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OFICINA LITERÁRIA AULA 11

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Oficina Literária
AULA 11: Leitura de Contos
CEL0762 – OFICINA LITERÁRIA
Aula 11: Leitura de contos
Produção Textual
AULA 02: O que é "texto".
O CONTO
Conto de Inverno – William Shakespeare
Oficina Literária
AULA 11: Leitura de Contos
Pequeno, guloso e curioso, perguntei a minha mãe 
como fazer panqueca. Ela me disse para misturar 
bem uma xícara de leite com dois ovos e mais uma 
xícara de farinha de trigo. Uma pitada de sal, duas 
colheres de manteiga e pronto. Derreta um 
pouquinho de manteiga numa frigideira quente, 
derrame uma concha da mistura na frigideira e 
espalhe sobre a superfície quente. Um pouco de 
um lado e depois do outro. Eis a panqueca.
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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AULA 11: Leitura de Contos
Anos mais tarde, ouvi meu pai perguntar a um 
guarda de estacionamento onde havia vaga. Ele 
disse para meu pai ir devagar pelos corredores 
até encontrar um lugar vazio, ali é a vaga. Uma 
resposta universal para vagas em qualquer 
estacionamento do mundo! Gostei muito. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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AULA 11: Leitura de Contos
Assim, há tempos, convivo com receitas e algoritmos. 
Existem sequências de operações que, quando executadas 
da mesma maneira, nas mesmas circunstâncias, levam 
sempre a um certo resultado esperado.
Vivi com isso por muito tempo até que reencontrei um 
velho amigo uruguaio. Maduro e bem rodado, meio 
cansado de certas coisas da vida. Em meio à conversa que 
mergulhou noite adentro, ele me perguntou se eu queria 
uma boa receita. Eu disses im, claro, do quê?
Como, do quê? É uma boa receita. Mania infernal esta, de 
que tudo tem que ter um propósito, tem que ser pra 
alguma coisa, disse ele. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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AULA 11: Leitura de Contos
Existem boas receitas. Simplesmente boas. Às vezes resultam 
numa coisa, às vezes noutras. Se quiser uma boa, anote aí.Eu 
anotei. 
Primeiro, com antecedência de meia hora, corte umas rodelas de 
laranja, bem finas, e as deixe imersas no Grand Marnier ou 
lambuzadas com um pouco de mel. Corte pedaços finos de maçã 
verde, ou de pêssego, e algumas rodelas finas de uva branca sem 
caroço, mas podem ser pedaços finos de pera. Quem sabe umas 
amoras também? Em uma jarra grande misture as lascas de 
frutas com uma garrafa de Chardonnay gelado ou outro branco 
seco qualquer. Adicione alguns cubos de gelo, a gosto.(...). Por 
fim, adicione uma garrafa de Prosecco gelado, ou qualquer outro 
espumante. Eis aí a primeira parte, o Clericot¹. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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Segundo, é preciso uma tarde ensolarada de verão ou 
primavera, mas pode ser de outono também. É desejável, mas 
não indispensável, uma brisa fresca. Convém que o lugar 
permita uma visão de horizonte largo. Verde é melhor, mas 
também não é preciso. Pode ser mar. Pode até ser uma 
paisagem urbana ou um quintal. Até mesmo destes pequenos, 
com varal.
Alto lá, eu disse, está tudo muito solto, muito aberto. Muito 
incerto. Me incomoda. Já me volta ao peito a juvenil e sombria 
sensação de que comigo as coisas não vão dar certo.
Fique frio, disse ele. Lembre-se que não há o que esperar. 
Ademais, não é tudo solto assim não. Anote aí. Até o fim. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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Terceiro, em seu aparelho de som, pode ser destes simples 
mesmo, ponha "On the Sunny Side of the Street", com Willie 
Nelson. Ou "Slow Boat to China", com Louis Armstrong. Ou 
mesmo "Let´s Misbehave", com Elvis Costello. Na verdade, 
pode ser qualquer música. É a gosto da pessoa. Melhor que 
seja baixo, mas pode ser alto também. Veja lá.
Quarto, tenha a seu lado uma mulher interessante. Nada de 
muito mais, mas absolutamente nada de menos.
Ele encerrou tudo com um você vai gostar. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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AULA 11: Leitura de Contos
Não me lembro como se perdeu o assunto naquela noite, mas as anotações estão 
aqui. Talvez ele não tenha falado em sorte porque a tem. 
Não sei, preciso pensar um pouco no assunto.
*Marcos Rodrigues é engenheiro civil , professor titular da Poli - USP e dedica-se 
também à literatura
¹Os ingleses, em meados do século XIX, no Punjab, na Índia, inventaram o Claret 
Cup. Este refrescante drinque era preparado com um gelado Claret (vinho de 
Bordeaux, França) com frutas e outros ingredientes. Esta bebida foi mais tarde 
levada para o Uruguai onde sofreu transformações, até no nome. Virou Clericot, 
pronunciado clericô. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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Muita gente define o conto como sendo uma narrativa pequena. Mas a definição 
precisa não é esta. A chave para se entender o conto, enquanto gênero, está na 
concentração de sua trama. Não é possível falar de vários assuntos ou apresentar 
várias situações dentro de um conto. Ele trata, geralmente, de uma situação, a qual 
se desenrola sem pausas e sem recuos.
O seu foco é levar o leitor ao desfecho, que é, também, o clímax da história. É o 
momento com o máximo de tensão. Neste momento final, quase não há 
descrições.
No conto, deve existir um cuidado na seleção de tudo aquilo que será apresentado 
ao leitor. Tudo deve ser muito simples, sem grandes complicações psicológicas e 
sem grandes peripécias. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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O conto é uma obra de ficção, um texto ficcional. Cria 
um universo de seres e acontecimentos de ficção, de 
fantasia ou imaginação. Como todos os textos de ficção, 
o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de 
vista e enredo.
Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua 
pequena extensão. Mais curto que a novela ou 
o romance, o conto tem uma estrutura fechada, 
desenvolve uma história e tem apenas um clímax. Num 
romance, a trama desdobra-se em conflitos secundários, 
o que não acontece com o conto. O conto é conciso. 
Uma boa receita -MarcosRodrigues*
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AULA 11: Leitura de Contos
Surgiu com as narrativas religiosas. As pequenas histórias bíblicas fazem parte do 
nascimento do conto.
Depois de anos, muitas narrativas religiosas foram, aos poucos, perdendo suas 
características, pois o folclore inseriu, em tais narrativas, dragões, seres fantásticos, 
fadas. Dessa forma, os contos de fadas e as fábulas vão absorver os elementos do 
folclore.
A palavra conto deriva do verbo contar, que tem sua origem em computare, isto é, 
enumerar objetos ou enumerar acontecimentos. Na Idade Média, contar era a 
mesma coisa que enumerar fatos ou relatar algo, construindo, assim, narrativas. 
Só, no século XVI, ganha, especificamente, um sentido literário, caracterizando-se 
como gênero. 
A HISTÓRIA DO CONTO
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O conto não fala de várias situações. 
Ele gravita em volta de um só conflito. 
Isto lhe garante unidade de ação. E, de 
onde surge o conflito? Ora, surge do 
embate entre as personagens. A 
respeito do conflito do conto, tudo 
converge para um único núcleo. O 
drama é só um, por isso não há 
grandes questionamentos.
A unidade do Conto
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No conto, o passado e o futuro não 
interessam. O que conta é o 
momento presente. 
Por isso, a personagem esgota, em 
apenas algumas horas, todas as suas 
potencialidades.
A unidade do Conto
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À unidade de ação corresponde a unidade de espaço. O que isto significa? 
Ora, apenas um ambiente se configura como palco do conflito. Ali está 
concentrada a dramaticidade. 
O espaço do conto
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AULA 11: Leitura de ContosTudo, neste tipo de narrativa, se passa 
em um tempo curtíssimo. São, apenas, 
algumas horas ou dias. 
Graças ao critério da brevidade, pode-se 
eliminar a incerteza entre o conto e o 
romance. O conto se distingue do 
romance, por ser um relato curto. (...). 
Ao conto, aplicar-se-iam regras de 
concentração (assunto único, 
personagens pouco numerosos etc.), 
narração pura (verídica ou fictícia). 
(STALLONI, 2003, p.118)
O tempo do conto
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O leitor é o foco do conto. Ele tem que 
ser impactado pela história que vai ler. 
Para ser interessante, o conto tem que 
ter um tom que desperte no leitor uma 
única impressão, a qual pode ser: pavor, 
piedade, ódio, simpatia, ternura ou 
indiferença.
O conto sempre opera com ação. Não 
opera com caracteres. Isto para 
despertar essa impressão única no leitor.
O conto e o leitor
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O conto tem como foco um tom que desperta no leitor uma única impressão. os 
conflitos apresentados funcionem como espelho para o leitor. Cria-se um 
movimento dei dentificação. Por isso, o contista se esforça para criar um drama que 
desperte, de forma quase imediata, um sentimento forte no leitor. 
O conto e o leitor
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Se a compreensão de um 
conto deve ser imediata, o 
leitor não pode se deparar 
com muitas metáforas. A 
linguagem, portanto, deve ser 
objetiva. Não há espaço para 
segundas intenções nas 
palavras. Não há espaço para 
obscuridades. As coisas são da 
forma como são ditas. 
A linguagem do conto
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No conto, a trama é linear e 
objetiva. O tempo 
predominante é o cronológico, 
sendo marcado regularmente. 
O leitor vê os fatos 
acontecerem com a mesma 
seqüência, com a mesma 
continuidade da vida real. O 
andamento é a ordem lógica 
da vida, caminhando para 
frente.
A estrutura do conto
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AULA 02: O que é "texto".
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