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Pena de morte

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Pena de morte, o subterfúgio à educação
Por Luana Jacudi
 O Brasil, quando colônia de Portugal, estava sob as Ordenações Portuguesas, nas quais estava a pena de morte. Após a proclamação da Independência, em 1822, a pena de morte veio a figurar o Código Penal do Império. Já com a proclamação da República e a promulgação do novo Código Penal, esta pena foi abolida, só admitindo esta no caso da legislação militar em tempo de guerra. A Constituição de 1937, que marca o início da ditadura do Estado Novo, restringe os Direitos Individuais e Sociais prevendo-a. Porém, as leis de Segurança Nacional de 1978 e 1983 revogaram a esta sanção, substituindo-a por reclusão. Nota-se que, no período Republicano, a pena de morte, quando admitida, tem um caráter eminentemente político. Nos dias de hoje há um grande desestímulo a esta ação na justiça brasileira. Isto ocorre principalmente devido à grande divulgação e difusão dos direitos humanos. E, como na maioria dos casos, há quem vá contra as medidas adotadas pelo Estado.
 Um dos argumentos usados pelos que defendem a ideia da implantação da pena de morte no Brasil é: “nos países onde ela foi abolida, houve um aumento de crimes”. Não se pode ser ingênuo ao ponto de pensar que esta medida impediria, através do medo, o indivíduo de cometer crimes. São de conhecimento público as atrocidades que são cometidas dentro das cadeias, majoritariamente dominadas pelo crime organizado. Se somente o temor pela vida fosse necessário para impedir tal indivíduo de cometer atos ilícitos, não seria necessária a pena de morte, tendo em vista que ela já é uma realidade para alguns presidiários. 
 Este argumento não é sólido, ainda, a partir do momento de análise ao princípio do crime, que seria principalmente na forma da educação acrescido à saúde oferecida ao povo do país, não tirando conclusões ao observar um caso isolado, como muitos fazem. Desta forma, quando o povo tem acesso ao que o proporciona qualidade de vida- educação, saúde, entre outros-, este é o povo que vai cometer menos crimes. Isto por, nesta situação, não haver necessidade de realizar um delito e/ou haver o acesso às informações e meios de não cometê-lo; sendo assim uma questão social.
 Outro argumento popular dos que são a favor da pena capital é o que diz respeito à maior eficácia para solucionar o problema com os indivíduos inaptos à vida social. Entretanto, há alguns anos o Brasil adotou a reeducação destes, ao invés de desistir, em respeito à dignidade humana. Isto porque, na verdade, o que o povo precisa é de uma educação mais perene, mais justa, mais frequente, e não cenas chocantes de violência praticadas pelo Estado. Usando das palavras do filósofo francês Foucault: “A execução pública é vista como uma fornalha em que se acende a violência”. E segundo Paulo Freire, “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”. 
 Na sua obra Vigiar e Punir, Foucault discorre sobre este assunto, dizendo que não é com a morte do criminoso que vamos educar a sociedade, afinal não podemos esquecer que o criminoso deve ter receio de praticar crimes por conta da sanção que irá sofrer e não porque será, desde o início, apenado pela sociedade para ir à forca ou merecer a pena capital. O país que ignora a educação, tomando o caminho mais rápido, pode ser considerado incapaz. O filósofo Pitágoras, completando o pensamento da educação, disse: “Educai as crianças para que não seja necessário punir os adultos”.
 Não utilizando o pensamento da religião predominante no país em questão, analisando o assunto perante a lei e fatos, de acordo com política criminal dos povos democráticos, a pena tem como fim a recuperação do indivíduo objetivando, acima de tudo, a sua reintegração na sociedade. Num país onde o direito à vida é o mais importante e mais discutido dentre todos os direitos abarcados pelo Código Civil Brasileiro e pela Constituição Federal, não é racional existir também uma forma de punir contraditória.
 A lei por si só é clara: Constituição Federal de 1988, exatamente no artigo 5º “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. E nem através da emenda poderá se recriar, pois o artigo 60, no 4° parágrafo, transformou todos os direitos e garantias individuais em cláusulas pétrias da constituição.
 Deve-se levar em consideração também o fato da justiça não ser perfeita. Ao sentenciar alguém a pena de morte é preciso refletir sobre os casos onde pessoas foram condenadas injustamente por crimes que não cometeram. Caso seja aceita, julgada e executada em um indivíduo inocente não há possibilidade de indenizar ou retroagir a sentença. Além da pena só afetar os pobres, já que os ricos poderão contratar um advogado para apelar até as últimas instâncias, nunca sendo punido com a morte.
 Com a volta da discussão sobre este meio de punir, o maior penalista brasileiro, Evandro Lins e Silv, diz que as multidões não têm raciocínio frio, têm espasmos emocionais incontroláveis, fáceis de manipular e tanger. Mas qualquer raciocínio frio derruba essas idéias oportunistas. Evandro Lins e Silva pergunta: se vamos aceitar a pena capital, que é o mais, porque não aceitar a tortura, que é o menos? Se evoluímos em tudo na vida, por que voltar atrás e recorrer a uma medida medieval?
 Mesmo que, de acordo com a lei, a pena de morte seja inviável, as questões sociais exigem soluções complexas. Atalhos não fazem parte das soluções para os melhores meio de se obter justiça. E, dentre os argumentos apresentados, ela se tornaria mais um sintoma do que a solução para um país com a estrutura educacional apresentada pelo Brasil atualmente.

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