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4. INQUÉRITO POLICIAL

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Inquérito Policial e Outras Formas de Investigação
O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal.
Seu objetivo precípuo é servir de lastro à formação da convicção do representante do Ministério Público (opinio delicti), mas também colher provas urgentes, que podem desaparecer após o cometimento do crime. Não se pode olvidar, ainda, servir o inquérito à composição das indispensáveis provas pré-constituídas que servem de base à vítima, em determinados casos, para a propositura da ação penal privada.
Assim sendo, em nível ideal, somente se deveria admitir o uso das provas colhidas no inquérito policial para instruir a peça inicial acusatória, já que a razão de sua existência e a sua finalidade não condizem com outra conclusão. Não se poderia pensar em coletar provas sem a participação do investigado ou de seu defensor para depois utilizá-las livremente durante a instrução do processo penal.
Deve o juiz ter discernimento para tomar as seguintes medidas, assegurando todos os enfoques necessários (segurança pública e garantia individual de ampla defesa) ao devido processo legal: a) desprezar toda e qualquer prova que possa ser renovada em juízo sob o crivo do contraditório; b) permitir à defesa que contrarie, em juízo, os laudos e outras provas realizadas durante o inquérito, produzindo contraprova; c) tratar como mero indício e jamais como prova direta eventual confissão do indiciado; d) exercer real fiscalização sobre a atividade da polícia judiciária, aliás, é para isso que há sempre um magistrado acompanhando o desenrolar do inquérito; e) ler o inquérito antes de receber a denúncia ou queixa para checar se há realmente justa causa para ação penal; f) aceitar a prova colhida na fase policial, desde que seja incontroversa, ou seja, não impugnada pelas partes.
Polícia Judiciária
Preceitua art. 144, CF/88, ser a segurança pública um dever do Estado, valendo-se este da polícia para a preservação da ordem pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Os órgãos policiais são constituídos da polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, policiais civis, polícias militares e corpo de bombeiros militares.
Cabe aos órgãos constituídos das polícias federal e civil conduzir as investigações necessárias, colhendo provas pré-constituidas para formar o inquérito que servirá de base de sustentação a uma futura ação penal.
A presidência do inquérito cabe à autoridade policial, embora as diligências realizadas possam ser acompanhadas pelo representante do MP, que detém o controle externo da polícia.
Outras Investigações Criminais
Podem ser presididas, conforme dispuser a lei, por outras autoridades. É o que se dá, por exemplo, quando um juiz é investigado. Segundo dispõe o art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar 35/79, “quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou Órgão Especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação. Os Regimentos Internos dos Tribunais especificam como se realizam a investigação”.
 Outras investigações legalmente previstas existem, como as realizadas por Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI), pelas autoridades florestais, por agentes da Administração (sindicâncias e processos administrativos), pelo promotor de justiça, presidindo o inquérito civil, entre outras.
A possibilidade do MP realizar Investigação Criminal
Em sessão realizada em 14 de maio de 2015, o STF reconheceu a legitimidade do MP para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal e fixou os parâmetros de atuação do MP. Tal procedimento é denominado de procedimento investigatório criminal (PIC).
Entre os requisitos, os ministros frisaram que devem ser respeitados, em todos os casos, os direitos e garantias fundamentais dos investigados e que os atos investigatórios – necessariamente documentados e praticados por membros do MP – devem observar as hipóteses de reserva constitucional de jurisdição, bem como as prerrogativas constitucionais garantidas aos advogados, como acesso aos elementos de prova que digam respeito ao direito de defesa. Destacaram ainda a possibilidade do permanente controle jurisdicional de tais atos.
A Classificação das Infrações Penais pela Autoridade Policial
Quando indiciar o suspeito, o delegado deve indicar o tipo penal no qual considera incurso o investigado. Naturalmente, a classificação feita pela autoridade policial não vincula o MP, nem tampouco o juiz, porém, a imputação indiciária favorece o conhecimento dos procedimentos adotados pelo condutor do inquérito. Possui, ainda, reflexos na concessão ou não de fiança, no valor estabelecido para esta, no estabelecimento inicial da competência e até mesmo para a determinação de realização de exame complementar, em caso de lesão corporal grave.
Em certas situações, a classificação feita pela autoridade policial é extremamente relevante, como se pode constatar, após a edição da Lei nº 11.343/2006. Afinal, o usuário de drogas, conforme disposto no art. 28 da referida lei, não é submetido, ainda que condenado, à pena privativa de liberdade.
Como se observa da leitura do art. 48, § 2º, da Lei nº 11.343/2006, o usuário não pode ser preso em flagrante, nem fica detido em hipótese alguma, submetendo-se o seu processo ao JECRIM, nos termos da Lei nº 9.099/95.
Início do Inquérito Policial
Há, basicamente, cinco modos de iniciar o inquérito policial: 
de ofício, quando a autoridade policial, tomando conhecimento da prática de uma infração penal de ação púbica incondicionada, instaura a investigação para verificar a existência do crime ou da contravenção penal e de sua autoria; 
por provocação do ofendido, quando a pessoa que teve o bem jurídico lesado reclama a atuação da autoridade;
por delação de terceiro, quando qualquer pessoa do povo leva ao conhecimento da autoridade policial a ocorrência de uma infração penal de iniciativa do MP;
por requisição da autoridade competente, quando o juiz ou o promotor de justiça (ou procurador da República) exigir, legalmente, que a investigação policial se realize, porque há provas suficientes a tanto;
pela lavratura do auto de prisão em flagrante, nos casos em que o agente é encontrado em qualquer das situações descritas no art. 302, CPP.
Identificação da Espécie de Ação Penal para Efeito de Investigação
A regra do processo penal é a seguinte: a ação é pública incondicionada (O MP pode agir sem qualquer espécie de autorização sempre que houver prova suficiente da ocorrência de uma infração penal), o tipo penal incriminador previsto no CP não menciona nada a respeito.
Do contrário, se a ação penal é pública condicionada, estará expresso: “somente se procede mediante representação” ou “mediante requisição”. Caso seja privada, estará mencionado “somente se procede mediante queixa”.
É importante destacar que, se tratando de ação penal pública condicionada ou de ação penal privada, o inquérito somente pode ser iniciado se houver provocação do ofendido (representação para a ação pública condicionada; requerimento para a ação penal privada) ou do Ministro da Justiça (requisição).
Notitia Criminis
É a ciência da autoridade policial da ocorrência de um fato criminoso, podendo ser: a) direta, quando o próprio delegado, investigando, por qualquer meio, descobre o acontecimento; b) indireta, quando a vítima provoca a sua atuação, comunicando-lhe a ocorrência, bem como quando o promotor ou o juiz requisitar a sua atuação.
Delatio Criminis
É a comunicação dada à comunicação feita por qualquer pessoa do povo à autoridade policial (ou ao membro do MP ou ao juiz) acerca da ocorrência da infração penal em que caiba a ação penal pública incondicionada (art. 5º, § 3º, CPP). Pode ser feita oralmente ou por escrito.Caso a autoridade policial verifique a procedência da informação, mandará instaurar inquérito para apurar oficialmente o acontecimento.
Investigações Criminais contra Autoridades com Prerrogativa de Foro
Determinadas autoridades detêm foro privilegiado, isto é, somente podem ser investigadas e processadas em determinados tribunais. Dessa forma, não pode a autoridade policial instaurar inquérito e colher provas diretamente; caso, durante uma investigação qualquer, encontre indícios de participação de pessoa com prerrogativa de foro, deverá remeter os autos do inquérito ao juízo competente. Ex.: deputados e senadores são processados no STF.
Requisição, Requerimento, Representação.
Requisição é a exigência para a realização de algo, fundamentada em lei. Assim, não se deve confundir requisição com ordem, pois nem o representante do MP, nem o juiz, são superiores hierárquicos do delegado. Requisitar a instauração do inquérito policial significa um requerimento lastreado em lei, fazendo com que a autoridade policial cumpra a norma e não a vontade particular do promotor ou do juiz.
Requerimento é uma solicitação, passível de indeferimento, razão pela qual não tem a mesma força de uma requisição. A parte faz um requerimento ao juiz, pleiteando a produção de uma prova, por exemplo. O magistrado pode acolher ou indeferir, livremente, ainda que o faça fundamentando.
Representação é a exposição de um fato ou ocorrência, sugerindo ou solicitando providências, conforme o caso. Trata-se de ato da autoridade policia, como regra, explicando ao juiz a necessidade de ser decretada uma prisão preventiva ou mesmo de ser realizada uma busca e apreensão. Por outro lado, pode cuidar-se do ato do ofendido que, expondo à autoridade competente o crime do qual foi vítima, pede providências. A representação não precisa ser formal, concretizada por termo escrito e expresso nos autos do inquérito ou do flagrante.
Negativa de Cumprimento à Requisição
É possível que a autoridade policial refute a instauração do inquérito requisitado por membro do MP ou do juiz, desde que se trate de exigência manifestamente ilegal.
A Constituição, ao prever a possibilidade de requisição de inquérito, pelo promotor, preceitua que ele indicará os fundamentos jurídicos de sua manifestação (art. 129, VIII). O mesmo se diga das decisões tomadas pelo magistrado, que necessitam ser fundamentadas (art. 93, IX, CF/88).
Caso o delegado, de posse de um ofício de requisição, contendo a descrição pormenorizada de um fato criminoso, recuse-se a instaurar o inquérito, responderá funcionalmente e, conforme o caso, criminalmente pelo desatendimento.
Entretanto, instaurado conforme legalmente exigido, não poderá ser considerado autoridade coatora, em caso de revolta do indiciado. Este necessita voltar-se contra a autoridade que encaminhou a requisição.
Caso, no entanto, a autoridade policial instaure uma investigação totalmente descabida (ex,: inquérito para apurar o não pagamento de uma dívida civil), embora cumprindo requisição, poderá responder, juntamente com a autoridade que assim exigiu, por abuso de autoridade.
O mesmo se dá com o requerimento e com a representação. Aliás, no tocante ao requerimento, preceitua o CPP (art. 5º, § 1º) que ele conterá, sempre que possível, “a narração do fato, com todas as circunstâncias”, “a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer” e “a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência”.
Recusa da Autoridade Policial à Instauração do Inquérito quando Oferecido Requerimento do Ofendido e a Questão da Denúncia Anônima
Diz a lei caber recurso ao chefe de Polícia que, atualmente, considera-se o Delegado-Geral de Polícia, superior máximo exclusivo da Polícia Judiciária. Há quem sustente, no entanto, cuidar-se do Secretário de Segurança Pública.
Entretanto, de uma forma ou de outra, quando a vítima tiver seu requerimento indeferido, o melhor a se fazer é enviar seu inconformismo ao MP ou mesmo ao Juiz de Direito da Comarca, que poderão requisitar a instauração do inquérito, o que, dificilmente, deixará de ser cumprido pela autoridade policial.
Destaque-se, ainda, ser o anonimato uma forma inadmissível e insuficiente para a instauração de inquérito, ao menos na modalidade delatio criminis. Ao encaminhar a comunicação por escrito, deve a pessoa identificar-se. A comunicação falsa do delito pode dar ensejo à comunicação de um crime, motivo pelo qual não se deve aceitar denúncia anônima.
Na verdade, há diferença entre investigar e instaurar investigação criminal. A primeira modalidade é informal; a segunda, formal. Por isso, os serviços denominados disque-denúncia têm prestado relevantes feitos à sociedade, pois incentivam pessoas a indicar à polícia autores de crimes e a própria ocorrência de infrações penais. Tais delatores ficam anônimos para sua própria proteção. Porém, não são tais informes elementos idôneos para instaurar inquérito e, pior, indiciar alguém. A polícia pode utilizar as informações prestadas anonimamente para buscar, com legitimidade, a prova adequada para sustentar a abertura oficial do inquérito e eventual indiciamento do suspeito. 
Indiciamento e Constrangimento Ilegal
Indiciado é a pessoa eleita pelo Estado, dentro de sua convicção, como autora da infração penal. Implica um constrangimento natural, pois a folha de antecedentes receberá a informação, tornando-se permanente, ainda que o inquérito seja, posteriormente, arquivado. Assim, o indiciamento não é um ato discricionário da autoridade policial, devendo basear-se em provas suficientes para isso. A questão situa-se na legalidade do ato.
É cabível o habeas corpus dirigido ao juiz direito da Comarca, caso alguém se sinta injustamente convocado à delegacia para ser indiciado. Nessa hipótese, o magistrado pode fazer cessar a coação, se ilegal, impedindo o indiciamento ou mesmo determinando o trancamento da investigação.
O Indiciado como Objeto da Investigação
É a posição ocupada pelo indiciado durante o desenvolvimento do inquérito policial. Não é ele, como no processo, sujeito de direitos, a ponto de poder requerer provas e, havendo indeferimento injustificado, apresentar recurso ao órgão jurisdicional superior.
Não se pode, no decorrer da investigação, exercitar o contraditório, nem a ampla defesa, portanto. Deve acostumar-se ao sigilo do procedimento, não tendo acesso direto aos autos, mas somente através de seu advogado. Por isso, é considerado objeto da investigação.
Ao afirmar-se ser o indiciado objeto da investigação não significa dizer que ele é sujeito desprovido de direitos, mas tão-somente representa o valor de ser o suspeito o alvo da investigação produzida, sem que possa nela interferir, como faz, regularmente, no processo penal instaurado.
Regras do Interrogatório
Vale-se o delegado dos mesmos critérios do juiz de direito, conforme previsão feita nos arts. 185 a 196 do CPP, com as adaptações naturais, uma vez que o indiciado não é ainda réu em ação penal. Deve se respeitar e aplicar o direito ao silêncio, constitucionalmente assegurado ao investigado (art. 5º, LXIII, CF/88).
Identificação Criminal: dactiloscópica e fotográfica
A identificação criminal é a individualização física do indiciado, para que não se confunda com outra pessoa, por meio da colheita das impressões digitais, da fotografia e da captação de material biológico para exame de DNA.
A Constituição Federal, em seu art. 5º, LVIII, preceituou que “o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”.
Poderá ocorrer a identificação criminal, ainda que exibido documento civil, quando (art. 3º, lei nº 12.037/2009):
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos, cominformações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da autoridade judiicária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais. 
Não há mais um rol de crimes, impondo a obrigatoriedade da identificação criminal. Esta passa a ser regida pelo critério da conveniência da investigação policial, independentemente do delito cometido.
A identificação criminal envolve o processo dactiloscópico e o fotográfico (art. 5º). Prevê-se, igualmente, a possibilidade de coleta de material biológico para a obtenção de perfil genético (art. 5º, parágrafo único).
Reconstituição do Crime
Em casos específicos, pode tornar-se importante fonte de prova, até mesmo para aclarar ao juiz (e aos jurados, no Tribunal de Júri) como se deu a prática da infração penal (art. 7º, CPP).
Ressalte-se, no entanto, não estar o réu obrigado a participar da reconstituição do crime, pois ninguém é obrigado a produzir prova contra si. Somente o fará se houver interesse da defesa. Essa situação é viável, quando, por exemplo, o acusado tiver interesse em demonstrar como teria atuado em legítima defesa.
Prazo para a Conclusão do Inquérito
Como regra, o prazo é de 30 dias para a conclusão do inquérito policial, na esfera estadual. Entretanto, em face do acúmulo de serviço, torna-se inviável o cumprimento do referido prazo, motivo pelo qual a autoridade policial costuma solicitar a dilação ao juiz, ouvindo-se o representante do Ministério Público.
Quando o indiciado está preso em flagrante ou preventivamente, deve ser cumprido à risca o prazo de 10 dias (art. 10, CPP), pois há restrição ao direito fundamental à liberdade.
Há outros prazos para a conclusão do inquérito. Na hipótese de réu preso, tem a autoridade policial federal o prazo de 15 dias para concluir o inquérito (lei nº 5.010/66, que organiza a Justiça Federal de primeira instância), sujeito à prorrogação por outros 15 dias, se necessário.
Outro prazo é o previsto na lei de drogas (lei nº 11.343/2006), que é de 30 dias, em caso de indiciado preso, e de 90 dias, se estiver solto (art. 51, caput). Esses prazos podem ser duplicados pelo juiz, ouvindo-se previamente o Ministério Público, mediante pedido justificado da autoridade policial (art. 51, parágrafo único).
Preceitua a Lei nº 1.521/51 (crimes contra a economia popular) que o prazo de conclusão do inquérito é sempre de 10 dias, esteja o sujeito preso ou solto, possuindo o promotor apenas 2 dias para oferecer denúncia.
O inquérito militar tem, segundo o CPM, o prazo de 20 dias para ser concluído, se o indiciado estiver preso, ou de 40 dias, prorrogáveis por outros 20 dias, se estiver solto.
Quando se tratar de crimes de competência originária dos tribunais (foro privilegiado), cujo procedimento está previsto na lei nº 8.038/90, estando o réu preso, o MP tem o prazo de 5 dias para oferecer denúncia; caso esteja solto, o prazo é de 15 dias. 
Contagem dos Prazos
Os dispositivos que disciplinam o prazo de duração do inquérito policial, diante da prisão do suspeito (ou indiciado), consistem em normas processuais penais materiais, que lidam com o direito à liberdade. Por isso, deve ser contado como se faz com qualquer prazo penal, nos termos do art. 10, CP, incluindo-se o primeiro dia (dia da prisão) e excluindo o dia final. 
Há posição em contrário, tanto na doutrina, quanto na jurisprudência.
Cômputo do Período da Prisão Temporária
Essa espécie de prisão possui o prazo de 5 dias, prorrogáveis por mais 5 dias, totalizando-se 10 dias (art. 2º, caput, da lei nº 7.960/89), exatamente o previsto para o indiciado ficar cautelarmente preso durante o inquérito, antes da denúncia. 
Em se tratando de crime hediondo, no entanto, a prisão temporária é de 30 dias, prorrogável por igual período, em caso de imperiosa necessidade (art. 2º, § 4º, Lei nº 8.072/90).
Prisão Preventiva Decretada Durante o Inquérito Policial
Os requisitos para a decretação da prisão preventiva estão previstos no art. 312 do CPP, abrangendo prova da materialidade e indícios suficientes de autoria, dentre outros.
Instrumentos do Crime
São todos os objetos ou aparelhos usados pelo agente para cometer a infração penal (armas, documentos falsos, cheques adulterados, facas, etc.) e os objetos de interesse da prova são todas as coisas que possuam utilidade para demonstrar ao juiz a realidade do ocorrido (livros contábeis, computadores, carro do indiciado ou da vítima contendo vestígios de violência, etc.).
Ao mencionar a lei (art. 11, CPP) que os instrumentos e os objetos acompanharão os autos do inquérito, quer-se dizer que devem ser remetidos ao fórum, para exibição ao destinatário final da prova, ao juiz ou aos jurados, conforme o caso. Além disso, ficam eles à disposição das partes para uma contraprova, caso a realizada na fase extrajudicial seja contestada.
Particularidades do Inquérito Policial
Inquisitivo: o inquérito é, por sua própria natureza, inquisitivo, ou seja, não permite ao indiciado ou suspeito a ampla oportunidade de defesa. A vantagem e a praticidade de ser o inquérito inquisitivo concentram-se na agilidade que o Estado possui para investigar o crime e descobrir a autoria.
Sigiloso: o inquérito policial, por ser peça de natureza administrativa, inquisitiva e preliminar à ação penal, deve ser sigiloso, não submetido, pois, à publicidade regente no processo. As investigações já são acompanhadas e fiscalizadas por órgãos estatais, dispensando-se, pois, a publicidade. Nem o indiciado, pessoalmente, aos autos, tem acesso. Entretanto, ao advogado não se pode negar acesso ao inquérito, pois o Estatuto da Advocacia (art. 7º, XIV) é claro nesse sentido. Atualmente, a questão consta na Súmula Vinculante 14 do STF que preceitua que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”.
Incomunicabilidade do Indiciado: Nucci entende está revogada essa possibilidade pela CF/88. Durante a vigência do Estado de Defesa, quando inúmeras garantias individuais estão suspensas, não pode o preso ficar incomunicável (art. 136, § 3º, IV, CF/88), razão pela qual, em estado de absoluta normalidade, não há motivo plausível para se manter alguém incomunicável. Além disso, do advogado jamais se poderá isolar o preso (Lei nº 8.906/94, art. 7º, III).
Relatório Final
A autoridade policial deve, ao encerrar as investigações, relatar tudo o que foi feito na presidência do inquérito, de modo a apurar – ou não – a materialidade e a autoria da infração penal.
Assim sendo, pode o representante do MP não se conformar, solicitando ao juiz o retorno dos autos à delegacia, para a continuidade das investigações, devendo, nesse caso, indicar expressamente o que deseja.
Por outro lado, a falta do relatório constitui mera irregularidade, não tendo o promotor ou o juiz o poder de obrigar a autoridade policial a concretizá-lo. Trata-se de falta funcional, passível de correção disciplinar.
Eventualmente, é possível dispensar o inquérito, desde que o acusador possua provas suficientes e idôneas para sustentar a denúncia ou a queixa, embora hipótese rara.
Termo Circunstanciado
É um substituto do inquérito policial, realizado pela polícia, nos casos de infrações de menor potencial ofensivo e contravenções penais. Assim, tomando conhecimento de um fato criminoso, a autoridade policial elabora um termo contendo todos os dados necessários para identificar a ocorrência e sua autoria, encaminhando-o imediatamente ao Jecrim, sem necessidade de maior delonga ou investigaçõesaprofundadas.
Arquivamento do Inquérito e Outras Providências
Encerradas as investigações policiais e remetidos os autos do inquérito policial ao Ministério público, há quatro providências que o titular da ação penal pode tomar: a) oferecer denúncia; b) requerer a extinção da punibilidade (por exemplo, pela prescrição); c) requerer o retorno dos autos à policia judiciária para a continuidade da investigação, indicando as diligências a realizar; d) requerer o arquivamento.
É possível, no entanto, que o representante do MP requeira o arquivamento, a ser determinado pelo magistrado, sem qualquer fundamentação plausível. Ora, sendo a ação penal obrigatória, cabe a interferência do juiz, fazendo a remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça (dirigente do Ministério Público Estadual), para que, nos termos do art. 28 do CPP, possa dar a última palavra a respeito do caso.
Caso o chefe do Ministério público entenda estar a razão com o promotor, devolve o inquérito ou as peças ao juiz, insistindo no arquivamento e dando a sua fundamentação. Nesse caso, está o magistrado obrigado a acolher o pedido, pois não pode dar início à ação penal , sem a participação ativa do MP.
Caso o chefe do MP entenda estar a razão com o magistrado, o Procurador-Geral pode denunciar diretamente – o que não costuma fazer – ou designar outro promotor para oferecer, em seu nome, a denúncia – mais comum. Trata-se de uma delegação e, por esse motivo, o promotor designado não poderá recusar-se a dar início à ação penal, sob pena de falta funcional. 
Utilização do art. 28 do CPP no caso de Sursis Processual
Estabelece a Lei nº 9.099/95 a possibilidade de o representante do MP propor, nos crimes cuja pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, a suspensão do processo (art. 89, § 1º). É o que se denomina sursis processual.
A súmula 696 do STF estabelece que “reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o disposto no art. 28 do Código de Processo Penal”.
Quando o inquérito é controlado diretamente pelo Procurador-Geral de Justiça (ou da República, conforme o caso), por se tratar de feito de competência originária, o pedido de arquivamento é dirigido diretamente ao Tribunal. Não há, nesse caso, como utilizar o art. 28 do CPP, sendo obrigatório o acolhimento do pedido.
Prosseguimento das Investigações após o Encerramento do Inquérito ou de Procedimento Investigatório do Ministério Publico
A decisão que determina o arquivamento do inquérito não gera coisa julgada material, podendo ser revista a qualquer tempo, inclusive porque novas provas podem surgir.
Para reavivar o inquérito policial, desarquivando-o, é preciso novas provas, sob pena de configurar constrangimento ilegal. Neste sentido, a súmula 524 do STF: “arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas”. As mesmas regras devem valer para as investigações do Ministério Público.
Entretanto, se o arquivamento ocorrer com fundamento na atipicidade da conduta é possível gerar coisa julgada material. Nesse sentido, já decidiu o STF.

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