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Atividade Física em Saúde 5.pmd

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UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
CONCEITO E APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
A Educação para a Saúde configura-se como uma excelente estratégia
de melhoria do entendimento do processo saúde/doença, colocando o
educando no centro do problema, fomentando sua compreensão no sentido
de que ele entenda como acontece o processo e possa preocupar-se com a
sua saúde e a da população.
Mas nem sempre foi assim…
Este conteúdo foi sendo inserido de forma natural e não-planejada
desde o final do século XIX, através das contribuições de disciplinas como:
Higiene, Puericultura, Nutrição e Dietética, além, é claro, da nossa Educação
Física. Refletia a forma com que a saúde era tratada e compreendida na
sociedade da época (BRASIL, 1998).
Posteriormente, este conteúdo passou para as disciplinas de Ciências
Naturais e Biologia, ambas com a preocupação de tratar o tema apenas no
âmbito do mecanismo fisiológico pelo qual as pessoas adoecem ou se
previnem de doenças. Esta forma de tratar a saúde ficou conhecida em
nosso meio como visão biologicista. Nesta visão, não se discutia, por exemplo:
as determinantes socioeconômicas e políticas das doenças.
Mesmo estando tradicionalmente presente no currículo escolar a tanto
tempo, só em 1971, através da Lei 5.6921, a temática da saúde foi inserida
oficialmente no currículo escolar, com a designação de Programas de Saúde.
Tinha como objetivo levar o educando ao desenvolvimento de hábitos
saudáveis quanto à higiene pessoal, alimentação, prática esportiva, trabalho
e lazer. Buscando incutir no educando o sentimento e responsabilidade por
sua saúde e dos outros.
Propositadamente, esta temática não foi
colocada como disciplina e sim como uma
estratégia geral de formação escolar, que deveria
ser trabalhada paralelamente e transversalmente
por vários componentes curriculares,
especialmente, as disciplinas de Ciências, Estudos
Sociais e a nossa querida Educação Física.
Veja, o movimento que observamos hoje
em torno da adoção de um estilo de vida ativo e
positivo, não é assim tão rescente, nem muito
menos o importante papel da Educação Física
neste contexto.
Mesmo depois da segunda metade da década de 80, quando as
tendências progressistas tomavam força na reformulação dos currículos
escolares, a temática tratada nos Programas de Saúde ainda mantinham
seu forte caráter biologicista, centrados nos aspectos da higiene e dos
mecanismos biológicos do processo saúde/doença.
Puericultura: conjunto de téc-
nicas e procedimentos empre-
gadas para assegurar o per-
feito desenvolvimento físico,
mental e moral da criança,
desde o período da gestação.
Tendências progressistas: to-
mavam como base o discur-
so da justiça social e busca-
vam elevar o nível de análise
crítica dos educandos,
contextualizando-os histori-
camente e politicamente.
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ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
A relação da Educação formal (garantida pela escola) com a Educação
para a Saúde é muito forte, principalmente, quando analisamos a função
desta educação na formação de um cidadão consciente de si e do seu papel
social com a melhoria da saúde e da qualidade de vida de todos. Mesmo
considerando que a educação para a saúde é responsabilidade de todos e
aí inclui-se o próprio Ministério da Saúde. Acredito que a escola é o local
privilegiado de fomento à saúde e à vida.
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NA PROPOSTA DOS PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS – PCN/MEC
Após o advento da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) para a educação nacional, Lei nº 9.394/96, tivemos a elaboração e
apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs em 1998, que
trouxe grande contribuição na medida em que apontou as referências
curriculares nacionais comuns para a educação em todo território nacional.
Este documento orientou a elaboração de vários outros em âmbito estadual
e municipal, tendo como referência e principal eixo articulador a formação
cidadã.
Este documento trouxe a formulação de propostas curriculares para a
educação básica nacional, formada pelos ensinos: infantil, fundamental e
médio.
Entre os vários avanços desta proposta, destacamos os temas
transversais, que foram escolhidos pela relevância social e urgente
necessidade de discussão na escola. São eles: Ética, Saúde, Meio Ambiente,
Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo. Estes temas
deverão ser tratados simultaneamente e transversalmente pelas áreas de
conhecimento (disciplinas) convencionais do currículo escolar.
Nosso destaque é para o tema transversal
Saúde, que volta ao cenário escolar na perspectiva
renovada da educação para a saúde, onde todas as
áreas de conhecimento, a exemplo da Educação Física,
devem contribuir para seu aproveitamento.
Segundo o próprio texto do documento, o
complexo processo saúde/doença já justificaria a
escolha da educação para a saúde como tema
transversal (que nesta proposta ficou apenas com o
termo Saúde), pois, como tal, precisa de múltiplos
olhares para formar no educando a consciência que
se espera que ele tenha deste complexo processo.
A estratégia é recompor os conhecimentos do processo saúde/doença
que foram fragmentados ao longo da história através da criação e
especialização de várias subáreas. Bem como, contextualizá-lo nos aspectos
ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos, além, é claro, de manter
sua raiz na biologia, mas, desta feita, contextualizada em todos esses
aspectos aqui abordados.
Eixo articulador: eixo con-
dutor da proposta em que to-
das as sugestões se articu-
lavam e se amoldavam.
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UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
Pelo que já foi visto até agora, a contribuição da Educação Física com a
educação para a saúde deve ser total, haja vista que o conteúdo da área é
privilegiado no que tange atingirmos os objetivos da educação para a saúde.
Prova disso é o Art. 7 do Manifesto Mundial da Educação Física
apresentado pela Federação Internacional de Educação Física – FIEP em
Janeiro de 20002 que traz:
A Educação Física, para que exerça sua função de Educação para
a Saúde e possa atuar preventivamente na redução de enfermidades
relacionadas com a obesidade, as enfermidades cardíacas, a
hipertensão, algumas formas de câncer e depressões, contribuindo
para a qualidade de vida de seus beneficiários, deve desenvolver
hábitos de práticas regular de atividades físicas nas pessoas.
Corroborando com o nosso pensamento, Guedes (1999), afirma que a
Educação para a Saúde deve avançar para além dos referenciais biológicos
e higienistas e se concentrar, principalmente, num contexto didático-
pedagógico, em que a Educação Física tem fórum privilegiado em razão das
características de seu objeto de estudo e de sua atuação.
Podemos até imaginar uma aula de Educação Física escolar onde o(a)
professor(a) solicita aos alunos que falem sobre a importância da atividade
física no combate à obesidade. De posse das respostas e discussões que
devem se seguir à pergunta do professor, este elabora um plano de ação
para tratar do tema, apresenta este plano aos demais professores e equipe
técnico-pedagógica da escola para as possíveis retificações e contribuições.
Depois dos ajustes à proposta, devem abordar o tema
transversalmente em suas disciplinas. Com esta
estratégia, os educandos receberão informações de
várias áreas do conhecimento convergindo para o tema
escolhido pela escola.
Esta mesma estratégia pode ser usada para outros
temas transversais, o importante é que haja
planejamento e cumplicidade na execução da proposta.
O conteúdo da área de Educação Física proposto
nos PCNs traz três grandes blocos de conteúdo que se
relacionam entre si, porterem vários conteúdos comuns,
mas salvaguardando suas especificidades. São eles:
· esportes, jogos, lutas e ginástica;
· atividades rítmicas e expressivas;
· conhecimento sobre o corpo.
Este último bloco, além de se relacionar com os demais, deverá ser
transversal aos outros dois, ou seja, se estivermos tratando da seleção de
conteúdo para uma aula específica, teremos que colocar no planejamento
um momento para falarmos sobre o corpo.
Objeto de estudo: termo uti-
lizado na academia (universi-
dade) para se referir ao con-
teúdo temático de investiga-
ção e produção de uma deter-
minada área de conhecimen-
to.
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ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE
Este corpo aparece nas suas mais complexas e dissociáveis dimensões,
mas uma das principais dimensões é dada a conquista e manutenção da
saúde e do estilo de vida positivo.
Este tema que ao longo do nosso curso escutamos e haveremos de
escutar mais e mais, é que justifica esta disciplina. Acredito, que a esta altura,
você já pôde perceber. Mas, vamos adiante para entendermos melhor a
dimensão da Educação Física na Educação para a Saúde.
Ao promulgar a Carta Brasileira de Educação Física, o CONFEF trouxe a
público sua intenção de construção de uma Educação Física de Qualidade,
conduzida por profissionais habilitados e com compromisso técnico,
pedagógico e ético de desenvolver nos brasileiros o estilo de vida ativo,
além de contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida da população.
O sistema CONFEF/CREFs defende uma Educação Física de Qualidade,
apoiada na ética e na conduta profissional voltada ao estilo de vida ativo.
Visite a Carta Brasileira de Educação Física, encontrada na página do
CONFEF na net. http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=82
Esta proposta referencia-se no compromisso de desenvolver nas pessoas
o entendimento do papel da atividade física na promoção da saúde, através
de atividade interdisciplinares.
Outro documento que reforça o compromisso da área de Educação Física
com a saúde foi promulgado pelo CONFEF em 2005. Intitulado: Carta Brasileira
de Prevenção Integral na Área de Saúde.
Esta carta de intenções foi respaldada pelos conselhos das demais área
da saúde no Fórum Nacional de Prevenção Integral na Área de Saúde,
realizado na cidade de Belo Horizonte em Setembro de 2005.
Foi por este motivo, reconhecendo a importância da prevenção, que o
Fórum foi realizado, buscando a intermediação do saber e do fazer próprio
de cada área para construção do elo entre teoria e prática de forma
interdisciplinar.
O foco na prevenção, que faz parte da atenção básica à saúde, foi
entendido e acordado como prioritário na construção de Políticas Públicas de
Saúde. Deste entendimento, surgiu a propositura da Carta Brasileira de
Prevenção Integral na Área de Saúde.
Para construção filosófica do documento, elegeu-se o Prof. Dr. Manoel
José Gomes Tubino, ou “simplesmente” Profº Tubino, como é mais conhecido
este baluarte da Educação Física brasileira e mundial.
Gostaria inclusive de convidar você a ler o documento na íntegra3 para
que possa perceber de maneira mais clara, o atual momento da Educação
Física frente aos desafios modernos de combate ao sedentarismo e difusão
dos conhecimentos sobre o estilo de vida positivo e da atividade física como
meio de se alcançar e manter a saúde.
Prevenção: na ótica do tex-
to da carta, significa tratar
de se antecipar, de fazer lei-
tura prévia e identificação de
situações sociais inadequa-
das que, a curto, médio e
longo prazo, possam trazer
prejuízos à população e que,
por este, fato precisa de
controle.
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UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE
Nesta proposta, a Educação Física volta à Educação para a Saúde, toma
ainda mais força, pois é entendida como direito humano de todas as pessoas
principalmente das crianças.
Farei, então, alguns “recortes” desta carta.
Ao falar do conceito de prevenção e promoção da saúde, o relator anuncia
que esta tarefa será melhor alcançada por meio de ações interdisciplinares
e intersetoriais, reforçando o que já estudamos antes.
Enquanto estratégia interdisciplinar e intersetorial, a promoção da saúde
deverá unir esforços das áreas de Assistência Social, Biologia, Educação
Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina,
Nutrição, Odontologia, Psicologia, Terapia Ocupacional e outros, na
perspectiva de ação coletiva.
A propósito, todas estas áreas estiveram representadas pelos seus
respectivos Conselhos no Fórum em questão.
Embora seja unânime o reconhecimento da contribuição de todas as
áreas a favor da prevenção e promoção da saúde, há um consenso
internacional no mundo científico de que a atividade física é imprescindível
para o sucesso de qualquer ação neste sentido.
Mas, é bom lembrá-lo com base ainda no texto da Carta, que para a
atividade física se configurar em atitude positiva para a saúde, precisa ser
desenvolvida num contexto de Educação Física, ou seja, num processo
educacional, seja por vias formais (escola) ou não-formais (fora da escola).
Cabe, então, a Educação Física promover ações que favoreçam a
Educação para a Saúde, respeitando o direito de todos às atividades físicas
sistematizadas e culturalmente acumuladas, em forma de jogos, esportes,
danças, ginásticas e lutas, respeitando também as leis biológicas e os
aspectos culturais, sociais, políticos e filosóficos das pessoas, assim como,
as ações interdisciplinares, seja no contexto da escola ou fora dela. Sempre
voltada para o objetivo de fomentar o conhecimento e a adoção de um
estilo de vida positivo, em que a prática de atividade física se configure
como estratégia principal.
É HORA DE SE AVALIAR!
Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de
estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-
lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia
no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija
as respostas no caderno e depois as envie através do nosso
ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco!
Chegamos ao fim do nosso estudo. Espero que tenhas gostado. Foi
ótimo estar contigo. Até outra oportunidade e sucesso daqui para frente!
Depois dessa longa jornada, sinta-se convidado a ser mais um “amante da
sabedoria,” “da saúde e do estilo de vida ativo”.

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