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Direito Civil: Fatos Jurídicos

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Direito Civil – Fatos Jurídicos | 2018 | 
FATO JURÍDICO
Fato jurídico é todo acontecimento relevante para o mundo do Direito, previsto em norma, em razão da qual nasce, modifica, subsiste e extingue a relação jurídica. Portanto, a relação jurídica surge em virtude de fato jurídico e como aplicação e decorrência da norma jurídica.
Fatos Naturais (Fatos Jurídicos Strictu Sensu)
Os fatos naturais são acontecimentos que decorrem da natureza e, portanto, independem de vontade humana para que sejam manifestados ou mesmo quando o homem tenha alguma contribuição, geralmente de forma indireta, para a sua ocorrência.
São divididos em: Fatos Naturais Ordinários – quando são esperados, como por exemplo, a morte, o nascimento, etc.;
Fatos Naturais Extraordinários – aqueles que são imprevisíveis, como terremotos, enchentes, raios, etc., que serão considerados apenas se gerarem consequências jurídicas. Ex.: Avião é atingido por um raio e todos os passageiros morrem.
Fatos Humanos (Fatos Jurídicos Latu Sensu)	
Os fatos humanos são acontecimentos que decorrem de conduta humana, também chamado de fatos volitivos, por necessariamente, manifestarem vontade. Estas ações são dependentes ou independentes da vontade humana e podem criar, modificar ou retirar direitos humanos e afetar a esfera jurídica. Elas são classificadas em atos lícitos e atos ilícitos.
Atos Lícitos: Todo e qualquer acontecimento da vida relevante para o mundo do Direito que dependa de vontade ou conduta humana e que seja reprimido por lei.
Negócio Jurídico: Consiste na manifestação de vontade que procura produzir determinado efeito jurídico, embora haja profundas divergências em sua conceituação doutrinária.
PRESCRIÇÃO
É a perda da pretensão de reparação do direito violado, em virtude da inercia de seu titular no prazo previsto pela lei, por meio de ação condenatória. *Pretensão é a possibilidade de exigir de outrem o cumprimento de determinado dever jurídico. Nasce no momento em que o direito subjetivo é violado. *Imprescrição -> Se aplica em casos que envolvem direitos subjetivos extrapatrimoniais. Em seu artigo 189, o Código Civil de 2002 passa a adotar a tese de que, violado um direito, nasce para o seu titular uma pretensão, que pode ser extinta pela prescrição, por relacionar-se com um direito subjetivo.
A prescrição é o que extingue a pretensão, com prazos estabelecidos somente pela lei. Deve ser conhecida de ofício pelo juiz e a parte não pode alegá-la, apenas pode ser renunciada pelo devedor após a consumação. O prazo prescricional não corre contra determinadas pessoas, sendo, geralmente, de 10 anos, como observa-se no artigo 205 do Código Civil, ou, em casos especiais, de 1, 2, 3, 4 e 5 anos, previstos no artigo 206 do mesmo Código.
CAUSAS IMPEDITIVAS DO PRAZO PRESCRICIONAL
AS CAUSAS IMPEDITIVAS DA PRESCRIÇÃOSÃO AS CIRCUNSTANCIAS QUE IMPEDEM QUE SEU CURSO INICIE E, AS SUSPENSIVAS, AS QUE PARALISAM TEMPORARIAMENTE O SEU CURSO; SUPERADO O FATO SUSPENSIVO, A PRESCRIÇÃO CONTINUA A CORRER, COMPUTADO O TEMPO DECORRIDO ANTES DELE.”
Sendo assim, as causas impeditivas da prescrição se fundam no status da pessoa, individual ou familiar, atendendo razões de confiança, amizade e motivos de ordem moral.
Primeiramente não corre prescrição no caso dos cônjuges, na constância do matrimônio. A propositura de ação judicial por um contra o outro seria fonte de invencível desarmonia conjugal. É provável que a influência do cônjuge impedisse seu consorte de ajuizar a ação, que no qual, se extinguiria pela prescrição (CC, art.197, I).
Também não há prescrição no pátrio poder do filho sobre influência dos pais, que o representam quando impúberes e assistem quando púbere. Não sendo certo, deixar que preservem seus direitos, se vissem os filhos obrigados à ação judicial, sob pena de prescrição (CC, art.197, II).
Não corre prescrição entre tutela e curatela. O tutor e o curador devem zelar pelos interesses de seus representados, e, para tanto, a lei suspende o curso da prescrição das ações que uns podem ter contra os outros, para evitar que descuidem dos interesses, quando conflitarem com esses (CC, art.197, III).
O artigo 198 do CC também estabelece que não corre prescrição contra: os absolutamente incapazes (CC, art,198, I). O prazo só começa a fluir depois que ultrapassarem a incapacidade absoluta.
Não corre prescrição contra os que estiverem a serviço público da União, dos Estados e Municípios, estão fora do Brasil (CC, art.198, II) e contra os que estiverem incorporados às Forças Armadas, em tempo de guerra. Suponha-se que estes estejam ocupados com os negócios do País, não tendo tempo para cuidar dos próprios (CC, art.198, III).
O artigo 199 do CC igualmente determina que não corre prescrição pendendo condição suspensiva (CC, art.199, I), não estando vencido o prazo (CC, art.199, II), pendendo ação de evicção (CC, art.199, III).
Já o artigo 200 do CC diz que não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, quando a ação originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal. Isso serve para evitar decisões contrapostas.
O artigo 201 determina que é suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitando os outros caso a obrigação for indivisível.
CAUSAS INTERRUPTIVAS DO PRAZO PRESCRICIONAL
“São AS QUE INUTILIZAM A PRESCRIÇÃO INICIADA, DE MODO QUE O SEU PRAZO RECOMEÇA A CORRER DA DATA DO ATO QUE A INTERROMPEU OU DO ÚLTIMO ATO DO PROCESSO QUE A INTERROMPER.”
O primeiro caso que interrompe a prescrição ocorre através do despacho do juiz, ainda que incompetente, que ordenar a citação, caso o interessado a promover no prazo e na forma da lei (CC, art. 202, I).
O segundo caso é pelo despacho que a ordena e não a citação propriamente dita, que tem o condão de interromper a prescrição. Sua eficácia fica dependendo de a citação efetuar-se no prazo determinado pela lei, esta admite que tal efeito se alcance ainda que a citação seja ordenada por juiz incompetente. A regra não beneficia alguém que de última hora queria se salvar da prescrição que está quase consumada, devido a sua negligência, requerendo que a prescrição seja interrompida perante o primeiro juiz que achar. A citação deve interromper a prescrição, que se revista de validade intrínseca, pois a prescrição não se interrompe com a citação nula, por vício de forma ou por achar perempta a instância ou a ação.
A terceira hipótese que interrompe a prescrição é através do protesto nas condições do primeiro inciso (CC, art. 202, II). Quando a lei diz: “nas condições do inciso anterior”, entende-se que o legislador está se referindo ao protesto judicial e não o protesto comum de título cambial. Esta solução, no começo, incerta na Jurisprudência, foi contestada em julgado unânime da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal.
Ademais, interrompe a prescrição pelo protesto cambial (CC, art.202, III), pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores (CC, art. 202, IV). Também revelando a esperteza do credor, interessado em defender sua prerrogativa. Bem como por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor (CC, art. 202, V) e por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe o reconhecimento do direito pelo devedor (CC, art.202, VI). Aqui se prescinde de um comportamento ativo do credor, sendo este, desnecessário dado o procedimento do devedor. Se este reconhece, inequivocamente, sua obrigação, seria estranho que o credor se apressasse em procurar tornar ainda mais veemente tal reconhecimento.
Sendo um exemplo, a hipótese se configura quando o devedor faz pagamento por conta da dívida, solicita ampliação do prazo, paga os juros vencidos, outorga novas garantias, e outros.
A esperteza precisa manifestar-se através de uma das maneiras enumeradas nos primeiros incisos do art. 202. Caso isso ocorra, a prescrição se interrompe para reencenar seu curso no minuto seguinte ao da interrupção.
A prescrição interrompida também pode correr da data do último ato do processo para interrompê-la (CC,art. 202, parágrafo único).
O artigo 203 mostra que a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado, sendo que o 204 do CC determina que a interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; e a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos coobrigados.
A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; sendo como, a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros (CC, art. 204, parágrafo primeiro). A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, somente quando se tratar de obrigações e direitos indivisíveis (CC, art. 204, parágrafo segundo). A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador (CC, art. 204, parágrafo terceiro).
Decadência
Diz respeito à perda de direitos potestativos por conta do decurso do tempo, manejado por uma ação constitutiva. A decadência é conceituada como a perda de um direito, em decorrência da ausência do seu exercício. Encontra-se na Parte Especial dos institutos jurídicos pertinentes, fazendo-se presente em dois estatutos: o Código Civil e o Código de Defesa do Consumidor. Os prazos decadenciais estão relacionados com direitos potestativos, bem como com aquelas ações que visam a constituir positiva ou negativamente atos e negócios jurídicos, como no caso da ação anulatória de negócio jurídico.
Direito Potestativo: É aquele que pode ser exercido sem que seja necessário a concordância de outra parte e também, sem exigir deveres da outra parte. Apenas fica sujeita à decisão. EX: Divórcio, demissão, anulação de contrato; 
A decadência legal deve ser reconhecida de ofício pelo juiz, segundo o art. 210 do CC, como ocorre com a prescrição, e não pode ser renunciada pela parte (art. 209, CC). Já a decadência convencional não pode ser reconhecida pelo juiz, como afirma o artigo 2011, CC, mas pode ser renunciada após a consumação, assim como ocorre com a prescrição. Como pode-se observar no artigo 207 do Código Civil, não se aplicam à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição, salvo disposição legal em contrário. Seus prazos são estabelecidos pela lei ou por convenção das partes. Corre contra todos indivíduos, com exceção dos absolutamente incapazes.
O prazo decadencial pode ser contado em dias, meses e anos. Podem ser fixados por lei ou por vontade das partes em um negócio jurídico. TODOS os prazos dentro do código civil, exceto os dispostos nos art. 205 e 206, SÃO DECADENCIAIS. Ex: art. 178, (anulação do NJ por defeito), art. 455 (Vícios Redibitórios), art. 1560 (anulação do casamento)
	A Decadência é matéria de ordem pública e de interesse social, pois confere segurança às relações jurídicas, tendo em vista a colocação de um limite para se exercer determinado direito. Senão, poderiam ocorrer casos de pedido de anulação de um contrato celebrado há mais de 10 anos.
	Assim que nasce o direito, a pessoa tem de exercê-lo, senão pode perde-lo por conta do prazo decadencial. 
CASO FORTUITO E FORÇA MAIOR
O caso fortuito e a força maior estão disciplinados no artigo 393 do Código Civil, verificando-se ambos quando os efeitos de um fato necessário não puderem ser evitados ou impedidos. Para Silvio Rodrigues (2007, p. 174.) “é, em rigor, o ato alheio à vontade das partes contratantes ou do agente causador do dano e que tampouco derivou da negligência, imprudência ou imperícia daquelas ou deste”. Veja que o caso fortuito e a força maior são, portanto, excludente de responsabilidade civil, pois põe fim a relação de causalidade entre a conduta do fornecedor e o dano sofrido pelo consumidor.
O caso fortuito decorreria das ações do homem (greve, assalto, motim, guerra, explosão de caldeira), enquanto a força maior viria da natureza (desabamento de um edifício em razão de tempestade ou terremoto, incêndio natural, tornado, naufrágio decorrente de maremoto, inundação que provocou mortes ou prejuízos materiais. De todo modo a força maior e o caso fortuito devem ser estranhos a vontade das partes, inexistindo culpa, pondo fim, portanto, ao nexo causal. 
O conceito dos dois institutos sempre gira em torno da imprevisibilidade e inevitabilidade, juntamente com a falta de culpa. 
ATO JURÍDICO
O ato jurídico, espécie de fato jurídico, é fruto da vontade humana. Pode-se dizer que são expressões da vontade humana, destinada a produção de efeitos. Há a vontade consciente e direcionada do homem para que o ato se manifeste e produza suas consequências, que são relevantes para o Direito. 
Os atos jurídicos, podem ser ilícitos ou lícitos. São ilícitos quando a vontade humana se para a produção de efeitos contrários às regras Ordenamento Jurídico. São lícitos, por sua vez, os atos que decorrem da vontade humana, que se destina a produção de conseqüências permitidas pelo Ordenamento Jurídico. 
Por fim , pode-se dizer que os atos jurídicos lícitos podem ser classificados em: ato jurídico strictu sensu e negócio jurídico. Nos atos jurídicos strictu sensu verifica-se que a vontade humana se dirige aos efeitos previamente estabelecidos em lei. E assim, não há criação de novos direitos, que são previamente previstos. Ressalta-se que as consequências não vão variar em relação às pessoas.
NEGÓCIO JURÍDICO
O Negócio Jurídico consiste na manifestação de vontade que procura produzir determinado efeito jurídico, embora haja profundas divergências em sua conceituação doutrinária. Trata-se de uma declaração de vontade que não apenas constitui um ato livre, mas pela qual o declarante procura uma relação jurídica entre as várias possibilidades que oferece o universo jurídico.
A teoria geral dos Negócios Jurídicos abriu a margem e horizonte a mais recente teoria geral dos contratos, levando-se em conta que o contrato é a principal manifestação do negócio jurídico.
Segundo Miguel Reale,“negócio jurídico é espécie de ato jurídico que, além de se originar em um ato de vontade, implica em declaração expressa da vontade, instauradora de uma relação entre dois ou mais sujeitos tendo em vista um objeto protegido pelo ordenamento jurídico.” 
De fato o negócio jurídico representa uma prerrogativa que o ordenamento jurídico confere ao indivíduo capaz de, por sua vontade, criar relações a que o direito empresta validade, uma vez que se conforme com a ordem social. O negócio jurídico é a declaração de vontade de um sujeito de direito voltada à produção dos efeitos jurídicos por ele pretendidos e predispostos, genérica ou especificamente, na lei. 
“É por meio do negócio jurídico que se dá vida às relações jurídicas tuteladas pelo direito”
Por fim, vale dizer que o negócio jurídico caracteriza-se pela maior liberdade de deliberação, na fixação dos termos e das decorrências jurídicas, como na compra e venda e nos contratos em geral.
O negócio jurídico revela a o papel da autonomia privada nas relações sociais, ou seja, é a possibilidade que o Ordenamento Jurídico confere aos particulares que criem regras específicas para as suas relações, desde que observados os limites gerais previstos.  As pessoas poderão inovar, criando novos direitos nas suas relações privadas. É o espaço conferido às partes para se auto determinarem, estabelecendo direitos e obrigações, dentro de suas relações pessoais, tendo o Direito estipulado os limites.
Requisitos do NJ – Agente capaz: O ideal é que haja um agente capaz, porém, quando houver um agente absolutamente incapaz, ele deverá ser representado por seu representante legal. Já quando o agente for relativamente incapaz, ele deverá ser assistido ao celebrar o negócio; Objeto lícito: Deve-se estar em conformidade com a norma jurídica e também respeitar a moral e os bons costumes; Norma prevista (ou não proibida por lei): É simplesmente a liberdade das formas limitadas pela lei. Que é o acordo de vontades a respeito do negócio que se celebra, como citado no início do artigo; Causa final: Se trata do motivo pelo qual as partes celebraram o negócio, devendosempre ter a finalidade lícita. (art. 104, CC/2002)
Efeitos do NJ – Gera direitos e obrigações; Obriga aquele que não cumpre com suas obrigações a pagar uma indenização por perdas e danos; Confere o direito de ação judicial para a defesa dos direitos correspondentes; e transfere aos herdeiros os direitos decorrentes do negócio jurídico (salvo nos casos de natureza personalíssima).
Classificações do NJ – O negócio deve ser unilateral, bilateral ou plurilateral.
Negócio unilateral acontece quando há declaração de vontade de apenas uma das partes (ex: testamento). Ele pode ser receptício, que ocorre quando quem recebe o efeito sabe a intenção/vontade da outra parte (exemplo: oferta de recompensa), ou não receptício, quando não se sabe da vontade da outra parte; Negócio bilateral ocorre com a declaração de vontade de ambas as partes, tendo efeitos no momento por elas determinadas enquanto vivas. E por fim, negócio Plurilateral se forma mediante associação de interesses em regime de comunhão de direitos.
Quanto à titularidade, pode ser inter vivos, se for celebrado e tiver efeitos durante a vida de ambas as partes, ou mortis causa, formado pela declaração de uma das partes e com efeitos apenas após a sua morte, desde que ocorra aceitação pela outra parte; Quanto à onerosidade. O negócio pode ser oneroso (há contraprestação), gratuito (apenas uma das partes tem vantagem patrimonial), neutro (sem alguma vantagem ou desvantagem para as partes) ou bifronte (quando o negócio se inicia oneroso e por fim acaba sendo gratuito, ou vice versa) dependendo se há disposição patrimonial de ambas as partes ou não; Quanto à forma. O Negócio pode ser formal, se tiver que adotar a forma prevista em lei para ter validade, e informal, cabendo apenas às parte estabelecerem livremente a forma a ser adotada.
Interpretação do NJ – Nas declarações de vontade se levará em conta mais a intenção real das partes do que o sentido literal usado por elas; No caso de dúvida, a interpretação será mais favorável ao devedor, pois toda obrigação é uma restrição de liberdade individual; Em caso de dúvida, a interpretação do contrato de adesão será mais favorável ao aderente; Na análise da eficácia do negócio jurídico, devem prevalecer os interesses sociais, direta ou indiretamente ligados, sobre os interesses meramente individuais das partes; A cláusula ambígua, omissa ou contraditória deve ser interpretada em conformidade com os costumes locais e de forma a se harmonizar com a natureza do negócio; São implícitas ao negócio as cláusulas de uso; Os atos benéficos são interpretados de forma restritiva; O conteúdo de um negócio compreende tão somente os bens que as partes pretendem por meio dele regular; A expressão ininteligível deve ser considerada não escrita; A transação deve ser interpretada de forma estrita; A fiança deve ser concedida por escrito e se sujeita à interpretação restritiva; O negócio inter vivos não se sujeita às mesmas regras interpretativas que o negócio causa mortis, devendo o testamento ser interpretado de acordo com o sentido dado pelo testador.
Elementos Acidentais do NJ – São estes a condição, o termo e o encargo.
Condição: Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto (art. 121, CC/2002). Trata-se do acontecimento futuro e incerto estabelecido por uma cláusula modificativa do ato ou do negócio jurídico. Ela aparece em três situações:Incertus an incertus à não se sabe se haverá, nem quando haverá; Incertus an certus à sabe-se que pode ocorrer até determinado tempo, mas não sabe se ocorrerá; Certus an incertus à conclui-se que haverá o acontecimento, mas sem saber quando.
ATENÇÃO: Não se sujeitam à condição: emancipação, casamento, reconhecimento de filiação, adoção, aceitação de herança e renúncia de herança; Invalidarão o negócio jurídico: As condições física ou juridicamente impossíveis, ilícitas ou de fazer coisa ilícita e incompreensíveis ou contraditórias. (art. 123, CC/2002); As condições com efeito sobre o ato ou o negócio podem ser suspensivas ou resolutivas; A condição suspensiva irá suspender a eficácia do ato ou do negócio, até que o acontecimento expresso na cláusula ocorra. Já a condição resolutiva (ou final) irá extinguir os efeitos do ato ou negócio realizado em virtude de ocorrência do evento futuro e incerto.
Termo – É o acontecimento futuro e certo. Pode ser classificado quanto aos seus efeitos, como suspensivo e resolutivo. Termo suspensivo estabelece que o ato ou negócio só passa a ter eficácia após ocorrer o evento futuro e certo. E Termo resolutivo é aquele que extingue os efeitos do ato ou negócio em virtude da ocorrência do evento futuro e certo.
Encargo – É a tarefa atribuída a uma pessoa que lhe impõe uma obrigação de fazer em virtude de um benefício com que veio a ser contemplada. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito (art. 136, CC/2002).
EVICÇÃO
A evicção ocorre quando o adquirente de um bem perde a propriedade, a posse ou o uso em razão de uma decisão judicial ou de um ato administrativo, que reconheça tal direito à terceiro, por uma situação preexistente (anterior) à compra. Terá então o adquirente o direito de recobrar de quem lhe transferiu esse domínio, ou que pagou pela coisa. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública.
Princípio da Autonomia: Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Garantia Legal: Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente.
Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. As benfeitorias necessárias ou úteis, não abonadas ao que sofreu a evicção, serão pagas pelo alienante. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.
Parte Considerável: Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
Denunciação à Lide: Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa. Base: Código Civil  - artigos 447 a 457.
VÍCIO REDIBITÓRIO
É o defeito oculto da coisa recebida que a torna inapropriada ao fim a que se destina ou que lhe diminui o valor. O adquirente poderá rejeitar a coisa ou requerer o abatimento do preço, devendo o alienante restituir-lhe o objeto adquirido com perdas e danos, caso tenha ciência do vício, ou somente o valor recebido, se não tiver conhecimentodo defeito. Os prazos para requerer a redibição ou abatimento do preço são de 30 (trinta) dias, se a coisa for móvel, ou um ano, se imóvel. É uma das manifestações do princípio da segurança jurídica, já que o alienante tem que garantir o uso da coisa, para que sua finalidade seja alcançada, ao adquirente. Válido aqui diferenciarmos o vício redibitório, do erro (vício do negócio jurídico): enquanto no vício redibitório o defeito está na coisa, no erro a coisa é perfeita e o adquirente é quem a adquire por engano; o prazo para reclamação no vício redibitório é de 30 dias para bens móveis e um ano para bens imóveis, enquanto no erro o prazo é de quatro anos; por fim, o vício redibitório dá ensejo à rescisão ou revisão contratual, enquanto o erro é passível de anulação do negócio. São requisitos do vício redibitório: vício oculto desconhecido do adquirente, o vício precisa ser grave a ponto de impedir o bom uso da coisa e deve existir no tempo do contrato. O adquirente, uma vez tendo descoberto o vício redibitório, tem duas alternativas: pedir a rescisão do contrato e exigir a devolução do valor pago, por meio de uma ação redibitória; ou ficar com a coisa e pedir o abatimento do preço, exigindo o valor proporcional mediante ação estimatória. A cláusula de garantia, implícita em todos os contratos, pode expressamente ser diminuída, aumentada ou renunciada, obedecendo-se aos princípios contratuais.
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO: Vícios de Consentimento
DOLO
Dolo é o expediente ardil que uma das partes se utiliza, para de modo malicioso enganar outro contratante, tendo como objeto, benefício a si ou a terceiro, levando-o a emitir uma declaração de vontade equivocada e não condizente com sua real intenção.
O dolo no direito civil não se confunde com o da ciência penal. Enquanto que criminalmente consiste em uma ação dirigida a um fim perseguido e contrario a lei, no âmbito civil, o dolo se estabelece como uma espécie de vicio do consentimento, caracterizado pelo artifício de enganar alguém. O Código Civil trata do dolo dos art. 145 a 150. Os dispositivos trazem os principais conceitos como o dolo principal, acidental, omissão dolosa, cometido por terceiro, de representação e negócios bilaterais com intenção reciprocamente dolosa.
Dolo principal: Conforme art. 145 do Código Civil o dolo só anula o negócio jurídico quando for causa determinante da declaração de vontade, ou seja, caso não fosse à existência do convencimento astucioso, o negócio não teria sido concretizado.
Dolo acidental: O Código Civil é literal ao caracterizar o dolo acidental, conforme art. 146 consiste em situações em que o negócio seria realizado embora de outro modo. Diz respeito às condições do negócio e não a substância do ato, ainda de acordo com o este dispositivo, só se obrigará a satisfação das perdas e danos, não podendo o negócio ser anulado.
Omissão dolosa: Em ressonância ao princípio da probidade e da boa-fé objetiva, o Código Civil eleva a omissão à condição de dolo. Nestes casos uma das partes intencionalmente omite qualidade essencial do objeto. A omissão intencional é um expediente ardiloso, e não se confunde com o erro, pois mesmo mantendo-se em silêncio, o agente atua com o intuito de promover o engano da outra parte.
Dolo cometido por terceiro: Dispõe o art. 148 do Código Civil que o dolo de terceiro só anula o negócio jurídico, quando dadas às circunstâncias, o contratante beneficiado dele soubesse ou devesse ter conhecimento.
O DOLO DO ESTRANHO VICIA O NEGÓCIO, SE, SENDO PRINCIPAL, ERA CONHECIDO DE UMA DAS PARTES, E ESTA NÃO ADVERTIU A OUTRA, PORQUE, NESTE CASO, ACEITOU A MAQUINAÇÃO, E DELA SE TORNOU CÚMPLICE, RESPONDENDO POR SUA MÁ-FÉ”.
Entretanto, se a parte beneficiada não sabia da trama empregada por terceiro, não se anulará o negócio jurídico. Não há fundamentos para que o ato de um estranho, do qual nem se tivesse notícia, pudesse ter o condão de anular o negócio jurídico praticado de boa-fé entre os contratantes. Neste caso a parte prejudicada poderá pleitear perdas e danos contra o terceiro que cometeu o ilícito.
Dolo por representação: Dispõe o art. 149 que o dolo do representante legal só obriga o representado a responder até a importância do proveito que teve, enquanto a do representante convencional acarreta a responsabilidade solidária. Isto é razoável, pois o representante legal não é escolhido pelo representado, atuando como curador ou tutor, são pessoas a quem a lei impõe uma obrigação de cuidado, dado a incapacidade fática de seus protegidos. No caso do representante convencional, existe a escolha do representado, que outorga poderes a outem para realização de negócios jurídicos com o mundo externo, como existe a criação espontânea de riscos, ficarão ampliadas suas obrigações.
Negócios bilaterais com intenção reciproca dolosa: Por fim resta-nos a análise do art. 150, seu conceito funda-se no princípio de que ninguém pode se valer de sua própria torpeza, dai surge a assertiva de que se ambas as partes procedem com dolo, nenhuma poderá se valer da anulação do negócio jurídico. Tal interpretação reflete os vetores interpretativos das relações privadas, diga-se novamente boa-fé objetiva, pois o ordenamento só dará instrumento de proteção aos que são leais a sua causa.
ERRO
O erro se caracteriza pela falsa interpretação da realidade.
Neste caso, o agente imagina uma situação que não existe, e por conta disto, emite uma declaração de vontade, sem estar totalmente consciente da veracidade dos fatos que envolvem o negócio jurídico. Um exemplo prático utilizado pela doutrina é a do anel de brilhante. Nesta fábula, um marido querendo presentear sua esposa, vai a uma loja, e pensando se tratar de uma joia com adorno em diamante, compra na verdade, uma bijuteria de vidro. O vendedor, podendo perceber o engano, deixa o pobre homem cometer o ato impróprio.
Note que na hipótese de erro o agente engana-se sozinho. A parte que se engana, não é induzida a falha pelo outro contratante, a confusão surge então, por ação própria do declarante. O Código Civil trata deste vício do consentimento entre os art. 138 e 144. O primeiro conceito levantado pelo ordenamento é o de não permitir a invalidade de negócios jurídicos por qualquer tipo de engano, para que se permita a anulabilidade do ato, o erro deve ser substancial.
Erro Substancial: Conforme art. 138 do Código Civil, somente serão anuláveis as declarações de vontade que emanarem de erro substancial. Segundo Francisco Amaral, é substancial o erro que foi causa determinante, e que sem ele, o ato não se realizaria. Nos casos de erro substancial, a confusão toma aspecto relevante, sendo a principal causa viabilizadora do negócio jurídico.
Erro Acidental: Do outro lado está o erro acidental, aqui a falsa ideia tem caráter acessório, pois o agente continuaria a pactuar, mesmo conhecendo a real condição do negócio jurídico.
Propõe-se que no caso de mero erro de cálculo (art. 143 – CC), fica autorizada somente a retificação da declaração da vontade, não possibilitando à anulação total do ato. Essas são situações em que se observam apenas inconsistências de valores, permanecendo o conteúdo do contrato, substancialmente reto, a verdadeira vontade dos pactuantes.
Cognocibilidade: O Código Civil de 2002 adota o princípio da cognoscibilidade (teoria da confiança), ou seja, basta que o erro possa ser perceptível pelo contratante beneficiado, para que seja possível a anulabilidade do ato.
Espécies de Erro Substancial – Atualmente, o ordenamento divide as espécies de erro substancial (art. 139 – CC) em:
1) erro sobre a natureza do negócio (error in negotio); o declarante pensa realizar um tipo de negócio jurídico, e na verdade realiza outro diferente (p. ex: uma pessoa aluga sua casa, e a outra pensa estar numa compra a prazo).
2) erro sobre o objeto principal da declaração (error in corpore);o negócio é feito sobre objeto diverso do imaginado (p. ex: uma pessoa vende um carro popular, enquanto o outro imagina se tratar de um modelo importado).
3) erro sobreas qualidades essenciais do objeto (error in qualitate); pressupõe-se uma qualidade essencial, que posteriormente, constata-se não existir (p. ex: pensa ser um anel com adorno em diamante, e verifica-se em seguinte se tratar de vidro)
4) erro quanto a identidade da pessoa (error in persona); faz-se uma declaração expressa, vinculando o negócio jurídico à identidade ou qualidade da pessoa (p. ex: um testamento deixado a determinado filho, que descobre-se ser descendente ilegítimo).
5) Erro de direito (error juris); quando por ignorância dos ditames legais, e sem manifestada intenção ilícita, pratica-se negócio jurídico que posteriormente mostre-se proibido por lei. (p. ex: enfermo que importa medicamente proibido pela ANVISA).
Ainda, segundo o art. 144 do Código Civil, existe a opção de conservação do negócio jurídico eivado por vício de erro. Extinguirá a possibilidade anulatória, quando, a pessoa a quem a manifestação de vontade se dirige, se dispuser a executar o negócio jurídico em conformidade com a vontade real do manifestante. Situação em que o vendedor se dispõe a entregar o anel de brilhante ao marido, no caso acima narrado.
COAÇÃO
A coação é a hipótese mais grave de vício de consentimento. Nestes casos uma das partes faz uso de violência psicológica (ameaça), para utilizando do temor infundido na vítima como instrumento, tomar vantagem em negócio jurídico para si ou para outrem. É por conta deste medo que a parte coagida faz uma declaração de vontade não condizente com sua real intenção, era o que os romanos chamavam mentis trepidatio (a mente estremecida).
Há parte da doutrina que considere a coação, seja de via física (absoluta) ou moral (compulsiva), causa que torne inexistente o ato negocial, pois ao incidir profundamente no psicológico do sujeito, limita veementemente suas possibilidades de escolha, afetando assim o principal pressuposto dos negócios jurídicos, a própria declaração de vontade.
O Código Civil trata deste vício do consentimento dos art. 151 a 160. Por meio dos dispositivos legais são expostos os elementos constitutivos da coação, o conceito de temor reverencial e os possíveis efeitos da coação exercida por terceiros.
Elementos Constitutivos – Dispõe o art. 151 que a coação para tornar o negócio jurídico anulável deverá ter agido de modo determinante, sendo de natureza grave, dizer respeito a dano atual ou iminente, e constituir ameaça de prejuízo a pessoa e/ou bens da vítima e/ou de sua família.
Causa determinante: aqui se avalia a preponderância da coação, ela deve ter se dado de tal modo que o negócio não seria concretizado sem a ameaça ou violência; Natureza grave: deve efetivamente incutir temor na vitima, a ameaça deve ter o potencial de fazer o declarante se sentir coagido. Conforme art. 152 será utilizado o critério concreto, ou seja, serão considerados os aspectos particulares da vitima; Dano atual e eminente: A AMEAÇA DE UM MAL IMPOSSÍVEL, REMOTO OU EVITÁVEL, NÃO CONSTITUI COAÇÃO CAPAZ DE VICIAR O ATO.  AQUILO QUE NÃO ESTÁ PRESTES A ACONTECER, PERMITE SOCORRO, ELIDINDO OS EFEITOS DA COAÇÃO”; Bens pessoais ou de família: O parágrafo único do art. 151 esclarece que além dos laços de consanguinidade ou afinidade, é considerada coação a ameaça feita contra pessoa, que mesmo fora do vínculo familiar, tenha por sua proximidade e circunstância do caso, a aptidão de sensibilizar o declarante
Temor reverencial – Diz o art. 153 que não se considera coação o simples temor reverencial. Assim, os atos de filhos ou subalternos, que com receio de desgostar os pais ou superiores hierárquicos, e sem receber nenhum tipo de ameaça, tenham pactuado em negócios jurídicos prejudiciais a si mesmo, não terão o direito de pleitear a anulabilidade desses atos.
Coação de terceiros – Conforme art. 154 e 155, caso a parte beneficiada soubesse ou devesse conhecimento da coação, o negócio terá por anulável e haverá responsabilidade solidária da parte pactuante com o terceiro coator. Por outro lado, caso não fosse possível sua ciência, o negócio não poderá ser anulado, e somente o terceiro deverá responder por perdas e danos.
Prazo decadencial da coação – Dentre as hipóteses de vício do consentimento, a coação é a exceção no tocar da contagem de prazo decadencial. Conforme art. 178, enquanto que para as outras hipóteses o prazo de 4 (anos) comece a contar da data da realização do negócio jurídico, a coação começa sua contagem a partir do momento em que se cessaram as ameaças.
ESTADO DE PERIGO
O estado de perigo positiva o princípio jurídico de que ninguém poderá valer-se de sua própria torpeza (nemo auditur propriam turpitudinem allegans). Em suma, o conceito tem por finalidade não permitir que alguns tomem a desgraça alheia como forma de levar vantagem desproporcional em negócios jurídicos.
Imagine um médico inescrupuloso, que exige valor exorbitante para executar um procedimento simples, porém urgente, em determinado paciente. Aliás, a jurisprudência é repleta de julgados envolvendo hospitais que solicitam depósitos em dinheiro, como prerrogativa para permitir a entrada e tratamento em casos emergenciais.
O Código Civil trata muito bem do tema no art. 156, o dispositivo enumera os elementos constitutivos peculiares deste vicio do consentimento. Dispõe que: O ESTADO DE PERIGO CONFIGURA-SE QUANDO ALGUÉM, PREMIDO DA NECESSIDADE DE SALVAR-SE, OU A ALGUÉM DE SUA FAMÍLIA, DE GRAVE DANO CONHECIDO DA OUTRA PARTE, ASSUME OBRIGAÇÃO EXCESSIVAMENTE ONEROSA”.
Situação de necessidade eminente: No estado de perigo, o risco de vida é o fator fático ou putativo que coloca o contratante em situação desprivilegiada. Seja por doença ou catástrofe natural, sobre si ou pessoa de sua família, o declarante enfrenta uma situação emergencial, desta forma, a não aceitação das condições impostas, significarão a ocorrência de dano grave. Note que o perigo deve ser atual e eminente, pois como vimos na lição sobre coação, tudo aquilo que pode se prolatar no tempo, abre possibilidade para que seja resolvido de modo mais razoável.
Dolo de aproveitamento: A má-fé caracteriza o estado de perigo. Diferentemente da lesão, aqui se faz necessário que a parte beneficiada conheça a situação desfavorável do declarante. O declaratário toma o risco enfrentado pela outra parte, e intencionalmente, se aproveita disso para obter vantagem no negócio jurídico.
Assim, conforme passagem do art. 156: “ser o dano conhecido da outra parte”, o conceito de dolo de aproveitamento faz parte integral deste vício do consentimento.
Assunção de obrigação excessivamente onerosa: A obrigação desproporcional é a prova material e a consequência econômica do estado de perigo. Os elementos anteriores só serão passíveis de anulação, em juízo, se verificado que as prestações contratadas são excessivamente maiores em relação à média do mercado à época da contração.
LESÃO
A lesão é o último vício do consentimento adicionado ao ordenamento jurídico pelo Código Civil de 2002. Conforme art 157.” Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestadamente desproporcional ao valor da prestação oposta.”
A lesão resulta em um contrato com prestações desproporcionais. Uma das partes obtém vantagem no resultado do negócio jurídico, em detrimento à condição desfavorável do outro pactuante.
A condição desfavorável da parte lesada, tem origem em sua inexperiência para o negócio jurídico ou por situação de necessidade vivida em sua vida pessoal. Essas são as causas determinantes do ânimo do pactuante lesado em relação ao ato negocial.
Imaginemos uma velha senhora, que por sua ingenuidade, compra um veículo usado a valor muito superior ao praticado no mercado (inexperiência). Ou de alguém, que vende seus bens a um preço mínimo tendo em vista levantar recursos para execução de uma reforma urgente em sua residência (situação de necessidade).
Elemento objetivo: A prova material da lesão são as prestações desproporcionais. Este vício do consentimento só se materializa, quando, da vontadelesada de uma das partes surja um resultado obrigacional desproporcional. Além deste aspecto material, existe também uma relação temporal a ser observada.
O art. 157 em seu parágrafo primeiro emenda: “aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.”
A desproporção deve ser apurada segundo os valores da época da contratação. A lesão está incorporada ao um nexo temporal, assim, a desvalorização da moeda não poderá ser arguida como seu objeto. A onerosidade excessiva (rebus sic stantibus) se trata de outro instituto de arguição, gerado por fato superveniente e não escusável para a anulação do negócio jurídico.
Outro ponto, é que o Código Civil não estabelece um critério quantitativo de desproporção. Trata-se de uma cláusula geral, esta perspectiva operacionalista do Código atual, permite a discricionariedade do juiz em estabelecer um parâmetro individual ao caso concreto
Elemento Subjetivo: A lesão decorre da inexperiência e da necessidade pessoal. Diferente do estado de perigo que exige o risco de vida e o conhecimento da outra parte, a lesão não requer o dolo de aproveitamento, e o seu estado de urgência possui conotação patrimonial.
Conforme Enunciado 150 da Jornada de Direito Civil, realizado pelo Conselho de Justiça Federal: “a lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de aproveitamento”.
A lesão trata principalmente da relação de confiança que deve ser respeitada entre os pactuantes. Seu objetivo, é proteger os vetores interpretativos da boa-fé objetiva e da função social dos contratos. Estabelece assim um padrão de conduta e idoneidade, a ser observado na formação da vontade e resultado dos atos negociais.
Por fim, ressaltamos a opção pela continuidade dos contratos maculados com a lesão. O parágrafo 2º do art. 157 pontua: “não será decretada a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito”.
VÍCIOS SOCIAIS
Fraude Contra Credores
A fraude contra credores é classificada como vício social vez que o devedor, objetivando inadimplir com a obrigação assumida perante seu credor, firma contrato com terceiro alienando bens que garantiriam sua solvência. Aqui o terceiro tem ciência do motivo da disposição do bem, e em conluio com o devedor, conclui o negócio em prejuízo do credor. É regido pelo princípio da responsabilidade patrimonial segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. Esse patrimônio, se desfalcado maliciosamente, e de tal maneira que torne o devedor insolvente, estará configurada a fraude contra credores.
Para caracterizar a fraude, o devedor deve firmar o negócio estando em estado de insolvência, ou tornar-se insolvente em razão do desfalque patrimonial promovido. Enquanto seu patrimônio bastar para o pagamento das suas dívidas, terá total liberdade de dispor dele.
A grande problemática colocada neste tema é a escolha entre a proteção dos interesses do adquirente de boa-fé ou do credores. Escolheu a lei proteger o adquirente de boa-fé, como bem pode ser observado na ação pauliana (ou revocatória), usada para rever o contrato que colocou o devedor em estado de insolvência, que tem como um de seus requisitos o consilium fraudis, como será visto mais adiante.
Os requisitos para a caracterização da fraude contra credores são:
a) Eventus damni – É o tornar-se insolvente em virtude da alienação do bem de sua propriedade para terceiro. O estado de insolvência não precisa ser de conhecimento do devedor, é objetivo, ou seja, existe ou não, independentemente do conhecimento do insolvente.
b) Consilium fraudis – O termo significa conluio fraudulento, pois alienante (devedor) e adquirente (comprador) têm ciência do prejuízo que causarão ao credor em vista da alienação de bens que garantiriam o adimplemento da obrigação assumida, mas os alienam de má-fé visando frustrar o cumprimento (pagamento) do negócio, e por isso se faz necessária a intervenção judicial. A boa-fé do adquirente impede a caracterização do consilium fraudis, requisito essencial para ajuizamento da ação paulina.
Esses dois requisitos devem ser provados pelo credor para que seu pedido seja procedente, e assim ser declarada a ineficácia relativa do negócio jurídico fraudulento firmado entre as partes.
O consilium fraudis não precisará ser provado, excepcionalmente, em algumas hipóteses previstas no Código Civil, quando a lei presume a existência de propósito de fraude.
Não apenas nas transmissões onerosas pode ocorrer a fraude contra credores. O Código Civil inclui também a transmissão gratuita de bens, a remissão de dívidas, o pagamento antecipado de dívidas vincendas e a constituição de garantias a algum credor quirografário.
Exceções ao consilium fraudis – presunção - Os atos de transmissão gratuitos de bens (doações) e as remissões de dívidas antecipadas (perdão), quando praticados levando o devedor à insolvência, ou já o sendo, não será necessária a prova do consilium fraudis, pois a lei o presumirá.  Preferiu a lei os credores que procuram evitar um prejuízo, aos donatários, que visam assegurar o lucro, incluindo as remissões de dívidas, que assim como as doações e o perdão são liberalidades dos devedores.
Também se presumem fraudulentos o pagamento antecipado de dívida à credores quirografários, tendo por escopo colocar em situação de igualdade todos os credores, incidindo a regra do artigo 162 do Código Civil. Estando a dívida vencida, seu pagamento não poderá ser considerado fraude.
Outra atitude presumidamente fraudulenta é a concessão de garantias de dívidas à outros credores (hipoteca, penhor e anticrese) pelo devedor já insolvente, colocando-os em posição mais vantajosa que os demais. Será retirada, neste caso, apenas a garantia, retornando estes devedores à condição de quirografários.
Em contrapartida, certos atos são presumidos de boa-fé pela lei, não podendo ser alcançados pela ação pauliana. Todos os negócios indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural ou industrial, ou ainda à subsistência do devedor e de sua família (art. 164 do Código Civil) são incluídos neste rol.
Da Ação Pauliana: O meio para reconhecimento da fraude contra credores é a Ação Pauliana, também chamada de Revocatória, que tem por finalidade a aplicação do princípio da responsabilidade patrimonial do devedor, restaurando-se aquela garantia dos seus bens em favor de seus credores. Não tem o condão de anular o ato fraudulento, mas proclama a sua ineficácia relativa, tornando-o inoponível ao credor fraudado, o qual poderá agir, na defesa do seu crédito, sobre o bem ou bens transferidos do patrimônio do devedor para o de terceiro, partícipe da fraude. Corrente minoritária defende que o negócio deve ser anulado ao invés de ser declarada a sua ineficácia.
Legitimidade para ação: Os legitimados são os credores quirografários, não podendo beneficiar desta ação os que possuem garantias reais, já que têm bens determinados afetados para a quitação da dívida, e que se forem alienados permitirá ao credor exercer o direito de sequela, penhorando-o nas mãos de quem quer que esteja. Mas, se a garantia tornar-se insuficiente, poderá propô-la.
 
SIMULAÇÃO
	A simulação se caracteriza por um desacordo intencional entre a vontade interna e a declarada, no sentido de criar, aparentemente, um ato jurídico que, de fato, não existe, ou então oculta, sob determinada aparência, o ato realmente querido. Uma simulação é “uma declaração enganosa da verdade, visando a produzir efeito diverso do ostensivamente indicado” (Beviláqua, Clóvis).
Características a) Declaração bilateral de vontade (em regra). Segundo Espínola é possível se tratar de vontade unilateral. b) Sempre participa em acordo com o agente outra (s) pessoa (s), a quem ela se destina. c) Não corresponde à verdadeira intenção das partes. d) É feita para enganar terceiros.
Para Ferrara, a simulação é resultado do acordo de duas partes (bilateral), mas a característica mais importanteé o conhecimento pela outra parte e a ignorância total do (s) terceiro (s), de quem o negocio real é ocultado.
Vejamos alguns exemplos:
Devedor que simula alienar um bem para fraudar credores: Vemos nesse exemplo, igualmente configuradas as 4 (quatro) condições para se caracterizar o negócio jurídico como simulação.
Espécies: A doutrina distingue duas espécies de simulação: absoluta e relativa.
Na absoluta “as partes, querem que o negócio não produza seus efeitos típicos”(Gomes, O.); “não querem praticar o ato, embora aparentem fazê-lo” (Amaral, F); caracteriza-se “pela completa ausência de qualquer realidade.
Exemplos:- Devedor simula vender seus bens a parentes e amigos, a fim de que aqueles se subtraiam à execução dos credores.
Já na simulação relativa, existe a intenção de realizar o negócio, mas ele é diverso do fato realizado e, como consequência, aparece a figura de um prestanome, ou testa-de-ferro.
Nas palavras de Orlando Gomes há simulação relativa “quando ao lado do negócio simulado, há um contrato dissimulado que disfarça sua verdadeira causa e seu conteúdo”. Restam dois contratos, um aparente (simulado) e outro real (dissimulado).
Ex - Alguém não podendo vender bens a seus descendentes (art. 496, CC/02) simula alienação a terceiro, para este concretizar o negócio com o comprador pretendido originalmente (descendente).
Quando a segunda parte do negócio (dissimulação) for licita, subsistirá na substância e na forma.
O artigo 167 do Código Civil de 2002 dispõe que haverá simulação do negócio jurídico quando: Aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversos daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; Os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados.
Simulação Relativa: São subjetivos, como o disposto no inciso I do art. 167, quando a parte constante do contrato não é a pessoa que deve aproveitar do contrato: Objetiva é a simulação que se refere à natureza, ao objeto ou a um dos elementos do contrato, como, por exemplo, quanto se finge uma venda para se fazer uma doação.
Em muitos casos a simulação não visaria prejudicar a terceiros, mas apenas evitar atritos e dissensões. Exemplo claro é quando o homem solteiro, sem herdeiros necessários, simula alienação de imóvel para namorada, quando na verdade, está fazendo doação. Esta seria uma simulação inocente. 
Diz o artigo 168: As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir. Parágrafo Único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou de seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
Segundo nota W. B. Monteiro “a lei retira toda validade ao ato por ela viciado”, dede que seja feito no sentido de burlar a lei, ou prejudicar terceiros.
Ainda segundo Monteiro, “os simuladores não podem arguir a simulação, em litígio um com outro, ou contra terceiros”.
Para Orlando Gomes, “para terceiros prejudicados, a prova da simulação é livre”.
Ainda Orlando Gomes: “da simulação absoluta não nasce qualquer efeito jurídico entre as partes se também for nulo, por ser ilícito, o contrato dissimulado”.
Lembrando, ainda, que, segundo o artigo 169, “o negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo”;
O artigo 170 sentencia que “se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visam as partes permitir supor que teriam querido, se houvesse previsto a nulidade”.
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO: Nulidade e Anulabilidade
Há duas categorias de nulidade: absoluta e relativa, ou seja, os atos ou negócios jurídicos ou são nulos, ou são anuláveis. Se a manifestação da vontade vem de agente capaz, tiver objeto licito e obedecer à forma prescrita em lei, tem-se aí um ato ou negócio jurídico perfeito e, por isso, produz os efeitos desejados pelas partes. Ao contrário, se a manifestação de vontade vem de pessoa absolutamente incapaz, tiver objeto ilícito ou não obedecer á forma prescrita em lei, não gerando os efeitos desejados pelas partes, não será valido, o ato é nulo; se a manifestação de vontade origina-se de uma pessoa incapaz ou o manifestante do ato tenha sido enganado por fraude, o ato é anulável.
NULIDADE ABSOLUTA
A nulidade absoluta é gerada pelo ato nulo, do latim medieval nullitas, de nullus (nenhum, nulo). Pela nulidade absoluta o ato não tem valor algum. Não produz efeito algum, nem em juízo nem fora, porque tal ato, em verdade, nunca existiu.
O ato nulo produz a nulidade absoluta, ou de pleno direito. Ele é destituído de qualquer valor, não existindo, juridicamente. Ele não produz nenhum efeito jurídico, isto porque não chega sequer a se formar, por ausência de um de seus elementos essenciais. Nessa condição, ele não pode ser ratificado. Qualquer interessado pode alegar a nulidade; o juiz, ao conhecê-la, deve declará-la de oficio. Nulo é todo ato a que faltam alguns dos requisitos ou formalidades que a lei impõe como essenciais á sua validade, ou que foi formado em desacordo com uma disposição proibitiva da lei.
CASOS DE NULIDADE ABSOLUTA
O código Civil no Artigo 166 diz:
É nulo o negócio jurídico quando:
I — celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II — for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III — o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV — não revestir a forma prescrita em lei;
V — for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI — tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VIl — a lei taxativamente o declarar nulo, o proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
O artigo 167 complementa: "É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e toda forma". "Portanto, os atos simulados são atos nulos".
QUEM PODE ALEGAR A NULIDADE ABSOLUTA
De acordo com o artigo 168 do Código Civil, a nulidade absoluta pode ser alegada pelas seguintes pessoas: a) por qualquer interessado;b) pelo Ministério Público; c) pelo juiz.
"As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes". O juiz deve declara-la ineficaz, não sendo permitido revalidar ou sanar o ato. Se as partes desejarem a validade do negócio, terão de praticá-lo novamente, com todas as condições de validade.
PRESCRITIBILIDADE DO ATO NULO
Os atos nulos são imprescritíveis, pois a nulidade pode ser apontada a qualquer tempo.
RATIFICAÇÃO DO ATO NULO
São insanáveis as suas invalidades e irratificáveis, tanto que confirmação deles, a rigor, não há, há firmação nova, ex nunc(desde agora), e de modo algum confirmação.
NULIDADE RELATIVA (ANULABILIDADE)
Ato anulável é aquele que tendo sido praticado sem conformidade com os preceitos legais, pode ser judicialmente anulado. Fica a cargo de a parte interessada solicitar a anulação ou não do mesmo. Enquanto o ato não for declarado ineficaz, produz normalmente todos os efeitos, pois antes disso será tido como válido. Isto é, havendo um negócio jurídico anulável os seus efeitos permanecem normalmente até o momento em que se declara judicialmente a nulidade. Portanto, ato anulável é valido enquanto não desfeito por decreto judicial.
CASOS DE NULIDADE RELATIVA
Diz o artigo 171 do Código Civil:
Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
QUEM PODE ALEGAR A ANULABILIDADE
Só os interessados podem alegar a anulabilidade segundo o artigo 177 do Código Civil: "A anulabilidade não tem efeito antes de Julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamenteaos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade".
PRESCRITIBILIDADE DO ATO ANULÁVEL
O novo código fixa o prazo da prescrição em dez anos, a não ser que a tenha fixado outro prazo ou prazo menor. Artigo 205 do Código Civil: A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
RATIFICAÇÃO DO ATO ANULÁVEL
O ato anulável pode ser retificado. Por meio de ratificação, o vício de que se ressente o ato é expurgado, pois ato anulável é aquele válido no momento em que ele é praticado, mas pode ser anulado por meio de uma ação judicial anulatória. O artigo 172 do Código Civil dispõe: "O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro".
A ratificação trata-se de um ato unilateral (uma das partes), não chegando a ser um contrato. Ele visa dar validade definitiva ao ato anulável, tornando-o válido definitivamente. A ratificação poderá se expressa ou tácita.
a) EXPRESSA: A pessoa que faz a ratificação ou revalidação do ato jurídico deixa claro que tinha ciência da anulabilidade do ato, mas deseja confirmar sua validade. Enfim, a vontade de ratificar o ato deve constar de declaração, de documento explicito, antes do prazo de prescrição para ação. A pessoa reconhecendo a existência do ato anulável declara de sua livre vontade torná-lo juridicamente válido.
b) TÁCITO: a ratificação tácita poderá ocorrer de duas maneiras:quando o devedor, consciente do defeito do ato, tiver cumprido parte da obrigação. Descrita no artigo 174 do Código Civil: "É escusada a confirmação expressa, quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor, ciente do vício que o inquinava"; Quando a ação anulatória está sujeita à prescrição, descrita no Código Civil no artigo 178: É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: no caso de citação, do dia em que ela cessar; no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico; no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Com a ratificação, expressa ou tácita, há a renúncia de todas as ações, ou exceções contra o ato e não se atinge direitos de terceiros, descrito no artigo 175 do Código Civil:
"A confirmação expressa, ou a execução voluntária de negócio anulável, nos termos dos arts. 172 a 174, importa a extinção de todas as ações, ou exceções, de que contra ele dispusesse o devedor".
EFEITOS DA NULIDADE
Descrito no artigo 182 do Código Civil:
Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

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