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Diarréias na Infância Prof. Dr. Maria Paula Ferreira Ricardo LPP de Pediatria - 4ª ano Medicina Everson Akio Sakô Guilherme Costa Munhoz Anatomia e Fisiologia do TGI Fundo Corpo Antro Cardia Piloro Anatomia Estômago Histologia Estômago M A Fosseta Própria Epitelial 1 Anatomia I. Delgado Histologia I. Delgado (Lâmina epitelial) (Lâmina própria) 1 2 3 4 5 6 7 Vilosidade (Epitelial e Própria) Cripta 3 4 5 2 1 M A 2 Histologia I. Grosso Ceco Anatomia I. Grosso Cólon Ascendente Cólon Descendente Cólon Transverso Cólon Sigmóide Reto (Camada muscular longitudinal) Células Absortivas Células Caliciformes Células Linfóides Ø Vilosidades Microvilos 3 (Auerbach) (Meissner) Sistema Nervoso Entérico (Esôfago → Ânus) 4 (Auerbach) (Meissner) Em Geral TGI Em Geral TGI Movimentação Controle de secreções e fluxo sanguíneo Contração Longitudinal Relaxamento Circular Relaxamento Longitudinal Contração Circular Movimento Propulsivo (Empurra o conteúdo ao longo do TGI) Peristaltismo 5 Movimento de Mistura (Permite maior contato entre componentes do conteúdo) 6 Secreção Regulatória da Motilidade no TGI CCK Secretina GIP Motilina Somatostatina Gastrina Encefalinas Pâncreas Estômago Cérebro 7 Padrão de motilidade no Intestino Delgado Jejum O padrão recebe o nome de Complexo Mioelétrico Migratório (CMM) Composto de 3 fases: Fase I: de repouso, após atividade rítmica da fase III Fase II: de contrações irregulares, precedendo a fase III Fase III: de contrações rítmicas, que migram de modo relativamente lento, do antro até o íleo terminal. Podem, também, começar em pontos distantes do duodeno ou não chegar ao final do intestino delgado. Pós-prandial O alimento no estômago e os nutrientes no duodeno interrompem o CMM e levam ao aparecimento de contrações persistentes, segmentares, para mistura. *Padrão de motilidade do cólon é pouco conhecida, maior estímulo é o alimento, movimentos mediados por ação colinérgica. Definição das Diarréias Diarréia Perda excessiva de água e eletrólitos através das fezes, resultando em aumento do volume das fezes, frequência e diminuição da consistência, de forma diferente do padrão habitual. Termos práticos: ocorrência de ≥ 3 evacuações amolecidas dentro de 24 horas. Classificação das Diarréias Aguda (75%) < 2 semanas Má absorção de água e eletrólitos Geralmente de causa infecciosa Persistente ou protraída (20%) > 2 semanas Até 10% causam problemas nutricionais e contribuem para mortalidade Algum fator (desnutrição ou introdução recente de leite de vaca na dieta) impediu a regeneração do enterócito após infecção aguda Crônica (5%) > 1 mês Pode ou não haver síndrome disabsortiva associada Diarréias Agudas Epidemiologia Importante causa de morbidade infantil no mundo, em especial nos países em desenvolvimento Causa isolada ou associada dos estimados 3 milhões de óbitos em crianças/ano (especialmente < 1 ano) No Brasil, a região Nordeste é a mais prevalente: risco de morte 5 vezes maior que a região Sul ↑ ocorrência em populações mais pobres: precárias condições de saneamento básico, higiene ambiental e pessoal Um dos principais agravos à nutrição Disseminação da terapia de reidratação oral (baixo custo e eficácia comprovada) modificou significativamente o perfil da morbimortalidade pela doença nos últimos anos Diarréias Agudas Tipos Osmótica Secretória Invasiva Diarréias Agudas OSMÓTICA H2O Turn-over (céls. troncos): 3 a 5 dias vilosidades criptas tropismo Nunca suspender a alimentação por tempo prolongado Regeneração do enterócito → estímulo trófico → alimento na luz Exemplos: Deficiência de lactase Rotavírus Uso de laxantes ↓ pH fecal Eritema perianal (ác. orgânicos) Distensão abdominal, cólicas e fezes explosivas (gases) Melhora com o jejum Diarréias Agudas SECRETÓRIA Toxina + Receptor Adenil-ciclase / Guanilatociclase ATP ------------- ↑↑AMPc/ ↑↑GMPc ------------ativa proteinocinases Desestabilização (fosforilação) das proteínas de membrana do enterócito Vilosidade Criptas Bloqueio bomba Na+ Abertura canal Cl- (seguindo-se Na⁺ e H₂O) ↓ absorção ↑ secreção Exemplos: Ativ. AMPc: cólera, E. coli enterotoxigênica, Shigella, Salmonella, Campylobacter Ativ. GMPc: toxina E. coli, Yersinia Ca²⁺ dependente: toxina C. difficile, neuroblastoma, tumor carcinóide Diarréias Agudas INVASIVA Exemplos: - Shigella, Salmonella, Campylobacter, Amebíase Também denominada inflamatória, ocasionada por algumas bactérias. Há lesão da célula epitelial do intestino que impede a absorção dos nutrientes As bactérias invadem a mucosa e podem chegar à submucosa, com consequente aparecimento de sangue e leucócitos nas fezes Destruição do epitélio intestinal causado por Shigella flexneri Diarréias Agudas Infecciosa Autolimitada Desidratação (complicação) Desnutrição (sequela): círculo vicioso Diarréias Agudas Síndromes Clínicas Diarréia aguda aquosa [90%] Rotavírus Escherichia coli (enterotoxigênica e enteropatogênica) Vibrio cholerae Giardia lamblia Criptosporidium Disenteria (muco, pus e sangue) [10%] Shigella Campylobacter jejuni Salmonela Escherichia coli (enteroinvasiva, entero-hemorrágica e entero-agregativa) Entamoeba histolitica Diarréias Agudas ROTAVÍRUS Epidemiologia Mais comum em < 2 anos Cerca de 1 milhão de mortes em todo o mundo 80 sorotipos (imunidade cruzada com outros sorotipos) 1ª infecção é a mais grave: VACINAÇÃO Inverno Ciclo oral-fecal Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréias Agudas ROTAVÍRUS Clínica Incubação <48h Febre e vômitos → evacuações frequentes e fezes aquosas Persistem por 5-7 dias Vômitos e febres geralmente cessam no 2º dia Desidratação se instala rapidamente * Enterites virais: ↑permeabilidade para macromoléculas → alergias alimentares Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréias Agudas ROTAVÍRUS Diagnóstico ELISA de amostras fecais (sens. e espec. 90%) Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréia osmótica + Diarréia secretora = Grave Proteína viral NSP4 → ↑ Ca²⁺ intracelular Diarréias Agudas ROTAVÍRUS Esquema Vacinal Duas doses: 1ª dose: 2 meses 2ª dose: 4 meses Simultaneamente com a tetravalente (DTP/Hib) e Sabin Intervalo mínimo de 4 semanas entre as doses Restrições: Diarréia aguda aquosa [90%] 1ª dose 2ª dose Deve ser aplicada aos 2 meses de idade Idade mínima 1 mês e 15 dias de vida (6 semanas) Idade máxima 3 meses e 7 dias de vida (14 semanas) Deve ser aplicadaaos 4 meses de idade Idade mínima 3 meses e 7 dias de vida (14 semanas) Idade máxima 5 meses e 15 dias de vida (24 semanas) Diarréias Agudas BACTÉRIAS E. coli (“diarréias dos viajantes”) Enterotoxigênica Principal causa de diarréia bacteriana no Brasil Transmitido por água e alimentos contaminados Produz uma enterotoxina que secreta ativamente Cl⁻ e H₂0 2 toxinas Enteropatogênica Entra no enterócito → atrofia de microvilosidades →↑Ca+ → ↑secreção Cl- Responsável por surtos epidêmicos em berçários e associada à diarréia persistente Termolábil ↑ AMPc Termoestável ↑ GMPc Diarréia aguda aquosa [90%] Interferem na secreção e absorção de água e eletrólitos Diarréias Agudas BACTÉRIAS V. cholerae Principalmente causado por mariscos e peixes mal cozidos Transmissão fecal-oral Necessário grande inóculo (destruído pela acidez gástrica) Clínica: início súbito, diarréia aquosa profusa, fezes líquidas amarelo-esverdeadas, odor peculiar de peixe, sem muco ou sangue, “água de arroz” (riziformes) Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréias Agudas PARASITAS Giardia lamblia Transmissão fecal-oral (H₂0 ou interpessoal) Incubação 1-2 semanas Clínica: varia de assintomáticos até manifestações de diarréia aguda com distensão abdominal, flatulência e cólica. Pode levar a má-absorção, com perda de peso e esteatorréia. Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréias Agudas PARASITAS Criptosporidium Diarréia autolimitada, volumosa, com cólicas intensas em pacientes imunodeprimidos, podendo causar diarréia persistente em imunocompetentes. Diarréia aguda aquosa [90%] Diarréias Agudas BACTÉRIAS Campylobacter jejuni Principal causa de disenteria os países desenvolvidos Comum a presença de animais domésticos nas casas Clínica: diarréia aquosa leve que por volta do 2º dia evolui para disenteria com tenesmo e cólicas abdominais. Fezes em pequena quantidade, com elevada frequência, associada à eliminação de sangue, muco e pus. Associado à Síndrome de Guillain-Barré (endotoxina semelhante à gangliosídio da mielina), artrite reativa, sem febre, Síndrome de Reiter e eritema nodoso. Disenteria (muco, pus e sangue) [10%] Diarréias Agudas BACTÉRIAS Shigela Principal causa da disenteria (60%) Patogenia bactéria invasiva → úlceras → sangue (submucoso) → leucócitos (muco) Toxina de shiga → Síndrome Hemolítico Urêmica Endotelite → ↑coagulação intravascular IRA (trombo no capilar glomerular) Anemia hemolítica microangiopática Trombocitopenia Clínica semelhante à disenteria por Campylobacter Laboratório: ↑ leucócitos fecais / leucocitose com desvio para esquerda Disenteria (muco, pus e sangue) [10%] Diarréias Agudas BACTÉRIAS E.coli Enteroinvasiva Clínica semelhante à Shigela, porém sem produção de toxina, logo não associada à SHU Desidratação não é tão intensa, mas pode apresentar sinais de hiponatremia Entero-hemorrágica Produz 2 potentes toxinas: Shiga like toxina 1 e Shiga like 2, sendo que o sorotipo mais associado com a SHU é o O157:H7 Transmitida por carne bovina mal cozida e leite não pasteurizado Ausência de febre ou febre baixa Disenteria (muco, pus e sangue) [10%] Diarréias Agudas BACTÉRIAS Salmonela Transmissão: ingestão de produtos de animais contaminados (carne, ovo, leite, ave) Clínica: início abrupto com febre, cólicas e diarréia líquida. Em alguns casos sangue e muco. Algumas crianças podem ter doença intensa, com febre elevada, cefaléia, confusão mental, meningismo e convulsões. 6% bacteremia: pode causar meningite, osteomielite e sepse. Mais comum em lactentes <3 meses e em crianças com resposta imune reduzida e portadores de anemia falciforme Disenteria (muco, pus e sangue) [10%] Nível de Hidratação SemDesidratação Desidratado Grave Condição Alerta Irritado Letárgico Sede Normal Sedenta Incapaz FC / pulso Normal, cheio ↑, débil ↑↑, muitodébil Enchimento capilar <3 seg. 3– 5 seg. >5 seg. Sinal de prega Desaparece rapidamente Desaparecelentamente Desaparece muito lentamente ( > 2 seg.) Olhos Normais Fundos Muitofundos Lágrimas Presentes Ausentes Ausentes Fontanela Normal Deprimida Muito deprimida Mucosas Úmidas Secas Muitosecas 2 ou + sinais DESIDRATADO 2 ou + sinais GRAVE Tratamento Ênfase: controle da desidratação Soluções Glicossalinas Não é capaz de tratar a desidratação Útil para manter o paciente hidratado 1) Soro caseiro 2) Soro reidratante oral (SRO ou OMS) Na⁺ 75mmol/L Cl⁻ 65mmol/L Citrato 10 mmol/L K⁺ 20mmol/L Glicose 75mmol/L Osmolaridade: 245 mmol/L 3 mecanismos para transporte de Na⁺: a) Acoplado a glicose, galactose ou aa com auxílio de transportadores específicos (mantém-se inalterado) b) Através dos canais de íons c) Acoplado ao Cl⁻ (NaCl) Tratamento Desidratado? Diarréia NÃO SIM Grave? Plano A SIM NÃO Plano B Plano C Tratamento Plano A : Criança sem Desidratação Não há necessidade de esquema terapêutica rígido Orientar familiares sobre a evolução natural da doença e o risco de complicações Aumentar a ingestão hídrica (soluções caseiras) Após cada evacuação diarreica: < 1 ano: 50 a 100 mL > 1 ano: 100 a 200 mL Adolescentes (> 10 anos): quantidade que desejar Manter dieta habitual da criança Tratamento Plano B : Criança com Desidratação TRO (em unidade de saúde) Pesar: SRO 50 – 100 ml/kg em 4 – 6 horas Forma de administração (hábito da criança) Alimentação: manter aleitamento materno sinais clínicos Reavaliar frequentemente peso diurese Critério de alta: hidratada (segue com plano A) Tratamento Plano B : Criança com Desidratação Gastróclise: reposição por sonda nasogástrica Volume: 20 – 30 ml/kg/hora Indicações: Dificuldade de ingestão da SRO Vômitos persistentes em TRO (4 a 5x / 1h) Distensão abdominal acentuada, com R.H (+), que não desaparece mesmo após um intervalo maior entre as tomadas Perda de peso após 2h de TRO * Se vômito durante TRO ... ↓ alíquotas / ↑ intervalos Tratamento Plano C : Criança com Desidratação Grave Ringer lactato ou SF 0,9% - 100 ml/kg < 1 ano (6 horas): 30 ml/kg em 1 hora 70 ml/kg em 5 horas > 1 ano (3 horas): 30 ml/kg em 30 minutos 70 ml/kg em 2 horas e meia Reavaliar a criança a cada uma a duas horas TRO tão logo possível: (5 ml/kg/h) quando despertar e com sede Reavaliar após o término na infusão venosa Reclassificar e escolher o plano apropriado Se hidratado...plano A / Se desidratado...plano B / Se grave...plano C Tratamento Antimicrobianos Tem os seguintes objetivos: obter melhora dos sintomas, a diminuição do tempo de doença, prevenir complicações e eliminar a excreção fecal dos agentes. Reservado aos casos de disenteria e que, após reidratação, mantêm comprometido o estado geral, e aos casos graves de cólera. Shigelose(60% casosde disenteria) com comprometimento do estado geral Bactrim Ciprofloxacino Crianças com fator de risco para doença sistêmica porSalmonella Ceftriaxona Ciprofloxacino Suspeita de cólera Tetraciclina Parasitose Metronidazol Tratamento Antieméticos(metoclopramida,clorpromazina) Manifestaçãoextrapiramidal Depressores do SNC Podem dificultar ou impedir a criança de ingerir o soro Antiespasmódicos (elixir paregórico,atropínicos,loperamida,difenoxilato) Inibem operistaltismo, facilitando a proliferação dos germes e assim, o prolongamento da diarréia Podem levar à falsa impressão de melhora Adstringentes (caolin-pectina,carvão) Têm apenas efeito cosmético, ↑ consistência das fezes Mantêm a perda de água e eletrólitos Expoliam Na⁺ e K⁺ Antipiréticos (dipirona) Podem produzir sedação, prejudicando a ingestão do SRO Sacaromicese similares (“Floratil”) Não há evidência de melhora Apenasonera o tratamento Parece ser eficaz na prevenção da diarréia relacionada antibióticos MEDICAMENTOS DESNECESSÁRIOS E CONTRAINDICADOS!!! Tratamento Suplementação de Zinco - OMS (10 – 14 dias) Vantagens ↓ duração e a gravidade ↓ risco de recorrência Dose < 6 meses: 10 mg/dia > 6 meses: 20 mg/dia Tratamento Alimentação na Diarréia Aleitamento materno deve ser mantido e estimulado na reidratação Crianças com aleitamento misto ou artificial devem continuar a receber a dieta habitual após reidratadas Alimentos não devem ser diluídos, mesmo o leite de vaca, para não reduzir o aporte calórico ↑ de 1 ou + refeições ao dia para compensar as perdas e evitar o comprometimento nutricional Não há restrição alimentar à gordura Diarréias Crônicas Não são autolimitadas Tratamentos e etiologias bem diferentes Causas intestinais e extra-intestinais Desde doenças congênitas, desordens disabsortivas, processos inflamatórios e tumorais do intestino até afecções benignas No Brasil, mais prevalentes são: Enteroparasitoses (1ª) Desnutrição protéico-energética primária Alergia à proteína do leite da vaca Doença celíaca Síndrome do Intestino Irritável Diarréias Crônicas Dentro das Enteroparasitoses: Giardia lamblia Strongyloides stercoralis Entamoeba histolytica Schistosoma mansoni Cryptosporidium Isospora belli Tratamento nas Crônicas Específico de cada patologia Controlar a diarréia com o objetivo de ↓espoliação nutricional e as perdas fecais, enquanto não é feito o diagnóstico. Diarréias Crônicas Mecanismos (normalmente associados) Osmótico ↑ gradiente osmótico intraluminal Subs. não-absorvíveis (laxantes), nutrientes parcial ou totalmente não absorvíveis no delgado (lactose) Secretor Med. inflamatórios, toxinas, hormônios intestinais ou catecolaminas estimulam a secreção intracelular de Na+ e H20 para o lúmen (Sistema adenilciclase e guanilciclase) Inflamatório Med. inflamatórios que estimulam a secreção, ↑Phidrostática e ↑permeabilidade com extravasamento de proteínas Motor Distúrbio primário envolvendo a inervação ou musculatura do tubo digestório ou de alterações intraluminais, que secundariamente alteram a motilidade Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Introdução Intolerância permanente induzida pelo glúten (fração protéica do trigo, cevada e centeio) Uma enteropatia mediada por linfócitos T (indivíduos geneticamente predispostos) Trigo Cevada Centeio Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Epidemiologia Doença frequente mas com prevalência ainda incerta. Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Fisiopatologia e Etiologia Multifatorial: fatores ambientais e genéticos Gliadina Glúten Peptídeo que se liga às moléculas HLA-DQ2 Células apresentadoras de antígenos ↑ Proliferação de clones de linfócitos T CD4+ (gliadina específicos) Reação Th1 Reação Th2 Metaloproteinases pelos fibroblastos atrofia vilositária e hiperplasia das criptas da mucosa Maturação diferenciação de plasmócitos anticorpos IgA (contra gliadina, transglutaminase, complexo gliadinatransglutaminase) Desaminação Transglutaminase tissular TNF-alfa Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Clínica Formas: Clássica (típica) Não-clássica (atípica) Assintomática (silenciosa) Clássica (maioria) Má-absorção (sintomas após semanas-meses) Diarréia crônica (volumosa, pálida, gordurosa) Distensão abdominal e perda de peso ↓ tecido celular subcutâneo, atrofia glútea, ↓ apetite e altera humor Vômitos e anemia Pode apresentar-se grave (crise celíaca) Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Clínica Não-clássica Mais tardiamente, manifestações ausentes ou quando presentes são 2º plano Ex: ↓ estatura, anemias, osteoporose, hipoplasia do esmalte dentário, artralgias ou artrites e constipação intestinal refratária ao tratamento Assintomática Alterações sorológicas e histológicas da mucosa do delgado Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Diagnóstico Marcadores sorológicos (3 principais) Anticorpo antiglidina (IgA e IgG) Anticorpo antiendomísio (IgA) Anticorpo antitransglutaminase (IgA) [Recomendável avaliação inicial] * Se (-) suspeitar de Deficiência seletiva de IgA Úteis para verificar quem precisa realizar a biópsia Realizar Biópsia de delgado (cápsula peroral ou pinça por endoscopia) Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA (Estadiamento da Biópsia) Estágio Marsh 0: mucosa normal. Estágio Marsh 1: número aumentado de linfócitos intra-epiteliais, geralmente mais de 20 para cada 100 enterócitos. Estágio Marsh 2: proliferação das criptas de Lieberkuhn + aumento do número de LIE Estágio Marsh 3: atrofia completa ou parcial das vilosidades e hiperplasia de criptas D.C Estágio Marsh 4: hipoplasia da arquitetura do intestino delgado D.C Diarréias Crônicas DOENÇA CELÍACA Tratamento e Prognóstico Dieta sem glúten durante toda a vida Excluir trigo, centeio e cevada Alimentação permitida Arroz, grãos (feijão, lentilha, soja, ervilha, grão-de-bico), óleo, azeite, vegetais Hortaliças, frutas, tubérculos (batata, mandioca, cará, inhame), ovos Carne (bovina, suína, peixes e aves), leite e derivados Glúten pode ser substituído pela farinha do: milho, arroz, batata, mandioca, milhete, quinoa e amaranto) Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Introdução Diarréia Crônica Inespecífica, Funcional ou da criança que começa a andar Epidemiologia Comum no mundo todo, em todas as idades Considerado modelo de distúrbio funcional Na criança abrange normalmente entre 6-36 meses (desmame → introdução de novos alimentos) Prevalência ainda desconhecida (principalmente no Brasil), pela falta de estudos epidemiológicos Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Fisiopatologia Parece ser parte de uma reação contínua a estímulos internos e externos do Sistema Nervoso Entérico e do SNC. Estudos apontam que há ausência ou presença de atividade pós-prandial abortiva, quando aparecia em combinação com atividade de jejum. Periodicidade e a amplitude do CMM estão alterados, há ↑ de contração e, também, duração pós-prandial alterada, com fase III presente. ↓ o tempo de trânsito intestinal e ↑ da chegada ao cólon de sais biliares, nutrientes não-digeridos e não-absorvidos Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Etiologia Alterações como imaturidade em 1 ou vários fatores implicados levariam a diversas anormalidades na motilidade intestinal. No SNE (sistema complexo, milhões de neurônios → dismotilidade) Amadurecimento motor retardado Contribui para a persistência do quadro: Dieta com pouca gordura Ingestão exagerada de sucos contendo determinados carboidratos Ingestão exagerada de líquidos Estrutural Do SNA Na produção de peptídeos intestinais e neurotransmissores Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Clínica Entre 6-36 meses Sintomas persistentes ou recorrentes ↑Frequência de evacuações em relação ao padrão normal para a idade ↓Consistência, clara ou colorida, cheiro forte ou sem cheiro, com restos alimentares, pode conter muco e “areia” (gr. de amido) Não evacua dormindo Criança bem nutrida, saudável e ativa Desenvolvimento, crescimento e ganho de peso são normais Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Diagnóstico Clínico 3 ou + evacuações diárias recorrentes, sem dor, volumosas, sem forma, por mais de 4 semanas, associadas a todas as seguintes características: Início dos sintomas entre 6-36 meses Evacuações nos horários em que a criança está acordada Não há prejuízo nutricional se a ingestão de calorias for adequada * o laboratorial quase sempre é desnecessário ou de valor reduzido Laboratorial Alguns exames em fezes frescas: pH fecal (>5,5), substâncias redutoras (<1+) Pesquisa de glóbulos de gordura (<40 por campo de grande aumento) Leucócitos e hemácias (pequenos números) Sangue oculto (negativo) e parasitológico (sem parasitas) Diarréias Crônicas SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Tratamento Tranquilizar os pais, mostrar a benignidade da síndrome Uso de medicamentos é discutível, podem levar a efeitos colaterais Segundo Kneepkens, normalizar os 4 “F” na alimentação: 1º F: fat (gorduras) (↑) 2º F: fibras (↑) 3º F: fluídos (↓) 4º F: frutas em forma de sucos (↓) * 5º F: fármacos Diarréias Crônicas ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DA VACA Introdução Reação adversa ao componente proteico do leite, envolvendo mecanismo imunológico. Epidemiologia Estima-se que 2-5% da população infantil apresente alergia as proteínas do leite de vaca (APL) comprovada por mecanismo IgE. Fatores de Risco História de atopia familiar (+ uso leite de vaca durante a gestação) Sensibilização por proteínas bovinas veiculadas pela secreção láctea materna Aleitamento misto. Placas de Peyer Apresentação de antígenos Linf. T CD4+ Macrófagos e Linfócitos T reguladores Produção de IgE Diarréias Crônicas ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DA VACA Fisiopatologia Mecanismos de Barreira: Não-imunológicos Acidez gástrica, muco, microflora intestinal, motilidade, enzimas proteolíticas, junções intercelulares firmes. Imunológicos GALT: linfócitos intra-epiteliais e da lâmina própria, placas de Peyer, citocinas e IgA secretória. Diarréias Crônicas ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DA VACA Clínica Reações: podem ser generalizadas ou localizadas no aparelho digestivo ou mais frequentemente com sintomas cutâneos associados (eritema, urticária, eczema) as vezes respiratórios e neurológicos (insônia, irritabilidade) Sintomatologia: 30-60 minutos após a ingestão do LV SINTOMAS CUTÂNEOS Urticária aguda Angiodema Erupção peribucal Choque anafilático Dermatite atópica/de contato DIGESTIVOS Vômitos Diarréia Refluxo gastresofágico Esofagite eosinofílica Proctocolite/Enterocolite RESPIRATÓRIOS Rinite aguda Broncoespasmo Asma Hemossiderose pulmonar Diarréias Crônicas ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DA VACA Diagnóstico História Clínica compatível Testes cutâneos (prick test) Sensibilidade → 50-100%. Indica sensibilização e não alergia alimentar Provocação controlada (padrão ouro) * diagnóstico não deve ser mantido por toda a infância tolerância às proteínas com o decorrer da idade Diarréias Crônicas ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DA VACA Tratamento Aleitamento ao peito, excluir leite de vaca Retirada de alérgenos da alimentação materna (ex: Leite de vaca) Substituir as PLV por de outras espécies, utilizar leite de soja Fórmulas de Substituição Fórmulas a base de leite de soja isentas de lactose Fórmulas a base de leite de soja isentas de lactose Fórmulas semi-elementares Fórmulas semi-elementares FIM
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