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A Psicoterapia Faculdade Maurício de Nassau Curso de Psicologia Disciplina: Técnicas Psicoterápicas II Prof.ª: Luciana Melo Introdução Psicoterapia, etimologicamente, significa “cura, iniciação, método , ato de curar, tomar conta”; “Curar a alma” como algo anterior à Psicologia; Psicologia se estabelece como ciência do comportamento humano e a psicoterapia como um método para “acessar as profundezas da mente humana”; Psicoterapia aos poucos vai deixando de ser voltada especificamente para pessoas doentes e se relacionando com o sofrimento psíquico, crescimento e autoconhecimento; Delimitação do conceito “A psicoterapia é uma forma de tratamento do cliente por um psicoterapeuta”; Psicoterapeuta precisa ser uma pessoa “adequada ao que se propõe”, tanto em termos de técnica e instrumentos utilizados, quanto na relação com o cliente; Relação psicoterapeuta-cliente: por um lado psicoterapeuta ciente do processo, sabe o que faz e se que conduz com responsabilidade e o cliente que se entrega aos cuidados e espera descobrir modos de lidar com suas dificuldades; Delimitação do conceito “ o que interessa na psicoterapia não é simplesmente atenuar aflições psíquicas em caso de experiências dolorosas, é fazer frente aos problemas psíquicos através do contato psíquico... A psicoterapia se propõe a alcançar um desenvolvimento psíquico através do contato interpessoal que permite ao paciente dominar, mais tarde, dificuldades semelhantes, sem a ajuda do médico terapeuta” (Knoepflel, 1969); Psicoterapia como contato, crescimento, desenvolvimento, educação, treinamento para uma relação pessoa-mundo, através de um encontro positivo, sem dependência desnecessária; Delimitação do conceito Desenvolvimento humano segue um curso natural, sendo que a psicoterapia visa um crescimento, amadurecimento e independência do cliente; “ a psicoterapia, além ou mais do que cuidar de sintomas, leva a pessoa a uma séria reflexão sobre o prazer, sobre a curiosidade que o diferente desperta nele. Desperta nele o desejo de descobrir razões válidas para gostar de viver e viver cada vez melhor”. Psicoterapia como ato social e até político, na visão do autor; Psicoterapia leva o individuo a uma melhor compreensão e visão real de si mesmo, e a uma revisão objetiva do mundo em que vive. Resumo histórico O homem, de modo consciente ou não, sempre procurou formas de resolver seus problemas mentais/emocionais; A psicoterapia, como forma sistemática e científica de contato humano surge no início do século passado; Preocupação com a saúde – instinto humano de autopreservação; Discussão sobre ato médico; Breve resumo teórico dos pioneiros da psicoterapia: Sigmund Freud, Alfred Adler e Carl Gustav Jung; Alfred Adler (1870-1937) Médico oftalmologista; Dedicou-se à psiquiatria depois de ter exercido medicina geral; Um dos fundadores da Sociedade Psicanalítica de Viena; Desligou-se de Freud, por seus pontos de vista divergentes; Sua teoria é conhecida como Psicologia Individual; Alfred Adler (1870-1937) Principal motivação para o comportamento são as instâncias sociais, ao contrário de Freud; Determinantes sociais do comportamento humano e sua relação com as “doenças mentais”; Self: “sistema altamente organizado e subjetivo que interpreta e torna significativa as experiências do organismo”; Consciência tem lugar privilegiado em sua teoria, ao lado do interesse social; Ideias fictícias: ideias aos quais o ser humano se apega e têm reflexo em seu comportamento; Alfred Adler (1870-1937) Aspiração à superioridade: busca e anseio pela transcendência, é inato e dá sentido à vida. Desejo de auto completude; Sentimento de inferioridade e compensação: o ser humano é sempre impelido a vencer a inferioridade e é essa a força propulsora da vida; Interesse social: ser humano orientado por objetivos sociais, construção de uma melhor sociedade; Estilo de vida: modos que a pessoa encontra para atingir essa superioridade; é ditado pelas experiências de inferioridade, reais ou imaginárias, de cada indivíduo; Self criativo: transforma os fatos do mundo externo em personalidade, subjetiva, dinâmica e criativa. Carl Gustav Jung (1875-1961) Nasceu na Suiça; Formou-se em Medicina e foi assistente de Bleuler; Amigo pessoal de Freud; Foi o primeiro presidente da Associação Internacional de Psicanálise; Separou-se de Freud em 1914, devido à sua rejeição à teoria da sexualidade; Criou a Psicologia Analítica Carl Gustav Jung (1875-1961) Dá relevância às nossas origens sociais; Afirma que o ser humano é uma síntese de sua origem ancestral; Os fundamentos da personalidade são anseios primitivos, inatos, inconscientes e talvez universais e estes dirigem o comportamento e determinam, em parte, aquilo que o ser humano tomará consciência e a que responderá em suas próprias experiências; A personalidade é formada por diversas instâncias integradas pelo ego; O ego é o centro consciente do ser, é formado de pensamentos, recordações e sentimentos; Carl Gustav Jung (1875-1961) Inconsciente individual é formado pelas ideias reprimidas e esquecidas, bem como por lembranças que são acessíveis à consciência; O inconsciente coletivo ou transpessoal: formadas pelas lembranças da raça humana e pela história dos ancestrais pré-humanos. É a base da personalidade e influencia o ego e o inconsciente individual; Os arquétipos: fazem parte do inconsciente coletivo e são formas universais de pensamento dotadas de força e de carga emocional e afetiva. Ex: mãe, morte, pátria, Deus; Persona: máscara que cada indivíduo traz dentro de si, como expressão de sua realidade, através da persona, o indivíduo responde às exigências da sociedade; Carl Gustav Jung (1875-1961) Ânima e Animus: expressão do feminino e masculino, respectivamente, em cada indivíduo; A sombra: instintos animais adquiridos pelo homem na evolução, representa o lado animal presente na natureza humana; O self é o equivalente da personalidade vista como um todo; Jung usa a mandala como um símbolo que expressa a totalidade única do ser humano; Funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Presentes em todo ser humano, mas de formas diferentes; Conceituação de Psicoterapia Teorias e técnicas psicoterápicas derivam da visão de mundo desses predecessores; Teoria sempre é o reflexo da experiência subjetiva de seus criadores; Teoria é sempre algo limitado e provisório: necessidade de atualização, releituras, desenvolvimento de novas técnicas e teorias; Psicoterapia = cura da alma; Doenças mentais acarretam sofrimento psíquico, são imateriais, aterradoras, de causas muitas vezes indeterminadas e produz em nós uma sensação de impotência e incompetência; Conceituação de Psicoterapia “A angústia, a confusão mental, a perplexidade diante dos problemas não resolvidos, levam o cliente a se perceber cada vez mais perdido e cada vez mais afastado da realidade. A mente dividida, os mecanismos de defesa contra a angústia e o medo se tornam cada vez mais complexos e interagentes, até chegar ao ponto em que o cliente intui sua realidade como perdida e se sente incapaz de começar sozinho o longo caminho de sua recuperação, o longo caminho de volta para casa” (Ponciano, 2013); Conceituação de Psicoterapia Processo psicoterapêutico como modo pelo qual o cliente vai descobrindo um modo mais adequado de lidar consigo, com o outro e com o mundo. O cliente passa a se perceber melhor, “revitalizar suas potencialidades desorganizadas”, descobre recursos da personalidade que ainda não foram postos em ação; Processo psicoterapêutico caminha numa dupla direção: Por meio da história do cliente o terapeuta vai descobrindo os focos principais de conflito e as tentativas para solucionar o problema, “conhecendo o microcosmo do cliente”; Segundo momento é o de reconhecimento, por parte do terapeuta e do cliente daquilo que nele é “normal”, embora com momentos de conflito; Conceituação de Psicoterapia Definição de normalidade: “ a normalidade mental implicaum vivência amorosa, prazerosa, curiosa, alegra da própria realidade e numa abertura para a autossatisfação pela percepção de uma homeostase interna, sempre e quase necessariamente sincronizada com o mundo, com os outros”; Normalidade implica relação com o mundo e com os outros; Não-contato com o exterior como forma de desequilíbrio; Compromisso do cliente em querer mudar como indício de eficácia da psicoterapia; Psicoterapia como forma de aprendizagem, não apenas para o cliente, mas para o psicoterapeuta; Conceituação de Psicoterapia Clientes que procuram a psicoterapia geralmente estão no limite, portanto precisam de um ambiente democrático, sem julgamentos, para que ele possa reelaborar suas ansiedades; Cliente como “bode expiatório” de sua rede de comunicação; Necessidade de psicoterapia conjugal ou familiar; “Concentrar-se exclusivamente no cliente como único responsável por sua dor e seu destino é, muitas vezes, a causa mais habitual do fracasso em psicoterapia que ignoram, em graus diversos, o ambiente em que o cliente vive, pois nada no ser humano vem, pura e simplesmente de uma única causa; Definição de Psicoterapia “ Psicoterapia é o tratamento, por meios psicológicos, de problemas de natureza emocional, no qual uma pessoa treinada estabelece deliberadamente um relacionamento profissional com um paciente, com o objetivo de remover, modificar, ou retardar sintomas, de intervir em modelos perturbados de comportamento e de promover um crescimento e um desenvolvimento positivo da personalidade”; Definição de Psicoterapia “Psicoterapia é um tratamento” Cuidado, inclusão, encontro verdadeiro entre ambas as partes; Diferente de impor uma linha de conduta a alguém; O centro é o cliente; “...por meios psicológicos...”: Instrumento principal é a comunicação (verbal ou não-verbal); Nada passa despercebido no setting psicológico; Nada ocorre de um lado só; Silêncio como poderosa forma de comunicação verbal; Técnicas corporais; “Meios psicológicos” – ampla gama de possibilidades; Definição de Psicoterapia “...de problemas de natureza emocional”: Vasta gama de problemas emocionais – envolvem todas as dimensões humanas (ser biopsicosocioespiritual); Experiência emocional corretiva: trazer o passado para o aqui-agora; “falar sobre” o problema não seria suficiente, é preciso resgatar a carga emocional da experiência e trabalhar isso na psicoterapia”; “... no qual uma pessoa treinada...” Formação teórica sólida, prática, autoconheciento; Evitar: experimentação, improvisação, “querer ajudar”; Relacionamento profissional como essencial na psicoterapia; Definição de Psicoterapia “... estabelece deliberadamente um relacionamento profissional”; Consciência ética do que se realiza e da condição do cliente; Pagamento da sessão; Estabelecimento de um contrato; “Férias pagas”; “... Com um paciente...”: Paciente x cliente; Paciente vem de “partire” que significa sofrer ; Pressupõe que o sofrimento é um atributo “natural” da pessoa e não uma exceção; Paciente como adjetivo (de paciência); Cliente deixa implícita uma relação de trabalho; Definição de Psicoterapia “...com o objetivo de modificar e retardar sintomas...” Sintoma como forma de ajustamento criativo; “...remover modificar, retardar sintomas...”: Sintoma como expressão do sujeito; Às vezes é necessário “conservar” o sintoma; Respeitar o limite do cliente; Resistência como palavra mais do psicoterapeuta que do cliente: o cliente está defendendo-se da própria angústia; Definição de Psicoterapia “O psicoterapeuta deve ser sensível ao lócus onde o cliente está, porque só o cliente sente, sabe, faz e fala desse lugar e o conhece como ninguém. Agir pura e simplesmente seguindo uma pretensa intuição, passando por cima dos sentimentos do cliente, é uma prepotência e uma violência intoleráveis e pode ter efeitos devastadores na alma deste” ; Contratransferência; “...de intervir em modelos perturbados de comportamento...” Normalidade x anormalidade; Psicoterapia fenomenológica não “intervém”; segue a regra básica da fenomenologia que é ver, observar, descrever, sintetizar momentos significativos da relação cliente-mundo-psicoterapeuta; Definição de Psicoterapia “Intervir”: “evoca o poder de modificação do outro sem a sua livre participação”; Intervenção ocorre no sentido não de modificar o comportamento, mas fazer com que o cliente entre em contato com seu modo de existir, tomar consciência e responsabilizar-se por ela; “...de promover um crescimento e desenvolvimento positivo da personalidade...” Três questões: “O que eu quero e isso me dá prazer?”; “Estou aprendendo a viver o diferente”; “Isso me ajuda a viver melhor?” Tipos de psicoterapia “Cada psicoterapeuta representa certa modalidade de psicoterapia”; A abordagem não aprisiona o estilo pessoal; O autor agrupa as psicoterapias em quatro grupos, de acordo com a base teórica, do relacionamento psicoterapeuta-cliente e da posição em relação ao sintoma, são elas: Psicanálise; Terapia fenomenológica; Terapia corporal; Terapia cognitivo-comportamental. Tipos de psicoterapia Psicanálise: Sigmund Freud; Estudo da histeria; Inconsciente; Associação livre; Teoria da sexualidade humana; Complexo de Édipo; Transferência; Mecanismos de defesa; Ab-reação. Tipos de psicoterapia Terapia fenomenológica: “Atenção minuciosa à realidade tal qual ela é vivenciada pela experiência humana”; Investigar a realidade última da vivência humana; Descrição da realidade, ao aqui-agora, como ela se apresenta à percepção da pessoa; Ver, observar, descrever, sintetizar e reduzir fenomenologicamente; Estado de epochè: estar inteiro ao cliente, sem preconceitos, sem saberes antecipados, sem ligar sintomas a dados anteriores, que podem ser vistos como causa do sintoma que está ali, agora, diante dele; Três construtos fenomenológicos fundamentais: 1) ir às coisas mesmas, 2) Redução fenomenológica e 3) Intencionalidade; Tipos de psicoterapia Terapia corporal: Corpo como nosso primeiro discurso; Expressões corporais são reveladoras de conflitos, que não conseguem ser verbalizados pelo cliente; Reich: barreiras, bloqueios e couraças: formam o caráter, que são criados para proteger e defender a vida humana, mas limitam a relação com o eu e com o outro; Sintomas produzidos na nossa relação com o mundo que nos cerca; Ser humano como unidade funcional corpo/mente/mundo; Tipos de psicoterapia Terapia cognitivo-comportamental: Abordagem estruturada, ativa e diretiva, de prazo limitado; Afeto, comportamento e pensamento (cognição) formam uma tríade; “A mediação cognitiva é responsável pelo gerenciamento do comportamento humano e, desta forma, é um ponto a ser trabalhado para a obtenção da mudança terapêutica; A TCC assume que a doença mental ou disfunção no comportamento resultam das estruturas ou processos cognitivos disfuncionais em dado momento da vida da pessoa; No surgimento de uma patologia não há variáveis exclusivas genéticas ou ambientais, mas uma relação entre elas; Reconfigurar a relação indivíduo-meio e as contingências ambientais; Tipos de psicoterapia Terapia Cognitivo-comportamental: Interação e funcionamento cognitivo acabam por constituir atitudes disfuncionais e inadequadas, que impedem o indivíduo de estabelecer uma vida produtiva e saudável; As crenças e premissas disfuncionais, enviesam a percepção da pessoa sobre a realidade e afetam o comportamento, emoções e humores; Tais crenças alteram a forma como as pessoas percebem o mundo, a sua relação com outras pessoas e o significado que elas dão às experiências; Ainda assim, elas conseguem manter um mínimo de equilíbrio que permite o funcionamento social-profissional, mas a custa de muito sofrimento e perda da qualidade e da produtividade; Tipos de psicoterapia Terapia cognitivo-comportamental: TCC trabalha com a reconstrução de crenças e premissas distorcidas, que afetam o comportamento desencadeando patologias; Trabalham também na reorganizaçãodas variáveis e dos estímulos do ambiente onde se insere o sujeito, objeto do seu trabalho terapêutico; Extinção de comportamento pouco funcionais/ instalação de novos comportamentos que fazem frente às demandas do ambiente e de suas relações; Tipos de psicoterapia (quanto ao método) Método: mais abrangente que uma técnica. Conjunto de princípios que formam um campo teórico para construção de hipóteses; Diversas maneiras de fazer psicoterapia: Psicoterapias centradas na relação cliente-sintoma-psicoterapeuta; Psicoterapias centradas na relação sintoma-cliente e psicoterapeuta; Psicoterapias de grupo; Terapias alternativas; Terapias sem fundamento sintomático; Tipos de psicoterapia (quanto ao método) Psicoterapias centradas na relação cliente-sintoma-psicoterapeuta: Fenomenológica, humanista, centrada na pessoa, etc; Não diretivas; Postura diretiva (no sentido que a psicoterapia não depende apenas da intuição do terapeuta e sim de um campo teórico); Condições para que o tratamento se produza: Tensão emocional por parte do cliente; Capacidade de lidar com a própria vida; Desejo de receber ajuda; Inexistência de deficiências orgânicas; Nível intelectual suficiente. Tipos de psicoterapia (quanto ao método) Psicoterapias centradas na relação sintoma-cliente e psicoterapeuta: Comportamental e cognitivo-comportamental; Diretivas; Relação entre cliente-sintoma e psicoterapeuta é clara; Foco: cuidar do sintoma (relação sintoma-psicoterapeuta como figura e cliente como fundo); Relação marcada pela autoridade e poder;
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