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Regulamento Disciplinar Diferenciado - Breves reflexões

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Reflexões sobre o R.D.D.
Por Luana Jacudi
O Regulamento Disciplinar Diferenciado (R.D.D.) é uma norma administrativa em prisões de segurança máxima, vista como uma medida mais grave visando criar um sistema de ‘‘cárcere duro’’ no país, aplicado aos condenados que cometem fato entendido como crimes dolosos e/ou ligados à associação criminosa que ocasione a desordem e a insegurança tanto no presídio quanto na sociedade. Cabe dizer que esses crimes podem não estar tipificados no Código Penal, mas simplesmente serem considerados crimes desestabilizadores da ordem prisional e social.
Essa forma especial de cumprimento da pena no regime fechado equivale à permanência do presidiário (provisório ou condenado) em cela individual, com maiores limitações ao direito de visita e do direito de saída da cela. Exemplos: apenas duas horas de banho de sol por dia e visita semanal de apenas duas pessoas, fora criança, durante duas horas. Este regime encontra-se respaldo legalmente na lei de n°  10.792/03, arts. 52 e 53, V, ambos da LEP. 
A sua constitucionalidade é muito discutida pelos estudiosos e por quem sofre suas conseqüências, uma vez que é, muitas das vezes, considerada uma medida que fere a dignidade da pessoa humana (CRFB/88, art. 1º, III), é um tratamento desumano (CRFB/88, art. 5º, III) e também afronta o princípio da humanidade das penas (CRFB/88, art. 5º, XLVII).
A duração maior do R.D.D. é de um ano, sem prejuízo de que nova sanção seja aplicada em virtude de outra falta grave, podendo o prazo de isolamento se estender até 1/6 da pena. Ainda é proibido ao preso que ouça, veja, ou leia qualquer meio de comunicação, o que significa dizer que não recebe jornais, ou revistas, assim como não assiste televisão, e não ouve rádio. 
Levando em consideração que o ambiente prisional brasileiro já não é adequado para a vida de um ser humano por falta de estrutura, higiene, falta de acompanhamento psicológico, sem contar no tratamento que recebem da administração, para o detento sancionado pelo R.D.D. os direitos do ser humano são ainda mais restritos, ou até mesmo nulos, por cumprirem pena duplicada.
Num sistema onde é pregado a ressocialização, as medidas citadas apenas acarretam no contrário. Para haver a reintegração social do indivíduo, a relação equilibrada entre os reeducandos, funcionários e sociedade é importantíssima. Marginalizar ainda mais os que causaram um efeito negativo na sociedade apenas provoca, neste, problemas psíquica e fisicamente maiores. 
“A produção e o agravamento de problemas de saúde física e mental sem o devido acompanhamento é mais um dos direitos dessa população que são violados. Faz-se urgente refletir que o único direito que o preso deve perder ao ser condenado é o da liberdade, todos os demais devem estar assegurados. Infelizmente não é essa a realidade do sistema penitenciário (...)” .
O posicionamento do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária ainda ressalta: "O projeto, ao prever 360 dias de isolamento, certamente causará nas pessoas a ele submetidas a deterioração de suas faculdades mentais, podendo-se dizer que o RDD não contribui para o objetivo da recuperação social do condenado e, na prática, importa a produção deliberada de alienados mentais".
Salienta-se acrescentar que o cometimento de falta grave deve ser passível de punição, entretanto, tal punição deve se resguardar de proporcionalidade e respeito à dignidade da pessoa humana.
Entretanto, a jurisprudência não considera inconstitucional por ser um meio de castigo pelo qual pode se obter maior paz nos presídios e não causar vexame, isto porque a sociedade e o sistema penitenciário brasileiro confunde castigos violentos com método educativo.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Amaury, Vídeo aula Dica Direito Penal - RDD e Associação Criminosa, do canal no youTube Gran Cursos online- Concursos Públicos, Brasil, 2014.
CUNHA, Rogério Sanches. Artigo Regime disciplinar diferenciado: Breves comentários (rdd), Brasil, 2011.
CONSTANTINO, Patricia; ASSIS, Simone Gonçalves; PINTO, Liana Wernersbach. O impacto da prisão na saúde mental dos presos do estado do Rio de Janeiro, Brasil. Ciênc. saúde coletiva.  2016.

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