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Módulo I Aula 3

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1 
Aula 3 
PACTOS INTERNACIONAIS 
Autores: Daniela Ikawa, Flávia Piovesan, Guilherme de Almeida 
Revisores: Fabio R. H. Gama, Laura D. M. Mascaro e Guilherme Cunha 
 
1. Gerações de Direitos Humanos 
A divisão dos direitos humanos em dois grandes Pactos está na origem da teoria de 
gerações de direitos humanos: 
1. A primeira geração, dos direitos civis e políticos, tem cunho liberal1. Seus artigos 
tratam de prestações “negativas” do Estado, ou seja, o Estado deve respeitar a 
liberdade individual de cada cidadão e abster-se de agir (obrigação de não-fazer). A 
idéia de colocar limites à ação do Estado foi a razão de ser da Revolução Francesa 
(1789) e da Revolução Americana 1776); por isso é chamada de primeira geração. 
2. A segunda geração, dos direitos sociais, econômicos e culturais, tem inspiração 
socialista. Seus artigos tratam das prestações “positivas” do Estado: a satisfação das 
necessidades sociais, econômicas e culturais do cidadão depende da ação do Estado 
(obrigação de fazer). Discute-se a “justiciabilidade”2 desses direitos. A igualdade de 
todos os homens de forma concreta, e não apenas formal, é a idéia chave da 
Revolução Russa de 1917. Vem daí o título segunda geração. 
3. A terceira geração de direitos humanos é composta pelos ditos direitos de 
titularidade coletiva ou direitos de solidariedade. Os mais citados, ressalvando-se 
algumas variações doutrinárias, são os direitos ao meio ambiente, à paz, à 
assistência humanitária e ao desenvolvimento. Devem sua origem à ação dos países 
de em desenvolvimento3, que durante o período da Guerra Fria, nas brechas da 
 
1 O Liberalismo é uma doutrina baseada na defesa da liberdade individual, nos campos econômico, político, 
religioso e intelectual, contra o controle do poder estatal. Apesar de diversas culturas e épocas apresentarem 
indícios das ideias liberais, o liberalismo definitivamente ganhou expressão moderna com os escritos de John Locke 
(1632 - 1704) e Adam Smith (1723-1790). Dos pilares constitutivos da ordem capitalista, propriedade e liberdade, 
foi esse último que deu nome ao liberalismo, que se tornou a ideologia da sociedade capitalista, ou burguesa. 
Liberalismo pode ser resumido como o postulado do livre uso, por cada indivíduo ou membro de uma sociedade, de 
sua propriedade. O fato de uns terem apenas uma propriedade: sua força de trabalho, enquanto outros detêm os 
meios de produção não é desmentido, apenas omitido no ideário liberal. 
2 A justiciabilidade é a possibilidade de buscar os direitos face ao Poder Judiciário, então, a justiciabilidade dos 
direitos sociais, ou seja, dos Direitos Humanos econômicos, sociais e culturais é a possibilidade de efetiva 
aplicação, por meios de mecanismos jurídicos de exigibilidade, de tais direitos, através de uma consciência social 
crescente, gerada pelo fato de que tais direitos têm valor fundamental. 
3 País em desenvolvimento ou país emergente são termos geralmente usados para descrever um país que possui 
um padrão de vida entre baixo e médio, uma base industrial em desenvolvimento e um Índice de Desenvolvimento 
Humano (IDH) variando entre médio e elevado. A classificação de países é difícil, visto que não existe uma única 
definição internacionalmente reconhecida de país desenvolvido e os níveis de desenvolvimento, econômico e social, 
podem variar muito dentro do grupo dos países em desenvolvimento, sendo que alguns desses países possuem 
alto padrão de vida médio. Uma das nomenclautras utilizadas para os países em desenvolvimento é “Terceiro 
 
 
 2 
bipolaridade Leste/Oeste4, conseguiram, por meio de competente ação diplomática, 
inserir esses novos direitos na agenda internacional. 
2. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) 
O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos foi adotado pela Assembléia-Geral das 
Nações Unidas em 1966, consolidando, no âmbito internacional, o reconhecimento de uma 
série de direitos, tais como: o direito à vida; a não ser submetido à tortura; a não ser 
submetido à escravidão; o direito à liberdade; a garantias processuais; à liberdade de 
movimento; à liberdade de pensamento; à liberdade de religião; à liberdade de associação; 
à igualdade política e à igualdade perante a lei. 
A adoção de um pacto ou tratado sobre direitos civis e políticos separado de um pacto ou 
tratado sobre direitos sociais gerou grandes discussões. Segundo a própria Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, ao ressaltar os princípios da interdependência e da 
indivisibilidade entre direitos, o reconhecimento da dignidade humana impõe a adoção de 
um padrão ético mínimo não apenas para direitos civis e políticos, mas, também, para 
direitos sociais, econômicos e culturais. 
Ou seja: direitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e culturais são igualmente 
necessários para a garantia da dignidade humana. 
Essa divisão, que durou até o final da guerra fria, constituiu uma das causas pelas quais a 
ONU adotou dois pactos internacionais de direitos humanos, interdependentes e 
indissociáveis, embora com perspectivas distintas: o Pacto Internacional de Direitos Civis e 
Políticos e o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ao invés de 
único pacto, incluindo todos os direitos. 
Atualmente, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos conta com 166 ratificações, 
ou seja, esse total de Estados já haviam reconhecido os direitos previstos no Pacto – 
mesmo o Brasil, a partir de 1992. Os dois protocolos facultativos ao Pacto Internacional 
sobre Direitos Civis e Políticos foram aprovados pelo Brasil em 20095. 
3. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966) 
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado pela 
Assembléia-Geral da ONU em 1966, consolida, no âmbito internacional, uma série de 
 
Mundo”, que deriva da perspectiva dos países desenvolvidos, que consideravam os países em desenvolvimento em 
uma posição inferior, o que além de pejorativo é inadequado. 
4 Os anos que se seguiram à adoção da Declaração Universal trouxeram uma dupla visão de direitos. A divisão do 
mundo em dois blocos – um socialista, outro capitalista – favoreceu uma divisão de direitos também em dois 
blocos: o dos direitos liberais – direitos civis e políticos e o dos direitos socialistas – direitos econômicos, sociais e 
culturais. 
5 Através do primeiro Protocolo facultativo (1966), os países: reconhecem que o Comitê de Direitos Humanos, 
criado pelo Pacto, tem competência para receber e examinar comunicações provenientes de particulares que 
aleguem serem vítimas de uma violação, por esses Estados-partes. O segundo Protocolo facultativo (1989) almeja 
a abolição da pena de morte. 
 
 
 
 3 
direitos, entre eles: o direito ao trabalho, à liberdade de associação sindical, à previdência 
social, à alimentação, à moradia, ao mais elevado nível de saúde física e mental, à 
educação, à participação na vida cultural e no progresso científico. 
O pacto encontrou forte resistência dos países capitalistas em relação ao reconhecimento de 
questões sociais e econômicas como questões de direito. Seriam os direitos sociais 
verdadeiros direitos? Teriam os direitos econômicos, sociais e culturais natureza e 
aplicabilidade diferentes dos direitos civis e políticos? 
Tradicionalmente, os direitos sociais foram tratados como direitos ligados à igualdade, às 
prestações positivas (medidas promocionais) do Estado (obrigação que o Estado tem de agir 
para garantir a satisfação de direitos), de altos custos e de aplicabilidade progressiva.Já os 
direitos civis e políticos foram tidos como direitos relativos à liberdade, a prestações 
negativas do Estado (abstenção do Estado de agir para que alguns direitos sejam 
satisfeitos), à inexistência de custos e de auto-aplicabilidade. Atualmente, começa-se a 
perceber que essa separação entre os tipos de caracterização dos direitos é bastante 
problemática, uma vez que dificulta a efetivação conjunta dos direitos, sendo que a visão de 
Estado não interventor foi substituída há muito tempo pela perspectiva de um Estado 
promotor de direitos em todos os sentidos, inclusive civis e políticos, cuja efetivação 
depende dos direitos de segunda geração. 
Quanto à igualdade e à liberdade é possível afirmar que uma não existiria sem a outra. O 
direito ao voto, que é um direito político por excelência, não poderia ser exercido com 
efetiva liberdade sem que tivesse sido oferecida, anteriormente, uma educação de 
qualidade capaz de formar cidadãos conscientes da relevância de seu papel na esfera 
política. Esse mesmo direito não seria livremente exercido caso a situação de miséria de um 
indivíduo o levasse a trocar seus votos por alimentos ou roupas. Algum grau de igualdade 
material teria de ser alcançado para que a liberdade de voto fosse garantida. 
O mesmo ocorreria em relação à dependência da igualdade frente à liberdade. Amartya 
Sen, cita, por exemplo, a conexão entre o autoritarismo, a ausência de liberdade política e a 
fome. Não há como lutar por uma igualdade de fato sem que haja liberdade política. 
Quanto à aplicabilidade de direitos, a forma como os direitos são garantidos e exercidos no 
dia-a-dia, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (sistema 
global) e o Pacto de San Salvador6 são claros ao estabelecerem que os direitos sociais têm 
aplicabilidade progressiva, ou seja, necessitam de mais tempo e do envolvimento de vários 
órgãos e da participação social para que medidas concretas sejam estabelecidas com vistas 
à garantia da proteção desses direitos. Mas é preciso esclarecer que os direitos civis e 
políticos, assim como os direitos econômicos, sociais e culturais podem tanto ter aplicação 
imediata quanto progressiva, a exemplo dos direitos à greve e à sindicalização. Tais direitos 
 
6 Trata dos Direitos Ecinômicos, Sociais e Culturais no âmbito do sistema interamericano. É um Protocolo Adicional 
à Convenção Americana de Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1988). 
 
 
 4 
sociais podem ter aplicação imediata, ao passo que o direito de acesso à justiça – um direito 
civil – pode incluir medidas que necessitem de aplicação progressiva, como a instituição de 
um sistema judicial imparcial e independente, a constituição de assistência judiciária 
gratuita, dentre outras medidas. 
No que se refere ao caráter positivo ou negativo das prestações estatais, assim como ao 
custo dos direitos, ressaltamos novamente os exemplos acima. O direito de acesso à justiça 
poderia implicar prestações positivas e com alto custo para o Estado na medida em que isso 
significasse, por exemplo, a construção de prédios capazes de abrigar tribunais, na 
realização de concursos públicos ou na eleição para a seleção de magistrados ou no 
pagamento de salários. Do mesmo modo, o direito à greve poderia ser efetivado pelo 
Estado pela mera atitude de não intervir em paralisação trabalhista e isso não custaria 
nada. 
A percepção das semelhanças entre direitos civis e políticos e direitos econômicos, sociais e 
culturais aponta para a acionabilidade (acionar), exigibilidade (exigir) e justiciabilidade7 nos 
âmbitos nacional e internacional. Explicando melhor, os direitos econômicos, sociais e 
culturais podem e devem ser exigidos por seus titulares assim como os direitos civis e 
políticos. Os direitos sociais são reconhecidos por Constituições nacionais e também por 
uma série de tratados internacionais de direitos humanos, como o Pacto Internacional sobre 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Protocolo de San Salvador. 
Tanto o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, quanto o 
Protocolo de San Salvador reconhecem que a progressividade implica a proibição ao 
retrocesso. Na prática, as medidas tomadas em prol dos direitos sociais devem ser 
mantidas e aprimoradas, nunca restringidas. O progresso ocorrerá a partir de parâmetros 
mínimos estipulados por tratados internacionais. Esses parâmetros seriam elevados na 
medida em que os Estados-membros desses tratados publicassem leis e estabelecem 
políticas públicas que defendessem níveis cada vez mais altos de proteção na educação, na 
saúde, na moradia, etc. 
Atualmente, o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais conta com 
160 ratificações – incluindo a do Brasil em 1992 – reconhecendo os direitos previstos no 
Pacto. 
Referências Bibliográficas 
ALMEIDA, G. A. A.. Direitos Humanos. São Paulo: Ed. Atlas, 2009. 
 
7 A justiciabilidade é a possibilidade de buscar os direitos face ao Poder Judiciário, então, a justiciabilidade dos 
direitos sociais, ou seja, dos Direitos Humanos econômicos, sociais e culturais é a possibilidade de efetiva 
aplicação, por meios de mecanismos jurídicos de exigibilidade, de tais direitos, através de uma consciência social 
crescente, gerada pelo fato de que tais direitos têm valor fundamental. 
 
 
 5 
BOBBIO, N.. O positivismo Jurídico: lições de filosofia do direito. São Paulo: Ícone 
editora, 1995, pp. 27-32. 
NOLETO, M.A.. Subjetividade Jurídica: a titularidade de direitos em perspectiva 
emancipatória. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1998, pp. 42-48.

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