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DOCÊNCIA EM SAÚDE TÉCNICAS VOCAIS 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842t Técnicas vocais / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 108p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-669-3 1. Distúrbios da fala. 2. Anatomia – Fisiologia vocal. I. Portal Educação. II. Título. CDD 616.855 2 SUMÁRIO 1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO VOCAL .............................................................. 7 1.1 A LARINGE ................................................................................................................................ 7 1.1.1 Estruturas de sustentação da laringe ......................................................................................... 8 1.1.2 Estruturas cartilaginosas da laringe ........................................................................................... 11 1.1.3 Músculos da laringe ................................................................................................................... 14 1.1.4 Membranas e ligamentos da laringe .......................................................................................... 16 1.1.5 Histologia laríngea ..................................................................................................................... 17 1.1.6 Funções laríngeas ..................................................................................................................... 18 1.2 A RESPIRAÇÃO ........................................................................................................................ 19 1.2.1 Estruturas respiratórias ............................................................................................................. 19 1.2.2 Músculos da respiração ............................................................................................................. 20 1.2.3 Fisiologia da respiração ............................................................................................................. 21 1.3 A NEUROLOGIA: COMPREENSÕES BÁSICAS DA NEUROLOGIA DA PRODUÇÃO VOCAL ...................................................................................................................................... 22 1.4 PRINCIPAIS TEORIAS DA PRODUÇÃO VOCAL ..................................................................... 23 2 NOÇÕES BÁSICAS DA AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA VOCAL ................................... 25 2.1 O CORPO E A VOZ................................................................................................................... 25 3 ANÁLISE PERCEPTIVO-AUDITIVA ......................................................................................... 27 3.1 QUALIDADE VOCAL ................................................................................................................. 27 3 3.2 TIPOS DE VOZ ......................................................................................................................... 27 3.3 ESCALA GRBASI ...................................................................................................................... 32 4 CARACTERÍSTICAS DA EMISSÃO ......................................................................................... 33 4.1 ATAQUE VOCAL ...................................................................................................................... 33 4.2 LOUDNESS ............................................................................................................................... 33 4.3 PITCH ....................................................................................................................................... 34 4.4 ESTABILIDADE ......................................................................................................................... 34 4.5 MODULAÇÃO ........................................................................................................................... 34 4.6 RESSONÂNCIA ........................................................................................................................ 35 4.7 INTELIGIBILIDADE DE FALA ................................................................................................... 36 5 DINÂMICA RESPIRATÓRIA ..................................................................................................... 39 5.1 MODO ...................................................................................................................................... 39 5.2 TIPO .......................................................................................................................................... 39 5.3 MEDIDAS FONATÓRIAS .......................................................................................................... 40 5.4 COORDENAÇÃO PNEUMOFONOARTICULATÓRIA ............................................................... 40 5.5 SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO.............................................................................................. 40 5.6 TIPOS FACIAIS ......................................................................................................................... 41 5.7 ESTRUTURAS FONOARTICULATÓRIAS ................................................................................ 41 5.8 COMPETÊNCIAS GERAIS COMUNICATIVAS ......................................................................... 44 6 DISFONIAS FUNCIONAIS E ORGANOFUNCIONAIS ............................................................. 45 6.1 DISFONIAS FUNCIONAIS ........................................................................................................ 45 4 6.1.1 Disfonias funcionais por uso incorreto da voz: por falta de conhecimento vocal e por modelo vocal deficiente ............................................................................................................ 46 6.1.2 Disfonias funcionais por inadaptações vocais: inadaptações anatômicas (alterações estruturais mínimas) e inadaptações funcionais ....................................................................... 47 6.1.3 Sulco vocal ................................................................................................................................ 49 6.1.3.1Sulco oculto .............................................................................................................................. 49 6.1.3.2Sulco estria ............................................................................................................................... 49 6.1.3.3Sulco bolsa ou cisto aberto ou sulcus glottidis .......................................................................... 50 6.1.4 Cisto epidermoide ou cisto fechado ou cisto de inclusão .......................................................... 51 6.1.5 Ponte de mucosa ....................................................................................................................... 52 6.1.6 Vasculodisgenesia ..................................................................................................................... 53 6.1.7Microdiafragma laríngeo ou membrana laríngea ou diafragma anterior .................................... 53 6.1.8 Inadaptações funcionais ............................................................................................................ 54 6.1.9 Disfonias por alterações psicogênicas ....................................................................................... 58 6.2 DISFONIAS ORGANOFUNCIONAIS ........................................................................................ 59 6.2.1 Nódulos vocais ......................................................................................................................... 59 6.2.2 Nódulos vocais – infantil ............................................................................................................ 61 6.2.3 Pólipos vocais ............................................................................................................................ 62 6.2.4 Edema de Reinke ...................................................................................................................... 64 6.2.5 Úlcera de contato ...................................................................................................................... 65 6.2.6 Granulomas ............................................................................................................................... 67 6.2.7 Leucoplasias .............................................................................................................................. 67 5 7 TERAPIA VOCAL ..................................................................................................................... 69 7.1 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DO TRATAMENTO VOCAL ............................................. 71 7.2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR – ENCAMINHAMENTOS .......................................................... 71 8 TÉCNICAS VOCAIS .................................................................................................................. 72 8.1 TÉCNICA DE MOVIMENTOS CERVICAIS ............................................................................... 72 8.2 TÉCNICA DE MANIPULAÇÃO DIGITAL DA LARINGE ............................................................ 73 8.3 TÉCNICA DE DESLOCAMENTO LINGUAL .............................................................................. 73 8.4 ROTAÇÃO DE LÍNGUA NO VESTÍBULO BUCAL .................................................................... 74 8.5 TÉCNICA DO BOCEJO/SUSPIRO ............................................................................................ 75 8.6 TÉCNICA DE ESTALO DE LÍNGUA .......................................................................................... 76 8.7 TÉCNICA DO ESTALO DE LÍNGUA ASSOCIADO AO SOM NASAL ....................................... 77 8.8 TÉCNICA MASTIGATÓRIA ....................................................................................................... 77 8.9 TÉCNICA DE MASCARAMENTO AUDITIVO ........................................................................... 78 8.10 TÉCNICA DE MONITORAMENTO AUDITIVO RETARDADO ................................................... 79 8.11 TÉCNICA DA VOZ SALMODIADA ............................................................................................ 81 8.12 TÉCNICA DE LEITURA SOMENTE DE VOGAIS ...................................................................... 81 8.13 TÉCNICA DE SOBREARTICULAÇÃO ...................................................................................... 82 8.14 TÉCNICA DE SONS NASAIS .................................................................................................... 83 8.15 TÉCNICA DE SONS FRICATIVOS ........................................................................................... 84 8.16 TÉCNICA DE SONS VIBRANTES............................................................................................. 85 8.17 TÉCNICA DE SONS PLOSIVOS ............................................................................................... 86 8.18 TÉCNICA DE SOM BASAL ....................................................................................................... 86 6 8.19 TÉCNICA DE SOM HIPERAGUDO ........................................................................................... 87 8.20 TÉCNICA DE FONAÇÃO INSPIRATÓRIA ................................................................................ 88 8.21 TÉCNICA DA FONAÇÃO SUSSURRADA ................................................................................ 89 8.22 TÉCNICA DE CONTROLE DE ATAQUES VOCAIS ................................................................. 89 8.23 TÉCNICA DE EMISSÃO EM TEMPO MÁXIMO DE FONAÇÃO ................................................ 90 8.24 TÉCNICA DE ESCALAS MUSICAIS ......................................................................................... 90 8.25 TÉCNICA DE EMPUXO OU ESFORÇO ................................................................................... 91 8.26 TÉCNICA DE DEGLUTIÇÃO INCOMPLETA SONORIZADA .................................................... 92 8.27 TÉCNICA DE FIRMEZA GLÓTICA ............................................................................................ 92 8.28 TÉCNICA DO “B” PROLONGADO ............................................................................................ 93 8.29 TÉCNICA DE SOPRO E SOM AGUDO .................................................................................... 93 9 CONDUTA FONOAUDIOLÓGICA ............................................................................................ 95 9.1 “GESTÃO” FONOAUDIOLÓGICA DOS EXERCÍCIOS DURANTE O TRATAMENTO .............. 95 9.2 PSICODINÂMICA VOCAL ......................................................................................................... 96 9.3 “GESTÃO” FONOAUDIOLÓGICA DOS EXERCÍCIOS APÓS O TRATAMENTO ..................... 99 9.4 ASPECTOS FONOAUDIÓLOGICOS PRÉ E PÓS-OPERATÓRIO .......................................... 100 9.5 ALTA FONOAUDIOLÓGICA .................................................................................................... 102 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 106 7 1 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO VOCAL 1.1 A LARINGE A laringe está situada na extremidade superior da traqueia e na região infra-hióidea, logo abaixo da faringe. Está localizada na linha média; sua estrutura é ímpar e formada por um arcabouço musculocartilaginoso. Na parte anterior da laringe, facilmente palpável ao colocar os dedos na linha mediana do pescoço, tem-se a incisura tireóidea, onde estão localizadas posteriormente as pregas vocais. As estruturas da laringe são derivadas do II, III, IV, V e VI arcos branquiais e cada arco branquial é composto pelos três folhetos embrionários: endoderma, mesoderma e ectoderma (TUCKER, 1993 apud BEHLAU ET. AL, 2001). Sua formação está entre a 4ª e 10ª semana do desenvolvimento e é nesse período que a laringe está sujeita a sofrer alterações. A anatomia da laringe, propriamente dita, é composta por ossos, cartilagens, músculos, membranas, ligamentos e mucosa. FIGURA 1: VISÃO ANTERIOR DA LARINGE FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. 8 FIGURA 2: VISÃO POSTERIOR DA LARINGE FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. O conhecimento da anatomia e da fisiologia do aparelho vocal é fundamental para o raciocínio clínico do terapeuta no tocante à conduta terapêutica do sujeito. 1.1.1 Estruturas de sustentação da laringe O osso hióideo é uma estrutura de sustentação da base da língua e a estrutura de ligação de alguns músculos extrínsecos da laringe. Logo, o osso hióideo suspende a laringe por meio desses músculos, no entanto,não é um osso integrante da armação laríngea. Esse osso tem a forma da letra grega ipsilon minúscula (υ), parece com o nosso “u” e não está ligado à qualquer outra estrutura óssea; na verdade, o osso hióideo mantém-se suspenso por um sistema de músculos e ligamentos, que fazem dele uma estrutura totalmente móvel. 9 As musculaturas da língua e do mento ligam-se ao osso hióideo por cima e pela frente, ao passo que os músculos e ligamentos pertencentes ao osso temporal aproximam-se do osso hióideo por cima e por trás. Já os músculos extrínsecos da laringe, da clavícula e do externo chegam ao osso hióideo por baixo. Os músculos extrínsecos da laringe são os músculos esternotireóideo, os músculos tíreo-hióideos e o músculo constritor inferior da faringe. O primeiro é responsável por levar a cartilagem tireoide para baixo; o músculo tíreo-hióideo aproxima a cartilagem tireoide do osso hióideo; já o músculo constritor inferior da faringe tem sua atividade principal durante a deglutição e na fala forma a cavidade de ressonância vocal0,0. Esse conjunto de músculos que suspendem o osso hióideo é denominado por músculos supra-hióideos; pode ser visto nas FIGURA 3 e FIGURA 4: FIGURA 3: REFERE-SE À VISÃO ANTERIOR DOS MÚSCULOS DO PESCOÇO (MÚSCULOS SUPRA E INFRA-HIÓIDEOS) FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. 10 FIGURA 4: REFERE-SE À VISÃO LATERAL DOS MÚSCULOS DO PESCOÇO (MÚSCULOS SUPRA E INFRA-HIÓIDEOS) FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. Os músculos supra-hióideos são os músculos elevadores da laringe (o digástrico, o estilo-hióideo, o milo-hióideo, o gênio-hióideo, o hioglosso e o genioglosso). Os músculos hioglosso e o genioglosso são os músculos da língua e podem influenciar a laringe indiretamente. Os músculos infra-hióideos localizam no pescoço, abaixo do osso hióideo. As funções desses músculos são abaixar o osso hioide e a laringe, além de fixar o osso hioide para que os músculos supra-hióideos atuem abaixando a mandíbula. São conhecidos como "abaixadores indiretos" da mandíbula. Esses músculos estão resumidos na TABELA 1: TABELA 1: REFERE-SE AOS MÚSCULOS SUPRA-HIÓIDEOS E INFRA-HIÓIDEOS. Músculos supra-hióideos Origem Inserção Músculo digástrico (posterior) Processo mastoide Osso hióideo Músculo digástrico (anterior) Osso hióideo Mandíbula Músculo milo-hióideo Mandíbula Osso hióideo Músculo estilo-hióideo Processo estiloide Osso hióideo 11 Músculo genio-hióideo Mandíbula Óssea Músculos infra-hióideos Origem Inervação Músculo esterno-hióideo Manúbrio do esterno Osso hióideo Músculo esternotireóideo Manúbrio do esterno Cartilagem tireoide Músculo tíreo-hióideo Cartilagem tireóideo Osso hióideo Músculo omo-hióideo Margem superior da escápula Osso hióideo FONTE: Adaptação da tabela proposta por ZEMLIN (2002). As funções dos músculos supra-hióideos são: o músculo estilo-hióideo eleva e retrai o osso hióideo; o digástrico eleva o osso hióideo e abaixa a mandíbula; o músculo milo-hióideo eleva e projeta o osso hióideo e a língua; já o músculo gênio-hióideo puxa a língua e o hióideo para frente. Os músculos infra-hióideos são o esterno-hióideo, o omo-hióideo e o esternotireóideo. 1.1.2 Estruturas cartilaginosas da laringe Existem nove cartilagens laríngeas, sendo três cartilagens ímpares, uma cartilagem par principal e duas outras cartilagens acessórias. FIGURA 5: VISÃO DAS CARTILAGENS: CRICOIDE, ARITENOIDE E CORNICULADA FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. 12 As cartilagens ímpares são a tireoide (pode ser ilustrada nas FIGURA 1 e FIGURA 2), a cricoide (FIGURA 2) e a epligote (FIGURA 1 e FIGURA 2): a) Tireoide: é a maior cartilagem da laringe, é única e tem a forma de um livro aberto para trás; parece o formato de um escudo com duas lâminas laterais, de forma quadrangular, e dois pares de cornos posteriores. No limite superior externo encontra-se uma das lâminas, nela, existe uma depressão conhecida como linha oblíqua, onde estão inseridos alguns músculos laríngeos como o tíreo-hióideo, esterno-hióideo e o músculo constritor inferior da faringe. Essa proeminência laríngea é conhecida vulgarmente como "pomo de Adão". O ângulo entre as duas lâminas é diferente para cada sexo. Nos homens, o ângulo está por volta de 90º enquanto que nas mulheres, o ângulo é maior, logo mais aberto, por volta de 120º. Isso vai interferir na fisiologia vocal, pois ao mesmo tempo em que influencia no tamanho das pregas vocais, contribui para definir a frequência da vibração das pregas vocais. b) Cricoide: essa cartilagem tem um formato circular, parecido com um anel. A região anterior é mais estreita, já a região posterior é mais larga e mais elevada. Situa-se logo abaixo da tireoide, onde está ligada pela membrana crico-tireóidea e possui formato de anel, cujo engaste está voltado para trás. E está localizada logo acima do primeiro anel da traqueia. Também existe uma variação entre os sexos no tocante ao formato da cartilagem, nos homens é ovoide e nas mulheres é circular. Não se pode confirmar se a fenda posterior (veremos no módulo das disfonias), comumente encontrada nas pregas vocais femininas, está relacionada com o formato circular da cartilagem cricoide nas mulheres. c) Epiglote: é uma cartilagem única em forma de folha. Está localizada no orifício superior da laringe, fixa-se por meio de um ligamento na superfície mesial da cartilagem tireóidea, na junção anterior de suas lâminas, o chamado pecíolo da epiglote. A função da epligote é proteger as vias aéreas inferiores durante a deglutição, por meio do abaixamento e do fechamento do adito laríngeo. 13 Durante a infância, essa cartilagem encontra-se mais fechada passando a ter uma configuração mais aberta na puberdade. Embora a epligote movimenta-se bastante durante a fala, a cartilagem tem pouca participação na produção vocal propriamente dita. As cartilagens pares são as aritenóideas (podemos ver nas FIGURA 2 e FIGURA 5) e as acessórias, as corniculadas (podem ser vistas nas FIGURA 2 e FIGURA 5) e as cuneiformes. d) Aritenóideas: são duas pequenas cartilagens, uma para cada lado, em forma de pirâmide triangular de grande eixo vertical, situa-se na margem inclinada da cartilagem cricoide. As cartilagens aritenóideas são responsáveis pela função fonatória e respiratória. Elas possuem uma forma geométrica piramidal: um ápice, três faces verticais e uma horizontal. A base de cada cartilagem aritenóidea tem três ângulos: na região mais anterior está o processo vocal; o ângulo póstero-lateral projeta-se para fora da laringe e recebe o nome de processo muscular (onde se insere diversos músculos que veremos adiante como o cricoaritenóideo posterior (CAP) e o cricoaritenóideo lateral (CAL)). O ligamento vocal, uma parte importante das pregas vocais, está inserido no processo vocal. e) Corniculadas: são cartilagens acessórias, do tipo elástico-brancas, e também denominadas de cartilagens de Santorini (nomenclatura antiga). Estão localizadas nos ápices das cartilagens aritenóideas e lembra a forma de corno, por isso o nome de cartilagens corniculadas. No ser humano, elas são estruturas vestigiais1. f) Cuneiformes: antigamente eram conhecidas por cartilagens de Wrisberg. Elas têm forma de cunha e são do tipo elásticas, e estão incrustadas nas pregas ariepiglóticas. As cartilagens cuneiformes proporcionam a sustentação para as pregas ariepiglóticas, provavelmente auxiliam na constrição supraglótica anteroposterior (o fechamento do adito da laringe pelo abaixamento da epiglote). 1 Segundo Zemlin (2002), as estruturas vestigiais são remanescências de uma estrutura que funcionou em um estágio anterior do desenvolvimento da espécie ou individual. O termorefere-se a uma estrutura que foi funcional no embrião ou no feto. 14 1.1.3 Músculos da laringe A musculatura extrínseca realiza a sustentação e a fixação da laringe (esternotireóideos, tíreo-hióideos, constritor inferior da faringe, supra-hióideos, infra-hióideos). Já a musculatura intrínseca é responsável pela produção do som, propriamente dito, como o músculo tireoaritenóideo, o cricoaritenóideo posterior e lateral, os aritenóideos e o cricotireóideo: a) Músculo tireoaritenóideo (TA): É um músculo que forma a principal massa das pregas vocais. Eles originam-se no ângulo da cartilagem tireóidea e a inserção localiza-se principalmente no processo vocal. O TA é adutor, tensor e relaxador, ou seja, ele abaixa, encurta e espessa as pregas vocais. Esse movimento de encurtar e abduzir as pregas vocais faz com que ocorra a diminuição das distâncias entre as cartilagens aritenóideas e tireóidea. Como consequência desse movimento, as pregas vocais tornam-se como um feixe mais largo que, por sua vez, reduzirá a frequência da voz, tornando a voz mais grave. O tiroaritenóideo medial ou interno é correspondente ao músculo vocal (massa vibrante), chamado de vocalis, vocal ou tireovocal. Esse músculo apresenta suas fibras a partir do tireomuscular até mergulhar no ligamento vocal, inserindo-se no processo vocal. Esse músculo vibra sincronizado com a vibração da mucosa vocal. O tireoaritenóideo lateral ou tiromuscular está inserido no processo muscular e possui fibras de contração rápida, com menor ação sobre as características da fonação. O feixe superior desse músculo possui algumas fibras que se direcionam para as pregas vestibulares, o que faz pensar que essas fibras participam da fonação vestibular. Existe também o músculo tireoaritenóideo superior, que tem como função o relaxamento das pregas vocais. Atualmente, sabe-se pouco sobre esse músculo. O que se tem conhecimento é que ele inclina a cartilagem tireóidea para trás com o objetivo de relaxar as pregas vocais, sendo que, concomitantemente, puxa o processo muscular para frente da cartilagem aritenóidea, favorecendo a coaptação glótica. b) Cricoaritenóideo posterior (CAP): 15 É um músculo par e o único músculo abdutor (promove a abertura) da laringe, por isso é responsável pela respiração. É conhecido como o músculo da vida. No final da emissão vocal, ele abduz as pregas vocais promovendo a inspiração. O CAP alonga, eleva e afila as pregas vocais, mantendo a borda livre arredondada. Ele auxilia no fechamento glótico, pois durante a contração desse músculo, ele desloca o processo muscular, abrindo as pregas vocais. c) Cricoaritenóideo lateral (CAL): É um músculo par, que aduz, abaixa e alonga a prega vocal, afilando sua borda livre. É o principal músculo adutor e ao contrair desloca o processo muscular anteriormente, fechando a glote. Ele aduz, abaixa e alonga as pregas vocais, com isso afila a borda livre, que fica mais arredondada tornando-as mais rígidas. É um músculo largo na forma de leque e tem origem na depressão rasa da face posterior da lâmina cricóidea enquanto que a inserção está no processo muscular da cartilagem aritenóidea. d) Cricotireóideo (CT): O CT é um músculo par e é considerado um adutor secundário, pois realiza a tensão longitudinal da prega vocal, promovendo o controle de frequência. Ao contrair,a frequência se eleva, tornando o som mais agudo. Além do TA, o outro músculo que pode tensionar ou alongar diretamente as pregas vocais é o CT. A distância entre a cartilagem tireóidea e os processos vocais aumenta para alongar as pregas vocais e posicioná-la para aumentar a tensão, que é fundamental para mudar a frequência. Tem origem no arco da cartilagem cricóidea, na região anterior, já a inserção ocorre na borda inferior da cartilagem tireóidea. Esse músculo aduz na posição paramediana, abaixa, estira, alonga e afila a prega vocal; enrijece as camadas e angula a borda livre da prega vocal. e) Aritenóideos (AA): Os músculos aritenóideos são divididos em duas partes: o feixe transverso e feixe oblíquo (mais superficial). Também pode ser chamado de interaritenóideo ou ariaritenóideo. 16 O músculo aritenóideo oblíquo é o mais superficial e é formado por diversos fascículos que se originam na face posterior do processo muscular e na face póstero-lateral adjacente da cartilagem aritenoide contrária, formando a forma do “X”. As outras fibras musculares continuam em torno do ápice da cartilagem aritenóidea. É responsável pela adução e aproximação das cartilagens aritenóideas, promovendo a compressão medial da glote e fechando a região posterior. 1.1.4 Membranas e ligamentos da laringe As membranas e os ligamentos unem as cartilagens laríngeas às estruturas próximas. Os ligamentos intrínsecos ligam as cartilagens entre si ao passo que os ligamentos extrínsecos conectam o osso hióideo com as cartilagens tireóideas e a epligote, além da cartilagem cricóidea com os anéis traqueais. As membranas laríngeas extrínsecas são a membrana e o ligamento tíreo-hióideos, o ligamento hioepiglótico e a membrana cricotraqueal. A membrana que ocupa o espaço entre o osso hióideo e a margem superior da cartilagem tíreo-hióidea também é conhecida por ligamento tíreo-hióideo média e no espaço posterior, entre os cornos tireóideos superiores e o osso hióideo, a membrana é denominada de ligamento tíreo-hióideo lateral. O ligamento hioepiglótico liga o osso hióideo na cartilagem epiglote; a membrana cricotraqueal une a margem da cartilagem cricóidea com a margem superior do primeiro anel traqueal. As membranas e ligamentos laríngeos intrínsecos são a membrana cricovocal (cone elástico), ligamento cricotireóideo medial, membranas quadrangulares e as pregas ariepiglóticas. O ligamento cricovocal, ou cone elástico, conecta as cartilagem cricóidea, as tireóideas e as aritenóideas entre si. Já o cricotireóideo medial é uma estrutura mediana que une a margem superior do arco cricóideo até a margem inferior da cartilagem tireóideo. As membranas quadrangulares saem das margens laterais da epiglote e da cartilagem tireoide adjacente. As pregas ariepiglóticas são as margens superiores das membranas quadrangulares e possuem um tecido submucoso, que formam as pregas ariepiglóticas; elas 17 formam um esfíncter que permite o fechamento da laringe durante a deglutição e para proteger as vias aéreas inferiores. As pregas vestibulares também são conhecidas como falsas pregas e estão localizadas na região supraglótica. As pregas vestibulares são duas dobras de tecidos e não participam efetivamente do processo fonatório nas circunstâncias normais. No entanto, em sujeitos com fonação vestibular (participação das pregas vestibulares na fonação) ou hipercinesia das pregas vestibulares, a voz encontra-se rouca. 1.1.5 Histologia laríngea A histologia da prega vocal foi descrita em cinco camadas: o epitélio, a camada superficial da lâmina própria, a camada intermediária da lâmina própria, a camada profunda da lâmina própria e o músculo vocal. O epitélio é uma camada pavimentosa, mantém a forma da prega vocal; A camada superficial da lâmina própria (também chamada de espaço de Reinke) é composta por fibras elásticas e colágenas de modo frouxo em sua organização (massa de gelatina mole); A camada intermediária da lâmina própria, formada por maior quantidade de fibras elásticas e colágenas; A camada profunda da lâmina própria é formada por maior quantidade de fibras colágena dispostas paralelamente ao eixo longitudinal da prega vocal; O músculo vocal é a massa principal das pregas vocais (é dura). As camadas intermediárias e profundas da lâmina própria formam o ligamento vocal. A cobertura da prega vocal – formada pelo epitélio e camada superficial da lâmina própria – vibraacima das camadas mais profundas (ligamento e músculo vocal), formando a onda mucosa da prega vocal. Na realização da estroboscopia laríngea (exame otorrinolaringológico), pode-se observar o deslocamento intenso e fluído da cobertura, movimentando-se em direção oposta à 18 da gravidade, ao passo que o corpo das pregas vocais serve de estabilidade e o tono muscular de base. A zona da membrana basal é a área de transição do epitélio até a lâmina própria. A composição histoquímica é composta por fibras membranosas e proteínas, além de ser uma lâmina densa. A membrana basal possui uma forma especial de proteínas (colagéno IV e antígeno KF-1), sintetizado pelas células epiteliais. Ocorre uma duplificação da zona membrana basal nos nódulos vocais, enquanto nos pólipos vocais, uma forte relação entre alterações dessa zona e a voz. 1.1.6 Funções laríngeas A fala é considerada um mecanismo não biológico da laringe, pois as principais funções da laringe estão relacionadas com a respiração e com a deglutição. Por isso, acredita-se que a fala não é uma função da laringe, mas sim uma adaptação evolutiva da necessidade de comunicar-se oralmente dos nossos ancestrais. A laringe está envolvida com as funções da respiração, da deglutição e da fonação. Além de ser um componente intrínseco do sistema respiratório, a laringe também atua como um mecanismo protetor das vias aéreas inferiores, já que: bloqueia a saída de ar dos pulmões; dificulta a entrada de substâncias estranhas na laringe; expele as substâncias estranhas que ameaçam entrar na laringe ou na traqueia. O fechamento da válvula laríngea impede a entrada de substâncias estranhas e corpos estranhos às vias aéreas inferiores como resquícios de comida, por exemplo. Quando a laringe atua na expulsão de alguma substância, a pressão alveolar se eleva, uma dilatação súbita e ativa da válvula laríngea resulta em uma emissão explosiva de ar para expelir a substância estranha do trato respiratório – esse mecanismo é conhecido por tosse. 19 A laringe é dividida em três espaços: supraglote, glote e infraglote. A supraglote é a cavidade localizada acima da glote, acrescido do ventrículo laríngeo, ao passo que a infraglote está logo abaixo da glote, sendo o primeiro anel traqueal. Já a glote é o espaço entre as pregas vocais, onde é produzido o som da voz, que é acrescido de ressonância da própria supraglote. 1.2 A RESPIRAÇÃO Além da importante função de realizar as trocas gasosas – essencial função vital, segundo Behlau et al. (2001), o sistema respiratório se assemelha com uma bomba produzindo fluxo e pressão de ar, promovendo a excitação das pregas vocais. Na ausência do ar, não existe som oriundo da laringe. 1.2.1 Estruturas respiratórias O sistema respiratório inicia nas narinas e segue até os alvéolos pulmonares. O trato respiratório superior é constituído por órgãos que estão localizados externamente da caixa torácica: o nariz externo, a cavidade nasal, a faringe, a laringe e a parte superior da traqueia. Já o trato respiratório inferior é formado por órgãos que estão localizados dentro da cavidade torácica: a inferior da traqueia, os brônquios, os bronquíolos, os alvéolos e os pulmões. Além desses órgãos, as camadas das pleuras e os músculos que formam a cavidade torácica também constituem o trato respiratório inferior. 20 FONTE: Netter: Atlas de Anatomia Humana, 2000. 1.2.2 Músculos da respiração Os músculos respiratórios torácicos são: o diafragma, os intercostais internos, os intercostais externos, o escaleno, o torácico transverso, o quadrado lombar, o peitoral maior e o peitoral menor: O diafragma é o principal músculo da respiração; ele age elevando as costelas, abaixando o tendão centrar, ampliando a dimensão vertical; Os músculos intercostais externos elevam as costas durante a respiração; Os músculos intercostais internos abaixam as costelas; O músculo quadrado lombar empurra a costela 12 e fixa o diafragma; O peitoral maior e o menor elevam as costelas. Os músculos respiratórios abdominais são: o reto abdominal, o oblíquo externo, o oblíquo interno e o abdominal transverso. O músculo reto abdominal tem a função de sustentar e comprimir as vísceras; 21 Os músculos oblíquo externo, o oblíquo interno e o músculo abdominal transverso agem sustentando e comprimindo as vísceras, deprimindo o tórax. 1.2.3 Fisiologia da respiração A inspiração e a expiração fazem parte do processo respiratório. No repouso noturno, a inspiração tende a ser três vezes maior do que a fase expiratória. No entanto, na respiração da fala é fundamental que gere a pressão para vibrar a mucosa das pregas vocais ou para a expulsão de ar necessário para a produção de consoantes surdas. Essa pressão pode ser atingida por meio de duas formas: um ajuste entre a força expiratória e a ação propulsora, e por meio do ajuste da resistência aérea. A inspiração possibilita a entrada de ar nos pulmões por meio da contração da musculatura do diafragma e dos músculos intercostais. Com isso, o diafragma abaixa-se e as costelas elevam-se, provocando o aumento da caixa torácica. Isso garante a redução da pressão interna (comparado com a pressão externa), forçando o ar a entrar nos pulmões. Já a expiração promove a saída de ar dos pulmões, por causa do relaxamento da musculatura do diafragma e dos músculos intercostais. O diafragma eleva-se e as costelas abaixam-se, diminuindo o volume da caixa torácica – por sua vez, aumentam a pressão interna, forçando o ar a sair dos pulmões. Inspiração → músculos intercostais e diafragma contraem → pulmão expande → pressão no pulmão diminui → ar entra; Expiração → músculos intercostais e diafragma relaxam → pulmão contrai → pressão no pulmão aumenta → ar sai. 22 1.3 A NEUROLOGIA: COMPREENSÕES BÁSICAS DA NEUROLOGIA DA PRODUÇÃO VOCAL Neste item, serão apresentados a anatomofisiologia dos aspectos neurológicos que envolvem a voz. Os nervos cranianos relacionados com a fala e com a produção vocal são: V par (trigêmeo); VII par (facial); VIII par (vestíbulococlear); IX par (glossofaríngeo); X par (vago); XI par (acessório) e XII par (hipoglosso). O nervo trigêmeo é um nervo misto, cuja parte sensitiva inerva as estruturas da face, enquanto seu componente motor é o que principal nervo responsável pela mastigação e pelo palato mole. O nervo facial é um nervo misto. Controla os músculos da expressão facial, ou seja, a mímica facial, além de ser responsável pela sensação gustativa dos dois terços anteriores da língua. O nervo vestíbulo-coclear (denominado como nervo auditivo ou acústico) é sensitivo e constituído de duas porções: a porção coclear está relacionada a fenômenos da audição e a porção vestibular com o equilíbrio. O nervo glossofaríngeo tem a função de levar fibras parassimpáticas até a glândula parótida por meio do gânglio ótico; de levar fibras motoras para o músculo estilofaríngeo e para os músculos superiores da faringe; e de receber fibras sensitivas para: o terço posterior da língua, as tonsílas palatinas, a faringe, o ouvido médio e os corpos carotídeos. O nervo glossofaríngeo também está associado à sensibilidade gustativa e das vísceras. O nervo acessório é um nervo motor responsável pela inervação dos músculos trapézio e esternocleidomastóideo. Uma lesão nesse último músculo pode reduzir a mobilidade do pescoço, prejudicando o pescoço e a voz. O nervo hipoglosso é exclusivamente motor e supre os músculos extrínsecos e intrínsecos da língua e alguns do pescoço. Já o nervo vago é um nervo misto, desempenhando funções sensitivas e motoras no trato faringolaringoesofágico. Os músculos da laringe são inervados por esse nervo. O nervo vago é subdividido emnervo laríngeo superior e nervo laríngeo inferior ou recorrente. O nervo interno penetra na laringe por meio de uma abertura na membrana tireo- hióideo, possui fibras sensitivas e secretomotoras (da mucosa da epiglote, das pregas 23 ariepiglóticas e da cavidade da laringe até as pregas vocais). Já o ramo externo – exclusivamente motor – desce paralelamente à laringe, apoiado no músculo constritor inferior e com terminações no cricotireoideo. Abaixo do forame jugular, o nervo vago se ramifica para o nervo laríngeo inferior. O nervo desce paralelos à laringe, entra no tórax e retorna na laringe, posteriormente. Ele inerva todos os músculos laríngeos, com exceção ao músculo cricotireóideo. Quando um ou todos os músculos da laringe não se contraem, causam a paresia da musculatura laríngea; já a ausência gera a paralisia, definindo a posição anormal das pregas vocais. 1.4 PRINCIPAIS TEORIAS DA PRODUÇÃO VOCAL Vamos relatar as principais teorias descritas na literatura: a) Teoria mioelástica: Por esta teoria, a vibração das pregas vocais seria um processo passivo. Com a pressão subglótica os músculos vocais se contrairiam relativamente à altura do som a emitir, sendo que a frequência dos pulsos de ar determinaria a frequência do som emitido0. b) Teoria neurocronáxica: A vibração seria um ato passivo e elástico, porém um fenômeno de responsabilidade nervosa, puramente, que a adução e a vibração seriam governadas pelos centros nervosos corticais. c) A teoria muco–ondulatória: Essa teoria afirma que a vibração é uma ondulação da superfície da mucosa que recobre as pregas vocais e que desliza sobre uma submucosa muito frouxa, sendo gerada pelo 24 ar expirado. São ondas semelhantes àquelas que produzem o vento agitando uma superfície líquida e se dirigem sucessivamente de baixo para cima. Para modificar a frequência do som, a contração do cricotireóideo e do tireoaritenóideo, por meio da forma e o volume das pregas vocais. Logo, para os sons mais graves, a ondulação é mais lenta porque o músculo vocal está mais relaxado; enquanto que nos sons agudos, o músculo está mais tenso, garantindo velocidade à ondulação. d) Teoria mioelástica–aerodinâmica A fonação é um processo inter-relacionado das forças físicas aerodinâmicas da respiração e das forças elásticas dos tecidos musculares da laringe. A elasticidade das pregas vocais pode ser ativa ou passiva, existindo uma relação intrínseca entre o sistema respiratório e a laringe, garantindo a pressão pulmonar necessária para iniciar o movimento oscilatório das pregas vocais durante a fonação. É necessário o equilíbrio entre o suporte respiratório (a pressão subglótica) e os mecanismos laríngeos para gerar a vibração das pregas vocais. 25 2 NOÇÕES BÁSICAS DA AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA VOCAL Este Módulo tem como objetivo oferecer subsídios teóricos para uma avaliação fonoaudiológica vocal eficaz, fornecendo dados suficientes para uma adequada conduta terapêutica. 2.1 O CORPO E A VOZ A adequada postura corporal tem sido apontada como base para uma boa produção vocal e de fala, além de influenciar na respiração do sujeito. A avaliação postural, na avaliação fonoaudiológica, não visa promover diagnósticos de outras áreas ou algo parecido. O objeto é avaliar o alinhamento postural, pois influenciará nos ajustes musculares respiratórios adequados, que por sua vez produzirá efeitos na voz. O papel do fonoaudiólogo é observar a postura do sujeito em repouso, ao falar, ao sentar-se e quando está em pé. É importante observar essa postura ao executar alguma tarefa da avaliação, a fim de ter mais dados sobre o seu alinhamento corporal. O fonoaudiólogo deve avaliar se a cabeça está ereta em alinhamento com o tronco, se os pés estão planos e paralelos, sem contrações, se os braços apresenta-se soltos sem travamento e/ou elevação de ombros, se os joelhos estão relaxados e não tracionados para trás. Durante a fala, deve-se manter a postura do corpo ereta, no eixo, porém, relaxada, principalmente a cabeça. Para os sujeitos com estiramento na região do pescoço ou dos ombros, deve-se evitar aqueles esportes que exigem movimentos violentos de braços e que causam tensão muscular na região do pescoço, costas, ombros e tórax, como por exemplo, tênis, basquete, boxe, vôlei, musculação e levantamento de peso. Essas orientações devem ser realizadas com parcimônia, pois, por exemplo, se o paciente for um atleta profissional, não podemos impedi-lo de atuar, mas sim podemos fornecer subsídios terapêuticos para a realização da atividade (os exercícios corporais poderão ser vistos no Módulo IV). Sugere-se que o avaliador observe a postura corporal do sujeito ainda na sala de espera da clínica. Os aspectos da postura devem ser observados nas diversas formas e lugares 26 onde a voz costuma ser produzida: falando sentado ou em pé, dando uma aula (no caso de professores e palestrantes), ao telefone (no caso de telefonistas, call centers, etc.), trabalhando, cantando (no caso de cantores, corais, os sujeitos que cantam com frequência). A posição vertical da laringe é um aspecto importante a ser avaliado. Quando em repouso, a cartilagem cricóidea está em correspondência com a sexta ou sétima vértebra cervical. O avaliador deve procurar a proeminência da cartilagem tireóidea (sobressalente no pescoço) e colocar os dedos indicador e o médio entre essa e o osso hioide. Se couberem os dois dedos (na posição horizontal), pode ser classificada como posição vertical normal, porém, se couber menos, a laringe está elevada, e se couber mais dedos, a laringe está abaixada. Durante a fonação, a movimentação da musculatura é variada, porém harmônica (sem altos, e sem quebras de frequências). Na movimentação restrita, a laringe está fixa e geralmente elevada (tensão da cintura escapular). O fonoaudiólogo deve pegar a laringe com os dedos polegar e indicador e movimentá-la, com cuidado, lateralmente, para verificar as condições da mobilidade. Durante a deglutição, a laringe deve elevar-se para proteger as vias aéreas inferiores. Para avaliar essa função, o fonoaudiólogo deve induzir que o sujeito deglute com um leve toque no pescoço. 27 3 ANÁLISE PERCEPTIVO-AUDITIVA 3.1 QUALIDADE VOCAL A qualidade vocal é o conjunto de características que identificam uma voz. O fonoaudiólogo pode avaliar a qualidade por meio da avaliação perceptiva-auditiva, porém, também pode ser detectada por meio da avaliação acústica da voz. É o principal parâmetro na avaliação fonoaudiológica vocal e relaciona-se à impressão total criada por uma voz, variando de acordo com o contexto de fala, com as condições físicas, psicológicas do indivíduo, além de seu padrão básico de emissão que o identifica. Como está relacionado a um conjunto de características vocais, ao avaliar o tipo de voz, não se deve esquecer as características do trato vocal. Ao atribuirmos a uma voz um adjetivo, como tensa ou relaxada, estamos focados na alteração física da vibração das pregas vocais. Porém, as interferências do trato vocal na voz também devem ser levadas em consideração. 3.2 TIPOS DE VOZ Os tipos de voz são definidos pelo padrão básico de um indivíduo e estão relacionadas à seleção dos ajustes empregados, tanto nas pregas vocais e laringe, como um todo, quanto nos sistemas de ressonância, o que diz respeito principalmente à dimensão biológica da voz. A avaliação deve contemplar diversos fatores relativos às condições do falante, que podem ser divididos em dois grandes grupos: Fatores intrínsecos: como fatores hereditários, problemas de saúde geral e de natureza psicológica; Fatores extrínsecos: ambiente externo e do nível socioeconômico e culturaldo falante. 28 É comum utilizar na Fonoaudiologia uma escala de quatro pontos para definir o grau de manifestação da qualidade vocal: grau discreto, grau moderado, grau severo e grau extremo. É fundamental avaliar a voz em diferentes momentos de fala com o objetivo de observar a ocorrência da qualidade vocal na fala espontânea (FE), na emissão sustentada (ES) ou em ambas (A). Em seguida, serão descritas as classificações das qualidades vocais mais utilizadas na literatura: a) Voz rouca é uma qualidade vocal que auditivamente percebe-se um ruído, indicando irregularidade de vibração das pregas vocais. Nesse tipo de voz, a frequência e a intensidade estão frequentemente diminuídas, e existem ruídos que independem dos movimentos ondulatórios normais da mucosa das pregas vocais. Esta voz está vinculada a lesões orgânicas ou organofuncionais (serão vistas no Módulo III) ou aquela voz que o sujeito gripado apresenta. b) Voz áspera: a emissão dessa qualidade vocal é rude e desagradável aos ouvidos do ouvinte. O sujeito faz um esforço para falar; ataques vocais são predominantemente bruscos. Nesse tipo de voz, o avaliador poderá perceber dois focos de ressonância: uma ressonância laringofaríngea básica e tensa, e uma ressonância nasal compensatória ao esforço laríngeo, valendo-se da tentativa de melhorar a projeção vocal. É uma voz típica das situações de rigidez de mucosa das pregas vocais. Como são os casos de da leucoplasias (será vista no Módulo III) ou em casos de restrições cicatriciais pós-cirúrgicas, ou ainda em alterações congênitas na arquitetura histológica das pregas vocais. A dificuldade de vibração das pregas vocais, como nas alterações estruturais mínimas, particularmente no sulco vocal, também garante esse aspecto áspero na voz. c) Voz soprosa: na qualidade vocal soprosa, o ouvinte tem a sensação de escapar ar pelas pregas vocais. De fato, a voz não está acompanhada de sonorização completa das pregas vocais. Como as pregas vocais não fecham integralmente, ocorre a saída de ar subglótico pela voz. A voz soprosa típica é de intensidade baixa e com frequência grave. Para reduzir esse efeito, o individuo pode realizar um esforço de compensação a fim de reduzir o escape de ar, podendo encontrar a qualidade vocal com intensidade forte. Nas disfonias hipocinéticas, nos quadros de fadiga vocal (cansaço vocal), em certas inadaptações fônicas ou em casos neurológicos de paralisia de prega vocal, na doença da miastenia gravis ou do parkinsonismo, pode-se encontrar a voz soprosa. 29 d) Voz sussurrada: a voz soprosa extremamente severa é a voz sussurrada. Nenhuma parte do ar é modulada pela glote, formando a configuração laríngea na forma de um triângulo completo anteroposterior ou na forma de um pequeno triângulo exclusivamente posterior, com oclusão da região fonatória, e todo ar direcionado para a região da comissura posterior. Nessa configuração, a mucosa está rígida e sem vibração. Pode aparecer nos casos de afonia funcional por conversão psicossomática, ou em paralisia bilateral total abdutora. Nesses casos, as pregas vocais estão distantes da linha média, impedindo a sonorização da mesma. e) Voz fluida: a voz fluida representa um estágio da ativação glótica que varia entre as vozes neutras e soprosa. Para essa voz, a laringe encontra-se baixa com amplo movimento de mucosa. Nos casos de edemas de pregas vocais, pode-se encontrar essa voz. Percebe-se que a voz fluida tem uma emissão agradável, solta e relaxada, além da frequência fundamental grave. A fala dos locutores de rádio e de comercial tem essas características. Antigamente, os apresentadores de telejornal também apresentavam a voz fluida, mas a tendência da voz do telejornalismo brasileiro é evitar esse padrão. f) Voz gutural: a voz tem a emissão tensa, com abafamento dos harmônicos e com ressonância laringofaríngea. A projeção vocal e volume vocal estão limitados. Os autores consideram que essa voz é quase sempre de origem psicoemocional, por modelo vocal deficiente, ou ainda por técnica inadequada. g) Voz comprimida: a voz comprimida é tensa e desagradável. As pregas vocais vibram numa contração exagerada, podendo envolver o vestíbulo laríngeo anteroposteriormente, medialmente ou em ambas as dimensões. Esse padrão vocal é encontrado nas disfonias hipercinéticas extremas ou nos quadros psicossomáticos, quando a laringe tem a função esfincteriana primária. h) Voz tensa/estrangulada: essa voz tem um som comprimido e entrecortado, podendo variar a qualidade da emissão. É comum haver quebras de frequência e sonoridade, tensão no trato vocal e associação de grimáceas faciais. Aparecem em casos de disfonias hipercinéticas extremas, em algumas síndromes neurológicas e é típica das disfonias espasmódicas, neurológicas ou psicogênicas. i) Voz bitonal: essa voz é caracterizada por dois diferentes sons, com frequência, intensidade e qualidade vocal diversas. O desnivelamento das pregas vocais no plano horizontal devido a uma diferença de tensão, de massa ou de tamanho, geralmente, reflete numa 30 inadaptação fônica ou numa alteração na inervação laríngea, como observado nas paralisias de nervo laríngeo inferior. j) Voz diplofônica: facilmente confundida com a voz bitonal. Essa voz diplofônica também é caracterizada por dois diferentes sons, contudo não apresenta uma condição de desnivelamento de pregas vocais, mas sim duas diferentes estruturas compondo a fonte produtora do som. O exame otorrinolaringológico e a avaliação fonoaudiológica auxiliarão a diferenciar a voz diplofônica da bitonal. Os casos mais comuns da voz diplofônica ocorrem na fonação ariepiglótica e na fonação vestibular. k) Voz monótona: a voz que não apresenta variações de altura ou de frequência, por isso torna-se monoaltura, monointensidade, ou padrões de frequência e de intensidade repetitivos. Geralmente associada à gama tonal e a tessitura reduzidas. Essas características podem estar presentes em indivíduos depressivos, com desordem neurológica, associada à hipernasalidade e à articulação imprecisa, como nas doenças de esclerose lateral amiotrófica e na doença de Parkinson. l) Voz trêmula: essa voz é caracterizada por variações acentuadas, regulares ou irregulares, mas geralmente cíclicas, que variam de 4 a 8 Hz ao redor da frequência fundamental, gerando a sensação de instabilidade à emissão. Essas características vocais ocorrem em situações de forte emoção. No entanto, pode estar associada ao tremor neurológico heredofamiliar (acompanhado ou não de tremor do véu palatino, mãos e cabeça), ou ainda um dos primeiros sinais de distúrbios nas vias extrapiramidais, como no parkinsonismo. m) Voz pastosa: existe uma redução no uso da ressonância orofaríngea, semelhante ao som que as leigamente se referem “como se estivesse falando com uma ‘batata na boca’”. Também possuem imprecisão articulatória. Pode-se encontrar essa voz nos casos de hipertrofia das amígdalas palatinas (nas crianças) e em indivíduos obesos. Pode aparecer também alguns quadros neurológicos e na fala da pessoa que ingeriu álcool. n) Voz crepitante: a voz crepitante é geralmente identificada como vocal fry ou som basal. É caracterizada pela emissão vocal grave, com pequena intensidade, com aperiodicidade ampla; além disso, o sujeito pode apresentar as pregas vocais grossas e encurtadas, podendo ou não ocorrer a vibração das pregas vestibulares. o) Voz infantilizada: a voz tem a característica aguda, que não corresponde à idade do falante ou à maturidade psicoemocional. Pode aparecer tanto em homens ou mulheres e geralmente está associada a um padrão de altura repetitivo. A configuração do trato vocal 31 geralmente está associada à elevação de laringe e à anteriorização da língua, o que produz um padrão de articulação distorcido, chamado condução anterior. Ocorre geralmenteem casos de origem psicológica, por imaturidade ou muda vocal incompleta, ou em raros casos orgânicos de laringe infantil. p) Voz feminilizada: a voz feminilizada apresenta entre as frequências agudas no limite superior da faixa masculina, (entre 140 e 150 Hz), ou já na tessitura feminina, acima de 150 Hz. Esse padrão vocal pode ter origem psicológica, encontrada em rapazes com disfonia da muda vocal por dificuldade de aceitação da responsabilidade da vida adulta e que, portanto, mantêm suas vozes infantis e também aparece em alguns casos de homossexualidade masculina. q) Voz virilizada: caracterizada por um tom grave, no limite da faixa feminina com a masculina, em torno de 150 Hz, ou ainda na faixa feminina, porém, em seu limite inferior, de 150 a 180 Hz. Pode ser encontrada em mulheres com grandes edemas de pregas vocais, em alguns casos de menopausa, além dos quadros de ingestão de hormônios masculinos. r) Voz presbifônica: é a voz do idoso (após os 65 anos e geralmente está presente no sexo masculino). É uma voz com grau variado de deterioração, que expressa na falta de sustentação de frequência, intensidade e qualidade de emissão, sendo constantes as quebras de sonoridade. Nos homens, a voz passa a ter uma frequência fundamental mais aguda, podendo chegar a desenvolver uma voz feminilizada, e nas mulheres, elas adquirem uma voz mais grave. s) Voz hipernasal: ocorre um uso excessivo da cavidade nasal, contaminando os sons orais por esta ressonância. Não existe alteração nas pregas vocais, por isso alguns autores discordam em classificá-las como qualidade vocal, mas sim como uma característica da ressonância. No caso das fissuras labiopalatinas, das inadequações velofaríngeas ou em alterações emocionais, afetividade ou sensualidade, pode-se encontrar esse aspecto vocal. t) Voz hiponasal: ocorre uma redução do componente nasal normalmente esperado na fala, nos casos de desvios de septo ou de deformidade dos ossos da face, como palato em ogiva ou coanas estreitas. Parece uma qualidade vocal “abafada”, pois a amplificação ressonantal do som laríngeo básico não se realiza totalmente. 32 3.3 ESCALA GRBASI A escala japonesa GRBAS, amplamente divulgada por Hirano (1981), é usada internacionalmente por ser um método simples de avaliação do grau global da disfonia (G). Na avaliação perceptivo-auditiva, o avaliador identificará quatro aspectos independentes: rugosidade (R – do inglês roughness), soprosidade (B – breathiness), astenia (A – asteny) e tensão (S – strain), considerados os mais importantes na definição de uma voz disfônica; sendo apenas os fatores astenia e tensão excludentes ente si. A característica rugosa, “R”, inclui os conceitos de rouquidão, crepitação, bitonalidade e também aspereza. O avaliador deve estabelecer uma escala de quatro pontos, contribuindo identificar o grau de cada desvio de cada um dos fatores (0 - normal ou ausente; 1 – discreto; 2 - moderado e 3 - severo). Posteriormente, acrescentaram a instabilidade, “I”, que representa a flutuação na qualidade vocal. Passou a ser denominada GRBASI. Por exemplo, se a escala for marcada: G2R1S2A0S1I0 - (grau global moderado, rugosidade discreta, soprosidade moderada, astenia ausente e tensão discreta, instabilidade ausente). O avaliador deverá analisar a qualidade vocal na fala espontânea (FÉ) e na emissão sustentada (ES) ou em ambas (A), além de todos os outros itens da avaliação. 33 4 CARACTERÍSTICAS DA EMISSÃO 4.1 ATAQUE VOCAL O modo como se inicia o som e está relacionado à configuração glótica durante a emissão é denominado de ataque vocal. O ataque vocal pode ser dividido em: a) ataque vocal isocrônico – caracterizado por ser suave, equilibrado ou normal, cuja fase expiratória da respiração coincide com o início da vibração da mucosa das pregas vocais. b) ataque vocal brusco: caracterizado por um fechamento rápido e completo das pregas vocais antes do início da fonação. Esse padrão de ataque geralmente está acompanhado por tensão muscular e com pressão subglótica alta, buscando superar a resistência das pregas vocais e iniciar a fonação. c) ataque vocal soproso ou aspirado: neste ataque vocal, o fechamento glótico é insuficiente. Pode ocorrer nos casos de hipotonia dos músculos da laringe, paralisia das pregas vocais, fendas hipercinéticas fusiforme, no qual a rigidez da mucosa impede o acontecimento do ataque vocal isocrônico. O ataque vocal soprosa pode ser hipertônico ou hipotônico. 4.2 LOUDNESS Associamos ao loudness a sensação psicofísica ligada à intensidade vocal. Podemos julgar um som sendo este forte ou fraco, considerando-se a projeção no ambiente em questão. Psicologicamente é um parâmetro que permite numerosas interpretações, expressando basicamente como lidamos com a noção do limite próprio e do outro. Durante a avaliação, deve se observar se a loudness está inadequada ao ambiente, indicando adequada, forte e fraca. Se a avaliação for realizada in locus (no local, como em escolas, estúdios de gravação, entre outros) também deve ser avaliado de acordo com esse contexto. 34 4.3 PITCH Pitch (é a sensação psicofísica da frequência); é a sensação que o nosso ouvido tem com relação à frequência. Este parâmetro depende fundamentalmente da frequência fundamental, mas também sofre interferências da intensidade e da ressonância. O fonoaudiólogo deve classificar o pitch como: adequado, grave, aguda e as variações agravado (mais grave que o tom habitual, mas dentro de um padrão adequado) e agudizado (mais aguda que o tom habitual, mas dentro de um padrão adequado). Lembrando que a idade, o gênero (sexo) e a personalidade do falante também devem ser considerados. Frisando a importância de avaliar o pitch e a loudness na fala espontânea (FE), na emissão sustentada (ES) ou em ambas (A). 4.4 ESTABILIDADE A estabilidade da qualidade da emissão é controlada pelo Sistema Nervoso Central. O avaliador deve observar na emissão vocal do sujeito se mantém a qualidade, tanto na sustentação da emissão quanto na fala encadeada. Esse dado permite inferir a relação entre as forças mioelásticas da laringe e aerodinâmicas da corrente pulmonar. Devem-se focar na estabilidade, nas flutuações da frequência e nas flutuações de intensidade, nas quebras de sonoridade, no decréscimo na altura e na intensidade do início da emissão. Também deve ser avaliada no contexto da emissão sustentada, da fala espontânea e em ambas. 4.5 MODULAÇÃO 35 A modulação é a capacidade do indivíduo em realizar variações de pitch e de loudness na fala. Durante a avaliação vocal, o fonoaudiólogo pode encontrar as seguintes características: a) Extensão vocal adequada; b) Extensão vocal restrita: ocorre em sujeitos, a fala monótona, que controlam seus sentimentos e possuam rigidez de caráter; c) Extensão vocal excessiva: é extrema e repetitiva; d) Extensão vocal restrita para agudos: o sujeito mostra dificuldade em realizar modulação no som agudo; e) Extensão vocal restrita para grave: apresenta dificuldades em realizar modulação no som grave. 4.6 RESSONÂNCIA A ressonância é a modificação do som ao longo do trato vocal, podendo amortecer ou ampliar o som. Durante a avaliação fonoaudiológica, deve- se observar como a ressonância do som distribui-se nessas cavidades: laringe, aringe, cavidade oral e nasal, e seios paranasais. Podemos classificá-la em dois focos: vertical e horizontal. O foco horizontal pode ser classificado em: a) Equilibrado: observado o uso equilibrado de todas as estruturas citadas acima do trato vocal; b) Posterior: a energia está concentrada mais na região posterior (no sentido ântero- posterior); c) Anterior: energia está mais concentrada nas regiões próximas aos lábios elíngua (no sentido ântero-posterior); Essa classificação é a mais utilizada no ambiente clínico. O foco vertical pode ser classificado em: a) Equilibrado: a energia sonora é distribuída igualitariamente no aparelho fonador; 36 b) Baixa ou laringofaríngica: o uso excessivo da laringe confere ao falante uma emissão tensa e a impressão da voz estar presa na “garganta”, com escassez de projeção vocal e excesso de foco na faringe (garantido na voz a característica metálica), devido à reflexão do som em suas paredes rígidas. Podendo encontrar o tensionamento da laringe e da faringe, concomitantemente; c) Alto ou hipernasal: ocorre escape excessivo de ar pelo nariz, provocado por alguma alteração orgânica e/ou fisiologia tais como: fissura palatina, insuficiência ou incompetência velofaríngea. A ressonância também deve ser avaliada na fala espontânea e na emissão sustentada, a fim de adequar os exercícios vocais para as dificuldades específicas. 4.7 INTELIGIBILIDADE DE FALA A inteligibilidade da fala envolve fatores como a articulação, a ressonância, a velocidade de fala, a fluência e a entonação. Os aspectos da inteligibilidade de fala devem ser analisados durante a conversação espontânea e classificados como: adequada, pouco prejudicada, moderadamente prejudicada, muito prejudicada ou ininteligível. Inteligibilidade de fala adequada: o ouvinte não sente dificuldade para compreender a mensagem do interlocutor; Inteligibilidade de fala pouco prejudicada: o ouvinte sente dificuldade de compreensão em alguns trechos do discurso; Inteligibilidade de fala moderadamente prejudicada: a fala tem apenas alguns momentos de compreensão, a maioria do discurso encontra-se prejudicada; Inteligibilidade de fala muito prejudicada ou ininteligível: não se consegue compreender a fala do emissor. a) Flexibilidade articulatória: é o processo de ajustes motores dos órgãos fonoarticulatórios na produção e formação dos sons. Uma articulação flexível com sons bem 37 definidos indica controle da dinâmica fonoarticulatória. Determinadas alterações articulatórias podem exigir um ajustamento muscular que envolva alteração no dinamismo na laringe, dificultando uma emissão equilibrada. A classificação baseia-se na observação da amplitude e direção de movimentação dos órgãos fonoarticulatórios. Classifica-se a flexibilidade articulatória como adequada ou inadequada. Se for inadequada, é importante realizar uma subdivisão: Fechada: pouco contato de articuladores (o sujeito fala com pouca mobilidade dos órgãos fonoarticuladores); Travada: com restrição de abertura de boca e pouca movimentação vertical de mandíbula; Exagerada: movimentos de articuladores com amplitude e direção exageradas; Em sorriso: mantendo padrão de lábios estirados, falando sempre com um sorriso nos lábios. b) Sistema fonológico: o sujeito pode apresentar alterações no sistema fonológico, identificando as trocas, as distorções ou as omissões dos fonemas. Caso esteja alterado, faz-se necessário uma avaliação específica de linguagem com o objetivo de identificar as dificuldades fonológicas e enfocar a terapia para esse fim. c) Pronúncia: pronúncia é a variação articulatória de um mesmo som compartilhado por uma determinada população. Os sotaques não podem ser confundidos com dialeto, pois o que caracteriza o sotaque é apenas a diferença de pronúncia dos falantes. Deve-se analisar a pronúncia do sujeito durante a fala espontânea. O trabalho fonoaudiológico com a pronúncia deve ser respaldado pela queixa do sujeito, ou seja, se ele deseja diminuir determinado sotaque, pode-se propor uma conduta fonoaudiológica nesse sentido, caso contrário, a pronúncia não deve ser considerada como objetivo terapêutico. d) Velocidade de fala: é definida pelo número de palavras faladas durante um minuto de texto corrido ou durante a fala espontânea. 38 Durante a avaliação fonoaudiológica, o terapeuta deverá avaliar a velocidade de fala durante a conversa habitual. A velocidade pode ser classificada em: normal, aumentada, reduzida, excessivamente variada, com jatos de emissão e momentos de hesitação. Deve ser considerado o contexto regional do sujeito. Em determinadas regiões brasileiras, a população tende a falar mais rápido. 39 5 DINÂMICA RESPIRATÓRIA 5.1 MODO Pode-se classificar de acordo com o predomínio da respiração, que pode ser oral, nasal ou misto. As alterações inflamatórias ou alérgicas como as afecções rinológicas podem influenciar este parâmetro (se o paciente estiver nessas situações, o avaliador deve encaminhá- lo para uma avaliação otorrinolaringológica, ou caso ele já tenha sido avaliado, devemos avaliar esse item quando o processo inflamatório estiver controlado). Deve-se observar se há ruído ou estridor respiratório. Esses parâmetros devem ser analisados numa situação espontânea do sujeito ou por meio de provas específicas. 5.2 TIPO O tipo respiratório refere-se à localização concentrada do fluxo respiratório durante a expiração e aspiração. O fonoaudiólogo deverá observar esse padrão respiratório desde o primeiro movimento na sala de espera, na fala espontânea, em leituras assim como tocando o tórax e a região diafragmática (situando o dedo mínimo logo acima do umbigo), e se ele for cantor, também no canto. a) Média, mista ou torácica: presença de expansão da região do tórax com movimentação intermitente da região diafragmática. É a respiração comum para a fala habitual, porém, é insuficiente para o uso da voz profissional; b) Inferior ou abdominal: expansão localizada do abdômen, sem a participação dos músculos do diafragma; c) Costodiafragmática: equilíbrio da expansão harmônica de toda a caixa torácica, sem concentração da região inferior ou superior. 40 5.3 MEDIDAS FONATÓRIAS O Tempo Máximo Fonatório (TMF) é o tempo máximo que um indivíduo pode sustentar uma fonação. Está relacionado com o suporte aéreo e a vibração glótica. O fonoaudiólogo deve solicitar que o sujeito de pé, relaxado, realize a emissão de vogais(/a/ /i/ /u/). São considerados valores dentro da normalidade em torno de: Mínimo de 14 segundos para mulheres; Mínimo de 20 segundos para homens. Pede-se ao paciente que, após uma inspiração profunda, emita de forma contínua as vogais, uma de cada vez. Aconselha-se que o sujeito realize cada prova 3 vezes, pois ele pode ele estar ansioso ou nervoso nas primeiras vezes. A emissão das vogais deve ser em frequência e intensidades habituais. 5.4 COORDENAÇÃO PNEUMOFONOARTICULATÓRIA A coordenação pneumofonoarticulatória é a relação harmônica das forças expiratórias, das estruturas mioelásticas da laringe e musculares da articulação. O equilíbrio dessas estruturas garante ao ouvinte a sensação de estabilidade, domínio e harmonia. No entanto, um desequilíbrio em um dos aspectos pode gerar a incoordenação pneumofonoarticulatória. O predomínio no nível fônico sugere a hipercontração da musculatura laríngea; o predomínio no nível inferior reflete o excesso de ar na fonação; e o no nível articulatório, exagero na produção dos sons. 5.5 SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO 41 Na avaliação do sistema estomatognático é importante avaliar as estruturas da fonação, para verificar se há alterações quanto à forma ou à tonicidade, que possam interferir na dinâmica da fala e provocando ajustes motores compensatórios inadequados, levando a uma fonação sob esforço. 5.6 TIPOS FACIAIS É importante avaliar se os tipos faciais interferem no espaço intraoral e na ressonância. Os tipos faciais podem ser classificados: a) Face média ou mesofacial: terço da face proporcionais e bom equilíbrio muscular efuncional; b) Face longa ou dolicofacial: terço inferior da face aumentado, base posterior do crânio mais curta e arco dentário longo e estreito, e musculatura débil e estirada; c) Face curta ou braquifacial: terço inferior da face reduzido, mordida profunda, base posterior do crânio mais longa e arco dentário alargado, e musculatura forte. 5.7 ESTRUTURAS FONOARTICULATÓRIAS a) Lábios: Verifica-se se os lábios estão unidos ou entreabertos. Observar se há possibilidade de vedamento quando estiverem entreabertos. Verificar a tonicidade, a simetria, se o lábio está encurtado, se existe má colusão dentária, o distanciamento maxila/mandíbula, se há lábio inferior em eversão e se o volume dos lábios é fino ou avolumado. b) Língua: 42 Observar o formato, a presença de marcas de dentes, de ferimentos nas laterais e de frênulo lingual. Verificar se existe algum fator anatômico que dificulte ou altere o seu posicionamento. c) Mandíbula: A mandíbula deve ter a possibilidade de movimentos livres horizontalmente, verticalmente e lateralmente. Os movimentos funcionais da mandíbula e dos côndilos, além da observação de percurso do movimento realizado pela mandíbula, são analisados. Pode-se perceber o movimento condilar com as pontas dos dedos apoiadas levemente sobre as duas articulações. Nesse momento, o avaliador identificará as limitações ou desvios, a presença de ruídos e a dor durante os movimentos. O grau mínimo de abertura deve ser de 3 cm e o máximo de 5 cm. A abertura restrita ou excessiva influenciará no aspecto articulatório. d) Dentes e oclusão dentária: Os dentes deverão ser avaliados quanto ao seu estado de conservação e suas possíveis falhas dentais. Se os dentes são todos naturais, deve ser verificada a adaptação de prótese, se parcial ou total, e qual a oclusão do paciente (normal ou com tendência à classe I, classe II ou classe III). Caso necessite de reparos dentais, de próteses dentárias ou de ajustes oclusais, o sujeito deverá ser encaminhado para um dentista. OCLUSÃO: CLASSIFICAÇÃO DE ANGLE Classe I: a relação mesodistal entre os primeiros molares peramentes está correta (cúspide mesiovestibular do primeiro molar permanente superior oclui no sulco vestibular do primeiro molar permanente inferior). Pode haver apinhamentos dentários na região anterior; Classe II: cúspide mesiovestibular do primeiro molar superior oclui com a vertente distal do segundo pré-molar inferior; Divisão primeira: os quatro incisivos superiores encontram-se à frente dos inferiores criando um “overjet”; Divisão segunda: incisivos centrais superiores em posição bem vertical, enquanto 43 os laterais inclinam-se para frente (freq. mordida profunda). Subdivisão: ocorre quando a classe II observada é apenas em um dos lados a arcada, estando o outro em classe I. Classe III: os primeiros molares inferiores relacionam-se mesialmente em relação aos superiores. Arco inferior mais anterior em relação à maxila. (Freq. mordida cruzada anterior) Subdivisão: ocorre quando a classe III observada é somente em um lado, estando o outro lado com relação normal de molares. e) Tonicidade: É necessário verificar se existem alterações de tonicidade nos casos de mau uso das estruturas, e quando a forma/função e/ou posicionamento da musculatura estiverem alterados. Para isso, o avaliador deve observar as funções e tocar a musculatura avaliada (se possível). f) Palato duro: O palato duro pode estar normal ou ogival. g) Palato mole/véu palatino: No palato mole, o avaliador deve observar se há presença de úvula bífida ou sulcada; este dado é importante para investigar a possibilidade de fissura submucosa. Na avaliação do véu palatino deve focar a estrutura (normal ou encurtada) e quanto à função, observar a mobilidade, a tonicidade e o fechamento velofaríngeo nas vogais e consoantes. h) Mastigação Na avaliação da mastigação (sugere-se que o sujeito coma, para o alimento sólido, o pão francês ou o pão salgado – como é conhecido em algumas regiões do Brasil –, e para o alimento líquido, pode ser suco ou água) devem ser observados: os cortes do alimento (dentes e tamanho); os lábios abertos ou ocluídos; ruídos durante a mastigação; a participação exagerada da musculatura oral; a lateralização do alimento; o predomínio de movimentos verticais ou 44 horizontais; a interposição do lábio inferior; se a mastigação é unilateral ou bilateral. A contração e simetria de força dos músculos masseteres e temporais também devem ser avaliadas. 5.8 COMPETÊNCIAS GERAIS COMUNICATIVAS Neste item, o fonoaudiólogo já teve oportunidade de identificar as competências comunicativas do sujeito avaliado. Por meio da fala espontânea, deve-se avaliar a fluência, verificar a existência de hesitações, de interjeições, de palavras não terminadas, de repetições de frases ou sons, de bloqueios, de pausas ou de prolongamentos. Se o sujeito expõe suas ideias e seus pensamentos de maneira clara e coerente. Deve-se avaliar a comunicação do ponto de vista da expressão verbal e não verbal. 45 6 DISFONIAS FUNCIONAIS E ORGANOFUNCIONAIS 6.1 DISFONIAS FUNCIONAIS Tradicionalmente, a disfonia funcional é resultado de um diagnóstico de exclusão, isto é, quando não é identificada nenhuma alteração anatômica visível aos exames otorrinolaringológicos, como nasofibroscopia ou videofluoroscopia. Neste Módulo, iremos classificar as disfonias funcionais por uso incorreto da voz (falta de conhecimento vocal e modelo vocal deficiente), disfonias funcionais por inadaptações fônicas e disfonias funcionais psicogênicas. DISFONIAS FUNCIONAIS Disfonias funcionais por uso incorreto da voz Falta de conhecimento vocal Modelo vocal deficiente Disfonias funcionais por inadaptações fônicas Inadaptações anatômicas (AEM) Inadaptações funcionais Disfonias funcionais psicogênicas 46 6.1.1 Disfonias funcionais por uso incorreto da voz: por falta de conhecimento vocal e por modelo vocal deficiente As disfonias funcionais estão relacionadas diretamente ao comportamento vocal do indivíduo. É importante que o fonoaudiólogo investigue todas as situações comunicativas do indivíduo. Os ajustes vocais, a qualidade vocal, os sintomas e os sinais são variados, porém, desde que o paciente se conscientize do tratamento e das instruções fonoaudiológicas. a) Falta de conhecimento vocal O que caracteriza o uso incorreto da voz nessa classificação é o desconhecimento vocal, que por consequência o indivíduo seleciona ajustes motores vocais inadequados para a produção vocal saudável e os mantêm durante algum tempo. Realizamos alguns ajustes motores para expressarmos determinadas situações, como ao alterar os estados emocionais ou numa resposta transitória, porém, esses ajustes vocais temporários não acometem a saúde vocal do indivíduo, isto é, esses quadros não interferem para causar alterações vocais. Ao avaliar o sujeito disfônico, o fonoaudiólogo dever ficar atento aos fatores causais, sejam as manifestações ou os hábitos inadequados. b) Modelo vocal deficiente O indivíduo pode usar a voz inadequadamente, favorecendo-se de um modelo vocal inadequado. O adulto pode eleger e espelhar-se num padrão vocal que considere interessante para ele. Por exemplo, a voz de um artista famoso, de um líder político, de uma cantora, entre outras. Se o modelo vocal escolhido for próximo aos ajustes naturais do indivíduo, esse comportamento não irá prejudicar a fonação do indivíduo. No caso das crianças, pode-se desenvolver uma disfonia nas primeiras etapas do desenvolvimento comunicativo da criança. Ela pode imitar pessoas que estão próximas dela, como as babás, os pais, os professores infantis, entre outros. As vozes dos
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