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Estudo dirigido Introdução a Prática do Ensino de Filosofia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI
JONAS DIAS DE SOUZA
ESTUDO DIRIGIDO 
SÃO JOÃO DEL-REI/MG
2018
Qual o sentido de se ensinar filosofia no mundo contemporâneo? O que é Filosofia? Como ensinar os jovens a filosofar? 
Jonas Dias de Souza[2: Graduado em Filosofia pela UFSJ.]
	O escrito tem por objetivo responder às perguntas “Qual o sentido de se ensinar filosofia no mundo contemporâneo”e “O que é filosofia”, a partir da leitura da entrevista de Giuseppe Ferraro. Entender a distinção feita por Cerletti entre a formação de um docente que possui “ferramentas” daquele que possui os “supostos que acompanham as ferramentas” a partir do texto “A formação docente no ensino de filosofia”. Em seguida responderemos “como ensinar os jovens a filosofar”, tendo como suporte o texto,“ O ensino de filosofia e o pensamento conceitual”. E o que é o algo específico da filosofia. As questões em tela, foram apresentadas como tarefa da disciplina “Introdução a prática do Ensino de Filosofia”, ministrada pela professora Shênia Souza Giarola, na Pós graduação “Ensino de Filosofia no Ensino Médio” da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei).
Qual o sentido de se ensinar filosofia no mundo contemporâneo?
	Acredito que uma das coisas mais belas que aconteceu em minha vida foi a decisão por prestar vestibular para Filosofia. Quando no findar de 1997 transpusos umbrais do Campus Santo Antônio (da extinta FUNREI) e mergulhei no oceano de climas diversos e mutantes. Momentos de muitas tormentas e pouca calmaria. É assim a Filosofia. Ela provoca dores de parto, principalmente quando aprendemos a refletir sobre o mundo e nossas circunstâncias, como afirmou Ortega e Gasset. Ou ainda, quando nos defrontamos com as questões morais de Kant, as marteladas de Nietszche, e o temor e tremor de Kierkegard.
	A dor maior contudo, nasce quando confrontamos a nós mesmos. Quando nos perguntamos até que ponto estávamos vivendo a tradição social e repetindo de forma a perpetuar a existência. Este colocar-se defronte ao espelho e se olhar sabendo que muitas foram as máscaras colocadas em sua face, e a partir daí, realizar a cisão, extirpar estas máscaras e tentar se encontrar. Um leitor mais atento dirá que esta metáfora das máscaras é muito fraca para descrever o processo, mas é o que melhor atende este encontrar-se numa paródia do “Conhece-te a ti mesmo”.No minuto seguinte nos encontramos à volta com qual o sentido de se ensinar filosofia no mundo contemporâneo?
	O que mudou no mundo nesta mudança de século? Abstraindo os problemas políticos, econômicos e sociais que agravaram-se ao redor do mundo, nada mudou. A questão humana interior de se perguntar quem sou eu? E aprender com Kant o que é possível conhecer, ou ainda sentir o martelar destas questões, sem saber o que fazer ouo que posso saber, continua a mergulhar o homem no oceano. Poucos possuem a coragem do meu homônimo bíblico de pedir que o lancem às águas para salvar os marinheiros que sofrem na embarcação prestes aafundar. Mas o ensinar filosofia é isto. Sair do conforto da embarcação e mergulhar nas águas revoltas de um oceano com suas vagas procelosas da vida. Para quê? Para se salvar e para tocar os outros como ensina Ferraro.
	Na esteira de Giuseppe Ferraro (utilizaremos a entrevista concedida a Walter Omar Kohan na livraria da travessa no Rio de Janeiro) refletiremos o sentido de se ensinar filosofia. Este pensador possui experiência de cátedra em diversos segmentos: Educação de crianças e adolescentes universitários e presidiários. O que nos espanta é ensinar filosofia para pessoas condenadas a prisão perpétua. Espanta a princípio, pois sabemos que o espírito do filósofo é livre. Que é possível sair da menoridade (conforme ensina Kant) mesmo estando com o corpo encarcerado. Ele pensa a filosofia como uma necessidade pessoal e social. Como uma exigência. Neste desiderato, considera que cada um tem sua filosofia como sentido que se dá na própria existência, sentido que se dá na vida. Por isto, ensinar filosofia é falar de suas próprias escolhas e dos projetos de vida, de decisões e de relações. A filosofia se abre, já não é mais hermética em si mesmo. Abre-se para a sociedade. Para Ferraro, os filósofos representam um obstáculo social ao trazer a tona uma crítica das relações e do estado presente. O que nos leva a pensar que não deve ser uma tarefa fácil levar a filosofia para que tem seu corpo encarcerado pelo ente estatal.
	O pensador nos leva a refletir sobre o quanto as relações estão se rompendo por causa da tecnologia e da informatização da sociedade. O excesso de informatização social fecha o indivíduo em si mesmo e não conduz ao encontro do outro. Lembra Platão no Alcibíades. A informatização da sociedade quebra afirmação platônica de que é possível conhecer a si mesmo quando se olha nos olhos dos outros. A tecnologia nos coloca diante de um olhar no qual não nos encontramos. Sabemos que a rede social não reflete na maioria das vezes a realidade interior. A fotografia captura e divulga um sorriso (lembra da máscara?) que esconde o verdadeiro sentimento. Ferrara então pergunta “Como posso conhecer a mim mesmo?”. O pensador vai além da definição de filosofia como “amor pelo saber ”, mas, “o saber do vínculo mais importante”. Encontramos assim, a nossa resposta. Ultrapassar o sentido acadêmico para galgar a “philia” que torna possível a sociedade. Isto é possível porque osaber filosófico é experimentador e não científico.
	Ao ensinar filosofia estamos colaborando para que o aprendiz se torne sujeito e conheça a si mesmo, que sobretudo descubra qual o vínculo mais importante para se situar frente este mundo contemporâneo. Seria o mundo antigo melhor ou diferente? Acredito que não. Cada época enfrenta o problema que se lhe apresenta. Com lembrou Ferraro, a vida dos filósofos sempre foi difícil e envolveu tortura ou envenenamento, prisão ou fogueira. Afirmar que tal não acontece hoje é temerário. Mas o filósofo, quando ensina filosofia no mundo contemporâneo, luta contra o pensamento que encarcera a alma, faz uma crítica do existente e principalmente da existência que se fecha às relações e à vida. Ensina-se filosofia no mundo contemporâneo para abrir os olhos, sejam meus ou dos outros.
Descobrimos então para que ensinar filosofia. E nos perguntamos o que é Filosofia?
Este questionamento vem desde a época grega provocando severas discussões, e embates solitários.  Ao longo dos séculos esta discussão ultrapassou as fronteiras das academias e alcançou o senso comum a ponto de ser confundida com mero ponto de vista. Tal é que o homem comum se apropriou do conceito e solta expressões “minha filosofia” ou “não é a minha filosofia”. Este apropriar-se do conceito filosofia busca enquadrar a própria filosofia na gaiola particular do pensamento das conveniências individuais.
Necessário é perceber que a resposta não será uníssona e nem unívoca. E a filosofia aceita discordâncias de pensamento. A filosofia que não aceita discordâncias de pensamento não pode ser chamada de filosofia. Sustento minha afirmação com a autoridade  de Voltaire (Paris, 21 de novembro de 1694 — Paris, 30 de maio de 1778), que disse: Posso não concordar com o que tu dizes, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-lo.
Esta aceitação de diferentes correntes filosóficas é que nos permite navegar pela História da Filosofia. A filosofia é etimologicamente o “amor pelo saber” , mas sabemos que ela vai além disto. Para não fugir da proposta, nos ateremos ao que diz ser a filosofia a partir do texto “Disciplina e experiência” , escrito em forma de entrevista concedida por Giuseppe Ferraro a Walter Omar Kohan. A entrevista aconteceu na livraria Travessa do Rio de Janeiro.
Ferraro declara que possui experiência no Ensino de Filosofia, transitando por diferentes personagens a saber: Crianças, adolescentes, universitários e prisões.  Um público amplo que acreditamos proporcionar de fato uma reflexão sobre o que é filosofia. A criança semo medo de perguntar, posto que, o espírito pueril lhe dá a coragem necessária para querer saber porque o céu é azul. Os adolescentes com a sua mudança de personalidade que transita entre dois mundos, para quem o futuro é tão incerto quanto o do filósofo que caiu nas garras da intolerância. Os universitários com sua sede de descoberta acadêmica e por fim, o mais espinhoso acredito eu, os prisioneiros que mesmo tendo o seu corpo encarcerado descobre na filosofia a capacidade de voar livremente.
Não há como não lembrar do Mito da Caverna de Platão. A filosofia é que leva o prisioneiro a desvencilhar-se das correntes, e é a mesma filosofia que o leva a ser agredido pelos outros prisioneiros. Uma experiência desta magnitude provoca vontade de “tocar” o pensador.
Para Ferraro, a filosofia é antes de tudo uma disciplina e não uma matéria, e é isto que a faz tão urgente. Como disciplina ela deve provocar a “apropriação pessoal de um saber”. E o professor de filosofia deve atentar para as peculiaridades de cada público. A filosofia é para Ferraro uma necessidade pessoal e social, uma exigência.  Concordo com a definição e encontro a explicação para a apropriação da filosofia realizada pelo homem comum (que mencionei no início). O senso comum apropria-se da filosofia a tal ponto de falar “minha filosofia” porque tem necessidade, tem exigência, de ter filosofia. E aprendo com Ferraro que a “filosofia de cada um é o sentido que se dá, na própria existência, à vida” Ainda na esteira de Ferraro, aprendemos que a exigência maior da filosofia, permanece imutável desde a época em que Sócrates compareceu no templo de Delfos e leu a inscrição no pórtico que é até hoje o maior aforismo da filosofia. “gnōthi seauton”. Conhece te a ti mesmo. Quando lembramos que este aforismo é um alerta para termos cuidado com a “doxa” (opinião, verdade óbvia) de uma multidão, percebemos o processo de apropriação da filosofia, como sendo um escape do que pensa o outro ou os outros em relação a determinado assunto, e então mesmo sem aperceber o homem comum diz que “esta não é minha filosofia”.
Quando Ferraro coloca como ponto de sustentação o questionamento “Como posso conhecer a mim mesmo?” e explica que a relação da filosofia é restabelecer o olhar com quem nos quer bem, avança na definição simplista de que a filosofia é amiga do saber. Ela (a filosofia) é o vínculo com algo que é caro. E ao “ensinador de filosofia” cabe desvendar este processo que é uma via de mão dupla, pois quando se descobre o que é caro ao outro refletimos sobre o que é caro para nós mesmos.
	Aprendemos com Cerletti que o alicerce de qualquer proposta do ensinar filosofia é a pergunta “Que significa ensinar filosofia?”, inobstante as diversas considerações acerca da pergunta, o ensino de filosofia só encontra sua possibilidade na assunção radical de outra questão, “que é filosofia?”. Afinal, o que é filosofia? Este pensador menciona a impossibilidade de uma resposta única. Aristóteles ensina que a filosofia se pode dizer de maneiras várias. Percebe-se no meio acadêmico enquanto estudantes de graduação ao estudarmos a história da filosofia e suas correntes, e no senso comum das apropriações que ocorrem quando indivíduos tomam posse da filosofia a ponto de dizer e responder questões com “a minha filosofia é isto ou aquilo” ou ainda “isto não faz parte da minha filosofia de vida”.
	O vernáculo possui a metonímia que consiste em uma troca lógica do autor pela obra. Quando dizemos que gostamos de ler Kant, ou de ler Heidegger, estamos de certa forma, além do emprego da figura de linguagem, afirmando que várias são as filosofias. A etimologia da palavra filosofia trás em seu bojo a característica de amplitude e não de restrição. Ou seja, jamais encontraremos um “saber determinado” em filosofia. Quando o senso comum afirma que possui uma filosofia particular, está demonstrando em apertada síntese a sua vontade de manter um relacionar-se com o filosofar. Ao filosofar, uma pergunta trás em sua resposta de forma inevitável outra pergunta. Tal qual aquela brincadeira pueril do “porquê?” que irrita tanto os adultos. Consisteem perguntar o porquê a toda resposta que recebe num processo ad infinitum.
	Isto acontece com a filosofia somente, outras cátedras não possuem esta singularidade. Filosofia é especial. Percebo a folha branca a minha frente e busco uma resposta. Sei que não há uma só maneira de ensinar filosofia, e destas inúmeras maneiras existentes ainda não sei qual é a melhor, a mais consagrada. Sei que são muitas e muitas... E me dou conta que Cerletti afirmou logo no inicio do texto “A formação docente no ensino de filosofia” que o sustentáculo, o alicerce de qualquer proposta do ensino de filosofia é o interrogar-se sobre “Que significa ensinar filosofia?”
A partir desta interrogação é que vamos encontrando os lugares delimitados dos que ensinam filosofia e do que aprendem filosofia. Nos damos conta que ora estamos na condição de mestres e ora na condição de discípulos, e estes lugares não permitem encontrar uma fronteira delimitadora dos papéis. O professor aprende com o aluno. Se assim não fosse, o conhecimento filosófico seria uma matéria qualquer, em que o professor é um mero transmissor de conteúdos. Lembremos que a comunicação envolve: emissor, meio de transmissão, mensagem e receptor. E o ofício de ensinar filosofia envolve a análise de outras áreas do conhecimento humano.
É esta vontade de querer aprender até a última instância, que nos mostra que a filosofia não um “saber determinado”, ou ainda, nas palavras de Cerletti “um segmento de conteúdos identificáveis e manipuláveis”. Quando concordamos com Cerletti ao afirmar a filosofia é mais que um saber, é antes uma relação com o saber, vamos percebendo que este relacionamento pode ser salutar ou nocivo. Salutar quando nos propomos a ensinar a filosofia de maneira que o nosso aprendiz não seja somente um receptáculo para as idéias. O aprendiz deve ser antes de tudo levado a se reconhecer como sujeito co-construtor deste relacionamento com o saber. A construção de um relacionamento (saber filosófico) pressupõe vários lados e leva em conta a mensagem e o meio. Esta relação de singularidade realizada pelo sujeito que filosofa, que procura atingir o saber, perguntando, respondendo aquilo que lhe significativo é que torna a filosofia especial, em comparação com outras disciplinas.
Não há como não aventurar pelos caminhos da didática (parte da pedagogia que por objeto o ensino), quando nos propomos a refletir sobre o ensino de filosofia. Há inclusive o ramo conhecido da Filosofia da Educação que embora incipiente nestes questionamentos, está construindo seu caminho aos poucos. Cerletti alerta, contudo, que o ensino de filosofia deve ocorrer com o envolvimento filosófico a não apenas didático. Entendo que a didática deve sim fazer parte importante do ensino de filosofia, mas se não vier acompanhada do filosofar, ela é inútil. “Mas justamente estas características peculiares fazem da filosofia e de seu ensino um mundo apaixonante.” (Cerletti) Encontramos assim uma de muitas respostas.
P: Como ensinar filosofia?
R: De forma didática e apaixonante.
Se o filosofar envolve o querer de cada um, devemos nos perguntar como provocar esta vontade no público. Quando lembramos a experiência de Ferraro, vemos que os públicos são vários e cada um exige uma maneira singular de cria esta relação com o saber. O leitor mais atento, pode levantar uma série de mazelas ligadas ao ensino, desde a superlotação até a falta material. Do descaso do governo ao número reduzido de aulas. Para este leitor alerto para o fato de que embora nosso curso seja voltado para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio, devemos ultrapassar esta fronteira. O professor de filosofia deve realizar um convite aos seus alunos para filosofar juntos. Cerletti alerta para o fato de que “Ensinar filosofia se superpõe a ensinar a filosofar porque o característico dela é a atividade de seu exercício.” Para ele o exercício de ensinar filosofianão pode constituir se em recortes de saber e conseqüente transmissão aos alunos, o primordial é a construção de um espaço compartilhado que possibilite o filosofar em conjunto. 
P: Como ensinar filosofia?
R: Criando um espaço de compartilhamento em que os atores sejam pensadores juntos.
A aula de filosofia deve ser um encontro a três: O mestre, o aluno e a filosofia. E cada momento é único no tempo. Podemos parodiar Heráclito de Éfeso: A aula não é a mesma, o aluno não é o mesmo e nem o professor. Para Cerletti, cada circunstância é única, portanto irrepetível, as formas são muitas, o que significa é como este vínculo se atualizará no cotidiano.
P: Como ensinar filosofia?
R: “Não há, pois, uma única forma de ensinar bem a filosofia.” (Cerletti)
Qual a distinção feita por A. Cerletti entre a formação de um docente que possui “ferramentas” daquela que possui os “supostos que acompanham as ferramentas?
A singularidade da filosofia reside desde a sua origem grega, remontando especificamente a Sócrates, em reconhecer a sua ignorância. Não falamos aqui da ignorância do senso comum, mas da ignorância filosófica. Uma mente desavisada poderia perguntar se tem diferença. Ao que respondemos que sim. E por ser positiva a nossa resposta, então é dever explicar. A ignorância lexical pura é segundo Houaiss: “Estado de quem não está a par da existência ou da ocorrência de algo” ou o “estado de quem não tem conhecimento, cultura, por falta de estudo, experiência ou prática” e ainda “atitude grosseira, grosseria, incivilidade”. Lado outro, a ignorância filosófica, é segundo Abbagnano: “Imperfeição do conhecimento, mais precisamente a deficiência, inseparável do saber humano e devida às limitações do homem.” No sentido filosófico Kant (1724-1804) divide a ignorância entre objetiva e subjetiva. Enquanto a primeira entra em acordo com a definição de Houaiss, por ser deficiência de conhecimento de fato, a segunda entra em acordo com Abbagnano, é a ignorância douta, também chamada de científica, ou seja, de alguém que conhece os limites do conhecimento.
Ao lermos o texto “A formação docente no Ensino de Filosofia” aprendemos que ao professor de filosofia resta o lugar mais difícil de transmitir, provocar e convidar. Transmite sabres, provoca o pensamento e convida a pensar. Ocorre o que Cerletti denomina de “alteração subjetiva ante o saber”, que se origina do “Conhece-te a ti mesmo”. O professor que possui os supostos das ferramentas será capaz de adaptar-se às diferentes circunstâncias, sejam elas pedagógicas, sociais, culturais ou de gênero. Ele (professor) está em condições de resolver os problemas do ensino de filosofia nas dificuldades. Possuir somente as “ferramentas” é situar-se na profundidade da superfície. Mas as supostos das ferramentas implicam no uso crítico de eleições de métodos de ensino (Qual o melhor ?), de recursos apropriados, isto em acordo com o compromisso do ensinar a filosofar e com a educação. Em momento algum desmerecemos professores de outras cátedras, mas, reafirmamos o compromisso do professor de filosofia. “Esta redescoberta de si atualiza o vínculo de cada professor com a filosofia e será, em última instância, o pressuposto ativo de suas aulas.” (Cerletti)
Como ensinar os jovens a filosofar?
A preocupação com a transmissibilidade da filosofia se perde no tempo juntamente com a filosofia. Sabemos que desde o berço, houve a preocupação em como transmitir para a geração seguinte o pensar filosófico. Dando um salto no tempo, temos em Kant (1724-1804) e Heggel (1770-1831) dois sistematizadores da filosofia. Lembramos que Kant dizia que devemos ensinar a filosofar, já Heggel, como professor do Ensino Médio que foi, defende o ensino da filosofia. E encontramos Nieztche (1844-1900) que se opôs ao ensino enciclopédico da filosofia. A menção a tais pensadores, foi para sustentar a afirmação de que o ensino de filosofia é questão sempre presente no pensar filosófico ao longo do tempo. Com a ameaça de retirada do ensino de filosofia do currículo francês no século XX, encontramos um grupo de professores capitaneado por Derrida (1930-2004) que levantou a bandeira da necessidade de ensinar filosofia. Das reuniões do grupo, resultou um encontro no ano de 1984, nascendo a idéia de “poder de começo” atribuída a Stéphane Douailler. Para cada um que se propõe a pensar por si mesmo (ao se colocar na filosofia) há um nascimento, um novo começo. O aprendiz é iniciado, mas precisa dar continuidade. Ele (o aprendiz) deve fazer seu próprio começo pensando por si mesmo.
Deste processo de “ensinabilidade” da filosofia (para conservar o neologismo do texto) é que após fazer uma série de perguntas, Fernando Savater (filósofo espanhol nascido em 1947) conclui que é possível ensinar a filosofia. Precisamos entender antes que Savater, fala em três níveis de compreensão: Informação, conhecimento e sabedoria. A ciência situa-se nos níveis da informação e do conhecimento. Já a filosofia situa-se nos níveis do conhecimento e da sabedoria. Na esteira de Savater é que respondemos que o ensino de filosofia aos jovens deve acontecer através de grandes temas, tais como: a morte, a liberdade, o tempo, a beleza, a convivência.
E mais. Tais temas devem ser tratados como problemas filosóficos que se colocam a nossa frente no cotidiano. Para este pensador, os jovens irão pensar (convidados a pensar) nestes problemas que a humanidade enfrenta em diferentes fases da vida e ao mesmo tempo entrar em contato com diferentes filósofos, que nas épocas distintas, enfrentaram estes mesmos temas. Se não há o encontro de uma resposta definitiva, há o equacionamento e compreensão melhor destes temas.
Segundo Silvio Galo (2013): “O ensino de filosofia não pode ser abarcado por uma didática geral, não pode ser equacionado unicamente como uma questão pedagógica porque há algo de específico na filosofia (p.212)” O que é esse algo específico da filosofia?
A característica singular da filosofia é a sua relação com o conceito. A filosofia cria conceitos. Para Galo, o conceito é uma “forma de pensamento”, cuja origem encontra-se na Grécia antiga, e é criado a partir de um problema ou um conjunto de problemas. 
A noção de conceito nos remete para duas questões: a primeira é a noção de conceito enquanto “essência das coisas” e a segunda é a noção de conceito enquanto “signo”. A primeira noção é inerente ao período clássico da filosofia. A razão equacionando o problema. Não é abstrato, nem imanente e tampouco transcedente, posto que parte dos problemas cotidianos. Esta partida de problemas é que faz da filosofia o que Galo cita como “obra aberta”. Conceito e razão em grego são designados por um só termo, logos, por isto a filosofia não encerra a solução para um problema, ela se vê sempre diante de um novo questionamento, numa procura infinita. Tal qual aquela brincadeira irritante das crianças em sempre perguntar “Porque?” não importa qual a sua resposta. Para Galo, esta persistência do problema, constitui-se na graça e na desgraça da filosofia, transformando-a num atividade perpétua, oxalá infinita, a criar conceitos com a finalidade de iluminar problemas que aparecem e reaparecem ao longo da vida.
Quando nos damos conta de que o específico da filosofia, o que Galo coloca entre parênteses como identidade, é a criação de conceitos, e que esses conceitos dizem a respeito a problemas, o ensino e a prática do ensino de filosofia, deve obrigatoriamente passar pelo conceito e pelo problema. Para Kant (1724-1804), o conceito não cria a realidade, mas é a ordem necessária, a estrutura da única realidade empírica que o homem pode indagar e conhecer. 
Enquanto professor de filosofia desce de seu ilusório pedestal de filósofo e torna-se não filósofo, quando em contato com os alunos, e juntos redescobrem o ato filosófico.
Em outras palavras, Galo diz que, o professor de filosofia não deve se apresentar como “aquele que sabe”. Isto visa possibilitar o jogo filosófico. A aula de filosofia deve ser uma “oficina de conceitos”.
BibliografiaAbbagnano, N. (2000). Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes.
Cerletti, A. A. (2013). A formação docente no ensino de filosofia. In: M. Carvalho, & G. Cornelli, Filosofia e formação (Vol. 1, p. 220). Cuiabá, Mato Grosso, Brasil: Central de texto.
Gallo, S. (2013). O ensino de filosofia e o pensamento conceitual. In: M. Carvalho, & G. Cornelli, Filosofia e formação (Vol. 1, p. 220). Cuiabá, Mato Grosso, Brasil: Central de texto.
Kohan, W. O. (2013). Disciplina e experiência: Entrevista com Giuseppe Ferraro. In: M. Carvalho, & G. Cornelli, Filosofia e Formação (Vol. 1, p. 220). Cuiabá: Central de Texto.

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