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Vida e Obra de Sigmund Freud e sua relação com o surgimento da Psicanálise

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1 Graduanda do Curso de Bacharel em Psicologia na Universidade Presidente Antônio Carlos - Teófilo Otoni/MG 
Vida e obra de Sigmund Freud e sua relação com o 
surgimento da Psicanálise 
Bárbara Kelly de Oliveira Pessoa
1 
RESUMO 
O presente artigo visa apresentar um breve relato sobre a vida de Sigmund Freud e sua 
relação com a origem da Psicanálise enfatizando alguns pontos importantes na 
elaboração dessa grande força que se formou baseada no dedicado estudo de sua 
autoanálise, das observações feitas mediante o atendimento a ocorrências neuróticas de 
pacientes diagnosticados com histeria e sugestões clínicas de uma paciente que, através 
do pedido de fala ininterrupta, apresentou um dos métodos mais importantes da teoria, a 
associação livre. 
Palavras-Chave: Psicanálise; Freud; Autoanálise; Histeria. 
ABSTRACT 
This article aims to present a brief account of the life of Sigmund Freud and its relation 
to the origin of Psychoanalysis emphasizing some important points in the elaboration of 
this great force that was formed based on the dedicated study of its self - observations 
made through the attendance to neurotic occurrences of patients diagnosed with hysteria 
and clinical suggestions of a patient who, through the request of uninterrupted speech, 
presented one of the most important methods of the theory, the free association. 
 
Keywords: Psychoanalysis; Freud; Self Analysis; Hysteria. 
 
 
 
Em meio a um período de eventos recorrentes entre os séculos XVIII e XIX, Sigmund 
Freud, um médico vienense recém-formado, fez uma descoberta que mudou a história 
da ciência e, radicalmente, a visão sobre a vida psíquica de um indivíduo. 
Dedicado à investigação sistemática acerca dos relatos expostos por pacientes taxados 
como histéricos e sua relação com o psiquismo, acabou por concluir que os sintomas 
apresentados eram, na verdade, sentimentos reprimidos que mantinham uma ligação 
com o passado e com pessoas influentes a isso. 
Freud desenvolveu “um conjunto de métodos destinados a investigar experiências 
emocionais passadas, de maneira que possam determinar seu papel na atual vida mental 
do paciente e assim dar orientações para medidas psicoterápicas” (AURÉLIO, 2000). A 
Psicanálise. 
 
Tal conjunto foi desenvolvido com base nas observações feitas ao decorrer de alguns 
atendimentos prestados por Freud a doentes acometidos por “problemas nervosos”, 
havendo também uma ligação com uma autoanálise das próprias experiências vividas. 
Foram escritos inúmeros artigos e volumes que descreviam suas ideias e descobertas, 
enfrentando certas resistências. Segundo Mariguela (2014), “em 1933 a teoria freudiana 
começou a ser banida do vocabulário da psiquiatria e da psicologia alemã: a psicanalise 
foi denominada ‘ciência judaica’. [...] Os livros escritos por Freud, por serem 
considerados heresia e afronta à raça ariana, foram queimados em praça publica por 
jovens nazistas”. 
Em 23 de setembro de 1939, Freud veio a falecer aos 83 anos, exilado em Londres, ao 
que estudiosos acreditam ter sido em decorrência a uma overdose de morfina, já que, ele 
fora acometido de câncer na boca e mandíbula, sofrendo dores contínuas e terríveis. 
QUEM FOI SIGMUND FREUD? 
Nascido aos 6 de maio de 1856, na cidade de Freiberg, Morávia, Sigmund Freud foi um 
psiquiatra austríaco que fundou a ciência da psicanálise, tendo desenvolvido técnicas 
psicanalíticas que rompiam as barreiras da resistência e davam acesso ao inconsciente 
do indivíduo a ser analisado. 
Filho de Jacob e Amalia Freud, seu nome de nascimento era na verdade, Sigismund 
Schlomo, contudo, “jamais usou “Schlomo”, nome do seu avô paterno, e, durante os 
seus estudos na Universidade de Viena, mudou ‘Sigismund’ para ‘Sigmund’” 
(NICHOLI, 2005). 
Ao decorrer dos primeiros dois anos e meio de sua vida, Freud esteve aos cuidados de 
uma ama-seca, católica romana devota, que carregava o menino para a igreja da qual, 
após retornar, “pregava e contava à família acerca dos feitos do Altíssimo”. 
Freud via na ama-seca uma mãe substituta, dotando de uma forte afeição à mesma. Em 
uma carta enviada à Wilhelm Fliess, especialista com quem desenvolveu estreita 
amizade por anos, ele declarava que seu ‘progenitor primário’ foi uma mulher feia, 
bastante velha, mas inteligente, que lhe falou sobre o Deus Altíssimo e sobre o inferno e 
o incutiu uma opinião elevada sobre as suas próprias capacidades. 
Com menos de dois anos de idade, Freud perdeu seu irmão mais novo, Julius. Poucos 
meses depois, a “velha mulher” a qual amava, deixou o lar repentinamente após ser 
acusada de roubo. Ocorrência esta que, segundo estudiosos, explicam o antagonismo de 
Freud em relação à visão de mundo espiritual. Para eles, o abandono da governanta em 
um momento de dor traz a ideia de desamparo. O próprio Freud reconhecia que 
“Se a mulher desapareceu de repente... isso deve ter deixado 
alguma impressão dentro de mim. Onde estará essa impressão 
agora? (...) Emergindo pelos últimos vinte e nove anos na minha 
memória consciente... eu estava chorando até esgotar as lágrimas... 
 
não conseguia achar a minha mãe... temia que ela houvesse 
desaparecido, como a minha babá pouco tempo antes.” (Bonaparte 
et al. The Origins of PsychoAnalysis, p. 222-223)
 
Quando era levado às missas pela governanta, o menino observava os fiéis ajoelharem-
se, orar e fazer o sinal da cruz, causando impressões que se armazenaram em sua mente 
ao longo da primeira infância e que, em fase adulta, se converteram ao que ele chamava 
de “neurose obsessiva universal”. 
Em melhor compreensão, Freud mantinha uma forte relação com alguém que o expunha 
às práticas constituintes da maior parte de sua primeira infância. De repente, esse 
alguém que lhe trazia segurança e direção em meio a sua fragilidade infantil, 
desaparece, deixando um vazio que acarretou em demais sentimentos contrários aos que 
antes sentia. 
A raiva e o aborrecimento causados pela partida da “velha mulher” e de tudo o que ela 
lhe proporcionava seriam então a resposta a esse sentimento aversivo obtido em relação 
à visão de mundo espiritual e à sua aderência ao ateísmo. 
Em 1873, aos dezessete anos, iniciou seus estudos na Faculdade de Medicina na 
Universidade de Viena, concluindo em 1881, cumprindo três anos a mais do que era 
imposto. 
Durante esse tempo, em contato com a linha fisicalista da fisiologia, através do Dr. 
Ernst Brucke, seu principal modelo de ciência, Freud se dedicou ao estudo da anatomia 
e da histologia do cérebro humano, identificando várias semelhanças entre a estrutura 
cerebral humana e a de répteis. Seu desejo era de aprofundar no conhecimento sobre 
neurologia, mas, por motivos maiores, acabou tendo que mudar o percurso. 
“O momento decisivo ocorreu em 1882 quando meu professor, por 
quem sentia a mais alta estima, corrigiu a imprevidência generosa 
de meu pai aconselhando-me vivamente, em vista de minha 
precária situação financeira, a abandonar minha carreira teórica” 
(1935, livro 25, p. 18 na ed. Bras.) 
Freud “começou a trabalhar como cirurgião, depois, em clinica geral, tornou-se medico 
interno do principal hospital de Viena. Fez um curso de Psiquiatria, o que aumentou seu 
interesse pelas relações entre sintomas mentais e distúrbios físicos” (FADIMAN E 
FRAGER, 1986). 
Durante três anos fez algumas pesquisas com cocaína, fazendo uso das mesmas e 
descobrindo possíveis utilidades para o tratamento de distúrbios tanto físicos quanto 
mentais. Em pouco tempo, depois de algumas desilusões com o estudo dos efeitos 
terapêuticos, acabou tornando-se apreensivo e interrompeu a pesquisa. Após isso, com o
apoio de Brucke, Freud recebeu uma licença e seguiu para a França,onde começou a 
trabalhar com Jean-Martin Charcot no estudo sobre a histeria. 
 
 
O SURGIMENTO DA PSICANÁLISE 
Através do médico psiquiatra Sigmund Freud, a Psicanálise surgiu em 1890, em meio 
ao tratamento de pacientes com problemas nervosos, dos quais alcançou-se a ideia de 
que a origem dos conflitos enfrentados pelos mesmos se dava pela repreensão a desejos 
inconscientes e fantasias sexuais. 
Durante a virada do século XVIII para o século XIX, um surto histérico trouxe alarde 
em meio a sociedade burguesa, visto que constantemente apareciam mulheres com 
sintomas incoerentes mediante a análise anatomopatológica. Casos de cefaleia, surdez, 
cegueira, além de paralisia de membros não possuíam gênese orgânica que as 
justificassem colocando em xeque a capacidade explicativa da medicina que, não dando 
o braço a torcer, passou a caracterizar eventos de histeria como “pitis”, ou seja, formas 
criadas pelas donas-de-casa para “chamar a atenção”, alcançando, inclusive, certo 
preconceito da parte de inúmeros médicos que chegavam recusar oferecer algum 
tratamento. 
Por outro lado, no Hospital Parisiense Salpêtrière, Jean-Martin Charcot, um médico 
psiquiatra e neurologista começou a realizar inúmeras pesquisas sobre esta neurose que 
invadia o século. 
Charcot passou a observar e a procurar compreender as leis da histeria utilizando o 
método hipnótico como recurso de tratamento em busca de causas biológicas que 
explicassem o problema. Ação esta que fora desacreditada por seus contemporâneos, 
mas que veio a chamar a atenção de Freud. 
“No surto (histérico) tudo se desenrola de acordo com as regras, 
que são sempre as mesmas; válidas para todos os países, todas as 
épocas, todas as raças e, em resumo, universais”. (Charcot, 1882 
appud COLLIN, 2012, p. 30) 
No final do século XIX, Sigmund Freud era um recém-formado médico neurologista 
cuja pretensão era investir na carreira acadêmica realizando pesquisas neurológicas. 
Porém, suas condições financeiras não favoreciam, conduzindo-o a também optar por 
atuações clinicas, a principio, de pacientes indicados por seu amigo médico e 
fisiologista austríaco Josef Breuer que, em sua forma terapêutica, utilizava a hipnose 
conduzindo seu paciente a sair de seu estado de vigília, contudo conservando a 
capacidade de se conscientizar de determinadas representações e lembranças das quais 
não conseguia se lembrar quando desperto. Método tal qual aplicado pelo médico 
francês Jean-Martin Charcot. 
“Começou, então, a clinicar, atendendo pessoas acometidas de 
‘problemas nervosos’. Obteve, ao final da residência médica, uma 
bolsa de estudo para Paris, onde trabalhou com Jean Charcot, 
psiquiatra francês que tratava as histerias com hipnose. Em 1886, 
2 Descarga emocional pela qual um indivíduo se liberta do afeto que acompanha a recordação de um acontecimento traumático. 
3 Liberação de pensamentos, ideias, etc, que estavam reprimidos no inconsciente, seguindo-se alivio emocional. 
4 Alteração da consciência que se caracteriza pela diminuição da senso percepção, lentidão da compreensão e da elaboração das 
impressões sensoriais. 
retornou a Viena e voltou a clinicar, e seu principal instrumento de 
trabalho na eliminação dos sintomas dos distúrbios nervosos 
passou a ser a sugestão hipnótica”. (BOCK et al., 1999, pp. 70-71) 
Durante o estágio hipnótico, o doente se apresentava numa espécie de estado 
sonambúlico onde o médico dizia que ele não possuía o sintoma do qual se queixava, 
vindo a não mais se queixar deste após se restabelecer da hipnose. Tal fato trazia a 
concepção de que os sintomas histéricos derivavam de “ideias dominantes” que 
“possuíam” o espírito do doente. Nesse caso, o médico agia de forma a trazer novas 
percepções que suplantassem o poder das anteriores de forma a neutralizar o efeito das 
mesmas. 
Com o tempo, tanto Freud quanto Breuer, perceberam que seus pacientes 
constantemente referenciavam acontecimentos de seu passado durante o estado 
hipnótico, sendo comum a eliminação dos sintomas histéricos após isso sem qualquer 
interferência médica. Ambos elaboraram, então, a teoria da “ab-reação2” e com ela uma 
nova concepção dos sintomas, acreditando que essa seria fruto de algum trauma do qual 
o paciente não teria reagido adequadamente, ou seja, “a energia psíquica acumulada em 
função dessa reação mal sucedida seria canalizada na forma de sintomas” (NÁPOLI, 
2011). 
Dessa maneira, o doente teria a oportunidade de acessar novamente as lembranças 
vinculadas ao evento traumático e liberar uma descarga emocional que o permitiria se 
libertar desse antigo choque que não pudera chegar a uma reação satisfatória, em outras 
palavras, sugere que um evento mal resolvido seja solucionado satisfatoriamente por 
meio da “cartase
3
”. 
Para Freud, as memórias ocultas ou reprimidas na quais se baseavam os sintomas de 
histeria eram sempre de natureza sexual. Breuer não concordava com essa hipótese e 
mesmo a considerava uma mera interpretação. 
Além disso, nas observações freudianas, alguns pacientes não conseguiam se recordar 
de determinados momentos traumáticos ou mesmo de algo que se relacionasse a isso, 
chegando à conclusão de que “existia um sujeito que decide que quer esquecer 
determinados fatos ou pensamentos de sua vida” (NÁPOLI, 2011) não se lembrando da 
ocorrência porque não queria fazê-lo, porque não agradava lembrar, porque seria penoso 
ou mesmo porque queria pensar em algo que pudesse dar mais prazer. 
Em contraposto, Breuer não acreditava na existência de um sujeito interior inconsciente. 
Para ele, durante a ocorrência do trauma, a pessoa não estaria completamente 
consciente, mas sim num estado de “obnubilação da consciência4”, semelhante ao 
estado hipnótico, atribuindo à hipnose como a única técnica capaz de tratar a histeria, 
reproduzindo no paciente o próprio estado de consciência em que o trauma foi gerado. 
 
Na ideia de Freud, caso o paciente não conseguisse se lembrar de tais ocorrências, logo 
havia algo que o impedia, algo este que ele chamou de “resistência” e que, segundo 
Roudinesco e Plon (1998) consistia no “conjunto de reações de um analisando cujas 
manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da análise” ou 
mesmo “tudo o que, no atos e palavras do analisando, se opõe ao acesso deste ao seu 
inconsciente” (LAPLANCHE e PONTALIS, 1988). 
A partir desse ponto, outra questão é levantada. O foco agora seria não somente 
identificar quais eventos traumáticos fundamentavam os sintomas, mas também 
compreender o porquê de o paciente resistir a lembrar-se deles. 
O método catártico objetivava ocasionar uma reação retroativa a um evento traumático 
e, ao se deparar com o fenômeno da resistência, Freud conclui que as finalidades do 
tratamento se tornam mais complexas. Não se tratava de apenas um processo limitado a 
desabafos ou descarga emocional, mas se apresenta uma necessidade de análise do 
psiquismo. 
"Sempre que surge uma intensa resistência contra o uso da 
hipnose, devemos renunciar ao método e esperar até que o 
paciente, sob a influência de outras informações, aceite a ideia de 
ser hipnotizado". (Freud, 1891/1987, p. 125) 
Compreendendo que a hipnose não alcançava os resultados precisos, Freud também 
observou que, mesmo diante de toda insistência em conjunto com o paciente, a técnica 
da pressão podia falhar na tarefa de suscitar as lembranças esquecidas, o que, conforme 
Ventura (2009), “trazia a percepção de que havia encontrado uma oposição para 
penetrar em uma camada mais profunda da cadeia de representações”. 
Em sua teoria, tal ação era em resposta à ameaça idealizada ao aparecimento de 
conceitos e afetos desagradáveis, taisquais haviam sido reprimidos e que, agora, 
resistiam à rememoração por possuírem uma essência de sofrimento, capazes de 
despertar sentimentos de vergonha, autocensura e dor física. 
A melhor estratégia consistia em solicitar ao paciente que falasse o que lhe viesse à 
cabeça, sem filtros ou preconceitos acerca de seus pensamentos, o que Freud chamou de 
“Associação Livre” que, por sua vez, surgiu a partir de uma intervenção com uma de 
suas pacientes, a senhora Emmy Von N, em 1982, quando o pediu que parasse de 
intervir em seu discurso e a deixasse falar livremente. 
Ao decorrer do tempo, Freud foi substituindo a hipnose e o método catártico por essa 
associação fundamentando-se na certeza da falibilidade dos anteriores em apresentar 
resultados apenas parciais e transitórios enquanto, ao contrário disso, o novo método lhe 
garantia maior segurança ao oferecer acesso ao material inconsciente, como as 
lembranças, afetos e representações, suprimindo as resistências que outrora fechavam 
essas portas de entrada. 
 
A liberdade de expressão concedida ao paciente o isentava de qualquer controle ou 
necessidade disciplinar no sentido lógico de suas ideias, em outras palavras, o conduzia 
a uma viagem pelo seu inconsciente, rompendo qualquer barreira defensiva provocada 
pela censura. Na ideia freudiana, essa exposição e análise das resistências é 
completamente essencial para se alcançar a cura em plena consciência, trazendo à tona o 
que deve ser trabalhado. 
FREUD, SEU PAI E A RELAÇÃO COM A PSICANÁLISE 
Jacob Kallamon Freud já era avô, aos 40 anos de idade, quando se casou com Amália 
Nathansohn, sua terceira esposa, sendo ela ainda uma adolescente. Fora educado numa 
família judaica ortodoxa, lia a Bíblia em hebraico todos os dias, além de falar 
fluentemente. Ao contrário disso, Sigmund jamais aprendera a falar em hebraico. Seus 
sentimentos em relação a seu pai eram ambivalentes. O considerava um fracassado. 
Entretanto, sentiu-se fortemente abalado com sua morte, em 23 de outubro de 1896. 
Sobre este evento, Freud relatou em uma carta ao seu amigo Fliess, que esta morte “me 
afetou profundamente... reacendeu todos os meus sentimentos mais antigos... eu me 
sinto bastante desarraigado”. 
A conclusão que chegara era de que as pessoas possuem maior dificuldade em resolver 
a perda de um pai ou mãe quando abrigam sentimentos negativos não resolvidos em 
relação a eles. A morte de seu pai o conduziu à uma autoanálise e a descobertas 
significativas. 
A partir de então, Freud começa a anotar e a analisar seus próprios sonhos e a associá-
los a ocorrências de sua infância, determinando as raízes de suas próprias neuroses. Tais 
anotações tornam-se a fonte para a obra A Interpretação dos Sonhos e, mais do que isso, 
o conduzem à conclusão de que seus próprios problemas eram devidos a uma atração 
que sentia por sua mãe e uma hostilidade em relação ao seu pai, o que ele denominou 
“Complexo de Édipo”. 
Tal teoria enfatiza clinicamente que as crianças passam por uma fase no seu 
desenvolvimento psicossexual, na qual experimentam sentimentos positivos em relação 
ao pai ou mãe do sexo oposto e sentimentos de rivalidade em relação ao pai ou mãe do 
mesmo sexo. 
Durante uma palestra ministrada em 1915, Freud explicou que “Enquanto ainda é uma 
criança pequena, o filho já começa a desenvolver uma afeição especial pela mãe, a 
quem se refere como pertencente a ele; ele passa a perceber o pai como um rival que 
disputa a sua posse exclusiva. [...] E da mesma forma, uma menina pequena percebe a 
mãe como uma pessoa que interfere na sua relação afetiva com o pai e que ocupa a 
posição que ela mesma poderia muito bem ocupar. A observação de si mesmo 
possibilita descobrir a que anos anteriores essas atitudes nos remetem. Referimo-nos a 
isso como ‘Complexo de Édipo’ porque a lenda mostra, amenizando levemente a 
5 
Freud, Introductory Lectures on Psychoanalysis, em The Standard Edition of the Complete Pschycological Works, vol. XV, p. 
207-208. 
6 Aos Romanos 7.15 / Biblia 
historia, os dois desejos extremos que emergem da situação do filho – de matar o pai e 
de tomar a mãe como esposa.”5 
Em uma de suas cartas, ele admite ter vivido este fenômeno ao observar estar 
apaixonado pela própria mãe e com ciúmes do pai, fundamentando-o como um evento 
universal da primeira infância, enxergando nesta complicada relação emocional da 
criança o núcleo de todo caso de neurose. 
O relacionamento entre Jacob e Sigmund Freud se tornou base para inúmeras respostas 
às teorias psicanalíticas, sendo, a partir daí, pontos de conclusões utilizadas por Freud 
mediante a descobertas obtidas em meio aos tratamentos que realizava. 
COMO A PSICANÁLISE VÊ O HOMEM E O MUNDO? 
Sendo um conjunto de crenças e opiniões fundamentais, a visão de mundo é tida como 
uma orientação cognitiva ao individuo, grupo ou toda uma sociedade a respeito de tudo 
o que existe. É o norte de vida pessoal, social e politica que influencia na forma como a 
pessoa se percebe, se relaciona, se adapta e compreende ser o propósito existencial. É a 
partir dai que são dados os valores, a ética e a capacidade de se alcançar a felicidade. 
Nicholi (2005) destaca que “nossa visão de mundo nos diz mais sobre nós, quem sabe 
até, do que qualquer outro aspecto da nossa história pessoal” e para Nascimento (2016), 
“saber qual é a visão de homem e de mundo da Psicanálise é fundamental, pois todas as 
formulações teóricas, e até mesmo a escuta e o fazer do analista, seja no espaço 
‘público’ e/ou no ‘privado’, estão pautadas no modo como ele percebe, interpreta, 
fundamenta e ‘entende’ o homem, o mundo e as relações que este estabelece consigo 
mesmo e com os seus semelhantes”. 
Freud propôs três componentes básicos estruturais da psique humana: os chamados Id, 
Ego e Superego que compõem os princípios do prazer, da realidade e da censura, 
“revelando uma série de intermináveis conflitos e acordos psíquicos. Onde um instinto 
se opõe a outro; e proibições sociais bloqueiam pulsões biológicas e os modos de 
enfrentar situações” (FADIMAN E FRAGER, 1986). 
Para a Psicanálise, o sujeito do desejo inconsciente não coincide com o seu Eu. Esta o 
vê como uma imagem, projeção e, em vezes, como uma defesa construída pelo homem 
em relação às culturas e seus enigmas. Seria o que Paulo descreve ao dizer que “o que 
faço, não quero, mas o que quero, não faço”.6 
O Id pressiona o indivíduo a expor a sua energia pessoal, instituindo seus desejos 
internos e vontades, enquanto o Superego o moraliza, agindo de forma a fixar uma série 
de normas que o limitam. E o Ego, por sua vez, age como um “aparato psíquico”, 
gestando a relação do homem com o mundo. Nesses termos, o propósito prático da 
psicanálise 
“é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do supergo, 
ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira
 
 a poder assenhorear-se de novas partes do id”. (1933, livro 28, p. 102 na 
ed. Bras.) 
Em outras palavras, Freud afirma que as ações atuais praticadas pelo homem são 
fundamentadas em desejos internos, muitas vezes reprimidos, e que são esses desejos 
(inconscientes) que o governam. Não existe um indivíduo autônomo e senhor de suas 
ações, mas, sim, um sujeito dividido em si próprio, entre a consciência e o inconsciente, 
entre a moral e as paixões. 
CONCLUSÃO 
É notória a conclusão de que Sigmund Freud e a Psicanálise estão mais interligados do 
que se imaginava. Não se trata apenas de um criador e sua obra, mas se refere à 
transformação de uma vida em teoria científica. 
Pode-se afirmar que a autoanálise dos eventos vividos seja o ponto fundamental de suas 
descobertas, das quais ele faz associaçõesàs ocorrências dadas aos seus pacientes. 
Freud não simplesmente ouvia o que os doentes tinham a dizer, mas observava cada 
detalhe ligando pontos que o conduziam à respostas quanto aos sintomas que estes 
apresentavam. 
A ideia central era de que nossas experiências de infância influenciam na nossa maneira 
de pensar, sentir e de nos comportarmos na fase adulta. Existem sentimentos internos 
que são reprimidos e que acabam sendo ocultados por barreiras denominadas 
resistências. 
Freud entendia que encontrando o ponto chave dessas barreiras e trazendo-as para o 
externo, a pessoa conseguiria se libertar dessa repressão e alcançar a cura. E mais do 
que isso, na visão que tinha de homem, acreditava que o sujeito agia não por sua própria 
escolha, mas por influências dadas pelas forças psíquicas existentes dentro de si. 
Seus sentimentos em relação a seus pais, a ama-seca por quem possuía tamanha estima 
e que, posteriormente, veio a o “abandonar”, além dos sonhos das quais teve e demais 
fatores, contribuíram para a elaboração de métodos cruciais na composição da 
Psicanálise e ideias de Freud, como o Complexo de Édipo, a Weltanschauung (visão de 
mundo) científica, o Aparelho Psíquico, dentre outros. 
Seus estudos e descobertas influenciaram não apenas a pesquisadores no século XIX, 
muitos menos se limitaram a provocar repúdio somente aos nazistas em meio a época 
pré-guerra. Ainda aos dias de hoje a teoria psicanalítica prossegue alcançando aderentes 
e oposições. 
A vida física de Sigmund Freud se findou em setembro de 1939, mas como no discurso 
feito por Stefan Zweig durante a cerimônia de cremação: “para onde quer que alguém se 
aventure a penetrar o labirinto do coração humano, sempre haverá a luz intelectual a 
iluminar os seus passos”. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
Junior, A. M. (2005). Deus em questão - C. S. Lewis e Freud. Viçosa/MG: Ultimato. 
Bock, A. M. (1999). Psicologias - Uma introdução ao estudo de Psicologia. São 
Paulo/SP: Saraiva. 
Fadiman, R. F. e J. (1986). Teorias da Personalidade. São Paulo/SP: Harbra. 
Associação Livre. (31 de janeiro de 2018). Acesso em 16 de maio de 2018, disponível 
em A mente é maravilhosa: https://amenteemaravilhosa.com.br/associacao-livre/# 
Ferreira, C. (14 de julho de 2017). Sociedade dos Psicólogos. Acesso em 19 de maio de 
2018, disponível em Quem foi Charcot? Sobre a histeria: 
https://spsicologos.com/2017/07/14/quem-foi-chartot-sobre-a-histeria/ 
Inda, R. (s.d.). Ab-reação significado psicanalitico e filosófico. Acesso em 18 de maio 
de 2018, disponível em Psicologa Curitiba: http://www.psicologacuritiba.net/ab-reacao-
significado-psicanalitico-e-filosofico/ 
Lopes, R. B. (março de 2012). Psicologado. Acesso em 19 de maio de 2018, disponível 
em A Resistência na Obra de Freud: 
https://psicologado.com.br/abordagens/psicanalise/a-resistencia-na-obra-de-freud 
Mariguela, M. (01 de setembro de 2009). Freud e a 2ª Guerra Mundial. Acesso em 19 
de maio de 2018, disponível em Marcio Mariguela: 
https://marciomariguela.com.br/freud-e-2a-guerra-mundial/ 
Mattos, A. S. (2010). A gênese do conceito de resistência na psicanálise. Acesso em 19 
de maio de 2018, disponível em Periódicos Eletrônicos em Psicologia: 
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106X2010000100002 
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