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José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 DIARREIA CRÔNICA CONCEITO DIARREIA CRÔNICA: todo processo diarreico com duração superior a 30 dias ou a ocorrência de, pelo menos 3 episódios de diarreia aguda em tempo inferior a 60 dias. DIARREIA PERSISTENTE: um episódio de diarreia aguda que se prolonga por mais de 14 dias, acometendo principalmente lactentes no 1º ano de vida, levando a distúrbios hidroeletrolíticos e comprometimento do estado nutricional. Ela se origina, geralmente, de um processo infeccioso agudo do intestino, provocando alterações anatômicas e um quadro de insuficiência digestiva. FISIOPATOLOGIA O aumento da osmolaridade intraluminal e da motilidade intestinal são as alterações fisiopatológicas presentes em crianças com diarreia. →O mecanismo osmótico ocorre quando a osmolaridade do bolo alimentar ou fecal é superior à do plasma, com consequente aumento do fluxo de água para a luz intestinal. Os processos que levam a esse distúrbio são: • Ingestão de partículas osmoticamente ativas; • Alteração na digestão de alimentos com produção de partículas osmóticas; • Má-absorção de nutrientes com aumento de partículas na luz intestinal; • Alteração no transporte de solutos para o meio interno; • Movimento ativo de íons do plasma para a luz intestinal; • Alteração na absorção ativa de íons. →O aumento primário da motilidade intestinal, com consequente diminuição do tempo do trânsito, está presente em: • Distúrbios funcionais: ex.: Síndrome do intestino irritável e diarreia funcional • Síndrome carcinoide (produção aumentada de serotoninas); • Tumores da suprarrenal (produção de catecolaminas); • Hipertireoidismo. ETIOLOGIA O prolongamento da diarreia na infância é causado por elevado número de doenças. Doenças responsáveis pelo alto número de episódios de processos diarreicos que se prolongam: • Diarreia funcional; • Síndrome do intestino irritável; • Intolerância secundária a carboidratos; • Alergia a proteína alimentar; • Parasitoses intestinais; • Desnutrição proteico-energética • Erro alimentar • Diarreia persistente José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 EXAME CLÍNICO Os principais aspectos que devem ser avaliados na história da moléstia atual (HMA) e exame físico de uma criança com processo diarreico crônico são: 1) INÍCIO DA DIARREIA: a época do início da diarreia deve ser a mais precisa possível. • 1ºano de vida: causas mais frequentes são alergia alimentar e intolerância secundária a carboidratos • Entre 1 e 4 anos: as etiologias mais comuns são parasitoses (principalmente giardíase) e diarreia funcional. Nessa faixa etária também pode ocorrer desnutrição proteico-energética; • Após os 4 anos: intolerância à lactose torna-se a etiologia frequente. 2) HISTÓRIA ALIMENTAR: deve-se investigar a correlação entre a diarreia e o período de amamentação ao seio; a época de introdução de cada alimento; ingestão de nutrientes de alto poder alergênico; os alimentos que mais causam intolerância (cafeína, chocolate, morango, corantes, conservantes); as dietas hiperosmolares; o consumo excessivo de líquidos e carboidratos; e a influência da introdução e da retirada de alimentos sobre o curso da diarreia. 3) FATORES EPIDEMIOLÓGICOS: • Ocorrência de viagens antes do início dos sintomas, que sugere mudanças na microbiota intestinal; • Ingestão de água ou alimentos contaminados; • Contato com águas naturais em zonas endêmicas (ex.: esquistossomose); 4) TRATAMENTO E CIRURGIAS PRÉVIAS: • Ingestão repetida de laxativos • Uso de antimicrobianos (pode alterar a microbiota intestinal, principalmente se usado nas últimas 6 a 8 semanas); • Remoção da válvula ileocecal (relacionado a diarreia por supercrescimento bacteriano do intestino delgado); • Ressecção intestinal ocasiona síndrome do intestino curto 5) SÍNDROME INFLAMATÓRIA: 6) CARACTERÍSTICAS DAS EVACUAÇÕES: pelas características das evacuações, pode-se ter orientação do segmento intestinal mais afetado: • Intestino delgado: frequência evacuatória é baixa (1 a 5 vezes ao dia). -A dor abdominal, quando presente, atinge o mesogástrio e o flanco direito -Ocorre, geralmente, distensão abdominal e não há tenesmo; - Fezes volumosas, de cor clara e odor desagradável, contém alimentos maldigeridos e não apresentam muco, pus ou sangue. • Intestino grosso: frequência evacuatória elevada (mais de 10 vezes). - Dor abdominal, se presente, atinge o flanco esquerdo, fossa ilíaca e o hipogástrio - Não há distensão do abdome e frequentemente há tenesmo; - Volume fecal diminuído, cor escura, sem odor ou com odor pútrido, sem alimentos maldigeridos e pode apresentar muco, pus ou sangue. 7) CONDIÇÕES ASSOCIADAS: • Passado de infecções graves e frequentes (imunodeficiência); • Consanguinidade (doenças genéticas); • História familiar de atopia – alergia alimentar • Dor abdominal (parasitoses, síndrome do intestino irritável, neoplasias e isquemia mesentérica. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 8) CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO: A avaliação nutricional considerando peso, estatura, prega cutânea e perímetro cefálico deve ser realizada. Informa a repercussão da doença sobre o organismo, principalmente quando há má-absorção intestinal. 9) ALTERAÇÕES DO APARELHO DIGESTÓRIO: • Úlceras aftosas na boca, associadas a doença inflamatória intestinal e alergia alimentar; • Distensão abdominal: má-absorção de carboidratos e giardíase; • Lesões perianais • Tônus e contratilidade do esfíncter anal alterados, avaliados pelo toque retal, com consequente escape fecal, sugestivos de acometimento muscular ou neurológico; • Sangramento intestinal, detectado na alergia alimentar, em algumas parasitoses, nas doenças inflamatórias intestinais. • Alterações cutâneas: exantemas, urticárias, comuns na alergia alimentar • Dermatite perianal associada a distensão abdominal e eliminação de fezes explosivas: indica alteração na absorção de carboidratos, principalmente da lactose frequente em na diarreia persistente. 10) SINAIS EXTRAINTESTINAIS: Os principais sinais extraintestinais que devem ser pesquisados são: • Estado de hidratação • Estado nutricional • Toxemia, sugestivo de infecção • Anemia, comum na alergia alimentar • Sinais respiratórios (sibilos, rinite, hemoptise): relacionados à alergia alimentar 11) HISTÓRIA SEXUAL: Atividade sexual sem proteção é fator de risco para infecção por HIV e, consequentemente, para causas infecciosas do processo diarreico associado à síndrome de imunodeficiência adquirida. EXAMES COMPLEMENTARES COPROLÓGICOS • Exame parasitológico de fezes • Dosagem de gordura fecal: verificar esteatorreia • Pesquisa de gordura fecal: glóbulos grandes e numerosos de gordura por amostra sugerem má-absorção lipídica; • Pesquisa de substâncias redutoras nas fezes: auxilia no diagnóstico de má-absorção de carboidratos; • Pesquisa de sangue oculto nas fezes: indicado nos casos que cursam com anemia. Teste positivo indica doença inflamatória intestinal, neoplasias ou alergia alimentar; • Pesquisa de leucócitos nas fezes: leucócitos nas fezes indica processo diarreico inflamatório • PH fecal: pH<5,3 indica má-absorção de carboidratos; • Dosagem de eletrólitos nas fezes: Na diarreia secretória a concentração de eletrólitos, principalmente sódio (>80 mEq/L), está elevada • Osmolalidade fecal: Baixa osmolalidade (<290) indicam contaminação das fezes com água ou urina diluída. Valores elevados (>290) indicam componente secretório na produção da diarreia. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 BIOQUÍMICOS • Teste respiratório para má-absorção de carboidratos • Teste de sobrecarga de açucares • Dosagem de D + xilose • Avaliação da funçãopancreática • Dosagem de cloreto no suo BIÓPSIAS E ENDOSCOPIAS • Biópsia jejunal • Retossigmoidoscopia e colonoscopia • Endoscopia digestiva alta HEMATOLÓGICOS • Hemograma: parâmetros observados: anemia (presente em processos diarreicos que causam má-absorção); eosinofilia (parasitoses intestinais e alergia alimentar); neutrofilia (doenças com componente bacteriano); • Velocidade de hemossedimentação e proteína C reativa • Anticorpos para HIV • Dosagens quantitativas e qualitativas de imunoglobulinas MICROBIOLÓGICOS • Cultura do Aspirado Intestinal • Coproculturas IMAGEM • Trânsito intestinal com contraste de bário • Angiografia mesentérica • Estudos ultrassonográficos • Tomografia computadorizada DIAGNÓSTICO Muitas vezes só história clínica e exame físico são suficientes, como: no erro alimentar, na alergia e intolerância a nutrientes, desnutrição proteico-energética, na diarreia funcional, síndrome do intestino irritável e na diarreia persistente. Entretanto, em outros casos, exames complementares são necessários. A biopsia jejunal está alterada na doença celíaca e alergia alimentar. O teste do H2 expirado elucida má-absorção de açúcares e crescimento bacteriano no delgado. Confirma-se suspeita de erro alimentar se ocorrer interrupção do processo diarreico com a retirada da dieta de substâncias como sorbitol, lactose, sacarose, glicose, corantes ou conservantes. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 TRATAMENTO As doenças que causam diarreia serão tratadas de maneira específica. Entretanto, existem condutas comuns que devem ser aplicadas em todos os pacientes: • Determinar e tratar déficit de ferro, cálcio, magnésio, fósforo, oligoelementos e vitaminas; • Oferecer à criança dieta que promove constipação, para reduzir as perdas fecais durante a propedêutica; • Tratar possíveis atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor; • Diagnosticar e tratar os distúrbios emocionais da criança e da família, decorrentes de uma enfermidade crônica. PRINCIPAIS DOENÇAS CAUSADORAS DE DIARREIA QUE SE PROLONGA DIARREIA FUNCIONAL • 3 ou mais episódios de evacuações diárias, não dolorosas, de fezes volumosas e não formadas em período superior a 4 semanas. • As dejeções são feitas enquanto o paciente está acordado. • Início do processo entre 6 e 36 meses • Não há comprometimento do estado nutricional. • Sintomas se resolvem espontaneamente em idade escolar. • Devem ser excluídos: infecção intestinal ou do trato urinário, uso de laxantes ou antibióticos. • Na história dietética devem ser pesquisados: superalimentação, consumo excessivo de sucos de frutas ou sorbitol, ingestão de muito carboidrato e pouco lipídio, além de alérgenos. TRATAMENTO: evitar dieta restritiva que induz a privação calórica. Os pais devem ser bem orientados quanto à benignidade do quadro e que não há participação do alimento na etiologia da doença. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL • É um distúrbio gastrointestinal funcional, portanto, não há alterações anatômicas ou bioquímicas. • Acomete crianças maiores/adolescentes. • Predomínio de diarreia ou constipação, com padrões variáveis de defecação. DIAGNÓSTICO: clínico, baseado em sinais e sintomas, e uma história bem detalhada de dor ou desconforto abdominal, que ocorreu em pelo menos 12 semanas (não necessariamente consecutiva), nos 12 meses anteriores e veio acompanhada de 2/3 das características: melhora com a defecação, início associado a mudanças da frequência das evacuações, início associado a mudanças nas características físicas das fezes. • Estado nutricional e crescimento não são afetados. • HF de colite inespecífica, constipação e distúrbios funcionais do AD é comum à suspeita de fatores psicológicos, individuas e familiares envolvidos na patogênese. EXAMES COMPLEMENTARES: não estão indicados em quadro clinico característico, mas é importante descartar: parasitoses, doenças inflamatórias, infecções bacterianas, intolerância a lactose, doença celíaca, etc. Ficar atento aos sinais de doença orgânica, como: dor ou diarreia que interrompem o sono, sangue nas fezes, atraso no crescimento, febre, erupções na pele, edema, etc. TRATAMENTO: lembrar aos pais da autenticidade da dor, explicar o que é doença funcional, falar sobre fatores comportamentais e ensinar técnicas que possam diminuir a intensidade da dor. • Alguns pacientes apresentam melhora com óleo de hortelã-pimenta em capsulas de liberação entérica. Em pacientes com predomínio de diarreia: antiperistálticos podem ser benéficos. • Pacientes com constipação: uso de procinéticos e fibras. • Consumo de carboidratos em excesso deve ser evitado (gera gases ao ser fermentado) e as crianças devem comer pausadamente e manter dieta mesmo nas crises. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 INTOLERÂNCIA SECUNDÁRIA A CARBOIDRATOS Mais comum em lactentes jovens e em desnutridos. Há agressão da mucosa jejunal com diminuição da atividade das dissacaridases, principalmente a das lactase e sacarase. O açúcar ingerido e não hidrolisado pelas enzimas intestinais é metabolizado no cólon por bactérias em monossacarídeos, ácidos orgânicos, H2 e CO2. Ocorre aumento do fluxo de água e secreção hidroeletrolítica pelo efeito dos ácidos para a luz intestinal. A frequência de evacuações é alta, fezes liquefeitas, com odor acre, eliminadas de maneira explosiva e podem ser espumosas. SINTOMAS: cólica, distensão abdominal por acúmulo de gases e geralmente, eritema perianal. Eles desaparecem quando se retira da dieta o açúcar mal tolerado. COMPROVAÇÃO DIAGNÓSTICA: pesquisa de substancia redutora nas fezes ou pela utilização do teste de hidrogênio expirado. TRATAMENTO: exclusão temporária do açúcar suspeito da dieta. A tolerância é restabelecida em dias ou semanas, quando a estrutura e funções da mucosa intestinal retornam ao normal. Obs: após os 4 anos, ocorre diminuição espontânea da atividade da lactase e muitas crianças tornam-se intolerantes a esse açúcar. A incidência varia entre etnias e populações. No nosso meio: 30% dos indivíduos após 6 anos, não toleram lactose. ALERGIA A PROTEÍNAS ALIMENTARES Comum em lactentes jovens. Acomete até 7% das crianças. A alergia a proteína do leite bovino é a mais frequente e por isso a mais estudada. ALERGIA PRIMÁRIA Acomete as crianças desde o nascimento, quadro clínico se inicia nos primeiros 12 meses de vida. É mais comum em filhos de pais também alérgicos. Estão presentes reações de hipersensibilidade do tipo I, III e IV (em forma isolada ou associada). Ocorrem manifestações clínicas do tubo digestivo, vias respiratórias e/ou pele. No aparelho digestório as reações podem se iniciar em até 30 dias após ingestão do alérgeno. São comuns: diarreia aguda, colite com ou sem sangramento, vômitos, cólicas, dor abdominal recorrente, asma brônquica e dermatite atópica. Nas manifestações crônicas: mais frequente é diarreia aquosa de início insidiosa, mas pode apresentar também colite crônica (com ou sem sangramento), síndrome da má-absorção intestinal, anemia, emagrecimento, irritabilidade, asma de repetição, refluxo gastroesofágico, dermatite. DIAGNOSTICO: teste desafio (retira-se a proteína agressora da dieta e quando houver melhora clínica faz-se a reintrodução. O aparecimento dos sintomas em até 30 dias confirma o diagnóstico.). TRATAMENTO: retirada da proteína agressora da dieta. Quanto mais precoce o início da doença, por mais tempo a criança permanecerá intolerante. A maioria dos pacientes volta a tolerar o leite com até 2 anos de exclusão (em alguns isso ocorre após os 5 anos). José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 ALERGIA SECUNDÁRIA À PROTEÍNA DO LEITE BOVINO Provavelmente é desencadeada pela absorção de macromoléculas por uma mucosa intestinal que se tornou pouco seletiva, geralmente por uma inflamação ou lesão gerado por quadro infeccioso.DIAGNÓSTICO: teste do desafio. TRATAMENTO: retirada da proteína agressora. A tolerância a proteína agressora é restabelecida com a normalização da mucosa intestinal. Opções de substituição 1. Leite materno 2. Formulas com proteína de soja 3. Hidrolisados proteicos de caseína, lactoalbumina ou soja. 4. Sensibilidade extrema: formulas quem contém aminoácidos, triglicérides de cadeia média e glicose. 5. Famílias de baixo poder econômico: fórmula cuja proteína é a carne de frango. Nesses casos tem que fazer complementação de cálcio e ir acrescentando legumes e verduras à alimentação (assim que for possível), além de iniciar polivitamínicos e ferruginosos para suprir a deficiência da dieta. PARASITOSES INTESTINAIS As parasitoses podem levar a diarreia intermitente, a giardíase é a causa mais comum. Lactentes menores: diarreia inespecífica, fezes liquefeitas, amarelo-esverdeadas. Infecções maciças (principalmente em crianças maiores): má-absorção, com fezes volumosas amarelo-palha e com alimentos mal digeridos. EF: distensão do abdome. Outros parasitos também podem levar a esse quadro. Diarreia colônica: contém muco, eliminadas com grande frequência me pequenas quantidades, pode haver sangue e é frequente o tenesmo evacuatório. DESNUTRIÇÃO PROTEICO-ENERGÉTICA PRIMÁRIA A diarreia nesses casos pode estar ligada a: hipocloridria, supercrescimento bacteriano do intestino delgado, lesões tróficas da mucosa, deficiência de dissacarídeos, alergia a proteínas alimentares, insuficiência pancreática e déficit imunológico, além da frequente associação de parasitoses e infecções intestinais. A diarreia não apresenta características especiais. DIAGNÓSTICO investiga-se parasitoses e infecções, além de outros mecanismos fisiopatológicos. TRATAMENTO: realimentação lenta e gradativa, utilizando alimentos em pequenos volumes. Há possibilidade de haver intolerância a lactose e as proteínas do leite bovino, portanto deve-se adequar a dieta a esses casos. Em alguns casos é necessário utilizar enzimas pancreáticas por algumas semanas e nos quadros em que não há melhora clínica, suspeitar de supercrescimento bacteriano. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 ERROS ALIMENTARES Afeta principalmente lactentes. Oferta de dietas hiperosmolares, formulas lácteas concentradas, sucos ou doces com alto teor de sorbitol, ingestão excessiva de sucos e doces ricos em carboidratos, principalmente monossacarídeos e dissacarídeos. Deve-se atentar para a história alimentar para fazer correção dietética. DOENÇA CELÍACA É uma enteropatia do intestino delgado proximal associada a permanente intolerância ao glúten. Alterações histopatológicas se fazem presentes, como: atrofia das vilosidades, hipertrofia das criptas, aumento da celularidade da lâmina própria e de linfócitos intraepiteliais. Há relação do início dos sintomas com a ingestão do glúten, com um período de latência de, em média, 3 meses. SINTOMAS: fezes volumosas, amarelo-palha, com alimentos mal digeridos, evacuando de 1 até 5x ao dia. Apetite em geral diminui, instala-se quadro de progressiva desnutrição. Criança está irritada, é dependente, chora fácil. Apresenta-se desnutrida, pálida, edema de membros inferiores, abdome globoso e flácido, submaciço à percussão. Musculatura de membros e glúteo se torna hipotrófica. Há involução do Desenvolvimento neuropsicomotor. SUSPEITA DIAGNÓSTICA é feita pela clínica e presença de anticorpos antigliadina, antiendomísio e/ou antitransgutaminase tecidual elevados. O DIAGNÓSTICO é confirmado pela biopsia jejunal. TRATAMENTO: dieta sem glúten pelo resto da vida. FIBROSE CÍSTICA A diarreia ocorre devido a insuficiência exócrina do pâncreas. Há má digestão de alimentos, principalmente lipídeos, com consequente esteatorreia. Pode haver quadro de hipoproteinemia, deficiência de vitaminas, coletasse, e equivalente do íleo meconial. DIAGNÓSTICO é confirmado pelo aumento de sódio e cloro no suor. A gordura fecal está muito aumentada e a biopsia jejunal encontra-se normal. TRATAMENTO DIETÉTICO: uso de enzimas pancreáticas em doses que levem a remissão dos sintomas. Também se recomenda uso de triglicerídeos de cadeia média na dieta e a ingestão diária de vitaminas lipossolúveis em doses 2x mais que as necessidades normais. DIARREIA PERSISTENTE Aproximadamente 2 a 3% dos casos de diarreia aguda evoluem por tempo superior a 2 semanas. Principais fatores relacionados à má-nutrição da diarreia: má-absorção de açúcares (principalmente lactose), desenvolvimento de alergia à proteína na dieta, supercrescimento bacteriano do ID, redução do pool de sais biliares e disfunção da válvula ileocecal. EXAME FÍSICO: comprometimento do estado nutricional. José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 CONCEITUAÇÃO DA DIARREIA PERSISTENTE: Forma leve: diarreia pode ser intermitente, perdas hidroeletrolíticas não significativas, pouca repercussão sobre estado nutricional, mas existe incapacidade de ganhar peso e o valor de albumina sérica está normal. Boa parte das vezes existe má-absorção de lactose e pode haver alergia a proteína do leite de vaca. Forma moderada: maior frequência evacuatória, instabilidade hidroeletrolítica, sinais clínicos evidentes de perda de peso e pode haver diminuição da albumina sérica. Forma grave: Também chamada de diarreia protraída, tem perdas intestinas importantes, instabilidade hidroeletrolítica e agravamento significativo do estado nutricional. Também pode haver: baixos níveis de albumina, anemia e possíveis alterações tróficas da pele. É frequente o aparecimento de infecção sistêmica (principal causa de morte). EXAMES ÚTEIS: verificação visual das fezes (coloração, consistência, cheiro, presença de sangue, pus, restos alimentares, parasitos); avaliação do pH, cujo valor abaixo de 6 e presenta de corpos redutores acima de 0,5g% caracterizam intolerância aos açucares da dieta. Má-absorção de lactose pode ser detectada com a utilização do Clinitest. Exame microscópico de fezes sem coloração: pode identificar piócitos, cistos, trofozoitos e parasitos. Coprocultura tem valor restrito e não é boa para identificar patógeno. Exames como hemograma, dosagem sérica de proteínas, sódio, cloro, potássio, fosforo, cálcio, ureia e creatinina podem ser necessários. Nos casos de má-evolução: avalia-se a absorção de D-xilose, gordura fecal, hidrogênio expirado. A necessidade desses exames indica a internação para fazer o correto diagnóstico das causas menos comuns. OBS: Deve-se tomar cuidado com os exames de urina, devido dificuldades de colheita (própria diarreia e dermatite da área genital). José Eduardo Palacio Soares – Bloco Síndromes Pediátricas I – GT3 TRATAMENTO: manutenção do estado de hidratação e adequada terapia nutricional. Hidratação: TRO é eficaz nos casos leves, nas formas graves deve-se avaliar a utilização inicial da via intravenosa. Dieta: Inicialmente é indicado dieta com baixo teor de lactose (pode-se utilizar formulas modulares praticamente sem lactose, que tem como fonte de carboidratos a dextrino-maltose e como fonte proteica as proteínas do leite de vaca). • Leite humano pode ser testado, pois é especifico e possui fatores de defesa que interferem na imunidade local, mas ele deve ser obtido de bancos de leite para diminuir o risco de infecções e além disso, seu uso não dispensa o acompanhamento adequado. • Substituição do leite de vaca: substituir por produtos lácteos fermentados (porque a lactose é parcialmente hidrolisada) ou uso de formula a base da proteína de soja (cuja fonte de carboidrato é sacarose ou dextrinomaltose). • Lactentes que recebiam sopas e frutas: mantê-los sem dieta láctea por um dia e dependendo do prolongamento dessa dieta, fazer suplementação adequada com cálcio. Obs: Casos de intolerância a lactose: recuperação da atividade da lactase se faz em 1 a 4 semanas, após 10-14 diasjá se pode tentar reintroduzir o açúcar. • Fórmulas a base de soja apresentam limitação devido a hipersensibilidade em até 50% dos casos. • A fórmula a base da carne de frango apresenta grande risco de contaminação e não deve ser utilizada sem acréscimo adequado de cálcio, oligoelementos e vitaminas. • Em alguns casos: utilização de fórmulas semielementares, que apresentam em sua composição nutrientes previamente digeridos. Mas o sabor dessa dieta não é agradável e é um produto de custo elevado, não acessível para baixa renda. Obs: Nos casos em que o volume de dieta aceito não é satisfatório pode haver uso de sonda nasogástrica. Obs: Lembrar que: ganho de peso é lento, principalmente nas formas graves e o controle do paciente deve ser diário. Se não houver melhora pode ser indicado internação. A maioria dos pacientes tolera o leite de vaca após 2 a 3 semanas de tratamento adequado, principalmente se a alergia for secundária, pois após a recuperação morfológica e funcional da mucosa gástrica, volta-se a tolerância, uma vez que a imunidade local do intestino não tem memória. Na alergia primária, desenvolve-se imunidade sistêmica e a intolerância se faz por mais tempo, sendo necessária a exclusão da dieta por período superior a um ano. Após reintrodução do leite de vaca a criança deve ser acompanhada por no mínimo 30 dias a fim de diagnosticar manifestações de sensibilidade tardia. MEDICAMENTOS • Uso rotineiro de medicamentos: não tem eficácia. • Diarreia com sangue e pus: provável infecção por Shigella. É indicado o uso de sulfatrimetoprim ou ácido nalidíxico por cinco dias. • Drogas antidiarreicas não tem valor comprovado no tratamento e podem onerar o tratamento e aumentar o risco de efeitos colaterais. • Uso de probióticos: pode ser indicado nos casos suspeitos de associação do uso de antibióticos. • Uso de zinco: indicado em todos os casos de diarreia persistente. Zinco está envolvido na síntese proteica, sendo importante na renovação celular intestinal.
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