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experiencias pessoas negras no ensino superior

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1 
 
Universidade Federal de Alagoas 
Centro de Educação 
Disciplina: Fundamentos Antropológicos da Educação (noturno) 
Docente: Marina Saraiva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Gisele Natally Miguel Siqueira 
Maria Larissa do Nascimento Alves 
Victória Ferreira da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A construção da identidade do aluno negro 
O caso da Associação de Negros e Negras da Universidade Federal de Alagoas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Maceió - AL 
Janeiro, 2020 
2 
 
RESUMO 
 
A experiência escolar do aluno negro, seja na educação básica ou no ensino superior não 
perpassa apenas por questões econômicas e sociais, mas também de identidade. Através 
de entrevistas com alunos da Associação de Negros e Negras da Universidade Federal de 
Alagoas, e ancorado em discussões consolidadas por Munanga (2003), Pinho (2007) e 
Pinto (1993), este trabalho tem por objetivo entender como os movimentos sociais têm se 
mobilizado por um novo Ser Negro, que coloque como centro suas histórias, suas 
vivências e sua produção de conhecimento, buscando assim uma reviravolta que visa 
afastar as concepções eurocêntricas sobre seus corpos, viciadas de racismos e 
discriminações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
A discussão da experiência do aluno negro na educação formal não é recente. O 
movimento negro a muito tempo levanta a problemática da influência da escola para a 
construção da identidade e cultura de crianças e jovens negros, que vivenciam neste 
espaço a reprodução de um sistema racista que não valoriza a história e cultura 
afrodescendente, e muito menos entende as questões sociais envolvendo a realidade do 
negro no Brasil. 
Esta situação acaba tendo forte influência no acesso ao ensino superior, onde 
apenas em 2019, pela primeira vez, os negros são maioria nas Universidades públicas1, 
porém, este número apresenta algumas problemáticas, como aponta Pinto (1993, p. 26): 
 
“[...] o perfil do estudante universitário negro também revela as 
maiores dificuldades que ele teve - e tem que enfrentar - para cursar 
uma universidade. Em comparação com os estudantes brancos do 
mesmo nível, eles são mais velhos, prestaram vestibular maior número 
de vezes, em uma proporção menor teve acesso aos cursos 
preparatórios (os chamados cursinhos) e mais frequentemente 
trabalham e estudam. ” 
 
Além disso, os negros são apenas 16% dos professores universitários2 e apenas 
26,9% dos alunos matriculados em programas de Pós-Graduação3, ou seja, apesar de que 
(muito tardiamente) a população negra começa a ocupar este espaço privilegiado de 
produção de conhecimento, estes sujeitos ainda são minoria nos altos cargos desta 
instituição. 
Sendo assim, começamos a pensar a influência que a pouca representatividade e 
auto reconhecimento existente neste espaço (além do próprio acesso a políticas públicas 
de permanência) tem relação com a experiência de estar no Ensino Superior para as 
pessoas negras, reconhecendo este espaço como um lócus de possibilidades não somente 
na educação, mas para a formação total dos sujeitos. 
É neste sentido que este trabalho visa entender a importância da Associação de 
Negros e Negras da UFAL - ANU, para a formação da identidade do aluno negro na 
 
1 Dados do Estudo Desigualdade Sociais por Cor ou Raça feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatistica, divulgado em novembro de 2019. 
2 Levantamento feito pelo site G1 a partir dos microdados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos 
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). 
3Dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad). 
4 
 
Universidade Federal de Alagoas. Nilma Limo Gomes desenvolve um pouco sobre como 
a identidade é construída, afirmando que: 
“a ideia que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é 
intermediada pelo reconhecimento obtido dos outros em 
decorrência da sua ação. Nenhuma identidade é construída 
no isolamento. Ao contrário, é negociada durante a vida 
toda por meio do diálogo [...] Tanto a identidade pessoal 
quanto a identidade socialmente derivada são formadas em 
diálogo aberto. Estas dependem de maneira vital das 
relações dialógicas estabelecidas com os outros.” 
(GOMES, 2001. p. 1.) 
 
Este tema surge após uma atividade da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica 2 
- Gênero e Diversidade Étnico - Racial, onde alguns membros da ANU estavam presentes 
para uma mesa de conversa sobre negritude e produção de conhecimento. Percebendo a 
importância desta organização para a vivência daqueles jovens presentes na atividade, o 
tema fez-se pertinente para este estudo. 
Para este trabalho realizamos entrevistas com 3 membros da ANU, dois homens 
e uma mulher, através do aplicativo whats app4, onde, de forma coletiva, organizamos 
uma série de perguntas5 que visassem entender a experiência do aluno negro na educação 
básica e no ensino superior, e a importância da ANU nessa experiência. 
 
Entrevistados 
 
Maria, graduanda de Comunicação, membra da ANU a 2 anos. 
João, graduando de Pedagogia, membro da ANU a 1 ano. 
José, graduando de comunicação, membro da ANU a 8 meses. 
 
História e objetivo da ANU 
 
A Associação de Negros e Negras da UFAL, chamada popularmente de ANU, foi 
criada em 2017 na intenção de organizar não somente estudantes negros, mas toda a 
comunidade que está inserida na universidade, desde técnicos, professores a funcionários 
e possui mais ou menos 80 membros ativos. As reuniões acontecem semanalmente, 
 
4 Em virtude deste trabalho ter sido construído na época do recesso de final de ano, não foi possível realizar 
as entrevistas de forma presencial. E pelo mesmo motivo, não foi possível comparecer às reuniões da ANU. 
5A lista de perguntas está anexada no final deste trabalho e o nome dos membros foram alterados. 
5 
 
podendo ser nas quintas ou sextas feiras, em alguma unidade acadêmica previamente 
escolhida via grupo de whats app. A Associação desenvolve atividades que variam desde 
eventos, como por exemplo a Calourada Preta, como também acompanha e se mobiliza 
contra casos de racismo na universidade ou fora dela. 
Segundo João, um dos membros entrevistados, a ANU surge na finalidade de 
"organizar pessoas negras e formar politicamente. É promover a articulação para a 
emancipação da população negra em alagoas. Reverter a lógica da inferioridade, o 
nosso referencial, o nosso espelho, somos nós mesmos."6 . E continua dizendo que "a 
ANU busca dentro da universidade um espaço de debate qualificado, e avançar no debate 
também, ser mais do que o mês da consciência negra, ou ficar só no debate cultural, mas 
construir realmente um espaço para que esse assunto seja visto como uma questão 
fundamental para pensar as políticas da universidade. Porque a ANU enxerga a raça 
como uma questão estrutural da sociedade brasileira, e a raça como uma categoria 
fundante da análise." 
 
OBJETIVO GERAL 
 
Entender a formação da identidade do aluno negro e de que forma os movimentos sociais, 
em específico a Associação de Negros e Negras da UFAL tem importância nesta 
construção. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
1. Conhecer o que já foi produzido sobre antropologia, educação e relações étnico 
raciais; 
2. Entender como se dá e quais são as problemáticas da vivência do aluno negro na 
educação básica; 
3. Compreender as particularidades do aluno negro no Ensino Superior; 
4. Entender o impacto do movimento negro na luta pela educação do povo negro; 
5. Analisar de que forma a Associação de Negros e Negras da UFAL tem impacto 
na realidade do aluno negro na universidade 
 
 
 
6 As citações de trechos das entrevistas sempre estarão escritas em itálico 
6 
 
REVISÃO BIBLIOGRÁFICAQuando pensamos as produções acadêmicas sobre a população negra, vem logo a 
mente autores como Abdias Nascimento, Chimamanda Ngozi Adichie, Angela Davis e 
Frantz Fanon, Osmundo Pinho aponta que “O desenvolvimento dos estudos sobre 
relações raciais marca o momento de profissionalização e institucionalização das ciências 
sociais brasileiras nos anos 50. ” (2007, p. 82) ou seja, a própria formalização da 
antropologia caminha junto das produções em relação a raça, principalmente com os 
escritos de Florestan Fernandes. Todas essas leituras são extremamente importantes para 
se entender o espaço que o movimento negro reivindica no campo educacional, não há 
como compreender as particularidades dos alunos negros na escola sem perpassar por 
todas as discussões sociais e culturais que o racismo se apropriou, principalmente como 
contraponto às teorias consolidadas no Brasil no início do século XX por Gilberto Freyre 
e Nina Rodrigues. 
Nos últimos anos, as principais produções acadêmicas em relação aos negros e 
negras no ensino superior, são focados nas ações afirmativas e outras políticas públicas 
de ingresso e permanência, como por exemplo as produzidas por BARCELOS (2014). 
Como o objetivo deste trabalho é entender a construção da identidade do aluno negro na 
universidade, Regina Pahim Pinto entra como uma importante base teórica. A autora 
produziu sobre movimento negro e educação desde a década de 1980 até a sua morte, em 
2010, discutindo questões raciais na escola (PINTO, 2002), na formação de professores 
(PINTO, 2002) e nos livros didáticos (PINTO, 1987). Osmundo Pinho também se 
consolida com importantes produções sobre a questão do negro no Brasil, desde a questão 
estética (PINHO, 2002), sexualidade (PINHO, 2004) e representações (PINHO, 2004). 
As pesquisas sobre o ser negro no Brasil perpassam inúmeros enfoques, pois tudo 
relacionado a sua história, vivência e cultura possui influência do racismo estrutural em 
que o Brasil foi construído. Desta forma, entender o caminho que estas produções fazem 
torna-se imprescindível para a formulação deste e de qualquer trabalho sobre o tema. 
 
O SER NEGRO NO BRASIL 
 
Primeiramente, para entendermos o que é ser negro no Brasil, torna-se 
indispensável um olhar a partir da perspectiva do próprio indivíduo negro. Identificar-se 
como pessoa negra, no Brasil, não é um caminho traçado com facilidades, como afirma 
7 
 
Maria, ser negro "é complexo, porque só tomamos consciência do que é ser negro meio 
que por uma imposição", dessa forma nota-se que o próprio processo de identificação 
deste povo, por vezes, advém da imposição que o povo branco configura, ou seja, nem 
sempre esta identificação é construída com naturalidade, uma vez que: 
"[...] Ela resulta de um longo processo histórico que começa com o 
descobrimento, no século XV, do continente africano e de seus 
habitantes pelos navegadores portugueses, descobrimento esse que 
abriu o caminho às relações mercantilistas com a África, ao tráfico 
negreiro, à escravidão e enfim à colonização do continente africano e 
de seus povos." (MUNANGA, 2003, p. 37). 
 
João também diz que ser negro no Brasil "É estar constantemente atento ao 
racismo, a violência, a invisibilidade, e ao mesmo tempo compreender que dentro disso 
existe uma potência, uma possibilidade de ser algo mais", ou seja, "A identidade é, para 
os indivíduos, a fonte de sentido e de experiência." (ibid, p.38) é o poder de identificar-
se como parte de um povo, de uma cultura, de um modo de ser, é também um sentimento 
de pertença, mas mesmo assim, o processo de construção da identidade do indivíduo 
negro, no Brasil, constitui-se por determinismos de natureza biológicas, tornando "A 
questão da cultura e da identidade negra o núcleo contestado de uma reivindicação por 
reconhecimento e a alavanca da mobilização por igualdade econômica e social" (PINHO, 
2007, p. 89), ou seja, as populações negras brasileiras não são reconhecidas na construção 
da sociedade e da História do Brasil, e essa questão começa a vir à tona quando "[...] No 
final do regime militar, percebeu-se que a diferença entre ricos e pobres aumentou e a 
riqueza do país, que crescera nesse período, concentrava-se na mão de uma pequena 
elite." (ibid, p. 83). E é neste cenário, de acirramento dos conflitos de classe, que grandes 
lutas raciais e culturais se travaram, onde os negros reivindicam seus verdadeiros espaços. 
 
MOVIMENTO NEGRO, SER NEGRO E A EDUCAÇÃO BÁSICA 
 
É neste contexto, da década de 1980, que os movimentos sociais negros 
intensificam as suas manifestações, principalmente por acesso à educação por entendê-la 
como um dos caminhos essenciais para sua emancipação. Pinto (1993, p. 28) afirma que 
“De fato, se considerarmos o movimento negro como um indicador da atitude do negro, 
percebemos que a educação sempre esteve no centro das suas preocupações [...]”. Porém, 
este esforço vinha em conjunto com “[...] a reivindicação do sistema educacional formal 
8 
 
e da sociedade brasileira, o reconhecimento da sua cultura, do seu modo de ser e da sua 
história. ” (ibid.) 
Diante do exposto, nota-se que o movimento negro, no Brasil, compreende a 
educação como um importante recurso na luta pela ressignificação do povo negro nos 
processos de construção da sociedade brasileira, pois é através desta, especificamente no 
ensino superior, onde fortalecem-se as discussões de cunho racial. 
De acordo com a lei 10.639/03 sancionada em janeiro de 2003, resultante de um 
longo processo de ativismo do movimento negro pela igualdade racial e social, tornou 
obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas de educação 
básica das redes públicas e privadas do país. A lei é importante para reeducação das 
relações raciais, pois, na educação básica a criança está passando por um processo de 
construção de identidade. A recuperação da história do negro, e seus heróism também é 
vista como uma forma de criar pontos de identificação para a criança negra, fortalecendo 
sua identidade. No âmbito escolar, os alunos negros passam por experiências 
desagradáveis devido ao racismo, discriminação e preconceitos raciais. A escola deveria 
contribuir para modificar as mentalidades discriminatórias, mas, muitas vezes acaba 
contribuindo. João comenta que “Foi no ensino médio que eu construí a minha 
consciência racial, principalmente porque eu vivia sendo violentado por racismo dentro 
da escola, e essas violências fizeram eu entender porque eu sofria isso” e José acrescenta 
que " eu só fui me entender como negro, considerando tudo que isso acarreta, no ensino 
superior. Eu vim de escola pública e o debate racial nunca foi colocado pelos meus 
professores e nas poucas vezes que foi colocado, não havia feedback dos alunos, porque 
eles não entendiam como isso tinha impacto na vida deles." 
Esta possibilidade de "ser algo mais", que José coloca em uma de suas falas na 
entrevista, pode estar de acordo com uma nova forma de pensar a educação, pois "[...] 
alargar e mudar o currículo escolar se torna então essencial, não tão em nome de uma 
cultura mais vasta para todo mundo, mas sim para dar o reconhecimento legítimo àqueles 
que até então eram excluídos. A ideia fundamental que sustenta essas demandas é a de 
que o reconhecimento possa forjar a identidade" (MUNANGA, 2003, p. 46), já que " A 
escola como espaço de construção do saber, por muito tempo, apresenta a história dos 
negros numa visão negativa que atinge diretamente a autoestima dos afrodescendentes." 
(LOPES; CESCA, 2012, p. 4), carecendo, assim, de um olhar reformulador para os 
currículos e diretrizes, considerando a concepção do próprio indivíduo negro a respeito 
9 
 
do que seja educação e visualizando possibilidades efetivas, com equidade, para as 
diferenças entre pessoas e as diversidades culturais existentes no Brasil. 
Neste contexto da construção da identidade de negrose negras nas redes escolares 
torna-se perceptível a importância das reivindicações do movimento negro por mais 
acesso a uma educação satisfatória, que respeite as diferenças e as diversidades culturais 
e raciais existentes no Brasil, mas que também permita ao indivíduo negro uma nova 
perspectiva de vida. João afirma que "a educação é a possibilidade de futuro e de 
continuar existindo enquanto sujeito autônomo. Porque é com a educação que o sujeito 
negro consegue ascender de fato". 
 
MOVIMENTO NEGRO, SER NEGRO E O ENSINO SUPERIOR 
 
No tocante ao ensino superior, na escala brasileira, o negro é desvalorizado e 
excluído. Isto quando este negro consegue alcançar esse nível de ensino. O aluno negro 
quando ingressa na Universidade percorre caminhos dolorosos, tanto pelo racismo, 
quanto por questões de classe quando são menos favorecidos economicamente. Uma das 
questões é a pouca representatividade entre os docentes e de referências teóricas 
negras, tudo isto decorre da forma como o negro vem sendo visto historicamente pela 
sociedade, numa perspectiva de inferiorização e desprezo, o que, por sua vez, resulta em 
marcas profundas no desenvolvimento do aluno negro na Universidade, esta questão fica 
visível quando Maria dá seu relato sobre sua experiência na universidade “Não consigo 
me enxergar, cheio de professores brancos, referências brancas e isso é muito sufocante, 
você se sente testado e incapaz.” 
Já na fala do estudante joão podemos perceber que no ensino superior a questão 
da raça e as reivindicações por direitos são debates que vem à tona, se não for através das 
bases teóricas que ele encontra, vem através do movimento negro, que é o caso da ANU. 
O estudante afirma que: "Mesmo com todos os problemas da academia, é lá que você vai 
encontrar a crítica e o debate sobre o local da pessoa negra. Foi aqui que eu tive contato 
com autores que debatiam isso, mas principalmente porque eu me envolvi com pessoas 
negras, com a ANU", assim, percebemos o quanto que o movimento negro se faz 
importante para estes indivíduos repensarem os seus espaços e construir reflexão. 
Diferentemente dos outros dois entrevistados, a estudante Maria, coloca a sua 
experiência no ensino superior como "uma experiência muito negativa", onde ela não 
10 
 
consegue se encaixar, isto demonstra o quanto o sistema educacional precisa de melhorias 
no acolhimento ao estudante negro, considerando as suas particularidades. 
A inferiorização e desvalorização do povo negro, na maioria das vezes, acaba por 
impedir, ou pelo menos dificultar, o ingresso de negros no ensino superior, como afirma 
José “Por mais que exista o ENEM, onde tem as cotas, você pode pedir isenção da taxa 
de inscrição, o problema é maior que isso, o sujeito negro não é visto como produtor de 
conhecimento. As vezes o jovem negro tem acesso a um cursinho popular, tem acesso à 
universidade, mas o problema é que ele não se vê nesse espaço de intelectualidade. Ele 
não é construído para entender que ele pode estar nesse espaço. Há muitas questões 
psicológicas. ” e isso, por vezes, acaba refletindo-se na auto percepção a respeito dos 
espaços que ele "pode ou não" estar inserido. Maria completa que “Muitas vezes é visto 
como perda de tempo, onde ele poderia estar trabalhando ao invés de estudando. ” 
 
A ANU E A VALORIZAÇÃO DO NEGRO 
 
“A ANU é a grande responsável por uma virada em relação aos estudos sobre 
negritude. ”, esta fala do José nos mostra como a Associação de Negro e Negras da UFAL 
tem importância em reverter a lógica do negro como incapaz. João completa que “o nosso 
referencial, o nosso espelho, somos nós mesmos. E a gente tá sempre lá, enxergando 
possibilidade de mudança para as pessoas negras. Nós temos nossos clássicos, nossos 
contemporâneos, temos nossos intelectuais insurgentes. Ou seja, possibilitar que 
enxerguemos a mudança vindo de nós mesmos.”. João diz que a identidade do povo negro 
é construída de “maneira quebrada”, e a ANU chega para modificar e ter impacto na 
comunidade universitária colocando o negro, sua realidade, suas questões e sua produção 
científica como centro, (re)criando a identidade deles não como uma oposição ao branco, 
mas sim em relação aos seus próprios pares. O que chama a atenção para o relato da 
experiência da Maria, é a motivação dela para permanecer na universidade: "o que faz 
querer participar realmente é a ANU, me deu um propósito dentro da universidade". 
Nota-se, aqui, a influência que ANU exerce na luta pela permanência desses estudantes 
na Universidade Federal de Alagoas, que reivindica não somente condições materiais, 
como bolsas, acesso a saúde e alimentação, mas também uma luta por um novo referencial 
para seu povo. 
 
 
11 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
De acordo com Nilma Lino Gomes, compreendemos que: 
 "Não é fácil construir uma identidade negra positiva convivendo e 
vivendo num imaginário pedagógico que olha, vê e trata os negros e 
sua cultura de maneira desigual. Muitas vezes os alunos e as alunas 
negras são vistos como ‘excluídos’, como alguém que, devido ao seu 
meio sociocultural e ao seu pertencimento étnico/racial, já carrega 
congenitamente alguma ‘dificuldade’ de aprendizagem e uma 
tendência a ‘desvios’ de comportamento, como rebeldia, indisciplina, 
agressividade e violência." (GOMES, 2002, p. 41-42) 
 
Dessa forma, contribuindo para uma cultura de exclusão, inferiorizarão e desvalorização 
do estudante negro no espaço escolar. Muito dessa afirmativa reflete-se nas experiências 
narradas pelos membros da ANU, no sentido de que a educação tem contribuído sim para 
a emancipação e ressignificação identitária do aluno negro, porém as experiências dos 
negros no meio escolar, geralmente, se consolidam a partir episódios racistas e 
discriminatórios, que acabam por excluir o alunado negro nestes espaços. É nesse sentido 
que o movimento negro apresenta larga significância para a estruturação justa da 
identidade negra nos diversos graus de ensino, particularmente, no ensino superior, sendo 
considerado as suas particularidades culturais, sociais, financeiras, identitárias, históricas 
e políticas. 
A construção da identidade do sujeito negro perpassa muito mais que questões 
econômicas, mas também de autonomia e autoestima, se sentir constantemente testado, 
provado, provocado e desvalorizado tem influência direta na maneira como os outros e 
eles mesmos se enxergam, principalmente em um ambiente competitivo como é o ensino 
superior. Quando a ANU é criada, além de pensarem em reverter a lógica da centralidade 
da produção de conhecimento, o impacto na lógica da identidade construída em oposição 
ao branco também é testada. Se construir em relação aos seus pares é, definitivamente, 
um dos maiores ganhos que a Associação de Negros e Negras da UFAL trazem no 
contexto do terceiro estado que mais mata jovens negros do Brasil7. 
 
 
 
 
 
7 Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial 2014, elaborado pelo 
Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Ministério da Justiça. 
 
12 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
GOMES, Nilma Lino. Educação e identidade Negra. in: Aletria: Revista de Estudos de 
Literatura. v. 09, 2002. Disponível em 
<http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/aletria/article/view/1296 > Acesso em 
26 jan. 2020. 
 
LOPES, Luiz Dilmar. CESCA, Vitalino. Mobilidade Social e Identidade Racial: o negro 
na perspectiva do ensino superior. In: Educação v. 26, n. 1, jan./jun. 2001. Disponível 
em <https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/4746 > Acesso em 27 jan. 
2020. 
 
MUNANGA, Kabengele. Algumas Considerações sobre a Diversidade e a Identidade 
Negra no Brasil. In: MEC. Diversidade na educação: reflexões e experiências / 
Coordenação: Marise Nogueira Ramos, Jorge Manoel Adão, Graciete Maria Nascimento 
Barros. Brasília: Secretariade Educação Média e Tecnológica, 2003. p. 35 - 48. 
 
PINHO, Osmundo. Lutas culturais: relações raciais, antropologia e política no Brasil 
Sociedade e Cultura, vol. 10, núm. 1, 2007, pp. 81-94. Disónível em 
<https://www.revistas.ufg.br/fchf/article/view/286 > Acesso em 26 jan 2020. 
 
PINTO, Regina Pahim. Movimento Negro e Educação do Negro: a ênfase na identidade. 
Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 86, p. 25 - 38. Disponível em 
<http://publicacoes.fcc.org.br/ojs/index.php/cp/article/view/936> Acesso em 13 jan. 
2020.

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