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Cálculo Diferencial Integral III Cálculo Diferencial Integral III SABE – Sistema Aberto de Educação Av. Cel. José Alves, 256 - Vila Pinto Varginha - MG - 37010-540 Tele: (35) 3219-5204 - Fax - (35) 3219-5223 Instituição Credenciada pelo MEC – Portaria 4.385/05 Centro Universitário do Sul de Minas - UNIS Unidade de Gestão da Educação a Distância – GEaD Mantida pela Fundação de Ensino e Pesquisa do Sul de Minas - FEPESMIG Varginha/MG Cálculo Diferencial Integral III ALVES, Alessandro Ferreira. Guia de Estudo – Equações Diferenciais Ordinárias - Varginha: GEaD-UNIS, 2010. 121 p. 1. Equações Diferenciais Ordinárias. 2. Modelagem Matemática. 3. Transformada de Laplace. 4. Wronskiano. 5. Métodos de Resolução. Todos os direitos desta edição são reservados ao Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS-MG. É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, ou parte do mesmo, sob qualquer meio, sem autorização expressa do UNIS-MG. Cálculo Diferencial Integral III REITOR Prof. Ms. Stefano Barra Gazzola GESTOR Prof. Ms. Wanderson Gomes de Souza Supervisora Técnica Profª. Ms. Simone de Paula Teodoro Moreira Design Instrucional Prof. Celso Augusto dos Santos Gomes Jacqueline Aparecida Silva Coord. do Núcleo de Comunicação Renato de Brito Coord. do Núcleo de Recursos Tecnológicos Lúcio Henrique de Oliveira Coordenadora do Núcleo Pedagógico Terezinha Nunes Gomes Garcia Equipe de Tecnologia Educacional Danúbia Pinheiro Teixeira Maria Carolina Silva Castro Oliveira Revisão ortográfica / gramatical Gisele Silva Ferreira Autor Alessandro Ferreira Alves Possui graduação em Matemática pela Universidade Federal de Uberlândia (1996) e Mestrado em Matemática Pura pela Universidade Estadual de Campinas: UNICAMP (1999). Atualmente está em fase final de co Curso de Doutorado também pela UNICAMP, no Departamento de Telemática da FEEC - Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação, com previsão de término para o primeiro semestre de 2011. Atua como professor titular no Centro Universitário do Sul de MInas: UNIS-MG, desde o ano de 2001, como professor em diversos Cursos de Graduação, bem como Pós-graduação, nas Modalidades Presencial (GEDUP) e a Distância (GEaD). Além disso, é Coordenador do Curso de Licenciatura Plena em Matemática na Modalidade a distância desde o segundo semestre de 2007, bem como, coordenador dos cursos de Pós- graduação MBA em Finanças Corporativas (GEDUP) desde 2007 e MBA em Gestão Empresarial (GEaD) desde o ano de 2008, do Centro Universitário do Sul de Minas Gerais: UNIS-MG. Além do mais, coordenou os cursos de Pós-graduação em Matemática Empresarial (turmas 2004, 2005 e 2006) e Matemática e Ensino (turmas 2002 e 2003). Atua como professor titular de disciplinas em diversos cursos, como por exemplo, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia Civil, Matemática, Física, Comércio Exterior, Sistemas de Informação e Ciência da Computação, relacionadas à Matemática, Estatística e Computação. Além disso, atua como professor nos Cursos de Pós-graduação do UNIS-MG: MBA em Finanças Corporativas, MBA em Gestão Estratégica e Inteligência em Negócios, MBA em Gestão Empresarial, MBA em Gestão de TI, MBA em Logística Empresarial e Pós-graduação em Qualidade e Produtividade, nas disciplinas de Matemática Financeira, Métodos Quantitativos, Engenharia Econômica, Simulação de Sistemas Gerenciais e Estatística Aplicada. Cálculo Diferencial Integral III ÍCONES REALIZE. Determina a existência de atividade a ser realizada. Este ícone indica que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser realizada. Fique atento a ele. PESQUISE. Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais informação. PENSE. Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a um questionamento. CONCLUSÃO. Todas as conclusões, sejam de ideias, partes ou unidades do curso virão precedidas desse ícone. IMPORTANTE. Aponta uma observação significativa. Pode ser encarado como um sinal de alerta que o orienta para prestar atenção à informação indicada. HIPERLINK. Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo impresso ou endereço de Internet. EXEMPLO. Esse ícone será usado sempre que houver necessidade de exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou estudado. SUGESTÃO DE LEITURA. Indica textos de referência utilizados no curso e também faz sugestões para leitura complementar. APLICAÇÃO PROFISSIONAL. Indica uma aplicação prática de uso profissional ligada ao que está sendo estudado. CHECKLIST ou PROCEDIMENTO. Indica um conjunto de ações para fins de verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização de uma tarefa. SAIBA MAIS. Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma a possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado. REVENDO. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente. Cálculo Diferencial Integral III SUMÁRIO EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM E APLICAÇÕES ................................................................................. 8 1.0 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................................... 10 1.1 POR QUE ESTUDAMOS MATEMÁTICA? POR QUE ESTUDAMOS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS? ..................................................... 11 1.2 CLASSIFICAÇÃO DAS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ............................................................................................................. 14 1.3 OUTRAS TERMINOLOGIAS E CONCEITOS BÁSICOS ......................................................................................................... 23 1.3.1 Notação ........................................................................................................................................................... 23 1.3.2 Solução de Uma Equação Diferencial Ordinária .............................................................................................. 23 1.3.3 Soluções Explícitas e Implícitas ........................................................................................................................ 28 1.3.4 Número de Soluções ........................................................................................................................................ 31 1.3.5 Solução Particular e Solução Geral .................................................................................................................. 33 1.3.6 Problemas de Valor Inicial e Problemas de Valores de Contorno .................................................................... 34 1.4 ASPECTOS HISTÓRICOS ENVOLVENDO AS EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS ...................................................................... 35 1.5 EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES ...................................................................................................................................... 42 1.6 ALGUMAS MODELAGENS MATEMÁTICAS VIA EQUAÇÕES DIFERENCIAIS ORDINÁRIAS .................................................................44 1.7 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS DE PRIMEIRA ORDEM ................................................................................................................. 58 1.7.1 Equações Lineares ............................................................................................................................................ 59 1.7.2 Resolução de Equações Diferenciais de Primeira Ordem: O Método dos Fatores Integrantes ........................ 62 1.7.3 Resolução de Equações Diferenciais de Primeira Ordem: O Método das Variáveis Separáveis ...................... 76 1.7.4 Exercícios Complementares ............................................................................................................................. 83 1.7.5 Equações Homogêneas .................................................................................................................................... 85 1.7.6 Equações Exatas .............................................................................................................................................. 91 1.7.6.1 Método de Solução via Equações Exatas ......................................................................................................................93 1.7.7 Aplicações de Equações de Primeira Ordem ................................................................................................... 98 7 Cálculo Diferencial Integral III EMENTA Introdução às Equações Diferenciais. Equações Diferenciais de Primeira Ordem. Aplicações das Equações de Primeira Ordem. Equações Diferenciais Lineares de Ordem Superior. Aplicações de Equações Diferenciais de Segunda Ordem: Modelos Vibratórios. Equações Diferenciais com Coeficientes Variáveis. Transformada de Laplace e Aplicações. 8 Cálculo Diferencial Integral III META Nesta primeira Unidade é de nosso interesse apresentar os conceitos fundamentais da teoria envolvendo as equações diferenciais ordinárias, bem como discutir os principais aspectos teóricos referente as equações diferenciais de primeira ordem, desde análise até os principais métodos de resolução, como por exemplo, fatores integrantes e variáveis separáveis, bem como resolver diversas aplicações cotidianas. OBJETIVOS DA UNIDADE Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta unidade, você seja capaz de: Apresentar os principais conceitos acerca das equações diferenciais ordinárias; Classificar sem dificuldades uma equação diferencial quanto a ordem, tipo e linearidade; Compreender a importãncia do estudo das equações diferenciais ordinárias para a resolução de diversas situações dentro da matemática e áreas afins; Caracterizar e interpretar geometricamente a solução de uma equação diferencial ordinária; Estar plenamente familiarizado com os principais resultados envolvendo às equações diferenciais de primeira ordem; Equações Diferenciais de Primeira Ordem e Aplicações 9 Cálculo Diferencial Integral III Estar plenamente familiarizado com os principais métodos de resolução de equações diferenciais de primeira ordem; Resolver diversas aplicações relacionadas com às equações diferenciais de primeira ordem na área da matemática e áreas afins; Resolver diversas aplicações dentro da matemática e áreas afins, envolvendo os aspectos teóricos discutidos na unidade. PRÉ-REQUISITOS Em verdade, para se ter um bom aproveitamento desta unidade, é importante você relembrar alguns tópicos discutidos na parte de Matemática Elementar (Fundamentos de Matemática), no Curso de Cálculo Diferencial e Integral I e II, tais como derivação e integração, bem como aspectos relacionados à Geometria Analítica. 10 Cálculo Diferencial Integral III 1.0 INTRODUÇÃO Muitos problemas importantes e significativos da Matemática, Física, Economia, Engenharia em geral, das ciências físicas e das ciências sociais, formulados em termos matemáticos, exigem a determinação de uma função que obedece a uma equação que contém uma ou mais derivadas de uma função desconhecida. De outra forma, em ciências, Engenharia, Economia e até mesmo em Psicologia, freqüentemente desejamos descrever ou modelar o comportamento de algum sistema ou fenômeno em termos matemáticos. São exemplos, de situações que envolvem um modelo matemático, que serão resolvidos através da caracterização da solução de uma equação diferencial. O estudo das equações diferenciais atraiu a atenção de muitos entre os maiores matemáticos nos últimos três séculos. Em verdade, mais a frente discutiremos de forma detalhada a parte histórica de tal subárea da Matemática, apresentando os principais pensadores que colaboraram de forma significativa para o desenvolvimento da mesma. Não obstante, continua a ser um campo dinâmico de investigação, com muitas questões interessantes ainda em aberto. Sem dúvida nenhuma, constitui uma área da Matemática com grande aplicabilidade na resolução de diversas situações reais do nosso dia-a-dia. Equações Diferenciais são o suporte matemático para muitas áreas da ciência e da engenharia em geral. 11 Cálculo Diferencial Integral III Figura 01: As equações diferenciais nas diversas áreas do conhecimento. As palavras, diferencial e equações obviamente sugerem a resolução de algum tipo de equação envolvendo derivadas. Em verdade, às palavras identificadas na última frase, contém a história completa sobre a disciplina que estamos prestes a iniciar. Mas antes de começarmos a resolver qualquer problema ou equação diferencial, devemos conhecer algumas definições e terminologias básicas sobre o assunto, que faremos no início desta Unidade. 1.1 Por que estudamos Matemática? Por que estudamos Equações Diferenciais? Eu, professor de Matemática já alguns anos, já vivenciei em vários momentos a experiência de ser questionado por meus alunos sobre a importância da Matemática e sua utilidade, principalmente no dia-a-dia ou na respectiva área de atuação. Eles costumam fazer indagações, tais como: 12 Cálculo Diferencial Integral III Professor, para que serve toda essa Matemática que estamos estudando? Professor qual a necessidade real de aprender tais fórmulas, regras e/ou expressões complicadas? Professor, qual a necessidade de realmente estar familiarizado com todos estes métodos de resolução de equações diferenciais ordinárias? Professor eu realmente tenho que saber isso? Por que a gente tem de aprender todas essas coisas sobre funções, triângulos, matrizes, probabilidade, transformadas de Laplace, etc. Figura 02: A Importância da Matemática. Afinal, de que vai me adiantar tudo isso na vida? Na verdade, perguntas desse tipo nem sempre têm respostas diretas, fáceis ou breves. Então, como podemos justificar tais indagações? As razões mais freqüentemente mencionadas para justificarmos o ensino da Matemática são as seguintes: A Matemática é necessária em atividades práticas que envolvem aspectos quantitativos da realidade. A Matemática é importante porque desenvolve o raciocínio lógico. A Matemática é importante porque está presente diretamente e indiretamente na vida das pessoas no corre-corre do dia-a-dia. Sabemos que a Matemática é produto da cultura humana e faz parte do nossocotidiano. Por isso, deve ser trabalhada de forma a ser 13 Cálculo Diferencial Integral III aprendida por todos. É uma ciência exata, cuja produção envolve o pensar crítico e criativo. Ela atualmente estar presente em todas as áreas do conhecimento, participando de forma significativa para o desenvolvimento de novas teorias, resolvendo diversas situações. Nesta disciplina, ao invés de atuar como um transmissor de regras e modelos do fazer simplesmente, sendo assim, tentarei ser um organizador de aprendizagens, um consultor que oferece as informações e um estimulador da aprendizagem. Sabendo das dificuldades enfrentadas por muitas pessoas em relação à Matemática, tentarei buscar uma linguagem bastante simples como forma de propiciar um bom entendimento. Estarei sempre à disposição com o intuito de esclarecer dúvidas, trocar informações e resolver os exercícios dados em aulas. Nossa interação será essencial! Com relação especificamente às equações diferenciais, por que você, um futuro cientista (Matemático, Físico, Químico, Economista, etc.) ou Engenheiro (Produção, Civil, Mecânica, Elétrico, etc.) necessita estudar este assunto? A resposta é bem simples, equações diferenciais são o suporte matemático para muitas áreas da ciência e da engenharia. Por isso, examinamos, ainda que brevemente, como as equações diferenciais surgem a partir da tentativa de formularmos, ou descrevermos, certos sistemas físicos em termos matemáticos. Figura 03: Aplicabilidade das equações diferenciais. 14 Cálculo Diferencial Integral III 1.2 Classificação das Equações Diferenciais Vimos que muitos problemas importantes e significativos da Matemática, Física, Economia, Engenharia em geral, das ciências físicas e das ciências sociais, formulados em termos matemáticos, exigem a determinação de uma função que obedece a uma equação que contém uma ou mais derivadas de uma função desconhecida. Estas equações são as chamadas equações diferenciais. Talvez o exemplo mais conhecido por nós seja o da segunda lei de Newton, que nos diz: Onde: F = força m = massa do corpo a = aceleração Desta maneira, se u(t) é a posição no instante t de uma partícula de massa m submetida a uma força F, podemos escrever: (1) Onde a força F pode ser função de t, u e da velocidade dt du . A fim de F = m.a m. 2 2 dt ud = F[t, u, dt du ] 15 Cálculo Diferencial Integral III determinarmos o movimento da partícula sob a ação da força F é necessário encontrarmos uma função u que obedeça à Equação 01 acima. Sendo assim, o nosso objetivo principal é discutirmos algumas propriedades das soluções das equações diferenciais e descrevermos alguns dos métodos de resolução. As equações diferenciais, geralmente, são classificadas de acordo com o tipo, a ordem e a linearidade. Figura 04: Classificação das equações diferenciais. Agora, vamos inicialmente classificar as equações diferenciais com relação à função desconhecida depender de uma só variável independente ou de diversas variáveis independentes, sendo esta uma das classificações mais evidentes (tipo de equação). No primeiro caso, na equação diferencial só aparecem derivadas ordinárias a equação é dita uma equação diferencial Uma equação que contém as derivadas ou diferenciais de uma ou mais variáveis dependentes, em relação a uma ou mais variáveis independentes, é denominada de equação diferencial. Classificação pelo Tipo 16 Cálculo Diferencial Integral III ordinária. No segundo caso, caso as derivadas sejam derivadas parciais, então a equação é dita uma equação diferencial parcial. Figura 05: Classificação das equações diferenciais. Vejamos alguns exemplos ilustrativos envolvendo os dois tipos de equações diferenciais. (Equações Diferenciais Ordinárias) Abaixo listamos alguns exemplos de equações diferenciais ordinárias. 1) dx dy = 3.y 2) dt tdR )( = – k.R(t) (equação que governa o decaimento de uma substância radioativa com o tempo R(t), como o do rádio, onde k é uma constante conhecida) 3) 3 3 dx yd – x. dx dy + (x 2 – 1).y = e x 17 Cálculo Diferencial Integral III 4) y’’’’ + y’’’ – y’’ + y’ = x + y 5) y’’ + y’ = cosx 6) y’’’ –3.y’’’ + y’’ -2.x.y 2 = ln(x.y) 7) e y . 2 2 dx yd + 2.( dx dy ) 2 = 1 8) y’’ + 2.y = cos(x + y) 9) L. 2 2 )( dt tQd + R. dt tdQ )( + C 1 .Q(t) = E(t) (para a carga Q(t) de um capacitor num circuito com capacitância C, resistência R, indutância L e voltagem externa E(t)) (Equações Diferenciais Parciais) Abaixo listamos alguns exemplos de equações diferenciais parciais. 1) x v y u 2) y u y x u x .. = u Se uma equação contém somente derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis dependentes, com relação a uma única variável dependente, ela é chamada de equação diferencial ordinária, que denotaremos por EDO. 18 Cálculo Diferencial Integral III 3) 0 ),(),( 2 2 2 2 y yxu x yxu (Equação do Potencial ou Equação de Laplace) 4) t u t u x u .2 2 2 2 2 5) 22 2 2 ),(),(. t txu x txu (Equação de Difusão ou Condução de Calor) onde é uma constante determinada. 6) 22 2 2 ),(),(. t yxu x yxu a (Equação de Onda) onde a é uma constante determinada. Ressaltamos que a equação do potencial, a equação da difusão e a equação de onda aparecem em muitos problemas de eletricidade e magnetismo, na elasticidade e na mecânica dos fluidos. O nosso interesse está centrado exclusivamente no estudo das equações diferenciais ordinárias (EDO). Desta forma, sempre que colocarmos EDO, estaremos falando em uma equação diferencial ordinária. Se uma equação contém somente derivadas parciais de uma ou mais variáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes então a equação é denominada equação diferencial parcial, que denotaremos por EDP. Classificação Quanto à Ordem 19 Cálculo Diferencial Integral III A ordem de uma equação diferencial é a ordem da derivada de maior ordem que aparece na equação. Figura 06: Definição da ordem de uma EDO. Vejamos alguns exemplos ilustrativos envolvendo a caracterização da ordem de uma dada EDO. (Caracterização da Ordem de Uma EDO) Abaixo listamos alguns exemplos envolvendo a determinação da ordem de uma EDO. 1) dx dy + 5.x.y = 2y + x 2 Ordem 1 ou de Primeira Ordem 2) dx dy = y.x Ordem 1 ou de Primeira Ordem 3) 3 3 dx yd – x. dx dy + (x 2 – 1).y = e x Ordem 3 ou de Terceira Ordem 4) y’’’’ + y’’’ – y’’ + y’ = x + y Ordem 4 ou de Quarta Ordem 20 Cálculo Diferencial Integral III 5) 0.y’’’’ –3.y’’’ + y’’ -2.x.y 2 = ln(x.y) (Qual é a ordem desta equação?) Neste caso, temos que o coeficiente de y’’’’ é igual a zero, sendo assim, a ordem desta EDO é TRÊS, ou seja, a equação dada é de terceira ordem.6) y’’’ –3.y’’’ + y’’ -2.x.y 2 = ln(x.y) Ordem 3 ou de Terceira Ordem 7) e y . 2 2 dx yd + 2.( dx dy ) 2 = 1 Ordem 2 ou de Segunda Ordem 8) y’’ + 2.y = cos(x + y) Ordem 2 ou de Segunda Ordem 9) L. 2 2 )( dt tQd + R. dt tdQ )( + C 1 .Q(t) = E(t) Ordem 2 ou de Segunda Ordem Com relação à linearidade, temos que uma E.D.O de ordem n na função incógnita y e na variável independente x é dita uma equação diferencial linear se possui a forma: (2) Onde as funções b j (x) (j = 1, 2,..., n) e g(x) supõem-se funções conhecidas e dependem apenas da variável x (ou de t caso y = f(t)). As equações diferenciais ordinárias que não podem ser escritas sob a forma (2) são chamadas equações diferenciais não-lineares. Classificação Quanto à Linearidade b n (x). n n dx yd + b 1n (x). 1 1 n n dx yd + b 2n (x). 2 2 n n dx yd +... + b 1 (x). dx dy + b 0 (x).y = g(x) 21 Cálculo Diferencial Integral III Figura 07: Classificação quanto à linearidade. Vejamos alguns exemplos ilustrativos envolvendo a caracterização da linearidade de uma dada EDO. (Classificação de Uma EDO quanto à Linearidade) Abaixo listamos alguns exemplos envolvendo a classificação de uma EDO com relação à linearidade. 1) dx dy =3.y Equação Diferencial Ordinária Linear 2) 3 3 dx yd – x. dx dy + (x 2 – 1).y = e x Equação Diferencial Ordinária Linear 3) y’’’’ + y’’’ – y’’ + y’ = x + y Equação Diferencial Ordinária Linear (Por quê?). Neste caso, podemos reescrever a equação como segue: y’’’’ + y’’’ – y’’ + y’ – y = x. 4) y’’ + y’ = cosx Equação Diferencial Ordinária Linear 22 Cálculo Diferencial Integral III 5) y’’’ –3.y’’’ + y’’ -2.x.y 2 = ln(x.y) Equação Diferencial Ordinária Não-Linear 6) e y . 2 2 dx yd + 2.( dx dy ) 2 = 1 Equação Diferencial Ordinária Não-Linear 7) y’’ + 2.y = cos(x + y) Equação Diferencial Ordinária Não- Linear Em outras palavras, notemos que as equações diferenciais lineares são caracterizadas por duas propriedades: i) A variável dependente y e todas as suas derivadas são do primeiro grau; isto é, a potência de cada termo envolvendo y é igual a 1. ii) Cada coeficiente depende apenas da variável independente x. A Figura 08 abaixo, nos dá uma pequena diferenciação entre as equações diferenciais ordinárias lineares e as equações diferenciais ordinárias não-lineares. Figura 08: Caracterização da linearidade de uma EDO. 23 Cálculo Diferencial Integral III 1.3 Outras Terminologias e Conceitos Básicos Vejamos mais algumas informações relevantes com relação a outras terminologias que serão utilizadas ao longo da nossa disciplina, bem como, apresentamos mais alguns conceitos fundamentais para o desenvolvimento dos aspectos teóricos posteriores. 1.3.1 Notação Usaremos freqüentemente os símbolos y’, y’’, y’’’, y’’’’, y )5( ,..., y )(n a fim de representarmos as derivadas de ordem, respectivamente, primeira, segunda, terceira, quarta, quinta,..., enésima de y em relação à variável independente x. Desta forma, y’’ representa 2 2 dx yd se a variável independente é x, mas representa 2 2 dp yd se a variável independente é p. Se a variável independente é o tempo, usualmente denotada por t, é comum substituirmos as linhas por pontos. Assim, . y , .. y , ... y representam dt dy , 2 2 dt yd e 3 3 dt yd , respectivamente. Note que o uso dos parênteses em y )(n para distinguir a potência y n . 1.3.2 Solução de Uma Equação Diferencial Ordinária Uma solução de uma equação diferencial na função incógnita y e na variável independente x, no intervalo I, é uma função y(x) que verifica identicamente a equação para todo x em I. Em outras palavras, é a função y(x) que torna a equação diferencial uma identidade para qualquer ponto que pertença ao intervalo I. 24 Cálculo Diferencial Integral III Vejamos alguns exemplos ilustrativos envolvendo a caracterização da solução ou soluções para uma dada EDO em intervalos específicos. A função y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária y’’ – y = 0 no intervalo I = . Solução: Notemos inicialmente que necessitamos da derivada segunda de y com relação a x, já que a mesma aparece na equação dada. Desta maneira, como y(x) = e x temos que: y'(x) = y’’(x) = e x Logo, substituindo na equação, vamos obter: y’’ – y = 0 e x – e x = 0 0 = 0 (Verdadeiro) Donde concluímos que y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária dada y’’ – y = 0 no intervalo I = . A função y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária y’’ – y = 0 no intervalo I = . Qualquer função f definida em algum intervalo I, que, quando substituída na equação diferencial, reduz a equação a uma identidade, é denominada de solução para a equação diferencial no intervalo. 25 Cálculo Diferencial Integral III Solução: Notemos inicialmente que necessitamos mais uma vez da derivada segunda de y com relação a x, já que a mesma aparece na equação dada. Desta maneira, como y(x) = e x temos que: y'(x) = – e x e y’’(x) = e x Logo, substituindo na equação, vamos obter: y’’ – y = 0 e x – e x = 0 0 = 0 (Verdadeiro) Donde concluímos que y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária dada y’’ – y = 0 no intervalo I = . Consideremos a equação dx dy – y = e x.2 , temos que a função y = y(x) = e x.2 é uma solução da equação dada para todo x real. Por quê? Solução: Neste caso, a partir da função y = y(x) = e x.2 devemos calcular a derivada primeira de y. Sendo assim, temos que: y = e x.2 Implica que y' = 2. e x.2 Daí, substituindo na equação vem que: dx dy – y = e x.2 2. e x.2 – e x.2 = e x.2 26 Cálculo Diferencial Integral III e x.2 = e x.2 (Verdadeiro) Ou seja, 0 = 0 (Verdadeiro) Portanto, concluímos que função y = y(x) = e x.2 é uma solução da equação dada. Verifique se a função y = lnx é solução da equação x.y’’ + y’ = 0 no intervalo I = (0, + ). Solução: Notemos que para o intervalo I = (0, + ) a função y = lnx está bem definida, já que como sabemos a função logarítmica só está definida para valores positivos (i.e., para x > 0). Desta forma, temos que encontrar primeiramente as derivadas primeira e segunda para a função y = lnx. Daí: y = lnx Implica que y' = x 1 (Derivada de lnx) Donde segue também que y'’ = 2 1 x (Você pode utilizar a regra do quociente ou da potência) Logo, substituindo na equação diferencial dada obtemos: x.y’’ + y’ = 0 Notemos que neste exemplo o intervalo I não foi especificado. Toda vez que acontecer tal fato, fica subentendido para nós que o intervalo em questão é o conjunto dos números reais, ou seja, I = . 27 Cálculo Diferencial Integral III x. 2 1 x + x 1 = 0 Ou seja, x1 + x 1 = 0 Ou ainda, 0 = 0 (Verdadeiro) Portanto, concluímos que a função y = lnx é solução da equação x.y’’ + y’ = 0 no intervalo I = (0, + ). A função y(x) 1 é solução da equação y’’ + 2.y’ + y = x no intervalo I = ? Solução: Neste caso, temos que: y(x) 1 (função identicamente igual a 1) y’ = y’’ = 0 Logo, substituindo na equação dada obtemos: y’’ + 2.y’ + y = x 0 + 2.(0) + 1 = x 1 = x (Falso) (Só é verdade para x = 1) Desta forma, concluímos que y(x) 1 NÃO é solução da equação dada, já que a igualdade acima não é verificada para todo x I = , sendo verdadeira, APENAS para x = 1. Portanto, a resposta para a indagação do exemplo é NÃO. 28 Cálculo Diferencial Integral III Toda equação diferencial admite solução? Sim ou não? Justificar a sua resposta. Solução: A resposta para tal indagação é NÃO, já que, por exemplo, a equação diferencial abaixo: (y’) 2 = – 1 não possui solução já que nenhum quadrado pode ser igual a um número negativo se considerarmos I = . Mesmo que saibamos que uma solucao existe, pode acontecer que a solução não possa exprimir-se em termos das funções elementares usuais – funções algébricas, trigonométricas, exponencial, logarítmica e hiperbólicas. Infelizmente está é a situação para a maioria das equações diferenciais. 1.3.3 Soluções Explícitas e Implícitas Você deve se lembrar que num curso de cálculo introdutório foram estudadas as noções de funções explícitas. Similarmente, soluções de equações diferenciais são divididas em explícitas ou implícitas. Figura 09: Soluções: explícitas e implícitas. Desta forma, definimos as soluções explícitas e implícitas de uma equação diferencial ordinária como segue: 29 Cálculo Diferencial Integral III Figura 10: Definição de solução explícita e solução implícita. Vejamos alguns exemplos ilustrativos envolvendo a caracterização de soluções explícitas e implícitas de determinadas EDO’s. (Solução Explícita) Vimos anteriormente que a função y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária y’’ – y = 0 no intervalo I = . Neste caso, tal função y(x) = e x é uma solução explícita para a equação diferencial ordinária dada. (Solução Explícita) Vimos anteriormente que a função y(x) = e x é uma solução para a equação diferencial ordinária y’’ – y = 0 no intervalo I = . Neste caso, tal função y(x) = e x é uma solução explícita para a equação diferencial ordinária dada. (Solução Implícita) Para –2 < x < 2, a relação x 2 + y2 – 4 = 0 é uma solução implícita para a equação diferencial Uma solução para uma EDO que pode ser escrita na forma y = f(x) é dita solução explícita. •Soluções Explícitas Dizemos que uma relação G(x,y) = 0 é uma solução implícita de uma EDO em um intervalo I, se ela define uma ou mais soluções explícitas em I. •Soluções Implícitas 30 Cálculo Diferencial Integral III dx dy = y x . Solução: De fato, temos por derivação implícita que: )( 2x dx d + )( 2y dx d – )4( dx d = 0 Ou seja, 2x + 2y. dx dy = 01 Ou ainda, dx dy = y x . Notemos que a relação x 2 + y 2 – 4 = 0 no exemplo acima define duas funções explícitas, que são: y = 24 x e y = – 24 x no intervalo (–2, 2). Além disso, observemos que qualquer relação da forma x 2 + y 2 – c = 0 satisfaz, formalmente, dx dy = y x para qualquer constante c. Todavia, fica subentendido que a relação deve sempre fazer sentido no sistema dos números reais; logo, não podemos dizer que x 2 + y 2 + 1 = 0 determina uma solução da equação diferencial. Salientamos que como a distinção entre uma solução explícita e uma solução implícita é intuitivamente clara, não nos preocuparemos em dizer sempre que “neste caso temos uma solução explícita (implícita)”. 31 Cálculo Diferencial Integral III 1.3.4 Número de Soluções Salientamos que devemos nos acostumar com o fato de que uma dada equação diferencial geralmente possui um número infinito de soluções. Vejamos alguns exemplos ilustrativos. Para qualquer valor de c, a função y = x c + 1 é uma solução da equação diferencial de primeira ordem x. dx dy + y = 1 no intervalo (0, ∞). Solução: De fato, neste caso, temos que: dx dy = c. )( 1x dx d + )1( dx d = – c.x 2 = 2x c Então x. dx dy + y = x.( 2x c ) + ( x c + 1) = 1 1 = 1 (Verdadeiro) Desta maneira, variando o parâmetro c, podemos gerar uma infinidade de soluções. Em particular, fazendo c = 0, obtemos uma solução constante y = 1. Vejamos na Figura 11 abaixo a interpretação geométrica de tal situação. 32 Cálculo Diferencial Integral III Figura 11: Interpretação geométrica do exemplo acima. Temos que as funções y = e x , y = e x , y = c 1 . e x , y = c 2 . e x e y = c 1 . e x + c 2 . e x são todas soluções da equação diferencial linear de segunda ordem y’’ – y = 0 (Tente verificar! Você consegue!) Notemos que y = c 1 . e x é uma solução para qualquer escolha de c 1 , porém y = e x + c 1 , c 1 ≠ 0, não satisfaz a equação, já que, para essa família de funções, temos y’’ – y = - c 1 . Temos que qualquer função da família a um parâmetro y = c.x 4 é uma solução para a equação diferencial x.y’ – 4.y = 0. 33 Cálculo Diferencial Integral III Solução: Neste caso, temos que: x.y’ – 4.y = x.(4.c.x 3 ) – 4.c.x 4 A função definida por partes y = 0, 0, 4 4 xx xx é também uma solução. Observemos que essa função pode ser obtida a partir de y = c.x 4 por intermédio de uma única escolha do parâmetro c. Vejamos esta disposição geométrica na Figura 12 abaixo. Figura 12: Interpretação geométrica do exemplo acima. 1.3.5 Solução Particular e Solução Geral Uma solução para uma equação diferencial que não depende de parâmetros arbitrários é denominada de solução particular. A solução geral da equação diferencial é o conjunto de todas as suas soluções. 34 Cálculo Diferencial Integral III Figura 13: Definição de solução geral e solução particular de uma EDO. 1.3.6 Problemas de Valor Inicial e Problemas de Valores de Contorno Um Problema de Valor Inicial (P.V.I) consiste em uma equação diferencial, juntamente com condições subsidiárias relativas à função incógnita e suas derivadas – tudo dado para um mesmo valor da variável independente. As condições subsidiárias são condições iniciais se as condições subsidiárias se referem a mais de um valor da variável independente, o problema é um Problema de Valores de Contorno, e as condições dizem-se condições de contorno. Em breve começaremos a resolver estes problemas. Figura 14: A interpretação de um Problema de Valor Inicial (P.V.I). Solução Geral - é o conjunto formado por todas as suas soluções. • Solução Geral Solução Particular - é qualquer solução da mesma. • Soluções Particular 35 Cálculo Diferencial Integral III 1.4 Aspectos Históricos Envolvendo as Equações Diferenciais Ordinárias Aqui, daremos um pequeno aparato histórico envolvendo o desenvolvimentodas Equações Diferenciais Ordinárias ao longo do tempo. Para tal, podemos iniciar o mesmo com as seguintes indagações: Como surgiram às Equações Diferenciais? Qual a importância das mesmas dentro da matemática e Áreas Afins? Qual a necessidade de estudarmos as Equações Diferenciais? As respostas para estas e diversas outras indagações serão respondidas agora e ao longo da disciplina. Em verdade, já poderíamos descrever às Equações Diferenciais como um importante ramo da Matemática, cujo desenvolvimento está amplamente relacionado com o desenvolvimento da própria Matemática. Sendo assim, primeiramente apresentaremos um aparato histórico referente às equações diferenciais, traçando algumas tendências principais e comentando sobre alguns dos principais indivíduos que contribuíram de forma significativa no processo. Segundo a literatura o surgimento de estudos relacionados às equações diferenciais se deu no início do Cálculo Diferencial e Integral, com Isaac Newton, por volta de 1.642 e Gottfried Wilhelm Leibniz por volta de 1.646, ambos no século XVII. Embora Newton tenha trabalhado pouco na área das equações diferenciais, o desenvolvimento que o mesmo As Equações Diferenciais é um importante ramo da Matemática, cujo desenvolvimento está amplamente relacionado com o desenvolvimento da própria Matemática. 36 Cálculo Diferencial Integral III proporcionou ao Cálculo Diferencial e Integral e a elucidação dos princípios básicos da mecânica constituíram a base para as aplicações realizadas por Euler no século seguinte. Figura 15: Surgimento do estudo das EDO’s com Isacc Newton. Mais precisamente, Newton classificou as equações diferenciais de primeira ordem de acordo como as formas: Isaac Newton Cálculo Diferencial e Integral Equações Diferenciais dx dy = f(x) dx dy = f(y) dx dy = f(x, y) 37 Cálculo Diferencial Integral III Ressaltamos que para a última equação Newton desenvolveu um método de resolução baseado na Teoria das Séries Infinitas, quando f(x, y) é definida como um polinômio em x e em y. Leibniz, nasceu em Leipzig chegando ao descobrimento do método da separação de variáveis em 1961, a redução de equações homogêneas e equações separáveis em 1961 e o procedimento de resolução de equações lineares de primeira ordem em 1964. Figura 16: A contribuição de Leibniz. Além disso, os irmãos Jakob e Johann Bernoulli, da Basiléia, contribuíram muito para o desenvolvimento de métodos de resolução de equações diferenciais, bem como ampliando o campo de aplicação destas equações. Por outro lado, Daniel Bernoulli, filho de Johann, se interessava principalmente nas equações diferenciais parciais e respectivas aplicações. Por exemplo, é o seu nome o associado à famosa Equação de Bernoulli da mecânica dos fluidos. Foi também, o primeiro a encontrar as funções, que um século depois, tornaram-se conhecidas como funções de Bessel. Leibniz 1961 Redução de Equaçõs Homogêneas Redução de Equações Separáveis 1964 Procedimento de Resolução de Equações Lineares de Primeira Ordem 38 Cálculo Diferencial Integral III Figura 17: A contribuição da família Bernoulli. O maior matemático do século XVIII, Leonard Euler (1707 – 1783), cresceu nas vizinhanças da Basiléia e foi aluno de Johann Bernoulli. Euler foi o matemático mais prolífico de todos os tempos, sendo que suas obras enchem mais de 70 grandes volumes. O seu interesse cobria todas as áreas da matemática e muitos campos de aplicação. De interesse especial aqui são as formulações de problemas de mecânica em linguagem matemática e o desenvolvimento de métodos de resolução destes problemas matemáticos. Lagrange afirmou que o trabalho de Euler em mecânica era “a primeira grande obra na qual a análise se aplica à ciência do movimento”. Entre outras coisas, Euler identificou a condição de exatidão das equações diferenciais de primeira ordem em 1734 – 1735, desenvolveu a teoria dos fatores integrantes neste mesmo artigo e apresentou a solução geral das equações lineares com os coeficientes constantes em 1743. Aplicou os últimos resultados a equações não-homogêneas em 1750 – 1751. A partir de aproximadamente 1750, Euler passou a usar séries de potência para resolver equações diferenciais. Além disso, propôs também um procedimento numérico em 1768 – 1769, fez importantes contribuições às equações diferenciais parciais e deu o primeiro tratamento de forma sistemática ao cálculo das variações. 39 Cálculo Diferencial Integral III Figura 18: A contribuição do matemático Leonard Euler. Joseph Louis Lagrange nascido em Turim foi o sucessor de Euler na cadeira de matemática na Academia de Berlim possui forma provida da sua obra monumental Mécanique Anelytique, publicada em 1768, que é um tratado elegante e abrangente da mecânica newtoniana. Com relação às equações diferenciais elementares, Lagrange mostrou em 1762 – 1765 que a solução de uma equação diferencial homogênea de ordem n é uma combinação linear de n soluções independentes. Depois, em 1774 – 1775, Lagrange publicou o desenvolvimento completo do método da variação dos parâmetros. Lagrange também é conhecido pelo seu tratamento fundamental nas equações diferenciais parciais e no cálculo das variações. Formulação de Problemas em Mecânica Desenvolvimento da Teoria dos Fatores Integrantes Identificou a exatidão das EDO's de Primeira Ordem Apresentou a solução geral para as equações lineares com coeficientes constantes Leonard Euler 40 Cálculo Diferencial Integral III Figura 19: A contribuição de Joseph Louis Lagrange. Pierre Simon de Laplace (1749 – 1827), bem cedo deixou sua marca nos círculos científicos, sendo eleito para a Académie dés Sciences em 1773. Destacou-se no campo da mecânica celeste; seu maior trabalho, Traité de mécanique céleste, foi publicado em cinco volumes entre 1799 e 1825. A Equação de Laplace é fundamental em muitos ramos da física matemática, e Laplace estudou-a profundamente em suas investigações da atração gravitacional. A Transformada de Laplace (Unidade 03) também recebeu o nome em sua homenagem, embora sua utilidade para a solução de equações diferenciais só tenha sido reconhecida tardiamente. Figura 20: A contribuição de Pierre Simon de Laplace. Sucessor de Euler na cadeira de Matemática da Academia de Berlim Mécanique Analytique (obra prima) Apresentou a solução para uma EDO homogênea de ordem n Tratamento fundamental para as EDP's bem como para o cálculo das variações Joseph Louis Lagrange 41 Cálculo Diferencial Integral III No final do século XVIII, diversos métodos elementares para a solução de equações diferenciais ordinárias tinham sido descobertos. No século XIX, o interesse se voltou para a investigação de questões teóricas quanto à existência e unicidade e o desenvolvimento de métodos menos elementares, como os que se baseavam em expansões em séries de potências. O contexto natural para esses métodos é o plano z (ou plano complexo). Conseqüentemente, foram estimulados pelo desenvolvimento mais ou menos simultâneo da teoria das funções complexas analíticas, que por suavez ajudaram a estimular. As equações diferenciais parciais também começaram a ser intensamente estudadas depois que seu papel crucial para a física e matemática se tornou claro. Várias funções que surgiram como soluções de equações diferenciais ordinárias também ocorriam repetidamente e foram estudadas exaustivamente. Conhecidas coletivamente como funções transcendentes superiores, muitas delas receberam os nomes de matemáticos, como as funções de Bessel, Legendre, Hermite, Chebyshev e Hankel, entre outras. As diversas equações diferenciais que resistiram à resolução por meios analíticos levaram à investigação de métodos numéricos de aproximação. Na altura de 1900, métodos de integração numérica, muito eficientes, já tinham sido elaborados, mas a implementação destes métodos estava severamente restringida pela necessidade de execução de cálculos manuais ou com equipamento de computação muito primitivo. Nos últimos cinqüenta anos, o desenvolvimento de computadores cada vez mais sofisticados ampliou a gama de problemas que podem ser investigados com eficiência por meio de métodos numéricos. Durante o mesmo período, desenvolveram-se integradores numéricos muito refinados e robustos, que se encontram em todos os centros de computação científica. Uma outra característica das equações diferenciais no século XX foi a criação de métodos geométricos ou topológicos, especialmente para as equações não-lineares. O objetivo dos métodos é o da compreensão, pelo menos qualitativa, do comportamento das soluções de um ponto de vista geométrico, assim como do ponto de vista analítico. Nos últimos anos, estas duas tendências convergiram. Os computadores e, especialmente, a 42 Cálculo Diferencial Integral III computação gráfica, proporcionaram um novo impulso à investigação dos sistemas de equações diferenciais não-lineares. Desta forma, embora as equações diferenciais sejam um tema antigo, a respeito do qual seja grande o conhecimento, tornou-se no final do século XX uma fonte de problemas fascinantes e importantes, ainda não resolvidos. Figura 21: As equações diferenciais nos séculos XIX e XX. 1.5 Exercícios Complementares 1) Determinar a ordem da equação diferencial e dizer se a mesma equação é linear ou não-linear. a) t 2 . 2 2 dt yd + t. dt dy + 2.y = sent b) 4 4 dt yd + 3 3 dt yd + 2 2 dt yd + dt dy + y = 1 c) 2 2 dt yd + sen(t + y) = sent 43 Cálculo Diferencial Integral III d) (1 – x).y’’ – 4.x.y’ + 5.y = cosx e) y.y’ + 2.y = 1 + x 10 f) 2 2 dx yd + 9.y = seny g) (1 + y 2 ). 2 2 dt yd + t. dt dy + y = e t h) dx dy + x. y2 = 0 i) 3 3 dx yd + x. dx dy + (cos 2 x).y = x 3 j) y’ + y’ = e )( ty k) y’’’ + 4.x.y = y 2 + lnx l) y’ – y = 0 m) (1 – y 2 ).dx + x.dy = 0 2) Verificar se a função, ou as funções dadas, constituem solução da equação diferencial dada. a) y’’ – y = 0; y 1 (t) = e t e y 2 (t) = e t b) y’’ + 2.y’ – 3.y = 0; y 1 (t) = e t3 e y 2 (t) = e t c) t.y’ – y = t 2 ; y = 3.t + t 2 44 Cálculo Diferencial Integral III d) y’’’’ + 4.y’’’ + 3.y = t; y 1 (t) = 3 t e y 2 (t) = e t + 3 t e) 2. t 2 .y’’ + 3.t.y’ – y = 0, t > 0; y 1 (t) = t 21 e y 2 (t) = t 1 f) t 2 .y’’ + 5.t.y’ + 4.y = 0, t > 0; y 1 (t) = t 2 e y 2 (t) = t 2 .lnt g) y’’ + y = sect, 0 < t < 2 ; y = (cost).ln(cost) + t.sent h) y’ + 4.y = 32; y = 8. 3) Mostre que y = 1 1 2x é solução de y’ + 2.x. y2 = 0 em I = (-1, 1) mas não o é em qualquer outro intervalo mais amplo contendo I. 4) Considere a equação t 2 .y’’ – 3.t.y’ + 4.y = 0, t > 0. Mostre que y 1 (t) = t 2 .lnt e y 2 (t) = t 2 são soluções desta equação? 5) Mostre que y 1 (x) = x 2 e y 2 (x) = 2 2x são ambas soluções para a equação diferencial x 2 .y’’ – 4.x.y’ + 6.y = 0. 1.6 Algumas Modelagens Matemáticas via Equações Diferenciais Ordinárias Sabemos que a palavra modelo significa uma versão simplificada de uma determinada situação real. Já comentamos anteriormente sobre a empregabilidade das equações diferenciais em diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, Ciências, Engenharia, Economia e até 45 Cálculo Diferencial Integral III mesmo em Psicologia. Em verdade, freqüentemente desejamos descrever ou modelar o comportamento de algum sistema ou fenômeno em termos matemáticos. Essa descrição se inicia com: i) Identificando as variáveis que são responsáveis por mudanças do sistema; E ii) Um conjunto de hipóteses razoáveis sobre o sistema. Salientamos que estas hipóteses também incluem algumas leis empíricas que são aplicáveis ao sistema. A estrutura matemática de todas as hipóteses, ou o modelo matemático do sistema, é comumente uma equação diferencial ou um sistema de equações diferenciais. Além disso, devemos ressaltar que um modelo matemático de um sistema físico geralmente depende da variável tempo. A solução do modelo representa então o estado do sistema; em outras palavras, para valores apropriados do tempo t, os valores da variável dependente (ou variáveis) descrevem o sistema no passado, presente e futuro. Figura 22: A modelagem matemática de uma situação real. 46 Cálculo Diferencial Integral III A seguir, listamos uma série de aplicações (modelos matemáticos) de diversas situações que ocorrem no dia-a-dia em diversas áreas do conhecimento, onde se faz necessário a resolução de uma equação diferencial ordinária. Mais a frente, estaremos discutindo de forma mais detalhada diversas destas situações, onde mostraremos a formulação do sistema via equações diferenciais ordinárias, bem como resolveremos casos específicos das mesmas, tendo como base os métodos de resolução que discutiremos a seguir. (Lei do Esfriamento de Newton) De acordo com a empírica lei de esfriamento de Newton, a taxa de esfriamento de um corpo é proporcional à diferença entre a temperatura do corpo e a temperatura do meio ambiente. Suponhamos que T(t) denote a temperatura de um corpo no instante t e que a temperatura do meio seja constante, igual a T m . Se dt dT representa a taxa de variação da temperatura do corpo, então a lei de esfriamento de Newton poderá ser expressa matematicamente da seguinte forma: Onde k é uma constante de proporcionalidade. Como, por hipótese, o corpo está esfriando, devemos ter T > T m , logo k < 0. (Corpo em Queda Livre) A descrição matemática de um corpo caindo verticalmente sob a influência da gravidade leva a uma simples equação diferencial de segunda ordem. A solução para essa equação fornece-nos a posição do corpo em relação ao solo. A Figura 23 abaixo, nos mostra uma situação típica de queda livre (uma pedra sendo lançada de um edifício). dt dT )( mTT ou dt dT = k.(T – T m ) 47 Cálculo Diferencial Integral III Figura 23: A representação geométrica de um corpo em queda livre. A equação diferencial que modela governa a trajetória vertical do corpo é dada por: Onde g representa a aceleraçãoda gravidade e o sinal negativo é usado porque o peso do corpo é uma força direcionada para baixo, ou seja, oposta à direção positiva. Ressaltamos ainda, que a aceleração é a derivada da velocidade, que, por sua vez, é a derivada da distância s. Além disso, podemos observar claramente que essa formulação ignora outras forças, como por exemplo a força de resistência do ar atuando sobre o corpo em questão. (Sistema Massa-Mola) Quando a segunda lei de Newton sobre o movimento é combinada com a lei de Hooke, podemos obter uma equação diferencial que governa o 2 2 dt sd = – g 48 Cálculo Diferencial Integral III movimento de uma massa atada a uma mola. Desta forma, por exemplo para determinarmos o deslocamento vertical x(t) de uma massa atada a uma mola, usamos duas leis empíricas: a segunda lei de Newton sobre o movimento e a lei de Hooke. Lembremos que a segunda lei de Newton nos diz que a resultante das forças que atuam sobre um sistema em movimento é: Onde m é a massa e a é a aceleração. Além disso, sabemos que a lei de Hooke nos diz que a força restauradora de uma mola esticada é proporcional ao deslocamento (s + x); isto é, a força restauradora é dada por: Onde k >0 é uma constante. Como mostramos na Figura 24(b), s é o deslocamento da mola quando uma massa atada em sua extremidade e o sistema está em posição de equilíbrio (a massa está pendurada na mola e não há movimento). Quando o sistema está em movimento, a variável x representa o deslocamento da massa em relação à posição de equilíbrio.Podemos mostrar que quando o sistema está em movimento, a força resultante atuando na massa é simplesmente F = – k.x. Logo, na ausência de amortecimento ou outras forças externas quaisquer que poderiam estar atuando no sistema, a equação diferencial do movimento vertical do centro de gravidade da massa é: F = m.a k.(s + x) m. 2 2 dt xd = – k.x 49 Cálculo Diferencial Integral III Aqui o sinal negativo indica que a força restauradora da mola atua em direção oposta ao movimento, isto é, na direção da posição do equilíbrio. Na prática, essa equação diferencial de segunda ordem é escrita na forma: Onde m k2 . Figura 24: A representação geométrica do sistema Massa-mola. (Pêndulo Simples) Qualquer objeto pendurado em movimento pendular é chamado de pêndulo físico. O pêndulo simples é um caso especial de pêndulo físico e consiste em uma haste com uma massa atada em uma das extremidades. Para descrever o movimento de um pêndulo simples, desprezaremos qualquer força exterior de amortecimento agindo sobre o sistema (tal como a resistência do ar). Por exemplo, uma massa m de peso W está suspensa por uma haste de comprimento l. Queremos determinar o ângulo , medido a partir da linha vertical, como uma função do tempo t (consideramos > 0 à direita de OP, (1) m. 2 2 dt xd + 2 .x = 0 50 Cálculo Diferencial Integral III e < 0 à esquerda de OP). Lembremos da geometria elementar, que um arco s de um círculo de raio l está relacionado com o ângulo central através da fórmula s = l. . Portanto, a aceleração angular é dada por: Pela segunda lei de Newton, temos que: Na Figura 25 abaixo, podemos visualizar que a componente tangencial da força devida ao peso W é m.g.sen . Igualando as duas diferentes formulações da força tangencial, obtemos: a = 2 2 dt sd = l. 2 2 dt d F = m.a = m.l. 2 2 dt d (2) m.l. 2 2 dt d = – m.g.sen ou 2 2 dt d + l g .sen = 0 51 Cálculo Diferencial Integral III Figura 25: A representação geométrica do sistema acima. Notemos que por causa da presença de sen , a equação diferencial acima é não-linear. Da literatura é sabido que tal equação não pode ser resolvida em termos de funções elementares. Então, realizamos mais uma simplificação. Se o deslocamento angular não for muito grande, poderemos usar a aproximação sen . Sendo assim, a equação acima pode ser substituída pela equação diferencial linear de segunda ordem: Colocando l g , a Equação (3) acima possui exatamente a mesma estrutura da Equação (1) que governa as vibrações livres de um peso em uma mola. O fato de uma equação diferencial básica poder descrever diversos fenômenos físicos, ou mesmo sociais/econômicos, é uma ocorrência comum no estudo da Matemática Aplicada. (3) 2 2 dt d + l g . = 0 52 Cálculo Diferencial Integral III (Capitalização Contínua) Comumente as instituições financeiras anunciam capitalização diária dos juros. Poderíamos ter capitalização a cada hora ou mesmo a cada minuto. Não existe razão para parar aí, ou seja, juros poderiam ser capitalizados a cada segundo, a cada meio segundo, a cada décimo segundo, a cada milésimo de segundo, e assim por diante. Isto quer dizer que os juros podem ser capitalizados continuamente, caracterizando o que denominamos de Capitalização Contínua. Por exemplo, consideremos a seguinte situação: A quantia de R$10.000,00 é posta a juros de 10% ao ano, sob a condição de que os juros cresçam linearmente, i.e., o regime de capitalização é o simples. Quantos anos serão necessários para que a soma atinja R$20.000,00? (Equação Logística) A equação de primeira ordem não- linear (5) abaixo: É um caso especial de uma equação mais geral dada por: Quando os juros são capitalizados continuamente, a taxa de crescimento é proporcional ao capital S, isto é, (4) dt dS = r.S Em que r é a taxa anual de juros. (5) dt dx = k.x.(n + 1 – x) (6) dt dP = P.(a – b.P) 53 Cálculo Diferencial Integral III Onde a e b são constantes, conhecida pela nomenclatura Equação Logística. A solução dessa equação é muito importante em Ecologia, Sociologia e mesmo em Ciências Contábeis e Administração. (Circuitos em Série) De acordo com a segunda Lei de Kirchhoff, a diferença de potencial E(t) em um circuito fechado é igual à soma das voltagens no circuito. A corrente em circuito, após a chave ser fechada, é denotada por i(t); a carga em um capacitor no instante t é denotada por q(t). As letras L, C e R são constantes conhecidas como indutância, capacitância e resistência, respectivamente. Por exemplo, se considerarmos o circuito simples, em série, contendo um indutor, um resistor e um capacitor como mostramos na Figura 26 abaixo, temos que uma equação diferencial de segunda ordem para a carga q(t) em um capacitor pode ser obtida somando as voltagens (quedas de tensão): Indutor = L. dt di = L. 2 2 dt qd Resistor = i.R = R. dt dq Capacitor = C 1 .q E igualando a soma à diferença de potencial E(t), obtemos a seguinte equação diferencial de segunda ordem: (7) L. 2 2 dt qd + R. dt dq + C 1 .q = E(t) 54 Cálculo Diferencial Integral III Figura 26: A representação co circuito emsérie do sistema acima. Além disso, a diferença de potencial ou voltagem E(t) é denominada de força eletromotriz (ou fem). Uma fem, bem como a carga em um capacitor, causa a corrente no circuito. A Tabela 01 abaixo nos mostra as unidades básicas de medida usadas na análise de circuito. Tabela 01: Unidades básicas de medida usadas na análise do circuito acima. Grandeza Unidade Diferença de potencial ou fem Volt (V) Indutância L Henry (H) Capacitância C Farad (F) Resistência R Ohm ( ) Carga q Coulomb (C) Corrente i Ampère (A) (Drenagem Através de um Orifício) Em hidrodinâmica, o Teorema de Torricelli nos diz que a velocidade de efluxo de água através de um pequeno orifício no fundo de um tanque cheio até uma altura h é igual à velocidade que um corpo (neste caso, uma gota d’água) adquire em queda livre de uma altura h: = hg..2 55 Cálculo Diferencial Integral III Onde g é a aceleração da gravidade. A expressão acima é obtida, quando igualamos a energia cinética 2.. 2 1 vm à energia potencial m.g.h e explicitando a velocidade . Por exemplo, consideremos um tanque cheio de água que é drenado através de um orifício sobre a influência da gravidade. Gostaríamos de calcular a altura h da água no tanque em qualquer instante de tempo t. Seja o tanque mostrado na Figura 27 abaixo. Figura 27: O tanque do sistema acima. Se a área do orifício é A 0 (em m 2 ) e a velocidade da água saindo do tanque é = hg..2 (em m/s), então o volume de água que sai do tanque por segundo é A 0 . hg..2 (em m 3 /s). Logo, se V(t) denota o volume de água no tanque no instante t, temos que: (8) dt dV = – A 0 . hg..2 56 Cálculo Diferencial Integral III dt dV = – A 0 . hg..2 Em que o sinal negativo indica que V decresce com o tempo. Note que estamos ignorando qualquer possibilidade de atrito no orifício, o que reduziria a taxa de vazão na água. Agora, suponhamos que o volume da água no tanque no instante t possa ser escrito como V(t) = A w .h, em que A w (em m 2 ) é a área da superfície da água como podemos visualizar na Figura 27 acima, que não depende da altura h. Daí, dt dV = A w .( dt dh ). Substituindo essa última expressão em (8), obtemos a equação diferencial para a altura h da água em função do tempo t: É interessante salientarmos que (9) permanece válida mesmo quando A w não é constante. Neste caso, devemos expressar a área da superfície da água como uma função de h: A w = A(h). (Crescimento Populacional) É natural esperarmos que a taxa de crescimento de uma população P seja proporcional à população presente naquele instante. Grosso modo, quanto maior for à população presente, maior ela será no futuro. Desta forma, o modelo para o crescimento populacional é dado pela equação diferencial de primeira ordem: (9) dt dh = – wA A0 . hg..2 (10) dt dP = k.P 57 Cálculo Diferencial Integral III Onde k é uma constante de proporcionalidade. Como esperamos que a população cresça, devemos ter dt dP > 0, e assim k > 0. (Deflexão de Vigas) Em engenharia, um problema importante é determinar a deflexão elástica de uma viga elástica causada por seu peso ou por uma carga externa. Supomos que a viga é homogênea e tem seções transversais uniformes ao longo de seu comprimento. Seja L o comprimento da viga. Na ausência de carga na viga (incluindo seu peso), a curva ligando os centróides de todas as seções transversais é uma linha reta denominada eixo de simetria, como é mostrado na Figura 28 abaixo. Figura 28: O eixo de simetria em uma viga. Se uma carga for aplicada à viga em um plano vertical contendo o eixo de simetria, então, como podemos visualizar na Figura 29 abaixo, a viga sofre uma distorção e a curva ligando os centróides de todas as seções transversais é denominada de curva de deflexão ou curva elástica. Figura 29: A curva de deflexão ou curva elástica em uma viga. 58 Cálculo Diferencial Integral III Utilizando princípios de elasticidade e um conceito do Cálculo Diferencial e Integral (curvatura) podemos deduzir que a equação diferencial da curva de deflexão pode ser escrita como: Onde E e I são constantes, sendo E o módulo de elasticidade de Young racionado com o material da viga, e I é o momento de inércia de uma seção transversal da viga (em relação a um eixo conhecido como eixo neutro ou linha neutra). O produto E.I é denominado de rigidez defletora da viga. A deflexão é representada por y(x) e w(x) representa a carga por unidade de comprimento. 1.7 Equações Diferenciais de Primeira Ordem Aqui, estaremos interessados em trabalhar com equações diferenciais de primeira ordem, que podem ser escritas na forma geral, onde f é uma função conhecida de duas variáveis. Qualquer função diferenciável y = (t) que satisfaça a esta condição para todos os valores de t em um certo intervalo é considerada como uma solução; nosso objetivo é determinar se essas funções existem e, em caso afirmativo, desenvolver métodos para encontrá-las. Infelizmente, para uma função arbitrária f, não (1) dt dy = f(t, y) (11) E.I. 4 4 dx yd = w(x) 59 Cálculo Diferencial Integral III existe nenhum método geral para resolver a equação em termos de funções elementares. Desta forma, vamos descrever alguns métodos, cada um dos quais se aplica a certa subclasse das equações diferenciais de primeira ordem. As subclasses mais importantes são as das equações lineares e das equações separáveis. Figura 30: As principais subclasses de equações de primeira ordem. 1.7.1 Equações Lineares Se a função f da Equação (1) depende linearmente da variável dependente y (f(t,y) = a.y + b), então podemos escrever a Equação 01 na forma: Sendo denominada equação diferencial linear de primeira ordem. Vamos supor sem perda de generalidade que p(t) e g(t) sejam duas funções conhecidas e contínuas num certo I = ( , ) ( t ). Por exemplo: Subclasses mais importantes de EDO's de primeira ordem Equações Lineares Equações Separáveis (2) dt dy + p(t).y = g(t) 60 Cálculo Diferencial Integral III é uma equação linear particularmente simples, com as funções p(t) = 2 1 e g(t) = 2 3 , ambas funções constantes. Vamos resolver a Equação (3), i.e., queremos resolver dt dy + 2 1 .y = 2 3 . Inicialmente, notemos que a Equação 03 pode ser escrita como: Daí, 2 1 3y dt dy , (passamos y – 3 dividindo, já que y 3) Agora, notemos que o primeiro membro da Equação acima representa a derivada de ln |y – 3| (basta usarmos a Regra da Cadeia para Derivação), logo podemos escrever: dt d (ln |y – 3| ) = 2 1 Então, se integrarmos a relação acima, vamos obter: (3) dt dy + 2 1 .y = 2 3 (4) dt dy = – 2 3y , se y 3.61 Cálculo Diferencial Integral III ln |y – 3| = 2 t + C, Onde C é uma constante arbitrária. Portanto, aplicando a função exponencial a ambos os membros, obtemos |y – 3| = e C .e 2t E então, podemos escrever: y = 3 e C .e 2t E fazendo C = e C , temos que: Observemos que C = eC é uma constante arbitrária não nula, porém se deixarmos C assumir o valor zero então a solução constante y = 3 também está contida na Equação (5). A equação mais geral de primeira ordem com coeficientes constantes pode ser escrita como: Onde r e k são constantes, pode ser encarada da mesma forma do procedimento que utilizamos anteriormente. Se r 0 e se y r k , podemos escrever a Equação (6) na forma: r rky dt dy )/( (5) y = 3 C. e 2t (6) dt dy = r.y + k, 62 Cálculo Diferencial Integral III E com raciocínio análogo, obtemos que: Onde C = e C . Este raciocínio que utilizamos acima nos auxiliará no desenvolvimento da metodologia do primeiro método de resolução de equações diferenciais de primeira ordem que apresentaremos na próxima seção, o chamado Método dos Fatores Integrantes. 1.7.2 Resolução de Equações Diferenciais de Primeira Ordem: O Método dos Fatores Integrantes Olhando, novamente para a solução da Equação (6), podemos encontrar uma chave que nos revela um método de resolução de equações lineares de primeira ordem mais gerais. Intuitivamente, escrevemos a Equação (7) na forma: Ou seja, multiplicamos ambos os membros de cada lado da Equação (7) por e tr. . Em seguida, derivando os dois membros da Equação (8) com relação a t, vem que: y'. e tr. – y.r. e tr. = r k .(– r). e tr. + 0 Ou ainda, (7) y = r k + C.e tr. (8) y.e tr. = r k . e tr. + C 63 Cálculo Diferencial Integral III Que em verdade, é equivalente à Equação Diferencial: Observemos que agora podemos resolver à Equação (6) invertendo os passos precedentes. Transpondo o termo r.y para o lado esquerdo da Equação e multiplicando por e tr. obtemos à Equação (9). Note que o lado esquerdo da Equação (9) nada mais é do que a derivada do produto (y. e tr. ), de modo que à Equação se torna: Finalmente, integrando os dois membros de (10) com relação a t, obtemos à Equação (8) e, portanto a solução (7). Em outras palavras, uma forma de resolver à Equação (6) consiste em primeiro multiplicá-la pela função e tr. . Como esta multiplicação deixa à Equação em uma forma que é imediatamente integrável, a função e tr. é denominada de Fator Integrante da Equação (6). Obs: Para que este método seja eficaz para outras equações, precisamos ser capazes de calcular o fator integrante diretamente a partir da equação diferencial a ser resolvida. (9) (y’ – y.r). e tr. = k. e tr. (6) dt dy = r.y + k, (10) (y. e tr. )’ = k. e tr. 64 Cálculo Diferencial Integral III Figura 31: A vantagem do método dos fatores integrantes. Vamos agora, trabalhar com esta questão levando em consideração à Equação geral (2), que é: Em verdade, o nosso objetivo é multiplicar esta equação por um fator integrante apropriado e desta forma deixá-la em uma forma diretamente integrável (em outras palavras, significa trabalharmos a equação com integrais conhecidas e bem simples). Para determinarmos este fator integrante, inicialmente multiplicamos à Equação (2) por uma função (t), ainda indeterminada (ou seja, a priori desconhecida). Desta forma, temos então: Grosso modo, queremos reconhecer o lado esquerdo da Equação (11) como a derivada de alguma função. O fato de que existem dois termos e, um dos termos é (t).y’ nos sugere que o lado esquerdo da Equação (11) (2) dt dy + p(t).y = g(t) (11) (t).y’ + (t).p(t).y = (t).g(t) 65 Cálculo Diferencial Integral III possa ser a derivada do produto ( (t).y). Para que isto seja verdade, o segundo termo do lado esquerdo da Equação (11), (t).p(t).y, deve ser igual a ’(t).y. Ou seja, isto significa que (t) deve satisfazer à Equação diferencial: Vamos admitir, por enquanto ou de forma temporária, que a função (t) seja positiva, sendo assim, podemos reescrever à Equação (12), da seguinte forma: )( )(' t t = p(t) Ou ainda, Então, integrando ambos os membros, com relação a t, segue que: Pela escolha conveniente da constante C arbitrária como sendo zero, i.e., C = 0, conseguimos ter a função mais simples possível, ou seja, obtemos a relação: (12) ’(t) = (t).p(t) (13) dt d [ln( (t))] = p(t) (14) ln ( (t)) = dttp )( + C 66 Cálculo Diferencial Integral III Notemos que a função (t) é positiva para todos os valores de t (já que se trata de uma exponencial) conforme havíamos colocado anteriormente (ou seja, com relação à suposição feita anteriormente). Depois de determinarmos o fator integrante (t), voltamos à Equação (2) e multiplicamos a mesma por (t), obtendo assim à Equação (11). Como (t) satisfaz à Equação (12), à Equação (11) se reduz a: Integrando ambos os membros da Equação (16), obtemos a igualdade: Ou seja, Sendo assim, uma vez que y representa qualquer solução da Equação (2), concluímos que toda solução da Equação (2) está incluída no segundo membro da Equação (18). Portanto, esta expressão é uma solução geral da Equação (2). Note que para encontrarmos a solução dada pela (15) (t) = exp dttp )( (16) [ ’(t).y] = (t).g(t) (17) (t).y = dttgt ).().( + C (18) y = )( )().( t Cdttgt 67 Cálculo Diferencial Integral III Equação (18) são necessárias duas integrações, uma para ter o fator integrante (t) pela Equação (15) e outra para determinar y na Equação (18). A interpretação geométrica da Equação (18) é a de uma família infinita de curvas, uma para cada valor da constante C. Estas curvas são as curvas integrais da equação diferencial. Muitas vezes é necessário e importante selecionarmos um membro particular da família de curvas integrais, o que fazemos pela identificação de um ponto particular (t 0 , y 0 ) contido no gráfico da solução. Esta exigência se escreve, usualmente, como: E é conhecida como uma condição inicial. Desta forma, como comentado anteriormente de forma rápida definimos em termos específicos o Problema de Valor Inicial (P.V.I) como segue. Definição: (Problema de Valor Inicial) Uma equação diferencial de primeira ordem, como à Equação (1) ou à Equação (2), e uma condição inicial como à Equação (19), constituem, em conjunto, um Problema de Valor Inicial (P.V.I). Resumindo, para aplicarmos o
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