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Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 241 MED RESUMOS 2011 ARLINDO UGULINO NETTO LUIZ GUSTAVO C. BARROS YURI LEITE ELOY MEDICINA – P8 – 2011.1 UROLOGIA REFERÊNCIAS Material baseado nas aulas ministradas pelos Professores Luiz Luna Barbosa, José Iran e Márnio Costa durante o período letivo de 2011.1. SMITH, D. R. Urologia Geral. 13ª ed. Rio de Janeiro : Guanabara Koogan, 1994.(616.6 S645u); AJZEN, H. & SCHOR, N. Nefrologia – Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP. 2ª ed. São Paulo : Manole, 2005 STAMM, A. M.N.F. Infeco do Trato Urinrio: aspectos prticos no diagn stico e tratamento. Florianópolis : Editora da UFSC, 2003. NETTO JR., N.R. Urologia Prtica. 4ª ed. São Paulo : Editora Atheneu, 1999. CAMPBELL. Urologia. 8a ed. Panamericana; 2002. 3 vol. Sociedade Brasileira de Urologia. Guia prático de urologia, 2009 Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 242 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. UROLOGIA____________________________ SEMIOLOGIA UROLÓGICA (Professor Luiz Luna Barbosa) A urologia uma especialidade cirrgica da medicina que cuida do trato urinrio de homens e mulheres e do sistema reprodutor dos homens. Os mdicos que possuem especializao nesta rea so os urologistas, sendo treinados para diagnosticar, tratar e acompanhar pacientes com distrbios urol gicos. Os rgos estudados pelos urologistas incluem os rins, ureteres, bexiga urinria, uretra e os rgos do sistema reprodutor masculino (testculos, epiddimos, ducto deferente, vesculas seminais, pr stata e pnis). As adrenais acabaram entrando na especialidade devido ao aspecto cirrgico das doenas tumorais das supra-renais. Quando tem indicao cirrgica de tumor de supra-renal o endocrinologista encaminha para o urologista. PROPEDUTICA UROLGICA A hist ria clnica urol gica, no diferente das demais especialidades mdicas, pode ser dividida nos seguintes componentes: Anamnese o Identificao do paciente o Queixa principal: nesta etapa, faz-se o relato da queixa mais importante que o paciente tem a compartilhar, de modo que esta queixa tenha sido o motivo principal da procura ao urologista. O termo deve ser descrito assim como relatado pelo paciente. O tempo de durao da queixa tambm deve ser relatado. o Hist ria da doena atual: parte da anamnese que deve ser descrita em termos tcnicos, mas que deve ser guiada pelo urologista. Nesta etapa, devemos pesquisar por: Localizao; Qualidade; Intensidade; Cronologia; Fatores de melhora e piora; Manifestaes associadas. o Hist ria mdica pregressa: deve ser direcionada para o quadro genito-urinrio do paciente, e os seguintes parmetros devem ser questionados: Hist rico de diabetes: est relacionada com disfuno ertil e incontinncia urinria por neuropatia, alm de afeces renais crnicas importantes (insuficincia renal). Hipertenso: tambm est relacionada com insuficincia renal. Alguns dos medicamentos utilizados para tratar a hipertenso (como diurticos e β-bloqueadores) provocam disfuno ertil. Alm disso, o tratamento clnico da hiperplasia prosttica benigna (HPB) faz uso de alfa- bloqueadores, que promove hipotenso e, portanto, se o paciente j faz uso de outros anti- hipertensivos, o paciente pode desenvolver uma importante hipotenso postural. Para estes pacientes, deve-se utilizar alfa-bloqueadores em dosagens mnimas ou parar com o tratamento. Hist rico de caxumba: importante para pacientes que relatam infertilidade, uma vez que o vrus da caxumba, assim como tem afinidade pela glndula par tida, tem tropismo pelos testculos. Uso de medicaes Cirurgias prvias: sobretudo se realizadas no trato genito-urinrio. Pacientes que foram submetidos a cirurgias de pr stata, podem passar pela quarta etapa da inflamao (que a fibroplasia) e apresentar contrao tecidual e cursar com estenose de colo vesical. o Hbitos: pelo menos dois parmetros devem ser avaliados: Uso de drogas ilcitas Tabagismo: o fumo o principal fator de risco para neoplasia urotelial, que corresponde ao cncer de epitlio urinrio de transio (presente na bexiga, no ureter e na pelve renal). o Hist ria familiar: dois questionamentos nunca podem deixar de serem feitos: hist rico familiar de cncer de pr stata (ver OBS1) e hist rico familiar de litase. Estas duas situaes apresentam uma relao familiar importantes. Ectoscopia: este passo semiol gico consiste em uma anlise fsica generalizada do paciente. Durante esta etapa, importante avaliar a presena de fcies renal (caracterizada por edema de face, palpebral, palidez de pele, lividez dos lbios), edema no corpo, movimentos lentos e dor que no cede em nenhuma posio. Exame físico: o fato de o rim ser um rgo retroperitoneal dificulta na propedutica de sua palpao. Contudo, devemos lanar mo de manobras que facilitem a sua avaliao, no intuito de realizar os seguintes passos semiol gicos: inspeo, percusso e palpao. Geralmente, o rim mais facilmente palpvel no seu p lo inferior ou na presena de tumores (como o tumor de Wilms, bastante frequente na criana). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 243 Atravs desta propedutica urol gica, possvel levantar hipóteses diagnósticas bem esclarecidas e, apenas se necessrio, lanar mo de exames complementares para, ento, traar uma conduta. OBS1: A avaliação prostática, teoricamente, deve ser iniciada aos 45 anos e realizada anualmente, e inclui a realizao de hist ria clnica (com relato de hist rico miccional), PSA (marcador tumoral prosttico), toque retal e sumrio de urina. Contudo, se o paciente for da raa negra ou apresentar um parente de 1 grau portador de cncer de pr stata, essa avaliao deve ser iniciada aos 40 anos de idade. importante tomar nota que o toque retal um exame ainda mais importante que o PSA na propedutica no cncer de pr stata. OBS2: Como veremos em captulos subsequentes, o PSA um importante marcador tumoral prosttico que, embora no seja substituto do toque retal, um bom exame para screening e seguimento do paciente. Quanto aos seus resultados e a necessidade de bi psia prosttica, podemos citar: Pacientes com 65 anos ou menos e que apresentem PSA > 2,5ng/ml, tem-se indicativo de bi psia. Diante dos seguintes valores de PSA: 4,0 < PSA < 10,0. Devemos observar as seguintes relaes: Relao PSAlivre/PSAtotal < 18% Sugestivo de cncer de pr stata; Indicao de bi psia. Relao PSAlivre/PSAtotal > 18% Sugestivo de hiperplasia prosttica; indica-se acompanhamento. PSA > 10,0, independente da faixa etria, indica-se bi psia. Toque retal alterado (diante de qualquer valor de PSA), indica-se bi psia. A variao do PSA tolerada at apenas 0,75ng/ml/ano, isto , o ΔPSA no intervalo de um ano de, no mximo, 0,75ng/ml. Diante deste achado, mesmo que o paciente tenha nveis normais de PSA para a sua faixa etria, devemos indicar a bi psia prosttica. EXAME FÍSICO DOS RINS Inspeção: quando os rins esto aumentados, possvel perceb-los na inspeo, se o aumento foi muito grande, principalmente em crianas ou no caso de rins policsticos em adultos. Nestes casos percebe-se um abaulamento do flanco. necessrio realizar a inspeo do abdome, flancos e costas, estando o paciente sentado. Percussão: deve ser realizada a “punho-percusso de Murphy”, realizada como pequenos golpes com a face interna da mo fechada. Esta manobra pode produzir uma reao dolorosa, profundamente localizada, uni ou bilateral, nos casos de pielonefrite aguda, obstruo urinria ou inflamao perinefrtica. A punho-percusso deve ser realizada no ngulo costo-vertebral,formado pela borda inferior da 12 costela e processos transversais das vrtebras lombares superiores. O aparecimento da dor ou de uma reao exuberante do paciente durante a punho-percusso (o paciente emite grito ou pula), denota sinal de Giordano positivo, caracterizando, geralmente, uma infeco renal. Alguns autores defendem que o sinal de Giordano deve ser pesquisado com a percusso das regies lombares utilizando a borda ulnar da mo que percute, estando ela espalmada. Palpação: A palpao dos rins feita com o paciente em decbito dorsal da seguinte maneira: com a mo no-dominante por trs do flanco do paciente deitado, devemos anteriorizar a loja renal; durante a inspirao do paciente, tentamos palpar o p lo inferior do rim com a mo dominante espalmada. Esta manbra descrita como Método de Guyon. Durante a palpao dos rins, deve-se avaliar a sensibilidade renal. Muitas vezes a compresso com as pontas do dedo pode ser suficiente para despertar dor. As caractersticas normais do rim so: rgos duros, superfcies lisas, borda inferior ntida e no doloroso. Algumas manobras podem ser feitas na tentativa de alcaar o rgo: manobra de Israel (decbito lateral oposto ao rim que se deseja palpar); manobra de Trousseau (decbito dorsal); manobra de Glenard (decbito dorsal); manobra de Bellington (posio ortosttica). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 244 EXAME DOS URETERES Pela palpao profunda da parede abdominal anterior podem-se determinar dois pontos dolorosos quando existe infeco ou obstruo dos ureteres. O ponto superior fica na parte mdia dos quadrantes superiores direito e esquerdo, e o inferior, nas fossas ilacas direita e esquerda. A reao dolorosa palpao profunda destes chamados “pontos ureterais” tem significado diagn stico, especialmente quando esto presentes outros dados sugestivos do comprometimento do tracto urinrio alto. EXAME DA BEXIGA A bexiga vazia no palpvel, porm, pode haver hipersensibilidade na rea suprapbica ao se fazer a palpao. Reteno urinria aguda ou crnica levando distenso vesical pode ser percebida pela inspeo, palpao e percusso da regio suprapbica. Se houver reteno urinria, observam-se reao dolorosa intensa e presena de um abaulamento no hipogstrio. palpao, observa-se uma massa lisa e firme na linha mdia (globo vesical). Em mulheres, o esvaziamento vesical por cateterismo poder ser necessrio para o diagn stico diferencial com cisto do ovrio. A palpao era utilizada para avaliao de extenso tumoral com invaso de parede vesical. Atualmente, um exame desnecessrio diante da eficcia da US e da TC. EXAME DA PRÓSTATA O exame da pr stata feito pelo toque retal. O toque retal um exame de extrema importncia para o diagn stico do cncer de pr stata, e depende muito da experincia do mdico. um exame de grande utilidade, com 80% de sensibilidade e 90% de especificidade. Embora a pr stata no seja um componente do sistema urinrio, ela se relaciona com a poro prosttica da uretra masculina e, portanto, a pesquisa de alteraes do volume ou da consistncia desta glndula torna-se importante para o diagn stico de reteno urinria por hiperplasia da pr stata, por exemplo. O paciente deitado na maca em uma posio em que o nus seja acessvel e relaxado (a melhor posio a de litotomia, ou ginecol gica). O mdico, vestindo luvas, lubrifica seu dedo indicador em uma soluo (com ou sem anestsico) e, solicitando que o paciente efetue um leve esforo defecat rio (para facilitar a protruso da mucosa), deve inserir o indicador na ampola retal passando atravs do nus. A face anterior do dedo deve partir em direo face anterior do reto. A consistncia normal da pr stata glandular ou fibroelstica (semelhante cartilagem do nariz). Qualquer alterao quanto a consistncia ou regularidade da glndula (presena de n dulos) deve ser relatada pelo examinador, e tem-se indicao de bi psia prosttica. Como 70% dos tumores so de localizao perifrica, bastante eficaz o diagn stico por meio deste mtodo. E, assim como mostrado na OBS1 e OBS2, o exame do toque torna-se mais importante que o pr prio PSA – uma vez alterado o toque prosttico, indica-se bi psia, independente dos valores de PSA. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 245 CLASSIFICAO DA DOR O aspecto da dor, frequentemente relatada pelos pacientes, um ponto importante a ser abordado. Uma das causas mais comuns de procura ao urologista a dor lombar, uma vez que a maioria dos pacientes com dores na regio baixa do dorso associa a mesma a afeces renais. Contudo, a dor de origem renal, geralmente, unilateral e no melhora com o repouso (refletindo, na maior parte das vezes, um processo obstrutivo das vias urinrias), enquanto que a dor de origem osteomuscular, geralmente, bilateral e melhora com o repouso. A associao da dor de origem urol gica com outras afeces tambm um relato comum: o fato de a musculatura do ureter ser estimulada por mecanismos vagais no intuito de expulsar um eventual clculo impactado na juno uretero-vesical, por exemplo, ocorre tambm estmulo vagal na contrao da musculatura intestinal e gstrica (reflexos reno-intestinais), fazendo com que o paciente possa apresentar náuseas e vômitos associados, o que tambm muito frequente na litase urinria. De um modo geral, como qualquer tipo de nocicepo, a dor de origem urol gica pode ser classificada como local ou referida. Dor local: definida como a dor sentida na topografia do rgo realmente acometido. A presena de um clculo pielo (localizado na pelve renal) que cause obstruo ao fluxo de urina pode promover uma distenso da cpsula renal, o que gera uma dor na regio costo-vertebral, bem no dermtomo correspondente inervao renal. Dor referida: indica sensaes nocivas (usualmente cutneas) percebidas em um stio distante daquele de um estmulo primrio forte. Pode ser caracterizada, por exemplo, com a presena de um clculo agora localizado em ureter distal que, normalmente, causar uma dor referida no dermtomo correspondente ao testculo (ou ao grande lbio) homolateral. DOR DE ORIGEM URETERAL Portanto, a dor referida bastante comum na urologia e, por esta razo, deve ser bem avaliada e lembrada durante o exame urol gico. No que diz respeito dor ureteral, a literatura diverge quanto s reas de irradiao da sensao referida. De um modo geral, os seguintes pontos devem ser enfatizados: Afeces no ureter proximal: dor lombar irradiada e/ou no flanco, com manifestaes gerais (nuseas, vmitos). A literatura aponta tambm dor referida na topografia do testculo homolateral (no homem) e na regio vulvar (na mulher). Afeces no ureter mdio do lado direito: dor na topografia da fossa ilaca direita (ponto de McBurney), fazendo diagn stico diferencial com apendicite aguda. Afeces no ureter mdio do lado esquerdo: dor na topografia da fossa ilaca esquerda, fazendo diagn stico diferencial com diverticulite aguda/abscesso peridiverticular, principalmente se o paciente for de idade avanada. Afeces na juno uretero-vesical (ver OBS4): dor referida na topografia do testculo homolateral (no homem) e na regio vulvar (na mulher). Eventualmente, manifestaes irritativas vesicais (polaciria, nictria, urgncia miccional, sensao de esvaziamento miccional incompleto). OBS4: O ureter, ao longo do seu trajeto anatmico, apresenta, pelo menos, trs pontos de estreitamento fisiol gico: (1) juno uretero-pilica (JUP), localizada na juno entre a pelve renal e o ureter; (2) regio de cruzamento dos vasos ilacos, bem na transio do ureter superior para uretermdio; (3) juno uretero-vesical (JUV). Desses trs pontos, a JUV o mais estreito e, portanto, a regio mais comum de impactao de clculos o ureter distal, bem neste ponto. Desta forma, uma hist ria clssica de litase renal com migrao do clculo seria aquele paciente que, hora apresentava uma dor lombar de carter intenso, em c lica e sem melhora com mudana de posio, mas que agora apresenta dor em topografia do testculo. DOR DE ORIGEM RENAL No que diz respeito dor renal, esta s estar presente quando o rim se apresentar obstrudo (hidronefrose) ou inflamado (pielonefrite), como mostrado abaixo. A evidenciao desta dor pode ser possvel atravs da manobra de Giordano positiva (que s se mostra positivo nestas duas situaes). A suspeita de pielonefrite pode ser estabelecida diante do relato de uma cistite prvia, uma vez que a principal via de infeco para o trato urinrio superior a via ascendente. Por esta razo, no advento de uma pielonefrite, o paciente pode chegar ao urologista com o relato passado de mices peri dicas constantes (polaciria), ardncia ao urinar principalmente ao final do jato (disria) e sensao de esvaziamento incompleto, e que agora apresenta dor nas costas, com febre alta e calafrios – diante deste quadro, devemos sugerir um diagn stico inicial de cistite seguido de pielonefrite, sendo explicada pela migrao ascendente da infeco ao longo do trato urinrio. Contudo, como o parnquima renal pobremente inervado, a dor s perceptvel quando a infeco alcanar ou distende a cpsula renal. A presena de clculo no ureter, pode predispor formao de uma uretero-hidronefrose, caracterizada pelo acmulo de urina no ureter, na pelve e nos clices renais, promovendo uma dilatao renal e, com isso, distenso retr grada da cpsula. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 246 Ultrassonografia de loja renal mostrando, pelo menos, três cálculos renais evidenciados pela presença da sombra acústica posterior. O parênquima renal apresenta-se hipoecogênico, enquanto que o complexo ecogênico central (marcado pela entrada da artéria, da veia e da pelve renal) mostra-se esbranquiçado (hiperecogênico). A formação da sombra acústica é caracterizada pelo impedimento de passagem das ondas ultrassonográficas através dos cálculos. Tal fato firma o diagnóstico de litíase renal. A ausência de líquido retido no rim (que se mostraria hipoecogênico) justifica que não há hidronefrose neste caso. Em caso de suspeita de migração de cálculo para ureter distal, poderíamos sugerir uma tomografia sem contraste (uma vez que a US é um péssimo exame para análise de ureter médio e inferior devido à interposição gasosa de alças intestinais e a presença da crista ilíaca, que reflete o feixe de US). Urografia mostrando falha de enchimento de exame contrastado (termo que pode ser substituído por imagem de subtração) caracterizando um tumor de pelve renal. A imagem mostra ainda dilatação de cálices renais, caracterizando um certo grau de hidronefrose. Corte axial de tomografia mostrando a topografia do rim direito com a presença de cálculo da pelve renal direita. O cálculo mostra-se com a mesma densidade do corpo vertebral. Na TC, o ureter por ser uma estrutura relativamente fácil de ser encontrada. Ele se mostra como um pequeno ponto isodenso anteriormente ao M. psoas, quase imperceptível quando não está dilatado. A TC ao lado mostra a presença de um cálculo ocupando todo o ureter direito (em B), o que configura um quadro de ureterolitíase. Contudo, avaliando o trato urinário superior, além de observar a presença de outro cálculo (em A), observa-se ainda a presença de líquidos e abertura de cálices maiores, caracterizando uma uretero-hidronefrose associada. DOR DE ORIGEM VESICAL A dor originada no corpo da bexiga geralmente é percebida na região suprapúbica. Quando ela decorre de irritação envolvendo a região do trígono e do colo vesical, a dor irradia-se para a uretra e meato externo, podendo ser relatada como uma sensação de queimor. De um modo geral, a bexiga só dói quando está obstruída ou quando está inflamada. A inflamação da bexiga é caracterizada pela cistite, causada por processos inflamatórios que se instalam na mucosa vesical e que, com a distensão da bexiga, a dor passa a ser referida no hipogástrio. No final da micção, momento em que bexiga realiza a contração máxima para expulsar o remanescente de urina, a dor torna-se mais intensa (disúria terminal). A polaciúria, a sensação de esvaziamento vesical incompleto e o histórico de relação sexual desprotegida fala a favor de infecção urinária baixa, como a cistite, podendo-se instituir a antibioticoterapia e dispensar qualquer tipo de exame de urina. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 247 A retenção urinária, normalmente, reflete uma obstrução infravesical, o que aumenta a resistência uretral a passagem de fluxo urinário. A hiperplasia prostática benigna (principal causa), que ocorre concomitantemente ao aumento da idade, é uma das principais causas de obstrução da via de saída da bexiga. A estenose da uretra (decorrente, principalmente, de trauma na bacia, com fratura cominuvita de ramo isquiopubis) e a migração de cálculos para a uretra também são condições comuns. As manifestações clínicas da obstrução vesical são: jato urinário fraco, intermitente (jatos partidos), sensação de esvaziamento vesical incompleto, polaciúria, nictúria, urgência miccional, etc. A palpação, estas condições promovem a presença de massa abdominal dolorosa, em hipogástrio, denotando a distensão vesical. Muitas vezes, o paciente pode se mostrar com sinais de ativação vagal (hipotensão, bradicardia, etc.). O tratamento seria a instalação de uma sonda vesical de demora (para alívio momentâneo, uma vez que a retenção urinária aguda tem indicação cirúrgica). A retenção urinária crônica pode ser causada pela hiperplasia prostática e é caracterizada pelo aumento da urina residual que faz com que o paciente ainda curse com gotejamento urinário. A dor, nesta situação, é menor do que no quadro agudo. Tomografia mostrando retenção vesical aguda, de modo que a bexiga urinária passa a ocupar toda a pelve do paciente. O tratamento seria a passagem de uma sonda vesical de demora, e não uma de alívio. Contudo, a descompressão por sonda deve ser feita de maneira paulatina, evitando o descolamento de mucosa de bexiga com exposição do plexo vascular submucoso vesical, podendo fazer com que o paciente apresenta uma hemorragia franca (hematúria ex vaccum) e evoluir com choque hipovolêmico. Se a instalação da sonda não for possível, devemos realizar uma cistostomia, aplicando a sonda diretamente na bexiga depois da confecção de uma pequena incisão na pele seguida do acesso a bexiga por um trocater. OBS4: Nota-se que, embora a hiperplasia prostática benigna seja uma causa importante de obstrução vesical, os mesmos sinais e sintomas podem se manifestar em outras condições (como vimos, a estenose de uretra e a impactação de cálculos na mesma). Por esta razão, não se utiliza mais o termo prostatismo para a síndrome caracterizada pelos sinais de obstrução vesical. Isso é importante pois pacientes do sexo feminino podem apresentar a mesma sintomatologia, mesmo sem apresentar próstata. DOR TESTICULAR A dor testicular, também conhecida como orquialgia, deve ser classificada como aguda ou crônica. Quando a dor testicular é aguda, geralmente está relacionada a um trauma (geralmente relacionado com acidentes de moto), a infecção, à torção (uma emergência urológica, pois depois de 6 horas, o índice de necrose e a taxa de orquiectomia são altas) e tumores (geralmente são assintomáticos). As principais causas de orquialgia crônica são varicocele ehidrocele. A palpação testicular é importante para verificar a integridade da túnica albugínea. Em caso de dúvida, é prudente solicitar uma US de testículo. Se ela estiver íntegra, o tratamento pode ser representado pelo uso de antiinflamatório e suspensório escrotal; caso contrário, deve-se realizar a exploração testicular para promover a rafia e, caso o testículo esteja muito comprometido, deve-se realizar a orquiectomia. Importante é realizar o diagnóstico diferencial entre a infecção (orquiepididimite) e a torção testicular (que consiste na rotação do testículo em torno do seu próprio eixo). A torção testicular é caracterizada pela rotação do testículo com consequente oclusão das estruturas contidas no funículo espermático (figura ao lado). O mecanismo de perda testicular na torção está relacionado à isquemia secundária a uma trombose venosa, e não devido a uma insuficiência arterial. Isso ocorre porque, com a trombose da veia testicular, o sangue arterial fica impedido de entrar no testículo (pois a via de saída está obstruída). Depois da instalação da trombose, instala-se a insuficiência arterial. Normalmente, na história clínica da torção testicular, é comum também o relato de um esforço físico vigoroso antes do quadro. É comum a presença de dor referida na fossa ilíaca homolateral à torção, náusea e vômito. O tratamento cirúrgico consiste na detorção e, se o testículo for viável, realizar uma orquidopexia dos dois testículos na bolsa escrotal (sutura com Vycril ou Prolene); se for inviável, faz-se a orquiectomia do testículo acometido e fixa-se o contra-lateral. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 248 Já no caso da orquiepididimite, é comum o relato de relação sexual prévia desprotegida. Possivelmente, estes pacientes apresentaram uma uretrite não-gonocócica assintomática (50% dos casos) ou com disúria, e não tratada. O germe (clamídia) pode migrar ao longo das estruturas genitais masculinas e alcançar os testículos por via retrógrada. Ao exame físico, observa-se aumento do diâmetro testicular e a presença de sinais flogísticos (dor e calor). A inflamação pode se alastrar para a bolsa escrotal e causar uma hiperemia importante na mesma. A conduta consiste no uso de antibióticos, antiinflamatórios e suspensão escrotal. OBS5: A manobra de Prehn é importante para diferenciar estes dois casos de orquialgia aguda. A manobra consiste na elevação do testículo com relação ao nível do funículo espermático. A manobra é dita positiva quando, após o levantamento, ocorre alívio da dor, sendo sugestivo de orquiepididimite. Contudo, o melhor exame para diagnóstico diferencial e avaliação da viabilidade do testículo se faz através do US-Doppler, que é patognomônico da orquiepididimite quando mostra um padrão de hiperfluxo (típico de reação inflamatória). Contudo, apenas pelo fato de o testículo ainda apresentar fluxo arterial, não se pode excluir a possibilidade de torção testicular (pois pode ter ocorrido apenas uma torção incompleta). Desta forma, se o paciente apresenta dor escrotal, náusea e vômito, com histórico de esforço vigoroso prévio, mas a US-Doppler não mostra ausência de fluxo, devemos explorar, de qualquer forma, a bolsa escrotal. OBS6: Da mesma forma que a mulher realiza o exame mensal das mamas, o homem deve realizar a palpação testicular, pelos menos, semestralmente, uma vez que a neoplasia testicular é a principal neoplasia deste sexo, entre os 15 aos 35 anos, sendo sua apresentação totalmente assintomática. Às vezes o paciente só apresenta dor quando existe um sangramento intra-nódulo, o que é um fenômeno raro. A correção da criptoquirdia é necessária pois pacientes que nascem com esta condição têm de 14 a 40 vezes mais chances de desenvolver câncer de testículo. Por esta razão, baixam-se os testículos para a bolsa escrotal para facilitar o auto-exame e a detecção mais precoce de um eventual câncer. No que diz respeito à dor testicular crônica, as principais causas são a varicocele e a hidrocele. A varicocele, principal causa de orquialgia crônica, consiste em uma condição adquirida caracterizada pela dilatação do plexo pampiniforme, decorrente da falência intrínseca das válvulas venosas do testículo, melhor evidenciada durante a manobra de Valsalva. Ocorre, comumente, uma assimetria do volume: o testículo com varicocele é, geralmente, hipotrófico com relação ao contra-lateral. Tal quadro pode desencadear uma oligoespermia e, portanto, adultos com varicocele têm a tendência de ser estéreis (cerca de 45% das causas reversíveis de infertilidade masculinas são decorrentes da varicocele). A hidrocele é uma situação caracterizada pelo acúmulo de líquido na bolsa escrotal sendo sugerida clinicamente pela mobilidade preservada e com transiluminação positiva (permite a passagem de um feixe luminoso quando em contato direto a uma fonte de luz). Geralmente, é causada por um canal inguinal que se apresenta estreitado ou fechado. O quadro é benigno e a hidrocelectomia é realizada por razões estéticas. A cirurgia consiste no fechamento cirúrgico do conduto peritônio-vaginal, com incisão na região inguinal, associada à drenagem do conteúdo escrotal. A hidrocele do adulto, ao contrário, é tratada através de incisão na bolsa escrotal. A hidrocele comunicante, caracterizada pela patência do canal inguinal, pode ser exemplificada por aquele quadro clínico caracterizado pela alteração do volume da bolsa escrotal ao longo do dia: o paciente que acorda com a bolsa escrotal vazia e que, ao passar do dia, apresenta um aumento da mesma, o que significa dizer que o líquido tem livre acesso, para entrar ou sair na bolsa escrotal. Neste caso, o tratamento pode ser conservador até os 2 anos de idade ou cirúrgico após os 2 anos, caso não se resolva espontaneamente. SINTOMAS GASTRO-INTESTINAIS NAS UROPATIAS Alguns sintomas gastro-intestinais podem se mostrar associados às uropatias. A pielonefrite, por exemplo, devido à inflamação da cápsula renal, o processo inflamatório pode propagar-se pela lâmina parietal do peritônio e alcançar uma alça intestinal, podendo promover paresia da mesma, distensão e dor abdominal difusa (pode simular, inclusive, um quadro de abdome agudo obstrutivo). No caso da cólica renal e ureteral, a ativação do sistema nervoso parassimpático também promove o aumento do transito intestinal (devido aos reflexos renointestinais, caracterizados pela inervação sensitiva e autonômica comum) e liberação de outros produtos que podem promover náuseas e vômitos. Por esta razão, a história clínica que relata um quadro de dor lombar tipo cólica, unilateral, associada à náusea e vômito, e não estando relacionada ao esforço, devemos sugerir a litíase como a principal hipótese diagnóstica. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 249 OBS7: A capacidade vesical (CV) diz respeito quantidade de urina que pode ser acumulada, em mdia, pela bexiga. As mulheres tem uma CV de 450 a 500ml; os homens, de 500 a 550ml. Para as crianas com at 12 anos, a CV deve ser calculada mediante a seguinte f rmula: CV = (idade x 30) + 3. SINTOMAS RELACIONADOS COM A MICO Anúria: diurese inferior a 100 mL/dia. Ocorre na obstruo bilateral das artrias renais ou dos ureteres e na necrose cortical bilateral. Polaciúria: consiste no aumento da necessidade de urinar e, com isso, da frequncia urinria diurna, com o intervalo entre as mices inferior a 2 horas, sem que haja concomitante aumento do volume urinrio. As principais causas de polaciria so: Urina residual (obstruo infravesical por HPB) Processos infecciosos/corpo estranho Tenso nervosa Fibrose vesical Queda da complacncia vesical. Poliria Poliúria: consiste no aumento do volume urinrio (volume urinrio superiora 2500 mL por dia). Como o volume de cada mico est limitado pela capacidade vesical, verifica-se um maior nmero de mices, inclusive noite. Os dois mecanismos bsicos de poliria so por diurese osmótica (decorrente da excreo de um volume aumentado de solutos, determinando maior excreo de gua, como na diabetes mellitus) ou por incapacidade de concentração urinária (diabetes insipidus, hipopotassemia). Noctúria (ou nictúria): necessidade de esvaziar a bexiga noite. Pode ocorrer na fase inicial da insuficincia renal, insuficincia cardaca ou em hepatopatias. A presena de noctria sem polaciria bastante sugestivo de falncia do ventrculo esquerdo (devido ao retorno do lquido do terceiro espao para o intravascular, que ocorre quando o paciente se deita para dormir, o que aumenta a taxa de filtrao glomerular e a produo de urina). As principais causas so: Leso renal grave Ingesto de irritantes vesicais pr ximo ao perodo de dormir ICC Obstruo infravesical Diabetes Mellitus Urgência miccional: a urgncia urinria significa a necessidade sbita e imperiosa de urinar, podendo, mesmo, haver esvaziamento involuntrio da bexiga. As principais causas so: Hiperatividade neurognica Hiperatividade idioptica Obstruo infra-vesical (50% dos pacientes) Processos inflamat rios vesicais Incontinência urinária: eliminao involuntria de urina, sendo normal em crianas at 1 ano e meio de idade. Acontece, principalmente, devido a bexiga neurognica, cistites, leses tocoginecol gicas, hipertrofia prosttica. Pneumoatúria: eliminao de ar junto mico. Normalmente, reflete uma fstula entero-vesical (sendo as principais causas: doena de Chron, tumores colnicos, etc.). Disúria: mico associada sensao de dor, queimor ou desconforto. Ocorre na cistite, prostatite, uretrite, traumatismo geniturinrio, irritantes uretrais, reaes alrgicas. Consiste no primeiro sintoma de infeco do trato urinrio (ITU); a disria terminal caracterstica da cistite. Piúria: existncia de nmeros anormais de leuc citos na urina. Enurese: significa na falta de controle dos esfncteres durante a noite (seria o famoso “xixi na cama”). secundria imaturidade do reflexo miccional e por poliria noturna. comum na criana com at 4 a 5 anos. Sintomas de obstrução infra-vesical (OIV): so os sintomas que caracterizam a obstruo infra-vesical (pode ser provocada por diversas causas: HPB, clculo impactado na uretra, estenose de uretra e de meato uretral externo, compresso extrnseca da uretra, etc.), podendo se manifestar como uma sndrome que rene os seguintes fenmenos listados abaixo. A correo imediata consiste na passagem da sonda e cirurgia (principalmente no caso de reteno urinria aguda secundria a HPB). Hesitao: aumento do intervalo para aparecimento do jato urinrio. Jato fraco e intermitente: sada por etapas do jato, aos poucos. Gotejamento terminal, polaciria e/ou nictria Urgncia miccional: devido ao aumento da resposta compensat ria por hiperatividade do detrusor. Sensao de esvaziamento vesical incompleto Reteno urinria aguda: incapacidade de esvaziar a bexiga, seja parcialmente ou totalmente. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 250 Todos estes sintomas caracterizam a síndrome da obstrução infra-vesical, o que é chamado pelos americanos de LUDS (sigla para sintomas do trato urinário baixo - STUB), o que antigamente era chamado de prostatismo. OBS8: Devemos considerar a obstrução infra-vesical sempre mais grave que a supra-vesical, pois ela pode levar a uma uretero-hidronefrose bilateral, com possível perda das duas unidades renais. Urografia mostrando ureterohidronefrose bilateral, com cálices renais mostrando curvatura convexa (normalmente, se mostram com curvatura côncava) por obstrução infra-vesical (HPB). O ureter também se mostra tortuoso. O paciente em questão se mostra com insuficiência renal crônica. Seu tratamento consiste na passagem de sonda e, depois de normalizar uréia e creatinina, cirurgia. Uretrocistografia miccional mostrando estenose de uretra, outra importante causa de obstrução infra-vesical, evidenciada pela área de resistência à passagem do contraste. É um quadro geralmente causado por trauma associado a fratura de bacia com uretrorragia. O tratamento, neste caso, consiste na retirada do segmento acometido e anastomose término-terminal, uma cirurgia que causa redução peniana. A urina normal é transparente e tem uma tonalidade que varia de amarelo claro ao amarelo escuro, conforme esteja diluída ou concentrada. As principais alterações das características da urina são: Hematúria: Significa a presença de sangue na urina, podendo ser micro ou macroscópica. A hematúria pode ser maciça, inclusive com o aparecimento de coágulos. É importante determinar se a hematúria é total (lesões renais ou ureterais), inicial (lesões da uretra distal ou cólon vesical) ou terminal (lesões do trígono vesical). A hematúria é um achado que, independente da manifestação associada, sempre deve ser valorizada (realizando uretrografia e cistoscopia). As causas mais importantes são: ITU Cálculo Hematúria silenciosa (até que se prove o contrário, é câncer) Doenças hemolíticas HPB Pós-esforço A principal causa de hematúria silenciosa após os 40 anos, é o câncer de bexiga, sobretudo se o paciente for tabagista. Diante deste relato, o achado de qualquer quantidade de hemácia por campo no sumário de urina deve ser valorizado, uma vez que nenhuma deveria ser notificada. RNM de pelve mostrando tumor superficial em parede vesical. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 251 RNM mostrando tumor invasivo de bexiga, alcançando a gordura peritoneal. Hemoglobinúria: presença de hemoglobina livre na urina, secundária à hemólise intravascular (malária, leptospirose e queimaduras). Hematoespermia: sangue no ejaculado, na forma de traços de sangue rutilante ou esperma com aspecto ferruginoso. É digno de investigação criteriosa, mesmo que o paciente tenha apresentado apenas um episódio e melhorado logo depois. Pode ser sugestivo de: Inflamação prostática Patologia de vesícula seminal Deonças granulomatosas HPB Neoplasia Próstata/Bexiga RNM mostrando cistos de vesícula seminal. Contudo, o melhor exame para avaliar as vesículas seminais é a US trans-retal (que, para urologia, apresenta apenas duas indicações: guiar biópsia prostática e avaliar vesículas seminais). Mioglobinúria: decorre da destruição muscular maciça por traumatismos ou queimaduras. Porfirinúria: é consequência da eliminação de porfirinas ou de seus precursores, os quais produzem uma coloração vermelho-vinhosa da urina, algumas horas após a micção. Urina turva: relato de urina turva ocorre com frequência por causas diversas. Sendo uma solução supersaturada, algumas horas após emitida e guardada em um vaso, a urina pode apresentar precipitação de diversos tipos de cristais (cristalúria), sendo mais frequentes os de ácido úrico, oxalato de cálcio e uratos amorfos, quando a urina é ácida, e carbonatos e fosfatos de cálcio quando a urina for alcalina. A urina turva, formando depósito esbranquiçado e quase sempre com odor desagradável, está associada à infecção urinária, seja cistite, pielonefrite, abscesso renal, perirrenal, uretral ou prostático. Uma causa rara de urina turva é a obstrução de ductos linfáticos. Nestes casos, a linfa ao ser drenada para a pelve renal, origina quilúria (causada por filariose, tuberculose ou neoplasias), assumindo a urina uma coloração esbranquiçada e opalescente. Mau cheiro: o odor característico da urina decorre da liberação de amônia. Um simples aumentoda concentração de solutos na urina pode determinar cheiro desagradável. Porém, fetidez propriamente dita surge nos processos infecciosos, pela presença de pus ou por degradação de substâncias orgânicas. Alguns medicamentos (vitaminas, antibióticos) também alteram o odor da urina. Urina com espuma: pode ser fisiológica em casos de urina muito concentrada ou pode ocorrer em glomerulonefrites, nefropatia diabética, nefrites intersticiais, hiperfosfatúria. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 252 CONSIDERA ES GERAIS SOBRE SINAIS SISTMICOS Alguns sinais sistêmicos e/ou evidenciados apenas através de um exame físico geral podem sugerir afecções urológicas. Dentre as principais, temos: Febre. A febre é um sinal interessante para as afecções do sistema urinário: as infecções do trato urinário alto (ureterite e pielonefrite) causam febre (geralmente alta, com cerca de 39ºC). Já as infecções do trato urinário baixo (cistite e uretrite), a febre é um sinal não relacionado. De uma forma geral, na infecção aguda, a febre costuma ser elevada acompanhando-se de calafrios, dor lombar ou suprapúbica. As principais causas são pielonefrite, cistite e prostatite. Nas infecções crônicas, a temperatura está discretamente aumentada ou com elevações intermitentes, às vezes acompanhadas de calafrios. O adenocarcinoma renal costuma acompanhar- se de febre, que até mesmo pode ser a única manifestação clínica da doença. Edema: o relato de edema constitui uma manifestação marcante nas doenças renais agudas e crônicas. O edema que surge nas doenças renais resulta de diferentes mecanismos patogênicos e tem características semiológicas próprias. O edema da glomerulonefrite é generalizado, sendo mais intenso na região periorbitária pela manhã. No final do dia, acomete os membros inferiores. Em crianças, o aparecimento de edema costuma ser súbito, podendo ser acompanhado de manifestações de ICC. Na glomerulonefrite crônica, a presença e a intensidade do edema são muito variáveis, podendo estar ausente ou manifestar-se apenas como edema periorbitário pela manha. O edema da síndrome nefrótica é generalizado, mais intenso que na glomerulonefrite, podendo chegar à anasarca, com intenso edema facial. Devido à glomerulopatia, ocorre um aumento da permeabilidade glomerular na síndrome nefrótica, gerando quadros de hipoalbuminemia. Isso reduz a pressão coloidosmótica do plasma, reduzindo o volume plasmático (o que faz, por meio do sistema renina angiotensina, uma maior retenção de H2O, reduzindo ainda mais a pressão coloidosmótica) e aumentando o líquido intersticial (gerando o edema). O edema da insuficiência renal crônica é muito variável, na dependência da causa determinante. Na insuficiência renal aguda, o edema decorre geralmente da hiper-hidratação. Ginecomastia: aumento doloroso da mama em pacientes do sexo masculino. A principal causa de ginecomastia hoje em dia é o uso de estrógenos, tumores testiculares e síndrome de Klinefelter. Caquexia: fala a favor de síndrome consuptiva secundária a uma neoplasia. Obesidade: fala a favor de endocrinopatias, e sugere a necessidade de investigar patologias de adrenal (incidentaloma de adrenal). Adenopatias: diante de qualquer suspeita de doença sexualmente transmissível, sempre palpar a região inguinal do paciente a procura de adenopatias. A sífilis (cancro duro), por exemplo, cursa com lesões que, depois de 10 a 15 dias, se mostram com adenopatias bilaterais não-supurativas e não-dolorosas; diferentemente do cancro mole, que cursa com adenopatia unilateral, dolorosa e que evolui para abscedação (bubões), fistulizando por orifício único. Exame físico da genitália: a inspeção da genitália externa é importante para verificar as seguintes alterações, dentre outras. Doença de Peyronie: é um distúrbio do tecido conjuntivo que envolve o crescimento de placas fibrosas no tecido do pênis, que afeta cerca de 1-4% dos homens. O processo de fibrose ocorre na túnica albugínea, uma camada fibrosa que circunda os corpos cavernosos do pênis. A doença causa o aparecimento de uma curvatura patológica no pênis, dificultando a ereção e a penetração vaginal. O quadro clínico consiste em: ereção dolorosa, curvatura peniana patológica e disfunção erétil. Hipospádias: consiste na abertura do meato uretral externo na região ventral do pênis. Pode ser uma hipospádia proximal (próxima ao ânus), média (próxima a base do pênis) ou distal (próxima à glande). Geralmente, existe um excesso de pele na região dorsal do pênis e uma curvatura peniana. Fimose: consiste na impossibilidade de exteriorização da glande, geralmente causada por uma estenose da rima do prepúcio. A anatomia normal consiste no repouso do prepúcio por trás da coroa da glande (no sulco coronal). Pode haver ainda a chamada parafimose, que consiste na retração mecânica (manual) do prepúcio e sua incapacidade de voltar, o qual forma um anel doloroso e edemaciado circundando a coroa da glande. Em crianças, a fimose é considerada fisiológica até os 3 anos de vida. As principais indicações médicas para a circuncisão ou postectomia são: anel prepucial estenótico, com fibrose ou excesso de prepúcio; crianças infecção urinária de repetição - refluxo vésico-uretral (VU), válvula de uretra posterior; bálano-postites frequentes; parafimose. É contra-indicado o exercício após o banho em crianças com fimose fisiológica, pois pode causar parafimose (uma emergência urológica que deve ser resolvida através da postotomia). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 253 NO ES GERAIS SOBRE CONDUTAS A pielonefrite obstrutiva é uma emergência urológica que não deve ser tratada apenas clinicamente, com o uso de antibióticos. Se o paciente apresenta relato de litíase, o cálculo pode ter migrado para o ureter e obstruído o mesmo, predispondo a uma infecção urinária em alça fechada. Para tratar este quadro, se faz necessário lançar mão do uso de cateter em duplo J para realizar a drenagem da via urinária para, só então, iniciar antibioticoterapia. Diante do quadro anterior, faz-se necessário lançar mão da USG de via urinária para avaliar a presença de hidronefrose. Se esta estiver presente, devemos drenar o rim do paciente (através do duplo J ou através da nefrostomia) e iniciar antibioticoterapia endovenosa. Somente depois de 72h, se o paciente estiver estável, podemos dar alta ao paciente. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 254 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino; ELOY, Yuri Leite. UROLOGIA____________________________ LITÍASE URINÁRIA (Professor José Iran) Os cálculos renais, popularmente chamados de pedra no rim, são formações sólidas de sais minerais e uma série de outras substâncias, como oxalato de cálcio e ácido úrico. A sua presença ao longo do trato urinário configura a síndrome conhecida como litíase urinária ou urolitíase. Os cálculos urinários são a terceira enfermidade mais comum do trato urinário, ultrapassada somente pelas infecções do trato urinário e por afecções patológicas da próstata, sendo comuns tanto em animais quanto em humanos. A litíase urinária é uma doença com um grande impacto social, especialmente devido ao ônus que o portador gera para o estado, pois a evolução clínica da doença leva a um estado de falência completa do lado acometido. Devido a isso, e por ser uma doença relativamente comum na população brasileira, seu estudo detalhado é de extrema importância. ETIOLOGIA Vários fatores estão envolvidos com a predisposição de doença renal calculosa: idade, sexo, raça, clima, geografia, profissão, classe social, alimentação e outras particularidades genéticas. De uma forma geral, quando os mecanismos de inibiçãoestão reduzidos ou ausentes, fatores físico-químicos que governam a litogênese transformam a urina de saturada em supersaturada, levando à nucleação, à cristalização e ao crescimento do cristal. A ingestão hídrica é um fator determinante da saturação urinária, interferindo de sobremaneira na agregação dos cristais. De uma forma geral, os fatores de risco já estabelecidos para a nefrolitíase podem ser divididos em intrínsecos, que compreendem idade, sexo e hereditariedade, e fatores extrínsecos, como os geográficos, climáticos e dieta, entre outros. Fatores intrínsecos: Idade: a maior incidência de litíase ocorre entre a terceira e a quinta décadas, estando o pico da ocorrência entre os 20 e os 40 anos. Sexo: a formação de cálculos é duas a três vezes mais frequente em homens do que em mulheres (3H:1M). Hereditários: história familiar de cálculo é comum em pacientes com litíase renal, sendo que as percentagens desta ocorrência variam de 25 a 55%. Fatores extrínsecos: Geografia Fatores socioeconômicos: os cálculos renais são mais comuns em países industrializados emergentes. Os imigrantes de nações menos industrializadas aumentam gradualmente sua incidência de cálculos e, eventualmente, alcançam os níveis da população nativa. Clima: nas regiões que apresentam um clima mais quente e seco, há uma maior predisposição a formação de cálculos. Como exemplo dessas cidades, podemos citar Brasília, onde há uma grande incidência de cálculos renais. Ocupacionais: em relação à ocupação atual do indivíduo aqueles que trabalham em padarias, metalúrgicas, expostas a altas temperaturas, tem uma chance maior de desenvolver cálculo renal. Estudos demonstraram que esses indivíduos, por perderem muito líquido pelo suor, formam uma urina mais concentrada, favorecendo a formação de cálculos. Dieta: a dieta é um dos fatores mais importantes na formação de cálculos. Aqueles pacientes que tem uma dieta rica em purinas, especialmente atletas e halterofilistas, têm uma maior chance de desenvolver cálculos de ácido úrico. Com isso, a dieta exerce um significativo impacto sobre a incidência de cálculos urinários. À medida que se aumenta a renda per capita da população, nota-se uma mudança dos hábitos alimentares, ou seja, a alimentação tende a ser mais gordurosa, com uma maior concentração de ácidos graxos saturados e insaturados, aumento da proteína animal e do açúcar, bem como redução nas fibras dietéticas, vegetais, proteínas e carboidratos não-refinados. Medicações: histórias abrangentes das medicações que estão sendo usadas podem proporcionar pistas valiosas acerca da causa dos cálculos urinários. Entre as medicações que podem levar a formação de cálculos incluem alguns medicamentos anti-hipertensivos, uso prolongado de antiácidos que contém sílica e ainda os inibidores da anidrase carbônica. E ainda pacientes HIV positivos, que fazem uso do coquetel. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 255 FORMAO DOS CLCULOS A formao de um clculo est associada a um desequilbrio existente entre o solvente e o soluto. Com isso, nos pacientes que desenvolvem clculo renal, h uma precipitao dos solutos nas estruturas urinrias levando a um quadro de urolitase. Associada a este desequilbrio, h uma baixa ingesto de gua. A urina eliminada formada principalmente pelos seguintes componentes: gua, sais minerais e inibidores da cristalizao. Entendido o que foi dito, o clculo pode ser explicado devido h uma supersaturao de urina, baixa ingesto de lquidos e reduo dos inibidores da cristalizao. Este ltimo item importante naqueles pacientes que apresentam hipocitratúria, de etiologia qualquer, havendo uma predisposio a formao de clculo, j que o citrato uma substncia inibidora da cristalizao – por se ligar ao on de clcio e impedir que ele se ligue a outros ons para formao de clculos. Nesses casos, recomenda-se a ingesto de frutas ctricas, como suco de limo, ou nos casos mais graves, utilizar medicamentos. Para que haja a formao de clculo necessria que haja a formao de dois ons (exemplo: Ca+ e oxalato). A unio dos cristais de clcio com os cristais de oxalato (agregao inica) determinam o desenvolvimento de clculos. Depois disso, ocorre a deposio de mais solutos, ocorrendo o crescimento do clculo. Geralmente, a maioria dos clculos possui uma matriz no cristalizada. Boa parte dos clculos renais – clculos de oxalatos de clcio e fosfato de clcio – podem ser visualizados atravs do exame radiogrfico; entretanto outros clculos como o caso daqueles cuja composio de cido rico, no exame radiogrfico se apresentam rdio-transparentes, sendo necessria a utilizao de outros exames (USG e TC). ONS URINRIOS Os clculos renais podem ser classificados em quatro categorias principais pela sua composio qumica, quais sejam: Oxalato de clcio, fosfato de clcio ou combinao das duas substncias – os clculos com esta composio so os mais comuns (na literatura, a sua frequncia varia de 60 a 90%). Portanto, os principais ons urinrios so: Cálcio (Ca2+): cerca de aproximadamente 25% do clcio ingerido pela alimentao absorvido (o restante ser levado ou ligado ao oxalato em nvel renal). Mais de 95% do clcio filtrado nos glomrulos so reabsorvidos no tbulos renais tanto proximais como distais e quantidades limitadas no tubo coletor. Com isso geralmente somente 2% do clcio ingerido eliminado na urina. Por esta razo, alteraes na absoro intestinal clcio ou na excreo urinria deste on predispem ao desenvolvimento de clculo de clcio. Oxalato: a maior parte absorvida no intestino delgado e grosso. No intestino grosso o oxalato consumido pelas bactrias da regio. Entretanto, algumas doenas, como a doena inflamat ria intestinal, enterectomias parciais, podem predispor ao aparecimento de clculo. Geralmente acomete cerca 5 a 10% destes pacientes. Fosfato: a maior parte reabsorvida nos tbulos proximais. A quantidade de fosfato eliminado na urina est intimamente relacionada a sua concentrao na dieta. A pequena quantidade de fosfato reabsorvida nos rins pode ser inibida pelo paratormnio. O fosfato em nvel renal pode se associar com o clcio, formando os clculos de fosfato de clcio, ou ainda de magnsio. Alguns clculos so formados por amnia, magnsio e fosfato, e so denominados de cálculo de estruvita. Esses clculos geralmente esto associados com um processo infeccioso, cujo principal agente causador o Proteus, um desdobrador da uria. Geralmente so clculos grandes que tem um componente bacteriano em seu interior. Apesar de ser um processo infeccioso, o tratamento no baseado na antibioticoterapia exclusiva, mas sim em procedimentos mais invasivos como a pr pria cirurgia. Sódio: apesar de no ter uma grande relao com a formao dos clculos renais, ele desempenha um importante papel na regulao da cristalizao dos sais de clcio na urina. A alta ingesto diettica de s dio faz aumentar a excreo urinria de clcio, o que reduz a capacidade da urina de inibir a aglomerao dos cristais de oxalato de clcio. Por isso, aqueles pacientes que esto em tratamento de clculo renal, devem sempre reduzir a quantidade de fontes de s dio e cido rico da dieta, como a carne vermelha, diminuindo assim a excreo de clcio. Ácido úrico: o cido rico um co-produto do metabolismo das purinas. O cido rico no-dissociado predomina com um pH urinrio baixo, geralmente inferior a 5,75 e forma clculos radiotransparentes radiografia simples. Entretanto, quando o clculo de cido rico possui clcio em sua composio, pH mais alcalino, e alm disso, pode estar evidente no exame radiogrfico do abdome. A concentrao de cido rico no organismo est relacionadacom sua ingesto oral e por alteraes de seu metabolismo como ocorre em algumas doenas, como na gota. OBS1: Pacientes com osteoporose que fazem reposio de clcio tem maior probabilidade de formar clculos. Entretanto, no se pode retirar o clcio da dieta, pois sua retirada vai estimular as paratire ides a promover maior reabsoro de clcio e, com isso, para estes casos, uma das alternativas aumentar a ingesto de lquidos. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 256 INIBIDORES DA FORMAO DE CLCULOS Entre os mais comuns temos o citrato que, como j foi discutido anteriormente, tem um importante papel inibidor da cristalizao entre os ons clcio e outros cristais. Outros fatores, em menores concentraes, mas no menos importantes, tambm participam, como o caso dos glicosaminoglicanos, pirofosfato e uropontina. Alm disso, ainda podemos citar o magnsio, pois sua deficincia, comprovadamente, pode favorecer a formao de clculos. VARIADADES DE CLCULOS CLCULO DE CLCIO Os clculos de clcio so os mais comuns, correspondendo a 80-85% dos casos. A explicao para a formao de nefrolitase calcria ocorre devido a um aumento da excreo de Ca2+, oxalato ou cido rico e diminuio do citrato. Entretanto, destes fatores, o mais comum a hipercalciria. Tipos de Hipercalciria. De acordo com o distrbio envolvido, podemos destacar os seguintes tipos de hipercalciria: Absortiva (↓PTH; ↓Ca2+ srico): como se sabe cerca de 25% do clcio da dieta absorvido por via intestinal. Nos casos de hipercalciria absortiva, ocorrer uma maior absoro de clcio intestinal, levando a uma reduo dos nveis sricos do paratormnio e, dessa forma, reduzindo a reabsoro tubular. Com isso considera-se absortiva quando o clcio urinrio > 200mg/ 24h. Em relao as possveis causas desse tipo de hipercalciria esto: o Tipo I: aumento da permeabilidade do intestino ao clcio. o Tipo II: aumento da ingesta oral de clcio (leite, queijos e seus derivados) o Tipo III: alterao renal, em que h uma perda de fosfato, levando ao aumento da produo da 1,25-di- hidroxicalciferol (que atua como hormnio ativo da vitamina D), que ela leva maior absoro intestinal de clcio, elevando sua concentrao renal a ser excretada. Renal (↑PTH; ↓Ca2+ srico): ocorre por defeito na reabsoro tubular renal de Clcio, aumentando a calciria e diminuindo do clcio srico. Esse defeito desencadeia um estmulo que eleva a concentrao srica do paratormnio, levando ao aumento da produo de Hidroxi-Vitamina D e aumento da reabsoro intestinal do clcio. Reabsortiva (↑PTH; ↑Ca2+ srico): ocorre naqueles pacientes que possuem hiperparatireoidismo prim rio (por adenoma de paratire ides, por exemplo), em h uma hiperfuno da paratire ide com maior liberao do paratormnio, que determina uma grande reabsoro de clcio sseo, aumenta a produo de 1,25-di- hidroxicalciferol e com isso a reabsoro intestinal. Estes fatores contribuem para uma grande concentrao de clcio srico (fato este que no est to presente nas outras causas de hipercalciria). Com isso, o rim tenta compensar esta hipercalcemia eliminando maiores quantidades desse on. C lculo de c lcio com hiperuricosuria (cido rico >700mg/24h e pH>5,75). So aqueles pacientes que apresentam um aumento do cido rico na urina (AU > 700mg/24h), entretanto, apresentam-se com um pH urinrio mais bsico, quando comparados aos clculos de cido rico puros, em que o pH mais cido. Com isso nesses casos a composio do clculo ser de clcio e cido rico. Geralmente esto associados aqueles pacientes que possuem uma ingesto excessiva de purinas, ou ainda, um aumento end geno do cido rico. Os pacientes com alimentao rica em purinas podem ser tratados eliminando essa substncia da dieta; j os distrbios metab licos podem ser tratados com Alopurinol, inibidor de xantinas-oxidase, que reduz a sntese renal inibindo tambm sua excreo e cristalizao do cido rico-oxalato de clcio. C lculo de c lcio com hiperoxalria (40mg/24h). Naqueles pacientes portadores de diarria crnica, com doena inflamat ria intestinal, como retocolite ulcerativa e doena de Crohn, ocorre uma baixa absoro de gorduras, as quais, no lmen intestinal, se ligam ao clcio e se saponificam. Por isso, os nveis urinrios de clcio se mostram baixos, em contrapartida, o oxalato livre – que deveria estar ligado ao clcio – absorvido prontamente, elevando sua concentrao em nvel renal. Assim, esses pacientes apresentam um nvel elevado de oxalato na urina (>40mg/24h). Dessa forma a excreo renal desse on estar elevada favorecendo a formao de clculos pela associao com o clcio, formando assim o clculo de oxalato de clcio. Em doenas hereditrias, como a hiperoxalria primria recessiva, h um defeito enzimtico heptico que pode levar a elevao dos nveis de oxalato e seus nveis renais. Entretanto uma patologia rara e de baixa incidncia. OBS2: As alteraes metab licas que podem favorecer ao desenvolvimento de clculos so investigadas atravs de exames laboratoriais, ou seja, sumrio de urina, avaliao das concentraes dos ons – clcio, cido rico, oxalato, Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 257 fosfato, uria, creatinina, s dio, potssio. Alm disso, pertinente a dosagem desses ons no sangue, principalmente o clcio srico. Cálculo de Cálcio com Hipocitratúria. Naqueles pacientes com distrbios metab licos que incluem a acidose metab lica, hipocalcemia (uso de tiazdicos), hipomagnesemia e reduo do citrato, podem ter chances maiores de desenvolver clculo de clcio. Como foi dito anteriormente, o citrato se liga ao on clcio evitando sua agregao com outros ons, reduzindo assim sua concentrao inica e, consequentemente, a energia de cristalizao, reduzindo aglomerao e crescimento dos cristais de oxalato de clcio. Sua reposio pode ser feita atravs de medicamentos ou sucos ctricos. Entre os medicamentos o mais comum o citrato de potssio. Essa medicao leva a uma alcalinizao da urina. Por isso, esses pacientes devem acompanhados com sumrio de urina, principalmente devido ao risco de infeco e hiperpotassemia, sendo assim prudente orientar o paciente para realizao de uma dieta pobre em potssio (evitar frutas como banana). CÁLCULOS NÃO-CALCÁRIOS As composies mais comuns dos clculos renais no-calcrios so de cido rico e fosfato amonaco magnesiano (estruvita). Os clculos de cistina, urato e xantina so de baixa densidade e raros. Cálculo de Ácido Úrico. Dentre os clculos no-calcricos, o clculo de cido rico o mais comum, e correspondem a 5% de todos os clculos. Podem ocorrer com uma maior frequncia naqueles pacientes portadores de doenas que interfiram no metabolismo do cido rico, como o caso da gota, doenas mieloproliferativas, ou ainda, pode ser decorrente de uma dieta rica em cido rico (purinas) ou desidratao severa. So mais frequentes em homens e se mostram radiotransparentes nas imagens radiogrficas. A suspeita de clculo de cido rico reforada pelo pH urinrio ser inferior a 5,5, entretanto um dado ainda mais importante sua radiolucncia no exame radiogrfico e visualizao do clculo na USG. O tratamento pode ser conservador, e est baseado na alcalinizao da urina (bicarbonato de s dio, citrato de potssio), aumento na ingesta hdrica e reduo do consumo de carne. Entretanto, caso o clculo esteja localizado no ureter mdio, causando uma obstruo urinria, com hidronefrose – distenso (dilatao) do rim pela urina, causada pela presso de retorno sobre o rim quando se obstrui o fluxo urinrio – o tratamento no deve ser conservador, pois essa obstruo prolongada podelevar a uma perda da funo renal, sendo necessrio um procedimento cirrgico. Cálculo de Estruvita. Os clculos de estruvita so compostos por fosfato, amnia e magnsio. Os clculos de estruvita representam o tipo mais comum de cálculos colarifomes (conceitua-se como coraliforme aquele clculo renal ramificado, que se amolda aos contornos do sistema coletor e ocupa mais de uma poro do mesmo). Como foi dito anteriormente, esses clculos so de natureza infecciosa, estando relacionados com bactrias que tem a capacidade de desdobrar a uria, sendo o Proteus o principal agente etiol gico. Entretanto, tambm podem estar presentes a Pseudomonas, Klebsiella e o Sthaphyloccus. O tratamento com antibi tico em monoterapia no curativo, fazendo-se necessria uma interveno cirrgica para a remoo do clculo. Cálculos de Cistina. Os clculos de cistina so causados por uma cistinria > 250mg/24h. Ocorre em cerca de 1 a 2% dos pacientes com clculos. Caracteriza-se por ser uma doena hereditria autossmica com absoro anormal de cistina no intestino delgado e rins. So clculos pouco radiopacos. Uma caracterstica importante que so os clculos mais resistentes nefrolitotripsia extra-corp rea (tratamento baseado em ondas sonoras que convergem ondas no clculo ocorrendo sua fragmentao, facilitando sua eliminao pela urina), por isso seu tratamento baseado na mesma terapia conservadora que os clculos de cido rico, ou seja, tratamento com alcalinizao da urina (bicarbonato de s dio, citrato de potssio), drogas (mercaptopropionilglicina e penicilamina) aumento da ingesta hdrica e, se necessrio, cirrgica. Cálculos de Xantina. So clculos ocasionados por deficincia congnita de xantina-oxidase, enzima que catalisa normalmente a oxidao da hipoxantina em xantina e desta no cido rico. importante salientar que o Alopurinol (utilizado para tratar a nefrolitase clcica hiperuricosria e a litase devida ao cido rico) produz xantinria iatrognica. Nas radiogrficas, geralmente se mostram radiolucentes. Seu tratamento est baseado na alcalinizao da urina (bicarbonato de s dio, citrato de potssio), aumento na ingesta hdrica e reduo de purinas e alopurinol. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 258 C lculo de Indinavir. O Indinavir consiste em uma droga inibidora de protease utilizada para o tratamento da AIDS que pode formar cálculos radiotransparentes em até 6% dos pacientes aos quais se prescreve essa medicação. Esses cálculos são os únicos cálculos urinários que se revelam hipodensos nos exames TC sem contraste, podendo estar associados aos componentes de cálcio (nestas situações, são visíveis nas imagens TC sem contraste). Incluem aqueles pacientes que são tratados para HIV e seu tratamento pode ser feito sob a forma conservadora ou, se for muito grande, terapia cirúrgica. QUADRO CLNICO O quadro clínico em um paciente com cálculo renal, na maioria das vezes, varia de acordo com sua localização. Abaixo serão discutidos os principais sinais e sintomas desses pacientes, que caracterizam o cálculo renal. Dor lombar: a cólica renal e a dor renal sem cólica são os dois tipos de dor de origem no rim. Em geral, a cólica renal é causada pela distensão (estiramento) do sistema coletor ou do ureter, enquanto que a dor renal sem características de cólica é causada por distensão da cápsula renal. Apesar disso, podemos dizer que a obstrução urinária é o principal mecanismo responsável pela cólica renal. Geralmente o paciente com dor lombar de início súbito, intensa e constante (intermitente), que não melhora com uso de medicamentos ou com mudança de posição, apresenta obstrução urinária. Essas características semiológicas da dor devem ser diferenciadas de outras situações com a própria história clínica do paciente, como por exemplo: dor originada de hérnia de disco, dores musculares e etc. Certos mecanismos locais (como inflamação, edema, hiperperistalse e irritação mucosa) podem contribuir para a percepção da dor nos pacientes com cálculos renais. A irradiação e localização da dor dependem da localização do cálculo: a. C lice Renal: os cálculos que se localizam nos cálices renais e não geram uma obstrução completa de seu lúmen, provocam dor periodicamente, em virtude da obstrução incompleta. A dor é descrita como uma sensação profunda e incômoda no flanco ou nas costas que pode variar, de intensidade, de grave a leve. A dor pode ser exacerbada após a grande ingestão de líquidos. Esses cálculos frequentemente são pequenos e numerosos, dando a impressão de que serão eliminados pela urina. b. Pelve Renal: os cálculos maiores que 1cm de diâmetro localizados na pelve renal obstruem comumente a junção uretero-pélvica, causando dor intensa no ângulo costovertebral, lateralmente ao músculo sacroespinhal e imediatamente abaixo da 12ª costela. Essa dor pode variar de imprecisa e lancinante, sendo geralmente constante maçante e difícil de ignorar. Irradia-se frequentemente para a região do flanco e anteriormente para o quadrante abdominal superior ipsilateral. Por isso, podem ser confundidas com cólicas biliares ou a colecistite quando do lado direito. c. Ureteres superiores e mdio: cálculos localizados nessas porções costumam causar dor intensa ou lancinante nas costas ou no flanco. A dor poderá ser mais intensa se o cálculo estiver migrando ao longo do ureter. Os cálculos ureterais superiores geralmente tendem a irradiar-se para a região lombar e o flanco, já os cálculos de ureter nédio tendem a causar dor que se irradia caudal e anteriormente para o abdome médio e o inferior, em forma de faixa curvilínea. A dor pode simular uma apendicite quando do lado direito ou diverticulite quando localizada do lado esquerdo. d. Ureter Distal: nessa localização os cálculos tendem a causar dor para a região inguinal, podendo o paciente queixar-se de dor nos testículos nos homens e grandes lábios nas mulheres. O diagnóstico deve ser diferenciado de torção de testículo e epididimite. Nesses casos é muito comum o paciente queixar-se frequentemente de urgência urinária, sendo mais comum nessa localidade do que nas outras citadas anteriormente. Hematria, Disria, Noctria e Polaciria Urgncia Urin ria Febre N useas e vmitos – Reflexo reno-intestinal Dor lombar a punho percusso: pode estar presente ou não. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 259 EXAMES COMPLEMENTARES Entre os exames complementares a serem solicitados, podemos incluir a realizao da radiografia simples de abdome e ultrassonografia (USG) de vias urinárias. Uma caracterstica importante da USG que ela pode identificar clculos radiotransparentes radiografia. Em associao a eles, devemos solicitar um sumário de urina (importante por revelar hematria microsc pica e sinais sugestivos de infeco urinria; alm disso, a identificao do cristal presente na urina capaz de ajudar na identificao do tipo de clculo existente). De fato, cerca de 90% dos clculos do trato urinrio superior contm clcio suficiente para serem visualizados na radiografia simples de abdome. No entanto, vrios fatores podem interferir na sensibilidade e especificidade da radiografia na deteco dos clculos: estes podem ser obscurecidos por gases intestinais, sombras sseas ou posicionamento incorreto do paciente, dentro outros fatores. Alguns clculos localizados nos ureteres, por exemplo, podem passar despercebidos na USG abdominal (pois alm da anatomia desfavorvel do ureter, sua localizao acontece por trs de muitas alas intestinais repletas de ar). Com isso, para pacientes que apresentam clnica sugestiva de urolitase mas sem clculo na radiografia ou na USG, podemos solicitar a tomografia computadorizadasem contraste com padro para clculo (cortes finos de 3 – 5mm); na ausncia desta, podemos realizar a urografia excretora. De maneira geral sobre os exames disponveis para diagn stico de clculo renal temos: Ultrassonografia (USG) de abdome: um exame que vem sendo utilizado desde 1961, apresentando-se como um mtodo de boa sensibilidade, inclusive na deteco de clculos no opacos, como os de cido rico. Alguns estudos mostram que sua acurcia chega a ser melhor que a da radiografia, em alguns casos. Contudo, a habilidade da USG em detectar clculos renais dependente da localizao e do tamanho do mesmo, alm da habilidade operacional de quem realiza o exame. Os clculos so visualizados razoavelmente bem com o ultra-som, principalmente quando esto localizados no rim, no ureter distal ou na juno ureterovesical, especialmente se existe dilatao. O ultra-som bom para visualizar complicaes como hidronefose (ou outros sinais de obstruo), entretanto, alguns pacientes com obstruo aguda podem apresentar pouca ou nenhuma dilatao. Ao ultra-som, os clculos so demonstrados como focos hiperecogênicos (brilhantes), com sombra acústica posterior. Hidronefrose (dilatao do sistema coletor) por clculo: na juno uretero-pilica, h uma imagem muito ecognica, o que seria, provavelmente, um clculo. A espessura do parnquima est conservada. Ultrassonografia de loja renal mostrando, pelo menos, trs clculos renais evidenciados pela presena da sombra acstica posterior. O parnquima renal apresenta-se hipoecognico, enquanto que o complexo ecognico central (marcado pela entrada da artria, da veia e da pelve renal) mostra-se esbranquiado (hiperecognico). Radiografia simples de abdome: a radiografia de abdome, juntamente com a USG, permite o diagn stico de cerca de 90% dos clculos, j que em sua maioria, os clculos possuem clcio em sua composio e se mostram radiopacos. Embora 90% dos clculos urinrios sejam opacos em radiografias abdominais, a sensibilidade para identificao prospectiva de clculos de apenas 50% a 60% e a especificidade de cerca de 70%. Em torno de 10% dos clculos so radiotransparentes nas radiografias convencionais. Lembrar que os clculos de cido rico geralmente se mostram radiotransparentes (radiolcidos). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 260 Cálculos radiopacos em junção pieloureteral direita (A) e junção ureterovesical direita (B). Cálculo coraliforme: geralmente ocorre pós-infeccção. Radiografia simples do abdome mostrando que o cálculo colariforme toma a forma do sistema coletor. Nefrocalcinose medular: depósito de cálcio, oxalato e/ou fosfato no interstício e túbulos renais. As principais causas são: Hiperparatireoidismo e Acidose tubular renal. Urografia Excretora (UE): é um exame em que é injetado um contraste iodado por via intravenosa. Esse contraste é filtrado em nível renal e excretado através da urina, contrastando e evidenciando a anatomia de todo o sistema urinário do paciente. Depois de aplicado o contraste, são feitas várias radiografias seriadas de abdome para visualização do trajeto do contraste. A presença de um cálculo na via urinária se mostra como uma imagem de subtração (falha de enchimento) no trajeto do contraste ao longo das vias urinárias. Além disso, o retardo na excreção do contraste sugere uma filtração diminuída, podendo indicar uma pressão elevada no sistema coletor. A UE foi, por muito tempo, considerada o exame de imagem ideal na abordagem de pacientes com urolitíase. Porém, estudos atuais mostraram que a sensibilidade, especificidade e acurácia diagnóstica da TC têm-se tornados superiores. Portanto, atualmente, a UE foi substituída pela tomografia computadorizada; apenas nos serviços em que a TC for ausente (e a USG mostrou uma hidronefrose importante, mas sem localizar o cálculo), devemos realizar a urografia excretora. Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 261 Radiografia simples (A) e Urografia excretora (B). Imagem mostrando clculo radiotransparente, na forma de uma imagem de subtrao em ureter (seta em B), obstruindo parcialmente o uretr proximal direito. O clculo no visvel na radiografia simples (A). A. Radiografia simples com clculo radiopaco. B. Radiografia ap s 5 minutos de injeo do contraste: a excreo obscurece o clculo. C. Radiografia ap s 10 minutos de injeo de contraste: o clculo visto como uma “falha de enchimento” na pelve renal (seta). OBS3: Um tumor de pelve renal (ou em qualquer outro ponto da via urinria) tambm pode causar a mesma falha de enchimento de contraste (imagem de subtrao) que o clculo promove. O diagn stico diferencial neste caso estabelecido atravs da TC ou da USG. Contudo, a hematria pode ser uma manifestao clnica mais sugestiva de tumor. Tomografia Computadorizada: com uma sensibilidade entre 94% e 97% e uma especificidade entre 96% e 100%, a tomografia computadorizada (TC) helicoidal (em cortes finos, de 3 – 5mm) o exame radiol gico mais sensvel para deteco, localizao e caracterizao de calcificaes urinrias. Portanto, a TC helicoidal consideravelmente mais efetiva do que a urografia venosa (contudo, um exame mais caro que a radiografia simples de abdome e que a USG). A TC sem contraste considerada o padro ouro para diagn stico de litase. Como foi dito anteriormente, a TC solicitada naqueles casos em que o clculo est localizado nos ureteres e que no podem ser visualizados pela USG, ou ainda nos pacientes com hidronefrose, para haver uma melhor avaliao pr-operat ria. A TC helicoidal, frequentemente, demonstra clculos no-obstrutivos que so perdidos na urografia venosa. Alm disso, a TC diferencia facilmente clculos no-opacos e cogulos ou tumores. A TC melhor do que a urografia ou o ultra-som para detectar outras causas de dor abdominal. Clculos de indinavir podem aparecer radiotransparentes, entretanto, todos os outros clculos so opacos na tomografia. Atualmente consiste no melhor exame, tendo uma maior especificidade e sensibilidade para identificao do clculo; entretanto, como na maioria das vezes o diagn stico dado atravs da radiografia e da USG, a TC pode ser desnecessria (principalmente devido ao alto custo do exame), salvo nas excees j discutidas. Naqueles pacientes que sero submetidos a um procedimento endosc pico percutneo, pode ser solicitada a TC com reconstruo em 3D. No que diz respeito aos coeficientes de atenuao dos principais clculos urinrios, temos: Oxalato = 800 a 1500 UH Acido rico = 330 a 500 UH Tumores = 20 a 75 UH sem contraste Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 262 Tomografia em corte axial sem contaste EV mostrando litíase renal bilateral com discreta hidronefrose a direita. TC em corte axial mostrando cálculo na junção uretero-vesical direita responsável pela hidronefrose. TC em corte axial mostrando pequeno cálculo ureteral a esquerda. A localização anatômica do ureter é um importante ponto a ser ressaltado: em condições normais, ele pode não ser visualizado. Contudo, na presença de cálculos ou dilatações, ele se mostra como um ponto espessado localizado na frente do músculo psoas (obviamente, apenas em cortes tomográficos axiais). TC em corte coronal mostrando a presença de, pelo menos, dois cálculos hiperdensos: um em cálice renal inferior e outro na junção entre ureter proximal e ureter médio. Corte axial de TC sem contraste mostrando edema da parede do terço ureteral médio (na forma de um halo tecidual indicado pela seta). Arlindo Ugulino Netto; Luiz Gustavo Barros; Yuri Leite Eloy – UROLOGIA – MEDICINA P8 – 2011.1 263 TC sem contraste mostrando
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