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RADIAÇÃO IONIZANTE E O GERENCIAMENTO DE ACIDENTES COM RESÍDUOS RADIOATIVOS

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APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE A RADIAÇÃO IONIZANTE E O 
GERENCIAMENTO DE ACIDENTES COM RESÍDUOS RADIOATIVOS 
Gabrielle Menezes dos Santos
1 
Josiclay dos Santos Nogueira Silva
1 
Rebheka Caroline Oliveira Corrêa dos Santos
1 
Izabel Cristina Rodrigues da Silva
2 
Geísa Izetti Luna
3 
 
¹ Acadêmico do curso de Tecnólogo em Radiologia da Faculdade LS 
2
Especialista em Vigilância Sanitária elo IFAR/PUC-GO 
3
Bióloga e Nutricionista pela Universidade de Brasília. Pós-Graduada em Gestão de Segurança de Alimentos 
pelo SENAC-Rio. Orientadora do IFAR/PUC-GO 
 
Resumo 
O uso da radioatividade tem sido cada vez mais corriqueiro em diversas áreas do conhecimento humano. A 
utilização da energia nuclear pode ser de grande proveito, principalmente na área da saúde. É possível 
estabelecer uma política de uso da radioatividade em benefício de toda a população, porém a utilização dessas 
tecnologias envolve um risco considerável. Os acidentes envolvendo a radiação são de grandes conseqüências e 
impactos para a coletividade. Este trabalho, de maneira didática e simplificada, procura enfocar a importância da 
radioatividade e os cuidados necessários à sua aplicação, pretendendo, assim, focar a relevância do uso de 
equipamentos de proteção e do respeito às normas estabelecidas. 
Palavras-chave: Radiação ionizante. Proteção Radiológica. Rejeitos Radioativos. 
Abstract 
The use of radioactivity has been increasingly commonplace in many areas of human knowledge. The use of 
nuclear energy can be of great benefit, especially in healthcare. You can establish a policy for the use of 
radioactivity for the benefit of the entire population, but the use of these technologies involves considerable risk. 
Accidents involving radiation are major consequences and impacts for the community. This work, in a didactic 
and simplified, focuses specifically on the importance of radioactivity and the care needed for their application, 
intending thus focus on the relevance of the use of protective equipment and compliance with the standards set. 
Keywords: ionizing radiation. Radiological Protection. Radioactive Waste. 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
De uma maneira simplificada podemos dizer que a radiação ionizante é aquela com 
energia suficiente para arrancar um elétron de seu orbital, a qual podemos destacar o Raio-X 
(fonte artificial), e os raios gama (fonte natural). A radioatividade emitida por uma fonte 
natural ocorre quando há a desintegração de um elemento (OKUNO; YOSHIMURA, 2010). 
Muitos dos radionuclídeos gerados artificialmente podem entrar em contato com os 
seres humanos através de acidentes nucleares, que contaminam os indivíduos que entrarem 
em contato com objetos ou alimentos contagiados, como foi o caso dos moradores de Goiânia, 
após o acidente nuclear causado pelo Césio-137, que expôs diversas pessoas que tiveram 
contato com a fonte radioativa (OKUNO, 2013). 
Esse acidente foi classificado como um acidente de nível 5, pois trouxe diversas 
mortes como conseqüência. Não podemos esquecer ainda os vários rejeitos radioativos que 
hoje estão no depósito radioativo localizado em Abadia de Goiás. Esses rejeitos estão 
acondicionados em tambores, caixas metálicas, container e embalagens de concreto e chumbo 
para minimizar os riscos de contaminação (COSTA et al, 2003). 
Os efeitos biológicos causados pela radiação são originados quando células do corpo 
humano são submetidas a um nível elevado de radiação, a qual pode originar efeitos 
biológicos tais como: estocásticos, determinísticos e agudos (NAVARRO et al., 2008). 
E para que eles se manifestem o nível de radiação deverá atingir ou até mesmo 
ultrapassar o limite de dose das células do corpo humano. Podemos citar como efeitos 
biológicos a mutação, a carcinogênese, e sintomas como eritema, náuseas, catarata e 
síndromes gastrointestinais, hematopoiéticas, cerebrais e pulmonares . 
Para que esses efeitos sejam evitados devem-se observar algumas normas de proteção 
radiológica de otimização, limitação de dose e prevenção de acidentes. Além disso, a 
utilização dos protetores radiológicos é de fundamental importância (SOUZA; SOARES, 
2008). 
Sendo assim, o objetivo do presente trabalho é descrever os efeitos das radiações nos 
seres vivos, discutir medidas de proteção à radiação, sobretudo entre tecnólogos, e 
manipulação de rejeitos radiativos. 
 
 
2 METODOLOGIA 
 
Para a elaboração deste trabalho de revisão, foram utilizados artigos e livros 
publicados entre 2000 e 2013. Foram selecionadas legislações, teses e publicações 
relacionadas à : radiação ionizante, proteção radiológica, resíduos radiotativos. 
O termo anteriormente destacado foi utilizado como o principal descritor de busca. 
Os instrumentos de pesquisa utilizados foram: Scielo Brasil, Periódicos Capes, Visa Legis 
(disponível no portal da ANVISA) e o Google Scholar (Google Acadêmico). 
 
3 EFEITOS DA RADIAÇÃO IONIZANTE, MEDIDAS DE PROTEÇÃO, ACIDENTE 
E REJEITOS GERADOS 
 
3.1 Efeitos da radiação nos seres vivos 
Os efeitos ocorrem quando um número de células é submetido a um nível elevado de 
radiação, onde seu efeito biológico vai depender do tipo de radiação e o tipo de tecido 
irradiado. A quantidade de células alteradas pode variar, além da sintomatologia, sendo que 
um número grande de células atingidas podem causar o mal funcionamento do órgão atingido, 
mas se abranger um número pequeno de células os efeitos poderão ser imperceptíveis 
(OKUNO, 2013). 
 Quando a radiação interage com a matéria ocorre transferência de energia, o que pode 
provocar ionização e excitação de átomos e moléculas associadas, ocasionando alterações que 
podem ser temporárias ou permanentes nestas células levando consequentemente aos efeitos 
biológicos (VELUDO, 2011). 
Os efeitos biológicos são respostas naturais do organismo a um agente agressor, ou 
seja, é o resultado da interação da radiação com a matéria e pode ser reversível ou não 
dependendo basicamente do tempo de exposição (imediato ou tardio), do nível de dano 
(somático ou genético) e da dose absorvida (estocástico ou determinístico) (VELUDO, 2011). 
 
3.1.1 Efeitos estocásticos 
Nos efeitos estocásticos ocorre uma transformação celular, ou seja, ocorre uma 
alteração aleatória no DNA de uma única célula que, no entanto, continua a reproduzir-se, não 
necessitando que um limiar de dose seja alcançado para que isto ocorra, pois uma dose 
mínima de radiação pode causar este dano. Estes efeitos são cumulativos e podem aparecer 
manifestações em meses ou anos após a exposição à radiação. Caso ocorram em células 
germinativas, podem ocasionar os efeitos hereditários. As consequências mais comuns deste 
efeito é a mutação e a carcinogênese (VELUDO, 2011). 
 
3.1.2 Efeitos determinísticos 
Os efeitos determinísticos se manifestam quando um limiar de dose é alcançado, 
ocasionando morte celular, sendo importante mencionar que indivíduos possuem limiares 
diferentes. Portanto para que ele ocorra é necessário que haja uma exposição a altas doses de 
radiação. As alterações que ocorrem são somáticas e quando a morte celular não for 
compensada podem ocorrer alguns efeitos clínicos ou patológicos, como esterilidade, eritema, 
necrose celular, leucopenia, anemia, hemorragia, cataratas, náuseas e alterações fibróticas em 
órgãos internos (VELUDO, 2011). 
 
3.2 Efeitos agudos da radiação 
Os efeitos agudos da radiação são resultado de uma irradiação extremamente alta ao 
corpo inteiro, que podem provocar modificações nas células mais sensíveis do organismo e 
podem se manifestar em horas, dias ou semanas após a exposição. Estes efeitos se dividem em 
síndrome hematopoiética, síndrome gastrointestinal,síndrome pulmonar e síndrome cerebral. 
(VELUDO, 2011). 
O quadro 1 a seguir exemplifica os efeitos da radiação de acordo com as doses de 
absorvidas. 
Quadro 1– Efeitos agudos da radiação em adultos. 
FORMA DOSE ABSORVIDA SINTOMATOLOGIA 
Hematopoiética 2-6 Gy 
Função medular atingida: 
linfopenia, leucopenia, 
trombocitopenia, anemia 
 
Gastrointestinal 4-7 Gy 
Diarréia, vômitos, hemorragias 
(morte em 5-6 dias) 
 
Pulmonar 8-9 Gy 
Insuficiência respiratória 
aguda, coma e morte entre 14 e 
36 horas 
 
Cerebral Superior a 10 Gy 
Morte em poucas horas por 
colapso 
Fonte: (Nouailhetas, 2003) 
3.3 Principais medidas que o tecnólogo em radiologia deve fazer para evitar os 
efeitos da radiação 
Para evitar ou reduzir os efeitos da radiação é necessário que o tecnólogo em 
radiologia siga um conjunto de regras baseadas nos princípios da radioproteção. 
Um dos princípios é o da Justificação, ou seja, só se justifica o uso da radiação se o 
benefício for maior que o detrimento e se não houver alternativa diagnóstica ou terapêutica 
que substitua a mesma. 
A portaria 453 dividiu o principio da justificação em dois. 
O primeiro é genérico e diz que qualquer prática de exposição médica que utilize 
radiação ionizante deve ser previamente justificada e ainda devem ser sempre revista e 
atualizada caso ocorra o aparecimento de novos dados sobre essas determinadas práticas. 
(BRASIL, 1998) 
Já o segundo é a justificativa da exposição individual que ressalta que para cada 
individuo deve se fazer uma justificativa, especificando portanto cada medida adotada no 
perfil de cada indivíduo. (BRASIL, 1998) 
Determina ainda que fica proibida a exposição à radiação para fins não justificáveis 
tais como: demonstração, treinamentos, exames radiológicos para fins empregatícios ou para 
rastreamento em massa, exceto se houver ressalvas. (BRASIL, 1998) 
Outro princípio é o da Otimização; diz que à exposição às radiações deve ser tão baixa 
quanto razoavelmente exequível. Esse princípio deve ser compatível com os padrões de 
qualidade de imagem e isso será possível se houver uma seleção adequada de acessórios, 
equipamentos, garantia de qualidade, procedimentos de trabalho, nível de radiodiagnóstico 
para cada paciente e restrições de dose para cada indivíduo colaborador. (BRASIL, 1998) 
Já o princípio da Limitação afirma que deve existir um limite de dose para indivíduos 
ocupacionalmente expostos e indivíduos ocasionalmente expostos. O valor para limite de dose 
para indivíduos ocupacionalmente exposto deverá ser: 
1. Dose efetiva média anual: 20 mSV em qualquer período de 5 anos 
consecutivos, não ultrapassando 50mSV em nenhum ano. 
2. Dose equivalente anual: 500 mSV para extremidades e 150 mSV para o 
cristalino não excedendo esses valores. 
3. Para gestantes a dose no abdome não deverá exceder 2 mSV durante o período 
da gestação, e no embrião a dose não poderá exceder o valor de 1 mSV durante 
este período. 
4. Para estudantes em treinamento com idade entre 16 e 18 anos serão: dose 
efetiva anual de 6 mSV; dose equivalente anual 150 mSV para extremidades e 
50 mSV para o cristalino. Sendo que é expressamente proibida exposição 
ocupacional para menores de 16 anos. 
5. Para os indivíduos do público submetidos às praticas radiológicas a dose 
efetiva anual será restrita a 1mSV não podendo exceder. (BRASIL, 1998) 
 É importante adotar práticas que minimizem os riscos de acidentes. 
 Deve-se levar em consideração que nenhuma instalação de radiodiagnóstico poderá 
ser construída, modificada, operada ou desativada e também nenhum equipamento de 
radiodiagnóstico poderá ser transferido, vendido, modificado, operado ou executado sem que 
seus requisitos estejam de acordo com a portaria 453. (BRASIL, 1998) 
 E para complementar estas regras o tecnólogo deve adotar métodos que visem à 
redução da radiação como: tempo, blindagem, distância, hábitos de trabalho, sinalização e 
monitoração. É recomendável o menor tempo possível para a realização dos exames, o uso 
adequado dos EPIs, uso de técnicas adequadas para cada tipo de exame, posicionamento atrás 
do biombo, utilização da proteção plumbífera no paciente, além da constante atualização do 
profissional sobre novos meios de radioproteção (SEARE E FERREIRA, 2002). 
 
3.4 Radiação ionizante 
É aquela que possui energia suficiente para arrancar um elétron de seu orbital, sendo 
que esta energia deve ser superior à energia de ligação dos elétrons em relação ao núcleo. 
Neste processo de ionização formam-se íons ou partículas ionizadas (OKUNO, 2013). 
De acordo com o espectro eletromagnético, considera-se radiação ionizante os raios x 
e os raios gama e as radiações não ionizantes são a radiação ultravioleta (UV), luz visível, 
infravermelho, ondas de rádio frequência e frequência extremamente baixa (VELUDO, 2011). 
A figura a seguir representa essas radiações. 
Espectro eletromagnético 
 
Fonte: VELUDO, 2011 
Estágios da ação 
 Estágio físico : ionização de um átomo com cerca de 10-15 s; 
 Estágio físico – químico : ocorre com as quebras das ligações químicas das moléculas 
em cerca de 10-6 s de ionização; 
 Estágio químico : ocorre quando em poucos segundos os fragmentos das moléculas se 
ligam as outras moléculas. 
 Estágio biológico : ocorre quando há efeitos fisiológicos e bioquímicos com alterações 
funcionais e morfológicas dos órgãos que podem durar dias, semanas ou anos 
(OKUNO, 2013). 
 
3.5 Fontes de radiação 
Existem vários tipos de fontes emissoras de radiação ionizante, sendo que estas se 
dividem em fontes artificiais e naturais. As fontes artificiais são os tubos de raios-x, 
aceleradores de partículas e reatores nucleares. Já as fontes naturais destacam-se a radiação 
cósmica e os radionuclídeos (OKUNO, 2013). 
3.5.1 Tubo de raios-X 
O tubo de raios-x consiste em um pólo negativo chamado de anodo (alvo) e um pólo 
positivo chamado de cátodo. Quando uma diferença de potencial (ddp) é aplicada ao 
filamento de tungstênio do cátodo, os elétrons formam uma nuvem e são acelerados em 
direção ao anodo. Quando isso ocorre há o choque dos elétrons no alvo e em sua eletrosfera, 
ocasionando os processos que irão formar a radiação, sendo o freamento (bremsstrahlung) e o 
raio-x característico (ROS, 2000). 
No processo de freamento (bremsstrahlung), o fóton de raio x é formado pelo choque 
do elétron no anodo, que desacelera o elétron incidente, devido a sua mudança de trajetória. Já 
na formação dos raios-x característicos os elétrons irão se chocar na eletrosfera do anodo, 
expulsando um elétron de seu orbital, criando assim uma vacância, e para preencher este 
vazio um elétron de uma camada mais externa pula para uma mais interna, emitindo um fóton 
de raio-x (ROS, 2000). 
Esses processos ocorrem dentro de um tubo de raios-X enquanto uma ddp está sendo 
aplicada. Então, 99% da energia cinética produzida é transformada em calor e 1% em fótons 
de raios-x (OKUNO, 2013) 
 
3.5.2 Radionuclídeos 
Radioisótopos ou radionuclídeos são núcleos radioativos instáveis, devido ao seu 
número de prótons e nêutrons diferenciados, que buscam sempre a estabilidade. E para 
alcançar esta estabilização o elemento expulsa o que está em excesso, emitindo partículas 
radioativas espontaneamente através das desintegrações ou decaimento nuclear (OKUNO, 
2013). 
Os radionuclídeos podem emitir partículas beta menos (négatron), beta mais 
(pósitron), partícula alfa e radiação gama. Esse processo de emissão de partículas tem como 
objetivo a estabilização do núcleo de um elemento. Após essas sequências de desintegrações 
de um elemento, como a perda de partículaalfa os elementos se transformam em outro 
elemento podendo ser ou não estáveis (OKUNO, 2013). 
Hoje existem diversos radionuclídeos, sendo de formação natural ou artificial alguns 
deles são Helio-3; Carbono-14; Fosforo – 32 e 33; Selenio-35; Cloro-36; Calcio-45; 
Nitrogenio-63; Estroncio-90; Tecnesio-99; Promecio-147; Talio-204; Gadolinio-148; Torio-
230 e 232; Uranio-238 e 235; Plutonio-239; Americio-241; Polonio-210; Curio-242; Berilio-
7; Sodio-22 e 24; Potasio-40; Escandio-46; Cromo-51; Manganes-54; Ferro-59; Cobalto-
56,57 e 60; Zinco-65, Itrio-88; Zirconio-95; Iodo-123,125 e 131; Cerio-144; Europio-152; e 
Cesio-134 e137 (TAUHATA, 2003). 
 
3.5.3 Tempo de meia vida 
É o tempo necessário para que metade da atividade radioativa de um elemento decaia a 
metade de sua atividade inicial, sendo que esse decaimento (desintegração) irá ocorrer até que 
a atividade radioativa de um elemento seja quase nula. Como exemplo podemos citar o 
Césio-137, que tem tempo de meia-vida de 30 anos, quando o tempo desse elemento atingir 
sua primeira meia-vida (30 anos), sua atividade decairá a metade (OKUNO, 2013). 
 
3.5.4 Radioatividade 
É um fenômeno que ocorre quando um elemento durante a sua desintegração emite 
uma radiação e durante esse processo o elemento pode dar origem a outro (MARTINS, 1990). 
 
3.5.5 Desintegração Nuclear 
Decaimento radioativo ou desintegração nuclear é a propriedade de um elemento 
radioativo emitir espontaneamente energia ou partículas nucleares de seu núcleo atômico. 
Essas partículas podem ser Beta e Alfa, ou ainda emitir radiação Gama (OKUNO e 
YOSHIMURA, 2010). 
A desintegração nuclear varia de um elemento para outro, como é o caso do Césio-137 
que tem meia vida de 30 anos, ou seja, a quantidade de átomos radioativos é muito grande e 
sua desintegração muito lenta, já o Iodo- 131 tem tempo de meia-vida de 8 dias e sua 
desintegração é mais rápida (OKUNO, 2013). 
 
3.5.6 Contaminação radioativa 
A contaminação radioativa ocorre quando os radionuclídeos artificiais estão presentes 
nos mares, solo terrestre, alimentos, vegetais e no próprio corpo externo ou internamente. 
Esses radionuclídeos artificiais geralmente são derivados de acidentes ou testes nucleares 
(OKUNO, 2013). 
A forma mais comum de contaminação radioativa do ser humano é através dos 
alimentos derivados da utilização da energia nuclear. As nuvens radioativas entram em 
contato com o solo, e a partir desse momento há a contaminação terrestre, ou seja, contato 
com plantas e vegetais que serão ingeridos pelo ser humano direta ou indiretamente (ROQUE; 
TAGLIAFERRO E FERNADES, 1998). 
 
3.6 Acidente em Goiânia 
No dia 15 de setembro de 1987, o então diretor do Departamento de Instalações 
Nucleares da Comissão Nacional de Energia Nuclear José de Júlio Rozental recebeu uma 
ligação de Goiânia onde foi informado que em vários pontos da cidade havia sido detectado 
grande contaminação radioativa. (OKUNO, 2013). 
Rozental após verificar diversos arquivos, concluiu que o elemento radioativo era uma 
cápsula de Césio-137 que foi deixada pelo Instituto Goiano de Radioterapia. Ele e mais dois 
médicos foram para Goiânia, para criar planos de emergência. E do dia 1° ao 3° dia de 
outubro foram enviados 10 pessoas para o Hospital Naval Marcílio Dias (OKUNO, 2013). 
 
3.6.1 Histórico 
 
No ano de 1985, o Instituto de Radioterapia de Goiânia foi transferido para um outro 
local, deixando em seu prédio antigo uma fonte de Césio – 137 blindada, que era utilizada 
para o tratamento de câncer. Com o passar do tempo como o prédio tinha sido abandonado e 
não tinha nenhum tipo de segurança, o mesmo foi sendo depredado até que no dia 13 de 
setembro de 1987 dois catadores de metal e papel entraram no prédio e levaram a fonte. 
(OKUNO, 2013). 
Como o acesso ao prédio estava livre, pois o prédio já não tinha nem portas nem 
janelas, era fácil seu acesso ao interior da sala onde se encontrava a fonte radioativa. Nessa 
ocasião, dois rapazes souberam que no prédio havia uma peça de chumbo, que para eles era 
valiosa pois o chumbo é um metal caro. Os mesmos retiraram a peça que estava fixada na 
parede e a colocaram dentro de um carrinho de mão, onde levariam a um lugar para 
desmantelá-la. (PEREIRA, 2005). 
Os catadores Roberto Alves (22) e Wagner Pereira (19) levaram a peça para a casa de 
um deles, e a desmantelaram com marretadas, violando a fonte radioativa. Roberto e Wagner 
tinham o intuito de vender a peça como sucata. No mesmo dia eles passaram mal e 
apresentaram sintomas de vômito e diarréia, e no dia 15/09 foram ao hospital com enormes 
bolhas nos membros superiores. Os médicos por sua vez pensaram que os rapazes estavam 
com uma doença tropical ou uma reação alérgica. (OKUNO, 2013). 
Parte da peça blindada que continha o Césio-137 foi vendida para Devair Alves 
Ferreira (36) que era dono de um ferro-velho. Devair, ao perceber o pó de cloreto de césio que 
tinha tamanho de um grão de arroz e emitia uma luz azul no escuro, ficou encantado e 
chamou amigos e familiares para ver aquela maravilha, e o distribuiu entre eles. (OKUNO, 
2013). 
No período de 19/09 a 28/09 partes da fonte foram vendidas para mais dois ferros-
velhos, sendo que um deles foi o do Ivo Alves Ferreira (40), pai de Leide das Neves (6) uma 
das pessoas que mais foi exposta e contaminada à radiação pelo Césio-137, pois a mesma 
após brincar com o pó de Césio foi comer um pão, ou seja, ela ingeriu Césio-137, assim 
sofrendo contaminação interna e externa. (OKUNO, 2013). 
Durante esse tempo a esposa de Devair - Maria Gabriela Ferreira (38) - que vinha 
apresentando diarréia, vômito e cansaço suspeitou que o causador desse mal-estar era a peça 
de chumbo que o marido colocou em casa, pois todas as pessoas que entraram em contato 
com a mesma estavam sentido esse sintomas. Então Gabriela e um funcionário do ferro-velho 
Geraldo Guilherme da Silva (21), levaram a peça dentro de um saco e foram de ônibus até a 
Vigilância Sanitária ressaltando que aquilo estava matando seu povo. (OKUNO, 2013). 
Este saco com a peça radioativa foi deixado na sala de divisão de alimentos em cima 
de uma mesa, quando no dia seguinte foi levada para o pátio e deixada em uma cadeira, 
durante o tempo em que a fonte permaneceu por lá, vários funcionários curiosos da Vigilância 
Sanitária foram expostos ou contaminados pela mesma. Foram cerca de 80 funcionários. 
(OKUNO, 2013). 
Maria Gabriela e Geraldo Guilherme foram encaminhados ao Centro de Informações 
Toxicológicas. Ao chegarem lá um médico ao examinar desconfiou que aqueles sintomas e 
queimaduras na pele com bolhas, poderiam ter sido causados por alguma radiação. Foi 
quando um físico foi chamado à cidade de Goiânia e confirmou que tanto na Vigilância 
Sanitária quanto na cidade havia altos níveis de radiação. (OKUNO, 2013). 
 Na época do acidente as pessoas foram separadas em três grupos: 
 Grupo1- eram as pessoas mais contaminadas; 
 Grupo2- era composto pelos parentes das vítimas; 
 Grupo3- pessoas que teriam apenas acompanhamento de exames laboratoriais 
periódicos (PEREIRA, 2005). 
 
 
3.6.2 Consequências do acidente 
 
As pessoas que tiveram contato com a fonte radioativa tiveram sintomas tais como 
diarréia, vômito, manchas escurecidas na pele e outros quadros de radiodermite. Algumas 
puderam voltar para as suas casas, porém quatro morreram devido ao grau elevado de 
contaminação interna ou externa. (PEREIRA, 2005). 
O que foi mais espantoso é que uma fonte tão pequena ocasionou um acidente 
devastador, pois essa fonte era uma pequena pastilha de sal de cloreto de Césio-137 com 
3,0cm de altura e 3,6cm de diâmetro. (OKUNO, 2013). 
Na época a fonte de Césio-137que foi violada tinha atividade radioativa de 1.375 
Curie, a massa que foi liberada pela violação da fonte foi de 91g, mas apenas 19,26g era de 
cloreto de césio (MIRANDA, 2005). 
 
3.7 Rejeitos gerados 
 
Os bairros de Goiânia setor aeroporto, centro e setor ferroviários eram os locais com 
maior contaminação ambiental e a medida que os focos de contaminação eram identificados, 
as áreas eram evacuadas e isoladas. Várias residências foram demolidas, houve coleta de 
materiais contaminados e remoção de solos contaminados (PEREIRA, 2005) 
Durante a descontaminação foi estabelecido a coleta e a segregação, sendo que a 
coleta é a colocação dos rejeitos em seus respectivos locais e a segregação é a separação física 
de cada rejeito. Todos os rejeitos gerados compreendiam 85% em volume de solo e entulho, 
11% de papel, plástico e tecido e 4% de animais, frutas e madeira. Sendo que todos estes 
rejeitos foram armazenados em tambores e containers que geraram aproximadamente 6000 
toneladas de rejeitos, equivalente a 3500 m3 (PEREIRA, 2005). 
Todos os rejeitos gerados foram colocados em um depósito em Abadia de Goiânia, 
que foi feito para armazenar estes rejeitos por 300 anos. Estes foram cobertos por terra e foi 
plantado gramas por cima (OKUNO, 2013). 
 
3.8 Manipulações dos rejeitos radioativos 
 
Os rejeitos radioativos têm sua forma correta de armazenamento determinada de 
acordo com a sua estrutura; se é liquido, sólido ou gasoso e também pela radiação emitida. 
(PEREIRA, 2005) 
Essa forma de separação é denominada de Gerência de Rejeito Radioativo, onde é 
feito a coleta, segregação, transporte, tratamento, armazenamento e por fim sua deposição 
final, para que assim não haja danos ao meio ambiente. E todo esse processo segue as normas 
de proteção radiológica e os padrões de segurança. (PEREIRA, 2005). 
Para CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear - há dois tipos de instalações de 
gerenciamento de rejeito radiativo. A primeira é instalações nucleares, onde ocorre 
processamento, manuseamento, reprocessamento e produção de matérias nucleares. A 
segunda instalação é a radiativa onde se dá a produção, utilização, transporte e 
armazenamento das fontes radiativas. (PEREIRA, 2005). 
Muito dos rejeitos gerados são depositados primeiramente em locais temporários e 
posteriormente em depósitos definitivos, que serão construídos após a definição do local 
correto e liberação do seu licenciamento, feito pelos órgãos competentes. (PEREIRA, 2005). 
Os rejeitos gerados por clínicas, hospitais, indústrias, centro de pesquisas e 
universidades onde há instalações radioativas, são denominados de rejeitos institucionais. 
(PEREIRA, 2005). 
O depósito radioativo final é denominado de Depósito de Rejeitos Radioativos e tem a 
finalidade de armazenar por um período de tempo o rejeito gerado, até que sua radioatividade 
chegue a um nível que não cause danos a biosfera tampouco efeitos biológicos ao ser humano. 
Esse período de tempo é baseado no tempo de meia-vida de cada radionuclídeo. (PEREIRA, 
2005). 
A Lei 10.308 de 20 de dezembro de 2001 - que dispõe sobre a seleção de locais, a 
construção, o licenciamento, a operação, a fiscalização, os custos, a indenização, a 
responsabilidade civil e as garantias referentes aos depósitos de rejeitos radioativos, e dá 
outras providências - diz que apenas em casos excepcionais, tais como acidentes radiológicos, 
pode ser realizada a construção de depósitos provisórios, para o armazenamento dos rejeitos, 
que posteriormente serão desativados e terão seus rejeitos transferidos para depósitos 
intermediários ou finais. (PEREIRA, 2005). 
Os rejeitos gerados no Brasil são gerenciados pela CNEN, sendo que a maioria deles 
foi gerada pelo Acidente Nuclear de Goiânia, Usina Nuclear de Angra dos Reis, Indústria de 
beneficiamento de areias monazíticas e o uso de Radioisótopos na medicina e na indústria. 
(PEREIRA, 2005). 
Com base nessas informações pode-se observar que para o acondicionamento dos 
rejeitos radioativos é necessário condições especiais de armazenamento, levando em 
consideração o nível de radiação emitida pelo radionuclídeo, o local que será construído o 
depósito radiativo final e também a precaução em relação às normas de radioproteção. 
 
 
3.9 Classificações dos acidentes 
 
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, que deu origem ao INES 
 (International Nuclear Events Scale), a escala logarítmica que vai de 1 a 7 classifica a 
gravidade de eventos relacionados a radiação. Os valores de 1 a 3 são os incidentes e 4 a 7 são 
os acidentes. São considerados acidentes quando ocorre pelo menos uma morte. O acidente de 
Goiânia, por exemplo, foi classificado como de nível 5 (OKUNO, 2013). 
 
3.10 Vítimas do acidente 
 
Segundo a associação de vítima de Césio-137, houve 60 mortes 25 anos após o 
acidente, porém este valor é negado pelo poder público. 
É importante lembrar que todos os moradores de Goiânia e familiares foram vítimas, 
não apenas por terem sido expostos e contaminados pela radiação, mas sim pelo impacto que 
o acidente deixou em suas vidas, pois seus lares foram desfeitos e eles sofreram discriminação 
durante anos. Tudo isto deixou-os abalados psicologicamente, levando muitos a depressão e a 
isolação (MIRANDA, PASQUALI, NETO, BARRETO, FILHO, ROSA, 2005). 
 
Conclusão 
 
 A manipulação errada de uma fonte radioativa, sem apropriadas medidas de 
radioproteção já ocasionou diversos danos a uma população; o maior deles foram os efeitos 
biológicos do acidente radionuclear de Goiânia, que chegou a causar a morte de pessoas que 
entraram em contato com a fonte de radiação. 
Além dos efeitos biológicos, a mobilização do país e de uma cidade inteira em busca 
de medidas de proteção e manipulação segura dos rejeitos radioativos gerados pelo acidente 
demonstra a importância do conhecimento sobre os efeitos da radiação, pois uma pequena 
fonte de Césio-137 deixou um rastro enorme de destruição devido à alta contaminação e 
exposição que os moradores e o solo de Goiânia sofreram. 
 
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