Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MINISTÉRIO DA SAÚDE GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO GERÊNCIA DE SAÚDE COMUNITÁRIA Porto Alegre - RS Março de 2017 Hospital Nossa Senhora da Conceição S.A. Atenção à Saúde da Gestante em APS Maria Lucia Medeiros Lenz Rui Flores Organizadores 2ª edição Atenção à Saúde da Gestante em APS Grupo Hospitalar Conceição Diretoria Diretor-Superintendente Adriana Denise Acker Diretor Administrativo e Financeiro Ibanez Ferreira Filter Diretor Técnico Mauro Fett Sparta de Souza Gerente do Serviço de Saúde Comunitária Lândia Maria Araújo Cunha Coordenador do Serviço de Saúde Comunitária Simone Faoro Bertoni Apoio Técnico em Monitoramento e Avaliação de Ações de Saúde Rui Flores MINISTÉRIO DA SAÚDE GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO GERÊNCIA DE SAÚDE COMUNITÁRIA Porto Alegre - RS Março de 2017 Hospital Nossa Senhora da Conceição S.A. Atenção à Saúde da Gestante em APS Maria Lucia Medeiros Lenz Rui Flores Organizadores 2ª edição Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B823a Brasil. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária Atenção à saúde da gestante em APS / organização de Maria Lucia Medeiros Lenz, Rui Flores. – 2.ed. – Porto Alegre: Hospital Nossa Senhora da Conceição, 2017. 302 p.: il.: 30 cm. ISBN 978-85-61979-29-4 1.Medicina de família e comunidade. 2.Atenção primária em saúde. 3.Saúde da gestante. I.Lenz, Maria Lucia Medeiros. II.Flores, Rui. III.Título CDU 616-055.5/.7:618.2-082 Catalogação elaborada por Luciane Berto Benedetti, CRB 10/1458. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é de responsabilidade dos autores de cada um dos capítulos. O livro poderá ser acessado na integra na página do Grupo Hospitalar Conceição (Ensino e Pesquisa, Gerência de Ensino e Pesquisa, Publicações, http://escola.ghc.com.br/index.php/2013-06-05-18- 36-26). Agradecimentos Agradecemos às gestantes, seus bebês e suas famílias, que nos escolhem como profissionais para cuidar de sua saúde e representam a principal motivação para a realização de nosso trabalho. Aos colegas do Serviço de Saúde Comunitária, em especial àqueles que participam ativamente do monitoramento e avaliação da atenção à saúde da gestante em seu território. Aos demais colegas do Grupo Hospitalar Conceição, responsáveis pelos segundo e terceiro níveis de atenção e sempre dispostos a fortalecer a rede de atenção à saúde, em especial ao Dr Marcelo Ivo Campagnolo, médico ginecologista e obstetra do Ambulatório de Alto Risco do HNSC. A bibliotecária Luciane Benedetti que continua sendo uma grande parceria. Dedicatória Ciência e caridade (1897) de Pablo Picasso Dedicamos nossa Linha-guia de Atenção à Saúde da Gestante em APS (2a Edição) ao Dr Sergio Moreira Espinosa, grande colega e amigo, falecido abruptamente em maio de 2014. Espinosa foi preceptor do Programa de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia do HNSC e, por vários anos, recebeu, sempre com muito apreço, os residentes do Programa de Medicina de Família e Comunidade do SSC. Entusiasmado e competente profissional, foi Fundador do Setor de Gravidez de Alto risco e Medicina Fetal no HNSC, responsável pelo Setor de ultrassonografia do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do HNSC e coordenador do Programa de Planejamento Familiar. Exigente e afetuoso. Adorava ensinar. Gostava muito de aprender. Nas edições anteriores de nossas Linhas-guia de Atenção à Saúde da Gestante participou como revisor atento e meticuloso. Durante nossos encontros pelo hospital, que nunca se restringiam a assuntos de trabalho, trocávamos ideias sobre a vida em família, a saída de casa dos filhos, a chegada dos netos, sobre arte, lazer e, principalmente, sobre viagens. Adorava palpitar nos roteiros. Motivou-me a conhecer a inesquecível Collioure. “E quando chegares a Barcelona e entrares no Museu Picasso, logo a tua direita, verás o quadro mais lindo do Museu e que mais me emocionou”. Segui(mos) seus passos. Tal como a tela, assim era ele: ciência e caridade. Maria Lucia Medeiros Lenz Organizadores Maria Lucia Medeiros Lenz Rui Flores Revisão Bibliográfica e Ficha Catalográfica Luciane Benedetti Autores Agente Comunitária de Saúde Ana Lúcia da Costa Maciel (Apoio à Gerência SSC) Assistentes Sociais Agda Henk (US Coinma) Edelves Vieira Rodrigues (Escola GHC) Marina Lemos (Residente RIS/GHC) Enfermeiras Lisiane Andreia Devinar Périco (US Divina Providência) Lisete Maria Ambrosi (Coordenadora da Linha Mãe- Bebê do HNSC) Farmacêuticas Elineide Gomes dos S. Camillo (Apoio Matricial Farmácia SSC) Jaqueline Misturini(Apoio Matricial Farmácia SSC) Médicos de Família e Comunidade Camila Giugliani (Professora do DMS/FAMED/UFRGS) Carmen L. C. Fernandes (US Barão de Bagé) Daniela Montano Wilhelms (Monitoramento & Avaliação) Felipe Anselmi Corrêa (US Santíssima Trindade) José Mauro Ceratti Lopes (US Conceição) Lêda Chaves Dias (US Coinma) Lucas Wollmann (US Sesc) Lúcia Naomi Takimi (Secretaria Municipal de Sapucaia do Sul) Margarita Silva Diercks (CEPAPS/SSC) Maria Lucia Medeiros Lenz (Monitoramento & Avaliação) Martha Farias Collares (US Barão de Bagé) Raul Miguel Alles (US Costa e Silva) Renata Pekelman (Escola GHC) Rodrigo Caprio Leite de Castro (US Jardim Itu e Professor do DMS/FAMED/UFRGS) Rosane Glasenapp (US Santíssima Trindade Rui Flores (Monitoramento & Avaliação) Médico Infectologista Breno Riegel Santos (HNSC) Médica Obstetra Denise Gomes Cidade (Hospital Materno Infantil de Brasília e Professora da ESCS/DF) Nutricionistas Bruna Franzoni(Apoio Matricial Nutrição SSC) Lena Azeredo de Lima (Apoio Matricial Nutrição SSC) Natália Miranda Jung (Apoio Matricial Nutrição SSC) Renata Escobar Coutinho (Apoio Matricial Nutrição SSC) Odontólogas Ananyr Porto Fajardo (Escola GHC) Caroline Machado Weber (Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre) Daniel Demétrio Faustino-Silva (US Sesc) Maria Helena Zanella (Apoio à Gerência SSC) Mariana Loch dos Reis (US Floresta) Psicólogas Gisele Milman Cervo (US Sesc) Maria Amália Machado Silveita (US Conceição) Paula Xavier Machado (US Jardim Itu) Apresentação Apresentamos a 2ª edição da Atenção à Saúde da Gestante em Atenção Primária à Saúde (APS). Trata-se da atualização da 1ª edição publicada, em2011, resultado de revisão, atualização e ampliação de recomendações escritas por profissionais do Serviço de Saúde Comunitária em 2001, 2006 e 2008. O período de gestação, parto e puerpério envolve grandes mudanças e requer uma adaptação à chegada do novo membro à família, constituindo-se, assim, momento de maior vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, propício para o desenvolvimento de ações preventivas e de promoção à saúde a serem realizadas por profissionais da APS. Atualizamos estas recomendações de boas práticas baseados na nossa vivência em APS, nas melhores evidências científicas disponíveis e nos depoimentos de mães, gestantes e familiares. Contamos também com a colaboração de colegas dos níveis secundário e terciário da atenção do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e de outros serviços. No entanto, trata-se de um conjunto de recomendações em que não são contempladas todas as situações clínicas, cenários de prática ou, ainda, características e valores dos usuários. Sendo assim, a finalidade deste material não é substituir o julgamento de cada profissional ou, menor ainda, a individualidade de cada pessoa assistida, durante a decisão do cuidado mais adequado. Em todo o processo de revisão, procuramos integrar os diferentes olhares das diversas categorias profissionais, objetivando o estímulo para a adoção de uma abordagem integral e qualificada para as gestantes e suas famílias. Maria Lucia Medeiros Lenz Rui Flores Sumário 1. O ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL NO SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA DO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO.....................................................................17 1.1 A atenção pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária ....................................................................... 17 1.2 Gestantes em situação de rua ............................................................................................................. 18 1.3 Indicadores de avaliação da atenção pré-natal no SSC...................................................................... 19 2. A CONSULTA PRÉ-CONCEPCIONAL DO CASAL ..................................................23 2.1 Recomendações específicas para a mulher ........................................................................................ 23 2.2 Recomendações específicas para o homem ....................................................................................... 28 2.3 Recomendações ao casal que deseja gestar ...................................................................................... 30 2.4 Situações especiais.............................................................................................................................. 31 3. ABORDAGEM DA GESTANTE, DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO, ANAMNESE E ORIENTAÇÕES ............................................................................................................35 3.1 Abordagem da gestante ....................................................................................................................... 35 3.2 Diagnóstico de gestação ...................................................................................................................... 36 3.3 Expectativas em relação à gestação.................................................................................................... 37 3.4 Anamnese da gestante......................................................................................................................... 38 3.5 Orientações às gestantes..................................................................................................................... 39 4. ASPECTOS PSICOAFETIVOS NA GESTAÇÃO ......................................................47 4.1 Introdução............................................................................................................................................. 47 4.2 Aspectos psicoafetivos presentes na gestação, no parto e no puerpério............................................ 47 4.3 Gravidez na Adolescência.................................................................................................................... 51 4.4 Identificação de sinais e sintomas de sofrimento psíquico na gestação ............................................. 52 4.5 Rede de Saúde Mental......................................................................................................................... 56 4.6 Considerações finais ............................................................................................................................ 56 5. O EXAME FÍSICO DA GESTANTE ...........................................................................59 5.1 Exame físico na primeira consulta de pré-natal ................................................................................... 59 5.2 Descrição detalhada de alguns aspectos do exame físico .................................................................. 59 5.3 Propedêutica fetal................................................................................................................................. 67 6. SOLICITAR E AVALIAR EXAMES COMPLEMENTARES ........................................71 6.1 Hemograma.......................................................................................................................................... 71 6.2 Tipagem sanguínea, fator RhD e Coombs........................................................................................... 72 6.3 Eletroforese de hemoglobina ............................................................................................................... 73 6.4 Glicemia de jejum e teste de tolerância à glicose ................................................................................ 73 6.5 Exame qualitativo de urina (EQU, Uroanálise ou Urina Tipo 1) e Urocultura com antibiograma ....... 77 6.6 IgG e IgM para toxoplasmose .............................................................................................................. 79 6.7 Teste rápido para sífilis e VDRL........................................................................................................... 82 6.8 Teste rápido para HIV ou sorologia (anti-HIV I e II) ............................................................................. 84 6.9 Teste rápido para Hepatite B e sorologia............................................................................................. 85 6.10 Sorologia para rubéola ....................................................................................................................... 86 6.11 Ecografia obstétrica e morfológica ..................................................................................................... 86 6.12 Outros exames ................................................................................................................................... 87 6.13 Exames complementares a serem solicitados para o parceiro.......................................................... 91 6.14 Quadro resumo dos exames complementares, avaliação e conduta ................................................ 92 7. IMUNIZAÇÃO NA PRÉ-CONCEPÇÃO, GESTAÇÃO E PUERPÉRIO NO ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL DE BAIXO RISCO............................................... 99 7.1 Recomendações gerais ........................................................................................................................ 99 7.2 Vacinas recomendadas para mulheres em idade fértil, gestantes e puérperas pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde – Brasil ............................................................. 101 7.3 Vacinas recomendadas para gestantes pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) ............ 105 7.4 Recomendações do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) ......................................... 1087.5 Classificação do uso das vacinas durante a gestação pelo U.S. Food and Drug Administration (FDA) .................................................................................................................................................................. 110 7.6 Viagem durante a gestação e necessidade de imunização............................................................... 111 7.7 Imunização passiva durante a gravidez ............................................................................................. 111 7.8 Rastreio pré-natal de doenças imunopreveníveis .............................................................................. 111 7.9 A vigilância sobre a condição de vacinação dos contatos da gestante ............................................. 112 7.10 A vacinação de mulheres que estão amamentando ........................................................................ 112 8. NUTRIÇÃO NA GESTAÇÃO E PUERPÉRIO......................................................... 115 8.1 Avaliação nutricional da gestante....................................................................................................... 115 8.2 Recomendações nutricionais na gestação......................................................................................... 119 8.3 Orientações alimentares em situações comuns na gestação............................................................ 124 8.4 Orientações alimentares em situações especiais na gestação ......................................................... 128 8.5 A alimentação adequada e a prevenção de Diabetes Mellitus Gestacional ..................................... 130 8.6 ALIMENTAÇÃO DA NUTRIZ.............................................................................................................. 131 9. SAÚDE BUCAL NA GESTANTE ............................................................................ 139 9.1 Acompanhamento clínico da gestante pela Equipe de Saúde Bucal no SSC ................................... 139 9.2 Educação em saúde individual e coletiva na saúde bucal ................................................................. 147 9.3 Orientações sugeridas à equipe de saúde para serem fornecidas à gestante.................................. 149 10. MEDICAMENTOS NA GESTAÇÃO E PUERPÉRIO ............................................ 155 11. DIREITOS SOCIAIS RELACIONADOS À GESTAÇÃO........................................ 161 11.1 Direitos sociais.................................................................................................................................. 161 11.2 Gestantes vítimas de violência......................................................................................................... 162 11.3 Gestantes em vulnerabilidade social................................................................................................ 163 11.4 Direitos trabalhistas das gestantes e puérperas .............................................................................. 163 12. O TABAGISMO E A GESTAÇÃO ......................................................................... 169 12.1 Introdução......................................................................................................................................... 169 12.2 O tabagismo passivo ........................................................................................................................ 170 12.3 O tabagismo na mulher .................................................................................................................... 172 12.4 O tabagismo na gestação................................................................................................................. 175 12.5 Tratamento do tabagismo nas gestantes ......................................................................................... 181 12.6 Tratamento farmacológico na amamentação................................................................................... 188 12.7 Recaída ............................................................................................................................................ 188 12.8 Sumário e Recomendações (RODRIGUEZ-THOMPSON, 2016) .................................................... 189 12.9 Considerações finais ........................................................................................................................ 190 13. DIAGNÓSTICO E MANEJO DE INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS MAIS FREQUENTES............................................................................................................195 13.1 Náuseas, vômitos e hiperêmese ...................................................................................................... 195 13.2 Constipação e hemorróidas ............................................................................................................. 196 13.3 Azia................................................................................................................................................... 196 13.4 Síndrome do corrimento vaginal ...................................................................................................... 196 13.5 Condiloma ........................................................................................................................................ 197 13.6 Sífilis ................................................................................................................................................. 197 13.7 Gonorréia e Clamídia ....................................................................................................................... 198 13.8 Herpes simples................................................................................................................................. 198 13.9 Síndromes hemorrágicas ................................................................................................................. 199 13.10 Distúrbios hipertensivas que complicam a gestação ..................................................................... 200 13.11 Diabetes mellitus na gestação ....................................................................................................... 201 13.12 Infecção do tracto urinário (ITU)..................................................................................................... 202 13.13 Trabalho de Parto Prematuro (TPP) .............................................................................................. 203 13.14 Gestação prolongada ..................................................................................................................... 204 13.15 Ruptura prematura de membranas ................................................................................................ 205 13.16 Asma .............................................................................................................................................. 205 13.17 Anemia ........................................................................................................................................... 205 14. FATORES DE RISCO GESTACIONAL E SERVIÇOS DE REFERÊNCIA NO GHC DE ATENÇÃO À SAÚDE DA GESTANTE E DO FETO ..............................................209 14.1 Fatores de risco indicativos de realização do pré-natal em serviços de APS ................................. 209 14.2 Fatores de risco indicativos de encaminhamento ao pré-natal de alto risco ................................... 211 14.3 Fatores de risco indicativos de encaminhamento à urgência/emergência obstétrica. .................... 212 14.4 Serviços de referência para atenção à saúde da gestante e do feto no Hospital Nossa Senhora da Conceição................................................................................................................................................. 213 15. ABORDAGEM FAMILIAR PERINATAL.................................................................21915.1 Aspectos Gerais da Consulta com a Família da Gestante .............................................................. 219 15.2 Intervenções dirigidas às diversas fases do pré-natal e pós-parto.................................................. 221 15.3 Intervenções dirigidas às diversas fases do pré-natal e pós-parto às gestantes e puérperas com sistemas familiares não tradicionais e/ou modificados ............................................................................ 223 16. ATIVIDADES COLETIVAS DE EDUCAÇÃO E SAÚDE NA GESTAÇÃO..............225 16.1 A importância das atividades coletivas com gestantes.................................................................... 225 16.2 Tipos de atividades coletivas com gestantes................................................................................... 226 16.3 Organizando as atividades coletivas................................................................................................ 229 17. O ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL E O AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE (ACS)...........................................................................................................................235 17.1 Identificação de gestantes na comunidade...................................................................................... 235 17.2 Acompanhar as gestantes para um adequado pré-natal ................................................................. 235 17.3 A visita domiciliar à gestante e sua família ...................................................................................... 236 17.4 A visita no puerpério......................................................................................................................... 238 18. ATENÇÃO À GESTANTE NO PERÍODO PERINATAL: A HUMANIZAÇÃO DO PARTO E DO NASCIMENTO......................................................................................239 18.1 Introdução......................................................................................................................................... 239 18.2 A humanização do parto e do nascimento: conceitos iniciais.......................................................... 241 18.3 A Política Nacional de Humanização (PNH): a base para a humanização do parto e do nascimento .................................................................................................................................................................. 241 18.4 A humanização do parto e do nascimento traduzida em Leis e Portarias ....................................... 242 18.5 Boas práticas de atenção ao parto e ao nascimento ....................................................................... 244 18.6 Parto Cesáreo: indicador da avaliação do modelo de atenção ao parto ......................................... 247 18.7 Satisfação com o parto..................................................................................................................... 249 18.8 A humanização do parto e do nascimento no Grupo Hospitalar Conceição.................................... 250 18.9 Considerações finais ........................................................................................................................ 251 19. A CONSULTA NO PUERPÉRIO........................................................................... 255 19.1 Escutar com empatia ........................................................................................................................ 255 19.2 Identificar sentimentos e dificuldades............................................................................................... 256 19.3 Avaliar condições clínicas e ginecológicas ...................................................................................... 257 19.4 Orientar a puérpera .......................................................................................................................... 258 19.5 Orientar método anticoncepcional.................................................................................................... 259 19.6 Identificar sinais de alerta e intercorrências no puerpério................................................................ 261 19.7 Orientar amamentação..................................................................................................................... 263 20. SITUAÇÕES ENVOLVENDO ABORTAMENTO................................................... 267 20.1 Definição e classificação de aborto .................................................................................................. 268 20.2 História clínica .................................................................................................................................. 271 20.3 Fatores de risco associados a aborto espontâneo........................................................................... 273 20.4 Condutas frente às situações de abortamento................................................................................. 274 20.5 Planejamento familiar pós-abortamento........................................................................................... 278 20.6 Aspectos de saúde mental em relação ao abortamento.................................................................. 280 20.7 Aspectos legais sobre abortamento no Brasil .................................................................................. 281 21. ANEXOS............................................................................................................... 285 O acompanhamento pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 17 1. O ACOMPANHAMENTO PRÉ-NATAL NO SERVIÇO DE SAÚDE COMUNITÁRIA DO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO Maria Lucia Medeiros Lenz Rui Flores “Minha gravidez foi ótima, não tive nenhum problema, mas mesmo assim eu acho muito importante consultar todo o mês (no mínimo uma vez por mês), traz mais segurança para a gente”. Gestante moradora do território de atuação do SSC 1.1 A atenção pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária A atenção pré-natal de baixo risco, realizada no Serviço de Saúde Comunitária (SSC) em conjunto por médico de família e enfermeiro, refere-se às consultas ou visitas programadas da mulher gestante e seu parceiro, complementadas com o cuidado dos demais profissionais de saúde da equipe, sempre que necessário. O objetivo da assistência pré-natal é assegurar o nascimento de um bebê saudável com um mínimo de risco para a mãe. Os seguintes itens são propostos em busca desses objetivos: estimar uma idade gestacional precisa, identificar situações de risco associadas a complicações, avaliar continuamente o estado de saúde da mãe e do feto, orientar preventiva e antecipadamente e rastrear problemas de saúde de maneira a evitar ou minimizar morbidade (LOCKWOOD; MAGRIPLES, 2016). No território de atuação do SSC do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) nascem aproximadamente 1.000 crianças a cada ano e as consultas de pré-natal e de puericultura encontram-se entre os vinte principais motivos de consulta em nossas Unidades de Saúde (BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária, 2016). Sendo assim, a atenção à saúde da gestante e criança continuam sendo ações prioritárias no SSC, que como serviço de Atenção Primária à Saúde (APS), é porta de entrada de um sistema de saúde e caracteriza-se pela integralidade do cuidado, coordenação das diversas necessidades de saúde e continuidade da atenção (STARFIELD, 2002). Altas coberturas de pré-natal, obtidas nos últimos anos (BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária, 2016), levam os serviços de APS a se preocuparem fundamentalmente com a qualidade do acompanhamento a gestante (VICTORA; CESAR, 2003). A atenção qualificadadepende da provisão de recursos e da organização de rotinas com ações comprovadamente benéficas, evitando-se intervenções desnecessárias e estabelecendo-se relações de confiança entre as famílias e a equipe e autonomia da gestante. Considera-se uma atenção pré-natal de qualidade aquela com início precoce, periódica, completa e com ampla cobertura. O início do acompanhamento no primeiro trimestre da gestação permite a realização oportuna de ações preventivas, de diagnósticos mais precoces e de ações de promoção à saúde. Além disso, possibilita a identificação no momento oportuno de situações de alto risco que envolvem encaminhamentos para outros pontos da atenção, permitindo melhor planejamento do cuidado (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 18 A periodicidade do pré-natal deve ser adequada a cada gestante em particular, ou seja, as gestantes em situações de maior risco, precisam ser acompanhadas mais de perto. Mulheres sem pré- natal apresentam maiores riscos, tais como prematuridade, natimortalidade, mortalidade materna (CUNNINGHAM et al, 2016). O número de consultas, assim como a forma de agendamento devem ser pactuados com a gestante. O Ministério da Saúde (MS) preconiza um número mínimo de 6 consultas de pré-natal (consultas médicas intercaladas com consultas de enfermagem) e que devem acontecer com periodicidade mensal até a 28ª semana, quinzenal da 28ª até a 36ª semana e semanal da 36ª a 41ª semana. Essa periodicidade é a recomendada de forma tradicional, embora alguns estudos tenham evidenciado que, para gestantes sem riscos gestacionais, um número reduzido de consultas pode ser proposto (CUNNINGHAM et al, 2016). A gestante também deve ser encaminhada para consulta com a equipe de saúde bucal, de preferência no segundo trimestre. Assim, no SSC, as ações consideradas como fundamentais no acompanhamento pré-natal - que serão desenvolvidas detalhadamente nos próximos capítulos dessa Rotina de Atenção - são as seguintes: aconselhar o casal durante o período pré-concepcional; diagnosticar a gestação; procurar estabelecer vínculos, escutar, orientar e esclarecer dúvidas; orientar uma alimentação saudável e controlar o ganho de peso; atentar para o uso de medicamentos e tabagismo na gestação; realizar exame físico; solicitar e avaliar exames complementares; prescrever suplementação e orientar vacinação; diagnosticar e manejar intercorrências clínicas mais frequentes; encaminhar a gestante para atendimento odontológico; orientar direitos sociais e de apoio à gestante; identificar fatores de risco e referenciar ao pré-natal de alto-risco, quando necessário; conhecer os diferentes recursos disponíveis de atenção à gestante no GHC; realizar uma abordagem familiar adequada; realizar atividades de educação e saúde e visitas domiciliares; orientar sobre o período perinatal; realizar abordagem adequada das situações que envolvem abortamento e prover cuidados de puerpério. Um guia resumo das principais recomendações estará disponível em cada sala de atendimento (Anexo 1) com o objetivo de auxiliar os profissionais para uma consulta mais imediata. Priorizamos ações de promoção e prevenção à saúde que são realizadas por um grupo de profissionais com formações diversas e que atuam de forma integrada, sendo assim, privilegiados na realização de um pré-natal qualificado. Além disso, a gestação é um momento especial para a formação e o fortalecimento de vínculos entre equipe e família, entre diferentes famílias da comunidade e, principalmente, do vínculo entre os pais e o futuro bebê, condição fundamental para o desenvolvimento saudável de qualquer criança. 1.2 Gestantes em situação de rua A Gerência de Saúde Comunitária conta com uma equipe de Consultório na Rua atenta às mulheres com suspeita de gestação. São oferecidos exames tais como: teste rápido de gestação, teste rápido de HIV e teste rápido de VDRL. Uma vez gestante e HIV positiva será levada diretamente a Unidade de Prevenção e Transmissão Vertical (UPTV). Se gestante e considerada moradora do território do SSC (sem endereço fixo, mas circula e/ou mora na área de atuação da Unidade de Saúde) será levada à US. A consulta deverá acontecer no mesmo dia ou agendada prontamente para a data mais próxima. Será feito um número de registro no GHC e aberto um prontuário na US (sem número, apenas O acompanhamento pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 19 “Consultório na Rua”, com identificação dos contatos da equipe do Consultório na Rua). As consultas de pré-natal serão realizadas conforme rotina do SSC. A gestante (ou puérpera) deverá sair da consulta com a próxima agendada, sendo esse agendamento para a US ou no Serviço de Pré-natal de alto risco. Caso a gestante não tenha comparecido à reconsulta na US, a Equipe do Consultório na Rua deverá ser informada para que possa realizar busca ativa. 1.3 Indicadores de avaliação da atenção pré-natal no SSC Ações de saúde e seus resultados são avaliados com o objetivo de monitorar o progresso junto às metas, motivar todos os envolvidos no processo (população e profissionais), descobrir oportunidades para melhorar continuamente a qualidade da atenção e otimizar recursos (UNITED STATES. Departament of Health and Human Services. Centers for Disease Control and Prevention, 2011). Para que seja possível avaliar estas ações, um sistema de informação, quer seja de prontuário individual, de família ou informações contidas em boletins de atendimento, se faz necessário. Através dele podemos identificar, por exemplo, se as gestantes do nosso território fazem pré-natal, se iniciam precocemente esse acompanhamento e se as recomendações mínimas preconizadas estão sendo seguidas. Os indicadores de processo e resultado utilizados para avaliar a atenção pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária e o sistema de informação específico da atenção à saúde da gestante no SSC permitem um monitoramento, ou seja, analisar continuamente os indicadores obtidos (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica, 2009) e uma avaliação, que consiste fundamentalmente em fazer um julgamento de valor a respeito de uma intervenção para ajudar na tomada de decisões (CONTANDRIOPOULOS et al, 1997 apud BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica, 2009). Lembramos que existem dois tipos de informação referentes à gestante: as que são registradas no prontuário, em formulário específico de pré-natal (Anexo 2) e no cartão da gestante, que irão auxiliar o profissional que realiza o pré-natal na continuidade do acompanhamento e, as que são registradas no boletim de atendimento, permitindo uma melhor vigilância à saúde das gestantes no que diz respeito à cobertura e qualidade do pré-natal oferecido. Os resultados são sistematicamente divulgados às equipes e coordenação do SSC através de um relatório mensal, que consiste numa versão mais simplificada e contém apenas os principais indicadores e, um relatório anual, que contempla todos os resultados encontrados e de diferentes fontes, quer sejam do SSC, GHC ou provenientes da Secretaria Municipal de Saúde. 1.3.1 Indicadores de processo1 • Educação permanente dos profissionais (mínimo de uma atualização/ano em pré-natal); • Distribuição de rotina de pré-natal atualizada aos profissionais do SSC (atualização e distribuição da rotina a cada 2 anos); • Cobertura de pré-natal (meta de 95% das gestantes do território); Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 20 • Índice de Kessner modificado (TAKEDA, 1993) adequado (meta de 89% de pré-nataladequado); • Percentual de gestantes que consultaram com o dentista (meta de 86% das gestantes em pré-natal nas US do SSC) 1.3.2 Indicadores de resultado e impacto • Coeficiente de incidência de sífilis congênita a cada 1.000 nascidos vivos (meta de até 1:1000 nascidos vivos); • Proporção de RN vivos de baixo peso em relação ao total de RN vivos (admite-se um percentual de 10%); • Proporção de RN vivos prematuros em relação ao total de RN vivos (admite-se um percentual de 10%); • Coeficiente de Mortalidade Infantil(inferior a 10 óbitos em 1.000 nascidos vivos). Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos da atenção básica: saúde das mulheres. Brasília, DF: Ed. Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_saude_mulher.pdf> Acesso em: 8 ago. 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Hanseníase: monitoramento e avaliação: manual de capacitação em monitoramento e avaliação. Brasília, DF: Ed. Ministério da Saúde, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Grupo Hospitalar Conceição. Gerência de Saúde Comunitária. Apoio Técnico em Monitoramento e Avaliação. Sistema de Informações em Saúde do Serviço de Saúde Comunitária (SIS-SSC/GHC). Boletim Informativo Mensal, jul. 2016. mímeo. contato: frui@ghc.com.br, mlenz@ghc.com.br CUNNINGHAM F. G. et al. Obstetrícia de Willians. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. LOCKWOOD, C. J.; MAGRIPLES, U. Initial prenatal assessment and first-trimester prenatal care. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/initial-prenatal-assessment-and- first-trimester-prenatal-care?source=see_link§ionName=Airline+travel&anchor=H28#H28>. Acesso em: 9 ago. 2016. STARFIELD, B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília, DF: Unesco, 2002. TAKEDA, S. M. P. Avaliação da Unidade de Atenção Primária: modificação dos indicadores de saúde e qualificação da atenção. 1993. Dissertação (Mestrado)-Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 1993. UNITED STATES. Departament of Health and Human Services. Centers for Disease Control and Prevention. Office of the Director, Office of Strategy and Innovation. Introduction to program evaluation for public health programs: a self-study guide. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention, 2011. Disponível em: <https://www.cdc.gov/eval/guide/cdcevalmanual.pdf>. Acesso em: 1 set. 2016. 1 As metas ou situações consideradas ideais foram apontadas a partir de resultados esperados pela literatura e/ou comparando resultados encontrados local e nacionalmente. O acompanhamento pré-natal no Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 21 VICTORA, C. G.; CESAR, J. A. Saúde materno-infantil: padrões de morbimortalidade e possíveis intervenções. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia & saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 23 2. A CONSULTA PRÉ-CONCEPCIONAL DO CASAL Maria Lucia Medeiros Lenz Felipe Anselmi Correa “Antes de engravidar, eu procurei o médico. Queria saber se estava tudo bem, ainda mais que eu já estou com 35 anos.” Gestante moradora do território de atuação do SSC/GHC A consulta pré-concepcional, embora nem sempre aconteça, é parte integrante dos cuidados pré-natais e tem por objetivo possibilitar ações preventivas e o tratamento de patologias que possam prejudicar o curso saudável de uma gestação. Esta consulta deve ser realizada com o casal. Homens e mulheres deveriam se preparar para uma gravidez, seguindo recomendações que reduzam riscos e promovam estilos de vida mais saudáveis. Existem evidências que muitas intervenções reduzem alguns resultados desfavoráveis na gestação que incluem malformações, perda fetal, baixo peso ao nascer e prematuridade (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). O profissional de saúde, durante esta consulta, poderá também reconhecer precocemente as expectativas em relação à gravidez, o momento que a família está vivenciando e a sua história de vida. As seguintes recomendações devem ser observadas, visando identificar problemas, avaliar e manejar riscos e prevenir doenças e malformações congênitas. 2.1 Recomendações específicas para a mulher 2.1.1 Anamnese • Questionar sobre problemas de saúde, tais como: epilepsia, diabetes, hipertensão, doenças psiquiátricas, infecções sexualmente transmissíveis (sífilis, por exemplo), fenilcetonúria, colagenoses (lupus e outras), distúrbios da tireóide (mulheres com sintomas de hipotireoidismo devem ser rastreadas para a doença da tireóide), doenças tromboembólicas, outras doenças infecciosas (rubéola, varicela, toxoplasmose, hepatite B, infecção urinária) e histórico vacinal (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011; CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Recomenda-se realizar triagem para sintomas de depressão e orientar as mulheres deprimidas quanto ao risco de exacerbação durante gravidez e puerpério e da possibilidade de ter que suspender tratamento (CUNNINGNAM et al, 2016). • Recomenda-se avaliar a possibilidade da mulher ser vítima de violência doméstica (passada ou atual). Estima-se que a prevalência é alta e que, excluindo pré-eclampsia, a violência doméstica é mais prevalente que qualquer outra condição clínica detectável nas consultas de pré-natal. Além disso, a violência pode se agravar na gestação, logo o período pré-concepcional oferece oportunidade de rastrear esse problema (CUNNINGNAM et al, 2016). Todas as mulheres devem ser encorajadas a conhecer direitos, recursos da comunidade, sociais e judiciais para lidar com parceiros abusadores/agressivos. A exposição à violência por parceiro íntimo associa-se a ocorrência de recém-nascidos de baixo peso, Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 24 parto prematuro, hipertensão, hiperêmese, infecções, anemia, tabagismo e uso de álcool ou outras drogas. O aconselhamento e intervenção pode reduzir a violência praticada pelo parceiro íntimo e melhorar o resultado da gestação (LOCKWOOD; MAGRIPLES, 2016; DELAHUNTA; TULSKY, 1996; CUNNINGHAM et al, 2016). • Identificar uso de medicamentos especialmente para tratamento da hipertensão, epilepsia, tromboembolismo, depressão e ansiedade. Verificar uso de vitaminas em excesso e também o uso dermatológico de isotretinoína e etretinato. Qualquer medicamento deve ser revisado e substituído antes da concepção, conforme grau de risco (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011; CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Recomendamos leitura do Capítulo 10 (Medicamentos na gestação e puerpério) e também consulta junto ao Sistema Nacional de Informação sobre Teratógenos (SIAT) que é um serviço gratuito e está sediado no Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Informações são fornecidas sobre os efeitos na gestação de medicamentos e de outros agentes químicos, físicos e biológicos, de acordo com seu público alvo (pacientes ou profissionais) e podem ser obtidas por telefone (+55 51 3359-8008), e-mail (siat@gravidez- segura.org) ou pelo site (gravidez-segura.org) (HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE, 2016). • Identificar hábitos nocivos tais como tabagismo ativo ou passivo, uso de bebidas alcoólicas e de outras drogas, evitando qualquer julgamento (CUNNINGHAM et al, 2016). A exposição pré-natal ao álcool é aprincipal causa de retardo mental passível de prevenção e nenhum nível seguro do consumo de álcool foi estabelecido (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). O uso de tabaco, álcool e drogas ilícitas deverá ser suspenso com a anticoncepção (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). O capítulo 12 (Tabagismo e suas peculiaridades na gestação) aborda de forma detalhada os riscos do tabagismo ativo e passivo, assim como o adequado manejo para a interrupção deste hábito. • Identificar história gineco-obstétrica, especialmente o número de gestações, tipo de parto, peso ao nascer e intercorrências como abortamento, perdas fetais, hemorragias, pré- eclâmpsia. Estimular para que o intervalo entre as gestações seja de, no mínimo, dois anos. Mulheres que tiveram parto por cesariana devem ser orientadas a esperar 18 meses antes da próxima gestação. Mulheres que abortaram devem ser tranquilizadas quanto a baixa probabilidade de reincidência. Caso tenham tido três ou mais abortamentos, devem ser investigadas e manejadas de acordo com a causa. Mulheres com história de um parto prematuro ou recém-nascido de baixo peso ao nascer devem ser avaliados para causas remediáveis de serem resolvidas antes da próxima gravidez e devem ser informados sobre os benefícios potenciais do tratamento com progesterona durante a gravidez subsequente. Durante a visita pré-concepcional, uma mulher com um natimorto anterior deve receber aconselhamento sobre o aumento do risco de novos resultados adversos na gravidez e pode necessitar apoio. Avaliação adequada para identificar a causa da morte fetal anterior deve ser realizada, caso não não tenha sido feito como parte da investigação inicial. Os fatores de A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 25 risco passíveis de serem modificados antes de uma nova gestação devem ser manejados (por exemplo, o uso do tabaco) (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Avaliar as condições de trabalho e orientar sobre os riscos de exposição a tóxicos ambientais (asbesto, chumbo, mercúrio, radiação, pesticidas, solventes). Mulheres que trabalham com lactentes e crianças jovens também devem ser orientadas sobre a redução do risco de infecção por citomegalovírus através de precauções universais tais como: o uso de luvas de látex e de lavagem das mãos após o manuseio de fraldas ou após exposição a secreções respiratórias (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Em relação a exposição tóxicos ambientais recomenda-se evitar peixes como tubarão, espadarte, cavala e lofotálito e comer no máximo 360g (duas porções) de atum enlatado e no máximo 180g de atum-voador por semana (devido ao risco de exposição ao metilmercúrio). Recomenda-se fazer dosagem sanguínea de chumbo se houver fator de risco (imigração recente de ou residência em áreas contaminadas, moradia próxima de fonte de chumbo, trabalhadora com chumbo ou coabitante com alguém que seja, trabalhadora com cerâmica envernizada com chumbo, consumos de substâncias não alimentares, uso de medicamentos, ervas ou terapias alternativas e complementares, uso de cosméticos ou determinados alimentos importados, renovação ou reforma de casa antiga sem uso de medidas de controle de risco, consumo de água contaminada por chumbo, antecedente de exposição ao chumbo ou evidência de aumento na carga de chumbo, coabitação com alguém identificado com nível elevado de chumbo) (CUNNINGHAM et al, 2016). • Identificar na história familiar do casal situações de risco para doença genética (e oferecer consulta com especialista), tais como: idade avançada (>35 anos), familiares portadores ou afetados por doença genética (ex: defeitos do tubo neural, fenilcetonúria, talassemias) ou malformações, consanguinidade, história familiar de retardo mental (ou atraso no desenvolvimento), exposição ambiental com risco para o feto, uso crônico de medicamentos potencialmente teratogênicos, triagem sérica materna alterada, alterações na ultra- sonografia (translucência nucal ou morfológica) e história de natimorto ou abortamentos de repetição (3 ou mais abortamentos espontâneos) (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011; CUNNINGHAM, 2016). O encaminhamento para consulta com geneticista no período pré- concepcional pode ser realizado através do sitema de agendamento GERCON da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre-RS. • Estimular hábitos saudáveis tais como alimentação adequada (ver capítulo 8. Alimentação saudável na gestação e puerpério), manutenção do peso ideal e atividade física. Para a mulher, alcançar um peso saudável antes da gravidez reduz os riscos de defeitos do tubo neural, parto prematuro, diabetes, cesariana e doença hipertensiva e tromboembólica que estão associados com a obesidade. Todas as mulheres devem ter o seu IMC calculado anualmente. Mulheres com um IMC ≤18.5 kg/m2 ou ≥25 kg/m2 devem ser aconselhadas sobre os riscos para a sua própria saúde e os riscos para futuras gestações, incluindo infertilidade. O manejo de excesso de peso (IMC de 25 a 29,9 kg/m2) deve concentrar-se na Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 26 alteração dos padrões alimentares e de atividade física para prevenir o desenvolvimento da obesidade e para produzir perda de peso moderada. Já o manejo da obesidade (IMC ≥30 kg/m2) deve centrar-se em produzir perda de peso substancial ao longo de um período prolongado. A presença de comorbidades em pacientes com sobrepeso e obesidade devem ser considerados ao decidir sobre as opções de tratamento (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). A atividade física, para homens e mulheres, que resulta em benefícios significativos à saúde consta de atividades que fortalecem a musculatura (mínimos de duas vezes na semana) combinada com atividades físicas aeróbicas. Preconiza-se 2h e 30 min de atividade física aeróbica moderada ou 1h e 15min de atividade física aeróbica vigorosa semanalmente, distribuidas ao longo da semana em episódios de no mínimo 10min (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Identificar estado vacinal. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) apresenta calendários de imunização específicos para adolescentes na faixa etária de 11 a 19 anos e adultos na faixa etária de 20 a 59 anos, tanto de vacinas disponíveis na rede pública quanto privadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES, 2016a; SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES,2016b), que podem ser utilizados para orientar a avaliação e as recomendações necessárias. Recomenda-se estar atento especialmente para o estado vacinal contra doenças que afetam diretamente a saúde do bebê tais como rubéola, varicela e hepatite B (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). As vacinas com vírus vivo (ex: varicela-zóster, sarampo, caxumba, rubéola, pólio, varicela e febre amarela) não são recomendadas durante a gestação. Além disso, em condições ideais, deve-se esperar um mês ou mais entre a vacinação e as tentativas de engravidar. No entanto, a administração inadvertida das vacinas contra o sarampo, caxumba e rubéola (MMR) ou varicela durante a gestação em geral não deve ser considerada indicação para interromper a gestação (CUNNINGHAM et al, 2016). 2.1.2 Exame físico • Exame físico da paciente: realizar ausculta cardio-respiratória, palpar a tireóide, aferir pressão arterial, realizar antropometria (verificação de peso e da altura) e calcular o índice de massa corporal (IMC). O excesso de peso é um dos fatores de risco obstétricos mais comuns, sendo risco para diabetes, distúrbios hipertensivos na gestação, maior taxa de cesarianas e aumento de complicações anestésicas e pós-operatórias. No entanto, a perda de peso durante a gestação não é recomendada por aumento no risco de defeitos de fechamento do tuboneural, logo, programa para redução de peso deve ser realizada no período pré-concepcional e não durante a gestação (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011). • Exame ginecológico completo: realizar exame de mamas, estimular o autoexame e coletar material para exame citopatológico do colo uterino. O rastreamento do câncer de colo uterino a partir de 25 anos em todas as mulheres que iniciaram atividade sexual, e deverá A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 27 ser repetido a cada três anos, se os dois primeiros exames anuais forem normais (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). 2.1.3 Exames complementares • Solicitar hemograma, glicemia de jejum, exame de urina (EQU), VDRL, sorologia para Toxoplasmose (IgG) e Anti-HIV (sempre com aconselhamento e consentimento). Solicitar sorologia para rubéola se houver dúvida quanto ao histórico vacinal. Se IgG negativo para rubéola, indicar vacinação (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). A vacina deve ser realizada pelo menos um mês antes de suspender a anticoncepção (RILEY, 2016), embora alguns autores recomendam aguardar 90 dias (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011). No entanto, caso a vacina tenha sido realizada inadvertidamente em gestante, a interrupção da gestação não é recomendada por tratar-se de um risco teórico (RILEY, 2016). • O Ministério da Saúde (MS) recomenda triagem para hepatite B e C para o casal no período pré-concepcional (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). Segundo o Centers for Disease Control and Prevention (2016), não há evidências mostrando que a triagem pré-concepção para a hepatite C, entre mulheres de baixo risco, melhore resultados perinatais, no entanto, a triagem para mulheres de alto risco é recomendada (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). As mulheres que são positivos para hepatite C e desejam engravidar devem ser aconselhadas sobre a infectividade incerta, a ligação entre a carga viral e transmissão neonatal, a importância de evitar drogas hepatotóxicas e o risco de doença hepática crônica. Mulheres que estão sendo tratadas para a hepatite C devem ter seus planos reprodutivos revistos (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Mulheres sexualmente ativas e com risco elevado para infecção por clamídia (histórico de ISTs, múltiplos parceiros sexuais, uso inconsistente de preservativo, trabalho sexual e uso de drogas) devem ser rastreadas na consulta pré-concepcional (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Recomenda-se triagem em todas as mulheres negras para doença falciforme. Instruir as mulheres com traço ou doença falciforme (CUNNINGNAM, 2016) quanto a testagem do parceiro para aconselhamento genético, a necessidade de suspender medicamentos contra- indicados e quanto as possíveis complicações na gestação em curso com doença falciforme (ex: anemia, episódios de dor, necessidade de transfusão, infecções, trombose) (VICHINSKY, 2016). 2.1.4 Prescrições • Ácido fólico. O uso de ácido fólico reduz significativamente (em 50 a 70 por cento) o risco de defeitos no tubo neural (incluindo a espinha bífida, anencefalia e encefalocele). A dose recomendada é de 0,4mg/dia (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016; BRASIL. Ministério da Saúde, 2016) pelo menos 30 dias antes da concepção. Sendo que as mulheres com antecedentes de feto com este tipo de malformação (ou em uso de Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 28 ácido valpróico ou carbamazepina) devem fazer uso de 4mg de ácido fólico/dia, pelo menos 30 dias antes da concepção (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016; HOCHBERG; STONE, 2016). Recomenda-se o uso de 0,4mg/dia até o final da gestação, para prevenção de malformações (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016) e para atender às necessidades de crescimento do feto e da placenta (HOCHBERG; STONE, 2016). 2.2 Recomendações específicas para o homem 2.2.1 Anamnese • Realizar história clínica e incluir condições clínicas em curso que possam prejudicar a sua saúde reprodutiva. Várias condições têm sido associados a problemas de diminuição da qualidade do esperma e fertilidade, incluindo a obesidade, diabetes mellitus, varicocele, infecções sexualmente transmissíveis (IST) e tratamentos para câncer durante a infância (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Identificar medicamentos em uso. Um grande número de medicamentos pode afetar a contagem de esperma e sua qualidade, incluindo agentes alquilantes, bloqueadores dos canais de cálcio, cimetidina, colchicina, corticosteróides, ciclosporina, eritromicina, gentamicina, neomicina, metadona, nitrofurantoína, fenitoína, espironolactona, sulfasalazina, tetraciclina e tioridazina (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Identificar hábitos nocivos como tabagismo ativo ou passivo, ingestão de bebidas alcoólicas e uso de outras drogas. Especificamente relacionado a gestação, o uso do tabaco tem sido associado com uma contagem de esperma diminuida e morfologia anormal de espermatozóides, motilidade e capacidade de fertilização. Evidências recentes sugerem que a nicotina e outras substâncias químicas nos cigarros também pode induzir o dano oxidativo ao DNA do esperma. Além disso, o fumo passivo pode provocar a morte prematura e doenças em crianças e adultos que não fumam. As mulheres grávidas que estão expostas ao fumo passivo têm chances 20% maiores de dar à luz um bebê de baixo peso ao nascer do que as mulheres que não estão expostos ao fumo passivo durante a gravidez. Os efeitos do consumo de álcool sobre a qualidade do esperma não são claras. Alguns estudos têm demonstrado que o consumo moderado pode proteger contra danos ao DNA, talvez em parte devido ao efeito antioxidante de algumas bebidas alcoólicas. Outros estudos têm mostrado que o álcool pode ser prejudicial ao DNA do esperma. Em um estudo realizado em um centro de tratamento de dependência de alcoólicos, o nível de testosterona, o volume de sêmen, contagem de espermatozóides e o número de espermatozóides morfologicamente normais e motilidade foram menores entre os homens que abusaram do álcool do que os homens que não fizeram. Várias drogas também têm sido associadas a infertilidade masculina (redução da produção de testosterona, contagem de esperma ou qualidade do sêmen), incluindo a maconha, cocaína e os esteróides anabólicos (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Os homens devem também ser questionados sobre seu ambiente de trabalho. Exposições a metais, solventes, desreguladores endócrinos ou pesticidas no trabalho podem prejudicar a A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 29 qualidade do esperma, o que pode levar a infertilidade ou aborto. Além disso os homens podem transportar produtos químicos para casa em suas roupas, pele e sapatos, e ocasionar a exposição de suas famílias. Trocar de roupas e sapatos antes, ou imediatamente depois de chegar em casa, pode reduzir a quantidade de produtos químicos. Se potenciais riscos forem identificados, uma consulta com um especialista em medicina do trabalho pode ajudar em uma investigação mais detalhada e recomendações (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Estimula-se identificar transtornos mentais. Evidências recentes sugerem que a depressão paterna durante o desenvolvimento pós-natal do filho de um casal pode influenciar significativamente na saúde emocional e comportamental da criança, mesmo após o ajuste para a depressão materna e depressão paterna durante um estágio de desenvolvimento diferente da criança; tais malefícios a longo prazo podem ser evitados com a identificação e encaminhamento para profissionais de saúde mental. Além disso, os pais com depressão podem ter um efeito negativosobre interações mãe-criança, e são menos propensos a se envolver em certas interações pai-filho, como brincar ao ar livre com seus filhos. Por outro lado, a boa saúde mental dos pais reduz os efeitos de depressão materna em seu filho (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Identificar na história familiar do casal risco para doença genética (e oferecer consulta com especialista), tais como: idade avançada (>35 anos), familiares portadores ou afetados por doença genética (ex fenilcetonúria, talassemias) ou malformações, consanguinidade, história familiar de retardo mental (ou atraso no desenvolvimento), exposição ambiental com risco para o feto, uso crônico de medicamentos potencialmente teratogênicos, triagem sérica materna alterada, alterações na ultra-sonografia (translucência nucal ou morfológica) e história de natimorto ou abortamentos de repetição (3 ou mais abortamentos espontâneos) (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011; CUNNINGHAM et al, 2016). O encaminhamento para consulta com geneticista no período pré-concepcional pode ser realizado através do sitema de agendamento GERCON da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre-RS. • Estimular hábitos saudáveis tais como alimentação adequada, manutenção do peso ideal e atividade física. • A atividade física, para homens e mulhres, que resulta em benefícios significativos à saúde consta de atividades que fortalecem a musculatura (mínimos de duas vezes na semana) combinada com atividades físicas aeróbicas. Preconiza-se 2h e 30 min de atividade física aeróbica moderada ou 1h e 15min de atividade física aeróbica vigorosa semanalmente, distribuidas ao longo da semana em episódios de no mínimo 10min (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). • Identificar estado vacinal. O estado de imunização de homens deve ser revisto como parte de uma avaliação pré-concepcional e as vacinas apropriadas devem ser oferecidas. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) apresenta calendários de imunização específicos para adolescentes na faixa etária de 11 a 19 anos e adultos na faixa etária de 20 a 59 anos, tanto de vacinas disponíveis na rede pública quanto privadas (SOCIEDADE Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 30 BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES, 2016a; SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES,2016b), para orientar esta avaliação. 2.2.2 Exame físico • Recomenda-se o rastreio de homens adultos para hipertensão e obesidade, com aferição de TA, peso, altura e IMC (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). 2.2.3 Exames complementares • O Ministério da Saúde preconiza a solicitação de VDRL, anti-HIV e a investigação de hepatite B e C para o casal na consulta pré-concepcional (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). • Recomenda-se ainda rastreio para distúrbios lipídicos em homens com 35 anos ou mais (assim como os homens 20-35 anos de idade com diabetes, história familiar de doença cardiovascular ou hiperlipidemia familiar ou múltiplos fatores de risco de doença cardíaca coronária). Recomenda-se rastreio para diabetes mellitus tipo 2 em homens com hipertensão ou hiperlipidemia. Homens com 50 anos de idade ou mais devem fazer rastreio de cancer colorectal. Recomenda-se ainda triagem de rotina para câncer de testículo entre os homens jovens ou câncer de próstata entre os homens com 50 anos de idade ou mais velhos (45 anos ou mais de idade para homens com risco acrescido, por exemplo, negros ou homens afro-americanos e aqueles com história familiar de câncer de próstata) (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). 2.3 Recomendações ao casal que deseja gestar Aos casais que desejam engravidar, manter relações sexuais sem proteção, cinco dias antes da data prevista para a ovulação (9o dia em um ciclo padrão de 28 dias), podendo realizá-las em dias alternados, até cinco dias após a ovulação (19o dia em um ciclo padrão de 28 dias) (MAGALHÃES; SANSEVERINO, 2011). O Ministério da Saúde descreve critérios para iniciar investigação de infertilidade, assim como os exames complementares passíveis de serem solicitados na APS quando disponíveis ou quando o serviço especializado não é de fácil acesso. Mulheres sem concepção, com menos de 30 anos e mais de dois anos com vida sexual ativa (mais de um ano, para as que encontram-se entre 30 e 39 anos e mais de 6 meses, para as que se encontram entre 40-49 anos) devem ser encaminhadas para serviço especializado em infertilidade. Cônjuges em vida sexual ativa, sem uso de contraceptivos, e que possuem fator impeditivo de concepção (obstrução tubária bilateral, amenorréia prolongada, azoospermia, etc.), independente do tempo de união, também devem ser encaminhados. Da mesma forma, na vigência de duas ou mais interrupções gestacionais subsequentes. Na situação de dificuldade de acesso a esse serviço e/ou dependente da disponibilidade, os exames iniciais podem ser solicitados nas US de APS. Dosagens hormonais (FSH, TSH, T4 livre e Prolactina) para a mulher, e espermograma A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 31 para o homem são os exames iniciais. Homens com espermograma alterado, devem repetí-lo após um mês, mantido alterado, deve ser encaminhado ao urologista (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). 2.4 Situações especiais 2.4.1 Mulher ou parceiro infectados pelo vírus HIV Segundo recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016), o controle pré-concepcional no casal portador do HIV pressupõe a recuperação dos níveis de linfócitos T- CD4+ (parâmetro de avaliação da imunidade) e a redução da carga viral de HIV circulante para níveis indetectáveis. Esses cuidados, acrescidos das técnicas de assistência preconizadas para a concepção em casais HIV+ (soro discordantes ou soro concordantes) e das ações para a prevenção da transmissão vertical durante toda a gestação, parto e pós-parto, incluindo a não amamentação, permitem que a gestação ocorra em circunstância de risco reduzido para a mulher e o bebê, promovendo melhores resultados maternos e perinatais. O casal que deseja gestar deve ser encaminhado a Unidade de Prevenção da Transmissão Vertical (ver capítulo 14. Fatores de risco gestacional e serviços de referência no GHC de atenção à saúde da gestante). 2.4.2 Mulheres diabéticas e/ou hipertensas As mulheres diabéticas e hipertensas devem ser informadas dos riscos na gestação. Ser diabética aumenta o risco materno de complicações crônicas como retinopatia, nefropatia, cardiopatia, neuropatia e, aumenta o risco do recém-nascido apresentar malformações, morte perinatal e prematuridade. O planejamento da gestação em mulheres diabéticas reduz o risco de complicações. É importante otimizar o controle metabólico (hemoglobina glicada < 6,5%) antes da concepção, sem acarretar risco indevido de hipoglicemia materna (CUNNINGHAM et al, 2016). As mulheres devem ser encorajadas a manter um método contraceptivo eficaz até atingir um bom controle da glicose. Outras medidas compreendem a substituição do hipoglicemiante oral por insulina (conforme necessidade de manejo medicamentoso), associada ao acompanhamento dietético e nutricional, uso de ácido fólico e atividade física. Essas condutas têm reduzido o risco, a níveis próximos às gestantes sem diabetes, da ocorrência de malformações congênitas e de algumas causas de mortalidade perinatal (MORTON- EGGLESTON; SEELY, 2016). Quanto à hipertensão, o aumento da mortalidade materna e perinatal relaciona-se principalmente à sobreposição da pré-eclâmpsia, retardo de crescimento intra-uterino, prematuridade, descolamento prematuro de placenta, natimorto e de complicações maternas com o comprometimento de órgãos vitais (AUGUST, 2016). As mulheres em idade reprodutiva com hipertensão crônica devem ser aconselhadassobre a eventual necessidade de alterar o esquema anti-hipertensivo antes da concepção, além de serem melhor avaliadas quanto a presença de hipertrofia ventricular, retinopatia e doença renal (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016; CUNNINGNAM et al, 2016). Os inibidores da enzima conversora da angiotensina e os antagonistas dos receptores da angiotensina II são contra-indicados durante a gravidez e devem ser suspensos ou substituídos (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 32 As mulheres hipertensas ou diabéticas deverão realizar o pré-natal no ambulatório de alto-risco (ver capítulo 14. Fatores de risco gestacional e serviços de referência no GHC de atenção à saúde da gestante e feto). 2.4.3 Mulheres com transtornos psiquiátricos Transtorno bipolar. Mulheres em idade reprodutiva com transtorno bipolar devem ser aconselhadas quanto ao risco de recidivas durante a gestação, especialmente após interrupção do tratamento de manutenção com estabilizador do humor. A prevenção de recaída e uma estratégia de manejo para o transtorno bipolar devem ser planejados antes da concepção (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Transtornos de ansiedade e depressão. Mulheres em idade reprodutiva com transtornos depressivos e de ansiedade que desejam engravidar devem ser informadas sobre os riscos potenciais de uma doença não tratada durante a gravidez e sobre os riscos e benefícios de vários tratamentos durante a gravidez. Vários estudos têm demonstrado um risco aumentado de defeitos cardíacos associados ao uso de inibidores da recaptação da serotonina. Um estudo recente descobriu que tomar bupropiona durante a gravidez pode aumentar o risco de certos defeitos cardíacos. Uma série de estudos identificaram riscos para o feto e recém-nascido associados ao uso de medicamentos antidepressivos (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Esquizofrenia. Mulheres em idade reprodutiva com esquizofrenia devem ser aconselhados, em conjunto com o parceiro ou outro membro da família, sempre que possível, sobre os riscos da gravidez em sua condição. Eles devem ser orientados sobre a importância do pré-natal. Prevenção de recaída e uma estratégia de manejo da doença devem ser planejados antes da concepção (CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2016). Mulheres com doenças psiquiátricas que necessitam acompanhamento especializado (transtornos psicóticos, depressão grave) devem ser encaminhadas ao Pré-natal de alto risco (BRASIL. Ministério da Saúde, 2016). 2.4.4 Mulheres em uso de medicamentos de forma regular O uso regular de medicamentos é frequente e estima-se que 90% das mulheres consumam pelo menos um medicamento durante a gestação. Mulheres com epilepsia, por exemplo, quando em uso de ácido valpróico ou em tratamento com mais de um fármaco, apresentam risco aumentado de malformações (CUNNINGHAM et al, 2016). Existem substâncias consideradas seguras ou sem evidência de risco e que, se necessário, devem ser escolhidas (ver capítulo 10. Medicamentos na gestação e puerpério). Um recurso que pode ser utilizado pelas equipes da APS é o SIAT (Sistema Nacional de Informação sobre Agentes Teratogênicos). Trata-se de um serviço gratuito de informação para médicos e pacientes sobre os efeitos de medicamentos e de outros agentes químicos, físicos e biológicos na gestação. Esse serviço encontra-se localizado no Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. A consulta pré-concepcional do casal Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 33 As consultas ao SIAT são destinadas a: • gestantes; • mulheres que planejam engravidar; • pais de crianças que nasceram com algum tipo de malformação ou alteração de comportamento cujas mães foram expostas a algum agente externo potencialmente nocivo para o nenê (medicamentos, drogas, infecções, radiações, etc.); • mulheres que estejam amamentando ou que planejam amamentar; • profissionais de saúde que estejam assistindo pacientes em alguma das situações de risco teratogênico e • profissionais da saúde que desejem informações atualizadas sobre o tema. Como fazer a consulta? • A consulta pode ser realizada por telefone através do número (51) 3359-8008 ou e-mail para siat@gravidez-segura.org. O site http://gravidez-segura.org/ é a página do SIAT onde podem ser encontradas mais informações. Referências AUGUST, P. Management of hypertension in pregnant and postpartum women. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/management-of-hypertension-in-pregnant-and- postpartum- women?source=machineLearning&search=risco+hipertens%C3%A3o+gesta%C3%A7%C3%A3o&select edTitle=2~150§ionRank=1&anchor=H15#H15>. Acesso em: 17 ago. 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos da atenção básica: saúde das mulheres. Brasília, DF: Ed. Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_saude_mulher.pdf>. Acesso em: 08 ago. 2016. CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Preconception health and health care. Atlanta, 2016. Disponível em: <http://www.cdc.gov/preconception/index.html>. Acesso em: 10 ago. 2016. CUNNINGHAM, F. G. et al. Obstetrícia de Willians. 24. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016. DELAHUNTA, E. A.; TULSKY, A. A. Personal exposure of faculty and medical students to family violence. JAMA, Chicago, v. 275, n. 24, p. 1903, 1996. HOCHBERG, L; STONE, J. Folic acid supplementation in pregnancy. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/folic-acid-supplementation-in- pregnancy?source=machineLearning&search=%C3%A1cido+f%C3%B3lico+gesta%C3%A7%C3%A3o& selectedTitle=5~150§ionRank=2&anchor=H17#H17>. Acesso em: 16 ago. 2016. HOSPITAL DE CLÍNICAS DE PORTO ALEGRE. Porto Alegre, 2016. Sistema Nacional de Informações sobre Agentes Teratogênicos (SIAT). Gravidez segura: idade e seus riscos. 2016. Disponível em: <http://gravidez-segura.org/index.php?option=com_content&task=view&id=3&Itemid=5>. Acesso em: 10 maio 2010. LOCKWOOD, C. J.; MAGRIPLES, U. Initial prenatal assessment and first-trimester prenatal care. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/initial-prenatal-assessment-and- first-trimester-prenatal-care?source=see_link§ionName=Airline+travel&anchor=H28#H28>. Acesso em: 9 ago. 2016. Atenção à Saúde da Gestante em APS Serviço de Saúde Comunitária do Grupo Hospitalar Conceição 34 MAGALHÃES, J. A.; SANSEVERINO, M. T. V. Aconselhamento pré-concepcional. In: FREITAS, F. et al. Rotinas em obstetrícia. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. MORTON-EGGLESTON, E.; SEELY, E. W. Pregestational diabetes: preconception counseling, evaluation, and management. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/pregestational-diabetes-preconception-counseling-evaluation-and- management?source=machineLearning&search=preconceptional+counseling+diabetes&selectedTitle=1~ 150§ionRank=1&anchor=H1058002514#H1058002514>. Acesso em: 16 ago. 2016. RILEY, L. E. Rubella in pregnancy. UpToDate, 2016. Disponível em: <http://www.uptodate.com/contents/rubella-in- pregnancy?source=machineLearning&search=vacina+rub%C3%A9ola+gesta%C3%A7%C3%A3o&select edTitle=3~116§ionRank=1&anchor=H8#H8>. Acesso em: 14 ago. 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de Vacinação SBIm adolescente: recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2016/2017. Brasília, DF, 2016a. Disponível em: <http://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-adolescente-2016- 17.pdf>.http://sbim.org.br/images/files/calend-sbim-mulher-20-59-anos-2015-16-151119-spread.pdf. Acesso em: 16 dez. 2016. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de Vacinação
Compartilhar