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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTEGRADO DE CAMPO MOURÃO/PARANÁ CURSO DE DIREITO MYLENA DE ALMEIDA DOMINGOS CRIME DE MAUS-TRATOS CONTRA ANIMAIS: UMA ANÁLISE DOS DIREITOS DOS ANIMAIS E A RESPONSABILIZAÇÃO HUMANA CAMPO MOURÃO/PARANÁ 2020 MYLENA DE ALMEIDA DOMINGOS CRIME DE MAUS-TRATOS CONTRA ANIMAIS: UMA ANÁLISE DOS DIREITOS DOS ANIMAIS E DA RESPONSABILIZAÇÃO HUMANA Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Direito do Centro Universitário Integrado de Campo Mourão-PR, a ser utilizado como diretriz para a manufatura do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Orientadora: prof.ª M ͤ Joanna Cardoso Gonçales de Vicente CAMPO MOURÃO/PARANÁ 2020 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 3 2. PROBLEMATIZAÇÃO/ QUESTÕES A INVESTIGAR ............................................... 4 3. HIPÓTESES ........................................................................................................................ 4 4. OBJETIVOS ................................................................................................................ ........ 4 4.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 4 4.2 Objetivos Específicos .............................................................................................. 5 5. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 5 6. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 8 7. SUMÁRIO PROVISÓRIO DO ARTIGO ...................................................................... 11 8. METODOLOGIA DA PESQUISA .................................................................................. 12 9. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ................................................................................ 13 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 15 3 1. INTRODUÇÃO Até recentemente os animais não eram dotados de importância para o homem, acreditando estes que aqueles não possuíam direito à liberdade, a integridade física e à vida. Os animais não são capazes de se comunicarem de maneira compreensível e racional com os seres humanos a fim de exprimir sentimentos e reivindicar seus direitos, por essa razão é fundamental que alguém os represente em sua defesa. Todos os dias são presenciadas ou vem a conhecimento da sociedade casos de maus tratos contra os animais. Situações extremas de animais abandonados em centros urbanos passando por necessidades e submetidos a abusos e violência. Tornam-se vítimas de atropelamento e crueldade, bem como, ao mesmo tempo, representam um sério problema de saúde pública, tendo em vista que podem ser transmissores de zoonoses como raiva e leishmaniose visceral, caracterizando-se relevante questão ambiental. Diante deste cenário, o direito ambiental prevê, com o advento da Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), a tipificação de crime ambiental, com possibilidade de sanções penais e administrativas, a prática condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, bem como aos atos de maus tratos contra todos os tipos de animais, sejam eles silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Há de se considerar ainda que um recente projeto de lei aprovado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados reconheceu os animais como seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional e passíveis de sofrimento, sendo este um dos maiores avanços frente a defesa dos direitos dos animais. Verifica-se, no entanto, que apesar dos avanços apreciados pelo Direito Brasileiro com a criação da Lei 9.605/1998, juntamente com o recente projeto de lei aprovado pelo Senado Federal, como supramencionado, as suas disposições não estão sendo aplicadas em sua totalidade, considerando que não há como comparar a reparação ou recuperação de um ato de maus tratos com a inocorrência do dano pela ação preventiva. Nota-se a falta de interesse e investimento pelo poder público brasileiro em políticas de proteção aos animais. Destarte, espera-se que o presente estudo possa contribuir para enfatizar a igualdade e os deveres de proteção da sociedade em prol dos animais, sendo o próprio ser humano o causador do sofrimento destes seres vivos, a serem responsabilizados de forma justa pela conduta de atos tão odiosos. 4 2. PROBLEMATIZAÇÃO/ QUESTÕES A INVESTIGAR Na presente pesquisa serão observadas respostas para algumas questões essenciais a serem investigadas, quais sejam: Como é resguardado pelo ordenamento jurídico o direito e a proteção aos animais? Essa proteção jurídica é suficientemente efetiva para atenuar ocorrência de maus-tratos contra os animais? O projeto de lei aprovado, que estabelece os animais como seres sencientes, pode contribuir para a diminuição dos casos de maus-tratos? Dentre as formas de causar sofrimento aos animais, o abandono de animais domésticos em centros urbanos pode ser considerado maus-tratos? Por qual motivo o judiciário encontra dificuldades para aplicar penas para os agentes que comentem maus tratos? Por que a proteção dos animais, além de um interesse da sociedade, também é de interesse dos órgãos públicos? 3. HIPÓTESES O amparo jurídico referente a proteção dos animais não é eficaz em sua aplicação, uma vez que a lei é relaxada em relação aos casos de maus tratos aos animais, supondo que tanto o poder público quanto o judiciário consideram o crime de maus tratos um crime de menor potencial ofensivo, sendo mediocrizado, inclusive, pela sociedade. Ao considerar os animais seres sencientes, o Projeto de Lei contribuiu de forma positiva para a ocorrência de diminuição destes casos, haja vista os reflexos jurídicos resultantes dessa definição, considerando a atribuição de direitos despersonificados aos animais. Com essa recente decisão, o abandono de animais em centros urbanos passou a ser tratado como maus tratos, tendo em vista a nova atribuição de seres passíveis de sofrimento, de modo que nas ruas, além de passarem por necessidades e serem expostos a possíveis atropelamentos, podem contrair doenças, bem como transmitir doenças, tornando-se uma questão ambiental, problemas estes a serem sanados tanto pela sociedade, quanto pelos órgãos públicos. 4. OBJETIVOS 4.1 Objetivo Geral 5 Analisar os maus tratos sofridos por animais, principalmente aos animais domésticos, com ênfase no estudo de seus direitos e a responsabilização humana, tanto para a sociedade quanto para o poder público. 4.2 Objetivos Específicos • Verificar se os direitos e a proteção dos animais, resguardados pelo ordenamento jurídico brasileiro, são suficientemente efetivos para atenuar a ocorrência de maus- tratos. • Demonstrar como o Projeto de Lei aprovado pelo Senado e pela Câmara dos Deputados, que passou a considerar os animais como seres sencientes, pode contribuir para a diminuição dos casos de maus-tratos. • Explanar o conceito e práticas de maus tratos aos animais, bem como a definição de animais domésticos. • Verificar como o abandono dos animais podem causar impacto na saúde pública. • Analisar como o ser humano pode ser responsabilizado diante da situação de violação dos direitos dos animais. • Examinar o papel do Estado diante das situações de crime de maus tratos aos animais. 5. JUSTIFICATIVA O presente estudo justifica-se no sentido de demonstrar o quanto é necessária a aplicação adequada da legislação em face da conduta dos atos de maus tratos, a fim de garantir a proteção aos animais,sendo esta fundamental e urgente. O ato de maus tratos é conceituado por Helita Barreira Custódio como sendo: A crueldade contra animais é toda ação ou omissão, dolosa ou culposa (ato ilícito), em locais públicos ou privados, mediante matança cruel pela caça abusiva, por desmatamentos ou incêndios criminosos, por poluição ambiental, mediante dolorosas experiências diversas (didáticas, científicas, laboratoriais, genéticas, mecânicas, tecnológicas, dentre outras), amargurantes práticas diversas (econômicas, sociais, populares, esportivas como tiro ao voo, tiro ao alvo, de trabalhos excessivos ou forçados além dos limites normais, de prisões, cativeiros ou transportes em condições desumanas, de abandono em condições enfermas, mutiladas, sedentas, famintas, cegas ou extenuantes, de espetáculos violentos como lutas entre animais até a exaustão ou morte, touradas, farra de boi, ou similares), abates atrozes, castigos violentos e tiranos, adestramentos por meios e instrumentos torturantes para fins domésticos, agrícolas ou para 6 exposições, ou quaisquer outras condutas impiedosas resultantes em maus tratos contra animais vivos, submetidos a injustificáveis e inadmissíveis angústias, dores, torturas, dentre outros atrozes sofrimentos causadores de danosas lesões corporais, de invalidez, de excessiva fadiga ou de exaustão até a morte desumana da indefesa vítima animal. (CUSTÓDIO, 1997, apud DIAS, 2000, pp. 156 -157). Em se tratando de animais domésticos, cumpre destacar que tanto o abandono, como manter o animal aprisionado por correntes, não dar abrigo para a proteção contra eventos como chuva, frio ou sol, não dar assistência médica devida, negar alimentação ao animal, e tantos outros atos, também são considerados crimes, uma vez que tais condutas levam ao sofrimento do animal. A Lei 9.065/1998 (Lei de crimes Ambientais) adveio com a finalidade de garantir amparo aos animais, sendo de responsabilidade do homem, fiscalizar e assegurar as medidas tomadas pelo poder público para a justa punição do agente responsável pela prática de maus tratos. Nesse sentido, cabe ressaltar a relação havida entre os direitos dos animais aos direitos do indivíduo, conforme assevera Edna Cardoso Dias, em sua obra “A tutela jurídica dos animais”: [... ] se cotejarmos os direitos de uma pessoa humana com os de um animal veremos que ambos temos direito à defesa de seus direitos essenciais, tais como o direito à vida, ao livre desenvolvimento de sua espécie, da integridade de seu organismo e de seu corpo, bem como o direito ao não sofrimento. (DIAS, 2000, p.37). Nesse ínterim, aduz Tiago Fensterseifer, no título “Direitos Fundamentais e proteção do ambiente”: O defensor dos direitos dos animais ou da vida em termos gerais é antes de qualquer coisa também um defensor dos direitos humanos, já que as consagrações, respectivas, dos direitos humanos e dos direitos dos animais tratam-se de etapas evolutivas cumulativas de um mesmo caminhar humano rumo a um horizonte moral e cultural em permanente construção. (FENSTERSEIFER, 2008, p.40). Portanto, ao defender o direito dos animais, também se está fazendo justiça em nome de todos aqueles que não podem o fazer por si, uma espécie ameaçada em virtude do fato de não poderem se proteger por conta própria. Deste modo, a defesa destes seres vivos trata-se tão somente de dar-lhes uma vida digna, uma vez que é o mínimo a se fazer em suas curtas vidas pelos atos tão cruéis por eles suportados. Marcelo Robis Francisco Nassaro, Capitão da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, realizou um estudou que teve como finalidade verificar que o sujeito que comete atos de maus 7 tratos contra animais ou os presencia quando ainda na infância é mais predisposto a praticar crimes violentos, conforme disposto: As pesquisas científicas, inclusive as realizadas no Brasil, apontaram maiores índices de agressividade em pessoas que cometeram crimes de maus tratos aos animais, indicando maior propensão à violência nessas pessoas do que em outras. (NASSARO, 2012, p. 47). Constata-se que um indivíduo que não teve contato ou não praticou qualquer tipo de maus tratos aos animais é menos propenso a cometer atos cruéis contra os próprios animais e até mesmo contra o ser humano, sendo, desse modo, de interesse público que tais atos sejam contidos, a fim de evitar uma sociedade com pessoas dotadas de personalidades agressivas. Salienta-se novamente que é de interesse público evitar o abandono de animais, tendo em vista que esta pode resultar em maiores gastos para a saúde pública, sendo cabível aduzir: [...] uma superpopulação de animais domésticos abandonados resulta em aumento na transmissão de zoonoses, poluição do ambiente (devido à falta de cuidados que o animal abandonado recebe) e até mesmo comportamentos agressivos por par te do animal que tenta se defender do ambiente que se encontra. (LIMA E LUNA, 2012, p. 35). Necessário se faz mencionar o texto legal previsto pelo artigo 225, § 1º, inciso VII, da Constituição Federal, in verbis: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: [...] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. Percebe-se o quão é importante proteger os animais da crueldade humana que até mesmo a Carta Magna incumbiu o Poder Público de tal tarefa, sendo de sua responsabilidade ampará- los em suas necessidades básicas e preservá-los de maus tratos, a fim de não ferir os preceitos constitucionais. Ressalta-se ainda que fora aprovado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PLC 27/2018) que dispõe acerca dos animais não serem mais considerados objetos, passando a ter natureza jurídica sui generis, dotados de direitos despersonificados, sendo reconhecidos como seres sencientes, ou seja, possuem natureza biológica e emocional, bem como são passíveis de sofrimento. Tal decisão, por ser recente, será de imensa relevância para a diminuição de crimes de maus tratos, uma vez que a punição poderá ser mais severa em relação a tais práticas, 8 considerando a nova definição adotada pelo Sistema Jurídico Brasileiro, bem como conscientizar a população de que os animais também possuem direitos que devem ser respeitados dignamente. Isto posto, cumpre aduzir ser a presente pesquisa relevante, tendo em vista a necessidade de compreender o motivo da ineficaz aplicação da legislação, uma vez que os indivíduos continuam impunes pela prática de crime de maus tratos, bem como razões para a existência do aumento de casos de violência animal a cada dia. O estudo terá escopo ainda a respeito da criação de políticas públicas referente a conscientização da proteção dos animais domésticos no Brasil. 6. REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico do presente projeto se deu através da leitura de diversos autores, dentre as quais se apresenta no decorrer deste tópico. Inicialmente, com o intuito de que seja tratado de maneira coerente acerca dos direitos garantidos aos animais, bem como sobre a responsabilização humana, cumpre destacar a definição de fauna, em que Gina Copola elucida a seguir: A fauna silvestre é composta por animais que não guardam qualquer relação com o homem, e que também não podem, em regra, viver no habitat humano; a fauna doméstica é aquela mais próxima do homem, e que em geral depende do homem para a sobrevivência, e, dessa forma, adapta-se facilmente ao habitat humano; a fauna domesticada é composta por animaisque apesar de não terem nascido para viver no mesmo habitat que o homem, pode adaptar- se a tal meio, dependendo da ação do homem; a fauna nativa se compõe dos animais pertencentes ao ecossistema brasileiro; e a fauna exótica, dos pertencentes a outros ecossistemas. (COPOLA, 2008, p. 76-78). Observa-se que a CF/88, em seu art. 23, inciso VII, dispõe sobre a proteção da fauna de forma ampla, prevendo ainda que a sua preservação é de responsabilidade da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como, estipula ser dever do Poder público e de toda a coletividade a sua defesa, conforme preceitua o art. 225, § 1º, inciso VII, do mesmo dispositivo legal. Deste modo, aduz Fiorillo: A Constituição Federal de 1988, no seu art. 225, §1°, VII, ao aludir proteção a fauna, não delimitou o seu conceito, possibilitando ao legislador infraconstitucional o preenchimento dessa lacuna. Segundo este dispositivo, constitui tarefa do Poder Público “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a 9 extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. (FIORILLO, 2013). Com isso, cabe asseverar que a Lei de proteção aos animais teve início no século XX, no Reino Unido, momento em que estava se originando os direitos assegurados aos animais, que por conseguinte, deu surgimento no ano de 1978 a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, que fora publicado anos depois. Tal declaração não possui autonomia para punir os atos de maus tratos, mas tem a função de conscientizar o ser humano acerca do respeito aos animais. Nesse sentido, aduz Alves e Celia Muraro: Considerando que todo o animal possui direitos, considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza, Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies, Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há perigo de continuar a perpetrar outros, Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante, Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais. (MURARO; ALVES, 2014, p. 3). Em 1998, adveio a publicação da Lei 9.605, impondo a conduta de maus tratos aos animais como crime ambiental que acarreta em punições administrativas e penais, como prevê o art. 32, caput e § 1º da referida lei. Destaca-se de modo especial que a supracitada lei garante proteção também aos animais domésticos, in verbis: Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. Assim, entende-se por maus tratos: Entende-se por maus tratos o ato de submeter alguém a tratamento cruel, trabalhos forçados e/ou privação de alimentos ou cuidados. No que diz respeito aos animais, a variedade de maus tratos vai bem além dessa definição. É importante saber que maltratar animais é crime. (DELABARY, 2012, p. 835). O ato de maus tratos também pode ser caraterizado pelo abandono de animais, tendo em vista as inúmeras situações cruéis pela qual os animais tem que suportar sozinhos e desamparados, consequência da irresponsabilidade daquele que o abandonou. Nesse contexto, assevera Schultz 10 Estima-se que, de 10 animais abandonados, 8 já tiveram um lar. São animais que, por um motivo ou outro, foram rejeitados, não superaram as expectativas de seus donos e por isso, foram descartados. Cresceram demais, adoeceram, não foram educados o suficiente, geraram gastos e aborrecimentos. Cães e gatos sujos, magros, famintos e doentes, muitas vezes invisíveis aos olhos da sociedade, reviram o lixo atrás de comida, transmitem doenças, vivem no relento sob o sol forte ou o frio intenso. São maltratados e rejeitados até que finalmente são recolhidos e encaminhados aos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), onde são, na maioria das vezes, sacrificados. Creio que os motivos sejam muitos, mas o principal deles: a grande falta de conhecimento das pessoas acerca do que representa de fato ter um animal em casa. Outro fator que contribui em grande parte pelo imenso número de cães e gatos abandonados é a reprodução indiscriminada desses animais, muitas vezes intermediada pelos próprios guardiões. Este problema poderia ser facilmente minimizado se as pessoas aceitassem castrar seus cães e gatos de companhia. (SCHULTZ, 2016, p.1). Nota-se a necessidade de aplicação de pena a conduta de maus tratos, com o objetivo de proteger de maneira suficiente o bem jurídico tutelado com a proteção dos animais. Assim, dispõe Greco: Se a pena é um mal necessário, devemos, num Estado Social e Democrático de Direito, buscar aquela que seja suficientemente forte para a proteção dos bens jurídicos essenciais, mas que, por outro lado, não atinja de forma brutal a dignidade da pessoa humana. (GRECO, 2012, p.226-227). Nesse sentido, preceitua Ana Conceição Barbuda Ferreira: A defesa dos animais requer um novo modo de visualizá-los na legislação nacional, registrando-os como sujeitos de direito, mas seguramente a conquista ao respeito a vida, a sua dor, a sua liberdade não se constituíra pura e simplesmente com a edição de novas leis, muito embora sejam necessárias. Nada nesse plano se alcançara sem a conscientização, exigindo-se uma luta ardorosa pela consagração e reconhecimento destes com um novo status jurídico. São os animais não humanos novos sujeitos de direito, reconhecimento que especificamente redundará na conservação de todas as espécies em prol de um mundo mais íntegro e sustentável, onde a cooperação será um marco ideal, sustento de uma nova forma de vida e da construção de um mundo de comunhão e paz. (FERREIRA, 2010, p. 307). Cabe mencionar que o abandono de animais em centro urbanos acarreta problemas de saúde pública, como a disseminação de zoonoses, consoante ao que prevê Lima e Luna: [...] uma superpopulação de animais domésticos abandonados resulta em aumento na transmissão de zoonoses, poluição do ambiente (devido à falta de cuidados que o animal abandonado recebe) e até mesmo comportamentos agressivos por par te do animal que tenta se defender do ambiente que se encontra. (Lima e Luna, 2012, p. 35). Tal questão é de interesse público, uma vez que o Poder Público é encarregado pela garantia e segurança de saúde para a sociedade, e também amparar os animais que dele carecem em suas necessidades físicas. 11 Destaca-se, que recentemente fora aprovado pelo Senado Federal e pela Câmara dos Deputados um Projeto de Lei (PLC 27/2018) que dispõe acerca dos animais não serem mais considerados objetos, em que passaram a serem tratados como seres sencientes, ou seja, são passíveis de sofrimento. Todavia, ressalta-se que a senciência dos animais já fora reconhecida na Conferência de Cambridge, em 2012: [...] o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos. (INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS, 2012). Thaise Rosa, considera: A caraterística mais usada para reconhecer a senciência, portanto, é a dor, fazendo com que o conceito da mesma seja cada vez mais utilizado em defesa dos animais não humanos, o que leva ao questionamento de oanimal não humano ter direitos de proteção. (ROSA, 2017, p. 04). Destarte, além da responsabilização humana em razão da prática do crime de maus tratos, bem como acerca do dever ético e moral de zelar pelos animais que se encontrarem em situações críticas de sofrimento, cabe também ao Estado investir em políticas públicas de conscientização e adoção de animais, bem como auxiliar financeiramente ong’s e projetos que visam a proteção e acolhimento dos animais, e ainda, criar e aplicar leis mais severas que objetivem a punição de crime de maus tratos. "Virá o dia em que a matança de um animal será considerada crime tanto quanto o assassinato de um homem." (Leonardo da Vinci) "Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln) “O justo olha pela vida dos seus animais.” (Provérbios 12:10). A presente pesquisa baseia-se fundamentalmente na obra “Tutela Jurídica dos Animais”, de Edna Cardozo Dias (2000), que trata acerca da proteção dos animais desamparados, argumentando a ideia de que deve haver maior pacificidade entre todas as espécies, sendo essencial que o ser humano adquira a capacidade de compreender e expandir seus sentimentos também para os animais não-humanos. 7. SUMÁRIO PROVISÓRIO DO ARTIGO - Capítulo I: Maus Tratos e Animais Domésticas 1. Conceito de Maus Tratos 12 2. Definição de Animais Domésticos 3. A caracterização de Abandono de Animais Domésticos como Maus Tratos - Capítulo II: Garantia dos Direitos dos Animais pela Legislação 1. Declaração Universal do Direito dos Animais 2. Lei n.º 9.605/98, Constituição Federal e a criminalização do ato de maus tratos aos animais 3. Como é efetuada a punição do agente que comete crime de maus tratos 4. Ineficácia da punição frente ao grave aumento de crime de maus tratos 5. Responsabilização humana frente ao abandono de animais em centros urbanos - Capítulo III: Impactos causados no Poder Público pelo ato de Maus tratos aos Animais 1. O impacto na saúde pública face ao abandono de animais domésticos 2. Teoria do Link: Maus Tratos a animais e a violência doméstica 3. Adoção de medidas necessária pelo Poder Público a fim de evitar a prática de crime de maus tratos 8. METODOLOGIA DA PESQUISA A metodologia aplicada no presente estudo é de caráter exploratório, segundo Severino (2007, p. 123) “busca apenas levantar informações sobre determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto”. Compreende-se que a metodologia mais indicada para o atual projeto, em relação à abordagem é a qualitativa, conforme alude Richardson (1999, apud BEUREN E RAUPP, 2004, p.92) “os estudos que empregam metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”. Quanto ao procedimento, será aplicada a metodologia de pesquisa bibliográfica e documental. Assim entende Prodanov a respeito da pesquisa bibliográfica: Quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de: livros, revistas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em contato direto com todo material já escrito sobre o assunto da pesquisa. Em relação aos dados coletados na internet, devemos atentar à confiabilidade e fidelidade 13 das fontes consultadas eletronicamente. Na pesquisa bibliográfica, é importante que o pesquisador verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar”. (PRODANOV, 2013, p.54). Em relação à pesquisa documental, assevera ainda Prodanov: A pesquisa documental, devido a suas características, pode ser confundida com a pesquisa bibliográfica. Gil (2008) destaca como principal diferença entre esses tipos de pesquisa a natureza das fontes de ambas as pesquisas. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (PRODANOV, 2013, apud GIL, 2008, p. 55). Tais procedimentos enquadram-se no presente estudo tendo em vista o embasamento realizado por meio de pesquisas teóricas doutrinárias, em artigos científicos, monografias, na legislação, na jurisprudência, em revistas, jornais e tratados internacionais. 9. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO ETAPAS 2020 2020 2020 2020 2020 2020 2020 1º Bimestre (9º período) 1º Bimestre (9º período) 2º Bimestre (9º período) 2º Bimestre (9º período) -- (10º período) -- (10º período) -- (10º período) Jan/Fev Mar/Abr Abr/Maio Maio/Jun Ago/Set Out/Nov Dez Levantamento bibliográfico X X Coleta de Dados X X Projeto de Pesquisa: elaboração X X 14 Revisão da bibliografia científica sobre o tema, com fichamento dos textos fundamentais X Revisão completa da redação do projeto X Elaboração final do projeto de pesquisa X Apresentação de projeto para orientador X Redação da monografia/tcc X X Entrega de tcc ao orientador X Avaliação do orientador X Revisão final X X Apresentação do TCC. X 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEUREN, Ilse Marie; RAUPP, Fabiano Maury. Metodologia da pesquisa aplicável às ciências sociais. In: BEUREN, Ilse Maria (org). Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2004. BRASIL, [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 27 de maio de 2020. BRASIL, Lei N.º 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9605.htm>. Acesso em 27 de maio de 2020. BRASIL, Projeto de Lei da Câmara n° 27, de 2018. Acrescenta dispositivo à Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para dispor sobre a natureza jurídica dos animais não humanos. Disponível em: < https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/133167>. Acesso em: 27 de junho de 2020. BRASIL, Resolução Nº 1.236, de 26 de outubro de 2018. Define e caracteriza crueldade, abuso e maus-tratos contra animais vertebrados, dispõe sobre a conduta de médicos veterinários e zootecnistas e dá outras providências. Diário Oficial da União. Disponível em: < http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/47542721/do1- 2018-10-29-resolucao-n-1-236-de-26-de-outubro-de-2018-47542637>. Acesso em: 27 de maio de 2020. COPOLA, Gina. A lei de crimes ambientais comentada artigo por artigo: jurisprudência sobre a matéria. Belo Horizonte: Fórum, 2008. DELABARY, Barési Freitas. Aspectos que Influenciam os Maus Tratos contra animais no Meio Urbano. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental REGET/UFSM (e-ISSN: 2236-1170), v. (5), n°5, p. 835 - 840, 2012. DIAS, Edna Cardoso. A tutela jurídica dos animais. 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