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1 Tópico 3 Economia comportamental Varian, cap. 30 Microeconomia III Departamento de Economia – UFF 2 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato Outras “anomalias” 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 3 Introdução: o que é? Trata-se do estudo de escolhas efetivamente realizadas por agentes econômicos Objetivo: avaliar alcances e limites do modelo de escolha racional, que é a base da ciência econômica moderna 4 Introdução: o que é? Economistas comportamentais têm demonstrado que o modelo de escolha racional não prevê tão bem o comportamento (ao menos em circunstâncias específicas) Estas evidências indicam aos economistas em que aspectos o modelo de escolha racional deve ser aperfeiçoado Em certo sentido, fronteira da pesquisa microeconômica 5 Introdução: reconhecimento Área marginal em Economia até anos 1980… Desde então, aumento de quantidade de artigos em periódicos acadêmicos Capítulo do Varian: somente na 7a edição… MWG, 1995: somente duas páginas… Prêmio Nobel de Economia de 2002: 1. Vernon Smith (EUA, 1927-): economia experimental 2. Daniel Kahneman (Israel, 1934-): economia comportamental 6 Introdução: reconhecimento 1. Vernon Smith: economia experimental Sugere testar rigorosamente, em laboratório, previsões da teoria econômica Estuda a interação entre agentes 7 Introdução: reconhecimento 2. Daniel Kahneman: economia comportamental Reabilita estudo da “economia da felicidade” Estuda comportamento irracional de indivíduos “Heurística”: atalhos usados pelas pessoas para tomar decisões sem fazer grande esforço intelectual Em suma: reintroduz psicologia na economia “Efeitos de contexto” Ex: jogo com vidas ameaçadas Importância de “normais sociais” Ex: “preços justos” 8 Introdução: “CPR” Pressuposto: quando alguém age, tem algum objetivo, é movido por alguma motivação Isto vale tanto em abordagens “walrasianas” (convencionais) como em “não-walrasianas” (alternativas) Elementos importantes para ação de indivíduos As razões e o entendimento acerca de como realizar uma tarefa e de seus efeitos Restrições e incentivos envolvidos Pessoas agem, portanto, com base em crenças, preferências e restrições (CPR) Gintis: “BPC” (beliefs-preferences-constraints) 9 Introdução: “CPR” Crenças: trata-se de como o indivíduo enxerga a relação entre uma ação e um resultado Relação pode ser trivial (jogo simples) ou complexa Ex.: decisão de votar a favor ou contra política de redução de impostos depende de crença quanto à efetividade da política Da percepção sobre relação entre ação e resultado 10 Introdução: “CPR” Preferências: são razões para se adotar certo comportamento São atributos de um indivíduo que explicam a ação tomada em determinada situação Gostos, hábitos, emoções, reações viscerais, compromissos, normas sociais, tendências psicológicas, relações afetivas… 11 Introdução: “CPR” Preferências como “razões para se adotar certo comportamento” ≠ preferências de teorias convencionais, em suas duas versões: 1. Utilitarismo clássico (Bentham): indivíduos hedonistas – maximizam utilidade (bem-estar) Comportamento ~ persecução de bem-estar Mas e quanto a vícios, erros, fraquezas…? 2. Abordagem de preferência revelada: ordenamento de preferências não é mais do que uma descrição completa de um comportamento coerente É vazio no que se refere às razões e aos motivos… Psicologia e neurociência da escolha: irrelevantes… 12 Introdução: “CPR” Bowles (2004) acredita que: Uma versão particular de crenças e preferências constitui a base comportamental da teoria econômica convencional, incluindo: Teoria da decisão individual num só período e sob certeza (micros I e II) Extensão 1: escolha intertemporal Extensão 2: escolha sob incerteza 13 Introdução: “CPR” Estendido a situações de escolha sob incerteza e intertemporal, modelo convencional: Conseguiria capturar aspectos importantes do comportamento humano Combinando amplo leque de aplicações e tratabilidade matemática Aparentemente impondo poucas restrições substanciais à análise de comportamentos, excluindo apenas casos desimportantes de incompletude e incoerências… 14 Introdução: “CPR” MAS ISTO É FALSO!!! (Em todo o caso, o é para Bowles) A teoria econômica convencional: Baseia-se numa teoria comportamental substantiva Incorpora fortes pressupostos acerca do que importa para as pessoas e de como elas tomam suas decisões Não apresenta bons resultados à luz de pesquisas comportamentais empíricas recentes Particularmente no que se refere às duas “extensões” 15 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 16 “Preferências sociais” 1. Dilema das Meliantes (ou dos Prisioneiros) 2. Jogo do Ultimato 17 Dilema dos Prisioneiros Ponham-se no lugar de Maria Coluna: vocês delatariam Joana Linha ou não? Maria Coluna Não delatar Delatar Joana Linha Não delatar -1, -1 -10, 0 Delatar 0, -10 -8, -8 18 Dilema dos Prisioneiros Resultado esperado de acordo com o modelo de escolha racional Delatar (não haver cooperação), pois é estratégia dominante, isto é, melhor escolha qualquer que seja a escolha alheia Resultados: Graduação 2009: 17 delações em 30 respostas (56,7%) Mestrado 2010: 14 delações em 20 respostas (70%) Graduação 2009 (Micro III e Eco Social): 41 delações em 63 respostas (65,1%) Graduação 1-2011 (Micro III): 13 delações em 19 respostas (68,42%) Alguns não delatam (cooperam) São irracionais!? 19 Dilema dos Prisioneiros Evidências experimentais (mais de 1.000 jogos recenseados somente até 1982!) mostram que muitas vezes há cooperação Em função de valor dos ganhos, características dos jogadores (idade, gênero, cultura, personalidade…) Às vezes, taxa de cooperação ultrapassa 50% 20 Preferências sociais Dilema do prisioneiro de uma rodada: taxa de cooperação é de 40-60%, apesar de não ser equilíbrio de estratégia dominante Quando não cooperam, por que o fazem? Porque é estratégia dominante? Pois não gostam de se sentir lesados, para evitar riscos? Quando cooperam, por que o fazem? Pois têm preferências sociais? As pessoas se preocupam com as demais (other-regarding) As pessoas se preocupam com os motivos por trás dos resultados, das recompensas (process-regarding) 21 Jogo do Ultimato Jogador 1 recebe R$1.000 e deve oferecer fração desta soma ao Jogador 2 Jogador 2 conhece montante que Jogador 1 deve repartir Jogadores não se conhecem e não podem se comunicar Jogador 1 faz uma ofertaao Jogador 2, que pode: Aceitá-la. Neste caso, ele fica com o montante oferecido e o jogador 1 fica com o restante; Recusá-la. Neste caso, nenhum dos dois jogadores recebe nada. 1. Ponha-se na pele do jogador 1. Que valor (entre R$0 e R$1000) você escolhe? 2. Você é agora o jogador 2 e descobre que o jogador 1 faz uma oferta de R$1. Você a aceita? 22 (0, 0) (5,5) (8,2) B aceita ou rejeita A oferece Bowles (2004: 112) apresenta variante do “Jogo do Ultimato” Aceita Rejeita (8,2) Rejeita (5,5) (0, 0) Aceita Jogo do Ultimato 23 Jogo do Ultimato Resultados teóricos esperados: 1. Jogador 2 teria interesse em aceitar qualquer oferta de valor positivo 2. Em particular, se Jogador 1 oferecesse o mínimo possível, Jogador 2 teria interesse em aceitar 3. Se Jogador 1 oferecesse zero: o Jogador 2 seria indiferente entre aceitar ou não 24 Jogo do Ultimato 1. Na condição de Jogador 1… As pessoas oferecem, em média: Graduação 2009: ~ 40% Mestrado 2010: ~ 30% Mestrado 2011: ~38% Graduação 1-2011: ~37% Proporção significativa de ofertantes propõe 50% Pessoas que ficam com tudo (oferta de R$0 ou R$1): Graduação 2009: pouquíssimos Mestrado 2010: ~ 20% Mestrado 2011: ~ 33% Graduação 1-2011: ~16% 25 Jogo do Ultimato 2. Na condição de jogador 2… Graduação 2009: 2/3 rejeitam oferta de R$1 Mestrado 2010: 50% rejeitam-na Mestrado 2011: 50% rejeitam-na Graduação 1-2011: 68,42% rejeitam-na 26 Jogo do Ultimato Resultados da literatura 1. Na condição de jogador 1… As pessoas oferecem, em média, 40% Uma proporção significativa de ofertantes propõe 50% Muito poucos jogadores escolhem ficar com tudo 2. Na condição de jogador 2… Rejeitam-se em média duas vezes mais as ofertas menores ou iguais a 20% Maioria recusa a oferta de R$1 27 Jogo do Ultimato Resultados frequentemente interpretados como evidência de reciprocidade da parte do respondente Versão simplista de auto-interesse invariavelmente posta em questão Comportamento do ofertante mais complicado: Respeito a normas de justiça? Altruísmo? Nesses casos, auto-interesse é desafiado Ou meramente auto-interesse estratégico (antecipando reação do respondente)? 28 Críticas à metodologia e respostas dos pesquisadores: 1. “Baixos valores” jogos com valores altos conduzem a resultados semelhantes 2. “Jogadores não entenderam o jogo” jogos jogados grande número de vezes conduzem a resultados semelhantes 3. “Jogadores não tiveram tempo de se adaptar ao jogo, seguindo ‘receitas de bolo’ válidas para jogos repetidos” resultados semelhantes em experimentos com distinção entre jogos repetidos e de uma só rodada De qualquer modo, ‘receitas de bolo’ não são compatíveis com modelo convencional de escolha racional, certo? Jogo do Ultimato 29 Qualquer que seja a interpretação dos resultados do Jogo do Ultimato, o fato é que preocupação com os demais (other-regarding motives) e com os processos (process- regarding) parecem ter importância Mas não é só isso: variações nas regras do jogo, na maneira de apresentar o jogo, ou no contexto em que foram jogados conduzem a resultados diferentes, conforme a tabela a seguir (Bowles, 2004: 114) Jogo do Ultimato 30 Fonte: Bowles (2004: 114) 31 Outras “anomalias” 1. Creches em Haifa: “uma multa é um preço” (Gneezy e Rustichini, 2000; tb. discutido em Freakonomics) Pais atrasados para buscar filhos na creche Seis creches: multa = função crescente de atraso Uma creche: controle Expectativa: aumento de pontualidade média nas creches tratadas 32 Outras “anomalias” Resultados: Redução da pontualidade média Após retirada de multa (20 semanas), pontualidade média não voltou aos níveis pré-multa Controle: não houve alteração na pontualidade média 33 Outras “anomalias” Efeito da multa: de violação a uma obrigação, o atraso passou a ser mercadoria com preço Retirada da multa: não restaurou obrigação que existia antes da multa Só tornou “preço do atraso”… igual a zero! Resultados importantes: Pois contrariam previsões da economia convencional Para desenho de contratos e políticas econômicas 34 Outras “anomalias” 2. Por que um indivíduo se preocupa em votar, uma vez que a probabilidade de que seu voto seja decisivo tende a zero? 3. Por que certos eleitores votam a favor de partidos pró-redistribuição, quando a probabilidade de que fiquem pobres é praticamente zero? 4. Incentivos coletivos (para equipes) efetivos mesmo quando ganhos são divididos entre tantas pessoas, que o ganho individual é irrisório… 35 “Preferências sociais” Ao agir, indivíduos levam em conta as consequências de sua ação, não somente para si mesmos, mas para outros também Consequências são importantes, bem como motivos Ex: reciprocidade (e retaliação) Mesmo em interações de uma só rodada, em que comportamentos de generosidade ou punição não trazem nenhum ganho ao indivíduo Outras “preferências sociais”: aversão à desigualdade, inveja, despeito, altruísmo 36 “Preferências sociais” Contraste com pressupostos convencionais: comportamento do indivíduo totalmente explicado pelo (vago) termo “auto-interesse” Preferências auto-interessadas, definidas apenas com relação a resultados (outcomes) Auto-interesse na economia convencional: Confundido com racionalidade Tratado como axioma Racionalidade não implica auto-interesse pode-se ter preferências altruístas ou masoquistas que sejam transitivas e completas (isto é, racionais) 37 “Preferências sociais” Maiores evidências de que preferências sociais (other-regarding, process- regarding) existem não vêm de experimentos, mas sim de comportamentos observados no mundo real… … inexplicáveis apenas pelo auto-interesse 38 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 39 Efeitos de contextualização A contextualização de um problema de escolha (como ele é apresentado) afeta fortemente a escolha resultante Diferentemente do que previa a teoria microeconômica vista até aqui... 40 600 vidas estão ameaçadas Ação (a) salva 200 vidas Ação (b) salva todas as 600 vidas com probabilidade 1/3 e não salva nenhuma com probabilidade 2/3 600 vidas estão ameaçadas Ação (c) é ineficaz para 400 pessoas Ação (d) é ineficaz para 600 pessoas com probabilidade 2/3 e eficaz com probabilidade 1/3 Efeitos de contextualização Estes problemas são idênticos, exceto pela forma como são contextualizados. Contudo, as escolhas mais comuns (em destaque) são diferentes. 41 Efeitos de contextualização 600 vidas estão ameaçadas Ação (a) salva 200 vidas Ação (b) salva todas as 600 vidas com probabilidade 1/3 e não salva nenhuma com probabilidade 2/3 Qual ação você escolheria: (a) ou (b)? Respondem (a): Graduação 2009: 56,3% Mestrado 2010: 60% Mestrado 2011: 69% Graduação 1-2011: 80% Micro III - noturno: 64,0% (16 obs. em 25)42 Efeitos de contextualização 600 vidas estão ameaçadas Ação (c) é ineficaz para 400 pessoas Ação (d) é ineficaz para 600 pessoas com probabilidade 2/3 e eficaz com probabilidade 1/3 Qual ação você escolheria: (c) ou (d)? Respondem (d): Graduação 2009: 76,5% Mestrado 2010: 70% Mestrado 2011: 58% Graduação 1-2011: 55,55% Micro III – diurno: 20,00% (3 obs. em 15) Resultado inesperado... 43 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 44 Incerteza A lei dos grandes números diz que a média de uma amostra aleatória – suficientemente grande – retirada de uma população tem grandes chances de ser muito próxima da média da própria população Kahneman e Tversky sugerem uma “lei dos pequenos números”: as escolhas de um indivíduo são fortemente influenciadas pelos resultados de uma amostra pequena, especialmente se a amostragem contempla experiências pessoais do indivíduo 45 Incerteza Por que as pessoas apostam em bingos ou cassinos, se elas sabem que bingos ou cassinos têm grandes lucros, enquanto, em média, os apostadores perdem dinheiro? Muitas pessoas que compram bens semi-duráveis (eletrodomésticos, TVs etc.) adquirem também um seguro contra falhas (=“garantia”), que é válido durante a etapa inicial de uso do bem… … embora seja muito baixa a probabilidade de que falhas ocorram nesse período, e o valor esperado de estar assegurado seja menor do que o preço do seguro Há evidências de que pessoas atribuem grande peso a eventos com baixíssima probabilidade – algo incompatível com o modelo de escolha baseado na utilidade esperada 46 Preferências dependentes da situação: risco Problemas da abordagem tradicional: 1. Desconsidera aversão às perdas 2. Concavidade da função de utilidade esperada não capta razões pelas quais as pessoas: Evitam apostar: medo, ansiedade, remorso, vergonha… Decidem apostar: gostam de certos tipos particulares de risco, como jogar ou dirigir perigosamente… 47 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 48 Auto controle – desconto… Hoje, você está certo de que quer parar de fumar – e você o faz Porém, amanhã, recomeça a fumar… Sua resolução de ano novo – sincera! – é fazer mais exercícios no ano que entra Mas você não faz… 49 Auto controle – desconto… O modelo de escolha racional parte do pressuposto segundo o qual suas preferências: São conhecidas por você Não mudam ao longo do tempo Sendo assim, uma decisão tomada sobre o comportamento futuro não deveria ser alterada conforme o tempo passa! 50 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Abordagem convencional de escolha intertemporal: se uma pessoa é indiferente entre um montante x hoje ou 2x daqui a um ano, deveria ser também indiferente entre x daqui a 20 anos ou 2x daqui a 21 anos “Estacionariedade”: a forma através da qual uma pessoa avalia dois estados não deveria depender, nem de “onde”, nem de “quando” ela se encontra 51 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico R$1 dentro de um mês usualmente tem menos valor para uma pessoa do que R$1 agora Se valor de R$1 oferecido à pessoa dentro de um mês é R$δ < R$1, então seu fator de desconto mensal é δ < 1 O valor presente de R$1 a ser recebido dentro de dois meses deveria ser hoje δ×R$δ = R$δ2 De modo mais geral, o valor presente de R$1 a ser recebido dentro de t meses deveria ser R$δt Isto é o desconto exponencial r1 1 + =δ 52 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial: o valor presente de R$1 a ser recebido dentro de t meses é hoje R$δt 53 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Coerência dinâmica: forma de atribuir valor a custos e benefícios futuros não muda com o passar do tempo Uintertemporal = u(c1) + δ.u(c2) + δ2.u(c3) + … TMS12= δ.UMc2/ UMc1 TMS23= δ2.UMc3 / δ.UMc2 = δ.UMc3 / UMc2 Portanto, a taxa à qual o consumidor está disposto a substituir consumo no período 2 por consumo no período 3 é a mesma, vista da perspectiva do período 1 ou do período 2 “Estacionariedade” ou “coerência dinâmica” Isto deveria valer para a troca intertemporal entre quaisquer dois períodos t e t + 1 54 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Abordagem convencional de escolha intertemporal Contraintuitiva Refutada por evidências comportamentais “People exhibit a systematic tendency to discount the near future at a higher rate than the distant future.” (Gintis, 2009: 9) Para a maioria das pessoas, um atraso agora é muito mais penoso do que um atraso equivalente no futuro desconto hiperbólico Divirtam-se com escolha intertemporal de crianças: http://www.youtube.com/watch?v=_BAl5VXMgT0 55 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto hiperbólico: um estado no período t não é descontado à taxa δt, mas sim à taxa: δ(t) = (1 + αt)-β/α, onde α, β > 0 Para altos valores de α, o valor do futuro declina rapidamente no futuro próximo, e passa a declinar suavemente mais à frente 56 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Descontos 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 Tempo De sc on to Exponencial Hiperbólico com alfa=0,2 e beta=0,1 Hiperbólico com alfa=0,3 e beta=0,1 Hiperbólico com alfa=0,05 e beta=0,1 57 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Descontadores hiperbólicos podem exibir reversão de preferências Sejam duas recompensas A e B, de valores diferentes, entregues em momentos diferentes Indivíduo pode preferir A a B no presente, mas B a A no futuro Exemplo: A = “x no momento t=k”, B = “2x no ano t=k+1”; Pessoa prefere A a B quando k=1 Pessoa prefere B a A quando k=20 58 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Exemplo de Gintis (2009: 9-11) zt (em $) t (em dias) u = z/(t+1) x 10 0 10 x preferido a y y 11 7 1,375 x 10 365 0,027 y preferido a x y 11 372 0,029 59 Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Para período noturno: o que você prefere? a) Acabarmos a aula de hoje 20 minutos mais cedo – Proporções: 24,0% (6 em 25) Resultado inesperado... b) Acabarmos a próxima aula 40 minutos mais cedo – Proporções: 76,0% Para período diurno: o que você prefere?: a) Acabarmos a aula de terça-feira da semana que vem 20 minutos mais cedo – 26,67% (4 em 15) b) Acabarmos a aula de quinta-feira da semana que vem 20 minutos mais cedo – 66,67% c) Indiferente – 6,67% 60 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos decontextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 61 Efeitos de ancoragem Efeitos de ancoragem são os efeitos de informação aparentemente irrelevante sobre escolhas Um jogo de azar simples: Duas moedas são jogadas para o alto Você ganha a aposta se a face superior de ambas as moedas forem iguais (ambas cara ou ambas coroa) Portanto, em cada jogada, você tem 50% de chances de ganhar e 50% de perder Cada jogada é um evento independente Apesar disso, constatou-se que um jogador que tenha acabado de ganhar tem mais chances de continuar apostando do que um jogador que tenha acabado de perder 62 Efeitos de ancoragem Com frequência, escolhas iniciais inferiores persistem Você começa a trabalhar e tem direito a um seguro de saúde [no contexto dos EUA] Embora a seguradora inicial não seria a preferida numa escolha em condições ideais, muitas pessoas nunca mudam de seguradora O modelo de escolha racional prevê que escolhas inferiores (dominadas) serão imediatamente substituídas 63 Demasiadas opções? Você poderia achar pior ter um número maior de opções do que ter um número menor de opções? O modelo de escolha racional diz que não O plano de prescrição de medicamentos do Medicare [saúde para idosos nos EUA] oferece mais de mil opções de seguro complementar: A maioria dos beneficiários queixa-se de que não sabe como escolher Muitos prefeririam ter menos opções! Quantas opções você gostaria de encontrar no cardápio de um restaurante? Quanto esforço (=custo) você está disposto a exercer a fim de escolher a sua refeição? 64 Preferências endógenas Você já experimentou comidas ou bebidas desconhecidas? Se um viciado em cocaína pudesse voltar no tempo até o momento em que ele experimentou cocaína, porém sabendo o que ele agora sabe sobre drogas e vício, será que ele provaria a droga? De acordo com o modelo de escolha racional, tais experimentos são irrelevantes, porque se assume que você já conhece perfeitamente suas preferências [inclusive as intertemporais] Portanto, não haveria porquê “refletir” ou “aprender” sobre preferências, nem “descobri-las”! 65 Custos irrecuperáveis É comum que uma pessoa que deseja vender sua casa queira “recuperar” os recursos usados para comprar e melhorar a casa – isto é, recuperar custos irrecuperáveis ou sunk costs… Muito embora os compradores não deem importância às despesas passadas dos vendedores! O modelo da escolha racional prediz que comportamento corrente ou futuro não deveria ser influenciado por custos passados 66 Níveis de confiança Homens tendem (em média) a ser mais confiantes sobre suas decisões do que mulheres Homens tendem (em média) a achar que seu sucesso sempre resulta de suas próprias capacidades e habilidades (e não do acaso ou da sorte), tornando-se excessivamente confiantes Mulheres tendem (em média) a ser mais realistas Homens tendem (em média) a ser mais propensos ao risco do que mulheres A teoria da escolha racional assume que o gênero não tem efeito na tomada de decisão 67 Programa do capítulo 1. Introdução 2. “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Jogo do Ultimato 3. Efeitos de contextualização “Jogo das vidas ameaçadas” 4. Incerteza 5. Desconto exponencial versus desconto hiperbólico 6. Apanhado de outras evidências Efeitos de ancoragem, custos incorridos, demasiadas opções, preferências endógenas, níveis de confiança 7. Economia comportamental: balanços 8. Leituras complementares para parte 1 do curso 68 Economia comportamental: balanço (cf. Varian) Jogador de basquete não precisa descrever equação da trajetória da bola para ser bom arremessador (~ Maçã não precisa conhecer a “lei da gravidade” para cair da árvore, e ainda assim não se contesta tal lei) Agentes econômicos podem se sair bem – “intuitivamente” – no mundo econômico, mesmo sem fazer sofisticados raciocínios e cálculos mentais Comportam-se “como se” os fizessem… 69 Economia comportamental: balanço (cf. Varian) As ciências avançam por meio da modificação de teorias quando se acumulam evidências de inadequações das teorias correntes O modelo de escolha racional é uma dessas teorias A importância da economia comportamental consiste em apontar fraquezas do modelo de escolha racional De modo a redirecionar os economistas para onde melhorias deveriam ser feitas Aprimorando, assim, a ciência econômica [será!?] 70 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Pessoas reproduzem em laboratório comportamentos que apresentam em contextos naturais? 1. Relação entre jogos reais e experimentais é complexa; não se postula que haja correspondência estreita entre os dois tipos 2. A situação de um jogo, as instruções do aplicador, todo o ambiente de um jogo – tudo isto forma um contexto específico, que pode criar efeitos próprios 71 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Pessoas reproduzem em laboratório comportamentos que apresentam em contextos naturais? 3. Experimentos não revelam a “essência da natureza humana”; simplesmente mostram que: 1. Comportamentos comuns em interações sociais genéricas podem ser explicados por preferências sociais 2. Violações do axioma de auto-interesse não são resultado das especificidades de alguns exemplos particulares 72 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Em resposta, economistas têm procurado reformular função de utilidade, a fim de que seja: Parcimoniosa, simples, matematicamente tratável E que explique, não apenas uma “anomalia experimental” detectada, mas todas elas Ingredientes: Auto-interesse Altruísmo Despeito ou inveja Preocupação com justiça (fair-mindedness) Reciprocidade 73 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Exemplo 1 (Fehr e Smith, 1999): Ui = πi – δimax(πj – πi, 0) – αimax(πi – πj, 0) πi: recompensa material do próprio indivíduo πj: recompensa material do outro indivíduo πj – πi: diferença entre recompensas alheia e própria πi – πj: diferença entre recompensas própria e alheia δi ≥ αi: aversão à diferença entre recompensa alheia e própria tem peso maior que aversão à diferença entre recompensa própria e alheia 74 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Para determinados valores dos parâmetros, esta função é compatível com comportamentos observados nos experimentos: Ofertas maiores do que 0 no Jogo do Ultimato Recusa de ofertas baixas demais no mesmo jogo Nível alto de cooperação no Dilema dos Prisioneiros de uma rodada 75 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Evidências de que reciprocidade e aversão à desigualdade são motivações usuais não equivale a dizer que as pessoas são irracionais Altruísmo parece respeitar transitividade Evidências mostram que pessoas respondem a preço da generosidade (são mais generosos quando o custo de doar é menor) – maximizam sob restrição, como na teoria microeconômica convencional Escolha racional não requer que escolhas proporcionem aumento de bem-estar (comportamentos destrutivos podem ser racionais) Erro de desempenho (performance error) pode ser eliminado via informação, instrução 76 Economia comportamental: balanço(cf. Bowles) 1. Portanto, a importância de motivações concernentes aos demais não desafia a racionalidade, mas sim sugere que, no mínimo, os argumentos da função de utilidade deveriam ser expandidos, incluindo preocupação com os demais 77 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) 2. Evidências experimentais sugerem que formulação adequada deve levar em conta heterogeneidade comportamental Exemplo (Loewenstein et al. 1989): 22% “santos”: sempre preferem igualdade; nunca gostam de receber mais do que outros 39% “leais”: preferem igualdade em relações neutras ou positivas, mas buscam desigualdade vantajosa em relações negativas 29% “impiedosos”: sempre preferem ficar à frente dos demais, em qualquer tipo de interação 78 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Portanto, não se trata de substituir Homo economicus por Homo sociologicus, mas sim de desenvolver quadro de análise que permita incorporar mais heterogeneidade comportamental (Algo que vá além de: Cobb-Douglas vs. Substitutos perfeitos etc. Maior ou menor grau de paciência intertemporal Maior ou menor aversão ao risco) 79 Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) 3. Versatilidade entre indivíduos também deve ser modelada: pessoa pode ter um comportamento num tipo de situação e outro(s), em outra(s) “(…) evidence that people have different rates of discount for different types of outcomes.” (Gintis: 11) 4. Preferências são aprendidas e modificadas com a experiência; não são exogenamente dadas (a isto, Bowles dá o nome de “plasticidade”) 80 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) “Economic theory has been particularly compromised by its neglect of the facts concerning human behavior. This situation became clear to me in the summer of 2001, when I happened to be reading a popular introductory graduate text on quantum mechanics, as well as a leading graduate text on microeconomics. (…)” “The [physics] text continued, page after page, with new anomalies (…) and new, partially successful, models explaining the anomalies. (…)” 81 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) “By contrast, the microeconomics text, despite its beauty, did not contain a single fact in the whole thousand-page volume. (…)” “A bounty of excellent economic theory was developed in the XXth century in this manner. But, the well has run dry. (…)” 82 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) “(…) empirical evidence challenges the very foundations of both classical game theory and neoclassical economics.” “Future advances in economics will require that model-building dialogue with empirical testing, behavioral data-gathering, and agent-based models.” 83 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvii) “Physicists generally believe that rigor is the enemy of creative physical insight and they leave rigorous formulations to the mathematicians.” “The economic theorist’s overevaluation of rigor is a symptom of their underevaluation of explanatory power.” 84 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: 29) “Should we expect people to conform to the axioms of choice theory (…)?” “Where we know that individuals are really optimizing, and have expertise in decision theory, we doubtless should.” “But this applies to a highly restrictive range of actions. In more general settings we should not.” 85 Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: 29) “(…) human beings did not evolve facing general decision-theoretic problems.” [Aqui, ele questiona argumento darwinista simplista]. “Rather, they faced a few specific decision- theoretic problems associated with survival in small social groups.” “We may have to settle for modeling these specific choice contexts to discover how our genetic constitution and cultural tools interact in determining choice under uncertainty.” 86 Parte 1: leituras complementares Em português: Pindyck R.S. e Rubinfeld D. (2000) algumas seções dos caps. 5 e 15 Seção 15.7: investimento em capital humano Giannetti, E. O valor do amanhã. Ensaio sobre a natureza dos juros. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. Partes 2 e 3 Bianchi, A.M.; G.A.S.Filho (2001), “Economistas de avental branco: uma defesa do método experimental na economia”, Revista de Economia Contemporânea, Rio de Janeiro, 5(2), 129-154. 87 Parte 1: leituras complementares Em inglês (leituras difíceis): Mas-Collel, Whinston, and Green (1995). Microeconomic Theory. Oxford: Oxford University Press pp. 7 e 8 Bowles, S. (2004), Microeconomics: behavior, institutions and evolution, Princeton: Princeton University Press.Bowles, S. (2004) cap. 3 Gintis, H. (2009) The Bounds of Reason: Game Theory and the Unification of the Behavioral Sciences, Princeton: Princeton University Press prólogo e cap. 1 texto muito avançado Tópico 3�Economia comportamental�Varian, cap. 30 Programa do capítulo Introdução: o que é? Introdução: o que é? Introdução: reconhecimento Introdução: reconhecimento Introdução: reconhecimento Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Introdução: “CPR” Programa do capítulo “Preferências sociais” Dilema dos Prisioneiros Dilema dos Prisioneiros Dilema dos Prisioneiros Preferências sociais Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Jogo do Ultimato Número do slide 30 Outras “anomalias” Outras “anomalias” Outras “anomalias” Outras “anomalias” “Preferências sociais” “Preferências sociais” “Preferências sociais” Programa do capítulo Efeitos de contextualização Efeitos de contextualização Efeitos de contextualização Efeitos de contextualização Programa do capítulo Incerteza Incerteza Preferências dependentes da situação: risco Programa do capítulo Auto controle – desconto… Auto controle – desconto… Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Desconto exponencial versus desconto hiperbólico Programa do capítulo Efeitos de ancoragem Efeitos de ancoragem Demasiadas opções? Preferências endógenas Custos irrecuperáveis Níveis de confiança Programa do capítulo Economia comportamental: balanço (cf. Varian) Economia comportamental: balanço (cf. Varian) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Bowles) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvi) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: xvii) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis, 2009: 29) Economia comportamental: balanço (cf. Gintis,2009: 29) Parte 1: leituras complementares Parte 1: leituras complementares
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