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O ESTUDO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS ENQUANTO FORMA DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO Se utilizarmos a tática de separar o nome “Ciências S ociais”, teremos um paradoxo na construção desse conceito. A ciência é uma forma de organizar sistematicamente o conhecimento adquirido, ou seja, de dispor algo que aprendemos ordenadamente para que esse “novo” conhecimento possa ser facilmente entendido. É também uma forma de pensar e agir, isto é, algo que pensamos e fazemos de determinada maneira. Essa forma de analisar o que é a ciência também nos faz compreender o que ela aponta. Em geral, a palavra “ciência” tem relação com a pesquisa e com a descobert a de novos conhecimentos, que serão posteriormente utilizados emnosso cotidiano. Qual é, p orém, a ne cessidade de haver uma Ciência S ocial, um conhecimento da sociedade e s obre ela? É justamente neste ponto que o paradoxo citado acontece. A sociedade é um grande corpo em movimento. Tal qual uma máquina em que cada peça é responsável por efetuar determinada função, ela possui seus vícios e virtudes, suas vantagens e desvantagens, que estão presentes invariavelmente em qualquer uma das áreas. Se, por um lado, uma áre a pode ser muito especializada em fabricar produtos de madeira, a outra pode ser primaz na elaboração de material em plástico. Obser ve que as especialidades fazem com que a sociedade seja formada e moldada de acordo com o interesse de cada ser que a integra. Nota-se, ainda, que a sociedade é dinâmica, que se inventa e reinventa a cada novo produto, nova moda, nova forma de aprendizado e de trabalho ou, ainda, a cada novo século. Por esse caráter — de permanente mudança social constru- ída diariamente — é que o paradoxo se estabelece: ao passo que a ciência é xa, com sua metodologia bem delimitada e que busca um “padrão” de comportamento e atitude para que se obtenha um resultado, a sociedade se move, sendo construída diariamente por todos nós. Portanto, ca o questionamento: como se po dem tirar leis gerais a partir do conhecimento cientíco para a compreensão da so ciedade? Esse é o desao das Ciências So ciais desde sua gênese: explicar, a partir de mecanismos cientícos, o comp ortamento da sociedade, que se move constan- temente em busca de uma realidade diferente daquela que nós vivenciamos. Talvez por esse estilo pe culiar é que o conteúdo aprendido seja tão abstrato e tão difícil de s er medido e tocado. Nosso esforço está em demonstrar como as ciências sociais se tornaram um imp ortante e necessário instrumento para a análise deste “mundo de maluco” em que vivemos, que clama a cada nova descoberta por uma análise apurada de nossa realidade so cial. Costumamos argument ar que as Ciências Sociais anseiam pelo conito e pelo debate. De fato: sem os problemas entre as relações humanas seria muito difícil imaginar como o cient ista social teria s eu objeto de estudo, isto é, a sociedade, caracterizada pelas disputas sociais existentes. Desta forma, rearmamos o ponto de largada da trajetória de formação dessa área: o conito entre os seres humanos. Não tratamos aqui das brigas entre vizinhos e familiares ou as que acontecem em um jogo de futebol, mas sim as disput as quase invisíveis na sociedade, que o cientista social tornará objeto de seu estudo. Isto é, os espaços de disputa política em que um grupo debate cont ra outro(s); a armação de práticas culturais e os conitos ocasionados por essas políticas armativas com as demais culturas existentes; a dinâmica competitiva do mercado de trabalho e, por m, as próprias relações sociais, palco de todos os primeiros conitos. Obser ve que “conito” é a palavra-chave para compreender as Ciências So ciais. Quais são, porém, as origens dessa área de conhecimento? Qua l a rele- vância de estudarmos esse tipo de conteúdo no Ensino Superior? Além disso, será que as Ciências Sociais irão colaborar com a formação acadêmica? São essas as perguntas que pretendemos resp onder neste tópico. Nossa jornada inicia na Grécia Antiga em 500 a.C., quando a sociedade s e diferenciava das demais por um motivo: foi a primeira vez que se tentou orga- nizar uma corrente de pensamento sobre a vida humana em sociedade. Pelo desenvolvimento típico da Democracia e do contato com diferentes culturas, os gregos puderam não depender necessariamente da Igreja e do Estado — detentores do poder político, econômico e ideológico daquele período — para pensar sobre a natureza dos homens e da sociedade. Prova desse argumento são as ideias de Platão e Aristóteles sobre a melhor forma de organizar a política em sociedade, que ganharam força e vigor na Grécia Antiga e até hoje balizam discussõ es sobre a política. Cada qual à sua maneira, ambos proporcionaram o pioneirismo da Grécia, que recebeu o título distintivo de “berço da civilização ocidental”, pela forma “e voluíd a” que sua população se comportava. Ap esar dos avanços proporcionados pelos gregos, a primeira universidade só surgiu no sécu lo XII, com a consolidação dos intelectuais no mundo acadêmico após a ruptura do comando da Igreja sobre a educação. Neste hiato, as produ- ções isoladas reetiam o comando da Ig reja sobre a condição individual e so cial de pesquisa, o que não cont ribuiu para o prog resso das Ciências Humanas. A instituição das universidades delimitou, de alguma for ma, uma separação entre o mundo “exterior” (a sociedade em si) e o mundo “interior” (as instituições de ensino), o que levava novamente à reexão sobre a importância da discussão davida em sociedade. Collins (2009) ratica a relevância do surgimento das universidades para as pesquisas sobre as humanidades: Com o surgimento das universidades e especialmente em virtude da criatividade da faculdade losóca, os intelectuais ganharam seu próprio “lar” e conquistaram maior clareza acerca de seus próprios propósitos. A história do pensamento humano a partir de então oscilou entre uma interação entre a comunidade intelectual e o mundo exterior e um isolamento das universidades em relação a questões práticas e ortodoxias ideológicas, bem como entre as formas como essas questões penetravam nesse ambiente, oferecendo aos intelectuais novas demandas e novos problemas (COLLINS, 2009, p. 19.) Observamos que, apesar das universidades terem surgido como espaço para a transmissão do conhecimento, precisavam dialogar mais com a comunidade, uma crítica que permanece até os dias de hoje. O papel, portanto, das Ciências S ociais neste contexto é estabelecer a conexão entre o acadêmico e o popular, entre a erudição do conhecimento e a praticidade das pesso as, entre a teoria e a prática. Somente após o Renascimento é que as Ciências Sociais começaram a assu- mir seu espaço de atuação. Contudo, convém ressaltar que o período conhecido como Renascença (que ocorreu entre o m do século XIV e início do XVII) teve grande relevância para compreender o campo de trabalho de um cientista social. Tal argumento se baseia nas transformações econômic as, políticas e sociais do perío do, com fenômenos que alteraram as estruturas da sociedade desde então. Além da valorização de elementos da Antiguidade Clássica (por isso o nome “Renascimento”), citamos a transição do modo de produção feudal para o capi- talista como chave para o entendimento das cisões oc asionadas pelo turbilhão de transfor mações sociais. A ruptura cultural ocasionada a partir do Renascimento e do m da sociedade medieval na Europa oportunizou que o homem (pautado pelo antropocentrismo) passasse a figurar como centro das preocupações de pesquisas acadêmicas, discussões los ócas e da sociedade em si. O foco direcionado para o homem enquanto “centro do universo” abriu espaço para o protagonismo das Ciências Soci ais, que são basicamente um produto das transformações ocorridas no período entre e a Revolução Industrial e a Re volução Francesa (principalmente após esses perío dos), conforme trataremos a seguir. É nesse cenário que as Ciências Sociais começaram a ganhar forma no campo de conhecimentodas humanidades. A primeira a ganhar autonomia de atuação para a reprodução e produção do saber foi a Antropologia. A partir das desco- bertas de sociedades tribais na América, na África e no Pacíco com as grandes expediçõ es marítimas, o homem europeu passou a conhecer realidades muito distintas das que já estava acostumado no velho cont inente. Com tais descobertas, a explicação medieval de que a sociedade europeia era uma “operação divina” deixou de imperar, surgindo, assim, diversas teorias para explicar a evolução da sociedade e do seu relacionamento com o outro. Um processo de estranhamento, isto é, de olhar o outro de forma diferente para conhecer melhor a si mesmo, obteve sucesso na relação da Antropologia com as demais ciências. Paralelo a isso, a Antropologia dialogou com a Me dicina, buscando explicações biológicas para a existência de um outro não europeu. Outra vertente de atuação da Antropologia é a chamada Antropologia Cultural ou Histórica, que tem por objetivo estudar os padrões de cultura de determi- nados grupos so ciais ou de sociedades esp ecícas, a m de compreender como essas comunid ades estão organizadas, quais são seus costumes, sua organização interna, seu relacionamento com outras sociedades, entre outros aspectos. Ap ós essa divisão de áreas de atuação entre o ant ropólogo de campo (que trabalhava em conjunto com pesquisas na seara da Biologia e da Medicina) e o antropólogo histórico-cultural, a Antropologia passou a ter de forma evidente seu objeto de pesquisa, consolidado na segunda metade do séc ulo XIX: o homem e seu duplo relacionamento, com seu eu interior e com o mundo exterior, ou seja, a socied ade propriamente dita. Em segundo lugar, destacamos a Sociologia como ciência que se estabeleceu no campo das Ciências Soci ais. Por seu caráter mais generalista, as raízes para seu estabelecimento são as mais diversas: inspirou-se na História, na Filosoa, na Política, na Economia, na Antropologia, na Psicologia, entre outras. Abrangente em relação aos objetos de pesquisa, a So ciologia pode ser considerada como a mãe de todas as Ciências Sociais. Produto indireto das Revoluções Burguesas, a Sociologia tem como foco o estudo da sociedade e das diversas implicações que essa relação pode estabele- cer. E la nasce “da constatação de que a ordem social moderna desorganizou as formas de convívio socia l, gerando problemas novos que reclamavam interpretações e s oluções inovadoras” (SELL, 2012, p. 18). Em suma: a S ociologia está destinada a analisar as relações sociais e tentar xar leis gerais do comp ortamento da sociedade. C omo exposto, essa paradoxal tarefa motiva os sociólogos a continuar atuando na área, tentando decifrar uma encant adora personalidade: o homem atuando em sociedade, s eja ativa ou passivamente. A preocupação em estabelecer a S ociologia como ciência foi um dos objeti- vos de Auguste Comte, considerado por alguns como o “pai da S ociologia”. Ele foi resp onsável por popularizar a expressão “Física S ocial”, que posteriormente seria conhecida como a Sociologia propriamente dita. A Física Socia l de Comte reete, assim, dois conceitos distintos em união para um mesmo ambiente: a sociedade. Ao passo que a Física estuda o movimento dos corpos em socied ade, a Física Social nada mais é do que o estudo da dinâmica da ação das pessoas socia lmente, as quais são inuenciadas pela socie dade, ditando suas normas, as normas do trabalho e do seu campo próprio de atuação. Foi neste contexto que a Sociologia pass ou a inter vir nas discussões p olíticas da socie dade. Daí nasce a terceira e mais recente das Ciências Sociais: a Ciência Política. Dialogando com a política permanentemente — e, por que não, prati- cando a política desde seu nascimento —, a So ciologia estabeleceu uma relação de proximidade com a política, até mesmo conversando com a Filosoa, que em sua origem se destinou a estudar os comportamentos políticos. A Ciência Política teve origem no nal do Século XIX nos Estados Unidos e buscava se estabelecer, desde então, como uma ciência “autônoma”, isto é, uma área de atuação própria, sem ser confundida com a Filosoa, a Sociologia ou encarada como uma subárea do Direito, p or exemplo. Por esse caráter recente e multifacetado, tem quebrado barreiras quanto ao pensamento político, na busca de estabelecer o seu principal objeto de pesquisa: as relações de po der. Além de estudar as relações de poder, a Ciência Política tem o desao de explicar como o Estado é constituído, seja enquanto ente governamental ou como espaço em que os políticos irão expor suas ideias, conduzir os rumos de uma determinada população, enm, fazer p olítica. A última vertente de estudo da Ciência Política são os Sistemas Políticos, que têm por nalidade estruturar um Estado especíco, além de incorporar as regras de disputas eleitorais, por exemplo. Obs ervamos, assim, que há um ingrediente especíco para que haja um cientista político analisando algum fenômeno em geral: o poder e o loca l onde esse po der é aplicado, normalmente um Estado, um p artido político ou um conjunto de forças políticas. As três áreas das Ciências Sociais (Antropologia, S ociologia e Ciência Política) tentam explicar, ora em conjunto, ora separado, a complexa sociedade em que vivemos. Cultura, relaçõ es sociais e relações de poder s ão as palavras-chaves que estruturam o grande leque do aprendizado que essas áreas podem nos proporcionar, variando de acordo com o interesse de cada pesquisador. Você s e lembra de que, no início deste tópico, foi visto que a ciência busca um padrão de comportamento que a sociedade, às vezes, não pode oferecer por seu dinamismo próprio? Após nossos últimos apont amentos, esse paradoxo cou mais fácil de ser enxergado. Isso porque as Ciências Sociais não são exatas, mas são múltiplas e dependem de diversos ingredientes para que haja um produto nal, uma conclusão de determinado fenômeno social. É assim, caro(a) aluno(a), que as Ciências Soci ais justicam sua presença neste livro sobre os f undamentos so ciológicos e antropológicos da Educação: não é possível educar sem conhecer a diversidade de aspectos que formam a socied ade em que vivemos. É muito difícil educar e transmitir o conhecimento somente a partir da sua própria realidade, sem considerar que o processo de formação educacional está em constante movimento e em constante mudança. Quer uma prova desse argumento? Basta olharmos para a traj etória da educação brasileira nos últimos anos. Saímos de uma educação rígida, em que as carteiras da sala de aula eram enleiradas; em que os alunos, na maioria das vezes, não tinham a palavra durante as aulas; em que o professor era a autoridade absoluta e em que o giz e o apagador faziam sucesso. Hoje, a educação mudou. Os alunos aprendem, muitas vezes, em grupos, nos quais o diálogo e a troca de conhecimento vale muito mais do que diversas aulas. O professor, ao mesmo temp o que transmite o conhecimento, recebe-o dos alunos. Além disso,o ensino a distância se tornou uma re alidade possível e praticável para quem não pode estar sicamente presente em uma carteira escolar. Note que a educação se transforma a partir das mudanças que a sociedade impõe. Da mesma forma, a sociedade impõe novos desaos à educação e está também em processo diário de aprimoramento, devendo aderir aos anseios das pessoas. Essa vi a rmada entre a sociedade e a e ducação jamais pode ser interompid a, uma vez que elas estão interligadas e são interdependentes ent re si, o que justica a necessidade das Ciências Soci ais durante a for mação educacional no Ensino Superior. A trajetória percorrida até aqui procurou oportunizar a você, aluno(a), a possibilidade de conhecer e avaliar a importância das Ciências Sociais diante dos fundamentos da educação, analisando como e porque a Ant rop ologia, a So ciologia e a Ciência Política são sua base principal. Dessas três áreas, vamos nos concentrar, neste livro, somente em duas: aAntropologia e a Sociologia, analisando a relevância de ambas para a educação. Obviamente, as duas dialogam entre si quando o assunto é educação e suas bases, contribuindo para a formação do cidadão atuante, que irá compreender e transmitir os ensinamentos aqui adquiridos durante sua atuação prossional. Nosso próximo objetivo é ava liar, de forma pontual, o panorama em que a Antropologia e a Sociologia foram constituídas. A apresentação deste cenário é importante para vericarmos como e porque essas duas áreas importam para fundamentar as bases da educação. Vamos lá! O AMBIENTE PARA A FORMAÇÃO DA SOCIOLOGIA Em um curto pe íodo de tempo, a produção no modo de vida rura l da Europa terminou, e as pessoas passaram a conviver na socie dade urbana. Nesse cenário, a tendência para o “caos” é grande, concorda? Se uma loca lidade tem capacidade de receber certo número de moradores, com a expansão sem planejamento ela tende a entrar em colapso. Foi isso que ocorreu com as transformações sociais derivadas do modo de produção capitalista na Europa. Com o desenvolvimento da indústria e a capacidade pro dutiva integrada a uma cadeia mundial de produção, há uma mudança nas condições de vida dos seres humanos. Essa mudança se fez sentir, primeiramente, na Europa, após a Revolução Industrial, e depois se propagou para diversas regiões do Planeta. A indústria se diada na Europa necessitou cada vez mais de matéria-prima vinda de diversas partes do mundo, assim como o mundo passou a consumir, em uma escala crescente, os produtos industriais. Nesta cadeia produtiva nas áreas industriais e nos centros econômicos, nesta fase do c apitalismo, o corre um crescimento da população urbana. Uma realidade que trará imp asses e incertezas no decorrer dos séculos XIX e X X. Isso levará um número crescente de pensadores sociais a buscar entender qual será o futuro d a sociedade diante de uma concent ração populacional nunca vista na história humana. A cidade se tornou um ambiente de tensão, que exigiu preoc upação por parte dos cient istas europeus.Se a ciência foi um instrumento de dominação para a conquista de novos territórios, para a expansão do capitalismo ocidental fundado na empresa mercanti l e, posteriormente, industrial, agora de veria atender à ordem social instituída na própria Europa. Entender as relaçõ es sociais constituídas no Ocidente se tornou uma prioridade. Buscar uma ação para sua transformação será o objeto de preocupação das forças políticas e também dos cientistas. O crescimento urbano desse período po de ser medido pela vid a em Londres, a primeira grande cidade industrial do mundo, no centro de uma economia que já foi por quatro séculos a maior do mundo, a ingles a. Londres prat icamente triplicou a sua população entre os séculos XVIII e XIX. A massa populacional que passou a migrar para a cidade, com o chamado êxodo rural, fez crescer uma cidade desconexa e desordenada. Os operários se concentraram em torno das fábricas ou em cortiços. Sem v ias planejadas, as cidades estavam com problemas de ocupação. As moradias eram mal ventiladas, muitas delas tinham apenas um cômodo, onde cava toda família, faltava saneamento e todos estavam expostos a um ambiente úmido e insalubre que provocava doenças, como tifo, cólera, varíola e escarlatina. Essas epidemias passaram a preocupar o Estado. A busca de um saneamento básico levará, entre outras atitudes, a promover o zoneamento urbano e as políticas de saúde pública. A desigualdade de condições cou expressa também na vida das classes mais abastadas, que tinham acesso aos benefícios dos produtos que a economia mundial permitia. A elite londrina, por exemplo, consumia produtos de luxo vindos das mais diversas partes e, também, aqueles que eram produzidos na indústria do seu país. As classes populares, em sua grande maior ia formada de operários, não tinham acesso a esses bens. Outros problemas também surgiram com a formação dos núcleos urbanos industriais, com a concentração populacional. O alcoolismo, o crescimento dos homicídios, os latrocínios e a prostituição são alguns deles. Até mesmo os manicômios começaram a se propagar como uma alternativa para o tratamento de pessoas que demonstravam desequilíbrio de comportamento. Essas situações se justicam diante da condição de vida do operariado, que trabalhava em torno de 15 horas por dia, sem descanso. Até mesmo crianças de 10 anos eram encontradas nas fábricas sujeitas às mesmas jornadas dos adultos. A massa humana que veio do campo, onde trabalhava subordinada ao regime feudal fundado na subsistência, agora s e via em uma condição oposta. Inserido em um regime frenético de trabalho, que nada lembrava as relações no mundo rural, o operariado viu se desfazerem os vínculos sociais que foram a base de sua identicação. A e conomia capitalista fez emergir as relações centradas na racionalidade e na busca de orientar a convivência socia l pela produtividade. A vida passou a valer na proporç ão em que gerava a riqueza e na lógica de mercado. Dentro dessa lógica do mercado de trabalho, a quant idade de seres humanos disponíveis para trabalhar nas fábricas apresentava uma qualicação básica. A empresa capitalista estava, ainda, dando os seus primeiros passos nos séculos XVIII e XIX, estando longe de uma complexa rede de produção com setores especícos em um alto grau de qualicação como temos hoje. A sobrevivência passa a custar a sujeição a uma condição desumana de trabalho. As condições de trabalho da classe operária durante a Revolução Industrial e sua propagação pela Europa foi tema de análise de Eric Hobsbawm em sua obra Era das Revoluções. O historiador inglês estabelece uma relação direta entre a quant idade de mão de obra ofertada p ara a produção, o nível de qualificação e as condições de trabalho: Conseguir um número suciente de trabalhadores era uma coisa; outra coisa era conseguir um número suciente de trabalhadores com as necessárias qualicações e habilidades. A experiência do séc ulo XX tem demonstrado que este problema é tão crucial e mais difícil de resolver do que o outro. Em primeiro lugar, to do operário tinha que aprender a trabalhar de uma maneira adequada à indústria, ou seja, num ritmo regular de trabalho diário ininterrupto, o que é inteiramente diferente dos altos e baixos provocados pelas diferentes estações no trabalho agrícola ou da intermitência autocontrolada do artesão independente. A mão de obra tinha que aprender a responder aos incentivos monetários. Os empregadores britânicos daquela época, como os sul-africanos de hoje em dia, constantemente reclamavam da “preguiça” do operário ou de sua tendência para trabalhar até que tivesse ganhado um salá-rio tradicional de subsistência semanal, e então parar. A resposta foi encontrada numa draconiana disciplina da mão de obra (multas, um código de “senhor e escravo” que mobilizava as leis em favor do empregador etc.), mas acima de tudo, na prática, sempre que possível, de se pagar tão pouco ao operário que ele tivesse que trabalhar incansavelmente durante toda a s emana para obter uma renda mínima [...]. Nas fábricas onde a disciplina do operário era mais urgente, descobriu-se que era mais conveniente empregar as dóceis (e mais baratas) mulheres e crianças: de todos os trabalhadores nos engenhos de algodão ingleses em 1834-47, cerca de um quarto eram homens adultos, mais da metade eram mulheres e meninas, e o restante de rapazes abaixo dos 18 anos. Outra maneira comum de assegurar a disciplina da mão de obra, que reetia o processo fragmentário e em pequena escala da industrialização nesta fase inicial, era o subcontrato ou a prática de fazer dos trabalhadores qualicados os verdaeiros empregadores de auxi liares semexperiência (HOBSBAWM, 1982, p. 66-7). Em certa maneira, até nossos dias, a qualicação de mão de obra é um elemento determinante para a forma como se estabelece a relação de trabalho e sua remuneração. C omo Hobsbawm aponta, nos primeiros momentos da Revolução Industrial, essa condição já se apresentava.Ela se agravou com a massa de p essoas disponíveis para serem utilizadas pela produção capitalista, mas o grau de qualicação se ampliou e se aprofundou. Com isso, a maioria dos seres humanos disponíveis hoje para o trabalho não não utilizados. Nos primeiros tempos da Revolução Industrial, os trabalhadores eram recém- -chegados da zona rural, tinham uma padronização de qualicação, mas eram utilizados em funções que exigiam um grau baixo de especialidade. As opera- ções de trabalho poderiam ser ensinadas sem diculdade pelos empregadores, partindo de capacidades que os trabalhadores já tinham adquirido em sua vida rural. Como arma Hobsbawm, os menos qualicados eram, muitas vezes, entregue ao comando de um trabalhador mais qualicado, por meio da terceirização das relações de produção. As relações de trabalho são marcadas pela violência sem nenhuma garantia. Não há, nos primeiros tempos da indústria, uma legislação favorável aos operários. A violência das relações no ambiente industrial se estende pela vida urbana e se expressa no cotidiano das cidades europeias durante o nascimento da indústria. Uma violência que terá formas distint as de ser compreendida e de gerar reação. Para o poder público, buscando atender ao interesse da empresa nascente, foi fundamental estabelecer mecanismos de cont role social para garantir a ordem nos espaços urbanos. Policiamento ostensivo nas ruas e instituições para o aprisionamento e tratamento daqueles que não se adaptavam à vida urbana era um exemplo. As escolas voltadas às classes populares e mantid as pelo poder público teriam como característica retirar os ociosos do mundo urbano e preparar os cidadãos para o trabalho. A educação, que sempre existiu como forma de organização da vida so cial e preparação das futuras gerações para a necessidade coletiva, agora deveria exercer essa função visando ao mundo da empresa capitalista, que se generalizava. Entre os movimentos operários que surgiram na Europa, alfabetizar os lhos era uma garanti a de não reproduzir a relação que os pais estavam sujeitos para os lhos. Para enfrentar a violência que o mundo urbano apresentava, a classe operária se organizou em associações e sindicatos. Assim, enfrentou o ambiente de trabalho imposto pelas empresas e os empresários capitalistas, dando início aos confrontos em forma de “quebra de máquinas” e p aralisação de trabalhadores. Aconteceram greves ocasionadas pela luta por melhores condições de trabalho, como o Movimento Cartista na Inglaterra do século XIX. Os problemas sociais urbanos chegaram a um determinado grau em que até mesmo as forças so ciais e políticas opostas de trabalhadores e pat rões passaram a lut ar contra problemas comuns e se associar em campanhas para romper comportamentos que se mostravam nocivos à socie dade. Um desses “inimigos comuns” foi o consumo de bebidas alcoólicas. Como arma Hobsbawm: Por outro lado, havia muito mais pobres que, diante da c atástrofe social que não conseguiam compreender, empobrecidos, explorados, jogados em cortiços onde se misturavam o fr io e a imundice, ou nos extensos complexos de aldeias industriais de pequena escola, mergulhavam em total desmoralização. Destituídos das tradicionais instituições e padrões de comportamento, como poder iam muitos deles deixar de cair no abismo dos recursos de sobrevivência, em que as famílias penhoravam a cada semana seus cobertores até o dia do pagamento, e em que o álcool era “a maneira mais rápida para se sair de Manchester” (ou de Lille ou de Borinage). O alcoolismo em massa, companheiro quase invariável de uma industrialização e de uma urbanização brusca e incontroláveis, disseminou “uma p este de embriaguez” em toda a Europa. Ta lvez os inúmeros contemporâneos que deploravam o crescimento da embriaguez, como da prostituição e de outras formas de promiscuidade sexual, estivessem exagerando. Contudo, repentina aparição, até 1840, de sistemát icas campanhas de agitação em prol da moderação, entre as classes médias e trabalhadoras, na Inglaterra, Irlanda e Alemanha, mostra que a preo cupação com a desmora lização não era nem acadêmica nem tampouco limitada a uma única classe. Seu sucesso imediato teve pouca duração, mas durante o restante do século a hostilidade à embriaguez permaneceu como algo que tanto patrões quanto movimentos trabal histas tinham em comum (HOBSBAWM, 1982, p. 223-4). Podemos considerar que diante desse ambiente, que trazia condições de degradação para parte considerável dos trabalhadores (às vezes até para a classe média e para o patronato), a ação pública deveria ser pontual e estar dentro de uma política geral de governabilidade da vida social urb ana. Isto é, era preciso uma ação dos governos municipais das cidades industr ializadas. Eles necessitavam ter a capacidade de colocar, diante dos conitos que se intensicam e de prát icas que denegriam as forças sociais, mecanismos ecientes de ação. Se a necessidade de racionalizar a vida social era uma emergência para o poder público, ela estaria na pauta de discussão do mundo cientíco. As correntes de pensadores que se debruçaram sobre os problemas da vida urbana e das condições humanas na sociedade industrial são s ensíveis a partir do sécu lo XVIII. Contudo, foi no século seguinte que essa preocupação se intensicou. Das correntes liberais ao So cialismo, as teses políticas emergiram à procura de dar resposta ao contexto tenso que o mundo industrial urbano apresentava. Os valores que orientavam o homem europ eu tinham se alterado e seriam um modelo para as demais formas de compreensão que surgiram em diversas partes do mundo. Se o movimento liberal e socialista surgiu na Europa, sua propagação pela América, Ásia e África foi corrente. A inuência da intelectualidade europeia se demonstrou com o surgimento dos Estados nacionais em áreas antes colonizadas pelos europeus. Paralelo a essas correntes, e muitas vezes sendo um contraponto a elas, os movimentos herdados das correntes naturais também emergiram. É o caso do Positivismo inaugurado por Comte na França. As teses do pensador francês viriam a inspirar aqueles que consideravam que a análise da vida so cial deveria estar fundada nos mesmos critérios dos fenômenos biológicos. SAIBA MAIS: Virgindade Sociológica Quem passou pelo lento processo de for mação acadêmica nas Ciências So- ciais – ou ainda o cumpre — vai saber muito bem daquilo que falo. Quem um dia se arriscará nessa seara das humanidades poderá perceber aquilo que digo. Quem já vivencia isso sabe muito bem o que escrevo. Talvez uma dessas profecias um dia se tornará realidade. Talvez são meros pensamen- tos, lançados à luz de uma tela de notebook, que nada remetem aqueles grandes sociólogos em quem nos inspiramos. A prossão do sociólogo é algo que se vivencia. Não dá pra separar seu dia a dia do seu exercício prossional. Anal, a todo momento estamos em conta- to com as pessoas, com a sociedade e, no m das contas, só se faz Sociologia com a sociedade, relacionando-se com ela. Se vamos à uma festa, pronto! Logo queremos compreender porque aquelas pessoas estão ali, o que se passa na cabeça delas e qual é a noção de festa que elas possuem. Se lecio- namos em sala de aula, a pergunta é sempre a mesma: o que será que eles farão com as informações e o conteúdo aqui ministrados? Fonte: os autores. Os pensadores que denominamos clássicos das ciências sociais irão pro duzir seus argumentos neste ambiente de confronto direto entre a massa de trabalhadores, as empresas, os empres ários capitalistas e o poder público. Os problemas emergentes da vida urbana alimentaram as análises de pensadores, como Durkheim, Marx e Weber. Eles darão as diretrizes para a compreensão da vida socia l, dos meios para a organização das instituições e do seu papel na construção da ordem coletiva. O que podemos destacar a princípio, e que será amplamente disc utido na próxima unidade, é a importância do trabalho como condição para a or ientação do homem em sociedade.Esse foi o ambiente que propiciou a formação da Sociologia, uma ciência da socie dade, que proc ura compreender a relação do homem com seu espaço e seu tempo. Para isso, faz uso do passado histórico, para o entendimento de determinados contextos; do presente, para explicação de fenômenos “atuais”; e, por m, da correlação de fatos para possíveis cenários futuros. Resta-nos, então, responder: qual é a relação do homem consigo e quais são suas ações que estão presentes na sociedade? É isso que vamos debater agora, diante do ambiente de formação da Ant ropologia. O ESPAÇO DE SURGIMENTO DA ANTROPOLOGIA: O QUE É ESTA CIÊNCIA? Quando falamos sobre o surgimento de uma nova ciência, logo vem à mente algo inédito, fascinante e voltado para um “conhecimento superior”. Porém, a inserção de novos conhecimentos nas humanidades é um fato que ocorre “natu- ralmente”, com a necessidade de especicar as subáreas do pensamento humano. Demonstramos que a Sociologia é produto das ideias de sua época, um per íodo de grande transformação socia l baseado nas mudanças sociais da Europa dos sécu- los XIX e X X. O itinerário de formação da Ant ropologia não foi diferente, já que também é fruto da busca por conhecer o “novo”, por descobrir algo que encantava: o contato com novos povos e novas culturas por intermédio das grandes navegações. Antes de falarmos de uma metodologia para explicar o que é e como estu- dar a Antropologia, po demos armar que já existia uma espécie de “p ensamento antropológico”, isto é, já havia um número considerável de pensadores reetindo sobre os desdobramentos do estudo do homem e de sua relação consigo e com a socied ade. A questão fundamental da Antropologia é, portanto, entender como nós, seres humanos, tão parecidos em aspectos biológicos, podemos ser tão dife- rentes em aspectos cu lturais. Essa questão começou a ser respondida a partir da cultura europeia, domi- nante nos primórdios da Antropologia. Diante do expansionismo europeu com as grandes navegações - iniciadas em Portugal e na Espanha e, posteriormente, na Inglaterra, na França e nos demais países -, podemos vericar que a relação entre dominante e dominado passou a pautar as principais questões volt adas à Antropologia. Anal, a força do homem branco europeu era suciente para dominar culturalmente um “novo homem descoberto”? Quem det inha, então, o domínio das relações culturais: o dominante (aqui visto como o Europeu) ou o dominado de qualquer localidade outrora “des coberta”? Estabeleceu-se, assim, um paradoxo para a Antropologia: como agir diante dessa situação? Em Aprender Antropologia, François Laplantine faz um resgate histórico dessa ciência, trazendo à luz uma importante cont ribuição acerca da fundamentação deste “novo” conhecimento. O projeto de fundar uma ciência do homem — uma antropologia — é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no nal do sécu lo XVIII é que começa a se constituir um saber cientíco (ou pretensamente cientíco) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito cientíco pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia (LAPLANTINE, 1987, p. 7). Nota-se que a Antropologia é uma ciência racional, direcionada ao conhe- cimento do homem por meio de seu cont ato com a sociedade, analisando as inuências que um tem sobre o outro. Diante dessa face de troca do saber entre o individual e o social, ela se constitui, formando a cultura, um dos seus prin- cipais objetos de análise. Como a Antropologia está dividida? Quais são suas áreas e o que ela pes- quisa, anal? Mais que isso: qual a função de conhecermos a Antropologia para os fundamentos da educação? É esse o caminho que pretendemos demonstrar a você, caro(a) acadêmico(a), a m de articular o conhecimento da Antropologia com as ações de sua vida cotidiana enquanto estudante das humanidades. Segundo Marconi e Presotto (2007), existem dois grandes grupos que estru- turam a Antropologia: a Antrop ol og i a Física ou Biológica e a Antropol og ia Cu ltu r a l , que, com suas peculiaridades, auxiliam no entendimento do seu campo de atuação. A Antropologia Física ou Biológica é destinada a estudar a posição do homem enquanto “herdeiro biológico”, ou seja, o homem e a evolução dele desde o surgimento da espécie até a atualidade. Surge, então, o primeiro trabalho do antropólogo físico, que é estudar a Pa leontologia, destinada a buscar o entendi- mento do homem a partir da interface com a Biologia, a Genética, a Arqueologia e outras áreas. A Paleontologia é um subcampo do conhecimento ant ropológico, uma vez que se articula com as demais áreas relacionadas a conhecer os fósseis humanos, realizar escavações em sítios arqueológicos, ent re outros. Por meio do estudo do aspecto biológico humano, a Paleontologia artic ula as ciências naturais com a História, compreendo como o homem estava situado na terra dos primórdios até a atualidade. Por outro lado, a Antropologia Cultural tem como missão o estudo dos aspectos que irão formar a sociedade a p artir daquilo que nós, humanos, consi- deramos como cultura, ou seja, algo que será perp etuado de geração em geração, constituindo o conjunto de várias áreas do conhecimento. A palavra “cu ltura” expressa o cultivo de elementos, como o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e as aptidões adquiridos pelo ser humano. Neste sentido, a Antropologia Cultural tem por objetivo o estudo das dife- rentes culturas para cada socie dade, por meio de alguns questionamentos: existe um padrão de cultura? É possível mensurar semelhanças e diferenças ent re dife- rentes culturas? O que faz com que a cultura de um povo seja formada? Ela é sempre imutável ou ela pode ser t ransformada de acordo com a evolução da socie- dade? São essas as questões que permeiam há anos a Ant ropologia Cultural, um campo dessa ciência que estuda o homem e, sobretudo, recentemente, os possí- veis “padrões de cultura” identicados na sociedade. Laplant ine (1987) salienta que a Antropologia Socia l e Cultural (ou Etnologia) é, hoje, o principal campo de atuação da Antropologia, uma vez que corresponde a praticamente tudo o que há na sociedade: “seus modos de produção econômica, Segundo Marconi e Presotto (2007), existem dois grandes grupos que estru- turam a Antropologia: a Antrop ol og i a Física ou Biológica e a Antropol og ia Cu ltu r a l , que, com suas peculiaridades, auxiliam no entendimento do seu campo de atuação. A Antropologia Física ou Biológica é destinada a estudar a posição do homem enquanto “herdeiro biológico”, ou seja, o homem e a evolução dele desde o surgimento da espécie até a atualidade. Surge, então, o primeiro trabalho do antropólogo físico, que é estudar a Pa leontologia, destinada a buscar o entendi- mento do homem a partir da interface com a Biologia, a Genética, a Arqueologia e outras áreas. A Paleontologia é um subcampo do conhecimento ant ropológico, uma vez que se articula com as demais áreas relacionadas a conhecer os fósseis humanos, realizar escavações em sítios arqueológicos, ent re outros. Por meio do estudo do aspecto biológico humano, a Paleontologia artic ula as ciências naturais com a História, compreendo como o homem estava situado na terra dos primórdios até a atualidade. Por outro lado, a Antropologia Cultural tem como missão o estudo dos aspectos que irão formar a sociedade a p artir daquilo que nós, humanos, consi- deramos como cultura, ou seja, algo que será perp etuado de geração em geração, constituindo o conjunto de várias áreas do conhecimento. A palavra “cu ltura” expressa o cultivo de elementos, como o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e as aptidões adquiridos pelo ser humano. Neste sentido, a Antropologia Cultural tem porobjetivo o estudo das dife- rentes culturas para cada socie dade, por meio de alguns questionamentos: existe um padrão de cultura? É possível mensurar semelhanças e diferenças ent re dife- rentes culturas? O que faz com que a cultura de um povo seja formada? Ela é sempre imutável ou ela pode ser t ransformada de acordo com a evolução da socie- dade? São essas as questões que permeiam há anos a Ant ropologia Cultural, um campo dessa ciência que estuda o homem e, sobretudo, recentemente, os possí- veis “padrões de cultura” identicados na sociedade. Laplant ine (1987) salienta que a Antropologia Socia l e Cultural (ou Etnologia) é, hoje, o principal campo de atuação da Antropologia, uma vez que corresponde a praticamente tudo o que há na sociedade: “seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas” (L APLANTINE, 1987, p. 19). Portanto, a Et nologia é a áre a destinada a compreender a sociedade a p artir do ponto de vista do homem. Conforme você, aluno(a), viu durante a formação das ciências sociais, a Antropologia pretende estudar a relação do homem em/ na sociedade, enquanto o sociólogo estuda o funcionamento da so ciedade, seja a partir das suas instituições ou a partir dos mecanismos desenvolvidos pelos humanos para que a sociedade progrida. Será que a Antropologia sempre estudou os aspectos cu lturais para entender a ação do homem? Um dos pioneiros da área é Bronislaw Malinowski (1884- 1942), que atribuiu a ela um caráter cientíco. Com a utilização da Etnograa, o autor ia até o campo de estudo para compreender melhor o dia a dia das comu- nidades do pacíco ocidental. A ideia de Malinowski para o trabalho do antropólogo é simples: nada como se tornar um deles para conhecê-los melhor. S eguindo essa máxima, o autor se mudou para as Ilhas Trobriand, defendendo, durante sua p esquisa, aquilo que acre - ditava: é preciso fazer Antropologia no momento onde obser vamos determinado acontecimento. Com isso, afastava-se a possibilidade de atuar ant rop ologicamente a partir de informações alheias, isto é, sem ter a delidade dos conhecimentos adquiridos no camp o (na área de pesquisa) pelo próprio antropólogo. Seu método conhecido como “obser vação p articipante” até hoje pauta os tra- balhos na Antropologia. Portanto, s egundo Malinowski, não há melhor maneira de se fazer Antropologia senão part icipar cotidiana e rotineiramente com o nat ivo, ou seja, com o estranho que se tentará entender, para posteriormente estabe- lecer um padrão de cu ltura delimitado acerca de seu comportamento. Em Os Argonautas do Pacíco Ocidental, o autor s e depara com essa realidade, traduzindo em seus diários as ações cotidianas do “nativo estranho” com o qual se deparou. O nascimento da Antropologia, como exposto, teve como objeto de estudo o homem não europeu. Ela se debruçou sobre o comportamento de civilizações encont radas pela expansão europeia e sua dominação nas mais diferentes partes do mundo. Considerou, dessa forma, comparações, classicações e esca lona- mento mediante valores que o homem ocidental impunha aos demais povos. Essa escal a ser viu para estabelecer a “linha evolutiva” que tinha a “Europa civilizada”, como arma Augusto Comte, no topo. O p ensador francês, funda- dor das teses positivistas, estabelecia, no princípio da evolução civilizadora, as socied ades que tinham comportamentos próximos ao dos primat as. Mais tarde, Morgan e mesmo Hegel seguiram por caminhos diferentes o mesmo critério de colocar os ocidentais na cadeia evolutiva. Charles Darwin é o autor de maior lembrança quando falamos de evolução, por mais que suas colocações sejam interpret adas de forma equivocada como uma justicat iva de superioridade natural do homem europeu. O antropólogo francês considera que a lei do melhor adaptado reside mais na capacidade de assimilação do ser vivo ao meio do que de sua competência mental para garantir a permanência. Isto é, formas mais complexas de espécies p odem ser elimina- das se não assimilarem determinadas mudanças no meio. A literatura também foi uma expressão da superioridade ocidental. Romances e aventuras fortaleceram o ideal do vitorioso homem branco. Nas páginas dos livros que se transformaram em clássicos durante os séculos XIX e X X, os per- sonagens vitor iosos eram os exemplares éis do corpo social do o cidente. Talvez, nenhum romance de aventura expressou com maior intensidade esta ideia do que a Lenda de Tarzan. O homem branco está fadado, segundo a produção cient íca e literária pro- duzida pelo ocidente, à conquista, à sup erioridade e à responsabilidade de civilizar o mundo e, como um deus, recriá-lo a sua imagem e semelhança. Na conquista estabelecida sobre diversos povos, o homem ocidental julgou, absolveu e conde- nou. Su a sentença sempre está c alcada na busca por si mesmo, s egundo François Laplant ine. Por isso, os que lhe pareciam conhecidos eram absolvidos e os que lhe causavam estranheza e o negavam deviam ser exterminados. Esse panorama da Antropologia, conforme anunciamos anteriormente, mudou: o que está em voga na modernidade é a busca pelo conhecimento dos padrões de cultura e comport amento de cada so ciedade, além da valorização da pec uliaridade das culturas. Antes vistas como estranhas e desvalorizadas, as culturas não europeias passaram a ter a devida importância na discussão antropológica. O que vale hoje para a Antropologia é a igualdade de análise das culturas, reforçando as particularidades e não a supremacia cultural de um em relação a out rem. Entretanto, p ara compreendermos essa abordagem, Laplantine esclarece ser neces- sário conhecer os conceitos de “so cial” e de “cultura”, uma vez que tanto a Antropologia quanto a S ociologia têm como nalidade o homem como objeto de estudo: O social é a totalidade das relações (relações de produção, de explo- ração, de dominação…) que os grupos mantêm entre si dent ro de um mesmo conjunto (etnia, região, nação…) e para com outros conjuntos, também hierarquizados. A cultura por sua vez não é nada mais que o próprio social, mas considerado dessa vez sob o ângulo dos carac- teres distintivos que apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem como suas produções originais (artesanais, artísticas, religiosas) (LAPLANTINE, 1987, p. 120). Nota-se, dessa forma, que a cultura reete em sociedade os comportamentos individuais de cada grupo, que posteriormente irá formar a sociedade. A cul- tura, como já adiantamos, é a transmissão e o cultivo dos saberes e costumes de um grupo humano de forma coletiva, ou seja, com o convívio em/na socie- dade. Logo, a c ultura passa a integrar um objeto antropológico de conhecimento, na tentativa de resp onder quais são os padrões de cultura assumidos por cada grupo na humanidade. Obser ve que no itinerário que propusemos, da for mação da Antropologia até a investigação da cultura para essa ciência, tentamos demonstrar a pecu- liaridade e a multiplicidade de culturas que você irá lidar ao longo da carreira docente. Veja que o processo de considerar as diferentes culturas (cada qual com sua importância) é algo próprio da Ant rop ologia. Roberto DaMatta dene esse conceito como a “relativização” das culturas: O “relat ivizando” que nomeia este livro, p ortanto, nada tem a ver com uma ideologia substantiva do universo socia l humano, segundo a qual tudo é variável e tudo é válido. Muito ao contrário, trata-se de uma atitu- de positiva e valorativa, expressa no meu “relativizando”, a cobrir o abra - ço destemido que damos quando pretendemos entender honestamente o exótico, o distante e o diferente, o “outro” (DAMAT TA, 1981, p. 10). Relativizar, segundo DaMatta, é valorizar as diferenças culturais existentes, sabendo tolerá-las e, sobretudo, integrá-las na vida social. Portanto, a Antropologia aplicada à educação demonstra que, durante a carreira docente, é preciso saber relativizar as culturas, os modos de comportamento e o estilo de vida de c ada aluno(a), na tentativa de facilitar o relacionamento estabelecido no ambiente escolar Diante desse cenário, demonstramos que a Antropologia cumpre seu papel quanto aos fundamentos da educação: ela auxi lia na compreensão e compara- ção entre os dois objetos fundament ais e em constante mudança no processo de formação educacional, ou seja, a sociedade e a cu ltura. Ainda que ambas tenham boa linearidade de p ensamento, s ão peças em aperfeiçoamento permanente, em uma engrenagem complexa que é a história e a evolução do pensamento humano. O educador, nesta seara, deve estar preparado para utilizar o que a Antropologia melhor oferece, que é a “relativização” das culturas, além de se colocar no lugar do outro para melhor compreendê-lo, em um processo interminável de obser- vação participante, conforme Ma linowski, que poderá facilitar o entendimento das mudanças que a sociedade sofre. Assim, esperamos que a Antropologia possa fundamentar as bases do conhecimento das humanidades e, em conjunto com a So ciologia, ser parte da produção do saber. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, pudemos trabalhar com a formação das Ciências So ciais ao longo dos anos, isto é, apresentamos a você, caro(a) aluno(a), como e porque existem três ciências que se dedicam a estudar a sociedade sob três pontos de vista: a So ciologia, a Antropologia e a Ciência Política. Quanto à Sociologi a, que tem a socied ade como grande laboratório, pudemos constatar seu ambiente de formação, tendo como plano de fundo a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, dois marcos importantes para a compreen- são de que a vida citadina possui maior complexidade do que a campesina, o que reete nas novas relações so ciais, trabalhistas, políticas e comportamentais. Tal a lteração do modo de vida do homem fez com que ele passasse a explo- rar novos espaços, ainda não descobertos (ou não explorados), o que demonstra a necessidade de compre endermos a cultura do outro para melhor nos enten- dermos. Surgia aí a Antropologia, destinada a estudar o homem e sua trajetória em/na sociedade. A jornada até aqui estabelecida conduz para iniciar o propósito deste livro, indicado nesta Unidade I: aguçar o senso crítico da vida que estabelecemos socia lmente. Isto é, olhar para além do já xado, do que é dado pela so ciedade para nós e do que ofertamos em troca para a sociedade. Em suma: a proposta é melhor compreender o meio em que vivemos, dialogando, criticando e deba- tendo os caminhos para melhorar o convívio s ocial. Dessa forma, ainda ca a questão motriz do livro, p orém j á pautada de ante- mão: quais são os fundamentos sociológicos e antropológicos e a respectiva contribuição de ambos para a educação? É o que pretendemos demonstrar nesta trajetória, iniciando pelos chamados autores clássicos da sociologia, que expu- seram com propostas centrais um a um os estilos de vida na so ciedade urbana em seus primórdios. SOCIOLOGIA CLASSICA l INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), o desenvolvimento da S ociologia e da Antropologia está ligado diretamente ao desenvolvimento da sociedade o cidental capitalista. Nela surgiu a necessidade de compreender as transformações que passou a Europa. A formação de uma vida urbana tensa gerou novos fatos sociais ainda desco- nhecidos para o mundo europeu. As tensões so ciais se agravaram com o desenvolvimento industrial. Homicídio, alcoolismo e suicídio são alguns dos fatos que geraram preocupação para o des- tino da vida so cial na cidade. O crescimento urbano acarretou desordens e fez surgir as revoltas operárias e as primeiras manifestações cont rárias à sociedade industrial nascente. A cidade foi o palco da crise s ocial, por meio dos movimen- tos quebra-máquinas e da formação do Partido So cial Democrata alemão, tendo como um de seus fundadores Karl Marx. Na crise, os pensadores europeus passaram a se dedicar em entender os comportamentos sociais urbanos e suas razões. Quais fatores promoviam a vio- lência, o alcoolismo, o suicídio e os homicídios? Por que em tão grande escala a vida so cial se degenerava? Nesta unidade, vamos sempre associar os métodos aos fenômenos sociais. Não podemos abrir mão de uma análise dos clássicos sem entender os fenôme- nos que estimu laram os pensadores europeus que fundaram a Sociologia. Em uma sociedade considerada perdida pelo caos instalado e expresso no conito entre os grupos humanos, alguns acreditavam que a crise passaria e que era necessário acomodar a ordem social ao desenvolvimento. Auguste Comte e Émile Durkheim são os teóricos a serem analisados, já que buscaram respostas para a sociedade de s eu tempo e estabeleceram as bases de uma Ciência que se desenvolveu e prosperou até nossos dias. Se ainda continuamos a estudar os clássicos e considerar suas análises válidas, é porque muitos dos problemas sobre os quais eles se debruçaram ainda cont i- nuam se apresentando, t alvez com uma nova roupagem. A SOCIEDADE, UM “OBJETO ESTRANHO” A análise da vida so cial foi preoc upação para vários cient istas sociais. A maio- ria buscava estabelecer princípios de moralidade e uma idealização de condut a necessária, orientando a ação na vida socia l com elementos de ética e moral que pudessem superar os atritos da vida coletiva. As instituições religiosas se dedi- caram a compreender os males sociais como algo orient ado pelas tendências malignas que atentavam a vida humana. Os homens da racionalidade, por sua vez, valorizavam a razão como forma de compre ensão e ação, mas sem o entendimento do fenômeno social. Partia-se do princípio de que o homem deveria se orientar diante dos outros, os quais eram desconhecidos da compreensão da Ciência. Dois acontecimentos de grande tensão social, que emergiram da necessi dade de uma compre ensão cientíca da so ciedade, foram a industrialização e o crescimento das cidades de forma desordenada. A vida urbana produziu fenô- menos de instabilidade social em uma proporç ão nunca vista. São exemplos o desenvolvimento do alco olismo, da prostituição, do homicídio, do suicídio e do Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. latrocínio; Sem contar os distúrbios provocados por manifestações coletivas, que eram encarados por muitos intelectuais e homens de Estado como um “problema”. Nos sécu los XVIII e XIX emergiram grandes cidades e bairros formados sem planejamento, em muitos casos havia uma concent ração desordenada de indivíduos. Nesses ambientes per iféricos e urbanos, eram confrontadas as regras estabelecidas na vida rural, a qual não se p odia mais reproduzir na cidade. Ao mesmo temp o, as condições de sobrevivência no mundo urbano se mostravam violentas. Revoltas populares contra as máquinas no século XVIII, na Inglaterra, foram uma expressão dessa cont radição. Os operários consideravam que os maus-tra- tos impostos a eles eram consequência da existência das máquinas. Dessa forma, se elas fossem destruídas, a relação com a classe patronal seria mais humana. Ao longo da história, a luta contra o desenvolvimento tecnológico se mostrou em vão. Outras tendências se colocavam em oposição ao caos social, resgatando as “t radições” e considerando que a perda de um comp ortamento moral seria res- ponsabilidade das transformações econômicas que a socied ade estava vivendo. O regime de liberdade era questionado e colocado como o fator de permissivi- dade para o que se chamava de “imoralidade”. Em alguns países, como a França, logo após a derrota de Nap oleão Bonaparte, em 1815, quando se viveu a restauraç ão do “antigo regime”, aconteceu o retor no ilusório de uma sociedade de ordens, que prometeu resgat ar o caos, mas ap e- nas aprofundou acrise so cial. Uma lição que se tirou da Europa no século XIX é que não há retorno quando se tem mudança, principalmente uma revolução. A socied ade europeia não foi a mesma após a Revolução Industrial (1750) e Revolução Francesa (1789). As correntes liberais ascenderam na vida pública e passaram a dominar o cenário político no Continente. Fora da Europa, e como um desdobramento dos seus movimentos liberais, os Estados Unidos foi a pri- meira colônia a se tornar independente e iniciar a ruptura das colôni as europeias na América. A implantação dos regimes liberais, porém, não foi compreendida como a sup eração dos problemas sociais. As críticas às teses liberais e aos gover- nos que ela respaldou, sejam monarquias ou repúblicas, acentuaram-se. Duas tendências cresceram no contexto de crítica aos problemas urbanos nas cidades industrializadas da Europa. O primeiro foi o socialismo, inicialmente utópico, que se propagou na França e Inglaterra. A tendência de crítica estabe- lecida por essa corrente não refutava efetivamente a economia industrial, mas considerava que a desigualdade de veria ser combat ida pelo Estado. O governo deveria se comprometer a inter vir na vida s ocial e econômica, visando garantir as condições mínimas para os indivíduos que se encont ravam ameaçados pela exploração econômica e pela miséria que a constituição do proletário estabeleceu. Mais tarde, o socialismo enriqueceu suas teses e gerou uma crítica mais con- tundente ao capitalismo em desenvolvimento. C om Karl Mar x, teórico alemão, foi estudado criteriosamente. Seus estudos iniciaram pela mercadoria, pela pro- dução da vida material e pelas relações entre as classes formadas pela economi a, pelos proprietários dos meios de produção (a burguesia) e pela forç a de traba- lho (o proletário). A tese do materialismo histórico e dialético s erá entendida ainda nesta uni- dade. Aqui, porém, é imp ortante pontuar que no nascimento da S ociologia há um posicionamento da so ciedade capit alista em formação, seja na crítica, como as teses de Marx, ou na defesa de uma reorganização da vida em sociedade, como propôs Comte ou Durkheim, os quais passaremos a analisar a partir de agora. A preocupação com a organização da vida social foi cultuada por muitos pensadores. Podemos considerar que mesmo ent re os liberais havia a busca de estabelecer uma relação entre a particularidade das so ciedades e os problemas que elas at ravessavam, sejam eles comuns ou não. A distinção de valores ent re uma nação e outra era clara; anal, sempre foi perceptível ao homem que o com- portamento de determinadas sociedades di ante de problemas idênticos não era o mesmo. D essa forma, seria p ossível estabelecer um critério comum na análise de socied ades distintas? A instalação do liberalismo gerou uma euforia nos países da Europa onde ele foi instalado. Na França e Inglaterra, onde as ideias liberais se consolida- ram, na primeira em forma de revolução e na segunda como reorganização do poder, o liberalismo promoveu o expansionismo da empresa econômica asso- ciada à ação militar. Entre os ingleses, o desenvolvimento de uma indústria fundada na maqui- nofatura gerou a bus ca por novos mercados e a necessidade do estado inter vir na vida soci al para adaptar a sociedade à empres a capitalista emergente. Não é por acaso que os interesses do parlamento inglês tinham dois direcionamentos. Primeiramente, criar um ambiente que facilitasse o desenvolvimento dos meios industriais, por meio de capitais que eram obtidos externamente para serem apli- cados no território britânico. Dep ois, forç ar a abertura de mercados em todo o mundo para a compra de produtos ingleses, utilizando todo o aparato bélico e, principalmente, naval, necessário para esse intento. A contradição se estabeleceu no território britânico, que passou a ter acesso a uma quant idade imensa de pro dutos e capitais, que nunca antes na história britânica migraram para o seu território. Ao mesmo temp o, par te considerável da população de trabalhadores ingleses vivia em condições de miséri a extrema. Assim, a riqueza e a pobreza se apresentavam como condições antagônicas de um mesmo sistema. Na França, o processo revolucionário que se instalou com a Queda da Bastil ha (1789) deu início a uma guerra civil e, posteriormente, a um confronto com os países vizinhos. Essa sequência de conitos marcou a história da Europa e se tornou o marco da passagem do Perío do Mo derno para o Contemporâneo. A população francesa não conheceu a paz ou a realização do ideal lib eral ideali- zado antes do pro cesso revolucionário. O que os franceses tiveram que conviver foi com uma s equência de regimes que se proclamavam liberais, mas não con- seguiam gerar a paz para estabi lizar a vida social e econômica. Quem acabaria por estabelecer a paz com durabilidade dentro do território francês, mas não por muito tempo, foi Napoleão B onap arte. O general que se fez imperador assumiu o governo da França em 1799, após um golpe de estado e foi derrubado por uma coligação de países que o depôs denitivamente em 1815. Contudo, o período napoleônico signicou uma mud ança denitiva na vida soci al e econômica francesa. Bonaparte inspirou músicos como Ludwik van Beet hoven e intelectuais como Auguste Comte. Enquanto o primeiro se arrependeu de uma sinfonia dedicada a Bonaparte, o segundo se inspirou para desenvolver a defesa do governo da eficiência. AUGUSTE COMTE Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. dos fenômenos sociais e passa a considerar o método das Ciências Naturais como um instrumento fundamental na construção de princípios p ara entender o desenvolvimento da s ociedade humana. Para ele, a sociedade ocidental era o cume de uma cadeia evolutiva do conhecimento des envolvido pelas socied ades humanas. Nesta e volução, as sociedades passaram por estágios semelhantes, mas algumas ainda se encontram, segundo ele, em uma etapa mística do pen- samento, a infância. Para ele, a própria Física Soci al, nome dado à Sociologia em sua origem, estava ligada a esse processo de desenvolvimento e deveri a ter como objeto de estudo a compreensão dos fenômenos sociais como resultado da evolução que as diferentes civilizações viveram até chegar à “Europa civilizada”: Entendo por Física Soci al a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e siológicos, isto é, como submetidos a leis naturais invariáveis, cuja descoberta é o objetivo especial de suas pes quisas. Propõ e-se, assim, a explicar diretamente, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do desenvolvimento da espécie humana, considerado em todas as suas partes essenciais; isto é, a descobrir o encadeamento necessário de transformações sucessivas pelo qual o gênero humano, partindo de um estado apenas superior ao das sociedades dos g randes macacos, foi conduzido gradualmente ao ponto em que se encont ra hoje na Europa civilizada. O espírito desta ciência consiste, sobretudo, em ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira explicação do presente e a manifestação geral do futuro (COMTE, 1989, p. 53). É possível perceber que a Ciência tem um papel fundamenta l na teoria de Comte, mas não a Ciência de uma for ma geral. Para ele, as Ciências Naturais são as ver- dadeiras Ciências Positivas, que se somam para a construção da superioridade da civilização ocidental, para gerar a maturidade necessária para que o conhe- cimento possa intervir na análise da vida s ocial. Por isso, para ele, a Ciência já teria atingido esse grau de maturidade no Ocidente, no que ele chama de “Europa civilizada”. Na própria citação, é possível compreender a evolução do conhecimento cientíco e os seus estágios. A Física Soci al é fruto de um desdobramento das Ciências Naturais, por meiode um pro cesso de evolução que tem como princí- pio a Matemática, desdobrando-se em sua evoluç ão na Astronomia, na Física, na Química e na Biologia (Fisiologia para ele). A Medicina ser ia, para Comte, a Ciência que se aproximaria no exercício da prossão do p erl de interferência do físico-so cial. Cabe ao médico diagnosticar a doença diante dos dados levan- tados empiricamente, cabe ao sociólogo a análise dos fatos sociais diagnosticados pelos mesmos critérios da Medicina, ou seja, a Fisiologia. Se considerarmos quem seriam os precursores da Ciência Positiva, Comte aponta B acon, Galilei e Descartes. Para ele, foram os que deslumbraram a capaci- dade da Ciência compreender, por meio dos fenômenos físicos, as leis que regem a natureza. Mais que isso, criaram um método seguro, que permite a acumula- ção do conhecimento e seu desenvolvimento p osterior. Segundo o próprio Comte (1989): A época em que as ciências começaram a tornar-se verdadeiramente positivas deve ser reportada a Bacon, que deu o primeiro sinal dessa grande revolução; a Galileu, seu contemporâneo, que lhe deu o rimei- ro exemplo, e, por m, a Descartes, que destruiu irrevogavelmente nos espíritos o jugo da autoridade em matéria cientíca. Foi então que a losoa natural nasceu e que a capacidade cientíca encontrou seu verdadeiro caráter, como elemento espiritual de um novo sistema social.A partir dessa épo ca, as ciências tornaram-se sucessivamente positivas na ordem natural que deviam seguir para tal m, isto é, segundo o grau maior ou menor de suas relações com o homem. Foi assim que a Astro-nomia em primeiro lugar, em seguida a Física, mais tarde a Química, e, enm, nos nossos dias, a Fisiologia, constituíram-se em ciências posi-tivas. Esta revolução está, portanto, plenamente efetuada em todos os nossos conhecimentos particulares, e tende evidentemente a operar-s e hoje na Filosoa, na Moral e na Política, sobre as quais a inuência das doutrinas teológicas e da metafísica já foi destruída aos olhos de todos os homens instruídos, sem que, contudo, estejam elas ainda fundas em obser vações. É a única coisa que falta ao desenvolvimento do nosso sistema social (COMTE, 1989, p. 55). Nesta citação, ca claro o papel das Ciências Naturais como também da rup- tura que pensadores como Bacon, Galileu e Descartes zeram com a Filosoa Humanista. Não podemos esquecer que o conhecimento cientíco que foi promo- vido partindo da lógica da Ciência Moderna acabou por romper com a tradição losóca da racionalidade cientíca. Pensar o homem era pré-requisito para pensar as coisas, em especial os elementos da natureza. O que Comte propõe é os conitos e os impasses para o desenvolvimento, mas também preveni-los e gerar a cap acidade de antecipar crises. Para isso, é necessária a administração tecnocrata, ou seja, especialistas nas áreas de governança. Para as mais diferen- tes especialidades que o Estado atua, deve haver um técnico ou um cientista para realizar a condução. Muitos governos se instituíram como voltados a esse prop ósito. Na histó- ria brasileira, o princípio do positivismo inspirou principalmente os militares, em especial do Exército. Crentes em um governo fundado na eciência e na meritocracia, os militares tomaram o poder diversas vezes na defesa de uma modernização do Brasil por meio das teses positivas. Mesmo a Proclamação da República (1889), feita pelos militares, foi inspirada na puricação do regime, na moralização do Estado e na eciência da máquina pública, ou seja, nas teses positivistas. O lema express o na bandeira brasi leira (Ordem e Progresso) é ins- pirado nas teses de Comte. A ordem cientíca promove o progresso humano. O método defendido por Comte se sustenta nos mesmos critérios das Ciências Naturais. Para ele, o pesquisador dos fenômenos so ciais deve se postar diante de seu objeto da mesma forma que o físico, o químico ou o biólogo. De ve-se ater, ainda, aos fatos observáveis, mensuráveis e que necessitam ser compara- dos e classicados. A objetividade é um critério fundament al para o cientista socia l positivista. Outro aspecto importante do método positivo, que costumeiramente gera polêmica, é a neutralidade cientíca. Isto é, o pesquisador não pode se deixar envolver pelos valores subjetivos, teológicos ou abstratos, que deturpem a aná- lise do fenômeno ou que lhe imponha um julgamento prévio. A objetividade está ligada diretamente à neutralidade. Caso se de dique exclusivamente aos fatos observáveis, passíveis de men- suração, de proporcionalidade e de correlação objetiva com outros fenômenos a ele relacionados pela ligação direta e objetiva, o pesquisador atingirá a ver- dade. Um exemplo a ser considerado é a prática do homicídio: por mais que haja repulsa moral à sua prática, ele existe ao longo da história, é uma constante socia l. Segundo Enzensberger (1995, p. 9), “os animais lutam, mas não fazem guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua pró- pria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões” Quantos fatos não são uma constante? O comportamento so cial se mantém em algumas sociedades como uma necessidade da própria ordem. Um elemento que garante a eciência da vida socia l. Esses fenômenos mere cem um destaque maior na análise das diferentes socied ades. Se levarmos em consideração que o trabalho desempenha um papel vital para a manutenção da vida coletiva, em qualquer período histórico, ele é uma dessas constantes. O engraçado nos dias atuais é o quanto as pessoas desprezam a função do trabalho na construção de um projeto de estabi lidade futura. Comte, quando analisou a ordem e conômic a, considerava que o trabalho em uma sociedade complexa como a capitalista industrial, fundada em uma divisão de trabalho, necessita prep arar os seus membros p ara cumprirem as diferentes funções que a vida so cial exige. Dessa forma, para ele, cabe ao Estado orient ar o desenvolvimento de uma so ciedade, estimulando o trabalho especializado p ara que cada um dos seus membros se adéque às necessidades que a socied ade exige. Em uma sociedade como a nossa, na qual discutimos a necessidade do tra- balho técnico prossionalizante, as teses positivistas nos orientariam para o investimento na qualicação, ou seja, na promoção de um ensino voltado ao mercado de trabalho, nos mais diferentes níveis de con hecimento e grau de complexidade. Essa necessidade deve estar, para o positivismo, acima dos dese- jos partic ulares. Os cargos de comando social de vem ser ocupados por quem tem uma qualicação de maior custo e temp o para o Estado, p or isso, seria rele- gada a poucos. A escolha dos que deveriam ascender às funções mais importantes deve privilegiar o grau de eciência com um critério de ava liação que priorize a com- petência para o cargo. Devem-se priorizar os benefícios da ordem social e não os interesses particulares, de setores determinados. Se determinados grupos estão sendo marginalizados, deve-se entender os fatores desta marginalização. Eles não devem, porém, colocar em risco as prioridades da ordem. Não podemos estimular as diferenças em detrimento da ordem social eciente. A maturidade socia l não é algo fácil dentro de uma sociedade na qual as forç as são diversas. Para Comte, a conquista de um desenvolvimento econô- mico em um grau mais elevado só po de ser alcançada após a sociedade atingir uma maturidade na capacidade de agir fundada na razão cientíca. Para ele, o crescimento do capitalismo está relacionado diretamente a isso. A economia só po de se desenvolver na condição da sociedade industrial após o aprimora- mento cientíco e técnico dos meios de produção. D essa forma, o capitalismo é um estágio superior do desenvolvimento econômico, em esp ecial quando se deixa levar pelas leis de mercado e se orientar por uma racionalidade cientíca. A LEI DOS TRÊS ESTÁGIOS Um dos princípios fundamentaisdefendidos por Comte é a Lei dos Três Estágios. Nela, o autor busca a compre ensão do desenvolvimento social medi ante a presença do conhecimento cientíco na vida socia l. A Ciência está presente nas relações entre o homem e as instituições que ser vem de orientação para a ordem social. Também podemos considerar a própria explicação do homem sobre a natureza e os elementos que atingem diretamente sua relação com as leis naturais. Por isso, anteriormente, as leis naturais desvendadas nas teses de Galileu e Bacon são elogiadas por Comte como uma conquista imp ortante na busca de compre ender as leis universais e or ientar o homem para o conhecimento cientí- co moderno, separando a Ciência da Filosoa. Essa maturidade do pensamento, para ele, at ingiu outros campos de conhecimento e hoje já estaria em seu grau satisfatório para ser usada na análise do desenvolvimento social humano. Quais seriam, porém, esses estágios de desenvolvimento? O primeiro é o estado teológic o, em que os fenômenos naturais só po dem ser compreendidos com a crença em um elemento divino, que oriente a vida dos homens e promova as condições nas quais ele está inserido. Logo, o conhecimento que temos da vida e das coisas que nos cercam é considerado, neste estágio de desenvolvimento, como sup ercial. Esse estado per mite ao homem uma verdade carregada de prin- cípios sustentáveis apenas se admitirmos a existência de uma ent idade acima da capacidade de compreensão humana, que seria o verdadeiro condutor da vida. O segundo é o estado da abstração, que, para Comte, desempenha o papel de passagem do estágio teológico para o físico, que veremos logo mais. Nele, o homem rompe com as explicações teológicas e estabelece uma relação racional com o mundo, tentando entendê-lo dentro de categorias lógicas. Esse estágio permite a análise pela cadeia de fenômenos obser váveis, mas ap enas de forma supercial, ainda sem uma comprovação empírica e que siga leis previamente estabelecidas pela obser vação. O pensamento abstrato é resultado das condições de desenvolvimento da racionalidade cientíca fundada em leis naturais. Os dados observáveis vêm daquilo que existe enquanto fenômeno, mas a compreensão de sua essência ainda não é entendida desta forma pelo pensamento abstrato. As regras do conheci- mento não estão estabelecidas a partir das leis obser váveis e nela se sustentam. Há leis naturais que regem os fenômenos para C omte, as quais devem ser os elementos que conduzem a obser vação. Contudo, resultam da pes quisa cons- tante de comprovação de sua existência, como as leis da Física e da Química. Um avanço neste sentido só foi possível na sociedade atual. Nela, o pensador consi- dera que a maturidade atingida pela Ciência já per mite utilizar os métodos das ciências naturais para compreender os fenômenos sociais. Por isso é necessário a compreensão sobre os fenômenos físicos, funda- mentais para consolidar o desenvolvimento da Ciência. Eles já atingiram todos os níveis necessários nos demais camp os dos conhecimentos, segundo C omte. Já se alcançou a maturidade do p ensamento na Astronomia, Física, Química e Biologia (nas Ciências Naturais de uma forma geral). Agora, o próximo passo será o amadurecimento dos demais campos do conhecimento. Logo, p ara ele, não só a So ciologia seria o resultado do avanço das Ciências Naturais, mas tam- bém a Economia, a Política e, até mesmo, a Ética poderiam ser conduzidas pelos mesmos critérios das Ciências Naturais. Diante dessa maturidade do pensamento físico e da possibilidade de um está- gio superior da organização da vida socia l, a sociedade po deria atingir um progresso nunca visto antes, que resultaria de uma harmonia estabelecida entre os diferentes órgãos (funções) sociais. Integrados e na busca de um mesmo sentido de ação, os orga- nismos sociais resultariam, então, em uma submissão ao órgão maior, o corpo s ocial. Quem seri a o condutor no sentido de integrar e dar eciência à sociedade ser ia o Estado. Este, administrado por políticos que conduzissem a sociedade para a superação de seus problemas de forma racional e objetiva; por isso, como coment amos ante- riormente, a necessidade de positivar a polít ica. O homem público deve ter uma ação fundada na objetividade do conhecimento e sua escolha deve se pautar na eciência. O pensamento de Comte auxiliou no entendimento da vid a social, ofere- cendo a possibilidade de formar um método de análise criterioso e com meios de mensurar os fenômenos sociais na mesma condição dos fenômenos naturais. Muitas dessas teses positivistas não só serão questionadas, mas também utili- zadas ao longo do amadurecimento da Ciência fundada p elo pensador francês. Não se po de negar, p orém, a importância que tiveram as primeiras bases de aná- lise de Comte. Elas permitiram a busca por delimitar um campo de atuação para uma Ciência que tivesse como foco a vida social e seus fenômenos. A HERANÇA POSITIVA NO ESTRUTURALISMO DE ÉMILIE DURKHEIM consideração as diferenças existentes em condições distintas de sociedade. Isto é, não é possível uma generalização da ordem social estabelecid a, mas é possível entender a dinâmica de cada sociedade com suas especicidades, por meio do conjunto de relações solidárias e do grau de coerção e coesão que ela promove. Durkheim parte de um pressuposto fundamental, o tratamento do fato social na mesma condição de “coisa materi al”. Dessa forma, o cient ista social deve ter a mesma “estranheza” que o cientista natural diante de seu objeto. Sobre como se sentir diante do desconhecido, arma Durk heim (1960): Os fatos sociais devem ser tratados como coisas — eis a proposição fun- damental de nosso método, e que mais tem provocado contradições. Esta assimilação que fazemos, das realidades do mundo social às realidades do mundo exterior, foi interpretada como paradoxal e escandalosa. Es- tabeleceu-se singular confusão a respeito do sentido e da extensão desta assimilação; seu objetivo não é rebaixar formas superiores às formas in- feriores do ser, e sim, ao contrário, reivindicar para as primeiras um grau de realidade pelo menos igual ao que todos reconhecem como apanágio das segundas. Com efeito, não armamos que os fatos so ciais sejam coi- sas materiais, e sim que constituem coisas ao mesmo título que as coisas materiais, embora de maneira diferente (DURKHEIM, 1960, p. 52). Quando falamos da estranheza que o pesquisador social deve ter diante do objeto, ao tratá-lo na condição de “coisa material”, estamos levando em consideração aquilo que Durkheim expressa em sua citação acima: “com efeito, não armamos que os fatos sociais sejam coisas materiais, e sim que constituem coisas ao mesmo título que as coisas materiais, embora de maneira diferente” (DURKHEIM, 1960, p. 52). Isso signica que os fenômenos sociais não podem s er considerados na mesma condição por não poderem ser analisados com a mesma condição dos fenômenos materiais. Estes podem ser extraídos da socie dade e levados a um laboratório para serem desmembrados, dissecados e estudados em suas partes decompostas, com a objetividade da obser vação descr itiva e comparativa, o que seria impossível aos fenômenos sociais. Não podemos reproduzir os fenômenos sociais em laboratório. Seria impos- sível isolá-los da condição social onde se realizam, já que estão presos à socied ade e somente nela é possível obser vá-los. Contudo, nem por isso, devemos deixar de tratá-los na condição de coisa material. Para isso, devemos quanticá-los e proporcioná-los dentro da ordem em que se estabelecem. Com uma obser vação objetiva dos fenômenos sociais, podemos compre en- der os elementos que inuenciam a sua condição. Para Durkheim, os fenômenos sociais são uma condição coletiva, que leva em consideração a coação e coesão socia l dentro da condição solidária em que se realiza. É importante denir neste momento o
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