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RESUMO Introdução:Doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morbidade e mortalidade em pacientes com doença renal crônica. A DCV é atribuída a fatores de risco bem estabelecidos como o diabete melito, hipertensão e dislipidemia, entre outros. Objetivo:Avaliar o perfil lipídico de pacientes com doença renal crônica em tratamento conservador ou dialítico. Métodos e Pacientes:Realizamos um estudo transversal, obser- vacional e contemporâneo, de janeiro de 1996 a dezembro de 2000, em pacientes submetidos à hemodiálise (HD), à diálise peritonial ambula- torial contínua (CAPD) ou tratamento conservador (TC). Os triglicerídeos, colesterol total e HDL foram dosados através da técnica enzimática. As apolipoproteínas AI e B foram dosadas por imunoturbidimetria. Resultados:Dos 63 pacientes estudados 28 eram do grupo de hemodiálise, 19 CAPD e 16 conservador. Os triglicerídeos (TG) foram mais elevados nos pacientes submetidos à HD e à CAPD comparados com os manti- dos em TC, p= 0,023. Triglicerídeos > 200mg/dl foi observado em 53% dos pacientes em CAPD, 32% no grupo conservador e 6% nos pacientes em hemodiálise. O colesterol total (CT) foi maior nos pacientes CAPD e TC comparados com os de HD, p= 0,038. Colesterol total > 200mg/dl foi encontrado em 68% dos pacientes CAPD e tratamento conservador, e em 32% dos pacientes em hemodiálise. Apenas 11% dos pacientes em CAPD e hemodiálise e 13% dos pacientes em tratamento conservador apresentaram níveis de HDL > 60mg/dl. O LDL foi maior nos pacientes em CAPD e TC quando comparados com os em HD, p= 0,028. Conclusão: Pacientes com insuficiência renal crônica, em tratamento conser- vador ou dialítico, apresentam alterações no perfil lipídico com maior aterogenicidade naqueles em diálise peritonial ambulatorial contínua. (J Bras Nefrol 2005;27(3): 116-123) Descritores:Lipídeos. Insuficiência renal. Diálise. Tratamento conservador. ABSTRACT Introduction: Cardiovascular disease (CVD) is the principal cause of morbidity and mortality in patients with chronic renal disease. While much of these patients’ risk for CVD is attributable to the more established risk factors such as diabetes, hypertension, and dyslipidemia, recently, the role of inflammation, homocysteine, and oxidative stress has also received considerable attention. Purpose: We evaluated the lipid profile of patients with renal failure undergoing hemodialysis, conservative treatment or continuous ambulatory peritoneal dialysis. Methods and Patients: A transversal, observational, contemporaneous study was carried out in patients undergoing hemodialysis (HD), continuous ambulatory peritoneal dialysis (CAPD) or conservative treatment (CT). Triglycerides, total cholesterol and high density lipoprotein (HDL) levels were measured using enzymatic assay. Apolipoproteins AI and B were measured by immunoturbidimetry. Results: Of the 63 patients studied, 28 were undergoing hemodialysis, 19, CAPD e 16, conservative treatment. Triglyceride levels were higher in patients undergoing HD and CAPD compared with those on CT, p= 0.023. Triglycerides > 200mg/dl were observed in 53% of patients on CAPD, 32% in the conservative treatment group, and 6% in hemodialysis patients. Total cholesterol was highest in patients on CAPD and CT, compared with those on HD, p= 0.038. Total cholesterol > 200mg/dl was found in 68% of patients on CAPD and conservative treatment, and in 32% of hemodialysis patients. Only 11% of the patients on CAPD and hemodialysis and 13% of those in conservative treatment had HDL levels > 60mg/dl. LDL was higher in patients on CAPD and TC compared with those on HD, p= 0.028. Conclusions: Our quantitative data analysis showed that patients with renal failure undergoing conserv - ative treatment or dialysis had a modification in their lipid profile with a greater tendency towards atherogenicity being found in patients on CAPD. (J Bras Nefrol 2005;27(3):116-123 ) Keywords: Lipids. Renal failure. Dialysis. Conservative therapy. Perfil Lipídico de Pacientes com Insuficiência Renal Crônica em Tratamento Conservador, Hemodiálise ou Diálise Peritonial Lipid Profile of Patients With Renal Failure Undergoing Conservative Treatment, Hemodialysis, or Peritoneal Dialysis. Adriana Klafke1, Emílio Moriguchi2, Elvino José G. Barros3 1Departamento de Nefrologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (AK); 2Instituto de Geriatria e Geron- tologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (EM); e 3Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (EB), Porto Alegre, RS. Recebido em 03/01/05 / Aprovado em 04/07/05 Artigo Original Endereço para correspondência: Elvino Barros Serviço de Nefrologia e Hemodiálise do Hospital de Clínicas de Porto Alegre Hospital de Clínicas de Porto Alegre Rua Ramiro Barcelos 2350, 2º andar, sala 2030 - CEP: 90450-171 E-mail: ebarros@hcpa.ufrgs.br 117J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 INTRODUÇÃO A doença renal crônica (DRC) é atualmente um dos principais problemas de saúde pública no nosso país1. Em estudo populacional recente realizado na cidade de Bambuí, MG, Passos et al.2 encontraram uma prevalência de doença renal crônica, avaliada através da creatinina sérica, de 0,5% na população com idade menor do 60 anos e de 5% naqueles com idade maior de 60 anos. Estes dados, projetados para a população brasileira, levam a uma estimativa de 1,4 milhão de pessoas com DRC em diferentes estágios1,2. Considerando apenas a população com doença renal terminal, no Brasil temos aproximada- mente 60.000 pacientes mantidos em programa crônico de diálise, com uma incidência crescente de 8% ao ano1,2. A doença cardiovascular, apesar de todo o avanço terapêutico e tecnológico, continua sendo a principal causa de morbidade e mortalidade em pacientes com doença renal crônica3 , 4. Isto se acentua nos pacientes com insuficiência renal terminal em trata- mento dialítico, quer por hemodiálise ou diálise perito- n i a l3. A mortalidade por doença cardiovascular, nestes pacientes, é 10 a 30 vezes maior do que a população em g e r a l5. Os fatores de risco para o desenvolvimento de doença cardíaca coronariana aterosclerótica, nestes pacientes, são os tradicionais, como a hipertensão arte- rial sistêmica, a diabete mélito, dislipidemia e hiper- homocisteinemia associados a fatores ditos não tradi- cionais como níveis séricos de cálcio e fósforo, infla- mação e estresse oxidativo, entre outros6 - 9. Em estudo transversal, de 1041 pacientes em diálise, a prevalência dos fatores de risco para aterosclerose em pacientes com insuficiência renal terminal foi comparado com uma população normal, sendo observado que os pacientes em diálise tinham alta prevalência de diabete mélito, hipertensão hipertrofia miocárdica, baixa ativi- dade física e dislipidemia9. O papel dos lipídios na causa de aterosclerose tem sido demonstrado por vários estudos onde o aumento do colesterol total e do LDL, associado à diminuição do HDL e outras alterações lipídicas, tem se constituído em importantes fatores de risco de doença coronariana e morte7-9. A redução de 10% no colesterol sérico total através de intervenção terapêutica pode diminuir o risco de doença cardiovascular em até 15% e na mortalidade em 11%8. As alterações lipídicas, nos pacientes em diálise pode diferir conforme o tipo de diálise utilizada, hemo- diálise ou diálise peritonial3,6. Neste estudo, avaliamos o perfil lipídico de pacientes com insuficiência renal crônica, em tratamento conservador, submetidos à diálise peritonial ambulatorial contínua ou à hemodiálise. PACIENTES, MÉTODOS E DELINEAMENTO Realizamos um estudo transversal, observacional e con- temporâneo, no período de janeiro de 1996 a dezembro de 2000, onde foi estudado o perfil lipídico de pacientes com insuficiên- cia renal crônica (IRC) em tratamento conservador (TC): grupo 1, ou submetidosà diálise peritonial ambulatorial contínua (CAPD); grupo 2, ou hemodiálise (HD); e grupo 3, no Serviço de Nefrologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O estu- do foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Consentimento informado foi obti- do, de forma livre e por escrito, de todos os pacientes ou seus responsáveis legais. Foram incluídos no estudo pacientes com IRC de qual- quer etiologia, maiores de 13 anos de idade, em tratamento dialítico há pelo menos 3 meses. Os pacientes do grupo trata- mento conservador tinham uma taxa de depuração de creatinina endógena igual ou inferior a 25ml/min estimada pela fórmula de Cockcroft-Gault10. Foram excluídos os pacientes do grupo CAPD que apresentaram diagnóstico de peritonite até 3 meses precedentes à entrada no estudo. Os pacientes submetidos à hemodiálise encontravam-se em tratamento regular 3 vezes por semana, 4 horas de duração, cada sessão de hemodiálise e utili- zavam heparina como anticoagulante. No momento da inclusão do paciente no estudo, o prontuário foi revisado, assim como o registro dos dados da história clínica, do uso de medicamentos, dos fatores de risco para doença cardiovascular e da história atual e passada através do preenchimento do instrumento de avaliação. Ter- minada a avaliação médica, o paciente era submetido à avali- ação nutricional com preenchimento do inquérito nutricional alimentar recordatório. A avaliação dos pacientes coincidiu com os dias das sessões de diálise ou de consultas nos ambulatórios de CAPD e de tratamento conservador. Na primeira entrevista foram expli- cados os objetivos do estudo e dadas as instruções detalhadas quanto à coleta de sangue, mesmo para aqueles pacientes já habituados a tais procedimentos. Amostras de Sangue para avaliação laboratorial No dia da avaliação, todos os pacientes compareceram em jejum mínimo de 12 horas. Foram colhidos 8-10ml de sangue de cada paciente, em tubos sem anticoagulante, centrifu- gado e o soro estocado a -70ºC para posterior análise. Os triglicerídeos foram dosados pelo método enzimático colorimétrico em aparelho autoanalizer Selectra 5000, utilizan- do kit comercial GPO-PAP, Diagnostika Merck. O colesterol total, bem como o contido no HDL e em sua fração 3 (HDL3), foram dosados manualmente através da técnica enzimática, uti- lizando kit comercial Colesterol enzimático PAP, Biolab, e as leituras foram realizadas em espectrofotômetro Hitachi U-2000. O HDL foi determinado após precipitação das lipoproteínas que contém apo-B com heparina-Mn +2, e o HDL-3 foi dosado neste sobrenadante, após precipitação do HDL-2 com sulfato de dex- tran. O LDL foi calculado pela fórmula de Friedwald. As apolipoproteínas AI e B foram dosadas por imunoturbidimetria 118 usando o aparelho Turbitimer com os kits Turbiquant (Behring AG, Margburg, Alemanha). A análise laboratorial constou ainda de creatinina, albumina e paratormônio (PTH) séricos. Nos pacientes do grupo 2 (CAPD), retirou-se também uma alíquota de 50ml do efluente de diálise, que foi centrifugado para análise posterior de albumina, colesterol total e suas frações. ANÁLISE ESTATÍSTICA A comparação dos dados quantitativos entre os grupos foi feita através da análise de variância com loca- lização de diferenças através do procedimento de Tukey. Nas situações de assimetria dos dados quantitativos, uti- lizamos a análise de variância não paramétrica de Kruskal-Wallis. A localização das diferenças pós-análise de variância de Kruskal-Wallis foi realizada através do procedimento de Dum. Dados categóricos foram comparados entre os gru- pos através de tabela de contingência com sua significân- cia determinada pelo teste do Qui-quadrado. Adicional- mente, a verificação de associação entre as variáveis quantitativas foi realizada através do cálculo de coefi- ciente de correlação linear de Pearson. O nível de significância adotado no estudo foi de < 0,05. RESULTADOS O estudo foi realizado em 63 pacientes. Destes, 28 estavam em programa de hemodiálise, 19 submetidos à diálise peritonial ambulatorial contínua e 16 mantidos em tratamento conservador. A distribuição dos pacientes nos grupos não demonstrou diferenças estatisticamente signi- ficativas para sexo e raça e índice de massa corporal (tabela 1). Os pacientes em hemodiálise apresentaram média de idade menor que os pacientes dos demais gru- pos (tabela 1.) A albumina sérica teve médias menores nos pacientes submetidos a diálise peritoneal, e o parator- mônio (PTH) foi semelhante nos três grupos (tabela 1). A análise nutricional, realizada através de inquéri- to alimentar recordatório, não mostrou diferenças signi- ficativas na ingestão média de calorias, proteínas totais, lipídeos, glicídios, proteínas de alto valor biológico, colesterol e relação gorduras poli-insaturadas/saturadas entre os pacientes dos três grupos. A avaliação da causa da doença básica que levou à insuficiência renal não demonstrou diferenças entre os grupos (p= 0,203), bem como a avaliação da presença dos principais fatores clínicos associados a dislipidemia, como tabagismo, hipertensão arterial sistêmica, utilização de medicamentos, história familiar para dislipidemia e uso de bebida alcóolica (tabela 2). A presença de diabete mélito foi encontrada em 8 pacientes do grupo CAPD, 3 no grupo conservador e nenhum no grupo de hemodiálise. A determinação dos triglicerídeos foi significante- mente maior nos pacientes do grupo 2 (CAPD) e nos pacientes dos grupos 1 (HD) quando comparados com os pacientes em tratamento conservador (tabela 3). O per- centual de pacientes, com níveis séricos de triglicerídeos maior do que 200mg/dl, foi de 53% nos pacientes do grupo CAPD, de 32% no grupo com tratamento conser- vador e de apenas 6,2% nos pacientes em hemodiálise. O colesterol total dos pacientes em CAPD, e naqueles em tratamento conservador, foi maior do que nos em hemodiálise (224 ± 49mg/dl e 227 ± 71mg/dl vs. 187 ± 48mg/dl, p= 0,038, tabela 3). Níveis de colesterol total acima de 200mg/dl foram encontrados em 68% dos pacientes do grupo CAPD e tratamento conservador, e em 32% dos pacientes em tratamento com hemodiálise. Colesterol total baixo, < 150mg/dia, foi observado em 4 pacientes (14%) no grupo de hemodiálise, 2 (13%) nos pacientes em tratamento conservador e em 1 (5%) dos pacientes em CAPD. Os níveis médios de HDL foram semelhantes entre os diferentes grupos, assim como suas frações, HDL2 e HDL3 (tabela 3). Apenas 11% dos pacientes do grupo CAPD e hemodiálise e 13% dos pacientes em tratamento conservador apresentaram níveis de HDL maiores do que 60mg/dl. Tabela 1.Características gerais dos pacientes com Insuficiência Renal Crônica submetidos à hemodiálise (HD), à diálise peritoneal (CAPD) e em tratamento conservador (TC). CARACTERÍSTICAS HD (n= 28)* CAPD (n= 19) TC (n= 16) p Sexo, Nº (%) feminino 18 (64,3)* 13 (68,4) 10 (62,5) 0,928 Raça, Nº (%) branca 24 (85,7)* 17 (89,5) 11 (68,8) 0,229 Idade, anos 41 ± 11a 52 ± 16b 54 ± 13b 0,002 IMC, kg/m2 22 ± 5 25 ± 6 23 ± 3 0,255 Creatinina, mg/dl 11,5 ± 3,53a 12,1 ± 3,62a 5,6 ± 1,79b 0,001 Albumina, mg/dl 4,7 ± 0,58a 4,1 ± 0,54b 4,4 ± 0,50a,b 0,001 * Resultados são apresentados como números absolutos (percentual), média ± DP. IMC= índice de massa corporal. a,b Letras-índices distintas representam diferenças estatísticas significativas entre os grupos. 119J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 O LDL foi maior nos pacientes em CAPD e TC quando comparados com pacientes em hemodiálise (135 ± 50mg/dl e 148 ± 64mg/dl vs. 106 ± 44mg/dl, p= 0,028) (tabela 3). LDL acima de 160mg/dl foi observado em 7,1% dos pacientes em hemodiálise, 41,2% em CAPD e 31,2% nos pacientes em tratamento conservador. Os níveis médios de apo-A não apresentaram dife- renças entre os grupos (tabela 3). Em contraste, o nível médio de apo-B foi significantementemaior nos pacientes em CAPD comparados com os submetidos à hemodiálise ou tratamento conservador (p= 0,003) (tabela 3). A medida da albumina no líquido de diálise peri- tonial mostrou haver uma perda significativa de albumina no líquido de diálise, em média de 7,7 ± 0,7g/24 horas. Nestes pacientes, submetidos a CAPD, a presença de albumina no líquido de diálise peritonial demonstrou cor- relação do tipo inversa e estatisticamente significativa com colesterol total (CT) e lipoproteína de baixa densi- dade (LDL) de intensidade moderada (tabela 4). DISCUSSÃO A doença cardiovascular é a principal causa de morbi-mortalidade nos pacientes com doença renal crôni- ca (DRC)11,12. A aterosclerose está presente na maioria destes pacientes expostos a fatores de risco, ditos clássi- cos, como diabete melito, dislipidemia, hipertensão e obesidade12,13. São também expostos a fatores de riscos associados a uremia, como hipervolemia, anemia e hiper- paratireoidismo11-13. No entanto, o conjunto destes fatores não explica totalmente a alta incidência de doença cardio- vascular nesta população13. Outros fatores de risco, co- nhecidos como novos ou não clássicos, podem participar do processo, entre eles a homocisteína e o estresse oxida- tivo14-16. Mais recentemente, constatou-se que pacientes urêmicos apresentam atividade inflamatória aumentada e que esta atividade inflamatória altera o colesterol HDL e o colesterol LDL oxidado, fatores de risco adicionais para aterosclerose15,16. De fato, a dislipidemia é um dos fatores de risco mais importantes para doença aterosclerótica coronariana na população geral e em especial nos pacientes com disfunção renal 6,11,17. A progressão da insuficiência renal é marcada por acentuação nas alte- rações lipídicas6,8. Uma das principais características das alterações do metabolismo lipídico, em pacientes com insuficiência renal crônica, é a hipertrigliceridemia, que representa o balanço entre a remoção e a produção de triglicerídeos6. A diminuição na sua remoção determina aumento nos Tabela 2.Fatores de risco para desenvolvimento de dislipidemia em pacientes com Insuficiência Renal Crônica submetidos à hemodiálise (HD), à diálise peritonial (CAPD) e em tratamento conservador (TC)*. FATOR DE RISCO HD (n= 28) CAPD (n= 19) TC (n= 16) p Tabagismo 08 (28,6) 05 (26,3) 07 (43,8) 0,483 Hipertensão Arterial 20 (71,4) 12 (63,2) 10 (62,5) 0,772 Medicações 21 (75,0) 16 (84,2) 13 (81,3) 0,728 História Familiar 12 (42,9) 09 (47,4) 04 (25,0) 0,362 Alcoolismo 06 (21,4) 0 02 (12,0) 0,095 * Resultados são apresentados como números absolutos (percentual). Tabela 3.Perfil lipídico dos pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à hemodiálise, à diálise peritonial ambulatorial contínua e em tratamento conservador*. LIPÍDEOS HD CAPD TC p TG (mg/dl) 151 (97 – 254)a 224 (137 – 313)b 141 (79 – 110)a 0,023 CT (mg/dl) 187 ± 48a 224 ± 49b 227 ± 71b 0,038 VLDL (mg/dl) 30 (19 – 51)a 45 (27 – 63)a 28 (22 – 36)b 0,023 LDL (mg/dl) 106 ± 44a 135 ± 50b 148 ± 64b 0,028 HDL (mg/dl) 46 ± 17 49 ± 13 51 ± 7 0,538 HDL3 (mg/dl) 27 ± 12 27 ± 8 25 ± 4 0,752 HDL2 (mg/dl) 19 ± 10 22 ± 12 25 ± 8 0,158 apo-A (mg/dl) 198 ± 49 221 ± 41 201 ± 34 0,193 apo-B (mg/dl) 168 ± 54a 235 ± 48b 212 ± 98b 0,003 * Resultados são apresentados como média ± DP e mediana (percentil 25 – 75). HD= hemodiálise, CAPD= diálise peritonial ambulatorial contínua; TC= tratamento conservador; TG= triglicerídeos; CT= colesterol total; C= colesterol de lipoproteínas, LDL= lipoproteína de baixa densi- dade; VLDL= lipoproteína de muito baixa densidade; HDL= lipoproteína de alta densidade; HDL3= lipopro- teína de alta densidade – fração 3; HLD2= lipoproteína de alta densidade – fração 2; Apo-A= apolipopro- teína A; Apo-B= apolipoproteína B. a,b Letras-índices distintas representam diferenças estatísticas significativas entre os grupos. Perfil Lipídico de Pacientes com Insulficiência Renal120 níveis de partículas remanescentes como o VLDL, quilomicra e da lipoproteína de densidade inter- mediária3,4,6. Em nosso estudo, os valores séricos de triglicerídeos apresentaram diferenças significativas entre os três grupos de pacientes estudados. Os pacientes dos grupos hemodiálise e CAPD apresentaram níveis médios de triglicerídios maiores que os pacientes do grupo em tratamento conservador. Nos pacientes em diálise perito- nial, mais da metade, 53%, apresentaram triglicerídios acima de 200mg/dl, níveis associados com aumento importante de aterogênese1 5 , 1 8 - 2 4. Nos pacientes em hemodiálise, 32% apresentaram hipertrigliceridemia, enquanto naqueles em tratamento conservador, apenas 6% apresentaram níveis aumentados de triglicerídios. Conforme Chan e cols.19, os pacientes submetidos a CAPD apresentam aumento na síntese hepática de lipoproteínas como conseqüência da hipoalbuminemia e do excesso de calorias através da absorção contínua de glicose pelo peritônio. A hipertrigliceridemia, nestes pacientes, pode ser parcialmente explicada pelo aumento da síntese hepática de VLDL que agrega os triglicerí- dios19,20. A lipoproteína de muito baixa densidade é cons- tituída principalmente de triglicerídeos, o que freqüente- mente torna o VLDL aumentado em pacientes com IRC em tratamento conservador ou em terapia de substituição renal6,25. Os níveis de colesterol total foram maiores nos pacientes dos grupos CAPD e tratamento conservador quando comparados com os pacientes em hemodiálise. Níveis acima de 200mg/dl estavam presentes em 68% destes pacientes comparado com 32% dos pacientes do grupo hemodiálise. Pacientes em hemodiálise freqüente- mente apresentam níveis de colesterol total e LDL nor- mais, próximos do normal ou mesmos baixos3-5. Uma das razões para isto é a desnutrição em muitos destes pacientes. Neste estudo, não parece que esta seja a expli- cação para os menores valores no grupo em hemodiálise, já que apenas 14% destes pacientes, e 13% dos pacientes em CAPD, apresentaram colesterol total abaixo de 150mg/dl. Os pacientes mantidos em CAPD parecem exibir alterações qualitativas e quantitativas no perfil lipídico que configuram maior aterogenicidade quando comparados àqueles mantidos em hemodiálise6,20,21. Uma das principais alterações no metabolismo lipídico nesses pacientes é o aumento no colesterol total6,24. Níveis elevados da lipoproteína de alta densidade (HDL) constituem-se em fator de proteção para o desen- volvimento de doença cardiovascular26. As médias de HDL e suas frações, no nosso estudo, não demonstraram diferenças significativas nos três grupos de pacientes estudados. Aproximadamente 80% dos pacientes apresen- taram valores baixos de HDL, menor de 60mg/dl, con- siderados de risco para o desenvolvimento de doença car- diovascular. Nos estágios avançados da IRC ou em pa- cientes submetidos à diálise, os níveis dessa lipoproteína freqüentemente encontram-se diminuídos3,4,6,25, o que pode estar associado à alta morbi-mortalidade por eventos vasculares nesta população. A diminuição na atividade das enzimas lipolíticas envolvidas no metabolismo lipídi- co é o principal mecanismo responsável pela diminuição do HDL nestes pacientes6,8,27-29. É importante ressaltar que os pacientes submetidos a CAPD apresentam um mecanismo adicional na gênese da dislipidemia, que é a perda direta de HDL, apolipoproteína A e a lecitina coles- terol acetil transferase (LCAT) no líquido de diálise26-29. A apolipoproteína A é a principal apolipoproteína do HDL. Sua diminuição em pacientes com déficit de função renal parece correlacionar-se com o grau de perda de função renal26-28. Em nosso estudo não encontramos diferenças entre os três grupos na apolipoproteína A, as médias encontradas mantiveram-se acima de 90mg/dl. É possível que a ausência de diferenças entre os grupos se deva ao pequeno número de pacientes estudados. A lipoproteína de baixa densidade (LDL) é reco- nhecidamente envolvidana aterogênese, tanto por suas alterações quantitativas como qualitativas. Os níveis de LDL iguais ou superiores a 160mg/dl são associados ao maior risco de desenvolvimento de doença cardiovascu- lar26,30. Os pacientes tratados com CAPD, ou tratamento conservador, apresentaram aumento significativo do LDL quando comparados com pacientes do grupo em hemo- diálise. Dados semelhantes são descritos na literatura, onde é enfatizado que os pacientes em hemodiálise fre- qüentemente apresentam níveis de LDL normais ou leve- Tabela 4.Correlação entre a albumina do líquido de diálise e perfil lipídico dos pacientes com insufi- ciência renal crônica submetidos à diálise ambulatorial contínua. TG CT HDL LDL VLDL Apo-A Apo-B r* -0,003 -0,483 -0,012 -0,598 -0,003 -0,004 -0,155 p 0,988 0,036 0,963 0,011 0,988 0,987 0,084 * r= coeficiente de correlação; TG= triglicerídeos; C= colesterol de lipoproteínas; CT= colesterol total; LDL= lipoproteína de baixa densidade; VLDL= lipoproteína de muito baixa densidade; HDL= lipoproteí- na de alta densidade; Apo-A= apolipoproteína A; Apo-B= apolipoproteína B. 121J Bras Nefrol Volume XXVII - nº 3 - Setembro de 2005 mente elevados, enquanto os pacientes tratados com diálise peritonial apresentam maiores níveis de LDL6,26,30. O principal mecanismo envolvido no aumento nos níveis de LDL, nesses pacientes, é a diminuição no seu catabolismo25,26,30,31. Os níveis da apolipoproteína B (apo-B), principal apolipoproteína do LDL, apresentam- se aumentados em pacientes com IRC em tratamento dialítico e naqueles mantidos em tratamento conservador, podendo estar relacionado ao aumento na síntese hepática de proteínas25,30. Em nosso estudo, observamos níveis aumentados de apo-B, principalmente nos pacientes man- tidos em CAPD e tratamento conservador. Todos os gru- pos apresentaram níveis médios superiores a 130mg/dl, valor acima do qual há forte associação com o desen- volvimento de eventos vasculares6,8. A hipoalbuminemia está fortemente relacionada à má nutrição, ao desenvolvimento de dislipidemia e ao aumento da mortalidade em pacientes submetidos a diálise27-29,32. A análise nutricional, realizada através de inquérito alimentar recordatório, não mostrou diferenças significativas na ingestão média de calorias, proteínas totais, lipídeos, glicídios, proteínas de alto valor biológi- co, colesterol e relação gorduras poli-insaturadas/satu- radas entre os pacientes dos três grupos. No entanto, nos pacientes submetidos a CAPD, a perda crônica de proteí- na (5-15g/dia) no líquido de diálise é um fator adicional ao desenvolvimento de hipoalbuminemia3 0 , 3 2. Nossos resultados foram semelhantes aos dados da literatura, onde foi observado nível mais baixo de albumina sérica nos pacientes do grupo CAPD quando comparados com os pacientes do grupo HD. A perda média de albumina no líquido de diálise foi de 7,7 ± 0,7g/24 horas, e a hipoal- buminemia mostrou uma significativa correlação, do tipo inversa, com os níveis de colesterol total e LDL. A hipoalbuminemia determina alterações fisiopatológicas no metabolismo lipídico através da diminuição da pressão oncótica, o que estimula síntese hepática de albumina e outras proteínas, inclusive as apolipoproteínas6 , 3 0 , 3 2, determinando também aumento de colesterol total, triglicerídeos e lipoproteína (a) além da diminuição de lipoproteína de alta densidade8,27-29. Além disto, a hipoal- buminemia também é considerada fator de risco de mor- talidade em pacientes urêmicos. Embora Bergström e cols.32 tenham mostrado que a albumina é apenas um fator interveniente, e que o verdadeiro fator de risco para mortalidade geral, e em especial cardiovascular, é a ativi- dade inflamatória33-36,39. A atividade inflamatória esta na gênese da desnutrição e da hipoalbuminemia, e conse- qüentemente da doença cardiovascular, além de outros problemas associados, como resistência à eritropoetina e resistência à insulina6. Um estado microinflamatório crônico é encontra- do em grande parte dos pacientes urêmicos, especial- mente aqueles em tratamento dialítico, hemodiálise ou diálise peritoneal, com os marcadores inflamatórios alte- rados, associados a uma reação de fase aguda35,36,39-41. Esta reação é uma resposta inespecífica primordial dos seres vivos, que induz à alteração de proteínas, chamadas proteínas de reação de fase aguda34-39. Assim, proteínas de fase aguda positivas, como a proteína C-reativa e ou- tras, têm seus níveis aumentados nestes pacientes16,36-41. Além disso, essa atividade inflamatória parece ser induzi- da no fígado por citocinas que estão também elevadas, como interleucina-6, interleucina-1, fator de necrose tumoral alfa entre outras34-39. As causas para estimulação destas citocinas não são conhecidas, mas várias possibili- dades existem16,36-40. O próprio estado urêmico, infecções comuns nestes pacientes (HCV, infecções estafilocócicas ou fúngicas, periodontites, outras), o contato com o sis- tema extracorpóreo de diálise, como linhas e filtros capi- lares com membranas não idealmente compatíveis, con- taminação por resíduos da água usada no dialisato, prin- cipalmente o pirogênio3 7 - 3 9 , 4 0podem, em conjunto, explicar a estimulação das citocinas37-39,40. Além disto, a desnutrição, a doença renal de base e as co-morbidades presentes ajudam no processo de inflamação36-39. Na ver- dade, o estado microinflamatório crônico destes pacientes se associa a hipercatabolismo e desnutrição, resistência a eritropoetina entre outras manifestações. A partir dessas descobertas, descreveu-se a “síndrome MIA” (Malnutri- tion, Inflammation and Atherosclerosis– desnutrição, inflamação e aterosclerose)31-34. Em nosso estudo, os pacientes com insuficiência renal crônica, tratados com CAPD, apresentaram o pior perfil lipídico quando comparados com os do grupo de tratamento conservador ou em hemodiálise. As principais alterações no metabolismo das lipoproteínas e apolipo- proteínas plasmáticas, neste estudo, foram semelhantes ao descrito por outros autores que salientam a importância do aumento no colesterol total, acompanhado da elevação nos níveis de triglicerídeos, VLDL e de LDL, associado a uma redução significativa de HDL na gênese da doença cardíaca aterosclerótica6,10-11. CONCLUSÃO Os dados observados neste estudo mostram que os pacientes com Insuficiência Renal Crônica, independente do tratamento instituído, apresentam alterações no seu perfil lipídico. Isto é mais evidente nos pacientes sub- metidos à diálise peritonial ambulatorial contínua com perfil mais dislipidêmico, determinando um perfil de Perfil Lipídico de Pacientes com Insulficiência Renal122 lipoproteínas de maior aterogenicidade quando compara- dos aos pacientes submetidos à hemodiálise ou mantidos em tratamento conservador. REFERÊNCIAS 1. Romão Jr JE. Doença renal crônica: Definição epidemiologia e classificação. J Bras Nefrol 2004;26(3) Supl 1:1-3. 2. Passos VMA, Barreto SM, Lima-Costa MFF, Bambuí Health and Ageing Study (BHAS) Group. Detection of renal dysfunc- tion based in serum creatinine levels in a Brazilian communi- ty. The Bambui Health and Ageing Group. Braz J Med Biol Res 2003;36:393-401. 3. Appel G. Lipid abnormalities in renal disease. Kidney Int 1991;39:169-83. 4. 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