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62 UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE CONCEITO E APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE A Educação para a Saúde configura-se como uma excelente estratégia de melhoria do entendimento do processo saúde/doença, colocando o educando no centro do problema, fomentando sua compreensão no sentido de que ele entenda como acontece o processo e possa preocupar-se com a sua saúde e a da população. Mas nem sempre foi assim… Este conteúdo foi sendo inserido de forma natural e não-planejada desde o final do século XIX, através das contribuições de disciplinas como: Higiene, Puericultura, Nutrição e Dietética, além, é claro, da nossa Educação Física. Refletia a forma com que a saúde era tratada e compreendida na sociedade da época (BRASIL, 1998). Posteriormente, este conteúdo passou para as disciplinas de Ciências Naturais e Biologia, ambas com a preocupação de tratar o tema apenas no âmbito do mecanismo fisiológico pelo qual as pessoas adoecem ou se previnem de doenças. Esta forma de tratar a saúde ficou conhecida em nosso meio como visão biologicista. Nesta visão, não se discutia, por exemplo: as determinantes socioeconômicas e políticas das doenças. Mesmo estando tradicionalmente presente no currículo escolar a tanto tempo, só em 1971, através da Lei 5.6921, a temática da saúde foi inserida oficialmente no currículo escolar, com a designação de Programas de Saúde. Tinha como objetivo levar o educando ao desenvolvimento de hábitos saudáveis quanto à higiene pessoal, alimentação, prática esportiva, trabalho e lazer. Buscando incutir no educando o sentimento e responsabilidade por sua saúde e dos outros. Propositadamente, esta temática não foi colocada como disciplina e sim como uma estratégia geral de formação escolar, que deveria ser trabalhada paralelamente e transversalmente por vários componentes curriculares, especialmente, as disciplinas de Ciências, Estudos Sociais e a nossa querida Educação Física. Veja, o movimento que observamos hoje em torno da adoção de um estilo de vida ativo e positivo, não é assim tão rescente, nem muito menos o importante papel da Educação Física neste contexto. Mesmo depois da segunda metade da década de 80, quando as tendências progressistas tomavam força na reformulação dos currículos escolares, a temática tratada nos Programas de Saúde ainda mantinham seu forte caráter biologicista, centrados nos aspectos da higiene e dos mecanismos biológicos do processo saúde/doença. Puericultura: conjunto de téc- nicas e procedimentos empre- gadas para assegurar o per- feito desenvolvimento físico, mental e moral da criança, desde o período da gestação. Tendências progressistas: to- mavam como base o discur- so da justiça social e busca- vam elevar o nível de análise crítica dos educandos, contextualizando-os histori- camente e politicamente. 63 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE A relação da Educação formal (garantida pela escola) com a Educação para a Saúde é muito forte, principalmente, quando analisamos a função desta educação na formação de um cidadão consciente de si e do seu papel social com a melhoria da saúde e da qualidade de vida de todos. Mesmo considerando que a educação para a saúde é responsabilidade de todos e aí inclui-se o próprio Ministério da Saúde. Acredito que a escola é o local privilegiado de fomento à saúde e à vida. EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NA PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN/MEC Após o advento da promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) para a educação nacional, Lei nº 9.394/96, tivemos a elaboração e apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs em 1998, que trouxe grande contribuição na medida em que apontou as referências curriculares nacionais comuns para a educação em todo território nacional. Este documento orientou a elaboração de vários outros em âmbito estadual e municipal, tendo como referência e principal eixo articulador a formação cidadã. Este documento trouxe a formulação de propostas curriculares para a educação básica nacional, formada pelos ensinos: infantil, fundamental e médio. Entre os vários avanços desta proposta, destacamos os temas transversais, que foram escolhidos pela relevância social e urgente necessidade de discussão na escola. São eles: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo. Estes temas deverão ser tratados simultaneamente e transversalmente pelas áreas de conhecimento (disciplinas) convencionais do currículo escolar. Nosso destaque é para o tema transversal Saúde, que volta ao cenário escolar na perspectiva renovada da educação para a saúde, onde todas as áreas de conhecimento, a exemplo da Educação Física, devem contribuir para seu aproveitamento. Segundo o próprio texto do documento, o complexo processo saúde/doença já justificaria a escolha da educação para a saúde como tema transversal (que nesta proposta ficou apenas com o termo Saúde), pois, como tal, precisa de múltiplos olhares para formar no educando a consciência que se espera que ele tenha deste complexo processo. A estratégia é recompor os conhecimentos do processo saúde/doença que foram fragmentados ao longo da história através da criação e especialização de várias subáreas. Bem como, contextualizá-lo nos aspectos ambientais, sociais, culturais, econômicos e políticos, além, é claro, de manter sua raiz na biologia, mas, desta feita, contextualizada em todos esses aspectos aqui abordados. Eixo articulador: eixo con- dutor da proposta em que to- das as sugestões se articu- lavam e se amoldavam. 64 UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE Pelo que já foi visto até agora, a contribuição da Educação Física com a educação para a saúde deve ser total, haja vista que o conteúdo da área é privilegiado no que tange atingirmos os objetivos da educação para a saúde. Prova disso é o Art. 7 do Manifesto Mundial da Educação Física apresentado pela Federação Internacional de Educação Física – FIEP em Janeiro de 20002 que traz: A Educação Física, para que exerça sua função de Educação para a Saúde e possa atuar preventivamente na redução de enfermidades relacionadas com a obesidade, as enfermidades cardíacas, a hipertensão, algumas formas de câncer e depressões, contribuindo para a qualidade de vida de seus beneficiários, deve desenvolver hábitos de práticas regular de atividades físicas nas pessoas. Corroborando com o nosso pensamento, Guedes (1999), afirma que a Educação para a Saúde deve avançar para além dos referenciais biológicos e higienistas e se concentrar, principalmente, num contexto didático- pedagógico, em que a Educação Física tem fórum privilegiado em razão das características de seu objeto de estudo e de sua atuação. Podemos até imaginar uma aula de Educação Física escolar onde o(a) professor(a) solicita aos alunos que falem sobre a importância da atividade física no combate à obesidade. De posse das respostas e discussões que devem se seguir à pergunta do professor, este elabora um plano de ação para tratar do tema, apresenta este plano aos demais professores e equipe técnico-pedagógica da escola para as possíveis retificações e contribuições. Depois dos ajustes à proposta, devem abordar o tema transversalmente em suas disciplinas. Com esta estratégia, os educandos receberão informações de várias áreas do conhecimento convergindo para o tema escolhido pela escola. Esta mesma estratégia pode ser usada para outros temas transversais, o importante é que haja planejamento e cumplicidade na execução da proposta. O conteúdo da área de Educação Física proposto nos PCNs traz três grandes blocos de conteúdo que se relacionam entre si, porterem vários conteúdos comuns, mas salvaguardando suas especificidades. São eles: · esportes, jogos, lutas e ginástica; · atividades rítmicas e expressivas; · conhecimento sobre o corpo. Este último bloco, além de se relacionar com os demais, deverá ser transversal aos outros dois, ou seja, se estivermos tratando da seleção de conteúdo para uma aula específica, teremos que colocar no planejamento um momento para falarmos sobre o corpo. Objeto de estudo: termo uti- lizado na academia (universi- dade) para se referir ao con- teúdo temático de investiga- ção e produção de uma deter- minada área de conhecimen- to. 65 ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE Este corpo aparece nas suas mais complexas e dissociáveis dimensões, mas uma das principais dimensões é dada a conquista e manutenção da saúde e do estilo de vida positivo. Este tema que ao longo do nosso curso escutamos e haveremos de escutar mais e mais, é que justifica esta disciplina. Acredito, que a esta altura, você já pôde perceber. Mas, vamos adiante para entendermos melhor a dimensão da Educação Física na Educação para a Saúde. Ao promulgar a Carta Brasileira de Educação Física, o CONFEF trouxe a público sua intenção de construção de uma Educação Física de Qualidade, conduzida por profissionais habilitados e com compromisso técnico, pedagógico e ético de desenvolver nos brasileiros o estilo de vida ativo, além de contribuir para a melhoria da saúde e qualidade de vida da população. O sistema CONFEF/CREFs defende uma Educação Física de Qualidade, apoiada na ética e na conduta profissional voltada ao estilo de vida ativo. Visite a Carta Brasileira de Educação Física, encontrada na página do CONFEF na net. http://www.confef.org.br/extra/resolucoes/conteudo.asp?cd_resol=82 Esta proposta referencia-se no compromisso de desenvolver nas pessoas o entendimento do papel da atividade física na promoção da saúde, através de atividade interdisciplinares. Outro documento que reforça o compromisso da área de Educação Física com a saúde foi promulgado pelo CONFEF em 2005. Intitulado: Carta Brasileira de Prevenção Integral na Área de Saúde. Esta carta de intenções foi respaldada pelos conselhos das demais área da saúde no Fórum Nacional de Prevenção Integral na Área de Saúde, realizado na cidade de Belo Horizonte em Setembro de 2005. Foi por este motivo, reconhecendo a importância da prevenção, que o Fórum foi realizado, buscando a intermediação do saber e do fazer próprio de cada área para construção do elo entre teoria e prática de forma interdisciplinar. O foco na prevenção, que faz parte da atenção básica à saúde, foi entendido e acordado como prioritário na construção de Políticas Públicas de Saúde. Deste entendimento, surgiu a propositura da Carta Brasileira de Prevenção Integral na Área de Saúde. Para construção filosófica do documento, elegeu-se o Prof. Dr. Manoel José Gomes Tubino, ou “simplesmente” Profº Tubino, como é mais conhecido este baluarte da Educação Física brasileira e mundial. Gostaria inclusive de convidar você a ler o documento na íntegra3 para que possa perceber de maneira mais clara, o atual momento da Educação Física frente aos desafios modernos de combate ao sedentarismo e difusão dos conhecimentos sobre o estilo de vida positivo e da atividade física como meio de se alcançar e manter a saúde. Prevenção: na ótica do tex- to da carta, significa tratar de se antecipar, de fazer lei- tura prévia e identificação de situações sociais inadequa- das que, a curto, médio e longo prazo, possam trazer prejuízos à população e que, por este, fato precisa de controle. 66 UNIDADE 5 - EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE Nesta proposta, a Educação Física volta à Educação para a Saúde, toma ainda mais força, pois é entendida como direito humano de todas as pessoas principalmente das crianças. Farei, então, alguns “recortes” desta carta. Ao falar do conceito de prevenção e promoção da saúde, o relator anuncia que esta tarefa será melhor alcançada por meio de ações interdisciplinares e intersetoriais, reforçando o que já estudamos antes. Enquanto estratégia interdisciplinar e intersetorial, a promoção da saúde deverá unir esforços das áreas de Assistência Social, Biologia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Terapia Ocupacional e outros, na perspectiva de ação coletiva. A propósito, todas estas áreas estiveram representadas pelos seus respectivos Conselhos no Fórum em questão. Embora seja unânime o reconhecimento da contribuição de todas as áreas a favor da prevenção e promoção da saúde, há um consenso internacional no mundo científico de que a atividade física é imprescindível para o sucesso de qualquer ação neste sentido. Mas, é bom lembrá-lo com base ainda no texto da Carta, que para a atividade física se configurar em atitude positiva para a saúde, precisa ser desenvolvida num contexto de Educação Física, ou seja, num processo educacional, seja por vias formais (escola) ou não-formais (fora da escola). Cabe, então, a Educação Física promover ações que favoreçam a Educação para a Saúde, respeitando o direito de todos às atividades físicas sistematizadas e culturalmente acumuladas, em forma de jogos, esportes, danças, ginásticas e lutas, respeitando também as leis biológicas e os aspectos culturais, sociais, políticos e filosóficos das pessoas, assim como, as ações interdisciplinares, seja no contexto da escola ou fora dela. Sempre voltada para o objetivo de fomentar o conhecimento e a adoção de um estilo de vida positivo, em que a prática de atividade física se configure como estratégia principal. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá- lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Chegamos ao fim do nosso estudo. Espero que tenhas gostado. Foi ótimo estar contigo. Até outra oportunidade e sucesso daqui para frente! Depois dessa longa jornada, sinta-se convidado a ser mais um “amante da sabedoria,” “da saúde e do estilo de vida ativo”.
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