social é aplicável a 
comportamentos que mesmo sendo compatíveis com a descrição típica formal, por serem 
materialmente irrelevantes, são socialmente permitidos ou tolerados, e portanto considerados 
atípicos. 
Mesmo hoje, existem muitas discussões acerca da imprecisão na aplicação do 
referido princípio. O próprio Welzel vacilou sobre seus efeitos. Primeiramente considerou-o 
como excludente de tipicidade, depois como uma causa de justificação, para posteriormente 
 
69 GRECO, op. cit., p. 58. 
70 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed. São Paulo. 1994. p. 131. 
71 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 9ª ed. São Paulo. Saraiva: 2004, 
v. 1, p.17. 
 
 
32
retomar seu primeiro posicionamento. Finalmente, acabou reconhecendo que a 
adequação social era um princípio geral de interpretação, posicionamento sustentado até hoje 
por renomados penalistas. 
O princípio da adequação social e da insignificância possuem muitas semelhanças, 
chegando mesmo a serem confundidos. Entretanto, Maurício Ribeiro Lopes foi feliz em 
traçar-lhe suas diferenças, senão vejamos: 
A adequação social supõe a aprovação social da conduta enquanto o princípio da 
insignificância somente uma relativa tolerância por sua escassa gravidade (...) a 
teoria da adequação social está prevalentemente regulada sobre o desvalor da ação, e 
o princípio da insignificância sobre o desvalor do resultado.72 
Estas distinções facilitam a visualização do campo de incidência de cada um deles. 
2.1.2.2 Princípio da Intervenção Mínima 
Assim como o princípio da legalidade, a intervenção mínima surge num momento 
em que o movimento social liderado pela burguesia não aceitava mais o sistema penal do 
absolutismo. O Direito Penal nasce em meio ao iluminismo. Suas idéias trazem o homem 
como centro de tudo. Daí a tomada de consciência do “problema penal como problema 
filosófico e jurídico”.73 
Beccaria74 em uma de suas obras discorre sobre a legitimidade das penas, como elas 
refletem e afetam a sociedade e ainda o direito de punir. Afirma que as penas só devem ser 
usadas quando estritamente necessárias e na proporção dos delitos cometidos, as penas não 
podem ser segundo ele, bárbaras nem o Estado pode exagerar no direito que tem de punir. 
Essas idéias de Beccaria revolucionaram o pensamento jurídico fazendo surgir um novo 
Direito Penal, que busca a defesa social, com o foco voltado para os direitos humanos. 
O princípio da intervenção mínima vem justamente para impedir o abuso dos 
legisladores nas reprimendas. O direito penal deve ser composto de poucas, claras e 
determinadas leis que tenham o objetivo de prevenir e proteger os bens jurídicos mais 
importantes. Qualquer coisa, além disso, revestiria o direito penal de ilegitimidade. 
 
72 LOPES, op. cit., p. 122. 
73 Idem, p. 411. 
74 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de OLIVEIRA, Paulo M. de. São 
Paulo: EDIPRO, 2003, p. 
 
 
33
Luiz Luisi75 chama atenção para o que Carnelutti nomeou de inflação 
legislativa, que é a criação em excesso e sem critérios de inúmeros delitos. Essa inflação está 
enfraquecendo a força intimidadora da pena, pois desvalorizam as leis penais na medida em 
que elas saem da esfera do extraordinário e entram na esfera do ordinário. 
Mirabete76 assevera que o princípio da intervenção mínima dá base para o legislador, 
que deve buscar na “realidade fática o substancial dever-ser” tornando efetiva a proteção dos 
bens e interesses relevantes a sociedade “quando dos movimentos de criminalização, 
neocriminalização, descriminalização e despenalização”. 
Segundo Maura Roberti77 o princípio da intervenção mínima apresenta três funções 
principais: a de estabelecer as hipóteses de incidência das leis penais; a de indicar os limites 
de restrição da liberdade de ação humana, para que seja alcançada pela norma penal e por 
último estabelecer a necessidade da incidência da conseqüência jurídica do delito. 
Na primeira função são observados os critérios do processo legislativo de elaboração 
das leis penais, buscando determinar qualitativamente a tipificação das condutas e 
proporcionalmente a cominação da sanção adequada. 
A segunda função é referente aos casos em que apesar da conduta estar tipificada por 
uma norma, a circunstância do caso em concreto desaconselha a aplicação da mesma por ser 
prejuízo ao bem, mínimo. 
A terceira função concerne na necessidade da aplicação da pena, que deverá orientar 
a política criminal do julgador evitando penas privativas de liberdade sem que esta se faça 
necessária. 
Freqüentemente, a doutrina temconfundido este princípio com o princípio da 
insignificância. Mesmo sendo institutos correlatos, guardam os dois uma independência 
claramente visível. Enquanto o primeiro se define como uma regra de determinação 
 
75 LUISI, op. cit., p. 42. 
76 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral – arts. 1° a 120 do cp. 17. ed., São 
Paulo: Atlas, 2001, p. 120. 
77 ROBERTI, Maura. A intervenção mínima como princípio no direito penal brasileiro. Porto Alegre: 
Sérgio Antônio Fabris, 2001, p. 73. 
 
 
34
qualitativa abstrata para o processo de tipificação das condutas. O segundo se atém 
ao processo de interpretação da lei penal, para confirmação do preenchimento integral do 
tipo.78 
2.1.2.3 Princípio da Proporcionalidade 
Busca este princípio proibir intervenções desnecessárias e principalmente excessivas. 
Ele exige que se faça uma ponderação entre a lesão, ou perigo de lesão, que o bem sofreu e a 
lesão que o indivíduo que cometeu o delito sofrerá diante da sanção. “Toda vez que, nessa 
relação, houver um desequilíbrio acentuado, estabelece-se, em conseqüência, uma inaceitável 
desproporção”.79 Uma pena desproporcional representaria uma clara violação a dignidade do 
homem e uma ofensa a vigência formal e material do Estado de Direito. 
O princípio da proporcionalidade visa atingir tanto o poder legislativo, no momento 
que este estiver estabelecendo as penas em abstrato, quanto o juiz, quando estiver impondo ao 
autor do delito a sua sanção. “Assim, nos casos de mínima afetação ao bem jurídico, o 
conteúdo de injusto é tão pequeno que não subsiste nenhuma razão para o phatos ético da 
pena”.80 
Outra função desse princípio é prover de equilíbrio a relação entre os direitos 
individuais e coletivos, pois, segundo, Maurício Ribeiro Lopes seria “inviável proteger 
ilimitadamente a liberdade individual em detrimento dos direitos da coletividade”. 81 
A aplicação do princípio da proporcionalidade ainda que “implique mergulho em 
universo bastante indeterminado de conceitos e até valores, não pode traduzir arbítrio 
judicial”,82 isso significa que o subjetivismo e o relativismo não tem espaço quando da 
aplicação da proporcionalidade, pois essa deve ser feita sem afetar os valores constitucionais. 
Para Zaffaroni, “o fundamento do princípio da insignificância está na idéia de 
proporcionalidade que a pena deve guardar em relação à gravidade do crime”. Assim, nos 
casos de pequena lesividade ao bem jurídico, o conteúdo do injusto é tão ínfimo que não 
subsiste razão para aplicação da pena. 
 
78 LOPES, op. cit., p. 82. 
79 LOPES, op. cit., p. 421. 
80 Idem, p. 65. 
81 Ibidem, p. 423. 
82 Idem, Ibidem, p. 506. 
 
 
35
2.1.2.4 Princípio da Ofensividade ou Lesividade 
Este princípio defende a tese de que o direito penal só deve intervir quando ocorrer 
um perigo de lesão real ou efetiva lesão do bem tutelado. Isso significa que o tipo penal é 
composto não apenas por aspectos formais mais também “por elementos subjetivos que levem 
à percepção da utilidade e da justiça de imposição de pena criminal ao agente”. 83 
Em seu livro Luiz Flávio Gomes84 coloca duas funções para o princípio da 
ofensividade, a função político-criminal, que se refere pela escolha de considerar ou não uma 
conduta criminosa e a função interpretativa ou dogmática, que será observada no momento da 
interpretação e conseqüente aplicação do direito penal ao caso concreto. 
Não se pode deixar de notar que o princípio da lesividade está diretamente ligado ao 
princípio da insignificância, posto que é a partir dela que se avalia a insignificância da 
conduta, ou seja, é a partir do grau de lesividade do bem jurídico que se analisa o limite da 
aplicação do princípio da insignificância. 
2.1.2.5 Princípio da Insignificância 
Ligado aos chamados “crimes de bagatela”, este princípio determina que o direito 
penal somente intervenha nos caos de lesão ao bem jurídico de certa gravidade, caso contrário 
a tipicidade da conduta estará afastada. 
Apesar de muitas vezes confundidos, Maurício Ribeiro Lopes85 enfatiza com grande 
propriedade a distinção do princípio da insignificância e dos delitos da bagatela, ressaltando 
que no primeiro, o fato por ser ínfimo não chega a expressar valoração da tutela da normal. Já 
o segundo, pertence a outros casos de mínima importância, que embora formalmente típicas 
têm a sua antijuridicidade esvaziada. 
Mesmo que essas diferenças possuam um fundamento, a doutrina majoritária ainda 
tem considerado os dois princípios conexos, e por isso não nos preocuparemos com essas 
peculiaridades. 
 
83 LOPES, op. cit., 506. 
84 GOMES, Luiz Flávio. Princípio da ofensividade no direito penal. São Paulo: RT, 2002. p. 28. 
85 LOPES, Maurício Antônio Ribeiro. Princípio da insignificância no direito penal: análise à luz da Lei 
9.099/95. São Paulo: RT, 1997. p. 39. 
 
 
36
Capítulo 3 
O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
Neste capítulo, discutiremos alguns pontos relevantes sobre o princípio em comento. 
Dentre eles daremos destaque ao histórico, a necessidade de sua aplicação e algumas críticas 
abordadas pela doutrina. 
3.1 Histórico 
A origem do princípio da insignificância, ainda é motivo de travadas discussões. A 
chamada máxima minima non curat praetor levaram alguns autores, como Diomar Ackel 
Filho, a defenderem a tese de que o princípio da insignificância já existia no Direito Penal 
Romano, onde o pretor não se preocupava com os delitos de pequena monta.86 
Dessa opinião, já não partilhava Maurício Antônio Ribeiro87, por entender que o 
Direito Romano baseava-se no Direito Privado e não no Direito Público, portanto, a máxima 
minima non curat praetor, não levaria ao princípio da insignificância que justificasse a não 
atuação do Estado na esfera penal, acreditando, ainda que este brocado era um mero aforismo. 
O princípio da insignificância ou como chamavam os alemães, “criminalidade de 
bagatela”, surgiu na Europa após as duas grandes guerras. Com a situação sócio-econômica 
precária, os delitos de caráter patrimonial eclodiram por todo o país muitos deles subtrações 
de pequena relevância. Para evitar prisões irrelevantes, frente ao alto índice de ocorrência de 
tais delitos, passou-se a utilizar a idéia de “bagatela”, como forma de evitar penas exacerbadas 
para delitos insignificantes.88 É daí que advém o caráter de patrimonialidade que é dado ao 
princípio. 
Entretanto, foi com a obra “Política Criminal y Sistema Del Derecho Penal”, que o 
alemão Claus Roxin, em 1972, introduziu a insignificância como princípio. Para sua 
 
86 SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da insignificância no direito penal brasileiro. Curitiba: Juruá, 2044. p. 
87. 
87 LOPES, op. cit., p. 42. 
88 Idem, p. 38/43. 
 
 
37
formulação, Roxin partiu da análise do brocado minima non curat praetor, que 
serviu como base de apoio para sua criação. Para ele, o princípio da insignificância servia para 
excluir dos tipos penais os danos de pouca importância. 
Embora a formulação de tal princípio seja mérito de Claus Roxin, vestígios dele 
podem ser verificados em 1903, na obra de Franz Von Liszt, anotada por Odone Sanguiné:89 
“A nossa legislação faz da pena, como meio de luta, um emprego excissivo. Se deveria refletir 
se não mereceria ser restaurado o antigo minima non curat praetor [...]” 
O princípio da insignificância vem intimamente ligado ao princípio da legalidade. A 
maior expressão da influência deste princípio foi com a Declaração Universal dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, em 187990,nos artigos 5°, 7° e 8° que sugeriram o princípio da 
insignificância. Nele verifica-se, que “a lei não proíbe senão as ações nocivas a sociedade, o 
que cria um caráter seletivo para o Direito Penal e desprezo às ações insignificantes.”91 
No Brasil, a inclusão da insignificância como um princípio do Direito Penal foi 
abordado por Francisco de Assis Toledo, Odone Sanguiné, Diomar Ackel Filho, Luiz Ribeiro 
Lopes, Luiz Flávio Gomes, dentre outros. Porém, Assis Toledo destaca-se por pioneiro ao 
analisar o alcance do princípio.92 Para ele, o Direito Penal e seu caráter fragmentário, só deve 
se ocupar dos delitos que afetem a proteção do bem jurídico, e não com bagatelas. 
No nosso país, o princípio da insignificância não está previsto em nenhum 
instrumento legislativo, exceto no Código Penal Militar, sendo uma criação exclusivamente 
doutrinária e pretoriana.93 Atualmente os tribunais pátrios, já vêm aplicando o princípio em 
diversos casos: furto, lesão corporal dolosa de pequena gravidade, lesão corporal culposa, 
lesão corporal no trânsito, entre outros. 
Mesmo não estando prevista em nenhuma legislação, o princípio da insignificância já 
conquistou espaço pela doutrina e como forma de limitá-lo vários autores já lançaram o seu 
conceito. 
 
89 LOPES, op. cit., 86/87. 
90 SILVA, op. cit., 89/90. 
91 LOPES, op. cit., 42/46. 
92 TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed. São Paulo, 1994, p. 133. 
93 RÊBELO, José Henrique Guaracy. Princípio da insignificância: interpretação jurisprudencial. Belo 
Horizonte: Del Rey, 2000, p. 33. 
 
 
38
Dentre eles, o que aparece em maior destaque é aquele trazido por 
Diomar Ackel Filho94 que define o princípio da insignificância como aquele que permite 
infirmar a tipicidade de fatos que, por sua inexpressividade, constituem ações de bagatela, 
desprovidas de reprovabilidade, de modo a não merecer valoração da norma penal, 
exsurgindo, pois como irrelevantes. 
Por isso, a importância do seu estudo. Em nosso país, vemos absurdos de cidadãos 
preso por furto de cinco reais, muitas vezes por necessidade e mesmo assim permanecem por 
anos no cárcere. Essas aberrações devem ser evitadas e aqueles que se opões ao princípio, de 
fato não se deram conta de importância de sua aplicação. 
3.2 Natureza Jurídica 
Apresentado os aspectos teóricos do princípio da insignificância, analisaremos agora, 
sua natureza jurídico-penal que varia de acordo com sua localização na teoria geral do delito 
penal. São três as correntes formuladas a saber: excludente de tipicidade, de antijuridicidade 
ou de culpabilidade.95 
A primeira corrente e mais aceita, defende a tese de que as condutas que provocam 
um dano insignificante são atípicas, portanto excluem a tipicidade da conduta que, mesmo 
causando um dano irrelevante, são abrangidas pela descrição abstrata do tipo penal. 
Nesse sentido é o entendimento de alguns juristas que abordam a matéria, dentre eles 
encontram-se: Assis Toledo, Diomar Ackel Filho, Odone Sanguiné, Carlos Vico Mañas e 
Lycurgo Santos96, que acompanha esse pensamento por entender que o primeiro juízo 
normativo que deve ser feito é o de verificar a relevância da conduta tudo como típica. 
A segunda e menos expressiva defende a exclusão da antijuridicidade como natureza 
jurídica, entretanto não é muito debatida pela doutrina. Alberto Silva Franco é um dos que 
defende essa corrente, vinculando o princípio da insignificância à antijuridicidade material. 
 
94 ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificância no direito penal. Revista de jurisprudência do 
tribunal de alçada criminal de São Paulo, v. 94, 198, p. 73. 
95 SILVA, op. cit,, p. 157. 
96 SILVA, apud Lycurgo Santos. op. cit., p. 158. 
 
 
39
Ele justifica esse caráter material, por vivermos num Estado de Direito. Ressalta 
ainda, que o dano ao bem jurídico protegido deve ser relevante para justificar a persecução. 
Nesse mesmo sentido, Carlos Frederico Pereira, citado por Ivan Luiz da Silva, 
afirma: 
A insignificância no tipo indiciário se manifesta, como visto de regra na 
antijuridicidade material, pois é esta que contém o bem jurídico e exige a sua lesão e 
acima de tudo, que seja significante, sem o que não se poderá conceber a existência 
de crime.97 
Para Damásio98 a antijuridicidade é um dos elementos do crime, isso porque é 
contrária ao Direito, entende ainda ser a ilicitude da conduta um antecedente da culpabilidade, 
pois, o ordenamento jurídico produz um preceito externo de comportamento. Portanto, a única 
atividade importante é aquela que é demonstrada por meio da conduta subjetiva. 
Não é então suficiente que o fato seja típico, é necessário, também, que ele seja 
ilícito, e sobre ele incida a reprovação do ordenamento jurídico e, ainda, que existam 
elementos de culpabilidade. 
Assim como na tipicidade, a antijuridicidade tem aspectos formais e materiais, 
formalmente o delito é conceituado apenas sob o ponto de vista da lei e materialmente é uma 
valoração da natureza lesiva de uma determinada conduta. 
Alguns doutrinadores que adotam a excludente de antijuridicidade como natureza 
jurídica argumentam que é na antijuridicidade material que se manifesta a insignificância, 
pois é nela que existe o bem jurídico e conseqüentemente a exigência de dano. Alegam ainda, 
que se assim não fosse, ocorreria uma ofensa a natureza descritiva do tipo penal, atribuindo-
lhe desnecessariamente uma sujeição a valores.99 
Abel Cornejo100 acrescenta que o julgador tem o dever de primeiro tipificar a conduta 
e só então verificar se a conduta em questão é antijurídica. Para tanto, deve examinar se o fato 
é relevante, se este foi grave o suficiente para lesionar o bem jurídico. 
 
97 SILVA, apud Carlos Frederico Pereira, op. cit., p. 160. 
98 JESUS, Damásio de. Direito Penal: parte geral. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 1, p. 351/353. 
99 SILVA, op. cit., p. 160/161. 
100 Apud SILVA, Ivan Liz da. Princípio da insignificância no direito penal brasileiro. Curitiba: Juruá, 
2004. p. 160/161. 
 
 
40
A terceira e última corrente tem a excludente de culpabilidade como 
natureza jurídica do princípio da insignificância. Damásio101 assevera que a culpabilidade é 
um pressuposto da pena e não um elemento do crime, como a antijuridicidade. O crime existe 
por si mesmo, necessitando apenas do fato típico e ilícito como requisito. A culpabilidade 
teria a função de ligar a pena ao agente do delito. Portanto, o crime só será imputado ao 
agente se este for culpável, e neste caso irá a culpabilidade agir como limitadora da 
quantidade de pena, conquanto mais for a culpabilidade maior será a sanção. 
Para Rogério Greco102 a culpabilidade é o juízo de reprovação que se faz perante um 
fato típico e ilícito praticado por um indivíduo. Seria um juízo de censura individual, onde 
cada homem possui sua identidade devendo, assim, todos os fatos externos e internos serem 
levados em consideração quando se referirem a análise da culpabilidade, apurando se a agente 
da conduta poderia ter agido de outra forma a não cometer o delito. 
Além de típica e antijurídica, deve a ação ser culpável. Trata-se do elemento 
subjetivo do delito. O resultado lesivo ao direito, oriundo da ação do sujeito ativo, há de ser-
lhe atribuído a título de culpa, em sentido amplo, isso é, dolo ou culpa. 
Verifica-se assim que não há como analisar o conteúdo da culpabilidade do agente se 
a conduta sequer foi considerada típica. Assim, é considerado um erro do agente no momento 
da valoração do referido principio, pois, para determinar que o fato é típico,pouco importa a 
personalidade do réu. Será uma inversão da valorada sistemática da teoria geral do delito se a 
culpabilidade do agente for valorada no momento da tipicidade. 
Entendemos que o posicionamento mais acertado, acerca da natureza jurídica do 
princípio da insignificância, é o da exclusão de tipicidade. Para tanto, discutiremos o assunto 
em outro capítulo, onde abordaremos de forma detalhada a respeito desse posicionamento. 
 
 
 
 
101 JESUS, op. cit., p. 453/455. 
102 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte geral, 5ª ed. Niterói: Impetus, 2005, v. 1, p. 428. 
 
 
41
3.3 A Necessidade da aplicação do princípio 
A adoção do princípio da insignificância103 auxilia na tarefa de reduzir ao máximo o 
campo de atuação do Direito Penal. É ele um instrumento de interpretação restritiva, fundado 
na concepção material do tipo penal, reservando-o apenas a tutela dos bens jurídicos 
relevantes. 
Quando o legislador cria os tipos penais, ele o faz abstratamente, de modo que todas 
as condutas a ele condizentes são passíveis de sanções prevista em cada tipo. Como exemplo, 
cita-se o caso do fruto de dois vidros de vasenol no valor de R$ 5, 18 (cinco reais e dezoito 
centavos), onde o Ministério Público interpôs ação penal com base no artigo 155, do Código 
Penal, que assim preceitua: “Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel pena: 
reclusão de um a quatro anos e multa”. De fato, a conduta se adequa ao fato descrito, 
entretanto, indaga-se: que tipo de pena é cabível para o cidadão que furta dois frascos de um 
produto? Qual a reprimenda cabível a esses fatos? Será que o indivíduo merece ter sua 
liberdade cerceada por fatos como estes? 
A aplicação do princípio da insignificância, vem para excluir do rol do Direito Penal, 
situações como esta, a fim de adequar de forma mais justa a realidade social e as condutas que 
são praticadas e que merecem atenção do Direito Penal. Seu caráter fragmentário e 
subsidiário, só vem a corroborar com esse pensamento. Assim, aduz Carlos Vico: 
De acordo com o princípio de intervenção mínima, com o qual se relacionam as 
características da fragmentariedade e da subsidiariedade, o direito penal só deve 
intervir nos casos de ataques graves aos bens jurídicos mais importantes. [...] A 
subsidiariedade do direito penal, por seu turno, resulta de sua consideração como 
‘remédio sancionador extremo’, que, portanto, só deve ser ministrado quando outros 
se revelem ineficientes.104 
O princípio da insignificância, quando aplicado, busca descriminalizar as condutas 
que, embora típicas, por não afetarem de forma socialmente relevante os bens jurídicos 
protegido, exclui-se a tipicidade. Sustentando este posicionamento, Luiz Flávio Gomes105 
 
103 MAÑAS, Carlos Vico. O princípio da insignificância como excludente da tipicidade no direito penal. 
São Paulo: Saraiva, 1994, p. 58. 
104 MAÑAS, Carlos Vico. O princípio da insignificância como excludente da tipicidade no direito penal. 
São Paulo: Saraiva, 1994, p. 57/58. 
105 GOMES, Luis Flávio. Delito de bagatela: princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato. 
Boletim IBCCRIM. Ano 9. n. 102. Maio/2001. p. 3. 
 
 
42
argumenta: “é o princípio da insignificância, que dogmaticamente autoriza excluir 
do tipo legal as ofensas mínimas, ou seja, nímias.” 
3.4 Os aplicadores do Princípio da Insignificância 
Os aplicadores do princípio da insignificância são os membros do Ministério 
Público, na condição de titulares da ação penal, e os magistrados, que têm a missão 
constitucional de invocar a pretensão punitiva do Estado. 
Assim, quando um membro do Ministério Publico se depara com uma situação que 
merece apreciação do princípio da insignificância, como excludente da tipicidade, deve o 
promotor de justiça requerer ao juiz arquivamento do inquérito policial, haja vista não 
constituir crime o fato narrado nos autos, na medida em que a falta de tipicidade material leva 
à ausência da própria tipicidade. Se não existe tipicidade, não se pode falar em fato típico; se 
não há fato típico, não subsiste a própria infração penal106. 
Ocorrendo tal situação, e mesmo assim o Ministério Público oferecer a denúncia, 
pode o juiz rejeitá-la, com base no artigo 43, I, do Código de Processo Penal, que assim 
prescreve: 
“Art. 43 – A denúncia ou queixa será rejeitada quando: 
I – o fato narrado evidentemente não constituir crime.” 
Além do Ministério Público, cabe ao Magistrado imbuído da função jurisprudencial 
analisar o caso concreto. Assim, se o juiz criminal considerar que a conduta praticada pelo 
agente reverte-se das características do principio da insignificância, este afasta a tipicidade, e 
a ação passa a ser típica, não ensejando a aplicação de uma sanção penal. 
No tocante à atuação do magistrado, bem asseverou Maria Helena Oliveira107: 
“Sabe-se que o ofício do magistrado não é apenas aplicar a lei, mas antes de tudo, 
julgar com justiça. O dever é de lutar pelo direito, mas encontrando o direito em 
 
106 Rebêlo, José Henrique Guaracy. Princípio da insignificância: interpretação jurisprudencial, Belo 
Horizonte: Del Rey, 2000, p. 44 
107 (Oliveira, Maria Helena de Castro. O princípio da insignificância e suas repercussões. Revista da 
ESMAPE. Recife, v. 4, n. 10, pag. 266, 1999. *p. 263-279 
 
 
43
conflito com a justiça, o dever automaticamente passa a ser uma luta 
pela justiça. Essa orientação, que objetiva uma humanização da lei, encontra-se 
prevista no art. 5°, da Lei de Introdução ao Código Civil: ‘Na aplicação da lei o juiz 
atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum’. Assim, 
o magistrado não se resume apenas a um caráter puramente positivista. Haverá 
momentos em que deverá usar o bom senso, pois inúmeros casos a lei poderá ser 
demasiadamente injusta e prejudicial tanto ao réu como à própria sociedade. Cabe 
ao julgador, diante das circunstâncias da espécie, verificar a respeito da adequação 
ou não do princípio da insignificância, atentando principalmente para a ofensa ao 
bem jurídico resguardado. Deve-se observar com cautela as repercussões que serão 
causadas por tal aplicação.” 
Apesar de se constatar o uso do princípio da insignificância pelos delegados da 
polícia paulistana, conforme relatado por Carlos Alberto Marchi de Queiroz108, a aplicação da 
insignificância pelas autoridades policiais é de aceitação polêmica. Na vertente favorável está 
o próprio Queiroz, que argumenta que a falta de amparo legal para aplicação desse princípio 
não invalida nem compromete o comportamento da autoridade policial uma vez que a 
insignificância é detalhe que se mede através do conhecimento direito e imediato da realidade 
social pelo plantonista ou pelo Titular da Unidade Policial, por dispor de condições jurídicas 
amplas para uma verificação do mal do processo em face do mal da pena. 
Para Roberto Catarino Sobral109, conquanto considere que o uso do princípio da 
insignificância nas delegacias, de uso muito mais intenso do que se imagina, represente um 
sério perigo para a ordem jurídica constituída, a utilização da insignificância nas delegacias 
representa um grande benefício para a ordem jurídica constituída, pois com o instituto da 
prescrição, são as duas mais importantes válvulas de escape do sistema penal vigente, sem as 
quais o colapso já teria ocorrido. 
Continuando seu posicionamento, acrescenta Sobral110: 
“Esta espécie de admonitória extrajudicial é responsável por um incontável número 
de composições de litígios que, se levados à persecutio criminis, estariam atulhando 
ainda mais o que já sobrecarregadosaparelhos do Estado responsáveis. Inúmeros 
casos que seriam capazes de provocar acirradas polêmicas nos tribunais, acerca do 
cabimento do princípio da insignificância, morem no seu mais comum nascedouro – 
na delegacia de polícia – sem que deles tomem conhecimento o Ministério Público e 
o Judiciário.” 
 
108 QUERIOZ, Carlos Alberto Marchi de. A autoridade policial e o princípio da insignificância. Revista 
dos Tribunais, São Paulo, a. 83, v. 710, p.390, dez., 1994. *p. 390-391 
109 SOBRAL, Roberto Catarino. Ampliação do âmbito de incidência do principio da insignificância. 
Revista do TRF 1ª Região, Brasília, V. 12, n. 1, p.45, jan./mar., 2ooo. *p. 21-48 
110 SOBRAL, op. cit., p. 44 
 
 
44
 Na corrente contrária está Carlos Alberto Garcete111, que sustenta que o 
principio da insignificância não pode ser invocado pela autoridade policial para deixar de 
cumprir o seu dever de ofício, pois, mercê da hipotética ocorrência do delito, seja na forma 
consumada, seja na forma tentada, cumpre tomar todas as providências necessárias à opinio 
delicti: ‘Sucede, que, mercê de notitia criminis, a autoridade policial não tem o amparo legal 
necessário para invocar o princípio da insignificância e, com base nele, informar à vítima que 
a conduta do suposto autor não constitui crime’. 
Partilhando de idêntica opinião, Rebêlo112 considera que a possibilidade de pro 
arquivamento do inquérito, por parte da autoridade policial, é perigosa e imprudente, por 
subtrair do Poder Judiciário a competência para exame das circunstâncias do eventual delito, 
inclusive no que toca à sua própria inexistência material. 
3.5 Fundamentos Autorizadores do seu uso no Direito Penal Brasileiro 
O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação 
da liberdade e a restrição de direitos do individuo, somente se justificam, quando estritamente 
necessárias à proteção das pessoas, da sociedade e de outros bens jurídicos que lhes sejam 
essenciais, notadamente naqueles casos em que os valores penalmente tutelados se exponham 
a dano, efetivo ou potencial, impregnado de significativa lesividade. O direito penal não se 
deve ocupar de condutas que produzam resultado, cujo desvalor – por não importar em lesão 
significativa a bens jurídicos relevantes – não represente, por isso mesmo, prejuízo 
importante, seja ao titular do bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social. 
O princípio da insignificância embasa-se na ausência de lesão relevante ao bem 
jurídico protegido pela norma incriminadora, ou seja, de tão inexpressiva a lesão ao bem 
jurídico protegido pela norma incriminadora, de forma a não constituir uma efetiva ofensa, 
considera-se como uma conduta não configuradora de ilícito penal. É que, por carência de tal 
ofensa ao bem jurídico tutelado, não se caracteriza a tipicidade, e inexistindo esta, não há 
crime. 
 
111 GRACETE, Carlos Alberto. O princípio da insignificância. Revista dos Tribunais, São Paulo, a. 90, v. 
789, p. 485 482-487, jul. 2001. *p. 482-487 
112 REBÊLO. op. cit., p. 45/46 
 
 
45
Com efeito, a tendência moderna e de se excluir do âmbito da proteção 
penal as infrações de menor potencial ofensivo e o legislador já deu mostras disso através das 
edições da Leis n°s 9.099/95 e 10.259/2001, posto ser necessária uma efetiva 
proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da 
intervenção estatal. 
Entende-se pois, que o Princípio da Insignificância deve ser avaliado como aquele 
que permite desconsiderar-se a tipicidade de fatos que, por usa inexpressividade, constituem 
ações de bagatela, de pouca monta, afastadas do campo de reprovabilidade, a ponto de não 
merecerem maior significado aos termos da norma penal, emergindo, pois, a completa falta de 
juízo de reprovação penal. 
A lei jamais deve ser invocada para atuar em casos menores, de pouca ou escassa 
gravidade. O Princípio da Insignificância surge justamente para evitar situação dessa espécie, 
atuando como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal, com o significado 
sistemático e político-criminal de expressão da regra constitucional do nullum crime sine 
lege, que nada mais faz do que revelar a natureza subsidiária e fragmentária do direito penal. 
Deve ser ressaltado que o termo fragmentariedade em sede de direito penal possui 
dois aspectos: um deles consiste no fato de que a formulação de sua ciência como um todo, 
sempre esteve condicionada por uma técnica de eleição de bens num sentido de importância, 
informada por outros ramos do direito. E assim, o direito penal dispensa atenção à proteção 
da vida, da honra, da propriedade, entre outros. Em segundo prisma, encontra-se a 
fragmentariedade penal num aspecto, segundo o qual o direito penal só pode intervir quando 
houver ofensa a bens fundamentais para subsistência do corpo social. 
A idéia de fragmentariedade segundo Fernando Capez113, conduz-nos à noção da 
intervenção mínima que será depois detalhada, e da subsidiariedade da ciência criminal. 
Segundo Francisco Muñoz Conde, citado por Capez, a intervenção do direito penal apenas se 
dá quando fracassam as demais barreiras protetoras do bem jurídico predispostos por outros 
ramos do Direito. Ou seja, a prestação da tutela estatal somente vem a lume se houver falha 
nos sistemas de controle social anteriores. Aqui podemos enquadrar a função da sociedade, da 
 
113 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Ed. Saraiva, São Paulo: 2000, p. 05. 
 
 
46
escola, da religião e também de outros ramos do Direito que apresentam métodos 
de “coerção” social tão bem conhecidos pela Sociologia e filosofia Jurídica114. 
Em conclusão, pode-se asseverar que o direito penal age em último lugar, após a 
ineficácia ou falta de efetividade de todos os outros meios de controle, formal ou informal. E 
ainda assim, não se ocupa de todos os comportamentos antijurídicos que se originam das 
relações sociais, mas somente daquelas condutas mais lesivas aos bens jurídicos mais 
importantes para a subsistência do Estado. 
O princípio da intervenção mínima pode ser considerado com uma regra de 
determinação qualitativa abstrata para o processo de tipificação das condutas. 
Tem como justificativa o princípio da lesividade, porquanto relacionada com o 
processo de seleção prévia de condutas, oferecendo um critério semântico e ontológico para 
sua utilização. 
Não basta para intervenção do Estado-legislador que se entenda conveniente a edição 
de leis protetivas de bens que, na verdade, não se demonstram fundamentais à sociedade. A 
lei penal atinge o homem e seus bens mais sagrados e, por isso, a norma apenas conveniente 
passa a ser materialmente injusta, por afetar bens da mais elevada hierarquia axiológica. 
Daí o afastamento do tipo penal. 
Com a aplicação deste princípio, reconhece-se o sentimento de justiça e valores que 
vigem em uma sociedade, não se preocupando com o agente, cuja conduta, por sua 
inexpressividade, não chega a ofender aqueles valores abrangidos no Direito Penal vigente, 
devendo o operador do direito levar em conta não apenas a repercussão econômica do 
proceder, mas também os interesses atingidos e a importância da conduta dentro do contexto 
social. 
 
 
 
114 Para tanto, consulte-se livro de Michel Foucault, A verdade e as formas jurídicas, Ed. Nau, Rio de 
Janeiro, 1996. 
 
 
47
3.6 Principais Críticas ao Princípio da Insignificância 
É inegável que o princípio da insignificância vem conquistando seu espaço tanto na 
doutrinaquanto na jurisprudência, entretanto, várias são as críticas que fazem à seu respeito. 
3.6.1 Segurança Jurídica 
Como visto anteriormente, o princípio da insignificância não encontra nenhuma 
previsão legislativa sendo sua criação, apenas doutrinária. Devido a isto, muitos autores 
acreditam que seu reconhecimento leva a um estado de profunda insegurança jurídica. 
 Carlos Vico115, afasta o argumento com sólida fundamentação. Ele relembra que “o 
princípio da insignificância nada mais é do que importante construção dogmática, com base 
em conclusões de ordem político-criminal, que procura solucionar situações injustas, 
provenientes da falta de relação entre a conduta reprovada e a pena aplicável”. 
Ressalta ainda, que a norma positivada não engloba todo o direito. E que por isso tal 
princípio, não fere o mandamento constitucional da legalidade ou da reserva legal. De outro 
lado, o direito penal alberga outras hipóteses, como causas de justificação que também não 
estão expressamente prevista na lei. 
Ademais, como não pode o legislador prever todas as mudanças das condições 
materiais e dos valores ético-sociais, a criação de novas causas de justificação, ainda não 
traduzidas em lei, torna-se necessária para a correta e justa aplicação da lei penal.116 
3.6.2 Imprecisão terminológica 
Outra reclamação que sofre o princípio da insignificância é a imprecisão 
terminológica, ou como chama outros autores, imprecisão conceitual. Essa crítica consiste na 
 
115 MAÑAS, op. cit., p. 66/67. 
116 TOLEDO, op. cit., p. 159. 
 
 
48
dificuldade de fixação específica dos delitos que se enquadram na aplicação do 
princípio, levando, mais uma vez, à insegurança do sistema. 
Continua Maurício Ribeiro Lopes: 
[...] o princípio não está dotado de uma força motriz autônoma, não se funda em 
valores interiores que justifiquem por sua própria natureza sua importância no 
sistema, sendo mero apêndice do desvalor de resultados lesivos concretamente 
verificáveis. Assim, esta casuística impediria que a partir dele se fizesse ciência, 
posto que não se faz do particular, mas do geral.117 
Carlos Vico, é um dos autores que considera que a indeterminação conceitual ou 
vaga, pode trazer riscos para a segurança jurídica do sistema. Entretanto, de acordo com o que 
ele mesmo verifica, a doutrina e jurisprudência têm conseguido delimitar as condutas que 
devem ser consideradas insignificantes. Assim assevera: 
[...] a doutrina e a jurisprudência têm conseguido elaborar, de acordo com os limites 
de interpretação permitidos, critérios razoáveis de delimitação das condutas 
insignificantes sob a ótica de um direito penal fragmentário e subsidiário, fugindo do 
empirismo e da exacerbação da análise do ‘caso por caso’.118 
No intuito de evitar a indeterminação conceitual do princípio, Carlos Vico ensina que 
a interpretação e a valoração da ofensa devem observar rigorosamente o caráter normativo. 
Para tanto o autor informa, que pode ser utilizado o critério de nocividade social de Claus 
Roxin. Essa nocividade dispõe de conteúdo próprio, de concreção material, para precisar a 
insignificância da conduta. Além dele, devem ser acrescidos os critérios de desvalor da ação, 
do resultado e do grau de lesividade ou ofensividade ao bem jurídico protegido pelo tipo 
penal.119 
3.6.3 A previsão legal de tipos privilegiados 
Outro tipo enfocado por aqueles que não privilegiam a adoção do princípio da 
insignificância, é a sua incompatibilidade com sistema penais que tipificam condutas de 
menor poder ofensivo. 
 
117 LOPES, op. cit., p. 177. 
118 MAÑAS, op. cit., p. 60. 
119 Idem, p. 60. 
 
 
49
Com o direito brasileiro prevê contravenções penais, as figuras típicas de 
furto, apropriação indébita, estelionato, receptação de coisas de pequeno valor, quando 
interpretados restritivamente, importariam em analogia contra legem e violação ao princípio 
da legalidade120. 
Como bem ressalta o autor121, tal objeção não deve prosperar, porquanto não há 
empecilho a que efetuada a valoração da ofensa, reconheça-se que, de tão irrisória, sequer se 
adapte aos tipos privilegiados e, mesmo, aos contravencionais. 
Com a Constituição de 1988, as críticas foram reforçadas diante do que estabelece o 
art. 98, I, qual seja: “[...] a criação de juizados especiais para julgamento das infrações penais 
de menor potencial ofensivo”122. Porem o preceito constitucional só veio confirmar o 
princípio da insignificância, pois não determina que se deva criminalizar casos de bagatela. 
O habeas corpus123 numero 2.119-0/RS, em voto proferido por Luiz Vicente 
Cemicchiaro, teve a oportunidade de analisar a questão à luz dos preceitos de furto de 
pequeno valor, nos seguintes termos: 
impõe, por isso analisar o art. 155, parágrafo 2° do Código Penal, que reduz a pena 
cominada ou autorizar o juiz substituir a reclusão pela detenção, ou aplicar somente 
multa. 
Interpretação lógica impõe esta classificação: 
• furto; 
• furto de pequeno valor; 
• subtração insignificante; 
A subtração insignificante é conduta atípica. 
A tipicidade compreende o furto e a forma amenizada. 
O conceito de subtração insignificante é normativo. Não se define pelo valor 
econômico ou efetivo, embora a ele esteja vinculado. 
Cumpre considerar o impacto no bem jurídico protegido. 
 
120 MANÂS, op. cit., p. 62. 
121 Idem, p. 62. 
122 LOPES, op. cit., p. 179. 
123 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Penal e Processo Penal. Recurso Especial n. 2.119. Recorrente: 
Maria Ângela Cabral Toscana Barreto. Recorrido: Estado do Rio Grande do Sul. Relator: Adhemar Maciel, DF, 
10 de maio de 1993. Disponível em: http://www.stj.gov.br/jurisprudencia/. Acesso: 28 de agosto de 2008. 
 
 
50
Portanto, essa critica também foi rechaçada e para a maioria dos 
doutrinadores os delitos privilegiados não entram em confronto com o princípio da 
insignificância. 
3.6.4 Sensação de ausência de direito e de tutela jurídica 
Carlos Vico, citando Odone Sanguiné, aborda tal crítica da seguinte forma: “a 
adoção do princípio da insignificância, para alguns, gera perigo de um recuou do direito 
penal, com o alastramento do senso de ausência de direito e de tutela jurídica, sem qualquer 
compensação e com conseqüências incontroláveis”.124 
Para o autor esse temor é conseqüência da ignorância, do caráter fragmentário e 
subsidiário do Direito Penal, tão comentado neste trabalho. Ressalta ele, que o objetivo não se 
funda na licitude das condutas consideradas de pouca relevância, apenas se pretende tirá-las 
da esfera de atuação do Direito Penal, podendo muito bem serem resolvidas por outros 
instrumentos de controle social. Assim continua Carlo Vico: 
A medida traz inúmeras vantagens de ordem político-criminal. Evita-se, por 
exemplo, que, em determinados casos, os custos sociais decorrentes da manutenção 
da incriminação e da conseqüente necessidade de sua persecução penal resultem 
superiores aos eventuais benefícios para a justiça criminal, com a eliminação da 
sobrecarga de trabalho representada pelo excessivo número de casos relativos a 
delitos de bagatela, é possível obter efetiva tutela jurisdicional em relação a casos 
graves.125 
Para Paulo Cesar Piva: 
Adotando-se este princípio, não há que se falar em ausência de direito ou de 
aplicação da justiça, mas, sim, na plena aplicação de outros meios de controle social, 
disponibilizados às pequenas e irrelevantes infrações, reservando-se o Direito Penal 
para investir na tutela jurisdicional em fatos e valores sociais estritamente 
relevantes.126 
O caminho trilhado por vários paísestem sido de converter estes delitos em infrações 
administrativas, com aplicação de multas de caráter disciplinar. É o que se tem verificado na 
Alemanha, Japão, Itália e Suíça, e como afirma o próprio autor. 
 
124 MANÂS, op. cit., p. 68. 
125 Idem, op. cit., p. 68. 
126 PIVA, Paulo Cesar. Princípio da Insignificância – Excludente de Ilicitude e Tipicidade Penal. Revista 
Jurídica, Ano 48. n. 274. Agosto/2000. p. 62. 
 
 
51
O novo ordenamento, como era de se esperar, comprovou a sua 
eficácia: a prevenção geral restou suficientemente assegurada mediante a imposição 
de multas, e ao infrator são mostrados claramente quais são os limites de sua 
liberdade. Ademais, a justiça criminal é desafogada, e o processo administrativo 
corre de forma mais fluente e menos burocrática.127 
Portanto, esta é outra crítica que foi superada como demonstrado acima. Mesmo que 
alguns doutrinadores insistam na objeção, o princípio da insignificância é mais do que 
reconhecido tanto na nossa legislação como fora dela. 
 
127 MANÂS, op. cit., p. 69. 
 
 
52
Capítulo 4 
TIPICIDADE PENAL 
4.1 Conceito de Tipo Penal 
Antes de adentrar na tipicidade, é necessário fazer um breve comentário sobre tipo 
penal. Para Bitencourt, 
Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei penal. O tipo exerce 
uma função limitadora e individualizadora das condutas humanas penalmente 
relevantes. É a construção que surge da imaginação do legislador, que descreve 
legalmente as ações que considera, em tese, delitivas, Tipo é um modelo abstrato 
que descreve um comportamento proibido. Cada tipo possui características e 
elementos próprios que os distinguem uns dos outros, tornando-os todos especiais, 
no sentido de serem inconfundíveis, inadmitindo-se a adequação de uma conduta 
que não lhes corresponda perfeitamente. Cada tipo desempenha uma função 
particular, e a ausência de um tipo não pode ser suprida por analogia ou 
interpretação extensiva.128 
Na definição de Zaffaroni, “o tipo penal é um instrumento legal, logicamente 
necessário e de natureza predominantemente descritiva, que tem por função a 
individualização de condutas humanas penalmente relevantes (...)”.129 Sendo assim, verifica-
se que o Estado positiva as condutas que quer proibir, sob pena de sanção, em caso de 
realização de tais condutas.130 
Diante disso, percebe-se que este instituto está associado ao princípio da legalidade, 
pois não se pode falar de crimes sem que haja uma lei anterior, ou seja, um tipo penal 
definindo-o como tal. Portanto, observa-se que o tipo penal ao proibir a pratica de certas 
condutas, protege a sociedade de punições arbitrárias, visto que ninguém será punido por um 
comportamento que não estava previsto perfeitamente no tipo penal (na lei). 
Em suma, pode se dizer que tipo penal é conduta proibida em lei, ou seja, é um meio 
utilizado pelo legislador para proibir a prática de determinadas condutas. 
 
128 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 9ª ed. São Paulo. Saraiva: 2004, v. 1, 
p. 199. 
129 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte 
geral. 3° ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 443. 
130 GRECO, Rogério. Direito penal – Lições. 2ª ed. Belo Horizonte: Praetorium, 2000, p. 123. 
 
 
53
Daí conclui-se o seguinte: a Lei descreve o tipo, que por sua vez descreve 
uma conduta. Essa conduta define o núcleo do tipo, que é uma ação ou omissão. Esse tipo traz 
consigo uma sanção, que serve para proteger um bem jurídico131, seja ele a vida, um objeto de 
valor, a integridade física, desde que esteja descrito. Essa sanção é aplicada quando verificada 
a prática de um comportamento prescrito na norma. 
O principio da insignificância está inteiramente ligado ao conceito de tipo penal, por 
isso, seu aspecto conceitual torna-se indispensável, para a sua aplicação, bem como necessário 
conhecer sobre suas funções, elementos e o que seja tipicidade. 
4.2 Funções do Tipo 
Para Ney Moura Teles, o “tipo tem duas funções da mais alta importância: a de 
garantia e a indiciária da ilicitude”132. Ensina o autor, que, para que o cidadão seja punido 
penalmente, sua conduta deverá está em conformidade com o tipo, ou seja, seu 
comportamento deverá estar exatamente de acordo com o que preceitua um determinado tipo. 
Assim, se sua conduta não estiver adequada a ele o cidadão estará protegido contra o 
sancionador do Estado. 
Na segunda função o tipo indica que a conduta descrita em seu texto é ilícita, 
proibida, e portanto contrária ao ordenamento jurídico133. Por isso a nomenclatura indiciária, 
porque aponta a ilicitude ao descrever a conduta proibida. Caso o cidadão a pratique, este 
estará sujeito às sanções previstas no tipo. Como exemplo, o art. 121 do Código Penal, dispõe 
o seguinte: “matar alguém: Pena: reclusão de seis a vinte anos.”134. Neste exemplo, a conduta 
vem descrita na primeira parte do artigo, em seguida vem à sanção, prevista para quem vier a 
praticá-lo. 
 
131 ZAFFARONI, Eugenio Raúl e PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro: parte 
geral. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, “bem jurídico é a relação de disponibilidade de um indivíduo com 
um objeto, protegido pelo estado que revela seu interesse mediante a tipificação penal. São, portanto, o direito 
que temos de dispor de certos bens.” 
132 TELES, op. cit., p. 184. 
133 Idem, p. 184. 
134 BRASIL. Código Penal, op. cit., p. 423; 
 
 
54
No mesmo sentido, Bitencourt135 também reconhece as duas funções do 
tipo penal, entretanto, em sua obra o autor acrescenta mais uma função: a diferenciadora do 
erro. Assim em poucas palavras explica que a prática de um fato doloso poderá ser punido 
quando o autor conhecer as circunstâncias que o constituem. Eventual desconhecimento 
implicará erro de tipo, excludente de dolo. E essa exclusão implicará em uma causa de 
justificação. 
Visto as principais funções do tipo, se faz importante analisar os elementos que o 
compõem. 
4.3 Elementos do Tipo 
Dentre os elementos do tipo penal, podemos encontrar os objetivos e os subjetivos. 
Há autores que também incluem no rol dos elementos os normativos. Ney Moura Teles é um 
deles, definido os elementos como “objetivos, relativos a materialidade do fato, subjetivos, 
atinentes ao estado psíquico do sujeito ativo, e normativos, referentes à ilicitude, ao injusto ou 
a alguma norma estabelecida.” 136 
O elemento objetivo, como o próprio nome já diz deve ser preciso, detalhado, 
vislumbrando o homem como sendo protagonista dos acontecimentos, conquanto sejam à 
base do princípio da legalidade. São, portanto, a materialidade do fato, traz consigo a forma 
como o fato foi executado, o meio empregado, o tempo, o sujeito, o objeto. São estes 
identificados pela simples constatação dos sentidos.137 
Pesquisando o assunto chegamos a análise de um artigo que muito bem define os 
elementos objetivos. Reproduzindo seu trecho temos que “Os elementos objetivos do tipo são 
aqueles destinados à pura descrição da conduta juridicamente relevante”138. O que está, 
portanto, descrito no tipo, e é relevante, deve ser considerado elemento objetivo. 
 
135 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte geral. 9ª ed. São Paulo. Saraiva: 2004, v. 1, 
p. 247/248. 
136 TELES, op. cit., p. 185. 
137 BITENCOURT, op. cit., p. 251. 
138 HADDAD, Mariana Branco. Comparações entre Tipo e Tipo Tributário. Jusnavegandi, São Paulo. 
Disponível em:WWW.jusnavegandi.com.br/ Acesso em 23 de set. 2008. 
 
 
55
Damásio139 denomina-os de elementos descritivos. Explana em curtas 
palavras sua definição, ressaltando que o tipo é composto por um verbo que expressa a 
conduta. Esse verbo, geralmente, é um verbo transitivo que é o núcleo do tipo. Vem, portanto, 
inserido para descrever de forma objetiva a conduta proibida. Por isso, a denominação 
objetiva, por conter ipsis literis o que preceitua a norma. 
Os normativos, por sua vez, são aqueles que atribuem um sentido, um valor à ação, 
aos sujeitos do delito, ou às circunstâncias de tempo, lugar, modo ou meio de execução. 
Os elementos normativos diferenciam-se dos objetivos por necessitarem de um 
profundo juízo de valoração jurídico-penal. Segundo Bitencourt140, os elementos normativos 
necessitam além da atividade cognitiva, de uma atividade valorativa, não se limitando a 
descrever objetivamente a conduta, é necessário acrescer a ela, um juízo de valor. 
Continua o autor exemplificando: 
São exemplos característicos de elementos normativos expressões tais como 
‘indevidamente’ (arts. 151, parágrafo 1°, II; 162; 192, I; 316; 317;319 etc.) ‘sem 
justa causa’ (arts. 153; 154; 244; 246; 248); ‘sem permissão legal’ (art. 292); ‘sem 
licença da autoridade competente’ (arts. 166 e 253); ‘fraudulentamente’ (art. 177, 
caput); ‘sem autorização’ (arts. 189; 193; 281 e 282) [...]141. 
Para Rogério Greco142, os elementos normativos enquadram como uma subdivisão 
dos elementos objetivos. A argumentação, entretanto, é a mesma, o que muda é apenas a 
disposição dada pelo autor. Cita como exemplo, os conceitos de dignidade e decoro, que 
podem variar de acordo com a interpretação de cada pessoa, se reportando ao juízo de valor 
que deve ser feito sobre eles. 
O elemento subjetivo, por sua vez, na visão de Rogério Greco143, é o dolo. Para ele, o 
elemento subjetivo é o elemento anímico do agente, ou seja, diz respeito a vontade do agente. 
No mesmo sentido se manifesta Damásio144, são para ele, elementos referentes ao estado 
anímico do sujeito ligados a intenção empregado pelo agente o que determina a execução do 
fato. 
 
139 JESUS, DAMÁSIO E des. Direito Penal: parte geral. 23. ed. ver. amp. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 2, p. 
276. 
140 BITENCOURT, op. cit., p 251. 
141 Idem, p. 251. 
142 GRECO, op. cit., p. 191/192. 
143 Idem, p. 192. 
144 JESUS, op. cit., p. 278. 
 
 
56
Preconiza Cirino dos Santos, citado por Rogério Greco: 
O elemento subjetivo dos tipos dolosos é o dolo, que normalmente preenche todo o 
tipo subjetivo; às vezes, ao lado do dolo, aparecem elementos subjetivos especiais, 
como intenções ou tendências de ação ou mesmo motivações excepcionais, que 
também integram o tipo subjetivo145. 
Como exemplo do explanado, cita o autor, o artigo 159, do Código Penal, que 
preceitua: “seqüestrar pessoas com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, 
como condição ou preço de resgate”146. Aqui a finalidade não está definida apenas na 
privação de liberdade da vítima. Há também a finalidade expressa no artigo, qual seja de obter 
vantagem para si ou para outrem, também chamada de especial fim de agir. 
Diferentemente do que aduz Rogério Greco, há autores que consideram elementos 
subjetivos não só o dolo, mais também a culpa que se baseia na esfera de pensamento do 
agente. 
É através destes elementos, que se constata se o agente agiu com dolo (intenção) ou 
culpa (negligência, imprudência e imperícia). Culpa, ensina Mirabete “seria a conduta 
voluntária produz resultado ilícito, não desejado, Mas previsível, e excepcionalmente 
previsto, que podia, com a devida atenção ser evitado”147. Já o dolo seria “a vontade 
consciente do agente de realização dos elementos objetivos do tipo e do dano social causado 
pelo fato; é o querer realização do evento”148. Na conduta dolosa, dirige-se o comportamento 
em sentido contrário à função socialmente relevante protegida pela lei penal. 
A conduta humana tem por essência um caráter valorativo. Ao agir, o ser humano 
opta por um sentido à sua ação, não querendo apenas o resultado, mas especialmente o valor 
ou desvalor penalmente tutelado, e sim em função de um valor socialmente relevante, estará 
excluído o dolo da conduta. 149 
Exemplo: 
 
145 GRECO, op. cit., p. 192. 
146 Idem, p. 192/193. 
147 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal: parte geral – arts. 1° a 120 do cp. 17. Ed., São Paulo: 
Atlas, 2001, p. 46. 
148 Idem, p. 45. 
149 HADDAD, Mariana Branco. Comparações entre Tipo e Tipo Tributário. Jusnavegandi, São Paulo. 
Disponível em: WWW.jusnavegandi.com.br/ Acesso em 23 de set. 2008. 
 
 
57
Para que esteja configurado o dolo de dano (art. 163 do CP). Ao destruir, 
inutilizar ou deteriorar coisa alheia é indispensável que o agente atue em função de diminuir o 
valor tutelado pelo tipo, com menosprezo ao bem jurídico patrimonial. Se a destruição der-se 
por serviço de demolição, contratada pelo dono da coisa, não terá como se falar em dolo, pois 
estará a ação orientada no sentido de um relevante social. 150 
Assim mesmo funciona com a culpabilidade151 que seria a culpa definida em sentido 
estrito. Se o agente agir mediante erro de proibição inevitável, ou seja, falta ao sujeito a 
consciência da ilicitude, não havendo a possibilidade de mesmo com todo o esforço do 
mundo, alcançar ou atingir aquela consciência; sob coação moral irresistível, ou seja, uma 
coação que impede o sujeito de ter vontade, de modo que fica excluída a própria conduta 
(ausência de conduta) ou obediência hierárquica, não cabendo ao agente a possibilidade de 
realização ou não da conduta, sendo apenas obrigado a cumprir ordem superior, nesses casos 
o sujeito estará amparado pelas chamadas excludentes de culpabilidade. 
Como visto no capítulo anterior, há uma corrente da doutrina, que situa o princípio 
da insignificância no campo da culpabilidade, ou melhor, como uma excludente dela. Abel 
Cornejo, citado por Ivan Luiz152 considera a tese dessa corrente a mais aceitável, isso porque a 
excludente de culpabilidade agiria como uma forma de limitação dos poderes do Estado e 
ainda uma “justificação ética à aplicação da pena”. 
Assevera, ainda, que a ausência de proporcionalidade entre a aplicação da sanção ao 
agente de um delito insignificante e os danos causados por este delito é o suficiente para 
eximir o autor da pena que seria imposta. 
Esta corrente é a que possui menor aceitação perante os doutrinadores, pois alega que 
o princípio da insignificância é eximente de pena, isso significa que mesmo ocorrendo um 
crime, ele não culpável, portanto, deve o julgador ponderar diante dos fatos a aplicação da 
significância. 
 
150 Idem. 
151 TELES, op. cit., p. 275/284. 
152 SILVA, op. cit., p. 162. 
 
 
58
Diante do explanado, podemos afirmar, que num mesmo tipo penal, se 
verificam elementos objetivos, normativos e subjetivos, desde que este último, não esteja 
motivado por uma causa de justificação que exclui o dolo ou a culpa. 
Passando a definição de tipo suas funções e elementos, abordaremos agora as 
questões referentes a tipicidade, enfocando sua evolução, conceito e aplicabilidade dentro do 
estudo ora em comento. 
4.4 Evolução do Pensamento sobre Tipicidade 
Jiménez de Asúa, citado por Antônio Luís153 aponta as seguintes fases na evolução 
do estudo da tipicidade: a fase da independência, a do caráter indiciário da antijuridicidade, a 
fase da ratio essendi da antijuridicidade e as novas concepções de Beling ou também chamada 
de fase defensiva. 
Na fase da independência, Beling,concebeu a tipicidade com uma função meramente 
descritiva, absolutamente separada da antijuridicidade e da culpabilidade. Para esclarecer a 
questão Antônio Luís154, informa que “enquanto a antijuridicidade mantém uma função 
valorativa, a culpabilidade representa o juízo que possibilita a atribuição a alguém do fato 
cometido, a título de dolo ou culpa”. O mérito de Beling, nesta fase foi justamente separar na 
descrição do tipo a antijuridicidade da culpabilidade. Portanto, nessa fase o tipo penal se 
esgotava na descrição externa de uma ação determinada. 
Damásio155 também abordou o assunto no mesmo sentido, esclarecendo que o tipo 
nesta fase pertencia à lei penal, com uma função apenas descritiva. Por sua vez a ação se 
caracterizava como típica e não antijurídica (contrária a norma), por existir uma causa de 
justificação. 
A concepção de tipo como algo objetivo, descritivo e avalorativo, foi alvo de 
profundas críticas, formuladas principalmente por Ernest Mayer, que foi o precursor da 
segunda fase, a fase do Caráter Indiciário do Tatbestand. 
 
153 CAMARGO, Antônio Luís Chaves. Tipo penal e linguagem. Rio de Janeiro: Forense, 1982, p. 08. 
154 Idem. 
155 JESUS, op. cit., p. 267. 
 
 
59
Nesta fase, Mayer reelaborou o conceito de tipo penal, atribuindo-lhe a 
função de indício da antijuridicidade. Nesse sentido foi a explicação de Carlos Vico156: “a 
função do Tatbestand não é apenas descritiva, mas também indicativa da existência de uma 
relação de contrariedade entre a conduta e a norma, configurando um indício de 
antijuridicidade”. Continuando o raciocínio Damásio157 explica: “a adequação do fato ao tipo 
faz surgir o indício de que a conduta é antijurídica”. 
O grande mérito de Mayer, foi justamente provar a inexistência de uma tipicidade 
avalorativa e mesmo de uma antijuridicidade totalmente objetivo, livre de elementos 
psíquicos.158 
Na terceira fase, Mezger, em sua obra o Tratado do Direito Penal, se destaca ao 
formular a chamada fase do ratio essendi da antijuridicidade. Para ele, a tipicidade não era 
apenas um indício da antijuridicidade, mas sim sua razão de ser. 
Fontán Balestra, citado por Rogério Greco, analisando a teoria da ratio essendi, dizia 
que para Mezger o tipo era: 
‘O injusto descrito concretamente pela lei em seus diversos artigos e a cuja 
realização vai ligada a sanção penal. E, ao tratar a tipicidade dentro do estudo da 
antijuridicidade, adota Mezger uma posição extrema com respeito à de Beling: o que 
atua tipicamente, diz, atua também antijuridicamente, enquanto não houver uma 
causa de exclusão do injusto. O tipo jurídico-penal que descreve dito atuar típico 
tem, portanto, a mais alta significação no referente a existência da antijuridicidade 
penalmente relevante da ação: é fundamento real de validez (ratio essendi) da 
antijuridicidade’.159 
Para facilitar a compreensão, Rogério Greco cita a título de exemplo, como ficaria a 
redação do artigo 121 do Código Penal, para os adeptos desta teoria: “Matar alguém, 
ilicitamente”.160 Entende-se ilicitude e antijuridicidade palavras sinônimas, pois a doutrina 
utiliza as duas nomenclaturas para expressar um mesmo conceito, qual seja, a relação de 
antagonismo entre o fato típico e o ordenamento jurídico. 
 
156 MAÑAS, op. cit., p. 45. 
157 JESUS, op. cit., p. 269. 
158 MAÑAS, op. cit., p. 45. 
159 GRECO, op. cit., p. 183. 
160 Idem, p. 183. 
 
 
60
Finalizando o raciocínio, o autor explica que o fato é típico e 
conseqüentemente antijurídico desde sua concepção, por não possuir nenhuma causa de 
justificação, ou é atípico e lícito, por estarem amparados por uma excludente de ilicitude. 
Essa posição, no entanto, segundo o que sustenta Antônio Luís161, levaria à criação 
de uma antijuridicidade penal, frente a antijuridicidade geral existente. Para esclarecer o 
assunto Bitencourt162 exemplifica da seguinte forma: 
A sonegação de impostos já constituída ilícita, antes da vigência da Lei n.°8.137/90, 
era sujeita a sanções administrativo-fiscais. Segundo a doutrina de Mezger, a 
tipificação dessa conduta pela referida lei seria, agora, constitutiva de sua 
antijuridicidade. Ora, como a sonegação já era considerada antijurídica antes de sua 
tipificação, isso significa que a antijuridicidade penal constituída pelo tipo penal é 
diferente da antijuridicidade geral, que antes se lhe reconhecia. 
Tanto Bitencourt163, como Antônio Luís164, reconhecem ser inadmissível a teoria 
defendida por Mezger, na dogmática penal atual. Defendem que a antijuridicidade é uma só, 
não cabendo, portanto, a subdivisão formulada pela referida teoria, restando, pois, inválido o 
que Mezger sustentou. 
A quarta e última fase chamada fase defensiva nada mais foi do que reformulação e 
ampliação da teoria de Beling. Nesse novo trabalho, La Doctrina Del delito tipo, Beling165, 
manteve o caráter descritivo do tipo, entretanto, reconheceu a diferença entre tipo de delito e 
Tatbestand ou figura reitora. Assim esclarece. 
Ao tipo de delito – Deliktypus – correspondem todas as características internas e 
externas de cada figura legal. [...] O Tatbestand, por sua vez, como figura ideal, não 
se encontra alojado nem na parte objetiva nem na subjetiva do delito, sendo um 
modelo conceitual extraído do acontecimento externo.166 
Com essas reformulações, Beling pretendeu superar os problemas apresentados na 
sua primeira teoria, principalmente com relação a tentativa, que é a incompleta realização do 
tipo, e participação, que não integra a realização perfeita da figura descrita no tipo.167 
 
161 CAMARGO, op. cit., p. 9. 
162 BITENCOURT, op. cit., 243. 
163 Idem, p. 244. 
164 CAMARGO, op. cit., p. 9. 
165 Idem, p. 244. 
166 Ibidem, Extraído de Del rosa e Vives Anton, Derecho penal. 3 ed., Valencia: Tirant lo Blanch, 1991, p. 242. 
167 CAMARGO, op. cit., p. 9. 
 
 
61
Todas essas fases apresentadas serviram para a formulação de uma teoria, 
que mais tarde ficou conhecida como Teoria Finalista da Ação. Ela teve um papel muito 
importante na evolução do conceito da tipicidade e por isso citaremos alguns apontamentos 
sobre ela. 
Hans Welzel foi o seu precursor, dando novo impulso a concepção do tipo penal, que 
antes era focada na teoria causal da ação. Esta, por sua vez, se baseava apenas no processo 
causal estritamente mecânico, regido pelas leis da causalidade. Não levava em conta, 
portanto, a intencionalidade do agente.168 
Com a Teoria Finalista, a vontade passou a fazer parte da estrutura do tipo penal, de 
forma que o “querer do agente” começou a ser valorado. Com esse novo molde, o tipo de 
distanciou do caráter descritivo e objetivo de Beling, apresentando ao contrário, 
características objetivas e subjetivas. O dolo e a culpa, se apresentaram como elementos 
fundamentais para o contexto do tipo penal.169 
Sem dúvida esta teoria teve um papel decisivo na evolução do conceito da tipicidade, 
pois, inseriu o caráter subjetivo do agente, frente ao retrógrado conceito objetivo sustentado 
por Beling. Está é atualmente, a teoria adotada por nosso código penal. A doutrina majoritária 
também a recepcionou e com ela nos aliamos. 
Feitas as devidas implicações sobre a evolução das teorias, abordaremos, agora a 
definição atual da tipicidade, trazendo seu conceito na visão de diferentes autores. 
4.5 Conceito de Tipicidade 
Apesar de próximos os conceitos, tipo e tipicidade não se confundem. A tipicidade é 
o quarto elemento que compõe o fato típico e se define como sendo a adequação do fato ao 
tipo penal. Nas palavras de Miguel Reale Junior. Citado por Guilherme de Souza Nucci,‘é a 
conseqüência entre a ação concreta e o paradigma legal ou a configuração típica do injusto’. 
 
168 LOPES, op. cit., p. 111. 
169 MANÃS, op. cit., p. 51. 
 
 
62
Tipicidade é o fenômeno representado pela confluência dos tipos concreto (fato do 
mundo real) e abstrato (fato do mundo abstrato).170 
Bitencourt171 define tipicidade como sendo uma decorrência do princípio da reserva 
legal: nullum crimem nulla poena signe praevia lege. É a conformidade do fato praticado com 
a moldura abstratamente descrita na lei. 
Nos dizeres de Ney Moura Teles tipicidade se define como sendo “a relação de 
adequação exata, perfeita, total, completa, absoluta entre o fato natural, concreto, da vida, e o 
tipo, que é modelo de conduta proibida” 172. Na maioria dos casos essa relação é constatada 
de maneira bem simples, ou seja, observa-se o fato e sua adequação com o tipo legal de crime. 
Em questão de segundos, essa verificação é feita e, portanto, não demanda um interstício 
temporal prolongado. Ensina o autor em estudo, que “quando o fato natural se ajusta, se 
enquadra, imediatamente, diretamente ao tipo fala-se em tipicidade direta, imediata”. 173 
Entretanto, nem sempre essa adequação é possível, pois não se ajustam diretamente a 
um tipo legal. Exemplo disso são os casos de tentativa e concurso de pessoas. Nesses casos a 
verificação só é possível de forma indireta. Por isso também chamada de imediata. 
Bitencourt174, ao analisar o conceito de tipicidade, aborda uma questão interessante 
sobre o assunto, objeto de grande valia para entendermos o próprio conceito de tipicidade. O 
autor ensina que, antes de identificarmos a tipicidade do fato, existe uma operação intelectual 
pré-existente entre os diversos tipos de fato da vida real e o modelo típico descrito na lei, ou 
seja, há uma prévia analise do fato ante os requisitos legais existentes. A essa análise o autor 
chama de juízo de tipicidade. 
Zaffaroni citado por Bitencourt, afirma que esse juízo de tipicidade “cumpre uma 
função fundamental na sistemática penal. Sem ela a teoria ficaria sem base, porque a 
antijuridicidade deambularia sem estabilidade e a culpabilidade perderia sustentação pelo 
desmoronamento do seu objeto”175. Conclui seu raciocínio, informando que quando o 
 
170 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 3. ed. rev. amp. e atual. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2003, p. 112. 
171 BITENCOURT, op. cit., p. 247. 
172 TELES, op. cit., p. 188. 
173 Idem, p. 188. 
174 BITENCOURT, op. cit., p. 246. 
175 Idem, p. 246. 
 
 
63
resultado desse juízo for positivo, significa que a conduta se reveste de tipicidade, 
caso contrário estaremos diante da atipicidade da conduta. 
Superada a definição de tipicidade, e sua importância para análise acerca da 
aplicabilidade do princípio da insignificância no direito penal, oportuno se faz recorrermos à 
outra subdivisão de tipicidade: a tipicidade, de acordo com a sua concepção material. 
4.6 Tipicidade Material 
Não distante da incontestável evolução teórica do conceito de tipicidade desde a 
visão descritiva de Beling até a descoberta dos elementos subjetivos da teoria finalista, 
verifica-se que a tipicidade continuou a ser, um juízo formal de subsunção, ou seja, de 
adequação de um fato real a um modelo abstrato. Porém, essa tipicidade formal, não satisfaz 
mais a tendência moderna do direito penal, que é reduzir ao máximo sua área de atuação, ante 
seu caráter subsidiário.176 
Como dito anteriormente, a tutela de um bem jurídico é feito pelos tipos penais. 
Estes descrevem abstratamente, as condutas proibidas com suas respectivas sanções. Por isso, 
sua previsão legal tem um alcance muitas vezes maior do que o esperado, incluindo até 
mesmo as condutas socialmente adequadas ou mesmo insignificantes.177 
Nesse sentido aduz Ivan Luiz da Silva: 
em se de tutela penal a construção do tipo penal sempre apresenta grande 
dificuldade em razão da impossibilidade de o legislador prever e descrever a gama 
imensurável de formas de realização da conduta lesiva ao bem jurídico 
criminalmente protegido. [...] A imprecisão legislativa e o caráter abstrato do tipo 
penal atribuem à descrição da conduta incriminada uma amplitude maior que a 
necessária para a proteção do bem jurídico penalmente tutelado, já que algumas 
condutas sem significância jurídica para o Direito Penal poderão ser alcançadas pela 
descrição típicas. 178 
 
176 MAÑAS, op. cit., p. 52. O direito penal não é o único meio de controle social existente. 
177 Idem, p. 53. 
178 SILVA, op. cit., p. 79. 
 
 
64
Para evitar essas situações, atualmente procura-se considerar além do 
caráter formal, o caráter material da tipicidade. Isso porque, além do fato se adequar ao que 
preceitua a norma, este deve ser também socialmente reprovável, ao se ocupando de 
bagatelas.179 
Concluindo o assunto Carlos Vico se manifesta da seguinte forma: 
[...] o direito penal só deve ir até onde seja necessário para a proteção do bem 
jurídico, não se ocupando de bagatelas, é preciso considerar materialmente atípicas 
as condutas lesivas de inequívoca insignificância para a vida da sociedade.180 
O princípio da insignificância vem atrelando ao juízo de tipicidade material, onde 
mediante a análise do fato, conclui-se pela atipicidade da conduta por ser considerada 
insignificante. Para isso, é necessário que se faça uma análise sobre a real agressão ao bem 
jurídico. E é essa análise que limita a aplicação de tal princípio, pois caso contrário, sua 
aplicação poderia se dá de maneira desordenada, perdendo nesse caso sua finalidade. 
Passaremos a análise dessa atipicidade, que é a proposta final deste trabalho. 
4.7 Excludente de Tipicidade e o Princípio da Insignificância 
Como já mencionado, a tipicidade não se limita mais a uma análise lógico-formal de 
subsunção do fato ao tipo penal, deve-se levar em conta também a tipicidade material da 
conduta, analisando desta forma o conteúdo valorativo do fato, que deve afetar 
significativamente o bem jurídico181. 
Nesse sentido enfatiza Bitencourt: “a tipicidade penal exige uma ofensa de alguma 
gravidade aos bens jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou 
interesses é suficiente para configurar o injusto típico.”182 Complementando o raciocínio, 
Paulo de Souza Queiroz concluiu: 
[...] é realmente preciso ir além do convencional automatismo que, alheio à 
realidade, à gravidade do fato, à intensidade da lesão, concretamente valorados em 
função de suas conseqüências, sobretudo, se perde e se desacredita na persecução de 
 
179 MAÑAS, op. cit., p. 53. 
180 Idem, p. 54. 
181 Idem, p. 55. 
182 BITENCOURT, op. cit., p. 19. 
 
 
65
condutas de mínima ou nenhuma importância social. A intervenção 
penal – traumática, cirúrgica e negativa – há de ficar reservada para a repressão de 
fatos que assumam magnitude penal incontrolável; havendo-se, assim, de recusar 
curso aos chamados delitos de bagatela.183 
É daí que advém a aplicação do princípio da insignificância, como forma de evitar 
que a grande máquina judiciária, seja movimentada para a punição de crimes irrelevantes. 
Nesses casos, o princípio da insignificância atua como instrumento de interpretação restritiva 
do tipo penal e de descriminalização judicial, excluindo a punibilidade das infrações penais de 
pequena importância. Assim se manifesta Carlos Vico: 
É nesse contexto que deve ser entendido o princípio da insignificância. É ele um 
instrumento de interpretação restritiva, fundado na concepção material do tipopenal, 
por intermédio do qual é possível alcançar, pela via judicial e sem macular a 
segurança jurídica do pensamento sistemático, a proposição de político-criminal da 
necessidade de descriminalização de condutas, que embora formalmente típicas, não 
atingem de forma relevantes os bens jurídicos protegidos pelo direito penal.184 
A adoção do princípio da insignificância auxilia na tarefa de reduzir ao máximo o 
campo de atuação do direito penal, reafirmando seu caráter fragmentário e subsidiário. Assim, 
verificada a prática do resultado é irrisório, não há razão para sua incriminação, restando, 
portanto, atípica a conduta praticada.185 
Claus Roxin, Citado por Luiz Flávio Gomes, já dizia: 
que maus-tratos não é qualquer tipo de dano à integridade corporal, senão somente 
um dano relevante. Injuriosa em uma forma delitiva é só a lesão grave à pretensão 
social de respeito; como ‘força’ deve considerar-se unicamente um obstáculo de 
certa importância, igualmente também a ameaça deve ser ‘sensível’ para passar o 
umbral da criminalidade. 186 
A jurisprudência pátria há possui julgados neste sentido, senão vejamos: 
A insignificância das lesões sofridas pela vítima afasta a tipicidade do crime previsto 
no art. 129 do Código Penal, impondo-se a solução absolutória. (TACrim-SP, AC, 
Rel. Ercílio Sampaio – JUTACRIM 78/336). 187 
Ainda que formalmente a conduta executada pelo sujeito ativo preencha os 
elementos compositivos da norma incriminadora, mas não de forma substancial, é de 
se absolver o agente por atipicidade do comportamento realizado, porque o Direito 
Penal, em razão de sua natureza fragmentária e subsidiária, só deve intervir, para 
impor uma sanção, quando a conduta praticada por outrem ofenda um bem jurídico 
 
183 QUEIROZ, Paulo de Souza. Do caráter subsidiário do direito penal. Lineamentos para um direito penal 
mínimo. Belo Horizonte. Ed. Del Rey, 1998, p. 124/125. 
184 MAÑAS, op. cit., p. 58. 
185 QUEIROZ, op. cit., p. 121/122. 
186 Idem, p. 124. 
187 SILVA, Ivan Luiz da. Princípio da insignificância no direito penal brasileiro. Curitiba: Juruá, 2004. p. 159. 
 
 
66
considerado essencial à vida em comum ou à personalidade do homem 
de forma intensa e relevante que resulte uma danosidade que lesione ou o coloque 
em perigo concreto. (TACrim, Apel. 988.073/2, Rel. Márcio Bártoli, 03.01.1996).188 
Se a lesão for considerada de pequena monta, afastada a tipicidade, á de aplicar o 
princípio da insignificância. (TACrim-SP, Apel. 274.977, Rel. Ricardo Andreucci, 
18.04.1984).189 
O princípio da insignificância vem sendo reconhecido principalmente nos crimes 
contra o patrimônio, onde ocorre crimes de pequena monta. Dentre eles temos: furto, tentativa 
de furto, descaminho, estelionato, apropriação indébita, dano, receptação, entre outros. 
Citando alguns exemplos temos: o furto que é o mais freqüente dos crimes e por isso a ele nos 
ateremos. Sobre ele tem se manifestado a jurisprudência: “a conduta de subtrair R$ 0,15 
(quinze centavos) não constitui crime de furto, pois inexistente a tipicidade material”.190 
“admite-se em algumas modalidades de furto, quando evidenciado, como no caso, que a 
vítima não sofreu dano relevante ao seu patrimônio, a aplicação do princípio da 
insignificância.” 191 
Atualmente, o que se verifica na jurisprudência dos Tribunais Superiores, não é a 
preocupação com a efetiva aplicação do princípio ora em comento. Mais sim, principalmente 
nos casos de furto, há uma preocupação em distinguir o ínfimo e o pequeno valor e dentro 
desta distinção, o limite para sua aplicabilidade. Em se tratando de ínfimo é inegável a 
aplicação do princípio, por não promover prejuízo a vítima em nenhuma hipótese, já que o 
pequeno valor, dependendo das condições da vítima, pode atingir o patrimônio desta e assim 
afastar a insignificância do delito. 
Nesse sentido já existem decisões: 
no caso de furto, para efeito da aplicação do princípio da insignificância é 
imprescindível a distinção entre ínfimo (ninharia) e pequeno valor. Este, ex vi legis, 
 
188 Idem, p. 159/160. 
189 Ibidem, p. 159. 
190 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Penal e Processo Penal. Recurso Especial n. 23.904. Recorrente: 
Moisés Alves de Souza. Recorrido: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Ministro Paulo Medina, 
DF, 10 de agosto de 2004. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 28 de set. de 2008. 
191 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Penal e Processo Penal. Recurso Especial n. 608.378. Recorrente: 
Thiago Augusto Bento. Recorrido: Ministério Público de Minas Gerais. Relator: Ministro José Arnaldo da 
Fonseca, DF, 05 de agosto de 2004. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 28 de set. de 2008. 
 
 
 
67
implica, eventualmente, em furto privilegiado; aquele, na atípica 
conglobante (dada a mínima gravidade). 192 
faz-se mister a aplicação do princípio da insignificância, excludente da tipicidade, se 
evidenciado que a vítima não teria sofrido dano relevante ao seu patrimônio, pois os 
valores em tese, subtraídos pelos agentes representariam quantia correspondente a 
1,5% do salário mínimo. Inconveniência de se movimentar o poder judiciário, o que 
seria bem mais dispendioso, caracterizada. Considera-se como delito de bagatela o 
furto simples praticado, em tese, para obtenção de objeto de valor ínfimo – hipótese 
dos autos. Recurso desprovido.193 
Luiz Flávio Gomes194, um dos defensores mais assíduos do princípio da 
insignificância, finalizando sua discussão acerca do assunto se manifesta, dizendo de forma 
resumida, que toda vez que nos deparamos com um delito bagatelar, o certo é pedir o 
arquivamento das investigações, e se caso já houver ocorrido a denúncia, cabe ao juiz rejeitá-
la. Se mesmo assim não o fizer, deve ser proposto um habeas corpus requerendo o 
trancamento da ação penal. De toda a sorte a atipicidade da conduta deve ser reconhecida, não 
exigindo assim a ocorrência do resultado para sua caracterização. 
 
192 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Penal e Processo Penal. Recurso Especial n. 686.705. Recorrente: 
Ministério Público do Estado Rio Grande do Sul. Recorrido: Vanderlei de Jesus Bugs José Jair da Silva. 
Relator: Ministro Felix Fischer, Brasília/DF, 19 de abril de 2005. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 
28 de set. de 2008. 
193 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Criminal. Recurso Especial n. 573.488. Recorrente: Ministério 
Público do Estado Rio Grande do Sul. Recorrido: Fábio da Silva, Tiago Levino Cortez e Joel Sidnei Dutra. 
Relator: Ministro Gilson Dipp, Brasília/DF, 15 de junho de 2004. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 
28 de set. de 2008. 
194 GOMES, op. cit., p. 3. 
 
 
68
Capítulo 5 
DA APLICAÇÃO DO PRINCIPIO DA INSIGNIFICÂNCIA 
PELO JUDICIÁRIO 
O princípio da insignificância vem sendo aplicado, cada vez mais, pelos nossos 
tribunais. Nota-se, assim, uma tendência desses órgãos judiciários em excluir a intervenção do 
direito penal nos casos em que a lesão seja ínfima, deixando para os outros ramos do direito a 
responsabilidade de solucionar tal conflito. Neste sentido, o Tribunal Regional Federal da 
Primeira Região (TRF1), em vários acórdãos, tais como o Habeas Corpus n. 
2006.01.00.015318-0/MG195 e ao Recurso Criminal n. 95.01.34352-9/MG196, afirma que a 
conduta penalmente irrelevante deve ser excluída da tipicidade penal e, conseqüentemente, do 
direito penal, pois este deve preocupar-se somente com as condutas que realmente lesionam o 
bem jurídico tutelado pelo estado. 
Sobre os requisitos necessários para incidência do princípio em tela, o Superior 
Tribunal de Justiça (STJ) vem aceitando, em inúmerosacórdãos, entre eles o RESP 
750.626/RS197 e o RESP 556.653/MG198, a aplicação do princípio da insignificância quando 
há mínima afetação ao bem jurídico, ausência de periculosidade social da ação, reduzido grau 
de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 
Ademais, o STJ expõe que “a aplicação do princípio da insignificância deve ser feita através 
de interpretação referida ao bem jurídico (e não mera tabela de valores), atendendo ao tipo de 
injusto”199. Em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), observa-se que essa Corte 
 
195 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Habeas Corpus n°. 2006.01.00.015318-0/MG. 
Impetrante: Defensoria Pública da União. Impetrado: Juízo Federal da 4ª Vara - MG. Relator: Desembargador 
Federal Mário César Ribeiro, Brasília/DF, 30 de maio de 2006. Disponível em: http:www.trf1.gov.br/. Acesso: 
01 de out. de 2008. 
196 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Recurso Criminal n°. 95.01.34352-9/MG. 
Impetrante: Justiça Pública. Impetrado: Eugênio José Guilherme de Aragão. Relator: Juiz João V. Fagundes. 
Brasília/DF, 02 de setembro de 1997. Disponível em: http:www.trf1.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
197 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 750.626/RS. Recorrente: Ministério Público do 
Estado Rio Grande do Sul. Recorrido: Itamar Maurício Sanches Furtado. Relator: Ministro Hamilton Carvalho, 
Brasília/DF, 11 de abril de 2006. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
198 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 556.653/MG. Recorrente: João Francisco da 
Silva. Recorrido: Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima, 
Brasília/DF, 18 de abril de 2006. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
199 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n° 750.626/RS. Recorrente: Ministério Público do 
Estado Rio Grande do Sul. Recorrido: Itamar Maurício Sanches Furtado. Relator: Ministro Hamilton Carvalho, 
Brasília/DF, 11 de abril de 2006. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
 
 
69
Suprema adota, em vários acórdãos, entre eles o AI-QO 559.904/RS200, o mesmo 
posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, in verbis: 
Para a incidência do princípio da insignificância só se consideram aspectos 
objetivos, referentes à infração praticada, assim a mínima ofensividade da conduta 
do agente; a ausência de periculosidade social da ação; o reduzido grau de 
reprovabilidade do comportamento; a inexpressividade da lesão jurídica causada 
(HC 84.412, 2ª T., Celso de Mello, DJ 19.11.04). 
A caracterização da infração penal como insignificante não abarca considerações de 
ordem subjetiva: ou o ato apontado como delituoso é insignificante, ou não é. E 
sendo, torna-se atípico, impondo-se o trancamento da ação penal por falta de justa 
causa (HC 77.003, 2ª T., Marco Aurélio, RTJ 178/310).201 
Vale frisar que o Supremo Tribunal Federal não considera como requisito da 
insignificância os aspectos subjetivos. 
Deste modo, analisando várias decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior 
Tribunal de Justiça, verifica-se que essas cortes superiores rejeitam a incidência do princípio 
da insignificância nos crimes complexos, em que haja violência ou grave ameaça à pessoa, 
como o de roubo, mesmo quando se trata de subtração de coisa ínfima, pela impossibilidade 
de fazer uma análise fragmentada das condutas que integram o tal tipo penal. Vale dizer que, 
no acórdão RESP 468.998/MG202, o STJ afirma que, por o crime de roubo tutelar bens 
jurídicos diversos (o patrimônio e a liberdade integridade da pessoa), é inviável a aplicação do 
princípio da insignificância ao crime em questão. Nesse caso, a violência torna a conduta 
irremediavelmente relevante, restando afastada a argüição de atipicidade pela eventual 
bagatela da coisa roubada203. Também é importante ressaltar que, no acórdão 557.972,204 o 
Pretório Excelso alega que é: 
inaceitável o principio da insignificância ao delito de roubo (art. 156, CP), por se 
tratar de crime complexo, no qual o tipo penal tem como elemento constitutivo o 
fato de que a subtração de coisa móvel alheia ocorra “mediante grave ameaça ou 
 
200 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento n° 559.904/RS. Agravante: José Amilton 
Sábado Figueredo. Agravado: Ministério Público Federal. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Brasília/DF, 07 
de julho de 2005. Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
201 Idem. 
202 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recuso Especial n° 468.998/MG. Recorrente: Ministério Público do 
Estado de Minas Gerais. Recorrido: Claudinei da Silva Gomes. Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima. 
Brasília/DF, 17 de agosto de 2006. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
203 Idem. 
204 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Regimental n° 557.972/MG. Agravante: Cláudio 
Nascimento. Agravado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Relator: Ministra Ellen Gracie. 
Brasília/DF, 07 de março de 2006. Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
 
 
70
violência a pessoa”, a demonstrar que visa proteger não só o 
patrimônio, mas também a integridade pessoal.205 
Além dessa exceção, o Superior Tribunal de Justiça entende que o princípio da 
insignificância é inaplicável no caso de o réu ostentar maus antecedentes, uma vez que a sua 
incidência está condicionada aos fatores objetivos, bem como à sensatez do Julgador. Nestes 
termos: 
não a legalidade na decisão que entende inaplicável o Princípio da Insignificância a 
réu que ostenta maus antecedentes, pois sua incidência está condicionada não 
somente aos fatores objetivos, como à sensatez do julgador, a quem cabe – orientado 
pelos parâmetros previstos no art. 59 do CP – avaliar a necessidade e conveniência 
da concessão dessa benesse.206 
Portanto, o STJ entende que a aplicação deste instituto está condicionada aos fatores 
objetivos elencados no princípio da insignificância bem como ao juízo de valor do 
magistrado. Então, mesmo na hipótese em que houver lesão de pequena monta, o agente 
reincidente não fará jus ao princípio em tela, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça. 
Vale dizer que tal entendimento contraria o Supremo Tribunal Federal (pois este Egrégio 
Tribunal não considera como requisito do princípio em questão o aspecto subjetivo)207 e a 
doutrina (visto que nenhum jurista considera a sensatez do juiz como elemento necessário 
para aplicação do referido princípio). 
É importante salientar que vários tribunais têm aplicado o princípio da 
insignificância como forma de exclusão de diversos crimes, tais como de moeda falsa, de 
furto, de contrabando e descaminho e militar. A título de exemplificação, serão analisados 
alguns acórdãos que julgaram tais crimes, utilizando o referido princípio. 
Com relação ao crime de moeda falsa, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o 
Habeas Corpus n° 83.526,208 considerou que “a apreensão de nota falsa com valor de cinco 
 
205 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Regimental n° 557.972/MG. Agravante: Cláudio 
Nascimento. Agravado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Relator: Ministra Ellen Gracie. 
Brasília/DF, 07 de março de 2006. Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
206 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recuso Especial n° 562.223/DF. Recorrente: José Donizete Urias 
Francisco. Recorrido: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Relator: Ministro Gilson Dipp. 
Brasília/DF, 28 de abril de 2004. Disponívelem: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
207 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Agravo de Instrumento n° 559.904/RS. Agravante: José Amilton 
Sábado Figueredo. Agravado: Ministério Público Federal. Relator: Ministro Sepúlveda Pertence. Brasília/DF, 07 
de julho de 2005. Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
208 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n° 83.526/CE. Paciente: Rogério Coelho de Oliveira. 
Coator: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministro Joaquim Barbosa. Brasília/DF, 16 de março de 2004. 
Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
 
 
71
reais, em meio a outras verdadeiras, nas circunstâncias fáticas da presente 
impetração, não cria lesão considerável ao bem jurídico tutelado, de maneira que a conduta do 
paciente é atípica”.209 
Percebe-se, então, que, no referido acórdão, o STF empregou o princípio da 
insignificância, ao considerar como irrelevante (atípica) a conduta praticada pelo agente, já 
que não se pode falar em lesão ao objeto jurídico, ao retirar tal lesão da seara penal, tendo em 
vista que a sanção penal a ser aplicada no crime ora em questão é totalmente desproporcional 
com a conduta praticada pelo sujeito. Portanto, nesse caso, caberá aos outros ramos do direito 
solucionar tal lide. 
Quanto ao crime de furto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios 
(TJDFT), ao julgar a Apelação Criminal n°. 2004.01.1.003.474-5 APR DF210, absolveu o 
autor do furto, aplicando o princípio da insignificância. Para este órgão jurisdicional, 
O valor ínfimo da res furtiva, menos que 12% (doze por cento) do valor do salário 
mínimo vigente, sem qualquer repercussão no patrimônio da vítima, não enseja a 
reprimenda estatal, em face da ausência de efetiva lesão a bem jurídico tutelado 
pelo art. 155 do Código Penal, mormente porque o delito permaneceu na sua forma 
tentada e o objeto furtado foi recuperado, sem prejuízo algum para a vítima.211 
Cumpre frisar que, ao proferir o seu voto, o Desembargador SÉRGIO 
BITENCOURT preleciona que: 
A aplicação do princípio da insignificância volta-se àqueles casos em que a 
pequeníssima relevância da lesão causada ao bem jurídico enseja a permanência do 
fato fora do campo de incidência do Direito Penal, excluindo-se a tipicidade da 
conduta. Contudo, é imprescindível que seja analisado o valor monetário e a 
significância do objeto furtado, como também, o efetivo dano sofrido pela vítima.212 
Sendo assim, observa-se que o TJDFT considerou atípica a conduta praticada pelo 
agente (por ausência de tipicidade material), uma vez que ela não atingiu de forma relevante o 
bem jurídico patrimônio tutelado pelo direito penal. 
 
209 Idem. 
210 BRASIL. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. Apelação Criminal n° 
2004.01.1.003.474-5/DF. Apelante: Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios. Apelado: Rubens de 
Moraes Reis. Relator: Desembargador Lecir Manoel da Luz. Brasília/DF, 23 de setembro de 2004. Disponível 
em: http:www.tjdft.jus.br/. Acesso: 07 de out. de 2008. 
211 Idem. 
212 Ibidem. 
 
 
72
Sobre o crime de contrabando e descaminho, o Tribunal Regional 
Federal, ao julgar a Apelação Criminal n°. 1999.42.00.000884-7/RR,213 reformou a sentença 
proferida pelo Juiz Federal Substituto Helder Girão Barreto, que condenou o réu, pela prática 
do crime previsto no art. 334, § 1°, alínea “c”, do Código Penal (vende, expõe à venda, 
mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no 
exercício da atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que 
introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto 
de introdução clandestina no território nacional ou importação fraudulenta por parte de 
outrem) c/c o art. 10, § 3°, inciso III, da Lei n°. 9.437/97214 (possuir, deter, fabricar ou 
empregar artefato explosivo e/ou incendiário sem autorização), pelo fato do agente estar em 
posso de uma caixa de munição.215 
Insta ressaltar que, para o referido Tribunal, “não se afigura ofensividade à segurança 
coletiva a posse de uma caixa de munição (cartuchos de espingarda), mormente se 
desassociada do instrumento que lhe pode dar utilidade, qual seja, a arma de fogo”.216 Além 
disso, este órgão jurisdicional afirma que “o valor ínfimo da munição apreendida como o 
acusado (R$ 20,00) autoriza a aplicação da insignificância, dado que a política criminal 
moderna requerer a intervenção do direito penal somente quando há real ameaça ao bem 
jurídico indisponível”.217 
Percebe-se, então, que qualquer sanção penal acarretaria uma grande injustiça para o 
réu, tendo em vista que a sua conduta foi insignificante. Nesse sentido, o Tribunal Federal 
Regional expõe que: 
Os crimes que não causam nenhum transtorno à sociedade, por constituírem uma 
insignificância, não devem ser punidos. A pena nada adiantaria a sociedade nem 
para o réu (...) 
O princípio da insignificância, construção doutrinária atribuída a Claus Roxin, é que 
norteia os denominados crimes de bagatela, deve ser aplicados aos casos que, por 
 
213 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Apelação Criminal n°. 1999.42.00.000884-7/RR. 
Apelante: Antônio Pinheiro. Apelado: Justiça Pública. Relator: Desembargador Federal Tourinho Neto. 
Brasília/DF, 08 de agosto de 2006. Disponível em: http:www.trf1.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
214 Cumpre salientar que a Lei 9.437, de 20 de fevereiro de 1997, foi revogada expressamente pela Lei 10.826, de 
22 de dezembro de 2003. 
215 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Apelação Criminal n°. 1999.42.00.000884-7/RR. 
Apelante: Antônio Pinheiro. Apelado: Justiça Pública. Relator: Desembargador Federal Tourinho Neto. 
Brasília/DF, 08 de agosto de 2006. Disponível em: http:www.trf1.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
216 Idem. 
217 Ibidem. 
 
 
73
sua pouca ou nenhuma ofensa a bens jurídicos relevantes, não devem 
merecer sanção por parte do Estado.218 
Digno de nota, por sua expressiva clareza, os fundamentos expedidos pelo Min. 
Paulo Medina, no julgamento do HC 23.904/SP, onde ao se manifestar pela adoção do 
direito penal mínimo, assevera que: 
“É notório que o Direito Penal foi concebido para a tutela dos valores ou interesses 
mais importantes para o bom convívio e desenvolvimento sociais que, quando 
identificados e estabelecidas legalmente as condutas que os lesam ou expõem à 
perigo concreto de lesão, passam a ter status de bem ou objeto jurídico. 
Cabe salientar que o Código Penal, indica, através das rubricas que identificam seus 
Títulos, Capítulos e Seções, qual ou quais são os bens jurídicos penalmente 
protegidos pela norma que inspirou a constituição das figuras típicas neles contidas. 
O art. 155 está inserido no Título II do Código Penal, ao qual corresponde a rubrica 
DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. 
À evidência, o patrimônio é o que se tutela com a descrição abstrata da conduta 
constante do art. 155, CP. Nenhum outro bem jurídico é protegido, sequer de forma 
secundária, como acontece, por exemplo, com o delito de roubo (art. 157, CP), com 
o qual se busca resguardar, ainda, a integridade física, a liberdade pessoal e a vida 
humana. 
Por outro lado, para que se conclua pela existência do delito, é necessário analisar os 
três elementos que compõem o conceito analítico de crime, quais sejam, o fato 
típico, a antijuridicidade e a culpabilidade, necessariamente nesta ordem, de forma 
que, inexistente o fato típico, prescinde-se da investigação da ilicitude e assim por 
diante. 
O fato típico, por sua vez, é formado por quatro requisitos: conduta, resultado,nexo 
causal e tipicidade. 
O fato sub judice apresenta, indubitavelmente, os três primeiros requisitos, mas a 
tipicidade merece análise mais acurada. 
A tipicidade, classicamente, é vista apenas sob o prisma formal ou, em outras 
palavras, importa, tão-só, saber se há perfeita adequação da conduta ao tipo penal 
para concluir sua existência. 
Contudo, pela função precípua do Direito Penal em proteger interesses e valores 
relevantes para a sociedade e evitar a sua utilização descomedidamente, 
posicionamentos doutrinários surgiram para demonstrar a prescindibilidade desse 
ramo jurídico na regência de certos casos concretos. 
Para isso, cindiu-se a tipicidade em formal e material. Enquanto aquela representa o 
conceito clássico de tipicidade, esta é definida como a conduta formalmente típica 
que causa um ataque intolerável ao objeto jurídico penalmente tutelado. 
 
218 BRASIL. Tribunal Regional Federal da Primeira Região. Apelação Criminal n°. 1999.42.00.000884-7/RR. 
Apelante: Antônio Pinheiro. Apelado: Justiça Pública. Relator: Desembargador Federal Tourinho Neto. 
Brasília/DF, 08 de agosto de 2006. Disponível em: http:www.trf1.gov.br/. Acesso: 01 de out. de 2008. 
 
 
74
Ora, por óbvio, o furto de R$0,15 não gera considerável ofensa ao bem 
jurídico patrimônio. Conduta sem dúvida reprovável, imoral, mas distante da 
incidência do Direito Penal. 
Não há, por outro lado, se falar em prejuízo da vítima para fazer o Direito Penal 
recair sobre o indigitado agente, porquanto não se considera outra coisa a não ser o 
valor do objeto subtraído. 
Se prejuízo houve, que seja reparado no âmbito cível, pois não parece correto 
utilizar a esfera criminal para reparação de danos, sob pena de submeter o locatário 
de imóvel, v.g., devedor e solvente, a processo-crime por estelionato. Sim, mesmo 
porque causa prejuízo bem maior ao locador...”219 
Com este julgado verifica-se os fundamentos utilizados pelo C. Supremo Tribunal 
Federal para aplicação do princípio da insignificância. Percebe-se que só se justifica a 
privação da liberdade e a restrição de direito dos indivíduos quando a conduta do agente 
representa um prejuízo relevante tanto para o titulor do bem jurídico tutelado quanto para a a 
ordem social. 
Nesse sentido, colacionamos a ementa de julgado recente do Supremo Tribunal 
Federal, que descreve resumidamente os pontos relevantes que este trabalho abordou. Nele foi 
deferido o pedido de Habeas Corpus 92.531/RS220, com fundamento no princípio da 
insignificância, invalidando a condenação penal imposta ao paciente, determinando, em 
conseqüência, a extinção definitiva do procedimento penal que contra ele foi instaurado. 
“DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. ATIPICIDADE. TIPICIDADE 
FORMAL E MATERIAL. ANTINORMATIVIDADE. PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA. PARÂMETROS E CRITÉRIOS. MÍNIMA OFENSIVIDADE 
DA CONDUTA DO AGENTE. AUSÊNCIA DE PERICULOSIDADE SOCIAL 
DA AÇÃO. REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE DO 
COMPORTAMENTO. INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO JURÍDICA 
PROVOCADA. 1. Atipicidade da conduta realizada pelo paciente com base na 
teoria da insignificância, o que deverá conduzir à absolvição por falta de lesividade 
ou ofensividade ao bem jurídico tutelado na norma penal. 2. Princípio da 
insignificância está intimamente relacionado ao bem jurídico penalmente tutelado no 
contexto da concepção material do delito. Se não houver proporção entre o fato 
delituoso e a mínima lesão ao bem jurídico, a conduta deve ser considerada atípica, 
por se tratar de dano mínimo, pequeníssimo. 3. O critério, em relação aos crimes 
contra o patrimônio, não pode ser apenas o valor subtraído (ou pretendido à 
subtração) como parâmetro para aplicação do princípio da insignificância. 4. 
Consoante o critério da tipicidade material (e não apenas formal), excluem-se os 
fatos e comportamentos reconhecidos como de bagatela, nos quais têm perfeita 
 
219 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus n° 23.904/SP Paciente: Moisés Alves de Souza. 
Coator: Sétima Câmara do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo. Relator: Ministro Paulo 
Medina. Brasília/DF, 10 de agosto de 2004. Disponível em: http:www.stj.gov.br/. Acesso: 06 de out. de 2008. 
220 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n° 92.531/RS. Paciente: Cassiano da Costa Viera. 
Recorrido: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministra Ellen Gracie. Brasília/DF, 10 de junho de 2006. 
Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 06 de out. de 2008. 
 
 
75
aplicação o princípio da insignificância. O critério da tipicidade 
material deverá levar em consideração a importância do bem jurídico possivelmente 
atingido no caso concreto. 5. Lesão insignificante, já que a suposta vítima sequer se 
recordava do valor pecuniário exato. De acordo com a conclusão objetiva do caso 
concreto, foi realmente mínima a ofensividade da conduta do agente, não houve 
periculosidade social da ação do paciente, além de ser reduzido o grau de 
reprovabilidade de seu comportamento e inexpressiva a lesão jurídica provocada. 6. 
Habeas corpus concedido.”221. 
Pode-se asseverar, portanto, que o direito penal age em último lugar, após a 
ineficácia ou falta de efetividade de todos os outros meios de controle, formal ou informal. E 
ainda assim, não se ocupa de todos os comportamentos antijurídicos que se originam das 
relações sociais, mas somente daquelas condutas mais lesivas aos bens jurídicos mais 
importantes para a subsistência do Estado. 
Com a aplicação deste princípio, reconhece-se o sentimento de justiça e valores que 
vigem em uma sociedade, não se preocupando com o agente, cuja conduta, por sua 
inexpressividade, não chega a ofender aqueles valores abrangidos no Direito Penal vigente, 
devendo o operador do direito levar em conta não apenas a repercussão econômica do 
proceder, mas também os interesses atingidos e a importância da conduta dentro do contexto 
social. 
 
221 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n° 92.531/RS. Paciente: Cassiano da Costa Viera. 
Recorrido: Superior Tribunal de Justiça. Relator: Ministra Ellen Gracie. Brasília/DF, 10 de junho de 2006. 
Disponível em: http:www.stf.gov.br/. Acesso: 06 de out. de 2008. 
 
 
76
CONCLUSÃO 
Para que uma conduta seja considerada típica, não basta a produção do resultado 
naturalístico exigido pelos tipos penais, a existência do nexo de causalidade entre ela e o 
resultado e a subsunção do fato à norma. A tipicidade penal é necessária, mas não suficiente. 
Daí porque se exige que a conduta praticada pelo agente, para que configure crime, 
provoque ofensa relevante ao bem jurídico digno de tutela penal, ou, ainda, significativa 
ameaça de lesão a ele, sob pena de reconhecer-se sua tipicidade material. 
Nesse diapasão, surge o Direito Penal mínimo, visando limitar a tipificação 
descomedida que se observa no direito penal de prima ratio, intolerante, excessivamente 
interventivo e desproporcional. 
A política criminal moderna tende a reduzir ao máximo a atuação do Direito penal. 
Mas antes disso, o Estado deve proceder a uma valoração dos bens, de forma a atribuir ao 
Direito Penal a tutela daqueles sem os quais a convivência em sociedade seria impraticável. 
O princípio da insignificância encontra respaldo na inexistência de lesão relevante ao 
bem jurídico protegido pela norma incriminadora, ou seja, de tão inexpressiva a lesão ao bem 
jurídico, não é de se falar em ofensa. Trata-se, portanto, de limitação da tipificação de 
conduta, bem como de ferramenta de interpretação restritiva do fenômeno da adequação 
típica. 
Via de regra, as penalidades decorrentes das infrações bagatelares deveriam ser 
resolvidas em outraesfera que não a penal, haja vista que além de desnecessárias e 
desproporcionais como qualquer pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos que fosse 
em razão delas determinada, as sanções corporais, de tão inexpressivas, não estariam 
revestidas do caráter preventivo e intimidativo que lhe são inerentes. 
O princípio da insignificância encontra fundamento nos princípios da legalidade, da 
intervenção mínima, da fragmentariedade, da adequação social, da proporcionalidade, da 
ofensividade e, ainda, da individualização da pena. 
 
 
77
O caráter fragmentário e subsidiário do Direito Penal demanda sua 
atuação especificamente em alguns casos particulares, nos quais os outros ramos do direito se 
mostram ineficientes para solucionar as lides da sociedade. 
De outra parte, para que se configure um ilícito penal, essencial a ofensa a bem 
jurídico, caso em que será determinada punição proporcional ao ilícito praticado. 
Finalmente, não devem ser objeto do Direito Penal fatos aceitos pela sociedade. Se 
tipos legais prevêem tipos proibidos, não podem ser assim consideradas condutas absorvidas e 
adequadas pelo meio social. 
Assim, a conduta que se amolda a um fato típico formal, materialmente relevante, 
adequando-se ao socialmente permitido ou tolerado, não realiza materialmente a descrição 
típica222. A tipicidade está intimamente ligada ao conceito de tipo penal. Este se define como 
sendo a descrição de uma conduta negativa descrita na lei. Já a tipicidade, é a subsunção de 
um fato a uma norma penal incriminadora. Esta norma abstrata, muitas vezes não prevê 
situações inusitadas, pois o legislador ao formular o tipo o faz de maneira genérica. Essa 
abstração em muitos casos é prejudicial, pois engloba no rol das infrações até aquelas 
consideradas insignificantes. Para evitar essas situações, atualmente discute-se muito a adoção 
de uma tipicidade material. Esta traz como fonte de análise, o conteúdo valorativo da conduta. 
Após todo o estudo é possível concluir que o princípio da insignificância exclui a 
tipicidade da conduta. O princípio da insignificância nasce como instrumento de interpretação 
restritiva, fundado na concepção material da tipicidade. Assim, quando verificada uma 
conduta, cujo valo seja considerado irrisório, considera-se atípico o fato praticado. Este é sem 
dúvida o melhor posicionamento, a tipicidade da conduta deve ser afastada no momento em 
que for verificada sua insignificância. 
O reconhecimento do caráter bagatelar de uma infração não transforma condutas 
ilícitas em condutas lícitas. A antijuridicidade permanece intacta. O que se pretende é a 
“transferência de competência”, da esfera penal para civil ou administrativa, como já o fazem 
alguns países. 
 
222 PRESTES, Cássio Vinícius D. C. Lazzarini. O princípio da insignificância como causa excludente de 
tipicidade no direito penal. São Paulo: Memória Jurídica, 2003. p. 84. 
 
 
78
Apesar de não previsto expressamente no ordenamento pátrio, é pacífica 
sua adoção como princípio do direito penal. As críticas que lhe são feitas podem ser todas 
rebatidas. 
Por ser princípio, independe de positivação. Ademais, não é de se falar em ausência 
de tutela, pois haveria transferência de proteção dos bens reconhecidamente ínfimos para 
outro ramo do direito. 
Em relação aos tipos privilegiados e às infrações de menor potencial ofensivo, a 
conclusão que se chega é que as condutas materialmente típicas não chegariam sequer a 
configurar tais hipóteses, e por isso, qualquer sanção penal que lhes fosse imposta se 
mostraria desproporcional ao delito cometido. 
Por fim, sua aplicação deve ser precedida de uma análise individualização de cada 
caso, buscando-se, assim, inferir o grau de lesividade da conduta do agente em face do bem 
jurídico tutelado, o desvalor social da ação e a intensidade de sua culpabilidade. 
Como se disse, a jurisprudência brasileira, em geral é unânime acerca da admissão do 
princípio da insignificância. Mas ainda não se definiu com clareza seus requisitos. 
Mesmo em sede de Tribunais Superiores, a maior dificuldade para que se reconheça 
o caráter insignificante da conduta parece residir na inexistência de definição do que seja 
“valor insignificante”. Em outras palavras, até que ponto pode ser aplicado o princípio da 
bagatela? Quais são os critérios para a definição do que seria valor irrisório? 
De acordo com o artigo 335 do Código de Processo Civil, inexistindo normas 
jurídicas especificas, deve o juiz aplicar as regras de experiência derivadas da observação do 
que acontece, bem como as regras de experiência técnica. 
Tanto o Superior Tribunal de Justiça como o Supremo Tribunal Federal já 
consignaram que o princípio da insignificância deve ser aplicando levando-se em 
consideração a realidade sócio-enconômica brasileira, e não o patrimônio da vítima ou o 
salário mínimo vigente, como fazem alguns juízes, uma vez que se assim não fosse, grande 
parte da população ficaria sem proteção no que se refere aos crimes contra o patrimônio. 
Ao mesmo tempo em que não se poder negar a importância do princípio enfocado, 
ressalta-se que ele não deve ser manejado de maneira a incentivar condutas atentatórias que, 
 
 
79
toleradas pelo Estado, poderiam afetar seriamente a possibilidade de uma 
proveitosa vida coletiva.223 
Por essa razão, conclui-se que o princípio da insignificância deve ser aplicado única 
e exclusivamente em casos de ninharia, não podendo ser utilizado em hipóteses em que seja 
admissível o furto privilegiado, cuja conseqüência pode se restringir ao pagamento de multa. 
Quanto às circunstâncias de caráter pessoal (maus antecedentes, reincidência, 
inexistência de processos em curso apurando a mesma pratica delituosa), pode-se afirmar que 
não têm o condão de interferir no reconhecimento do caráter bagatelar da infração uma vez 
que a utilização de dados pessoais como fator de determinação da relevância/irrelevância da 
conduta representa aplicação do criticado Direito Penal do Autor, incompatível com o Estado 
Democrático.
 
223 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus. HC n° 39.847/RJ. Relatora a Ministra Laurita 
Vaz. Relator para Acórdão o Ministro Felix Fischer. Impetrante: Kátia Rubinstein Tavares e outro. Impetrado: 
Sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Paciente: Carlos Fernando do Amaral Miranda. 
Brasília, DF, 16 de fevereiro de 2006. Disponível em: http://www.stj.gov.br. Acesso em: 07 de outubro de 2008. 
 
 
80
REFERÊNCIAS 
ACKEL FILHO, Diomar. O princípio da insignificancia do direito penal. Revista de 
Jurisprudencia de Alçada de São Paulo. 
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Hemus: São Paulo. 2001. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral, 9 ed. São Paulo, 
Saraiva: 2004, v. 1. 
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