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DIREITOS DOS ANIMAIS

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DIREITOS DOS ANIMAIS
Apresentação 
 O Direito, não obstante, ocupa uma situação que divide opiniões, quanto no senso comum, quando na doutrina e jurisprudência acerca da aplicação aos casos envolvendo animais ou normas que lhes assegura.
 Os animais como sujeitos de direitos nas relações jurídicas, não é de causar tamanho espanto, aliás, há tempos não tão remotos, era comum o direito sucessório assegurado aos animais como parte legítima em um processo de partilha de bens.
 Neste breve esboço, será tratado de forma objetiva a luz da doutrina majoritária, da melhor jurisprudência e na observância das leis que regulam a matéria. 
Declaração Universal dos Direitos Dos Animais.
 Há 40 anos, surgiu através de movimento ativista de defesa dos animais, a declaração universal dos direitos dos animais na tentativa de formar um diploma legal de natureza internacional e orientativo para constituição de normas legais dos países da Europa e da América, na tentativa de criar parâmetros jurídicos.
 A declaração é um diploma legal, publicado pela Organização das Nações Unidas (UNESCO), e são signatários os países que compõe esse grupo, como por exemplo o Brasil. O desrespeito a esse diploma é passível de sanções internacionais.
 A Declaração é basicamente composta por um preambulo e 14 artigos, que de forma geral, em seu rol de artigos, apresenta princípios norteadores do direito, como o princípio da igualdade em seu primeiro artigo, in verbis:
Declaração Universal dos Direitos dos Animais – Unesco – ONU
 (Bruxelas – Bélgica, 27 de janeiro de 1978)
Preâmbulo:
Considerando que todo o animal possui direitos;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo desses direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza; 
Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo; 
Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros;
 Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante;
Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais, 
Proclama-se o seguinte: 
ARTIGO 1: Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência.
 Sequencialmente, o Diploma apresenta direitos, que são inexoráveis a natureza humana e com de fato, aos animais.
 O direito ao respeito, consideração, a cura e a proteção do homem, desta forma, estão instituídos princípios básicos para existência da vida, não só dos animais, mas de qualquer ser vivo que habita no planeta.
A legislação brasileira em relação ao direito dos animais.
 A Constituição Federal de 1998, designou, para aqueles que não podem se manifestar juridicamente, o Ministério Pública, para atuar em defesa dos direitos disciplinado no Título VI – Do Meio Ambiente, que versa sobre, também, defesa do animal de não ser submetido tratamento cruel.
 Nota-se a preocupação do legislador constituinte em estabelecer parâmetros para meio de proteção dos animais, no entanto, a norma constitucional é de aplicabilidade contida, ou seja, carece de lei que a discipline e crie sanções civis/penais para garantir a não infringência de tal preceito constitucional.
 No ordenamento jurídico brasileiro, os animais, para efeitos civis são considerados como propriedade, semoventes, do qual o proprietário ou possuidor lhe é conferida as disposições do Código Civil acerca da propriedade, como uso, gozo, fruição, entre outros.
 O que se busca em muitos casos é a defesa da propriedade, e não da vida do animal, como por exemplo um cachorro que é morto culposamente ou dolosamente pelo vizinho do proprietário, neste caso o dono do animal vai à justiça em busca da reparação cível, a uma indenização por dano material e moral.
 Nesse contexto fático, assim decide parcialmente pedido de indenização ao requerente, o Tribunal de Justiça do Estado de Paraná, vejamos:
Indenização. Eletroplessao. Morte de animal de raça em cerca eletrificada. Concorrência de culpas evidenciada pela vigilância descurada do animal, a par da utilização irregular de corrente elétrica em cerca predisposta a tudo e a todos. Provimento parcial do recurso, a fim de ser a pretensão reparatória julgada parcialmente procedente, impondo-se a metade da indenização pleiteada, suportadas as verbas de sucumbência, igualitariamente, de conformidade com as disposições contidas no artigo 21 do Código de Processo Civil.
(TJ-PR - AC: 305097 PR Apelação Cível - 0030509-7, Relator: Darcy Nasser de Melo, Data de Julgamento: 22/05/1996, 2ª Câmara Cível)
 A jurisprudência dominante, estabelece em seus julgados a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas relações jurídicas entre solicitante de serviço em clínica veterinária, como se verifica no Acórdão prolatado pela 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro- processo: 0012619-70.2011.8.19.0066- manteve condenação imposta a uma clínica veterinária ao pagamento de indenização no valor de R$10.000,00, a título de reparação por dano moral decorrente da morte de animal.
 No caso em foco, a dona do cachorro levou seu animal de estimação, de 14 anos de idade, ao estabelecimento réu para tomar banho. No entanto, sem os necessários cuidados o animal logrou fugir da clínica, foi atropelado e veio a morrer horas depois.
 Com efeito, na hipótese restou configurada evidente violação às normas de defesa e proteção estabelecidas pelo Código de Defesa do Consumidor. A clínica que explora atividade veterinária, para os fins do aludido Código, deve ser considerada fornecedora de serviços (art. 3º., caput e § 2º., do CDC) e a dona do animal consumidora dos seus serviços. O contrato celebrado para o banho do animal caracteriza uma autêntica relação jurídica de consumo.
 Importante mencionar, no que tange ao uso de animais nas relações de emprego, diante de vários julgados, salienta-se se o uso de animais no exercício da prestação de serviços gera atividade insalubre, adicional de periculosidade ou se concorre em culpa o empregador por morte de empregado em serviço decorrente de acidente com animal, como por exemplo na profissão de vaqueiro.
 O Direito é campo que habilita diversas possibilidades de composição de lide, mencionamos acima o exemplo da profissão de vaqueiro, neste caso, qual seria a competência e disposições a serem aplicadas? É o que se segue no julgado abaixo:
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DANOS MATERIAIS E MORAIS - ACIDENTE DO TRABALHO - LIDA COM ANIMAL - CULPA EXCLUSIVA DO EMPREGADO - RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. - Na ação de indenização, fundada em responsabilidade civil comum, promovida pelos sucessores da vítima que veio a falecer em decorrência de acidente de trabalho, cumpre a estes comprovar dolo ou culpa do empregador. - Sinalizando fortemente a prova no sentido de que a culpa do acidente se deu em virtude do comportamento imprudente do empregado que, além de desobedecer às orientações ministradas pelo patrão, contrariou, inadvertidamente, prática já rotineira de seu trabalho, só a ele pode ser atribuída a produção do evento danoso, o que exclui a responsabilidade do patrão. - "A profissão de vaqueiro, embora seja rude, exige certa prática que acaba denotando especialização. Em razão da própria rudeza do serviço, o trabalhador, neste caso, toma, por ele mesmo, uma série de cuidados exigidos para sua própria proteção. Se já era, em conseqüência, elemento versado no mister, e nada havia a prejudicar a realização de seu trabalho, qualquer acidente ocorrido presume-se como fruto de seu descuido e não do patrão". - Recurso provido. V. v.: Ação de indenização por danos materiais e morais. Acidente de trabalho com morte. Competência da Justiça Comum. Teoria da "Supressio". Pressupostos de aplicação. Culpa do empregador. Culpa concorrente da vítima. Valor fixado adequado para o caso. Manutenção.- Não obstante ter ocorrido o falecimento da vítima enquanto trabalhava, a ação de indenização proposta pela esposa e filho do falecido funda-se em obrigação decorrente de ato ilícito, do Direito Comum, de modo que a competência para o julgamento é da Justiça Comum. - A competência para o processamento e julgamento das ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de relação do trabalho, ajuizados contra o empregador, é da Justiça Comum. - A teoria da 'supressio', que faz incidir
(TJ-MG 200000042183990001 MG 2.0000.00.421839-9/000(1), Relator: PEDRO BERNARDES, Data de Julgamento: 14/09/2004, Data de Publicação: 25/09/2004)
Dentre outras possibilidades passiveis de aplicação de campos distintos do direito para soluções de conflites em casos envolvendo animais e o que se busca com a concretização do processo, o amparo do bem semovente ou a proteção do direito do animal.
A Proteção dos animais de Acordo com o Projeto Reforma do Código Penal.
 Países mais avançados em direitos dos animais, situados na Europa, com acontecimentos inusitados, como a lei de maus tratos dos animais que chegou a ser aplicada por analogia as crianças que sofriam maus tratos, por não haver lei própria para protegê-las.
 A comissão de reforma do Código Penal aprovou proposta que aumenta penas para crimes contra o meio ambiente, entre eles os maus-tratos a animais. Nessa linha, criminalizou o abandono e definiu que os maus-tratos podem render prisão de até seis anos, caso a conduta resulte na morte do animal. O tema foi o que mais mobilizou a população a contribuir com os juristas por meio de sugestões através dos canais oferecidos pelo Senado.
 Para o presidente da comissão, ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, a incorporação da legislação ambiental no Código Penal, que será o centro do sistema penal brasileiro, representa um grande avanço. Está se dando aos crimes ambientais a dignidade penal que eles merecem.
O ministro Dipp avaliou que o aumento das penas é necessário e que a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/98) acabou sendo aperfeiçoada pela comissão. O aumento de pena não é suficiente para atemorizar quem pratica um crime ambiental, mas a lei ambiental estava defasada neste ponto.
 O crime de maus-tratos teve especial atenção da comissão. Foi definido como praticar ato de abuso, maus-tratos a animais domésticos, domesticados ou silvestres, nativos ou exóticos. A pena, que é hoje de três meses a um ano, passa a ser de prisão de um a quatro anos e multa.
 Nesse tipo penal também poderão incorrer as pessoas que realizarem experiências dolorosas ou cruéis em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
 A proposta da comissão ainda prevê hipóteses graves de maus-tratos a animais, como as que acontecem em rinhas de aves e de cachorros. No caso de ocorrência de lesão grave permanente ou mutilação do animal, a pena será aumentada de um sexto a um terço. Se os maus-tratos resultam na morte do animal, a pena é aumentada da metade podendo ir de três a seis anos.
Conclusão.
 Com o avanço do interesse internacional na proteção dos animais e na necessidade do ordenamento jurídico nacional se incorporar as anseios e conflitos sócias na busca de consolidação de entendimentos que versa sobre este tema pouco tratado. 
 De um lado estar o animal como propriedade, doutro, um ser dotado de direitos que merece amparo legal normativo com representatividade por órgãos e entidades para que atentem judicialmente os direitos e princípios que lhes é invocado pelo de simples fato de existirem e compartilharem deste habitat.

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