Buscar

Aula 3 - Ética - Receita Federal

Prévia do material em texto

ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
1 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
AULA 2 
REGIME DISCIPLINAR 
A Lei no 8.112/90, ao tratar do regime disciplinar, enfocando os deveres, as 
proibições, responsabilidades e penalidades aplicáveis aos servidores 
públicos. Também faz menção ao caso de acumulação remunerada de 
cargos públicos que, de regra, é proibida, normatizando os procedimentos 
nos casos de violação das poucas exceções, onde é possível tal acumulação. 
1 DEVERES 
Estipula o art. 116 que são deveres do servidor: 
I – exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo; 
II – ser leal às instituições a que servir; 
III – observar as normas legais e regulamentares; 
IV – cumprir as ordens superiores, exceto quando manifestamente 
ilegais; 
V – atender com presteza: 
a) ao público em geral, prestando as informações requeridas, 
ressalvadas as protegidas por sigilo; 
b) à expedição de certidões requeridas para defesa de direito ou 
esclarecimento de situações de interesse pessoal; 
c) às requisições para a defesa da Fazenda Pública; 
VI – levar ao conhecimento da autoridade superior as irregularidades 
de que tiver ciência em razão do cargo; 
VII – zelar pela economia do material e a conservação do patrimônio 
público; 
VIII – guardar sigilo sobre assunto da repartição; 
IX – manter conduta compatível com a moralidade administrativa; 
X – ser assíduo e pontual ao serviço; 
XI – tratar com urbanidade as pessoas; 
XII – representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. 
O servidor deve exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo. Uma 
vez investido da função pública, tem de esforçar-se por dar o máximo de si 
para o bom e fiel cumprimento das suas obrigações, não podendo agir com 
desleixo ou indiferença. A dedicação refere-se ao cargo, ao serviço público, 
e não ao detentor do poder temporário, ao partido político. 
De igual forma, tem de ser leal às instituições a que servir; à instituição, e 
não às pessoas, às autoridades. A lealdade pessoal afronta o princípio 
constitucional da impessoalidade (CF/88, art. 37, caput). É ser fiel às regras 
que norteiam a honra e a probidade na Administração Pública. Não se 
confunde com servilismo ou subserviência, que caracterizam indesejáveis 
desvios de conduta. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
2 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
Seguindo o princípio da legalidade, cabe ao servidor observar as normas 
legais e regulamentares, pois, no serviço público, só pode ser feito aquilo 
expressamente relacionado na legislação pertinente. 
Como ressabido, a hierarquia é característica própria da Administração 
Pública. Como conseqüência, o servidor deve cumprir as ordens superiores, 
exceto quando manifestamente ilegais. A exceção é clara: se a ordem não 
for obviamente contra a lei, deve ser cumprida. Se o chefe determina que 
se entregue determinada soma de dinheiro a alguém, por mais que possa 
parecer resultado de corrupção, se não for patente, deve ser cumprida, pois 
pode tratar-se de pagamento legítimo. Contudo, se o mesmo chefe manda 
matar alguém, por óbvio que essa ordem é antijurídica, não devendo, em 
hipótese alguma, ser cumprida, sob pena de responsabilização como co-
autor. 
A função do servidor é justamente servir ao público. E isso é efetivado 
quando se atende com presteza, rapidez, celeridade, tanto ao público em 
geral, prestando as informações requeridas, quanto às autoridades, em 
especial requisições para a defesa da Fazenda Pública. Evidentemente, as 
informações a serem prestadas são aquelas que não estejam protegidas por 
sigilo, no interesse público, sempre. 
A agilidade tem de estar presente também quando da expedição de 
certidões requeridas para defesa de direito ou esclarecimento de situações 
de interesse pessoal, dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias, sob pena de 
responsabilização. 
A economia de material e a conservação do patrimônio público interessam à 
toda sociedade, uma vez que é o dinheiro público que sustenta toda a 
máquina administrativa. Como estão nas mãos dos servidores públicos, a 
eles cabe zelar pelos materiais usados, bem como cuidar do patrimônio 
estatal. 
A discrição sobre os assuntos da repartição é tão importante que, em se 
violando o sigilo funcional, fica o autor da ação ou omissão sujeito às penas 
do art. 325 do Código Penal. A regra é que se deve guardar sigilo de tudo 
quanto se saiba no exercício da função pública, não divulgando dados ou 
informações que provoquem prejuízo ao interesse público. 
Nessa toada, assim prevê a CF/88: 
Art. 37, § 7º - A lei disporá sobre os requisitos e as restrições ao 
ocupante de cargo ou emprego da administração direta e indireta 
que possibilite o acesso a informações privilegiadas. 
Como outra obrigação do servidor, tem-se a de manter conduta compatível 
com a moralidade administrativa, não só enquanto na repartição pública, 
mas sim em todas suas condutas dentro da sociedade. 
Ser assíduo significa comparecer diariamente à repartição para exercer suas 
atribuições, e ser pontual quer dizer cumprir adequadamente a carga 
horária diária, chegando no horário e ficando até o fim do expediente. No 
caso de não-cumprimento dessas obrigações, o servidor poderá perder a 
remuneração do dia em que faltar ao serviço (art. 44, I e II), ou ainda 
perder o cargo (arts. 138 e 139). 
Tratar com urbanidade as pessoas é outro dever fundamental dos 
servidores, pois as pessoas em geral são a razão maior da existência do 
serviço público. Assim, o atendimento às necessidades dos usuários dos 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
3 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
serviços públicos envolve, além de boas maneiras e respeito entre os 
cidadãos, afabilidade, civilidade, cortesia. 
Por fim, dois incisos que se inter-relacionam dizem respeito às 
irregularidades ou ilegalidades de que o servidor tenha conhecimento no 
exercício de suas funções. Assim, deve levar ao conhecimento da 
autoridade superior as irregularidades de que tiver ciência em razão do 
cargo e representar contra ilegalidade, omissão ou abuso de poder. Isso 
significa que, sempre que souber de algo irregular, deve avisar à autoridade 
competente. Representação é a forma (sempre escrita) com que o servidor 
dirige-se a quem de direito para comunicar fatos ilegais, omissão ou abuso 
de poder, para que seja promovida a responsabilização devida, anexando 
todas as provas a que tenha acesso. Essa representação será encaminhada 
pela via hierárquica e apreciada pela autoridade superior àquela contra a 
qual é formulada, assegurando-se ao representando ampla defesa (art. 116, 
parágrafo único). Tal caminho será cumprido ainda que o representando 
seja o chefe por meio de quem o representante tem de encaminhar tal 
documento, o que, muita vez, torna esse expediente inócuo. De qualquer 
forma, importante ressaltar que, se o servidor que toma conhecimento de 
irregularidade não cumprir com seu dever de representar, estará ele 
também sujeito às penalidades legais. 
2 PROIBIÇÕES 
O art. 117 do Estatuto prevê o que é proibido ao servidor, com a 
conseqüente punição pelo descumprimento nos artigos subseqüentes: 
I – casos de advertência: 
I.I – ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia 
autorização do chefe imediato; 
I.II – retirar, sem prévia anuência da autoridade competente, qualquer 
documento ou objeto da repartição; 
I.III – recusar fé a documentos públicos; 
I.IV – opor resistência injustificada ao andamento de documento e 
processo ou execução de serviço; 
I.V – promover manifestação de apreço ou desapreço no recinto da 
repartição; 
I.VI – cometer a pessoa estranha à repartição, fora dos casos previstos 
em lei, o desempenho de atribuição que seja de sua responsabilidade 
ou de seu subordinado;I.VII – coagir ou aliciar subordinados no sentido de filiarem-se a 
associação profissional ou sindical, ou a partido político; 
I.VIII – manter sob sua chefia imediata, em cargo ou função de 
confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil; 
I.IX – recusar-se a atualizar seus dados cadastrais quando solicitado; 
II – casos de suspensão: 
II.I – cometer a outro servidor atribuições estranhas ao cargo que 
ocupa, exceto em situações de emergência e transitórias; 
II.II – exercer quaisquer atividades que sejam incompatíveis com o 
exercício do cargo ou função e com o horário de trabalho; 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
4 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
III – casos de demissão: 
III.I – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em 
detrimento da dignidade da função pública; 
III.II – participar de gerência ou administração de sociedade privada, 
personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na 
qualidade de acionista, cotista ou comanditário;1 
III.III – atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições 
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou 
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou 
companheiro; 
III.IV – receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer 
espécie, em razão de suas atribuições; 
III.V – aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; 
III.VI – praticar usura sob qualquer de suas formas; 
III.VII – proceder de forma desidiosa; 
III.VIII – utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em 
serviços ou atividades particulares. 
À lista do Estatuto, acrescente-se que será punido com a pena de demissão, 
sem prejuízo de outras sanções cabíveis, o agente público que se recusar a 
prestar declaração dos bens, dentro do prazo determinado, ou que a prestar 
falsa, nos termos do art. 13, § 3º, da Lei no 8.429/92, Lei da Improbidade 
Administrativa. 
É proibido, ainda, ao servidor, recusar-se à obrigatória inspeção médica 
determinada pela autoridade competente, sob pena de suspensão, se 
injustificada a recusa (art. 130, § 1o). 
A seguir, breves comentários sobre o que é defeso ao servidor, 
negligenciando propositalmente aquelas proibições que são por demais 
óbvias, que não serão aqui desnecessariamente esmiuçadas. 
Dentro do seu horário de expediente, a obrigação do servidor é trabalhar, 
executando suas tarefas. Por isso, não é possível que se ausente a qualquer 
momento, sem a prévia e necessária autorização do chefe imediato. Se 
assim não proceder, poderá perder parcela da remuneração diária (art. 44, 
II). 
Tampouco pode o servidor retirar documentos ou objetos da repartição por 
conta própria, podendo, inclusive, vir a ser considerada a prática de 
peculato, que é o “furto” praticado pelo funcionário público (CP, art. 312). 
Não importa a natureza pública ou privada do documento: se estiver sob a 
responsabilidade da Administração, não poderá sair sem prévia anuência da 
autoridade competente, precedida sempre do devido registro de saída e 
recibo dado pela pessoa que o retire. 
No que concerne à indispensável fé a documentos públicos, o Estatuto 
repete a previsão constitucional do art. 19, II, que veda à União, aos 
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios recusar fé aos documentos 
 
1 Inciso com redação dada pela Lei nº 11.784/2008. Compare a redação anterior: “participar 
de gerência ou administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, 
salvo a participação nos conselhos de administração e fiscal de empresas ou entidades em 
que a União detenha, direta ou indiretamente, participação no capital social ou em sociedade 
cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros, e exercer o comércio, exceto 
na qualidade de acionista, cotista ou comanditário”. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
5 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
públicos. Como entes abstratos que são, estendeu-se essa proibição para 
seus servidores, que dão efetividade às finalidades do Estado. 
O serviço deve ser executado com agilidade, assim como o andamento de 
documento ou processo, atendendo, com isso, também ao princípio da 
eficiência (CF/88, art. 37, caput), que vale para todas as esferas, Poderes e 
órgãos. Rui Barbosa, dirigindo-se à turma de 1920 da Faculdade de Direito 
de São Paulo, disse-lhes: “não sejais, pois, desses magistrados, nas mãos 
de quem os autos penam como as almas do purgatório, ou arrastam sonos 
esquecidos como preguiças do mato”. Essa lição histórica vale para todos. 
O ambiente de trabalho na repartição deve ser agradável para o bom 
desenvolvimento das atribuições de cada funcionário. Porém, não só as 
manifestações de desapreço são vedadas, mas também as de apreço, ou 
seja, além de injúrias, menosprezo e críticas despropositadas, a bajulação 
ou adulação igualmente estão proibidas. Ainda que o art. 5o da Constituição 
Federal de 1988, em seu inciso IV, garanta a liberdade de manifestação do 
pensamento, por suas próprias características, não pode ser efetivada 
dentro da repartição quando se referir a pessoas, pois poderia haver desvio 
do princípio da impessoalidade, com benefícios escusos aos bajuladores ou 
punições indevidas aos críticos. 
As atribuições do cargo devem ser desenvolvidas pelo servidor legalmente 
investido, não podendo repassar suas responsabilidades a pessoa fora dos 
quadros da repartição. Mesmo entre os subordinados, cada um tem suas 
próprias competências, não podendo o chefe repassar serviços diversos dos 
que a lei determina, exceto nas situações legalmente ressalvadas, como em 
casos emergenciais e transitórios (art. 117, XVII). Em qualquer caso, 
obedecendo à hierarquia, deve o servidor cumprir a ordem, desde que não 
manifestamente ilegal (art. 116, IV). 
A odiosa prática de “sugerir” a filiação do subordinado a sindicato, 
associação profissional ou a partido político que, infelizmente, é comum no 
serviço público, é expressamente proibida, repetindo a previsão genérica da 
Constituição, que em seu art. 8o, V, diz que ninguém será obrigado a filiar-
se ou a manter-se filiado a sindicato e, no art. 5o, XX, que ninguém poderá 
ser compelido a associar-se ou a permanecer associado. A própria coação 
pressupõe a força, obrigar alguém a fazer ou não alguma coisa, 
independentemente de ser legal ou ilegal. É a exigência desse 
comportamento que o torna ilegítimo. 
O nepotismo2, no seu sentido de favoritismo para com parentes, está 
vedado no que se refere a cargo ou função de confiança atribuídos a 
cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil, sob a chefia 
imediata da autoridade que faz a nomeação. Isso não proíbe que o parente 
seja subordinado, mas sim que seja titular de cargo ou função de confiança. 
 
2 A prática é antiga. Veja o trecho final da Carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao Rei de 
Portugal, D. Manuel, tida por muitos como a “certidão de nascimento” do Brasil, onde o 
próprio pede emprego para seu genro: “E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo 
que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de 
mim muito bem servida, a Ela peço que, por me fazer singular mercê, mande vir da ilha de 
São Tomé a Jorge de Osório, meu genro — o que d´Ela receberei em muita mercê. Beijo as 
mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, 
primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha.” 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
6 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
Por parente até o segundo grau civil entende-se como sendo os pais e filhos 
(primeiro grau), avós, netos e irmãos (segundo grau). 
Nessa linha,declarou o STF3 a constitucionalidade da Resolução nº 074, de 
18/10/2005, do CNJ, culminando por editar, em 21/08/2008, a Súmula 
Vinculante nº 13, com o seguinte teor: 
A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, 
colateral ou por afinidade, até 3º grau, inclusive da autoridade 
nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em 
cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de 
cargo em comissão ou de confiança ou ainda de função 
gratificada da administração pública direta, indireta em qualquer 
dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
municípios, compreendido o ajuste mediante designações 
recíprocas, viola a Constituição Federal. 
Note que o STF declarou ferir a Constituição “a nomeação de cônjuge, 
companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até 3º 
grau”, enquanto que o Estatuto proíbe, em seu texto, até o segundo grau 
civil. Com isso, os parentes atingidos pela súmula são: cônjuge, 
companheiro, pai, filho, tio, sobrinho, cunhado, avô, neto, sogra, sogro, 
genro, nora, bisavô e bisneto. 
A Lei nº 11.416/20065, contém previsão semelhante sem seu art. 6º, in 
verbis: “No âmbito da jurisdição de cada tribunal ou juízo é vedada a 
nomeação ou designação, para os cargos em comissão e funções 
comissionadas, de cônjuge, companheiro, parente ou afim, em linha reta ou 
colateral, até o terceiro grau, inclusive, dos respectivos membros e juízes 
vinculados, salvo a de ocupante de cargo de provimento efetivo das 
Carreiras dos Quadros de Pessoal do Poder Judiciário, caso em que a 
vedação é restrita à nomeação ou designação para servir perante o 
magistrado determinante da incompatibilidade.” 
Manter atualizados seus dados cadastrais é uma obrigação do servidor, e 
deve sempre atender à solicitação para fazê-lo, quando necessário. Essa 
previsão foi incluída no Estatuto pela Lei no 9.527/97. 
Importante destacar que, como sobredito, a toda proibição corresponde 
uma sanção por seu não-cumprimento. Os incisos vistos até agora, quando 
descumpridos, poderão, após o devido processo administrativo ou 
sindicância, redundar na penalidade de advertência (art. 129), ou, em caso 
de reincidência, suspensão até 90 (noventa) dias (art. 130). 
No caso de haver repasse a outro servidor de atribuições estranhas ao 
cargo que ocupe, conforme mencionado, caberá a penalidade de suspensão, 
exceto em situações de emergência e transitórias. 
A mesma sanção será imposta àquele que exercer quaisquer atividades 
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com o horário de 
trabalho. Note-se que o legislador ordinário faz menção à toda sorte de 
atividades, incluindo as da vida privada, sempre que haja incompatibilidade 
com a função pública exercida. Em que pese a prática ser outra, não é 
 
3 STF, ADC 12/DF, relator Ministro Carlos Britto, julgamento em 20/08/2008. 
4 Disciplina o exercício de cargos, empregos e funções por parentes, cônjuges e 
companheiros de magistrados e de servidores investidos em cargos de direção e 
assessoramento, no âmbito dos órgãos do Poder Judiciário e dá outras providências. 
5 Dispõe sobre as Carreiras dos Servidores do Poder Judiciário da União. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
7 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
admissível que um policial seja segurança privado, que um fiscal do 
Ministério do Trabalho preste assessoria trabalhista privada, ou outros 
tantos exemplos que diuturnamente são vistos. 
Acrescente-se que será punido com suspensão de até 15 (quinze) dias o 
servidor que, injustificadamente, recusar-se a ser submetido à inspeção 
médica determinada pela autoridade competente, cessando os efeitos da 
penalidade uma vez cumprida a determinação (art. 130, § 1o). 
Quando houver violação dos incisos analisados a seguir, poderá o servidor 
faltoso, sempre precedido de processo administrativo, sofrer a penalidade 
de demissão (art. 132, XIII), pois, como se verão, são faltas mais graves 
que as vistas até aqui. 
Como o próprio nome diz, a função é pública, e não pode ser usada para 
lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da 
função pública. Usar o cargo para obter favores, ou mesmo concedê-los, 
fere a moralidade, a finalidade e o interesse público; é lamentável essa 
prática em nossa sociedade. 
Ao servidor público é proibido também participar de gerência ou 
administração de sociedade privada, personificada ou não personificada, e 
exercer o comércio. Pode, sim, ser acionista, cotista ou comanditário, mas 
nunca gerente ou administrador. 
A MP nº 431/2008, posteriormente convertida na Lei nº 11.784/2008, 
alterou a redação do inciso X do art. 117, fazendo incluir um parágrafo 
único ao artigo, com as regras a seguir reproduzidas: 
Art. 117, parágrafo único. A vedação de que trata o inciso X não 
se aplica nos seguintes casos: 
I – participação nos conselhos de administração e fiscal de 
empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou 
indiretamente, participação no capital social ou em sociedade 
cooperativa constituída para prestar serviços a seus membros; e 
II – gozo de licença para o trato de interesses particulares, na 
forma do art. 91, observada a legislação sobre conflito de 
interesses. 
O inciso I retro já era previsto no próprio art. 117, X (na antiga redação 
dada pela Lei nº 11.094/2005). A novidade veio por conta da segunda 
exceção, é dizer, durante a licença para o trato de interesses particulares, 
desde que não haja conflito de interesses, pode o servidor licenciado 
participar de gerência ou administração de sociedade privada, personificada 
ou não personificada, e exercer o comércio. 
Advocacia administrativa é o patrocínio de interesse privado perante a 
Administração Pública, valendo-se da qualidade de funcionário: essa ação é 
tipificada como crime (CP, art. 321). É, por outras palavras, o uso do cargo 
para intermediar vantagens para outrem perante a Administração. Contudo, 
ficou ressalvada a possibilidade de atuação, como procurador ou 
intermediário, quando se tratar de benefícios previdenciários ou 
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou 
companheiro. Como mencionado alhures, por parente até o segundo grau 
civil entende-se como sendo os pais, filhos, avós, netos e irmãos. 
A retribuição pelo exercício das atribuições do cargo é paga pelos cofres 
públicos, estando vedada a percepção de propina, comissão, presente ou 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
8 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
vantagem de qualquer espécie, configurando ato de improbidade 
administrativa, com a possível suspensão de direitos políticos de 08 (oito) a 
10 (dez) anos, entre outras penalidades aplicáveis.56 
Fica também o servidor impedido de receber qualquer comissão, emprego 
ou pensão de estado estrangeiro, para que se mantenha a indispensável 
soberania nacional. Se assim não proceder, perderá o cargo. 
Usura é o empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa legal, a famosa 
agiotagem, e, assim, não pode, o servidor, praticar usura sob qualquer de 
suas formas. 
Por desídia entende-se o elemento da culpa que consiste em negligência ou 
descuido na execução de um serviço, e proceder de forma desidiosa, que 
está vedado, consiste em comportamento indolente, preguiçoso, desleixado. 
Trata-se de um “conceito indeterminado”, que deve ser analisado pelo 
intérprete, seja o administrador no momento de valorar a conduta e aplicar 
motivada e fundamentadamente a penalidade, seja pelo Judiciário, quando 
controla a legalidade do ato administrativo: 
A autoridade administrativa está autorizada a praticar atos discricionários 
apenas quando norma jurídica válida expressamente a ela atribuir essa livre 
atuação. Os atos administrativos que envolvema aplicação de "conceitos 
indeterminados" estão sujeitos ao exame e controle do Poder Judiciário. O 
controle jurisdicional pode e deve incidir sobre os elementos do ato, à luz 
dos princípios que regem a atuação da Administração. Processo disciplinar, 
no qual se discutiu a ocorrência de desídia --- art. 117, inciso XV da Lei n. 
8.112/90. Aplicação da penalidade, com fundamento em preceito diverso do 
indicado pela comissão de inquérito. A capitulação do ilícito administrativo 
não pode ser aberta a ponto de impossibilitar o direito de defesa.6 
Por fim, não está permitido o uso de pessoal ou recursos materiais da 
repartição em serviços ou atividades particulares, consistindo, da mesma 
forma, em improbidade administrativa, passível de, além da perda do 
cargo, punições previstas na legislação específica. Como exemplos disso, 
temos o uso do carro oficial para deslocamentos particulares, ou de avião 
da Aeronáutica para levar altas autoridades para férias em paraísos do 
nosso litoral, ou, ainda, o deslocamento de servidores para trabalhos em 
residência de autoridades. 
3 ACUMULAÇÃO 
3.1 SERVIDORES ATIVOS 
Diz-se acumulação ao exercício concomitante de mais de um cargo público 
remunerado, o que, de regra, é vedado pela CF/88, em seu art. 37, XVI. 
Porém, há exceções, e todas elas foram previstas no texto da Lei Maior, 
taxativa e exaustivamente. Assim, se não houver previsão no texto 
constitucional, excepcionando a acumulação de certos cargos, serão eles 
inacumuláveis. As Constituições Estaduais e as leis não podem ampliar esse 
rol, modificável apenas mediante emenda. É a seguinte a previsão do art. 
37: 
 
6 STF, RMS 24.699/DF, relator Ministro Eros Grau, publicação DJ 01/07/2005. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
9 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
XVI – é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, 
exceto, quando houver compatibilidade de horários, observado 
em qualquer caso o disposto no inciso XI. 
a) a de dois cargos de professor; 
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico; 
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de 
saúde, com profissões regulamentadas; 
XVII – a proibição de acumular estende-se a empregos e funções 
e abrange autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades 
de economia mista, suas subsidiárias, e sociedades controladas, 
direta ou indiretamente, pelo Poder Público. 
No Estatuto, tais previsões encontram-se expressas no art. 118 e seguintes, 
cujo caput expressa: “ressalvados os casos previstos na Constituição, é 
vedada a acumulação remunerada de cargos públicos”. 
Inicialmente, ressalte-se que essa proibição alcança não só a Administração 
Pública Direta, mas também autarquias, fundações, empresas públicas e 
sociedades de economia mista7. Alterado, pela EC no 19/98, o inciso XVII 
supra, ampliou-se a vedação para as subsidiárias e sociedades controladas, 
direta ou indiretamente, pelo Poder Público. Assim, sempre que o Estado 
tenha participação acionária, diretamente ou por meio da Administração 
Indireta, haverá essa vedação. 
Sobre as exceções, só existem elas, repita-se, para cargos públicos 
remunerados, e onde haja compatibilidade de horários e expressa previsão. 
Ademais, todas referem-se a apenas dois cargos, inexistindo possibilidade 
de acumulação de três cargos públicos remunerados. Diógenes Gasparini 
ensina que a norma temporária do § 1o do art. 178 do ADCT contém uma 
possibilidade de acumulação de três cargos, sendo dois como médico civil e 
outro como médico militar9. Como regra, então, não cabe acumulação de 
três cargos: 
 
7 STF, ADI 1.770/DF, relator Ministro Joaquim Barbosa, publicação DJ 01/12/2006, noticiado 
no Informativo 444: ADI. READMISSÃO DE EMPREGADOS DE EMPRESAS PÚBLICAS E 
SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA. ACUMULAÇÃO DE PROVENTOS E VENCIMENTOS. 
EXTINÇÃO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO POR APOSENTADORIA ESPONTÂNEA. NÃO-
CONHECIMENTO. INCONSTITUCIONALIDADE. Lei 9.528/1997, que dá nova redação ao § 1º 
do art. 453 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT -, prevendo a possibilidade de 
readmissão de empregado de empresa pública e sociedade de economia mista aposentado 
espontaneamente. (...) É inconstitucional o § 1º do art. 453 da CLT, com a redação dada 
pela Lei 9.528/1997, quer porque permite, como regra, a acumulação de proventos e 
vencimentos - vedada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal -, quer porque se 
funda na idéia de que a aposentadoria espontânea rompe o vínculo empregatício. (...) Ação 
conhecida quanto ao § 1º do art. 453 da Consolidação das Leis do Trabalho, na redação dada 
pelo art. 3º da mesma Lei 9.528/1997, para declarar sua inconstitucionalidade. 
8 ADCT, art. 17, § 1º: É assegurado o exercício cumulativo de dois cargos ou empregos 
privativos de médico que estejam sendo exercidos por médico militar na administração 
pública direta ou indireta. 
9 Veja-se também: STF, RE 298.189/DF, relatora Ministra Ellen Gracie, publicação DJ 
03/09/2004: 1. Integrante da Corporação do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, 
que exercia, à época da promulgação da Constituição Federal, cumulativamente à função de 
auxiliar de enfermagem da referida corporação, cargo de idêntica denominação na Fundação 
Hospitalar do Distrito Federal. Não incidência do art. 17, § 2º da ADCT à espécie, tendo em 
vista que a norma aplicável aos servidores militares é a prevista no § 1º do art. 17 do ADCT, 
a qual prevê acumulação lícita de cargos ou empregos por médico militar, hipótese que não 
se estende a outros profissionais de saúde. 2. Recurso extraordinário conhecido e provido. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
10 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
Nos termos do art. 37, inciso XVI, da Constituição Federal, com as 
alterações introduzidas pela EC n.º 20/98, não há direito líquido e certo à 
tríplice acumulação de proventos relativos a duas aposentadorias com o 
vencimento de um terceiro cargo para qual o servidor tenha sido nomeado 
em razão de aprovação em concurso público.10 
A Constituição expressamente dispõe os casos em que é possível a 
acumulação de cargos (art. 37, XVI e XVII), e nele não se enquadra a 
situação dos recorrentes (ocupantes de três cargos médicos).11 
A Constituição da República consagra o princípio geral da inacumulação de 
cargos públicos, excepcionando apenas as hipóteses exaustivamente 
previstas, dentre elas a de dois cargos de professor e de um cargo de 
professor com outro técnico ou científico (art. 37, XVI, ‘a’ e ‘b’). Incide o 
óbice constitucional na hipótese de acumulação de dois cargos de 
magistério nas esferas Municipal e Estadual com cargo de natureza técnica 
no âmbito do Poder Público Federal.12 
Outra regra transitória está prevista no mesmo art. 17, § 2º, ADCT: 
É assegurado o exercício cumulativo de dois cargos ou empregos privativos 
de profissionais de saúde que estejam sendo exercidos na administração 
pública direta ou indireta. 
Segundo decidiu o STF13, essa regra aplica-se também aos militares, 
conforme se vê na notícia divulgada no sítio desse Tribunal, em 
30/05/2006: 
A Segunda Turma decidiu, por unanimidade, prover o Recurso 
Extraordinário (RE) 182.811, interposto pela defesa de médicos da Polícia 
Militar mineira, contra acórdão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais 
(TJ/MG), que entendeu não ser aplicável aos militares da área de saúde o 
disposto no parágrafo 2º, do artigo 17, do Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias (ADCT), já que os militares são regidos por 
estatuto próprio. 
Os advogados dos médicos alegam que o dispositivo não reconhecido pelo 
TJ/MG, assegura o exercício cumulativo de dois cargos ou empregos 
privativos de profissionais de saúde que estejam sendoexercidos na 
administração pública direta ou indireta, estendendo sua aplicação tanto a 
civis como militares. Acrescentam que o acórdão contestado fere o artigo 5º 
da Constituição Federal que declara a igualdade de todos perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza. 
Em seu voto o relator, ministro Gilmar Mendes, citou o RE 212160, que 
tratou de matéria análoga, quando a Corte adotou o entendimento de que é 
lícita a aplicação do parágrafo 2º, do artigo 17, do ADCT, tanto aos 
profissionais de saúde civis como militares. O RE citado acrescenta que não 
há impedimento de se interpretar o artigo 142, parágrafo 3º, inciso III da 
CF [que prevê a transferência para a reserva do militar que aceita cargo 
 
10 STJ, AgRg no RMS 13.778/PR, relatora Ministra Laurita Vaz , publicação DJ 02/05/2006. 
11 STJ, ROMS 10.679/CE, relator Ministro José Arnaldo da Fonseca, publicação DJ 
17/12/1999. 
12 STJ, ROMS 10.677/RJ, relator Ministro Vicente Leal, publicação DJ 15/05/2000. 
13 STF, RE 182.811/MG, relator Ministro Gilmar Mendes, publicação DJ 30/06/2006: Recurso 
extraordinário. Acumulação de cargos. Profissionais de saúde. Cargo na área militar e em 
outras entidades públicas. Possibilidade. Interpretação do art. 17, § 2º, do ADCT. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
11 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
público civil] em consonância com o disposto no artigo 17 da ADCT, sem 
que o militar tenha de ser transferido para a reserva. 
Concluindo, Gilmar Mendes declarou que “interpretar o parágrafo 2º, do 
artigo 17 do ADCT como excludente dos profissionais da área de saúde das 
carreiras militares, importaria também estender o mesmo entendimento à 
alínea c, inciso XVI do artigo 37 da Constituição [que permite a acumulação 
de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com 
profissões regulamentadas] o que não se cogita”. Dessa forma o ministro-
relator conheceu e deu provimento ao recurso, sendo seguido pela Turma. 
De qualquer forma, “o art. 17, § 2º, do ADCT deve ser interpretado em 
conjunto com o inciso XVI do art. 37 da Constituição Federal, estando a 
cumulação de cargos condicionada à compatibilidade de horários”14. 
Ressalto ainda que, sobre cargos não-remunerados ou da iniciativa privada, 
não há se falar em acumulação. 
Qualquer que seja o caso, o somatório das remunerações não poderá 
ultrapassar o limite imposto pelo inciso XI do mesmo art. 37 da CF/88, e a 
acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da 
compatibilidade de horários (art. 118, § 2o). 
As exceções, esparsas pelo texto constitucional, são as seguintes: 
I – dois cargos de professor (CF/88, art. 37, XVI, a); 
II – um cargo de professor com outro técnico ou científico (CF/88, art. 
37, XVI, b); 
III – dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, 
com profissões regulamentadas (CF/88, art. 37, XVI, c); 
IV – magistrado15 com uma função de magistério16 (CF/88, art. 95, 
parágrafo único, I)17; 
V – membro do Ministério Público com outra função pública de 
magistério18 (CF/88, art. 128, § 5o, II, d)19; 
 
14 STF, RE 351.905/RJ, relatora Ministra Ellen Gracie, publicação DJ 01/07/2005. 
15 STF, ADI 3.367/DF, relator Ministro Cezar Peluso, DJ 17/03/2006: Nenhum dos advogados 
ou cidadãos membros do Conselho Nacional de Justiça pode, durante o exercício do 
mandato, exercer atividades incompatíveis com essa condição, tais como exercer outro cargo 
ou função, salvo uma de magistério, dedicar-se a atividade político-partidária e exercer a 
advocacia no território nacional. 
16 Regulamentada pela Resolução CNJ nº 34, de 24/04/2007. 
17 O Tribunal, por maioria, referendou a liminar concedida pelo Ministro Nelson Jobim, 
Presidente, em ação direta ajuizada pela AJUFE - Associação dos Juízes Federais do Brasil - 
em face da Resolução n° 336/2003, do Conselho da Justiça Federal, para suspender a 
eficácia da expressão “único(a)” constante do art. 1º da norma impugnada (Resolução 
336/2003: “Art. 1º Ao magistrado da Justiça Federal de primeiro e segundo graus, ainda que 
em disponibilidade, é defeso o exercício de outro cargo ou função, ressalvado(a) um(a) 
único(a) de magistério, público ou particular.”). Entendeu-se que a fixação ou a imposição de 
que haja apenas uma “única” função de magistério não atende, a princípio, ao objetivo da 
Constituição Federal que, ao usar, na ressalva constante do inciso I do parágrafo único do 
seu art. 95, a expressão “uma de magistério”, visa apenas impedir que a cumulação 
autorizada prejudique, em termos de horas destinadas ao magistério, o exercício da 
magistratura, sendo a questão, portanto, de compatibilização de horários, a ser resolvida 
caso a caso. Vencidos, em parte, os Ministros Marco Aurélio e Carlos Britto, que indeferiam a 
liminar. ADI 3.126 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, publicação DJ 06/05/2005. 
18 STF, ADI 3.298/ES, relator Ministro Gilmar Mendes, publicação DJ 29/06/2007: somente 
se permite aos promotores e procuradores de Justiça o exercício de cargos em comissão na 
própria organização do Ministério Público, pois o art. 128, parágrafo 5º, inciso II, alínea “d”, 
da Constituição Federal, proíbe que integrantes do Ministério Público, mesmo em 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
12 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
VI – Ministro do TCU com outra função de magistério (CF/88, art. 73, § 
3o); 
VII – Vereador com qualquer outro cargo, emprego ou função (CF/88, 
art. 38, III)20. 
Com relação aos cargos privativos de profissionais da saúde, essa alínea foi 
alterada pela EC no 34/2001, ampliando a antiga previsão, que se limitava 
a cargos privativos de médico para incluir profissionais de saúde, com 
profissões regulamentadas, como enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, 
odontólogo etc. 
Para qualificar-se determinado cargo como técnico ou científico, duas 
possibilidades devem ser bem delineadas. Exige-se, para provimento desse 
tipo de cargo, que o candidato tenha formação em curso de nível superior 
ou médio, desde que, neste caso, as atribuições do cargo emprestem-lhe 
características de “técnico”. 
São cargos técnicos de nível médio, entre outros, os seguintes: 
Programador, Técnico de Laboratório, Técnico de Contabilidade, Auxiliar de 
Enfermagem, Desenhista. Cargos de nível médio, cujas atribuições 
caracterizam-se como de natureza burocrática, repetitiva e de pouca ou 
nenhuma complexidade, não poderão, em face de não serem considerados 
técnicos ou científicos, ser acumulados com outro de magistério. Citem-se 
os seguintes exemplos: Agente Administrativo, Assistente em 
Administração, Agente de Portaria, Datilógrafo etc. 
A propósito, cite-se decisão do STJ: 
ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS. PROFESSOR APOSENTADO 
E AGENTE EDUCACIONAL. IMPOSSIBILIDADE. CARGO TÉCNICO 
OU CIENTÍFICO. NÃO-OCORRÊNCIA. (...) O Superior Tribunal de 
Justiça tem entendido que cargo técnico ou científico, para fins de 
acumulação com o de professor, nos termos do art. 37, XVII, da 
Lei Fundamental, é aquele para cujo exercício sejam exigidos 
conhecimentos técnicos específicos e habilitação legal, não 
necessariamente de nível superior. Hipótese em que a 
impetrante, professora aposentada, pretende acumular seus 
proventos com a remuneração do cargo de Agente Educacional II 
– Interação com o Educando – do Quadro dos Servidores de 
Escola do Estado do Rio Grande do Sul, para o qual não se exige 
conhecimento técnico ou habilitação legal específica, mas tão-
somente nível médio completo, nos termos da Lei Estadual 
11.672/2001. Suas atribuições são de inegável relevância, mas 
de natureza eminentemente burocrática, relacionadas ao apoio à 
atividade pedagógica.21disponibilidade, exerçam qualquer outra função pública, a não ser uma de magistério. Nesse 
mesmo sentido a ADI 3.574/SE, relator Ministro Ricardo Lewandowski, publicação DJ 
01/06/2007. 
19 Regulamentada pela Resolução CNMP nº 03, de 16 de dezembro de 2005, que possibilita a 
acumulação com magistério, público ou particular, por, no máximo, 20 (vinte) horas-aula 
semanais, consideradas como tais as efetivamente prestadas em sala de aula, bem assim, 
dentro desse limite, o exercício de cargos ou funções de coordenação (art. 1º, caput e 
parágrafo único). 
20 STF, ADI 307/CE, relator Ministro Eros Grau, publicação DJ 22/02/2008, Informativo 494. 
21 STJ, RMS 20.033/RS, relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, publicação DJ 12/03/2007. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
13 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
Saliento, ainda, que é proibida a acumulação ao militar (CF/88, art. 142, § 
3o, II e III). 
3.2 SERVIDORES INATIVOS 
Pela pertinência, vejam-se as possibilidades excepcionais de acumulação na 
aposentadoria, previstas no § 10 do art. 37 da CF/88, acrescentado pela EC 
no 20/98, que veio a pacificar o entendimento sobre o tema, já previsto no 
art. 118, § 3o, do Estatuto, alterado pela Lei no 9.527/97, in verbis: 
Considera-se acumulação proibida a percepção de vencimento de cargo ou 
emprego público efetivo com proventos da inatividade, salvo quando os 
cargos de que decorram essas remunerações forem acumuláveis na 
atividade. 
Dessa forma, podem ser acumulados os proventos de aposentadoria dos 
civis (CF/88, art. 40) e militares (CF/88, arts. 42 e 142), com a 
remuneração nas seguintes hipóteses: 
I – cargos acumuláveis na ativa; 
II – cargos eletivos; 
III – cargos em comissão, declarados em lei de livre exoneração. 
Assim, é possível acumular mais de uma aposentadoria, desde que, na 
ativa, a acumulação seja possível (CF/88, art. 40, § 6o). 
Lembre-se, por fim, que, antes da EC nº 20/98 era possível a acumulação 
da aposentadoria com qualquer cargo público. Portanto, para os que 
ingressaram até a datada sua publicação, mediante concurso público, ficou 
garantido o direito adquirido à percepção simultânea de proventos de 
aposentadoria com a remuneração de cargo público (EC nº 20/98, art. 11). 
Contudo, segundo entendem o STF e o STJ, não resguardou a percepção 
cumulativa de proventos de aposentadoria sob o mesmo regime22. 
3.3 CARGO EM COMISSÃO 
Sobre o acúmulo de cargos em comissão, tem-se, também de regra, a 
impossibilidade. Assim, o servidor não poderá exercer mais de um cargo em 
comissão, exceto no caso de interinidade, sem prejuízo das atribuições do 
que ocupa, nem ser remunerado pela participação em órgão de deliberação 
coletiva (art. 119). Segundo o parágrafo único desse art. 119, com redação 
dada pela MP no 2.225-45/2001, isso não se aplica à remuneração devida 
pela participação em conselhos de administração e fiscal das empresas 
públicas e sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas, 
bem como quaisquer empresas ou entidades em que a União, direta ou 
indiretamente, detenha participação no capital social, observado o que, a 
respeito, dispuser legislação específica. 
No caso de servidor, vinculado ao regime desta Lei, que acumula 
licitamente dois cargos efetivos, quando investido em cargo de provimento 
em comissão, ficará afastado de ambos os cargos efetivos. No entanto, se 
 
22 STJ, RMS 20.394/SC, relator Ministro Arnaldo Esteves Lima, publicação DJ 19/03/2007. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
14 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
houver compatibilidade de horário e local com o exercício de um deles, 
declarada pelas autoridades máximas dos órgãos ou entidades envolvidos, 
poderá acumular um cargo efetivo com outro em comissão (art. 120). 
Relembre-se a possibilidade, vista no item precedente, de acumulação dos 
proventos com cargo em comissão. 
4 RESPONSABILIDADES 
Todo servidor é responsável por suas ações e omissões, envolvendo as 
esferas civil, penal e administrativa, e por elas responde quando do 
exercício irregular de suas atribuições (art. 121). 
A responsabilidade civil decorre tanto de ato omissivo quanto de comissivo, 
seja ele doloso ou culposo, desde que resulte em prejuízo ao erário ou a 
terceiros (art. 122). Nessa esfera, há prejuízo patrimonial, ou seja, resulta 
em indenização do prejudicado pelo servidor faltoso. O Estatuto prevê ainda 
que a responsabilidade civil-administrativa resulta de ato omissivo ou 
comissivo praticado no desempenho do cargo ou função (art. 124). 
Quando o prejuízo causado ao erário for doloso, ou seja, com a intenção de 
provocá-lo ou assumindo seu risco, a indenização será liquidada no prazo 
máximo de 30 (trinta) dias, podendo ser parcelada, a pedido do 
interessado, sendo que o valor de cada parcela não poderá ser inferior ao 
correspondente a 10% (dez por cento) da remuneração, provento ou 
pensão (art. 46). Essa será a forma seguida, na falta de outros bens que 
assegurem a execução do débito pela via judicial (art. 122, § 1o). 
A responsabilidade do Estado por danos que seus agentes causarem a 
terceiros é objetiva, ou seja, independe de dolo ou culpa (CF/88, art. 37, § 
6o). 
Já a responsabilidade do servidor é subjetiva, é dizer, depende de 
comprovação de culpa lato sensu para que venha a responder pelo prejuízo. 
Dessa maneira, em havendo prejuízo do terceiro, desde que este não tenha 
culpa, cabe à Administração Pública ressarci-lo. Se ficar provada culpa do 
agente público, caberá responsabilização do servidor perante a Fazenda 
Pública, em ação regressiva (art. 122, § 2o), ou seja, o Estado indeniza o 
terceiro e o servidor indeniza aquele. Além da culpa do terceiro, também 
exclui a responsabilidade objetiva do Estado o prejuízo advindo de força 
maior ou caso fortuito. 
No que pertine à esfera judicial, o entendimento que vigora, de longa data, 
é o de que o particular pode propor a ação em litisconsórcio passivo 
facultativo, ou seja, se quiser, pode acionar o Estado e o agente público, ao 
mesmo tempo (STF, RE 90.071/SC, publicação DJ em 26/09/198023). 
Julgado recente do STF, todavia, lançou nova linha de raciocínio sobre o 
tema, decidindo que a vítima do dano não pode ajuizar ação, diretamente, 
contra o agente público (STF, RE 327.904, julgamento em 15/08/2006, 
 
23 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS DE DIREITO PÚBLICO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO 
MOVIDA CONTRA O ENTE PÚBLICO E O FUNCIONÁRIO CAUSADOR DO DANO. 
POSSIBILIDADE. O fato de a Constituição Federal prever direito regressivo às pessoas 
jurídicas de direito público contra o funcionário responsável pelo dano não impede que este 
último seja acionado conjuntamente com aquelas, vez que a hipótese configura típico 
litisconsórcio facultativo. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
15 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
publicação DJ 08/09/200624). Tal decisão concentrou-se no fato de envolver 
agente político (Prefeito25). Entendeu-se que, se eventual prejuízo ocorresse 
por força de agir tipicamente funcional, não haveria como se extrair do 
dispositivo constitucional a responsabilidade per saltum da pessoa natural 
do agente. Dessa forma, em princípio, não se pode incluir nessa 
interpretação o mesmo alcance para as demais categorias de agentes. 
Não se manifestou esse Tribunal sobre a possibilidade de a vítima do dano 
ingressar simultaneamente contra a Administração e o agente, formando 
litisconsórcio. No entanto, quando o STF diz que o art. 37, § 6º, consiste 
também em uma garantia para o agente público, que “somente responde 
administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro 
funcional pertencer”, conclui-se quenão poderia ele responder diretamente 
à pessoa que sofreu o dano, nem mesmo em litisconsórcio com a 
Administração. 
Ressalte-se que tal decisão foi proferida em uma Turma, enquanto a 
anterior, era do Pleno. Em face do tempo transcorrido entre ambas e da 
inovação agora implementada, é bastante possível que se consagre esse 
novo entendimento, afastando a possibilidade de ação diretamente contra o 
agente causador do dano, quando, repita-se, o prejuízo advém de conduta 
de agente político, cuja vontade se confunde com a vontade do Estado. 
Assim, nos termos dessa decisão, o art. 37, § 6º, da CF/88, consagra dupla 
garantia: uma em favor do particular, possibilitando-lhe ação indenizatória 
contra a pessoa jurídica de direito público ou de direito privado que preste 
serviço público; outra, em prol do servidor estatal, que somente responde 
administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro 
funcional pertencer. O particular que sofra o dano não pode, então, ajuizar 
ação, diretamente, contra o agente público; o agente público somente 
responde, regressivamente, à pessoa jurídica a cujos quadros funcionais 
pertencer. 
Note recente julgado noticiado pelo Informativo 519 do STF26: 
Responsabilidade Civil do Estado e Ato Decorrente do Exercício 
da Função 
A Turma deu provimento a recurso extraordinário para assentar 
a carência de ação de indenização por danos morais ajuizada em 
 
24 No caso, a recorrente propusera ação de perdas e danos em face de prefeito, pleiteando o 
ressarcimento de supostos prejuízos financeiros decorrentes de decreto de intervenção 
editado contra hospital e maternidade de sua propriedade. Esse processo fora declarado 
extinto, sem julgamento de mérito, por ilegitimidade passiva do réu, decisão mantida pelo 
Tribunal de Justiça local. Considerou-se que, na espécie, o decreto de intervenção em 
instituição privada seria ato típico da Administração Pública e, por isso, caberia ao Município 
responder objetivamente perante terceiros. (STF, Informativo 436). 
25 Em outra decisão, no mesmo sentido, estava envolvido magistrado: STF, RE 228.977/SP, 
relator Ministro Néri da Silveira, publicação DJ 12/04/2002: A autoridade judiciária não tem 
responsabilidade civil pelos atos jurisdicionais praticados. Os magistrados enquadram-se na 
espécie agente político, investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo 
dotados de plena liberdade funcional no desempenho de suas funções, com prerrogativas 
próprias e legislação específica. 3. Ação que deveria ter sido ajuizada contra a Fazenda 
Estadual - responsável eventual pelos alegados danos causados pela autoridade judicial, ao 
exercer suas atribuições -, a qual, posteriormente, terá assegurado o direito de regresso 
contra o magistrado responsável, nas hipóteses de dolo ou culpa. 
26 STF, RE 344.133/PE, relator Ministro Marco Aurélio, julgamento 9.9.2008, Informativo 
519. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
16 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
desfavor de diretor de universidade federal que, nessa 
qualidade, supostamente teria ofendido a honra e a imagem de 
subordinado. De início, rejeitou-se a pretendida competência da 
Justiça Federal (CF, art. 109, I) para julgar o feito. Asseverou-se 
que a competência é definida pelas balizas da ação proposta e 
que, no caso, a inicial revela que, em momento algum, a 
universidade federal fora acionada. Enfatizou-se, no ponto, que 
o ora recorrido ingressara com ação em face do recorrente, 
cidadão. Desse modo, pouco importaria que o ato praticado por 
este último o tivesse sido considerada certa qualificação 
profissional. De outro lado, reputou-se violado o § 6º do art. 
37 da CF, haja vista que a ação por danos causados pelo 
agente deve ser ajuizada contra a pessoa de direito 
público e as pessoas de direito privado prestadoras de 
serviços públicos, o que, no caso, evidenciaria a 
ilegitimidade passiva do recorrente. Concluiu-se que o 
recorrido não tinha de formalizar ação contra o 
recorrente, em razão da qualidade de agente desse 
último, tendo em conta que os atos praticados o foram 
personificando a pessoa jurídica de direito público. (grifou-
se) 
A doutrina discute, também, a aplicação da denunciação da lide, nos 
termos do art. 70, III, do CPC. Havendo ação do particular contra o Estado, 
a este caberia a denunciação da lide àquele que estiver obrigado a 
indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda. Vários 
são os argumentos contrários e a favor, mas, apenas para resumir, veja-se 
que, se a ação se baseia na culpa anônima, ou seja, se não se alega 
que houve culpa do agente, não caberia a denunciação. Por outro lado, 
caberia se houvesse argüição da culpa dele, bem assim a propositura 
da ação contra ambos (litisconsórcio passivo) ou somente contra o 
funcionário. 
De qualquer forma, repita-se que, na esfera do estatuto federal, resolveu-
se tal questão com a previsão de que o servidor responderá, perante a 
Fazenda Pública, em ação regressiva (art. 122, § 2o). 
Se falecer o servidor devedor, a obrigação de reparar o dano estende-se 
aos sucessores e contra eles será executada, até o limite do valor da 
herança recebida (art. 122, § 3o). Regra semelhante contém o art 5o,
XLV27, da CF/88. 
Assim, se a dívida for de $ 50, podem advir três possibilidades, para 
exemplificar: 
I – herança de $ 20. O Estado indeniza o administrado nos $ 50 
devidos e recebe $ 20 do espólio, nada restando aos herdeiros. O 
Estado fica com o prejuízo de $ 30, não podendo cobrar mais nada dos 
sucessores; 
II – herança de $ 50. Indenização ao administrado de $ 50 pelo 
Estado, que recebe os $ 50 do espólio, nada restando aos herdeiros; 
 
27 Art. 5º. (...) XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação 
de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas 
aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
17 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
III – herança de $ 90. Estado repassa ao administrado $ 50, recebe 
$ 50 do espólio, e os herdeiros distribuem os restantes $ 40. 
Outro comando constitucional está no art. 37, § 5o: “a lei estabelecerá os 
prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor 
ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações 
de ressarcimento”. 
Como foram ressalvadas as ações de ressarcimento, são estas 
imprescritíveis28, cabendo cobrança do quantum devido a qualquer tempo. 
Sobre a esfera da responsabilidade penal, esta abrange os crimes e 
contravenções imputadas ao servidor, nessa qualidade (art. 123). Os crimes 
funcionais estão previstos nos arts. 312 a 326 e arts. 359-A a 359-H, todos 
do Código Penal (CP), além de outras leis federais específicas. 
Cada uma das sanções, civis, penais e administrativas, é independente das 
demais, podendo cumular-se (art. 125). Um mesmo ato poderá redundar 
em ressarcimento de prejuízos, privação de liberdade e demissão ao 
servidor. 
Porém, não é absoluto o princípio da independência das instâncias, visto 
que há casos de interferência da decisão de uma esfera, a penal, nas 
demais. 
O processo penal, que pode envolver limitação a um direito de maior 
relevância social, qual seja, a liberdade, tem como corolário a busca pela 
máxima aproximação possível do que de fato ocorreu, não se limitando às 
provas produzidas pelas partes. Então, pode/deve o juiz determinar a 
produção de provas no processo penal, buscando sempre se aproximar da 
verdade dos fatos (CPP, art. 15629). 
Em face, pois, do maior rigor que envolve a decisão penal, afasta-se a 
responsabilidade administrativado servidor no caso de absolvição criminal 
que negue a existência do fato ou sua autoria (art. 126). 
No entanto, em face da independência entre as instâncias, a Administração 
Pública não precisa aguardar a conclusão da ação penal para demitir 
servidor submetido ao regular processo administrativo disciplinar, não 
sendo necessária a suspensão deste até o desfecho da ação penal a que 
responde o servidor pelo mesmo ato: 
SERVIDOR PÚBLICO. PENA DE DEMISSÃO. AUTONOMIA DA 
ESFERA PENAL E DA INSTÂNCIA ADMINISTRATIVA. As decisões 
emanadas do Poder Judiciário não condicionam o pronunciamento 
censório da Administração Pública nem lhe coarctam o exercício 
da competência disciplinar, exceto nos casos em que o juiz vier a 
proclamar a inexistência de autoria ou a inocorrência material do 
próprio fato, ou, ainda, a reconhecer a configuração de qualquer 
 
28 STF, MS 26.210/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, Informativos 518 e 523: TCU. 
BOLSISTA DO CNPq. DESCUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO DE RETORNAR AO PAÍS APÓS 
TÉRMINO DA CONCESSÃO DE BOLSA PARA ESTUDO NO EXTERIOR. RESSARCIMENTO AO 
ERÁRIO. O beneficiário de bolsa de estudos no exterior patrocinada pelo Poder Público, não 
pode alegar desconhecimento de obrigação constante no contrato por ele subscrito e nas 
normas do órgão provedor. Incidência, na espécie, do disposto no art. 37, § 5º, da 
Constituição Federal, no tocante à alegada prescrição. 
29 Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer; mas o juiz poderá, no curso da 
instrução ou antes de proferir sentença, determinar, de ofício, diligências para dirimir dúvida 
sobre ponto relevante. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
18 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
das causas de justificação penal. O exercício do poder disciplinar, 
pelo Estado, não está sujeito ao prévio encerramento da 
"persecutio criminis" que venha a ser instaurada perante órgão 
competente do Poder Judiciário. As sanções penais e 
administrativas, qualificando-se como respostas autônomas do 
Estado à prática de atos ilícitos cometidos pelos servidores 
públicos, não se condicionam reciprocamente, tornando-se 
possível, em conseqüência, a imposição da punição disciplinar, 
independentemente de prévia decisão da instância penal.30 
DISCIPLINAR. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA TAMBÉM TIPIFICADA 
COMO CRIME DE CONCUSSÃO. INDEPENDÊNCIA ENTRE AS 
ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA. SENTENÇA CRIMINAL 
TRANSITADA EM JULGADO. DESNECESSIDADE. Tendo em vista a 
independência das instâncias administrativa e penal, a sentença 
criminal somente afastará a punição administrativa se reconhecer 
a não-ocorrência do fato ou a negativa de autoria. Desse modo, 
sendo regular o procedimento administrativo que culminou com a 
aplicação da penalidade de demissão ao servidor, não enseja a 
sua anulação a pendência de julgamento da ação penal 
instaurada para a apuração do mesmo fato.31 
A Lei menciona expressamente a responsabilidade administrativa, mas o 
art. 935 do Código Civil (CC) estende essa vinculação à esfera a civil: 
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se 
podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o 
seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. 
Da mesma forma, resolvida a questão, na esfera penal, acerca da prática do 
ato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento 
de dever legal ou no exercício regular de direito, tal não se discute mais nas 
demais instâncias (art. 65, CPP32). No entanto, a ação civil poderá ser 
proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a 
inexistência material do fato (art. 66, CPP33). 
Ressalte-se que, “pela falta residual, não compreendida na absolvição pelo 
juízo criminal, é admissível a punição administrativa do servidor público” 
(STF, Súmula nº 18). O juiz criminal fará uma análise no que toca à 
existência ou não do crime, não se manifestando sobre eventuais ilícitos 
administrativos. Então, segundo citada Súmula, se houver falta residual, tal 
decisão do juízo criminal não influenciará a instância administrativa. Tal 
resíduo administrativo só pode existir num processo por crime funcional, e 
não por crime comum. 34 
 
30 STF, MS 22.155/GO, relator Ministro Celso de Mello, publicação DJ 24/11/2006. 
31 STJ, MS 9.318/DF, relatora Ministra Laurita Vaz, publicação DJ 18/12/2006. 
32 Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato 
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever 
legal ou no exercício regular de direito. 
33 Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser 
proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do 
fato. 
34 STF, RE 102.643/SP, relator Ministro Carlos Madeira, publicação DJ 16/06/1986: 
Funcionário. Demissão. Reintegração no cargo em virtude de absolvição na ação penal. Falta 
residual. Conceito. A falta residual que impede a reintegração do funcionário absolvido do 
crime que deu causa à sua demissão, e a que ao juiz criminal não cabia apurar. Só num 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
19 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
O Estatuto determina, ainda, o pagamento do auxílio-reclusão à família do 
servidor ativo quando afastado por motivo de prisão (art. 229). 
Do ocupante de cargos ou funções de chefia ou direção, exige-se que se 
tomem as providências necessárias no sentido de apurar a responsabilidade 
de seus subordinados, assim que tiver ciência de irregularidades, sob as 
penas do art. 320 do CP, também previstas como dever de qualquer 
servidor (art. 116, XII). 
5 PENALIDADES 
Sempre que um servidor faltar com seus deveres e obrigações, ou praticar 
alguma conduta proibida, estará sujeito às penalidades descritas no 
Estatuto, seguindo sempre o processo administrativo disciplinar 
correspondente. 
Administrativamente, tem-se que a pena disciplinar é a sanção aplicada 
pela autoridade competente ao servidor faltoso, após o devido processo 
administrativo disciplinar, que consiste em advertir, suspender, demitir, 
cassar sua aposentadoria ou disponibilidade, ou ainda destituir de cargo em 
comissão ou função comissionada, com reflexos variados, como nos 
vencimentos, tempo de serviço, progressão funcional e outros, além da 
possibilidade de se estenderem às esferas penal e civil, conforme o caso. “A 
não ser que se trate de medida extrema (pena de demissão), as sanções 
disciplinares, desde que aplicadas com justiça e eqüidade, se preordenam a 
promover a educação do punido, a espalhar exemplaridade no seio do 
funcionalismo e a preservar a ordem interna do órgão a que pertence o 
servidor apenado”.35 
São as seguintes as penalidades disciplinares (art. 127): 
I – advertência; 
II – suspensão; 
III – demissão; 
IV – cassação de aposentadoria ou disponibilidade; 
V – destituição de cargo em comissão; 
VI – destituição de função comissionada; 
VII – multa, como substituta da suspensão (art. 130, § 2o). 
Tal rol é exaustivo, numerus clausus, ou seja, não poderá o administrador 
“criar” ou “aplicar” outras sanções não previstas na lei. 
Quando da aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e a 
gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço 
público, as circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes 
funcionais (art. 128). Para garantir o pleno exercício da defesa, o ato de 
imposição da penalidade mencionará sempre o fundamento legal e a causa 
da sanção disciplinar (art. 128, parágrafo único). 
Assim manifestou-se o STJ:processo por crime funcional pode haver resíduo administrativo. Se o crime é comum, 
estranho à função, e o acusado vem a ser absolvido, desconstitui-se o ato demissório. 
35 COSTA, José Armando da. Teoria e Prática do Processo Administrativo Disciplinar. 4. ed. 
Brasília: Brasília Jurídica, 2002, p. 423. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
20 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
Na imposição de pena disciplinar, deve a autoridade observar o princípio da 
proporcionalidade, pondo em confronto a gravidade da falta, o dano 
causado ao serviço público, o grau de responsabilidade de servidor e os 
seus antecedentes funcionais de modo a demonstrar a justeza da sanção.36 
Impende destacar que, na aplicação da penalidade, deve a autoridade 
atentar para as garantias constitucionais insertas no art. 5º, XLVI, ‘e’, 
XLVII, ‘b’, e § 2º, da CF/88: 
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre 
outras, as seguintes: 
(...) 
e) suspensão ou interdição de direitos; 
XLVII - não haverá penas: 
(...) 
b) de caráter perpétuo; 
§ 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não 
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela 
adotados, ou dos tratados internacionais em que a República 
Federativa do Brasil seja parte. 
Com isso, a jurisprudência não tem admitido penas de caráter perpétuo na 
esfera administrativa, como se denota da leitura dos dois julgados abaixo, 
ainda que haja decisão em sentido contrário37: 
PENA DE INABILITAÇÃO PERMANENTE PARA O EXERCÍCIO DE 
CARGOS DE ADMINISTRAÇÃO OU GERÊNCIA DE INSTITUIÇÕES 
FINANCEIRAS. INADMISSIBILIDADE: ART. 5 , XLVI, "e", XLVII, 
"b", E § 2, DA C.F. No mérito, é de se manter o aresto, no ponto 
em que afastou o caráter permanente da pena de inabilitação 
imposta aos impetrantes, ora recorridos, em face do que dispõem 
o art. 5 , XLVI, "e", XLVII, "b", e § 2 da C.F. Não é caso, porém, 
de se anular a imposição de qualquer sanção, como resulta dos 
termos do pedido inicial e do próprio julgado que assim o deferiu. 
Na verdade, o Mandado de Segurança é de ser deferido, apenas 
para se afastar o caráter permanente da pena de inabilitação, 
devendo, então, o Conselho Monetário Nacional prosseguir no 
julgamento do pedido de revisão, convertendo-a em inabilitação 
temporária ou noutra, menos grave, que lhe parecer adequada. 
Nesses termos, o R.E. é conhecido, em parte, e, nessa parte, 
provido.38 
 
36 STJ, MS 8.106/DF, relator Ministro Vicente Leal, publicação DJ 28/10/2002. 
37 TRF 1ª Região, AC 95.01.25619-7 /DF, relator Juiz Federal Moacir Ferreira Ramos, 
publicação DJ 31/07/2003, trânsito em julgado do acórdão em 18/08/2003: 
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. CRM/GO. CASSAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 
DE CIRURGIÃO. CONFIRMAÇÃO DA AUTORIA DE ATO CIRÚRGICO. FUGA DA 
RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL. GARANTIDO O DIREITO DE AMPLA DEFESA E DO 
CONTRADITÓRIO. LEGALIDADE DA PENA. DESCARACTERIZADA A PENALIDADE COMO DE 
CARÁTER PERPÉTUO. ART. 5º, INCISO XLVII, ALÍNEA “b”, CF/88. Não há qualquer 
ilegalidade ou inconstitucionalidade na aplicação da pena de cassação do exercício 
profissional do médico, cuja paciente, submetida à cesariana, sofreu perda do útero e do 
ovário, em decorrência de verificada imperícia, imprudência e negligência na prática do ato 
cirúrgico. Tal pena não é de caráter perpétuo, visto que o preceito constante no art. 5º, 
XLVII, alínea "b", aplica-se somente no âmbito do direito penal. 
38 STF, RE 154.134/SP, relator Ministro Sydney Sanches, publicação DJ 29/10/1999. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
21 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
ADMINISTRATIVO. EXERCÍCIO PROFISSIONAL. CASSAÇÃO DE 
LICENCIAMENTO PARA PILOTAR AERONAVES. PENALIDADE 
PERPÉTUA: IMPOSSIBILIDADE. A punição de ordem 
administrativa não pode ter efeitos indefinidos no tempo (caráter 
perpétuo).39 
5.1 ADVERTÊNCIA 
As faltas leves serão punidas com a advertência, quando não justifique 
imposição de penalidade mais grave. Essa pena não era prevista no 
Estatuto de 1952, que, no entanto, estipulava a pena de repreensão para os 
casos de desobediência ou falta no cumprimento dos deveres (Lei no
1.711/52, art. 204). 
Será aplicada em especial nos casos de violação de proibição constante do 
art. 117, incisos I a VIII e XIX, do Estatuto, e de inobservância de dever 
funcional previsto em lei, regulamentação ou norma interna (art. 129). 
O servidor terá o registro de sua advertência feito nos seus assentamentos, 
que poderá ser consultado para análise quanto à reincidência, situação em 
que será aplicada a pena de suspensão (art. 130, primeira parte). 
No entanto, após o decurso de 3 (três) anos de efetivo exercício, se o 
servidor não houver, nesse período, praticado nova infração disciplinar, 
haverá o cancelamento desse registro que, por óbvio, não surtirá efeitos 
retroativos (art. 131). Os efeitos já produzidos pela penalidade aplicada não 
são alterados com esse cancelamento de registro. 
A partir da data em que o fato tornou-se conhecido, a ação disciplinar, 
quanto à advertência, prescreverá em 180 (cento e oitenta) dias (art. 142, 
III e § 1o). 
5.2 SUSPENSÃO E MULTA 
A suspensão será aplicada em caso de reincidência das faltas punidas com 
advertência e de violação das demais proibições que não tipifiquem infração 
sujeita à penalidade de demissão, não podendo exceder de 90 (noventa) 
dias (art. 130). Assim, cabe a suspensão nos casos previstos no art. 117, 
XVII e XVIII, do Estatuto. 
Cabe, ainda, a suspensão por até 15 (quinze) dias do servidor que, 
injustificadamente, recusar-se a ser submetido a inspeção médica 
determinada pela autoridade competente, cessando os efeitos da 
penalidade uma vez cumprida a determinação (art. 130, § 1o). 
Ainda que não mencionada expressamente no rol de penalidades do art. 
127, é possível a fixação de multa, como substituta da suspensão, quando 
houver conveniência para o serviço. Nessa hipótese, deverá o servidor 
suspenso permanecer em serviço, reduzindo-se o vencimento ou 
remuneração, a título de multa, à base de 50% (cinqüenta por cento) por 
dia. Então, se for suspenso por 30 (trinta) dias, no lugar de ficar afastado 
 
39 TRF 1ª Região, REO 91.01.05780-4/RR, relator Juiz Jirair Aram Meguerian, publicação DJ 
06/11/1997, trânsito em julgado do acórdão em 12/12/1997. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
22 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
de suas funções, permanecerá em atividade, porém receberá relativamente 
a apenas metade do valor devido nesse período (art. 130, § 2o). 
A suspensão também será registrada nos assentamentos do servidor. Após 
5 (cinco) anos de efetivo exercício, se o servidor não praticar, no período, 
nova infração disciplinar, esse registro será cancelado (art. 131). Como no 
caso da advertência, aqui também não surtirá efeitos retroativos tal 
cancelamento da penalidade. Exemplo de efeito retroativo seria o caso em 
que o suspenso, que teve sua pena convertida em multa, requisitasse, após 
o cancelamento do registro, a devolução da multa. Claro que isso não é 
possível. O objetivo desse cancelamento é proporcionar-lhe incentivo a que 
não pratique novas infrações, retornando à primariedade. 
A prescrição da ação disciplinar dar-se-á, quanto à suspensão, em 2 (dois) 
anos, contados da data em que o fato tornou-se conhecido (art. 142, II, e § 
1o). 
5.3 DEMISSÃO 
Faltas graves serão punidas com demissão, cuja diferenciação com a 
exoneração já foi explorada. 
O art. 132 relaciona os casos em que a demissão será aplicada: 
I – crime contra a Administração Pública; 
II – abandono de cargo; 
III – inassiduidade habitual; 
IV – improbidade administrativa; 
V – incontinênciapública e conduta escandalosa na repartição; 
VI – insubordinação grave em serviço; 
VII – ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em 
legítima defesa própria ou de outrem; 
VIII – aplicação irregular de dinheiros públicos; 
IX – revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; 
X – lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; 
XI – corrupção; 
XII – acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; 
XIII – valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em 
detrimento da dignidade da função pública; 
XIV – participar de gerência ou administração de empresa privada, 
sociedade civil, salvo a participação nos conselhos de administração e 
fiscal de empresas ou entidades em que a União detenha, direta ou 
indiretamente, participação do capital social, sendo-lhe vedado exercer 
o comércio, exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário; 
XV – atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições 
públicas, salvo quando se tratar de benefícios previdenciários ou 
assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou 
companheiro; 
XVI – receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer 
espécie, em razão de suas atribuições; 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
23 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
XVII – aceitar comissão, emprego ou pensão de estado estrangeiro; 
XVIII – praticar usura sob qualquer de suas formas; 
XIX – proceder de forma desidiosa; 
XX – utilizar pessoal ou recursos materiais da repartição em serviços 
ou atividades particulares. 
As hipóteses supramencionadas XIII a XX já foram esmiuçadas antes. 
Crimes contra a Administração Pública são os previstos no Código Penal, 
Título XI, arts. 312 a 359-H, e demais leis especiais. São, entre outros, o 
peculato, a concussão, o excesso de exação, a corrupção passiva, a 
facilitação de contrabando ou descaminho, a prevaricação. 
Dá-se o abandono de cargo quando o servidor ausenta-se do serviço, 
intencionalmente, por mais de 30 (trinta) dias consecutivos (art. 138). 
Então, há o abandono no trigésimo primeiro dia seguido de ausência 
injustificada. É também crime previsto no art. 323 do CP. 
Já a inassiduidade habitual é a falta ao serviço, sem causa justificada, por 
60 (sessenta) dias, interpoladamente, durante o período de 12 (doze) 
meses (art. 139). 
Ímprobo é aquele servidor desonesto, a quem falta integridade, retidão; 
portanto, também deve ser expurgado dos quadros públicos. A Lei nº 
8.429/9240, conhecida como Lei contra a Improbidade Administrativa, 
prevê, em seu art. 12, I a III, entre outras penas possíveis, a perda da 
função pública, repetindo regra inserta no art. 37, § 4º, CF/88. 
A incontinência pública ou a conduta escandalosa na repartição podem ser 
observadas nos casos previstos, entre outros, nos arts. 233 e 234 do 
Código Penal (ato ou objeto obsceno), ou ainda no art. 62 da Lei de 
Contravenções Penais, que se refere ao ébrio habitual. 
Como já se disse, a quebra da hierarquia na Administração Pública só pode 
ser justificada pela manifesta ilegalidade da ordem. Se a insubordinação em 
serviço for grave, cabe demissão. 
A lesão corporal está tipificada como crime no art. 129 do CP, com previsão 
de excludentes de ilicitude no art. 23 do mesmo Código Repressor (I – em 
estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito 
cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito). 
Como se denota da leitura do Estatuto, somente excepcionou da penalidade 
a legítima defesa própria ou de outrem, enquanto que a Lei Penal foi mais 
ampla. Porém, entendo que a ausência das demais excludentes não as 
afasta, pois seria mesmo ilógico e descabido demitir um servidor que 
ofende fisicamente outrem em, v.g., estado de necessidade. 
A aplicação irregular de dinheiros públicos foi criminalizada através do art. 
315 do CP, assim como a revelação de segredo do qual se apropriou, em 
razão do cargo, nos arts. 325 e 326, também do mesmo CP. 
A lesão aos cofres públicos41 refere-se a qualquer forma de prejudicar o 
erário no exercício da função pública, conceito que muitas vezes confunde-
se com a dilapidação do patrimônio nacional, que é seu esbanjamento, má 
 
40 Veja também o Decreto nº 983/93, que dispõe sobre a colaboração dos órgãos e 
entidades da Administração Pública Federal com o Ministério Público Federal na repressão a 
todas as formas de improbidade administrativa. 
41 Segundo a Advocacia-Geral da União, Parecer nº GQ – 164, "lesão aos cofres públicos" 
corresponde ao crime de peculato. 
ÉTICA P/ RECEITA FEDERAL 
PROFESSOR: LEANDRO CADENAS 
24 
Prof. Leandro Cadenas www.pontodosconcursos.com.br 
gestão das rendas públicas etc. Vê-se muito disso nas obras inacabadas e 
na compra de equipamentos que nunca são usados, como na Usina 
Termonuclear de Angra dos Reis, entre outros tantos casos. 
Corrupção tanto pode ser ativa, quem a oferece (CP, art. 333), quanto 
passiva, quem solicita ou recebe vantagem indevida (CP, art. 317). No caso 
do servidor público, este será demitido se praticar a figura da corrupção 
passiva, que consiste em solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta 
ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em 
razão dela, vantagem indevida ou aceitar promessa de tal vantagem. 
No item 17.3 desta Aula foram estudadas as possibilidades de acumulação 
legal de cargos, empregos ou funções públicas. Fora dessas exceções 
constitucionais, a acumulação resultará em demissão de todos os cargos, 
empregos ou funções públicas irregularmente acumulados. 
Acrescente-se ainda recente decisão do STF42, afastando a aplicação da 
garantia à grávida prevista no art. 10, II, ‘b’, do ADCT, onde se determina 
que: “fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada 
gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.” 
Nos termos da decisão, não é arbitrária a dispensa da servidora grávida se 
precedida de processo administrativo disciplinar, garantidos ampla defesa e 
contraditório. Ademais, o Ministro Marco Aurélio ressaltou, em seu voto, que 
o citado art. 10, II, ‘b’, do ADCT não se aplica às servidoras públicas. 
Cite-se também que, no caso específico dos empregados públicos, regidos 
pela CLT e pela Lei nº 9.962/200043, assim previu seu art. 3º: 
Art. 3o O contrato de trabalho por prazo indeterminado somente 
será rescindido por ato unilateral da Administração pública nas 
seguintes hipóteses: 
I – prática de falta grave, dentre as enumeradas no art. 482 da 
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT; 
II – acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; 
III – necessidade de redução de quadro de pessoal, por excesso 
de despesa, nos termos da lei complementar a que se refere o 
art. 169 da Constituição Federal; 
IV – insuficiência de desempenho, apurada em procedimento no 
qual se assegurem pelo menos um recurso hierárquico dotado de 
efeito suspensivo, que será apreciado em trinta dias, e o prévio 
conhecimento dos padrões mínimos exigidos para continuidade da 
relação de emprego, obrigatoriamente estabelecidos de acordo 
com as peculiaridades das atividades exercidas. 
Parágrafo único. Excluem-se da obrigatoriedade dos 
procedimentos previstos no caput as contratações de pessoal 
decorrentes da autonomia de gestão de que trata o § 8o do art. 
37 da Constituição Federal. 
Por fim, relembre-se que a legislação pátria prevê hipóteses de perda do 
cargo ou função pública como efeito da condenação na esfera penal, bem 
 
42 STF, MS 23.474/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, publicação DJ 22/09/2006. 
43 O STF, na ADI 2.135 (julgamento em 02/08/2007, DJ 14/08/2007), suspendeu, 
cautelarmente e com efeito ex nunc, a alteração do caput do

Continue navegando