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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

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DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO
 Direito Internacional Público: conjunto de normas que regulam as diversas relações existentes entre os múltiplos atores que compõem a sociedade internacional. 
 O Direito Internacional Público surge a partir do século XVII, quando se formaram os Estados soberanos com as características que conhecemos hoje. O ponto limite foi o fim da Guerra dos 30 anos (em 1648), por meio do tratado de Vestfália, quando surge a ideia de soberania.
 Num primeiro momento, o Direito Internacional apresenta como sujeitos apenas os Estados. Com o fim da 2ªGM começam a surgir novos protagonistas, como as organizações internacionais. 
 Atualmente, o direito internacional regulamenta as relações entre: Estados, Organizações Internacionais, ONG’s, empresas e indivíduos. 
Características da Comunidade Internacional
Universal: num primeiro momento, somente os Estados faziam parte do cenário internacional. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o aparecimento de novos Estados em razão da descolonização, (aparecimento de novos Estados), a sociedade internacional assume contornos universalitas, passando de uma sociedade eurocêntrica, a caráter universal (aceitando países que não eram europeus). Além disso, passsam a ser considerados sujeitos não só os Estados, mas também as Organizações Interncionais (ONU: 1945). [1: O Brasil, enquanto colônia de Portugal, estava impedido de celebrar um contrato internacional, porque não possuía personalidade jurídica internacional. ]
Aberta: não existe um número predeterminado de atores que façam parte das relações internacionais. Está sempre aberta para receber novos integrantes. 
Horizontal (princípio da cooperação): deve haver uma cooperação entre os Estados para cuidar dos problemas internacionais. Nenhum Estado consegue solucionar questões transfronteiriças de forma isolada. Exemplo: tráfico internacional de drogas ou de pessoas. Não adianta se um Estado toma todas as medidas de prevenção/punição se o outro incentiva a prática dessas atividades. 
Paritária (princípio da igualdade soberana): Por ser adotado o princípio da igualdade jurídica entre os Estados é que estes poderão realizar vários atos da vida internacional: direito de convenção, de demandar em tribunais internacionais e de votar nos órgãos plenários, sendo os votos contabilizados de maneira igualitária. 
 Carta da ONU: 
ART. 1º, alínea 2:
Os propósitos das Nações unidas são:
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal.
ART. 2º, alínea 1:
A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios: 1. A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.
Descentralizada: não existe um órgão superior que elabora as leis ou garante a vigência das normas jurídicas. Não possui Poder Legislativo, Executivo, Judiciário. A criação das normas é obra direta de seus destinatários, por meio dos tratados internacionais. Os Estados, portanto, procedem de acordo com essas leis, na medida em que estas tenham sido objeto do seu consentimento. 
 A sociedade internacional possui sistema próprio de funcionamento, diferente do sistema existente na ordem estatal. Apesar de não existir o Poder Legislativo, possui formas para a elaboração das normas jurídicas internacionais. Apesar de não ser institucionalizada, possui meios de impor as normas para os membros da sociedade internacional. (Exemplo: Guerra do Golfo – a ONU obrigou o Iraque a retirar as suas tropas do Kuwait e a aplicação de várias sanções em razão desse episódio).
Atores do Direito Internacional
1. Estados:
São os mais importantes sujeitos internacionais sujeitos originários ou primários da sociedade internacional.
São, ao mesmo tempo, os destinatários e os criadores das normas jurídicas.
Incorrem em responsabilidade internacional em caso de descumprimento das normas. 
Reconhecimento: perde o valor de ato jurídico de admissão do Estado como sujeito de direito internacional 
Aquisição da subjetividade internacional
Adquire-se através de uma situação de fato: ou seja, o Estado, sendo uma organização de governo, exercita o poder de modo efetivo sobre o próprio território e sobre a comunidade, de modo independente do ponto de vista jurídico (os dois requisitos representam a soberania do Estado). Independente, no sentido de que não depende do ordenamento jurídico de outro Estado. A subjetividade NÃO é fruto de uma atribuição.
Ato de Reconhecimento: ato constitutivo da subjetividade internacional: atualmente, não possui valor jurídico, mas meramente político. Por muito tempo representou o instrumento de admissão de novos Estados na comunidade internacional. Desta forma, os sujeitos pré-existentes se sentiam no direito de avaliar se um determinado Estado possuíam os requisitos que permitissem o ingresso. [2: O reconhecimento do Kosovo por parte da Itália e de alguns países membros da União Europeia, deve ser considerado um ato meramente político. Kosovo não apresenta o requisito da efetividade. ]
 Requisitos para a subjetividade internacional: 
Efetividade: entendida como o exercício do poder de governo sobre o povo.
Kosovo não possui o requisito a efetividade, tendo em vista a presença da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e pelo fato de que o governo é administrado pelas Nações Unidas: UNMIK). 
Governo fantoche, característico da subordinação de um Estado em relação ao outro no sistema internacional. Se manifesta, geralmente, em presença de ocupações militares. É o caso do governo Karmal no Afeganistão – que gerou o conflito, iniciado com a invasão soviética no Afeganistão. A efetividade do poder de governo, nesta situação, é aparente, visto que depende essencialmente da Potência ocupante. 
Governo em exílio: durante a 2ª Guerra Mundial, muitos governos de países ocupados pelos Nazistas buscaram refúgio na Inglaterra. A responsabilidade pelos atos praticados de relevância internacional é do governo “hospitante” (no caso, a Inglaterra). Estando longe do território, falta o requisito da efetividade.
Independência: ou soberania externa (ou seja, o Estado deve haver o seu próprio ordenamento jurídico e não depender de outro Estado). 
Território delimitado
2. Organizações Internacionais:
Entes formados por acordos concluídos entre os Estados, dotados de órgãos permanentes e personalidade jurídica própria.
Passam a fazer parte do cenário internacional como sujeitos de direito internacional no final da 2ª GM.
Objetivo: permitir a cooperação entre seus integrantes em tema de interesse comum. Ou seja, são criadas para dirigir, em âmbito coletivo, atividades ou setores que, pela sua complexidade, os Estados não poderiam administrar individualmente: ONU na manutenção da paz e da segurança internacional.
Subjetividade internacional limitada: competência por atribuição / natureza funcional, ou seja, devem perseguir as finalidades que lhe foram conferidas pelos Estados fundadores.
 
Estão vinculadas às obrigações derivadas das regras gerais do direito internacional, do ato constitutivo e dos acordos em que são parte. 
A criação das organizações internacionais acelerou o processo de produção normativa escrita no ordenamento internacional. Isso porque os interesses coletivos passaram a ser compartilhados nas normas estatutárias, o que facilitou a conclusão das grandes convenções multilaterais. 
ONU (1945) / Sociedade das Nações (1919) / OEA
3. A pessoa humana: 
Passa a ser contemplada pela sociedade internacional a partir da Carta da ONU e os sucessivos documentos internacionais que foram produzidos para a proteção da pessoa humana. 
Surge a internacionalização dos direitos humanos em razão das grandes violações que foram e que ainda são praticadas contra os indivíduos.Atualmente, o indivíduo é o centro das atenções do ordenamento jurídico internacional, uma vez que existe a necessidade de tutelar o indivíduo tanto em tempo de paz (direitos humanos) quanto em tempo de guerra (direito humanitário).
Muito se discute sobre a subjetividade internacional da pessoa humana: 
Doutrina favorável: entende que os indivíduos, enquanto destinatários de proteção dos direitos humanos, deveriam ser considerados sujeitos do direito internacional. 
Doutrina contrária: na realidade, o destinatário da norma é o Estado. A dignidade humana é considerada um interesse superior e coletivo e, por isso, coloca os Estados na condição de exigir o respeito por parte de qualquer outro Estado responsável pela violação grave, podendo, inclusive, aplicar as sanções impostas pelo Direito Internacional. As grandes Convenções multilaterais que versam sobre direitos humanos (Convenção da ONU sobre a repressão ao genocídio, por exemplo) são dirigidas aos Estados: impõem obrigações erga omnes no sentido de permitir que qualquer Estado possa exigir dos outros contraentes, o cumprimento. Nessa hipótese, o indivíduo se apresenta como beneficiário da proteção, mas não é o destinatário direto da norma. 
5. A Santa Sé 
É considerada sujeito de direito internacional não porque exerce seu poder de governo sobre uma sociedade e sobre um território, mas pela função espiritual que exerce com plena autonomia.
 
Possui, portanto, capacidade para realizar acordos internacionais. No entanto, a subjetividade internacional é limitada, de acordo com os objetivos a perseguir. 
Tratado de Latrão/Laterano de 1929: a Santa Sé teve reconhecida a propriedade de certos imóveis dispersos e a plena soberania nos 44 hectares da colina vaticana.[3: Castel - Gandolfo, basílica de São João de Laterano, Santa Maria Maior e São Paulo Extramuros.]
A cidade do Vaticano: mais do que constituir a base territorial sobre a qual a Sana Sé exerce o seu poder de governo, representa a sede onde o ente organiza o exercício da sua própria função. 
 
Possui um ordenamento jurídico próprio para a realização das próprias finalidades. 
Os Estados mantêm relações internacionais com a Santa Sé e não com o Vaticano (território sobre o qual a Santa Sé exerce a sua soberania).
6. A Ordem de Malta
NÃO é considerada sujeito de direito internacional. 
Sua presença em certas conferências internacionais se dá apenas sob o estatuto de entidade observadora.
Se caracteriza pelo exercício de sua atividade funcional: como organização humanitária, realiza assistência sanitária e hospitalar, tanto em tempo de paz quanto em tempo de guerra. 
Seu objetivo é auxiliar os idosos, os deficientes, os refugiados, as crianças, os sem-teto e aqueles com doença terminal. 
7. Organizações não governamentais
 
Associações sem fins lucrativos que desenvolvem atividades transnacionais, dificilmente administradas pelos estados: mutações climáticas, cooperação ao desenvolvimento, meio ambiente, imigração, terrorismo, tutela de direitos humanos. 
São regidas pelas normas de direito interno do Estado onde possui sede. 
Possuem personalidade jurídica de direito interno.
Perseguem um determinado fim comum.
Participam de Conferências Internacionais como observadoras. 
Contribuem significativamente tanto para a elaboração das normas internacionais quanto para a cooperação internacional: trazendo as suas competências técnicas para as Conferências Internacionais e manifestando sua opinião para a solução de problemas nos setores de sua competência. 
Alguns estatutos preveem expressamente o envolvimento de ONG’s em determinados setores de cooperação, atribuindo um status consultivo: exemplo: art. 71 da Carta ONU, que prevê a possibilidade do Conselho Econômico e Social, diante da possibilidade de um acordo, consultar previamente as ONG’s interessadas às questões de sua competência.[4: “ART. 71: O Conselho Econômico e Social poderá entrar nos entendimentos convenientes para a consulta com organizações não governamentais, encarregadas de quetões que estiverem dentro da sua própria competência. Tais entendimentos poderão ser feitos com organizações internacionais e, quando for o caso, com organizações nacionais, depois de efetuadas consultas com o Membro das Nações Unidas no caso.” ]
Desempenham um papel importante na defesa de interesses e valores que são considerados importantes para a sociedade internacional, nas mais diversas áreas: cultural, ambiental, direitos humanos. 
8. Os Beligerantes e insurgentes
Beligerantes: são os revoltosos de uma guerra civil que dominam parte do território nacional e apresentam um comandante responsável pelas operações militares.Passam a ter relevância internacional porque passam a ter domínio de parte do território. Mas, para ser considerado um sujeito do DIP, o controle sob o território deve apresentar caráter de estabilidade e de permanência no tempo. A tendência é negar a subjetividade internacional. Os Estados preferem enfrentar a situação como um problema passageiro. Os Estados estão pribidos pelo direito internacional de prestar qualquer forma de assistência aos rebeldes. 
Insurgentes: enquanto o grupo revoltoso não consegue se organizar, submetendo-se ao comando responsável de um comandante e controlando parte do território, o fenômeno é denominado insurrecional a manifestação assume proporções de guerra civil sem, contudo, reconhecer o caráter jurídico desta. Os rebeldes ficam submetidos ao poder coercitivo do Estado, ficando obrigados a respeitar a dignidade humana, princípio imposto como obrigação erga omnes do direito internacional geral e codificado em numerosos instrumentos convencionais. 
Efeitos: 
o governo não é responsável pelos atos praticados pelos beligerantes
aplica-se as leis da guerra no combate
os Estados estrangeiros ficam sujeitos aos direitos e deveres de neutralidade
9. Estados membros dos Estados federados: não são sujeitos do direito internacional por não possuir um ordenamento jurídico próprio. 
Fontes do Direito Internacional: 
 São fatos ou atos dos quais o ordenamento jurídico faz depender a produção de normas jurídicas. 
	FONTES PRIMÁRIAS
	FONTES AUXILIARES
	Costumes
	Doutrina / Jurisprudência
	Princípios gerais de direito 
	Equidade
	Tratados
	Resoluções das organizações internacionais
	
	Atos unilaterais dos Estados
Art. 38 Estatuto CIJ: NÃO estabelece grau de hierarquia ou prevalência entre as fontes, mesmo posicionando os tratados antes dos costumes. A ordem tem como objetivo apenas indicar, em progressão lógica, as fontes as quais a Corte deve recorrer para dirimir as controvérsias. Sentença Mar do Norte de 20 de fevereiro 1969: a Corte, após verificar a inexistência de uma norma pactícia pertinente, procurou a norma de direito internacional geral aplicável ao caso concreto. A ordem de preferência contida no art. 38 se dá pelo fato de que o tratado, constituindo um regime específico baseado na vontade das partes, cria um jus specialis, ou seja, um regime jurídico específico destinado a disciplinar pontualmente uma determinada matéria que, enquanto tal, é apta a derrogar o direito consuetudinário (jus generali) => relação funcional.[5: Artigo 38: “1. A Corte, cuja função seja decidir de cordo com o direito internacional as controvérsias que lhe forrem submetidas, aplicará: a) as convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes; b) o costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita como direito; c) os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas; d) as decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito,sem prejuízo do disposto no Artigo 59. 2. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um litígio ex aequo et bono, se convier às partes.” ]Costumes: 
Norma de direito geral (abrange todos os Estados) NÃO escrita: é uma prática geral aceita como sendo direito, ou seja, um conjunto de normas consagradas pelo longo uso e observadas nas relações jurídicas internacionais como obrigatórias. 
É imposta e dirigida a todos os sujeitos do direito internacional, tendo eles contribuído ou não para a formação da norma.
Elementos constitutivos: 
de caráter objetivo: consiste na repetição de um determinado comportamento constante e uniforme no tempo diuturnitas.
de caráter subjetivo: consiste na convicção da obrigatoriedade jurídica, em virtude de representarem valores essenciais e exigíveis de todos os Estados opinio juris 
Características: 
prática comum, resultante da repetição uniforme de certos atos na vida internacional.
prática obrigatória, considerado norma que deve ser respeitada pelos membros da sociedade internacional.
prática evolutiva, pois se adapta às novas circunstâncias sociais. 
O costume se apresenta, portanto, como uma convicção jurídica que existe independente da vontade do Estado, porque trata-se de uma vontade de natureza coletiva. 
Exemplo: o que inicialmente era uma cortesia internacional: dar imunidade do imposto aduaneiro sobre bens dos diplomatas, pela prática reiterada, tornou-se um costume, posteriormente codificado. ARTS. 36 e 37 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas. 
3.2. Princípios: 
Finalidade: preencher as lacunas do direito internacional, evitando a não apreciação das demandas apresentadas à Corte, nos casos em que não houver previsão da metéria em tratados ou costumes internacionais. 
São vários os princípios gerais que possuem aplicação no direito internacional público: pacta sunt servanda, princípio da boa-fé, princípio do esgotamento das vias internas do recurso antes do ingresso perante uma jurisdição internacional, dignidade da pessoa humana. 
Outros princípios originários da jurisprudência, em setores específicos: princípio da liberdade dos mares, princípios gerais de direito humanitário. 
Finalidade da inclusão dos princípios no rol do art. 38 do Estatuto da CIJ: preencher as lacunas do direito internacional evitando a não apreciaçãpo de uma demanda apresentada à Corte nos casos em que não houver previsão da atéria em tratados ou costumes internacionais. 
Declaração 2625, sobre princípios relativos às relações amigáveis e a cooperação entre os Estados de 1970 (Assembleia Geral das Nações Unidas): igualdade soberana entre os Estados, autodeterminação dos povos, não intervenção nos assuntos internos, proibição da ameaça e do uso da força, obrigação de solução pacífica das controvérsias internacionais, cooperação recíproca entre os Estados, boa-fé. 
Princípios do JUS COGENS: normas que protegem valores fundamentais, aceitas como inderrogáveis (proibição do uso da força, autodeterminação dos povos, dignidade humana).[6: Autodeterminação: Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos - "Todos os povos têm o direito de autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam livremente sua condição política e perseguem livremente seu desenvolvimento econômico, social e cultural "]
proibição da ameaça e do uso da força (exceção: autotutela individual e coletiva em presença de um ataque armado); proibição de praticar gross violations dos direitos humanos; proibição de sufocar a autodeterminação dos povos e a cooperação econômica. 
Convenção de Viena sobre o direito dos tratados de 1969: único instrumento convencional em vigor que faz referência expressa às normas cogentes (art. 53 Convenção de Viena sobre o direito dos tratados - causa de nulidade dos tratados: situação de conflito entre tratado e uma norma imperativa do direito internacional). 
A noção de norma imperativa traz a idéia de obrigação erga omnes. O conceito de erga omnes foi formulado pela CIJ nos anos 70, na sentença Barcelona Traction (erga omnes: possibilidade de reação reconhecida não somente ao Estado lesado diretamente, mas a todos os sujeitos do direito internacional. Isso porque são todos titulares do interesse protegido pela norma que foi violada.) [7: Caso Barcelona Traction (CIJ,1970): a Bélgica, com base no instituto da proteção diplomática, pedia reparação por danos sofridos por seus nacionais, que eram acionistas da Cia Barcelona Traction, que era uma empresa canadense que prestava serviços na Espanha. Em determinado momento, o governo espanhol criou dificuldades para operações internacionais de captação de recursos, o que gerou situação de falência à Cia, que foi decretada na Espanha, tendo seus ativos expropriados para que os serviços de iluminação pudessem ser desenvolvidos pelo Estado espanhol. A CIJ entendeu que a Bélgica não possuía jus standi para propor a ação pleiteando em defesa dos interesses dos acionistas. O Canadá é quem poderia pleitear proteção diplomática da empresa canadense, uma vez que as medidas reivindicadas se referiam à própria companhia. Somente se o Canadá não tivesse capacidade de prestar proteção diplomática à empresa é que seria possível considerar a legitimidade da Bélgica. Ou seja, seria possível, apenas em tese, a proteção diplomática por país diverso da nacionalidade da empresa. A CIJ decidiu também que um Estado poderia prestar proteção diplomática a investimentos estrangeiros que se encontrassem em seu território desde que haja um acordo de proteção de investimentos. Ou seja, seria possível a celebração de tratado para fins de proteção de investimentos dos nacionais dos países acordantes que estivesse no outro país. Definição de obrigação erga omnes:conjunto de obrigações que veiculam valores essenciais para a comunidade internacional como um todo (ex: instrumentos universais ou quase universais de proteção de DH) em contraposição à proteção diplomática (que foi o instituto aplicado no caso). No caso, não se reconhece ocaráter erga omnes das obrigações violadas, pelo que se negou à Bélgica o jus standi (a Bélgica foi considerada um Estado terceiro sem legitimidade para exigir o cumprimento de obrigações pela Espanha).]
Atos unilaterais dos estados
Produz efeitos sem o consenso dos destinatários.
Denúncia e reserva: produzidas durante a formação de um tratado e, para produzir efeitos, é necessária a aceitação do destinatário (dos outros Estados parte no tratado).
Não são contemplados pelo art. 38 do Estatuto da CIG.
Reconhecimento: não se trata de elemento constitutivo da subjetividade internacional. Mas, produz efeitos jurídicos em outros setores das relações internacionais: reconhecimento de um novo governo, de uma aquisição territorial. Após o reconhecimento, o declarante se obriga a não revogar a sua manifestação de vontade. Atualmente, adquiriu um conteúdo negativo: de desconhecimento, sendo aplicado como sanção (ex.: o comportamento dos Estados que viola os valores fundamentais da comunidade internacional: os Estados são obrigados a desconhecer os efeitos extraterritoriais dos atos produzidos em territórios nos quais não se concede a autodeterminação. 
Renúncia: é uma manifestação através da qual um Estado declara a vontade de renunciar a um direito ao qual é titular. A renúncia extingue a obrigação de cumprir determinado ato. Limite: normas jus cogens: um Estado não poderia nunca renunciar a um direito indisponível. Deve ser expressa e, portanto, do silêncio não se pode deduzir pela renúncia.
Protesto: objetivo: conservar os próprios direitos (ex.: aquisição territorial com violação da norma de proibição do uso da força).
Atos das organizações internacionais
Soft Law
São textos de conteúdos vários adotados pelos sujeitos de direito internacional (geralmente as organizações internacionais), sem efeitos vinculantes, mas de grande importância para a formação e cristalização das normas consuetudinárias. 
A soft law não impõe obrigações internacionais vinculantes para os Estados, mas se limita a sugerir parâmetros de comportamentos. 
Refletem a tendência moderna da comunidade internacional/ Tratam matérias que refletem os novos interesses da comunidade internacional / tratam temas os quais os Estados não conseguem alcançar uma convergência de opiniões e, portanto, não conseguem concluir acordos por razões políticas, econômicas ou de outra natureza. 
Declaração de Princípios da Assembleia Geral das Nações Unidas
São as Resoluções da Assembleia Geral. Possuem valor de simples “Recomendações”, e portanto, são privas de eficácia vinculante e obrigatória (ex.: Declaração Universal dos direitos do homem de 1948). Apesar de não possuírem caráter vinculante, contribuíram muito para a formação do direito internacional geral. É possível que o conteúdo de tais declarações reflita o estado atual do direito internacional geral ou, ainda, permita a cristalização, no direito consuetudinário, de normas em via de formação (CIJ: o consenso dos Estados às Resoluções pode servir para confirmar a opinio juris relativa a um determinado comportamento).
Não podem ser consideradas fonte de direito geral escrito, mesmo exercendo influência no processo de formação das normas consuetudinárias => Fonte de terceiro grau
Representam a manifestação mais significativa do fenômeno da “soft law”.
 TRATADOS: Para que um tratado seja celebrado no plano internacional, é necessária a manifestação de vontade de dois ou mais sujeitos do direito internacional. Não se trata, portanto, de um ato unilateral em que basta a manifestação da vontade de apenas uma das partes para que haja a produção de efeitos jurídicos na órbita jurídica internacional. 
Tratado Bilateral: em geral, a negociação se dá no território de um dos Estados envolvidos. Em caso de conflito: podem eleger um território neutro (exemplo: Estados Unidos e Vietnã escolherm Paris para acabar com a guerra de 1973.
Tratado Multilateral: a negociação pode ocorrer no território de um dos Estados que fazem parte do tratado ou no âmbito de uma organização internacional. (Há interesse internacional). 
 IDIOMAS: se tem idiomas diferentes, devem escolher um terceiro idioma ou pode ser redigido em todas as línguas dos Estados contratantes. Idiomas utilizados quando da constituição do Mercosul: espanhol e Inglês por fazerem parte do bloco: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. 
 CONDIÇÕES DE VALIDADE DE UM TRATADO:
a) Capacidade das partes: 
De acordo com a Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados (1969 e 1986): Estados e Organizações Internacionais. 
b) Habilitação dos agentes signatários: As partes envolvidas precisam negociar previamente os termos do tratado que se pretende alcançar. O Chefe de Estado e o Chefe de Governo podem autorizar o compromisso do Estado. Então, eles podem emitir a Carta de Plenos Poderes ao Chefe da Delegação Nacional. 
Carta de Plenos Poderes: dão aos negociadores o poder de negociar e concluir os tratados.
Delegação: grupos de pesquisa e debates que são constituídos em conferências internacionais. Quem fala em nome do grupo é o Chefe da Delegação Nacional, com a Carta de Plenos Poderes expedida pelo Chefe de Estado ou de Governo. 
Art. 2, c da Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados:
“Trata-se de um documento expedido pela autoridade competente de um Estado, designando uma ou várias pessoas para representar o Estado na negociação, adoção ou autenticação do texto de um tratado, para manifestar o consentimento do Estado em obrigar-se por um tratado ou para praticar qualquer ato relativo a um tratado.” 
Estão dispensados da Carta de Plenos Poderes:
- Chefes de Estado e Chefes de Governo
- Ministros das Relações Exteriores
- Chefes das Missões Diplomáticas
c) Objeto lícito e possível: (Art. 53 da Convenção de Viena sobre o direito dos Tratados): nulo o tratado que conflita com uma norma imperativa de direito internacional (celebração de tratados que violem os direitos humanos). 
d) Consentimento mútuo: sendo um acordo de vontades, exige o consentimento dos pactuantes. O consentimento deve ser isento de vícios, pois o erro, o dolo, a corrpução e a coação deterioram o assentimento do Estado. 
 FUNDAMENTOS DO TRATADO: De onde vem a sua obrigatoriedade? Pacta sunt servanda, princípio do direito internacional.
Art. 26 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “Todo tratado em vigor obriga as partes e deve ser cumpridos por elas de boa-fé.”
 ESTRUTURA DOS TRATADOS:
a) Preâmbulo: enunciado das finalidades dos tratados e a especificação das partes contratantes. Pode servir de apoio à interpretação do dispositivo (Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados: “as regras do direito internacional costumeiro continuarão a reger as questões não reguladas nas disposições da presente Convenção.”). Não possui valor vinculante. 
Carta das Nações Unidas
Preâmbulo
NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores condições de vida dentro de uma liberdade ampla.
E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, como bons vizinhos, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a garantir, pela aceitação de princípios e a instituição dos métodos, que a força armada não será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para promover o progresso econômico e social de todos os povos.
RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO DESSES OBJETIVOS.
Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome de Nações Unidas.
b) Parte dispositiva: normas ordenadas e numeradas como artigos ou cláusulas. Fixam-se os direitos e os deveres. 
c) Anexos: eventualmente, é complementado por anexos: constituem parte do teor compromissivo do tratado. Pode ser, por exemplo, uma lista de produtos químicos, de entorpecentes, mapas etc. 
 FASES DE ELABORAÇÃO DOS TRATADOS:
NEGOCIAÇÃO: conduzida pelos plenipotenciários. Os Estados discutem os seus interesses e estabelecem o conteúdo do tratado. Durante esta fase, o texto do acordo pode sofrer qualquer modificação, enquanto não for ratificado pelas partes. Nos casos de tratados multilaterais, as negociações são feitas no âmbito de uma conferência internacional. 
O direito interno é que determina quais são os órgãos competentes para negociar o tratado (Brasil: art. 84, VIII da CR – Presidente da República)
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;
FIRMA: a firma tem função de autenticar o texto aprovado que, a partir desta fase, não mais poderá sofrer alterações. Ato importante porque garante às partes envolvidas a autenticidade e definitividade do texto que foi produzido. 
Não possui efeito vinculante, a não ser que se trate de tratados de forma simplificada. 
Não vincula porque depende ainda da ratificação. 
Nos tratados multilaterais, pode ser previsto que o texto fique aberto para as firmas por um determinado período de tempo, para dar possibilidade aos Estados que não participaram das negociações (ou àqueles que votaram contra) de fazer parte dele. ART. 18 Convenção de Viena: efeito jurídico para os Estados que firmaram o acordo: não podem praticar atos que impeçam o tratado de alcançar o seu objetivo.RATIFICAÇÃO: disciplinada pelo direito interno dos Estados (normas constitucionais: Treaty Making Power). Quando se trata de organizações internacionais, a competência para ratificar é disciplinada pelo ato constitutivo. Nos procedimentos solenes, a manifestação da vontade de obrigar-se no plano internacional se dá com a ratificação. Nenhum Estado é obrigado a ratificar um tratado, mesmo tendo participado das negociações e ainda que tenha firmado o texto. Única obrigação: usar da boa fé durante as negociações e não agir de modo a prejudicar a conclusão do tratado. Com relação ao tempo máximo para a ratificação, não existem regras precisas, a não ser que o tratado disponha de forma diferente. O Estado se vincula no momento do depósito dos instrumentos de ratificação. 
Nos tratados de procedimento breve, o consentimento se consuma no momento da assinatura
	
A Ratificação: é o ato unilateral com que a pessoa jurídica de direito internacional, signatária de um tratado, exprime, definitivamente, no plano internacional, sua vontade de obrigar-se. É A CONFIRMAÇAO DO ESTADO, NO PLANO INTERNACIONAL, DE SEU COMPROMISSO E DE SEU INGRESSO JURIDICO NO TRATADO. O intervalo entre a assinatura e a ratificação é o tempo de meditar sobre a qualidade do desempenho negocial do plenipotenciário e sobre a conveniência de confirmar o pacto, evitando, assim, eventual abuso ou excesso de poder, erro, dolo, corrupção ou coação. Cabe à ordem constitucional interior de cada Estado soberano definir a competência de seus órgãos para a assunção, em nome do Estado, de compromissos internacionais e, portanto, para a ratificação dos tratados. Reina o Princípio da discricionariedade da ratificação: ou seja, não comete qualquer ilícito internacional o Estado que se abstém de ratificar um acordo firmado em foro bilateral ou coletivo. Os EUA não ratificaram o Tratado de Roma, mesmo tenho participado das negociações.
A ratificação é irretratável, mesmo antes que o acordo tenha se tornado vigente, face aos princípios da boa-fé e o da segurança das relações internacionais. Deve, obrigatoriamente, ser feita de forma expressa: se consuma pela comunicação formal à outra parte (ou ao depositário), do ânimo definitivo de ingressar no domínio jurídico do tratado. Pode, entretanto, consumar-se independente da entrega do documento escrito: quando, por exemplo, declarada oralmente num encontro público de Chefes de Estado, transitando o documento escrito alguns dias mais tarde. Outro exemplo: no caso das notas diplomáticas, quando, atendidos os pressupostos do direito interno de cada uma das partes, pode o governo dar por firmado o compromisso. 
REGISTRO E PUBLICIDADE: os tratados precisam ser registrados e publicados. Caso contrário, nenhum Estado poderá alegar desrespeito à norma daquele tratado perante as Nações Unidas, CIJ. Objetivo: dar transparência às relações internacionais e combater a prática da diplomacia secreta. Se existe no plano interno a presunção do conhecimento da lei e a proibição aos indivíduos de se eximirem do cumprimento dessas leis alegando que não a conhecem, o mesmo raciocínio valerá para o plano internacional. O registro deve ser requerido ao Secretário-Geral da ONU – art. 80, I da Convenção de Viena (1969) e art. 102 da Carta da ONU. Após o registro, publica-se no Diário Oficial.
Artigo 80. Registro e Publicação de Tratados. 1. Após sua entrada em vigor, os tratados serão remetidos ao Secretariado das Nações Unidas para fins de registro ou de classificação e catalogação, conforme o caso, bem como de publicação. 2. A designação de um depositário constitui autorização para este praticar os atos previstos no parágrafo anterior.
Artigo 102. 1. Todo tratado e todo acordo internacional, concluídos por qualquer Membro das Nações Unidas depois da entrada em vigor da presente Carta, deverão, dentro do mais breve prazo possível, ser registrados e publicados pelo Secretariado. 2. Nenhuma parte em qualquer tratado ou acordo internacional que não tenha sido registrado de conformidade com as disposições do parágrafo 1º deste Artigo poderá invocar tal tratado ou acordo perante qualquer órgão das Nações Unidas.
O Tratado, mesmo sem registro, é válido e obrigatório. Entretanto, inoponível: não pode ser invocado perante as Nações Unidas ou a CIJ. 
 Adesão: no caso de tratados multilaterais abertos, quando um Estado que não participou das negociações e não firmou o texto, decide participar em um segundo momento. Para que isso seja possível, o tratado deve conter a cláusula de adesão, ou resultar do consenso entre as partes. (Art. 16 Convenção de Viena). 
 Reserva: declaração unilateral pelo qual um Estado deixa de aceitar uma ou várias cláusulas do tratado, ficando desobrigado pelo cumprimento dessas cláusulas. Art. 19 da Convenção de Viena sobre o direito dos tratados: “são inadmissíveis as reservas que se mostrarem incompatíveis com o objeto e propósito do tratado.”
A França aprovou o Estatuto de Roma com reservas em relação aos crimes de guerra. Se a reserva é permitida ou não, o próprio tratado dirá. Se o tratado é silente com relação à reserva, o Estado pode se opor a uma cláusula. 
A reserva é própria dos tratados multilaterais, porque nos bilaterais as partes negociam até chegar a um texto final, com consenso. 
 Denúncia: ato pelo qual um Estado, após a ratificação de um tratado, desejando se desvincular dele, de forma unilateral, retira-se dele por meio de notificação por escrito (por via diplomática, uma carta formal, uma nota). Deve haver previsão convencional. Caso contrário, gera descumprimento, ensejando a responsabilidade internacional. 
 Depositário: trata-se do Estado parte que assume o encargo de índole secretarial. A ele será entregue não somente os atos de ratificação do tratado, mas também os documentos originais do pacto e, se for o caso, os ulteriores instrumentos de adesão, bem como as notificações de denúncia. Geralmente, o depositário é o Estado em cujo território teve curso a conferência de negociação do compromisso. 
Em 1919, o Pacto da Sociedade das Nações veda a prática da diplomacia secreta e determina que todo compromisso internacional que um Estado-membro viesse a concluir fosse por ele imediatamente registrado na secretaria da organização, que o faria publicar. E acrescenta: “Nenhuma destes tratados ou compromissos internacionais será obrigatório antes de ter sido registrado.”(ART. 18 do Pacto). Essa regra fez surgir alguns debates e acabou por afastar a ideia de nulidade do compromisso: era inconcebível o sacrifício da norma pacta sunt servanda como instrumento de sanção da inobservância de regra menor. Prevaleceu em doutrina e jurisprudência a tese da inoponibilidade relativa do tratado não registrado: seria ele válido entre as partes, mas não poderia ser invocado ante os órgãos da SDN ou ante a Corte de Haia. 
MEIOS DE SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIA NO DIP
Controvérsia: surge em razão de posturas adotadas por estados que venham a desgastar as relações bilaterais ou multilaterais: violação de território, desacordo nas relações de comércio, utilização indevida de recursos naturais, um simples conflito relativo à uma cláusula de um tratado internacional. 
Conceito de controvérsia: dado pela Corte Permanente de Justiça Internacional na sentença de 30 de agosto de 1924 (caso Mavrommatis) qualquer conflito de interesses e de teses jurídicas entre os Estados. “todo desacordo existente sobre determinado ponto de fato ou de direito, ou seja, toda contradição ou oposição de interesses ou de teses jurídicas entre Estados ou Organizações Internacionais, independentemente de sua gravidade”[8: Concessão de obra de um cidadão grego em Jerusalém (região da Palestina). Jerusalém fazia parte do Império Turco Otomano. Ao final da 1ªGM, Turquia, derrotada, foi privada de seus bens no mundo árabe. Palestina seria administrada pela Gran-Bretanha. O governo Britânico não reconheceu os direitos de Movrammatis. Governo grego apresentou requerimento à Corte. ]
Guerra:não é mais aceita. O uso da força se tornou uma proibição quase que absoluta (legítima defesa: art. 51 da Carta ONU). Até o século XX o uso da força armada era legítimo, considerado uma expressão natural da soberania estatal. As soluções pacíficas das controvérsias internacionais é uma obrigação fundamental determinadas pela Carta da ONU:
Artigo 2
“3. Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça internacionais. 
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.”
SOLUÇÃO PACÍFICA DE CONTROVÉRSIAS
Artigo 33. 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.
1) DIPLOMÁTICOS: buscam um acordo entre as partes. As soluções propostas não são obrigatórias. Os Estados aceitam de acordo com a própria conveniência.
a) negociação: (art. 33 Carta ONU) 
 Os Estados tentam diretamente chegar a um entendimento, sem a intervenção de terceiros, por meio dos órgãos diplomáticos. Pode-se, ao final, chegar a um tratado internacional. Tratado de Petrópilis entre Brasil e Bolívia. Acre era pertencente à Bolívia e estava sendo ocupada por brasileiros. Para resolver a tensão gerada pela ocupação, firmou-se o tratado, em 1903, para formalizar a incorporação do Acre ao território brasileiro. 
 Não existe uma obrigação de se recorrer à negociação antes, como meio preliminar e necessário de solução de controvérsias. Mas pode ser previsto em um tratado como forma preliminar antes de recorrer ao mecanismo jurisdicional: Convenção de Montego Bay de 1982 (art. 238). 
b) Congressos/Conferências: reuniões entre os Estados para a discussão de questões internacionais, com o objetivo de propor uma solução para uma questão que pode se generalizar, ameaçando a paz e a segurança internacional.
c) Bons ofícios: 
 um ou vários Estados (ou até mesmo uma organização internacional) interveem para solucionar o conflito através de uma nota diplomática. O Estado atua como agente aproximador. 
 não há envolvimento direto na causa. O Estado amigo apenas oferece um campo neutro para que se promova um entendimento. 
 Convida os estados em conflito para um debate em seu próprio território (Ex: ONU no Timor)
d) Mediação: 
 o Estado alheio ao conflito toma conhecimento dos fatos que envolvem o litígio. 
 O mediador participa diretamente e, ao final, oferece algumas alternativas para a composição do conflito. Não se tratam de pareceres, mas de caminhos a serem seguidos. 
 Exemplo: tratado da Paz e da Amizade: Conflito entre Brasil e Portugal, mediado pela Inglaterra para o reconhecimento da independencia brasileira (1825) 
e) Conciliação: (art. 33 Carta) 
 Órgão colegiado. 
 Cada estado indica 2 representantes de sua confiança para integrar a comissão de conciliação. Esses 4 indicam um 5º para ser o Presidente da Comissão e desempatar o voto. 
 Se assemelha à arbitragem (diferença: não é vinculante).
 Convenção de Viena sobre o direito dos tratados: art. 66, par. 3°: ao disciplinar o procedimento para a solução das controvérsias em matéria de interpretação e aplicação dos tratados prevê que as partes podem solicitar ao Secretário Geral da ONU a convocação de uma Comissão de Conciliação. 
f) Inquérito: 
 Órgão colegiado. São escolhidos técnicos para integrar com o objetivo de investigar e apurar determinada situação de fato.
 
Exemplo: em 1945 o navio holandês Tubantia naufragou misteriosamente ao sair do Porto de Amsterdã. Inglaterra e Alemanha começaram a se acusar reciprocamente pelo incidente. Foi montada uma comissão para apurar as circunstancias. Examinaram fragmentos de torpedo e encontraram bronze na composição, parecido com o processo de fabricação alemão. Alemanha foi obrigada a reparar o dano. 
Art. 50 Estatuto CIJ: 
A Corte poderá, em qualquer momento, confiar a qualquer indivíduo, companhia, repartição, comissão ou outra organização, à sua escolha, a tarefa de proceder a um inquérito ou a uma perícia.
Artigo 34 Carta ONU: O Conselho de Segurança poderá investigar sobre qualquer controvérsia ou situação suscetível de provocar atritos entre as Nações ou dar origem a uma controvérsia, a fim de determinar se a continuação de tal controvérsia ou situação pode constituir ameaça à manutenção da paz e da segurança internacionais.
2) POLÍTICO: 
 Recorrem a uma organização internacional: as soluções proferidas pela Assembleia Geral e pelo Conselho de Segurança. 
 Quando o Conselho de Segurança pode ser chamado a resolver um conflito entre os Estados? Sempre que houver um quadro de ameaça à paz e à segurança internacional. 
 Todos os meios diplomáticos, sem exceção, requerem a vontade dos Estados. Mas o Conselho de Segurança pode examinar um conflito à revelia dos Estados envolvidos. 
O que ele pode fazer? Pode montar diretamente comissões de conciliação. Comissão de inquerito (como fez no Iraque e Kuwait, envioiu comissão às fronteiras para investigar a invasao iraquiana. Pode convidar as partes para recorrer à CIJ. Pode autorizar medidas coercitivas contra um Estado quando entender que sua conduta implica ameaca à paz. Desde sancões econômicas até o uso da força. 
3) JURISDICIONAIS: constituem meios de solução de controvérsias internacionais mediante decisões obrigatórias para as partes. 
	
O que é uma jurisdição? É um foro especializado que resolve conflitos, no caso, litígios internacionais, em conformidade com o direito aplicável.
Nos foros diplimáticos e jurídicos, os Estados não estão obrigados a cumprir. No jurisdicional, sim.
a) Arbitragem: 
 é preciso que as partes celebrem, no momento do conflito, um COMPROMISSO ARBITRAL. É desse compromisso arbitral que surge o fundamento da obrigatoriedade da decisão.
 Corte Permanente de Arbitragem, instituída pela Convenção de Haia de 1899 e 1907: lista de pessoas qualificadas com notória competência em questões de direito internacionais, para atuar como árbitros. Esses árbitros são indicados pelos Estados, para um mandato de 5 anos. É administrada por uma Secretaria e é invocada sempre que há um litígio. 
 não é permanente; o árbitro é escolhido pelas partes para julgar um determinado litígio: caráter ad hoc. 
 Tratado geral de arbitragem ou cláusula arbitral. 
 Natureza irrecorrível da sentença arbitral. Uma vez que o árbitro não está inscrito em qualquer órgão judiciário, proferida a sentença, ele se desincumbe do encargo jurisdicional de que foi revestido. Às partes cabe o fiel cumprimento da sentença. Portanto, a sentença arbitral é definitiva.
 Obrigatoriedade da sentença arbitral. Como já mencionado, o resultado final da arbitragem não está sujeito à vontade das partes. Deixar de cumprir a sentença arbitral incorre em ato ilícito grave, uma vez que, no compromisso assumido entre as partes no tratado bilateral, que serviu de base jurídica para a arbitragem, está contida a fundamentação da obrigatoriedade da sentença.
 Carência de executoriedade. O árbitro não dispõe de milícia que garanta pela força a execução de sua sentença, portanto, o seu fiel cumprimento está vinculado apenas à boa fé e honradez das partes, assim, não obstante o fato de ser definitiva e obrigatória, a sentença arbitral não é executória. O não cumprimento da decisão gera um ilícito internacional. Como os Estados não querem ser taxados de violadores, descumpridores de pactos, as decisões arbitrais raramente são desobedecidas. 
LIBERDADE DE ESCOLHA PELOS MEIOS DE SOLUÇÃO PACÍFICA
Delimitação dos espaços marinhos entre Guiné-Bissau e Senegal.Não satisfeitos com com a decisão adotada pelo Tribunal arbitral (requereram à CIJ a anulação da sentença artbitral – 1989 Guinea Bissau v Senegal), os dois países assinaram um acordo que entrou em vigor em 1995 e determinaram a exploração conjunta dos recursos minerais. 
b) Corte Internacional de Justiça:
 órgão da ONU
 composta por 15 juízes, escolhidos pela Assembleia Geral
 Competência consultiva e contenciosa
COMPETÊNCIA CONSULTIVA: 
 os pareceres não tem força obrigatória.
 Art. 96 Carta ONU: 
 A Assembleia Geral ou o CS podem solicitar parecer consultivo à Corte Internacional de Justiça.
 Outros órgãos das Nações Unidas e entidades especializadas, devidamente autorizados pela Assembléia Geral, poderão também solicitar pareceres consultivos da Corte sobre questões jurídicas surgidas dentro da esfera de suas atividades. 
 Os pareceres desenvolvem um importante papel de promoção do direito internacional. 
Exemplo: Parecer consultivo sobres as reservas, exarado em 1951: 
Reconheceu a inevitabilidade das reservas e asseverou que um Estado pode ser considerado parte de um tratado, mesmo frente à objeção de outros partícipes, desde que a reserva por ele formulada seja compatível com a finalidade e objeto do tratado. Por seu turno, o Estado objetante pode considerar como não parte o autor da reserva.
COMPETÊNCIA CONTENCIOSA: 
 Somente os Estados estão legitimados a agir perante a Corte: na função contenciosa a Corte só resolve questões entre Estados. 
 Para exercitar a função contenciosa, a CIJ aplica o próprio estatuto, o regulamento interno e, em particular, o art. 38 que estabelece as fontes: tratados, costumes, princípios gerais e, como meios auxiliares, a doutrina e a jurisprudência. 
 Sentença: obrigatória, definitiva e inapelável:
Estatuto CIJ
Artigo 59: A decisão da Corte só será obrigatória para as partes litigantes e a respeito do caso em questão.
Artigo 60: A Sentença é definitiva e inapelável. Em caso de controvérsia quanto ao sentido e ao alcance da sentença, caberá à Corte interpretá-la a pedido de qualquer das partes.
 Em caso de desobediência, a parte pode comunicar o fato ao CS que, por sua vez, pode autorizar medidas coercitivas. O CS nunca precisou forçar a execução de um acórdão. 
Carta ONU – Art. 94, 2
2. Se uma das partes num caso deixar de cumprir as obrigações que lhe incumbem em virtude de sentença proferida pela Corte, a outra terá direito de recorrer ao Conselho de Segurança que poderá, se julgar necessário, fazer recomendações ou decidir sobre medidas a serem tomadas para o cumprimento da sentença. 
 Revisão (art. 61): só poderá ser feita em razão do descobrimento de algum fato NOVO desconhecido da Corte.

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