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ENFOQUES METODOLÓGICOS: A CRIANCA, O ESPAÇO E O TEMPO MARÍLIA GIL DE SOUZA ENFOQUES METODOLÓGICOS – A CRIANÇA, O ESPAÇO E O TEMPO Taubaté Universidade de Taubaté 2014 Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico e Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me.Benedito Fulvio Manfredini Marília Gil de Souza Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas/UNITAU S729e Souza, Marília Gil de Enfoques metodológicos: a criança, o espaço e o tempo / Marília Gil de Souza. Taubaté: UNITAU, 2010. 101p. : il. Bibliografia ISBN 978-85-62326-34-9 1. Metodologia de ensino. 2. Prática pedagógica. 3. Ensino de geografia. 4. Ensino de história. 5. Inclusão. 6. Crianças com necessidades especiais. I. Universidade de Taubaté. II. Título. PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor Apresentação Caro aluno, este módulo tem como proposta a qualificação da formação inicial e continuada do professor das séries iniciais do ensino fundamental, visando à operacionalização da prática do ensino em Geografia e História. O módulo objetiva sua especialização na prática do magistério, desejando que você faça do seu trabalho uma prática transformadora, permitindo ousar, dar passos além, cativar o aluno para o conhecimento desta que, a meu ver, é a disciplina-eixo do currículo escolar, a Geografia/História. Sobre a autora Marília Gil de Souza é graduada em História pela Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá – FEPI (1987; 1989), especialista em História – Ênfase: Movimentos Sociais na Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá – FEPI (1990; 1991) e especialista em História Moderna e Contemporânea pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF (1993;1994). Já trabalhou na rede pública estadual, municipal e particular de Minas Gerais e de São José dos Campos, onde atuou no ensino fundamental 1 e 2 e no ensino médio. Já trabalhou também na FEPI, onde atuou como professora universitária no curso de História. Atualmente, leciona Geografia no Anglo Cassiano Ricardo em São José dos Campos-SP, no Colégio Fênix em Guaratinguetá-SP e no curso G9 em Itajubá- MG. Caros(as) alunos(as), Caros( as) alunos( as) O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Paraa resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos, caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU Sumário Palavra do Reitor ............................................................................................................. ix Apresentação ................................................................................................................... xi Sobre as autoras ............................................................................................................. xiii Caros(as) alunos(as) ....................................................................................................... xv Ementa .............................................................................................................................. 1 Objetivos ........................................................................................................................... 3 Introdução ......................................................................................................................... 5 Unidade 1. Eixos geradores do conhecimento curricular de Geografia e História . 7 1.1 Pressupostos teóricos do ensino de História e Geografia ........................................... 7 1.2 Eixos geradores do conhecimento ............................................................................ 13 1.3 Metodologia do ensino da História e Geografia e a prática pedagógica em sala de aula ................................................................................................................................. 16 1.4 Síntese da Unidade ................................................................................................... 19 1.5 Atividades ................................................................................................................. 19 1.6 Para Saber Mais ........................................................................................................ 22 Unidade 2 Estudos de Geografia fundamentos e procedimentos metodológicos ... 25 2.1 Estudos de Geografia ................................................................................................ 25 2.2 PCN de Geografia para o 1º e 2º ciclos .................................................................... 26 2.3 O trabalho coletivo na escola.................................................................................... 28 2.4 Conteúdos e métodos em Geografia na sala de aula nas sérias iniciais do ensino fundamental .................................................................................................................... 29 2.5 Recursos Didáticos ................................................................................................... 47 2.6 Alfabetização Cartográfica ....................................................................................... 48 2.6.1 Orientação Espacial ............................................................................................... 49 2.6.2 Coordenadas Geográficas ...................................................................................... 50 2.7 Mapas ....................................................................................................................... 51 2.7.1 Um pouco da história da cartografia ..................................................................... 51 2.7.2 O trabalho com mapas na escola ........................................................................... 52 2.7.3 Escala ..................................................................................................................... 54 2.7.4 Projeções cartográficas .......................................................................................... 55 2.8 Síntese da Unidade ................................................................................................... 56 2.9 Atividades ................................................................................................................ 56 2.10 Para saber mais ...................................................................................................... 58 Unidade 3. Ensino de História – fundamentos e procedimentos metodológicos ..... 59 3.1 Ensino de História .................................................................................................... 59 3.2 PCN de História para 1º. e 2º ciclos ......................................................................... 61 3.3 Objetivos do ensino de História .............................................................................. 64 3.4 Conteúdos e métodos em História na sala de aula nas séries iniciais do ensino fundamental .................................................................................................................... 65 3.5 O Estudo do meio como recurso didático ................................................................. 72 3.6 Iconografia ................................................................................................................ 73 3.7 O Tempo ................................................................................................................... 75 3.8 História do Brasil ...................................................................................................... 77 3.8.1 Os Indígenas: localização e cultura ....................................................................... 78 3.8.2 O colonizador: localização e cultura ..................................................................... 78 3.8.3 A organização da vida brasileira pelos portugueses .............................................. 80 3.8.4 A escravidão negra: o encontro das culturas ........................................................ 82 3.9 Como utilizar documentos históricos na sala de aula ............................................... 84 3.10 Síntese da unidade .................................................................................................. 85 3.11 Atividades ............................................................................................................... 86 3.12 Para saber mais ....................................................................................................... 88 Unidade 4. A Inclusão de crianças com necessidades especiais e o ensino de História e de Geografia ................................................................................................ 89 4.1 Considerações ........................................................................................................... 90 4.2 Adaptações do método de ensino e da organização didática .................................... 90 4.3 Adaptações do sistema de avaliação ......................................................................... 91 4.4 Cuidados metodológicos........................................................................................... 93 4.5 Síntese da Unidade ................................................................................................... 94 4.6 Atividades ................................................................................................................. 94 4.7 Para saber mais ......................................................................................................... 95 Referências .....................................................................................................................97 Referências complementares .......................................................................................... 98 11 ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. Enfoques Metodológicos A Criança, o Espaço e o Tempo Ementa EMENTA Aplicação de procedimentos metodológicos de projetos interdisciplinares visando à formação e compreensão da noção de espaço e tempo na criança. O desenvolvimento de capacidades cognitivas, emocionais e motoras que favoreçam o aprender brincando. A compreensão da criança como ser histórico e geográfico. As relações espaço temporais. A relação espacial entre as próprias crianças e entre as crianças e os objetos. A percepção da criança em relação ao tempo natural e histórico. As necessidades essenciais da criança como um ser social: habitação, saúde, educação e lazer. A situação da criança no espaço geográfico: a casa, o bairro, a cidade, o estado, o país, o continente, o mundo. O pensamento da criança sobre o meio social. O homem e sua capacidade de intervir na natureza, produzir e transformar a sociedade. 22 33 Objetivo Geral Oportunizar ao aluno-mestre ser um elemento ativo no seu próprio processo de ensino-aprendizagem por meio do exercício dos seus processos de pensamento, estimulando-o durante todo o módulo e garantindo a articulação entre conhecimento teórico e prática profissional no estudo dos fundamentos e das metodologias do ensino de Geografia e História, para o 1º e 2º ciclos do ensino fundamental. Buscar a recuperação de suas vivências escolares em sua formação precedente, proporcionando-lhe uma reflexão sobre elas e permitindo-lhe vivenciar o exercício do ensino interdisciplinar de História e Geografia junto aos alunos das séries iniciais. Obj eti vos Objetivos Específicos Aplicar procedimentos metodológicos de projetos interdisciplinares em Geografia e História, visando à formação e compreensão da noção de espaço e tempo na criança; Elaborar planejamentos que incluam o lúdico no processo ensino aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento de capacidades cognitivas, emocionais e motoras que favoreçam o aprender brincando; Utilizar práticas pedagógicas que favoreçam a concepção da criança como ser histórico e geográfico, Desenvolver criativamente materiais e procedimentos didáticos que facilitem a compreensão, pela criança, das relações espacial e temporal; 44 Desenvolver criativamente materiais e procedimentos didáticos que facilitem a compreensão, pela criança, da relação espacial entre as próprias crianças e entre as crianças e os objetos; Desenvolver projetos interdisciplinares e sequências didáticas que conduzam ao conhecimento, à reflexão e à prática cidadã da criança nos seguintes espaços geográficos: casa, bairro, cidade, estado, país, continente, mundo; Aplicar uma prática pedagógica que permita desenvolver o pensamento da criança sobre o meio social e sua capacidade de intervir na natureza, produzir e transformar a sociedade; Aplicar os fundamentos básicos da inclusão de crianças com necessidades educativas especiais em escolas regulares, utilizando ferramentas em História e Geografia que facilitem essa inclusão. 55 Porta-fólio é uma coleção organizada de trabalhos produzidos por um aluno ao longo de um período de tempo. Introdução As páginas que se seguem, em conjunto com a realização de atividades propostas, pretendem proporcionar momentos de reflexão sobre a organização do trabalho pedagógico no ensino de Geografia e História. Com essa preocupação, apresento quatro grandes temáticas de estudo: a razão de estudar Geografia e História, presente na primeira Unidade; os fundamentos e o estudo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Geografia e História, presentes na primeira e terceira Unidades; a prática pedagógica do ensino de Geografia e História, presente na segunda e quarta Unidades, contemplando também uma reflexão sobre avaliação e tentando aproximá-la de uma realidade mais concreta, vivida cotidianamente pelo professor; uma reflexão sobre a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais, e o programa sugerido pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), objetivando humanizar essa prática tão mal aplicada pelos educadores de uma maneira geral, presente na quarta Unidade. Visando a facilitar o aprendizado, de um modo geral, os capítulos têm uma estrutura semelhante. Depois da apresentação do conteúdo de cada Unidade, você encontrará uma síntese do que foi nela discutido e poderá verificar seu nível de apreensão do conhecimento, por meio de atividades propostas. Além disso, caso deseje aprofundar-se no tema, apresento sugestões de livros, filmes e outros materiais pertinentes aos temas abordados. Há também a indicação de atividades práticas, que visam provocar a reflexão entre teoria e prática, bem como contribuir para a elaboração do seu porta-fólio pessoal. Enfim, este material foi pensado como contribuição para a formação da prática docente, que, acredito, deve ser alicerçada em sólido conhecimento teórico. 66 77 Unidade 1 Unidade 1 . Eixos geradores do conhecimento curricular de Geografia e História 1.1 Pressupostos teóricos do ensino de História e Geografia Você já se perguntou por que estudar História e Geografia? Podemos pensar que a História e a Geografia fazem parte de nossa vida cotidiana, porém podemos também estudá-las formalmente na escola. A história da educação no Brasil registra que História e Geografia sempre foram parte essencial do currículo escolar da educação básica. Na época dos jesuítas, eram dadas como conteúdo a História Sagrada ou as Histórias de vidas de santos (hagiografia) e seus conteúdos eram combinados com os da Geografia, o que acabou dando início à disciplina de Estudos Sociais. Podemos argumentar, porém, que estudar detalhes das sociedades antigas certamente não aumenta muito nossas chances de nos darmos bem na vida, pois nenhuma empresa vai contratar um funcionário baseando-se no fato de que ele tem ótimos conhecimentos de História da Grécia ou sabe o nome das capitais de todos os países do mundo, por exemplo. Por isso, muita gente acha que História e Geografia são disciplinas que não servem para nada. Porém, isso não é verdade. Estudar História e Geografia é, sim, muito importante para nos darmos bem na vida. Vejamos os argumentos, abaixo, que comprovam isso. Moreira (2008) afirma que o ser humano não é simplesmente uma coisa entre outras, um ser que pouco ou nada faz além de trabalhar e consumir. Pelo contrário, o ser humano é um ser de cultura, e é isso que faz a vida humana tão variada e rica. Sob esse 88 ponto de vista, podemos concluir que História e Geografia são disciplinas muito importantes. Elas nos tornam mais conscientes de nossa identidade social. Em sua obra, Moreira (2008) dá-nos um exemplo interessante que ilustra melhor o papel da História e da Geografia em nossa vida. O exemplo foi tirado do filme Blade Runner, o caçador de androides, do diretor Ridley Scott, a saber: “Uma das personagens do filme,suposta filha de um cientista importante, descobre que é na verdade um androide, isto é, uma máquina com forma humana. Todas as lembranças que ela tinha desde a infância não eram experiências reais que tinha vivido, mas informações implantadas pelo cientista em seu cérebro cibernético. A partir do momento em que descobre a verdade sobre si mesma, ela passa a viver uma crise existencial. Tal crise, no entanto, não se deve à indignação por a terem feito de tola, mas sim, ao fato de não ter mais certeza de quem era realmente”. Você já assistiu a esse filme? Assista e reflita. Esse conflito da personagem significa que é por meio de nossas experiências passadas que construímos para nossa própria identidade. Sabemos quem somos no presente porque podemos estabelecer relações entre as experiências que vivemos no passado e que nos tornaram o que somos hoje. É exatamente por termos consciência de nossa própria identidade que somos capazes de agir efetivamente no presente. É por conhecermos nosso próprio passado que somos capazes de entender nosso papel no presente e agir no mundo de modo a transformá-lo no futuro. Pense a respeito da sua identidade individual. Quem é você? Qual seu papel no mundo? Como pode transformar a sociedade em que vive de modo a melhorá-la? Se pensar melhor, concluirá que não temos somente uma identidade individual, temos também uma identidade social. Somos, por exemplo, paulistas. Existe uma identidade comum a todos os paulistas do norte ou sul de São Paulo, que ultrapassa todo o âmbito da individualidade de ser de Taubaté. O “ser paulista” já existia antes do nosso nascimento e, provavelmente, vai continuar existindo mesmo que mudemos para a França ou outro lugar qualquer. “Ser paulista” é parte essencial do que somos hoje, com nosso sotaque, nossos hábitos alimentares, nosso vocabulário específico. Conhecer e 99 compreender a história do povo paulista e a geografia do estado de São Paulo é, portanto, conhecer-nos e compreender-nos melhor também. Enfim, o estudo da História e da Geografia aguça e amplia nossa compreensão da realidade social e nos ajuda a nortear a ação social no presente. Agora que foi mostrada a importância do estudo da História e da Geografia, podemos pensar: O que estudar em História e Geografia? Como desenvolver esse estudo? Vamos pensar a respeito disso? Leia antes a fala de Pinsky e Pinsky (2005): [P] para informar aí estão, bem à mão, jornais e revistas, a televisão, o cinema e a internet. Sem dúvida que a informação chega pela mídia, mas só se transforma em conhecimento quando devidamente organizada. E confundir informação com conhecimento tem sido um dos grandes problemas de nossa educação [...]. Exatamente porque a informação chega aos borbotões, por todos os sentidos, é que se torna mais importante o papel do professor (PINSKY e PINSKY, 2005, p. 23). Diante desse pensamento, faz-se necessário selecionar conteúdos para trabalhar e questionar sempre por que ensinar o conteúdo escolhido e para que ele serve em sala de aula. Partindo do pressuposto de que a História e a Geografia estudam a experiência das pessoas no tempo e no espaço, a prática educativa do professor deve contemplar o fato de que cada aluno, para além das experiências vividas por outras pessoas em outros tempos e espaços, tem suas próprias experiências. O ensino de Geografia e História pode levar os alunos a compreenderem, de forma mais ampla, a realidade, possibilitando que nela interfiram de maneira mais consciente e propositiva. Para tanto, porém, é preciso que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e procedimentos básicos. Diante disso, o campo do conhecimento opera e constitui suas teorias e explicações, de modo a poder não apenas compreender as relações socioculturais e o funcionamento da natureza, às quais historicamente pertence, mas também conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade: o conhecimento geográfico e histórico. 1100 Como fazer isso é o nosso grande desafio metodológico, que veremos no item 1.3. Em relação ao porquê de fazermos isso, observe a reflexão de Miceli (2000): [É] é do que somos – ou julgamos ser – que devem partir as perguntas para que possamos ser o que queremos (ou precisamos) ser, não para julgarmos se o que se fez no passado esteve ou não correto – ambição de toda História e Geografia moralista – mas para entender, mesmo que seja à custa desse passado, por que fazemos o que fazemos hoje, apesar de tantas lições esclarecedoras. [...] Enquanto essas questões não levarem à insônia os professores de História e Geografia, eles continuarão pregando para as pedras do deserto e ninguém prestará atenção neles. Parece mais interessante ver surgir, lentamente, um fungo de um pedaço de algodão umedecido do que ouvir relatos sobre a formação e desintegração de grandes impérios, ou sobre a vegetação de um Estado. [...] Parece e é, porque o fungo, na sua modéstia, representa uma criação. É algo novo que surge à frente de quem aprende cheira à vida, enquanto a História e a Geografia cheiram à poeira, a coisa velha e cheia de traças e retratos de mortos famosos e carrancudos, com bigodões e óculos fora de moda, descrição fria de paisagens e locais (MICELI, 2000, p. 13). Como o aluno apreende os conceitos históricos e físicos? Primeiramente, devemos lembrar o que a didática já postula incansavelmente: o nosso ponto de partida é a experiência do aluno. No dia a dia, eles já manejam determinados conceitos, como economia, sociedade, tempo, cultura, espaço, porém, de maneira assistemática. Portanto, o conhecimento que o aluno traz de casa e que deve ser valorizado é o ponto de partida. Nossa meta deve ser a ultrapassagem desse ponto, pois se for para o aluno reproduzir o que já sabe, de que adianta a escola? Mas fazer isso não é simples. Os conceitos de História e Geografia são noções abstratas, como o conceito de tempo, rotação, translação, cultura, e, quanto mais novo for o aluno, mais difícil é para ele compreender esses conceitos. Por isso, caro aluno, o trabalho do professor não deve ser somente o de construir conceitos, mas também sistematizar esse conhecimento, por meio de práticas realizadas na realidade do aluno com projetos interdisciplinares que objetivam modificar ou conhecer o ambiente em que se vive. 1111 Fontes primárias são todos os documentos e objetos, a partir dos quais o historiador constrói sua narrativa. Fontes secundárias é o conhecimento histórico já acumulado, o mesmo que historiografia. Para ajudar você a entender como apresentar o conceito dentro da sua historicidade e espaço próprio e fazer com que o conceito seja compreendido, Schmidt e Cainelli (2004) sugerem: 1. Identificar os conceitos em fontes primárias e/ou secundárias; 2. Orientar a organização dos conceitos com base em algum critério de classificação; 3. Identificar conceitos em fontes diferentes, compará-los, observando as semelhanças e diferenças; 4. Comunicar os conceitos em diferentes contextos, como frases, parágrafos, dissertações, temas e narrativas (SCHMIDT E CAINELLI, 2004, p. 25). Em relação a conceitos, devemos ter cuidado para não reproduzir estereótipos quando não há uma necessária reflexão a respeito. Por exemplo, o conceito de região nordeste que se tem introjetado como o de região pobre, povoada por pessoas sem cultura, e como uma “sub-raça”. Essa ideia do nordestino pobre e sem ação é repassada em poesias, imagens, músicas. Um sólido conhecimento de História e de Geografia pode evitar esses estereótipos.Vale lembrar que construir conhecimento, a partir do cotidiano do aluno e da sua realidade, ajuda a formação da sua identidade individual e social. A partir do cotidiano, a criança e o adolescente constroem, junto às demais pessoas que o cercam, a sua identidade. Lembra-se da referência que fiz ao filme Blade Runner, o caçador de andróides? É a questão da identidade novamente em nossa pauta de discussão. Mas não se trata apenas de uma transmissão de valores de uma geração para outra, dentro de um mesmo grupo e de uma cultura sobre o meio ambiente. A construção da identidade é mais complexa. Vamos aprofundar um pouco esse assunto da identidade? Construir sua identidade supõe os contrastes: eu sou o que o outro não é. Mas lembro que a realidade do aluno é somente ponto de partida do trabalho docente, pois nosso trabalho é caminhar com os conceitos conduzindo-o ao acesso ao patrimônio 1122 Diacrônico: diz-se dos acontecimentos que ocorreram em temporalidades diferentes. Assumir uma perspectiva diacrônica significa perceber determinado fenômeno no decorrer da passagem do tempo. cultural da humanidade, imprescindível para a nossa compreensão enquanto sujeitos no mundo. Diante do que refletimos, anteriormente, o que fazer? Para que sejam ricas em significado, as aulas de História e Geografia devem abarcar a realidade local, mais imediata, tendo como ponto de partida o que o aluno já conhece. Mas não se trata apenas de constatar o já conhecido, mas também lançar um olhar novo sobre o cotidiano, assumir, junto com o aluno, uma postura de dúvida. Por exemplo: por que praticamente todo município tem uma rua ou praça chamada Tancredo Neves? Para nós, a resposta é evidente. Para o nosso aluno, não. O mesmo pode ser feito a partir da observação de prédios antigos, da entrevista com pessoas mais velhas, da observação do espaço geográfico da escola (por meio de uma excursão por todos os ambientes da escola). Nosso papel, enquanto professores de História e Geografia, é auxiliar o aluno na transposição dessa visão parcial e fragmentada da realidade para uma mais sistemática, que leve em consideração a perspectiva diacrônica e as relações que sua realidade mais próxima estabelece com contextos sociais mais amplos. Deu para perceber que essa abordagem, a partir do conhecimento do aluno, é imprescindível, se desejamos fazer de nossas aulas uma oportunidade para a reflexão acerca da identidade. Espero que sim. Para você fazer uma auto-avaliação sobre o que acabamos de estudar nesta subunidade, sugiro alguns exercícios no final deste capítulo. Faça-os e avalie-se. Tenho certeza de que vai gostar da prática. 1133 1.2 Eixos geradores do conhecimento Os eixos geradores do conhecimento formam o que chamamos de estrutura conceitual básica de uma disciplina. Os conceitos básicos são instrumentos de trabalho para a análise e compreensão da realidade. Os conceitos de espaço e tempo são básicos no estudo da Geografia e da História. É nessas duas dimensões que as relações sociais humanas travam-se, transformando a natureza, produzindo cultura, construindo a história. Vamos, pois, falar desses conceitos tão importantes do espaço e tempo. O espaço ganha existência concreta e visível no chão que pisamos, na terra que habitamos (espaço geográfico). O tempo ganha existência concreta e visível nos dias e nas noites que se sucedem, nas condições meteorológicas (sol, chuva, ventos), por exemplo. Mas além da experiência concreta, espaço e tempo ganham dimensão abstrata, não visível, por meio do espaço social (relações sociais humanas) onde vivemos, que é distinto do chão ou espaço geográfico que ocupamos. Por meio dessas relações, os homens produzem cultura concreta (objetos, instrumentos) e abstrata (normas de comportamento social). Com os eixos básicos de conhecimento de tempo e espaço, podemos pensar agora em definir conteúdos a serem trabalhados em História e Geografia. Vamos conhecer a proposta programática dos PCN, enriquecida por outra proposta apresentada por Penteado (2008). Penteado (2008) sugere uma programação com os eixos geradores do conhecimento, a partir de três níveis de aprendizagem: o exploratório, o específico da série e o de ampliação. Nível exploratório de formação de conceitos Proporcionará experiências e/ou vivências em todas as séries, proporcionando aos alunos condições de amadurecimento para a formação de conceitos específicos a serem trabalhados nas séries seguintes. 1144 Nível de desenvolvimento de conceitos específicos da série Explorará em todas as séries as experiências que os alunos já têm ao chegar à escola, relativas aos conceitos específicos da série. Privilegiará o trabalho com conceitos específicos da série. Nível de ampliação dos conceitos Cuidará para que os conceitos já trabalhados especificamente em séries anteriores sejam continuamente retomados e ampliados nas séries seguintes. Baseados nesses níveis de aprendizagem, temos condições de entender a proposta de Penteado (2008) e do MEC (1998). Observe-a, para depois comentá-la em unidades posteriores. PROPOSTA CURRICULAR - EIXOS GERADORES DO CONHECIMENTO Séries Nível 1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano Ex p lo ra tó ri o (v iv ê n ci as ) - Relações sociais - Espaço - Tempo - Natureza - Cultura: .História local e do cotidiano .Comunidade indígena - Relações sociais -Tempo geográfico: dias do mês (cronologia) -Tempo histórico: hoje, ontem, amanhã, presente, passado, futuro. - Relações sociais - Relações sociais - Relações sociais 1155 Es p e cí fi co d a sé ri e -O estudo da paisagem local -Nomear elementos componentes das paisagens -Representar o espaço escolar -Espaço: . divisões: domínios e fronteiras -Representação espacial -Representação terrestre: . globo . mapa-múndi - Natureza: . água e terra - Cultura: . na água e na terra .História local e do cotidiano .Comunidade indígena - Espaço terrestre: .orientação: norte,sul, leste, oeste .divisão: continentes e oceanos . movimento de rotação da Terra - Tempo geográfico: .calendário, dia, hora -Tempo histórico: .transformações: natureza e cultura, ontem e hoje - Representação temporal: . tempo de curta duração -Cultura: .História local e do cotidiano .Comunidade indígena Espaço terrestre: .movimento de translação .divisão política: país -Espaço Brasil: .divisão política -Espaço local: .município -Tempo histórico: .pessoa, local, longa duração - História das organizações populacionais: -Deslocamentos populacionais -Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos -Organizações políticas e administrações urbanas -O papel das tecnologias na construção de paisagens urbanas e rurais. -Informação, comunicação e interação -Distâncias e velocidades no mundo urbano e no mundo rural -Urbano e rural: modos de vida -Tempo histórico e espaço geográfico brasileiro ontem e hoje -Etnias formadoras do povo brasileiro, ontem e hoje - História das organizações populacionais: -Deslocamentos populacionais -Organizações e lutas de grupossociais e étnicos -Organizações políticas e administrações urbanas -O papel das tecnologias na construção de paisagens urbanas e rurais. -Informação, comunicação e interação -Distâncias e velocidades no mundo urbano e no mundo rural -Urbano e rural: modos de vida Séries Nível 1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano 1166 A m p lia çã o - Deslocamento espacial escolar - Relações sociais escolares - Vocabulário oral - Natureza - Cultura - Espaço - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Tempo - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Tempo -Vocabulário oral e escrito 1.3 Metodologia do ensino da História e Geografia e a prática pedagógica em sala de aula Se fizermos uma retrospectiva pedagógica, veremos que os procedimentos que marcaram o ensino de História contemplaram listas de heróis desvinculados de seu contexto, agindo de maneira inesperada, cheios de bondade, em datas aleatórias. O apego à ordem cronológica dos acontecimentos, como se a História se desenvolvesse num sentido único, também é um procedimento forte. Em Geografia, não foi diferente. Os professores passavam extensas listas de nomes de acidentes geográficos, bem como enormes listas indicando altitudes de picos, montanhas e planaltos, extensão de rios etc, como se esses dados fossem todos independentes entre si, eternos, constantes e estáticos. Você chegou a ter aulas assim? Com certeza, um ou outro professor deve ter usado essa metodologia, pois não é tão difícil assim encontrar práticas pedagógicas reprodutivistas. Atualmente, a pedagogia orienta para o desenvolvimento de temas que facilitam abordagens históricas e geográficas integradas, por meio dos famosos projetos interdisciplinares ou da pedagogia de projetos, baseados em eixos geradores do conhecimento, como já vimos anteriormente. A proposta metodológica é iniciar no estudo da escola e terminar no estudo do mundo, passando, sucessivamente, pela família, bairro, município, estado, país. Os princípios que norteiam essa forma de organização dos eixos geradores do conhecimento (e contribuem para que o processo de aprendizagem ocorra mais facilmente) são: Séries Nível 1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano 1177 - quando se faz do “próximo” para o “distante”: estuda-se primeiro a escola e depois a cidade; - quando caminha do “concreto” para o “abstrato”: estuda-se primeiro animais, na própria sala de aula, como um peixinho no aquário e depois a baleia, por exemplo; - quando se caminha da “parte” para o “todo”: estudam-se as plantações começando por observar uma fruta para depois ver a plantação como um todo; - quando se parte do “simples” para o “complexo”: estuda-se o bairro para depois ver o município. Porém precisamos questionar a maneira radical em agir sempre assim, pois a experiência tem nos mostrado que a aprendizagem se faz num movimento constante que vai tanto das partes para o todo como do todo para as partes ao longo de todo o processo. Será que é melhor estudar uma abelha em suas partes para depois ver toda a colmeia e sua produção? A metodologia a ser usada vai depender da situação que professores e alunos estão vivendo. Também podemos pensar que é concreto para o aluno aquilo que ele acredita que realmente existe, como fadas, duendes, amigos imaginários. É “próximo” do aluno aquilo que, pela significação e importância por ele atribuída, passa a fazer parte de sua realidade, como uma bicicleta que ele vai ganhar no natal e que só viu num comercial de televisão. Inicialmente, é importante proporcionar à criança a oportunidade de lidar com o espaço dominável por ela, por meio, por exemplo, de atividades lúdicas. A cada experiência realizada, seguir-se-ia, imediatamente, a confecção de um desenho que a representaria. Com essas situações, a criança vivenciaria noções de dentro e fora, limites e fronteiras. Ela seria iniciada em uma representação espacial por meio do desenho feito após cada experiência e trabalharia adequadamente para esse fim. Depois disso, a passagem para mapas e globo seria uma questão de grau, uma vez que a confecção de tais representações, por profissionais, é facilmente compreensível para a criança pelo recurso do desenho, da fotografia, quando vivenciados por ela. 1188 Vamos lembrar a ideia do subtema anterior que nos recomenda trabalhar a partir da realidade e das experiências do aluno. Até chegar ao 1º ano, a criança já viveu no mínimo 6 anos na sua família, tendo, portanto, dominado os conhecimentos necessários para sobreviver, bem como os conhecimentos sobre o bairro onde vive. O que temos visto é que a escola desconsidera esse conhecimento e trabalha um modelo de família e de lar estereotipado (papai-mamãe-filhinho), que nada tem a ver com a realidade vivida pelo aluno no grupo social (pais separados, mães solteiras, avós assumindo netos, homossexuais adotando filhos). São comuns nos livros de História, Geografia ou Estudos Sociais cenas como a de um casal de cor branca, sentado em torno de uma mesa farta, numa sala limpa e agradável, acompanhado de duas ou três crianças, para representar a família reunida na hora da refeição. Acompanha o desenho um texto que é lido sem questionamentos e análises, com os dizeres: Esta é minha família. Pergunto: À família de quantos de nós, alunos e professores, corresponde esse modelo? A escola deveria ter um pouco mais de senso de realidade. Na escola, vemos um trabalho formal e vazio, no qual as crianças não sabem direito o nome da professora, dos colegas, da diretora. Os conceitos básicos que formam os eixos geradores de conhecimento de Geografia e História, já citados no subitem anterior, são um instrumento necessário para a organização do trabalho escolar na perspectiva de cidadãos críticos e atuantes na sociedade. Para concluir, podemos dizer que é preciso substituir a apreensão fragmentada da vida social, à qual os alunos estão sendo expostos, por uma compreensão articulada da vida social, no seu funcionamento e na sua historicidade. Somente, assim, formaremos sujeitos críticos, capazes de uma atuação consequente de sua realidade. 1199 1.4 Síntese da Unidade Esta unidade apresentou, no item 1.1, as razões que justificam estudar História e Geografia e os pressupostos teóricos dessas disciplinas, enfatizando como o aluno aprende os conceitos históricos e físicos. Conclui mostrando como o estudo da História e da Geografia aguça e amplia nossa compreensão da realidade social e no ajuda a nortear a ação social no presente. Apresenta também, no item 1.2, os eixos geradores do conhecimento que formam o que chamamos de estrutura conceitual básica de uma disciplina. São apresentados os conceitos de espaço e de tempo como básicos no estudo da Geografia e da História, esclarecendo que é nessas duas dimensões que as relações sociais humanas travam-se, transformando a natureza, produzindo cultura, construindo a história. É sugerido no final desse subitem um quadro curricular de Geografia e História para o ensino fundamental 1. Finalmente, o item 1.3 apresenta um breve histórico da educação brasileira sobre a prática pedagógica em História e Geografia, expondo, em seguida, os critérios básicos que norteiam a metodologia dessas disciplinas. Para concluir, recomendo que precisamos trocar essa apreensão parcial da vida socialque as escolas apresentam aos alunos, por uma outra mais articulada da vida social, no seu funcionamento e na sua historicidade. Penso que, com essa nova metodologia, conseguiremos formar sujeitos críticos, com condições cidadãs de atuarem de maneira transformadora em sua realidade. 1.5 Atividades Para ampliar sua reflexão sobre o tema, a leitura do texto Contribuição das Ciências Humanas para a formação do aluno do Ensino Fundamental, do livro de Heloísa Dupas Penteado (PENTEADO, H. D. Metodologia do Ensino de História e Geografia. 2. ed. revista e ampliada. São Paulo: Cortez, 2008. p.27-28), é bastante enriquecedora. No texto, a autora faz uma reflexão sobre o papel das ciências humanas na formação integral do homem, utilizadas amplamente em História e Geografia, analisando sua importância. Transcrevo-o, abaixo, para sua melhor formação: 2200 CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS HUMANAS PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO DO ENSINO FUNDAMENTAL Entendemos a presença das Ciências Humanas no Ensino Fundamental como um dos elementos responsáveis pela preparação de um cidadão crítico, dotado de uma consciência social provida de objetividade suficiente que lhe possibilite: - perceber a sociedade em que vive como construção humana, que se reconstrói constantemente ao longo das gerações, o que não envolve necessariamente avanços ou melhorias: essa reconstrução pode ser reprodutora ou transformadora, realizando-se em um fluxo constante, dotado de historicidade, que orienta os processos aí desenvolvidos; - perceber-se a si próprio como um agente social que fatalmente intervém na sociedade, seja compactuando com ela, seja transformando-a; - perceber o sentido dos processos que orientam o constante fluxo social, bem como o sentido de sua intervenção nesse processo. A presença das Ciências Humanas nas cinco séries do Ensino Fundamental, através das disciplinas História e Geografia, devem garantir a iniciação do estudante nessa preparação de forma mais ampla. Para isso, é necessário assegurar para cada série um conhecimento significativo, ainda que introdutório, que possa ser utilizado pelo estudante ao longo de sua vida, na convivência com seus semelhantes, como um instrumento que lhe possibilite pensar sua realidade e melhor conhecê-la, para melhor atuar nela e se apossar dela, em vez de ser por ela engolido. Assim, o mínimo de saber significativo provindo das Ciências Humanas que se pode deixar com alguém que tenha passado um ano pelos bancos escolares é a introdução ao conhecimento de que “o homem é um ser construtor e criador; que faz a natureza, juntamente com outros homens, para garantir a sua sobrevivência”. O avanço possível nesse conhecimento, para quem permanece ao longo das séries iniciais do Ensino Fundamental, é saber que “a vida social construída pelo homem é 2211 reconstruída ao longo das gerações; que essa reconstrução não significa necessariamente avanços ou melhorias”. Como se trata de saberes significativos, eles funcionarão para o indivíduo como instrumentos de pensamento e de conhecimento sobre sua vida, geradores de outros conhecimentos – e, portanto, são recursos eficientes no seu trabalho de construtor social, como ser humano que é. Traduzir essa concepção de Ciências Humanas na prática pedagógica de sala de aula exige que se situe a disciplina História e Geografia como “estudos de vida do homem em sociedade”. Estudos norteados pela História e Geografia e alicerçados nas diferentes Ciências Humanas cujos objetos de estudo apresentam pontos de interseção – e que, por isso mesmo, devem estar integradas, a partir de uma estrutura formada de eixos geradores de conhecimentos comuns a todas elas. O que tornará possível ao aluno apreender globalmente a vida social de modo articulado, no seu funcionamento e na sua historicidade. Agora que você já se aprofundou um pouco a respeito do conteúdo proposto neste capítulo, penso que tem condições de fazer o exercício abaixo. Troque ideias com os colegas, pesquise, entreviste, faça o melhor que puder. Depois envie ao seu professor. Partindo do pressuposto que o estudo da História e da Geografia aguça e amplia nossa compreensão da realidade social e no ajuda a nortear a ação social no presente, leia a poesia abaixo e responda às seguintes questões: 1- Qual é a visão de História e Geografia defendida pelo autor da poesia? 2- Essa visão pode ser ensinada em sala de aula? Justifique. Perguntas de um trabalhador que lê (Bertolt Becht) Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas? Nos livros estão nomes de reis; os reis carregaram pedras? E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre? Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a edificaram? No dia em que a Muralha da China ficou pronta, 2222 para onde foram os pedreiros? A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo: quem os erigiu? Quem eram aqueles que foram vencidos pelos césares? Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores? Na legendária Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados continuaram a dar ordens a seus escravos. O jovem Alexandre conquistou a Índia. Sozinho? César ocupou a Gália. Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro? Felipe da Espanha chorou quando sua frota naufragou. Foi o único a chorar? Frederico Segundo venceu a guerra dos sete anos. Quem partilhou da vitória? A cada página uma vitória. Quem preparava os banquetes comemorativos? A cada dez anos um grande homem. Quem pagava as despesas? Tantas informações. Tantas questões. (Disponível em: <http://www.iea.usp.br/iea/artigos/konderbrecht.pdf>. Acesso em: 06 ago. 2009.) ATIVIDADE APLICADA Prepare uma aula introdutória para o 5º ano, a partir da leitura da poesia acima. O objetivo é construir com os alunos uma noção do que é História e Geografia e quem são seus sujeitos. 1.6 Para Saber Mais Filmes BLADE RUNNER, o caçador de androides. Produção de Ridley Scott. EUA: Warner Brother Distribuidora, 1982. DVD (117 min). Legendado. Inglês, Português e Espanhol. Considerado um clássico da ficção científica, o filme permite a reflexão sobre a relação que estabelecemos entre memória e identidade. UMA CIDADE sem passado. Produção de Michael Verhoeven. Alemanha: Play Art Home Vídeo, 1989. DVD (115 min). Legendado. Inglês e Português. 2233 Esse filme permite várias reflexões, por exemplo, a forma como se desenvolve a pesquisa histórica e os interesses envolvidos no registro oficial da História. ADEUS, Lênin! Produção de Wolfgang Becker, Alemanha: Imagem Distribuidora , 2003. DVD (117 min). Legendado. Alemão e Português. Ambientado no contexto do fim da guerra fria, permite compreender a relação entre cultura material e identidade. DE VOLTA para o futuro. Direção: Robert Zemeckis. EUA: Universal Pictures, 1985.DVD (115 min. Legendado. Inglês e Português. Um garoto viaja no tempo, voltando ao ano de 1955. Nesse filme, é possível perceber as transformações no espaço geográfico de uma cidade. PRIMAVERA, verão, outono, inverno. Direção de Kim Ki-Duk. Coréia do Sul: Imovision. Distribuidora, 2003. DVD (115 min). Legendado. Inglês e Português. Por meio da convivência entre dois monges, que compartilham a solidão em um lago rodeado por montanhas, são apresentadas as quatro estações do ano, enfatizando cada aspecto de suas vidas. Nesse filme, é possível perceber a influência das estações em nossas vidas e a produção cultural em cada uma delas. Sites Caso queira saber mais sobre os temas desta Unidade,pesquise em artigos e outras produções científicas e culturais nos sites a seguir: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Disponível em: <www.iea.usp.br/artigos>. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA-TV ESCOLA. Disponível em: <www.tvebrasil.com.br/salto/>. DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em: <www.dominiopublico..gov.br/>. 2244 2255 Unidade 2 Estudos de Geografia fundamentos e procedimentos metodológicos 2.1 Estudos de Geografia A Geografia durante muito tempo serviu para descrever paisagens, mas, estanque da ação humana, era uma Geografia estática e memorizada pelos alunos. O ensino de Geografia dedica-se muito mais a realidades estáticas do que processos transformadores. Dada a nossa realidade atual, a Geografia não pode somente ser descritiva ou tão- somente servir para interpretar o mundo política e economicamente. Antes de tudo, ela deve ser aquela que trabalha com as relações socioculturais da paisagem em seus elementos físicos e biológicos, por meio de investigações das relações entre esses elementos que formam o espaço geográfico. Esse espaço geográfico é aquele produzido pelo homem que organiza social e economicamente a sociedade. Portanto, o homem é o sujeito que constrói e transforma esse espaço constantemente. O aluno sabendo de sua realidade consegue influenciá-la enquanto cidadão. Sabe-se que muitos professores das séries iniciais, sem acesso a um conhecimento técnico e teórico constante e profundo, continuam trabalhando com seus alunos a Geografia somente descritiva e sem sentido, fora da realidade deles. Uma Geografia nada transformadora. 2266 Figura 2.1 - Espaço transformado: ocupação do homem no espaço. Fonte:http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/ arquivos/ Image/conteudos /imagens/2geografia/7cidades.jpg Acesso em 16 jul. 2010 É necessário, que já nas séries iniciais, o professor trabalhe tendo o espaço geográfico como tema central: conceitos de paisagem, território e lugar. Como nos mostra os PCN de Geografia, no momento atual, o meio técnico científico informacional adquiriu um papel fundamental e, em meio ao processo de globalização e massificação, o mundo convive com novos conflitos e tensões, tais como o declínio dos estados-nações, a formação de blocos econômicos, a desterritorialidade e outros temas que recuperem a importância do saber geográfico. Há uma multiplicidade de questões que, para serem entendidas, necessitam de um conhecimento geográfico bem estudado. 2.2 PCN de Geografia para o 1º e 2º ciclos A proposta curricular nacional de Geografia do 1º ao 5º ano, feita pelo MEC (Ministério da Educação) é bastante rica e completa. Vale a pena conhecê-la. Sugiro adquiri-la, consultá-la nas escolas ou no site do MEC: www.mec.gov.br. Para facilitar o entendimento, é necessário dividir a abordagem da Geografia em primeiro ciclo (do 1º ao 3º ano) e segundo ciclo (do 4º ao 5º ano). A Geografia trabalha com as relações entre o processo histórico, que regula a formação das sociedades humanas, e o funcionamento da natureza, por meio da leitura do espaço geográfico e das paisagens. Em todos os anos do Ensino Fundamental, a análise das paisagens não pode ser feita na forma de descrição, e sim na dinâmica de suas transformações. Vamos pensar nessa divisão, lembrando que a psicologia das idades: No primeiro ciclo, o trabalho deve ser focado na natureza e nas suas relações com a ação antrópica, tanto individual quanto grupal, para a construção do espaço geográfico. 2277 Figura 2.3 - Espaço transformado: relação campo e cidade. Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/ arquivos/ image/conteudos/imagens/2geografia/ 3agropec.jpg Acesso em 16 jul. 2010 Figura 2.2 - Espaço tranformado: ação do homem no espaço natural em relação ao transporte. Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/ tvpendrive/arquivos/Image/conteudos/imagens/ geografia/4barcop.jp Acesso em 16 jul. 2010 No segundo ciclo, devem ser focadas as relações entre campo e cidade, o papel do trabalho na transformação dos espaços e da tecnologia, as informações, a comunicação e os transportes. Nas séries iniciais, a Geografia deve ser ensinada de modo que o aluno perceba que ser cidadão é fazer parte dessa realidade integrada nas relações entre natureza e sociedade, sujeita a muitas mudanças e que ele, aluno, é peça fundamental nessas mudanças. Vejam a foto sobre densidade demográfica: o homem transforma o espaço natural. Ele planejou devidamente? Quais as consequências de sua ação? Como agir de maneira consciente? O ensino da Geografia deve desenvolver nas crianças a visão da realidade que as cercam, para formar cidadãos críticos capazes de se posicionarem frente às situações que enfrentam e gerar mudanças e transformações significativas. Vejam a foto sobre agropecuária: todos usufruem dessa transformação? A exploração do espaço é indevida ou não? Quais as consequências dessa exploração? Como podemos aperfeiçoar o processo de transformação? 2288 2.3 O trabalho coletivo na escola Para desenvolver este tema, nos basearemos nos objetivos gerais de Geografia para o ensino fundamental e nos objetivos de Geografia do 1º e 2º ciclos, presentes nos Parâmetros Curriculares Nacionais, editados pelo Ministério da Educação (1998). Os objetivos serão somente apresentados para conhecimento. Posteriormente, à medida que estudarmos metodologia e recursos didáticos, refletirmos a respeito deles. OBJETIVOS GERAIS DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL Espera-se que, ao longo do ensino fundamental, os alunos construam um conjunto de conhecimentos referentes a conceitos, procedimentos e atitudes relacionados à Geografia. Nesse sentido, os alunos deverão ser capazes de: • conhecer a organização do espaço geográfico e o funcionamento da natureza em suas múltiplas relações, de modo a compreender o papel das sociedades na sua construção e produção do território, da paisagem e do lugar; • identificar e avaliar as ações dos homens em sociedades e suas consequências em diferentes espaços e tempos para adquirir referenciais que possibilitem uma participação propositiva e reativa nas questões socioambientais locais; • compreender a espacialidade e temporalidade dos fenômenos geográficos estudados em suas dinâmicas e interações; • compreender que as melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços técnicos e tecnológicos são conquistas decorrentes de conflitos e acordos, que ainda não são usufruídas por todos os seres humanos e, dentro de suas possibilidades, empenhar-se em democratizá-las; • conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa de Geografia para compreender o espaço, a paisagem, o território e o lugar, assim como os seus processos de construção, identificando suas relações, seus problemas e suas contradições; • fazer leituras de imagens, dados e documentos de diferentes fontes de informação, de modo que possa interpretar, analisar e relacionar informações sobre o espaço geográfico e as diferentes paisagens; • saber utilizar a linguagem cartográfica para obter informações e apresentar a espacialidade dos fenômenos geográficos; • valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sócio-diversidade, reconhecendo-a como um direito dos povos e indivíduos e um elemento de fortalecimento da democracia. OBJETIVOS DE GEOGRAFIA PARA O PRIMEIRO CICLO Espera-se que, ao final do primeiro ciclo, os alunos sejam capazes de: • reconhecer, na paisagem local e no lugar emque se encontram inseridos, as diferentes manifestações da natureza e a apropriação e transformação dela pela ação de sua coletividade e de seu grupo social; • conhecer e comparar a presença da natureza, expressa na paisagem local, com as manifestações da natureza presentes em outras paisagens; • reconhecer semelhanças e diferenças nos modos que diferentes grupos sociais apropriam- se da natureza e a transformam, identificando suas determinações nas relações de trabalho, nos hábitos cotidianos, nas formas de se expressar e no lazer; • conhecer e começar a utilizar fontes de informação escritas e imagéticas utilizando, para tanto, alguns procedimentos básicos; • saber utilizar a observação e a descrição na leitura direta ou indireta da paisagem, sobretudo por meio de ilustrações e da linguagem oral; • reconhecer, no seu cotidiano, os referenciais espaciais de localização, orientação e distância 2299 de modo que possa deslocar-se com autonomia e representar os lugares onde vivem e se relacionam; • reconhecer a importância de uma atitude responsável de cuidados com o meio em que vivem, evitando o desperdício e percebendo os cuidados que se deve ter na preservação e na manutenção da natureza. OBJETIVOS DE GEOGRAFIA PARA O SEGUNDO CICLO Espera-se que, ao final do segundo ciclo, os alunos sejam capazes de: • reconhecer e comparar o papel da sociedade e da natureza na construção de diferentes paisagens urbanas e rurais brasileiras; • reconhecer semelhanças e diferenças entre os modos de vida das cidades e do campo, relativas ao trabalho, às construções e moradias, aos hábitos cotidianos, às expressões de lazer e cultura; • reconhecer, no lugar no qual se encontram inseridos, as relações existentes entre o mundo urbano e rural, bem como as relações que sua coletividade estabelece com coletividades de outros lugares e região, focando tanto o presente como o passado; • conhecer e compreender algumas das consequências das transformações da natureza causadas pelas ações humanas, presentes na paisagem local e nas paisagens urbanas e rurais; • reconhecer o papel das tecnologias, da informação, da comunicação e dos transportes na configuração de paisagens culturais urbanas e rurais e na estruturação da vida em sociedade; • saber utilizar os procedimentos básicos de observação, descrição, registro, comparação, análise e síntese na coleta e no tratamento da informação, mediante fontes escritas ou imagéticas; • utilizar a linguagem cartográfica para representar e interpretar informações em linguagem cartográfica, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a legibilidade da informação; • valorizar o uso refletido da técnica e tecnologia em prol da preservação e conservação do meio ambiente e da manutenção da qualidade de vida; • adotar uma atitude responsável, em relação ao meio ambiente, reivindicando, quando possível, o direito de todos a uma vida plena num ambiente preservado e saudável; • conhecer e valorizar os meios de vida de diferentes grupos sociais, como se relacionam e constituem o espaço e a paisagem nos quais se encontram inseridos. 2.4 Conteúdos e métodos em Geografia na sala de aula nas sérias iniciais do ensino fundamental Em relação ao conteúdo, podemos montar uma sugestão de plano de ensino das quintas séries iniciais do ensino fundamental. Para todos os anos, vamos fazer a descrição do conteúdo programático e analisar algumas ideias específicas para cada série. Seguiremos, novamente, a sugestão de Penteado (2008) e do MEC-PCN de Geografia (1998): 3300 N ív el Séries 1ª ano 2ª ano 3ª ano 4ª ano 5ª ano E x p lo r a tó ri o (v iv ê n ci a s) - Relações sociais - Espaço - Tempo - Natureza - Cultura: .História local e do cotidiano .Comunidade indígena - Relações sociais -Tempo geográfico: dias do mês (cronologia) - Tempo histórico: hoje, ontem, amanhã, presente, passado, futuro. -- Relações sociais -Relações sociais - Relações sociais E sp e cí fi co d a s é ri e -O estudo da paisagem local -Nomear elementos componentes das paisagens -Representar o espaço escolar -Espaço: . divisões: domínios e fronteiras -Representação espacial -Representação terrestre: . globo . mapa-múndi - Natureza: . água e terra - Cultura: . na água e na terra .História local e do cotidiano .Comunidade indígena - Espaço terrestre: .orientação: norte,sul, leste, oeste .divisão: continentes e oceanos . movimento de rotação da Terra - Tempo geográfico: .calendário, dia, hora -Tempo histórico: .transformações: natureza e cultura, ontem e hoje - Representação temporal: . tempo de curta duração -Cultura: .História local e do cotidiano .Comunidade indígena Espaço terrestre: .movimento de translação .divisão política: país -Espaço Brasil: .divisão política -Espaço local: .município -Tempo histórico: .pessoa, local, longa duração - História das organizações populacionais: -Deslocamentos populacionais -Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos -Organizações políticas e administrações urbanas -O papel das tecnologias na construção de paisagens urbanas e rurais. -Informação, comunicação e interação -Distâncias e velocidades no mundo urbano e no mundo rural -Urbano e rural: modos de vida -Tempo histórico e espaço geográfico brasileiro ontem e hoje -Etnias formadoras do povo brasileiro, ontem e hoje - História das organizações populacionais: -Deslocamentos populacionais -Organizações e lutas de grupos sociais e étnicos -Organizações políticas e administrações urbanas -O papel das tecnologias na construção de paisagens urbanas e rurais. -Informação, comunicação e interação -Distâncias e velocidades no mundo urbano e no mundo rural -Urbano e rural: modos de vida A m p li a çã o - Deslocamento espacial escolar - Relações sociais escolares - Vocabulário oral - Natureza - Cultura - Espaço - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Tempo - Vocabulário oral e escrito - Natureza - Cultura - Espaço - Tempo -Vocabulário oral e escrito Para o trabalho com as crianças, no 1º ano, o professor deve observar os seguintes objetivos: - vivência organizada das relações sociais escolares; - introdução vivencial em relação ao tempo cronológico; - exploração e uso organizado do espaço escolar; 3311 Figura 2.4 - Relações sociais na escola Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/ arquivos/File/imagens/5pedagogia/7escola dewey.jpg Acesso em 16 jul. 2010. - introdução à observação de elementos da natureza e cultura. Nesse sentido, o professor irá trabalhar com seus alunos a formação de atitudes adequadas para que convivam em seu ambiente escolar de forma organizada e saudável, levando-os a aprender a conviver num espaço público (seu ambiente escolar) e, ao mesmo tempo, aprender conhecimentos específicos do ensino de Geografia. Os três primeiros objetivos que serão trabalhados no 1º semestre são: 1 – Relações Sociais O professor deve ter em mente que os alunos dessa série estão chegando à escola, portanto o ensino deve acontecer de forma exploratóriae suas vivências devem ser consideradas como conteúdo. O professor quando organiza com seus alunos o trabalho escolar (normas de convivência, comportamentos, relações sociais), no nível exploratório, prepara-os para a aprendizagem de Geografia e os ajuda a desenvolver a oralidade, a observação das normas orientadas por critérios, o registro gráfico de observações feitas, o saber vivenciar situações coletivas. Essas situações ajudam no bom desenvolvimento e rendimento do trabalho escolar, além de propiciar condições para o exercício da cidadania. Devem, portanto, ser levadas a sério. Além de se trabalhar as relações sociais num nível de vivências, o aluno deve ser percebido dentro de seu grupo social que é a classe, formada por indivíduos com características parecidas ou muito diferentes entre si. O professor deve ajudar o aluno a perceber sua identidade, dos seus colegas e do professor. Como isso pode ser feito? Veja a Figura 2.4, ela retrata as relações sociais das crianças na escola, sua interação, comunicação entre colegas e professor. 3322 Os alunos devem observar e identificar seu grupo por meio de jogos, brincadeiras e conversas. Eles devem se perguntar a respeito do próprio grupo: - nosso grupo é grande? - quantos meninos há? E quantas meninas? - quais as idades? - quem é o mais novo? E o mais velho? - o que temos de parecido? O professor deverá saber lidar com as respostas e prestar atenção na coerência delas. Por meio das respostas, deve-se usar a criatividade nas atividades seguintes, no sentido de ir caracterizando o grupo formado pela classe. Atividades propostas: a) recorrer a jogos e brincadeiras para que os alunos se envolvam nas atividades de reconhecimento do grupo e de si mesmo em relação ao grupo; b) convidar, abertamente, o aluno a falar ou brincar de par ou ímpar para se decidir quem fala primeiro; c) provocar seus alunos para que se sintam desafiados, recorrendo a diversos meios que resultem em respostas a respeito das características da classe: faixa etária, composição sexual, tamanho do grupo, componentes etc. d) encaminhar perguntas que especifiquem a finalidade do grupo na série em que estão (Por que estamos aqui?); e) trabalhar atividades que levem os alunos a identificarem os nomes de todos (Vamos decorar os nomes começados com a?; Agora vamos decorar os nomes da primeira fileira?); 2 – Tempo O tempo deverá, na série citada, ser trabalhado de forma exploratória. Assim, deve-se sempre colocar a data na lousa e solicitar que os alunos coloquem-na no caderno. Por meio de documentos fornecidos pelos alunos à escola, o professor deve conhecer a história de cada um, pois, muitas vezes, os alunos desconhecem informações sobre si mesmos. Faz-se necessário, portanto, conferir as informações fornecidas para a escola com aquelas dadas pelos alunos, relativas a tempo, como data de nascimento, hora do nascimento, local etc. 3333 É importante que o aluno saiba identificar a contagem e o registro do tempo. Isso deverá ser trabalhado, por exemplo, por meio do dia do aniversário de cada um (Por que comemorarmos este dia? Todas as pessoas têm essa data como especial?) Pode-se, também, destacar outras datas significativas para a escola, a cidade, ao longo do ano, e registrar em desenhos ou quadro a data de aniversário de outros alunos. 3 – Espaço Este conceito será trabalhado na série em questão, também, em nível exploratório. Nesse sentido, o professor irá direcionar o conceito de espaço por meio de perguntas e, até, registros. Seguem algumas questões que possibilitam trabalhar essa relação espacial: a) Onde está nossa classe? b) Existem classes próximas? Quais? c) Onde estão os banheiros? d) Nossa classe está próxima à diretoria? Essas perguntas serão respondidas após uma visita dos alunos à escola, para que percebam referências e localizações. Depois, é importante registrar os espaços em desenhos. Portanto, o esquema a ser seguido para a obtenção dessa observação espacial deve obedecer aos seguintes passos: - iniciação com perguntas; - visitação em toda escola para averiguação das perguntas feitas; - elaboração de respostas depois de muita observação; - desenhos das respostas, identificando a localização da sala de aula. Os outros dois objetivos serão trabalhados no segundo semestre: conceitos de natureza e cultura. Esses conceitos serão trabalhados de forma exploratória e de vivência do aluno, trabalhos que podem ser iniciados com, por exemplo, as seguintes questões: - Observem nossa sala de aula e diga tudo o que foi feito pelo homem (deve ser feito um levantamento: carteira, lousa, porta etc); - Existem elementos que não foram feitos pelo homem? (ar, luminosidade etc). Assim, após o levantamento, proceder a sintetização: 3344 - elemento natural é tudo aquilo que existe e que não foi feito e transformado pelo homem; - elemento cultural é tudo aquilo que existe e foi feito ou transformado pela ação do homem. O professor pode propor também: - observação do caminho do aluno de casa até a escola; - visita a algum local da cidade (zona rural ou urbana); Atendendo a essas atividades, os alunos irão classificar os elementos da natureza ou elementos culturais transformados pelo homem. Essa sistematização pode variar desde escrita, desenhos ou colagens de figuras trazidas pelos alunos ou pelo professor. Nesse semestre, o professor pode propor as seguintes atividades: - brincar de agricultura (plantar e cuidar de plantas); - brincar de comércio (montar feiras ou lojas, situações em que os alunos serão vendedores, fornecedores ou compradores); - brincar de produzir algo (fazer um bolo, uma salada ou uns pães e experimentar na hora do lanche); - visitar uma indústria alimentícia que produza algo relacionado ao universo alimentar do aluno; - contar uma história e, depois, classificar os elementos naturais e culturais que nela aparecem (registrar em desenhos, por exemplo). Para o trabalho com as crianças, no 2º ano, o professor deve observar as seguintes questões: O conceito de relações sociais deve ser feito em nível exploratório no início do ano letivo. Os conceitos específicos da série serão: espaço, natureza e cultura. Os passos seguidos devem ser os mesmos (perguntas, observações, registros e brincadeiras-exercício para fixação), o que será mudado é o nível de sistematização do conceito que se trabalhou. 3355 Conceito de Tempo Registrar, diariamente, na lousa, a data do dia, em relação ao dia anterior, e as condições do tempo (condições meteorológicas). O professor deve criar condições para que seus alunos identifiquem passado, presente e futuro. Os objetivos a serem alcançados no 2º ano são: 1 – compreender divisões espaciais e suas características; 2 – compreender e fazer representações espaciais; 3 – introduzir habilidade de leitura das representações convencionais do espaço terrestre (globo e mapa-múndi). Objetivos 1 e 2: divisões espaciais O trabalho com jogos na sala de aula ou no pátio será importante para que o aluno adquira os conceitos de domínio e fronteira. Por exemplo, o jogo Caça ao tesouro (feito numa folha de papel colocada no chão): para se chegar ao tesouro, os alunos percorrerão locais (domínios) demarcados e fronteiras difíceis de serem ultrapassadas (vale a criatividade do professor para montar esses jogos). Trabalhar com a ideia da localização da escola (e quem são os vizinhos da escola) ou da casa do aluno (e
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