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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS VI SIMPÓSIO BRASILEIRO SOBRE PEQUENAS E MÉDIAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS BELO HORIZONTE - MG, 21 A 25 DE ABRIL DE 2008 T24 – A05 VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 1 PERDA DE CARGA EM CIRCUITOS HIDRÁULICOS DE PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS – PCH´S André L. T. FABIANI Pesquisador – LACTEC (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) Professor Adjunto – UFPR (Universidade Federal do Paraná) José J. OTA Gerente da Divisão de Hidráulica – LACTEC ; Professor Adjunto – UFPR David Targeta da SILVA Engenheiro – AMPLA Energia e Serviços S/A. Celso Voto AKIL Engenheiro – AMPLA. RESUMO Este artigo apresenta uma metodologia para a análise de tubulações adutoras de usinas hidrelétricas existentes, enfocando-se aspectos hidráulicos e econômicos, com a finalidade de orientar investimentos em manutenção e em repotenciação. Essa metodologia é baseada nos principais fatores que afetam a perda de carga ao longo da tubulação (rugosidade da superfície interna do conduto, vazão e geometria). Para sua aplicação são necessários o estudo hidráulico do sistema de adução, o estudo hidrológico e a análise de viabilidade econômica das alternativas. A aplicação da metodologia proposta para a tubulação adutora de duas usinas-piloto (UHE Piabanha e Fagundes) mostrou que o diâmetro atual da tubulação adutora é razoável, não sendo necessária a sua substituição sob o ponto de vista da repoten- ciação. A recuperação dos condutos com resina poliuretânica é economicamente viável, juntamente com a repotenciação das usinas. A metodologia proposta conduz a conclusões com base científica, eliminando dúvidas e orientando os investimentos. ABSTRACT This article presents a methodology for analysis of existing hydroelectric low pressure conduits and penstocks, focusing upon hydraulic and economic aspects, with the purpose of guiding maintenance and repowering investments. This methodology is based on main factors that affect the head loss throughout the conduits (roughness, discharge and geometry). Hydraulic, hydrologic and economic feasibility studies were applied for different alternatives. The application of the proposed methodology for two power plants (Piabanha and Fagundes) showed that, for the purpose of repowering, the existing pipe diameters in both cases are reasonable and the substitution of these pipes was proved to be unnecessary. The recovery of the conduits by poliuretan resin coating is economically feasible and can be adopted as part of plant repowering. The proposed methodology has a scientific basis and can lead to appropriate conclusions for guiding investments for similar cases. VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 2 1. INTRODUÇÃO Quando a água é conduzida de um ponto a outro de cota de energia mais baixa, toda a energia existente no primeiro ponto não pode ser utilizada no segundo ponto, porque parte da mesma é perdida no trânsito pelo sistema adutor. Por isso, a turbina aproveita somente a altura efetiva (queda útil) calculada pela diferença entre a queda bruta (Hb) e a perda de carga (h). Para uma instalação cujo sistema adutor tem um diâmetro D, a potência utilizável depende da vazão Q, porém não varia linearmente com a mesma, pois a perda de carga também é uma função da vazão Q. Para pequenas vazões a altura efetiva é próxima da queda bruta, porém à medida que a vazão aumenta, o efeito da perda de carga torna-se mais importante. O objetivo desta pesquisa foi determinar se uma tubulação instalada em uma usina antiga continua atendendo às expectativas em termos de geração de energia, frente aos conhecimentos atuais. Para tal, foram selecionadas duas usinas-piloto – Piabanha (com potência de 9 MW, construída em 1908) e Fagundes (com potência de 4,8 MW, construída em 1923), ambas no estado do Rio de Janeiro, nos municípios de Areal e Paraíba do Sul, para as quais foram analisados os seus sistemas adutores, com a finalidade de desenvolver uma metodologia de análise. Para a realização desta pesquisa foram seguidos os seguintes passos: - Revisão bibliográfica sobre escoamento em condutos; - Coleta de informações sobre as usinas-piloto; - Revisão dos estudos hidrológicos e energéticos, realizados nas épocas de construção das usinas; - Verificação do funcionamento hidráulico dos condutos adutores e forçados, bem com de sua integridade estrutural a colapsos; - Verificação do dimensionamento econômico dos condutos e da operação da chaminé de equilíbrio e do tanque de compensação; - Estudos econômicos das alternativas propostas para melhoria da operação das usinas. Este artigo apresenta a metodologia desenvolvida e aplicada às usinas-piloto. 1.1 METODOLOGIA GERAL Em termos gerais, a determinação da perda de carga em condutos é um tópico bastante discutido na literatura técnica. O objetivo final desse tipo de estudo é determinar a perda de carga – ou mais tecnicamente, de energia – causada pelo escoamento de uma determinada vazão por um dado conduto. A energia dissipada ao longo do conduto é obtida pela soma da perda de carga contínua (hp) com as perdas provocadas por efeitos localizados (hL), cujas equações são apresentadas na seqüência [1]: g Vfhp 2D L 2 = (1) VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 3 g V .Kh LL 2 2 = (2) ( )∑ −− ++++=++ 21212 2 2 2 2 1 2 1 1 1 22 LP hhz g Vp z g Vp α γ α γ (3) onde: f: fator de resistência da equação de Darcy-Weisbach; L: comprimento do conduto (m); V: velocidade média na tubulação (m/s); D: diâmetro da tubulação (m); g: aceleração da gravidade (9,81 m/s²); KL: coeficiente de perda de carga localizada; p: pressão (Pa); γ: peso específico (1.000 kg/m3, para a água); α: coeficiente corretor da energia cinética; z: altura geométrica do ponto. A Equação 3 apresenta a conservação da energia entre dois pontos ao longo do fluxo, sendo os índices “1” a montante e “2” a jusante do trecho considerado. A dificuldade de determinar as perdas de carga está na estimativa dos valores de “f” e “KL”. A equação de Colebrook e White (Equação 4) permite calcular o fator de resistência f mediante o conhecimento da altura de rugosidade equivalente k [2-3]. ) f.k. D.,log(., D klog. f eR 3591214121 +−= + (4) onde: ν D.V eR = ; e ν: viscosidade cinemática do fluido (1x10-6 m²/s para água a 20oC). Os coeficientes de perdas de carga localizadas KL devem ser pesquisados na literatura [4-7], ou em testes em modelo reduzido. Um ponto muito importante em usinas antigas é o grau de envelhecimento do conduto, que aumenta a resistência à passagem da água, o que é representado nos cálculos por um aumento na altura de rugosidade equivalente; indicações a esse respeito podem ser obtidas em [8-9]. Assim, pode-se definir a metodologia em linhas gerais da forma abaixo: Passo 1: Coletar informações referentes à geometria e condições de operação atual da usina em análise; Passo 2: Reavaliar os aspectos hidrológicos e energéticos, através de uma análise de séries históricas e estudos de potenciação de usina; Passo 3: Definir alternativas a serem estudadas, em função das características da usina e das possibilidades de adequação VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 4 levantadas nos estudos realizados; Passo 4: Verificação das condições hidráulicas de operação da usina, em função de novas vazões que possam ser utilizadas e de alterações nos condutos quecausem variação da perda de carga (diminuição ou aumento); e Passo 5: Quantificação econômica das alternativas estudadas, a fim de determinar a viabilidade econômica de alterações na usina. Foram escolhidas duas usinas da AMPLA Energia e Serviços S. A. como casos- piloto, PCH Piabanha (9 MW) e PCH Fagundes (4,8 MW). Os critérios de seleção foram: são usinas vizinhas (aproximadamente dois quilômetros de distância), antigas, diferentes estados de conservação dos condutos – os condutos de Fagundes encontram-se em melhores condições que os condutos de Piabanha – e possuem características construtivas distintas – condutos em paralelo, tanque de compensação e queda bruta de 50 m em Piabanha, e conduto único, chaminé de equilíbrio e queda bruta de 125 m em Fagundes. 2. COLETA DE INFORMAÇÕES As informações necessárias para os estudos de perda de carga em condutos podem ser obtidas nos projetos da usina ou em levantamentos de campo. São necessários, ainda, ensaios na usina com a finalidade de determinar a relação entre a vazão e a perda de carga nos condutos, a fim de calibrar os coeficientes determinados a partir de dados da literatura ou de testes em modelo. A referência [10] apresenta um levantamento geométrico dos condutos como construídos. As usinas-piloto possuem as seguintes características com respeito à adução e geração: - Piabanha: geração de 9 MW, com três máquinas iguais, engolindo cada uma 8,79 m3/s, com uma queda líquida de aproximadamente 49,7 m. A adução se dá por três condutos aproximadamente paralelos, com 2 km de comprimento e diâmetros entre 1,78 m e 2,49 m e desnível final de 8,5 m, terminando em um tanque de compensação, com vertedouro lateral; a espessura dos condutos varia entre 1/4" e 5/16”. A partir desse tanque, partem três condutos forçados independentes, com comprimento de 94 m e diâmetro de 2,94 m; - Fagundes: um conduto adutor único, com 1,6 km de extensão e diâmetro de 1,7 m; a espessura varia entre 1/4" e 5/8”. Ao final do conduto existe uma chaminé de equilíbrio, de 2,13 m de diâmetro, de onde partem dois condutos forçados independentes, com 1,25 m de diâmetro, espessura de 5/8” e comprimento de 206 m. Testes nos conjuntos turbina-gerador das usinas-piloto [11] demonstraram que o rendimento médio das máquinas é baixo, principalmente em Piabanha – rendimento médio de 53,5 %; em Fagundes o rendimento médio resultou igual a 69,6 %. O rendimento em Fagundes foi obtido a partir da determinação de uma curva de descarga teórica para o Venturi instalado na tubulação, baseado em [12-13]. VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 5 Observou-se que os rendimentos de máquinas modernas giram em torno de 89 %, o que permitirá um bom ganho na geração de energia no caso de troca do conjunto gerador. 3. ESTUDOS HIDROLÓGICOS E ENERGÉTICOS A série histórica de vazões afluentes deve ser reavaliada, buscando determinar a curva de permanência de vazões. No caso das usinas-piloto, foram analisadas 4 estações fluviométricas com mais de trinta anos de observações. As curvas de permanência são importantes para os estudos energéticos, pois definem a disponibilidade da vazão no tempo, e são apresentadas nas Figuras 1 e 2. As vazões médias resultaram iguais a 35,65 m3/s em Piabanha e 5,52 m3/s em Fagundes. As energias firmes das usinas giram em torno de 3,72 MW médios em Piabanha e de 1,88 MW médios em Fagundes, variando um pouco em função da variação da perda de carga nos condutos, que afeta a queda líquida das usinas. A partir dos estudos hidráulicos (item 4), a queda líquida pode ser definida de modo preciso para cada tipo de conduto estudado. 0 20 40 60 80 100 120 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Permanência (%) Va zã o (m 3/ s) FIGURA 1: Curva de permanência de vazões em Piabanha VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 6 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Permanência (%) Va zã o (m 3/ s ) FIGURA 2: Curva de permanência de vazões em Fagundes 3.1 ALTERNATIVAS DE PROJETO Com respeito aos condutos adutores, foram estudadas três alternativas: a) continuar utilizando os condutos atuais; b) recuperá-los, revestindo-os internamente com uma resina de poliuretano aromático elastomérico e sem solvente de alta resistência – denominada comercialmente de POLIBRID® [14], e neste artigo chamada simplesmente de resina; ou c) trocar os condutos atuais por condutos novos de aço soldável. Adicionalmente foram definidas faixas de potências instaladas para cada usina, com a finalidade de estudar a variação da perda de carga e da energia gerada anualmente, permitindo definir a alternativa com melhor retorno financeiro. A troca do tanque de compensação existente na PCH Piabanha por chaminés de equilíbrio, incrustada na rocha ou exposta foi também analisada. 3.2 ESTUDOS HIDRÁULICOS Após a definição das alternativas a analisar, estas foram estudadas do ponto de vista hidráulico, englobando: determinação do envelhecimento dos condutos, coeficientes de perda de carga localizada, funcionamento da chaminé de equilíbrio, do tanque de compensação e do seu vertedouro lateral. Um ponto interessante é a análise do colapso dos condutos e determinar as ações que permitam evitar estas ocorrências (aumento da rigidez dos condutos, por reforços estruturais, ou instalação de equipamentos que permitam a entrada do ar externo, aliviando a sucção interna – suspiros, chaminés ou ventosas). Estes estudos são descritos a VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 7 seguir. 3.2.1 Envelhecimento dos condutos Os condutos das PCH´s Piabanha e Fagundes são muito antigos, pois são os mesmos desde a construção das usinas, a quase 100 anos. Com isso, o envelhecimento dos condutos impõe uma perda de carga adicional ao sistema, diminuindo a energia gerada. A medida desse envelhecimento é dada pela espessura de rugosidade equivalente – diâmetro de grãos de areia que colados a uma parede lisa gera a mesma perda de carga – que, nas usinas estudadas iniciou- se com 0,9 mm (conduto de aço rebitado). Baseado nos testes de rendimento realizados, verificou-se que a rugosidade equivalente dos condutos de Piabanha resulta igual a 10,5 mm, enquanto em Fagundes o resultado foi igual a 9,1 mm. Os resultados indicam que a taxa anual de crescimento da rugosidade equivalente nas duas usinas é de 0,1 mm, coerente com a literatura sobre o assunto. No caso de aço novo soldável, é sugerida a adoção do valor de 0,046 mm para a espessura de rugosidade equivalente. No caso de conduto revestido com resina adotou-se uma rugosidade de 0,9 mm (a mesma do aço rebitado, pois os rebitem continuarão interferindo no escoamento), além de reduzir o raio interno do conduto da espessura da camada, 2,5 mm, ao invés de considerar o tubo com plástico (rugosidade de 0,001524 mm). 3.2.2 Colapso dos condutos O colapso de condutos pode ocorrer por rebaixamento excessivo da pressão no interior do conduto. ELETROBRÁS [2] recomenda a adoção da Equação 5 para definir o limite mínimo de pressão que um conduto de aço suporta, em função do seu diâmetro e da espessura da sua parede. m.c.A. em ,1099592258 3 6 −= D e .,pc (5) Com a adoção dessa equação, as regiões onde podem ser observadas pressões inferiores a essa podem sofrer colapso, como observado na usina de Oigawa (Japão, em 1950) [15], e retratado na Figura 3. VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 8 FIGURA 3: Vistas doconduto no 03 de Oigawa (Japão, 1950), após o colapso Em todos os estudos realizados para as duas usinas-piloto em operação normal, mesmo com o aumento da vazão, não foram observadas condições para ocorrência de pressões negativas – sucções – que pudessem causar os colapsos observados. No entanto, o longo desenvolvimento das adutoras, associado ao relativamente pequeno número de respiros e ventosas implantadas (23 no total), não impede a ocorrência de colapsos no caso de operações rápidas de esvaziamento dos VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 9 condutos, seja para manutenção ou por acidente (rompimento acidental de uma tubulação em ponto rebaixado, causa do ocorrido em Oigawa). A Figura 4 apresenta o resultado da análise do conduto de Fagundes, frente a possíveis esvaziamentos rápidos do conduto; na Figura 4, ∆∆∆∆ representa o potencial de pressão negativa no ponto considerado. Fazendo o mesmo estudo para os três condutos de Piabanha, obtém-se no total 21 regiões em cota relativamente elevada que necessitam de proteção, através da instalação de respiros (em pontos bem elevados) ou ventosas de tríplice função (ao custo unitário de R$ 5.156,00 em outubro de 2005). Com essa instalação, os condutos ficarão seguros de maneira definitiva – a menos de falhas dos equipamentos –, o que não pode ser obtido apenas com operação cuidadosa de esvaziamento. 300 310 320 330 340 350 360 370 380 390 400 410 420 430 440 -100 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 100 0 110 0 120 0 130 0 140 0 150 0 160 0 170 0 180 0 Distância ao início (m) El e va çã o (m ) Linha de Topo Linha Piezométrica - Suportável pelo conduto Linha Piezométrica - Potencial máximo Respiros Válvulas Ventosas Chaminé de Equilíbrio ∆ = 12,20 m ∆ = 12,80 m ∆ = 12,65 m ∆ = 6,15 m ∆ = 13,48 m ∆ = 10,64 m ∆ = 5,92 m ∆ = 13,00 m FIGURA 4: Regiões propensas a colapsos no conduto adutor de Fagundes em caso de esvaziamento rápido VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 10 3.2.3 Diâmetro Equivalente Define-se como diâmetro equivalente o diâmetro que um conduto único deveria ter para substituir um conjunto de condutos em paralelo, mantendo a mesma perda de carga. Na maioria das vezes, o cálculo é realizado mantendo-se também o material do conduto e adotando-se um comprimento médio para o conduto equivalente. A Equação 6 representa matematicamente este critério. ∑ = = N,i ii i L.f DD L.f 1 55 1 (6) No caso de Piabanha, o diâmetro equivalente aos três condutos adutores é 3,18 m. 3.2.4 Diâmetro Econômico Diâmetro econômico pode ser definido com sendo o diâmetro capaz de conduzir a água à turbina com a melhor relação entre o custo da sua construção e o custo da energia perdida pelo aumento na perda de carga causada por um conduto menor e de construção mais econômica. Baseado nessas premissas foram desenvolvidos por diversos autores diferentes critérios de projeto. Neste estudo foram adotados treze critérios diferentes, propostos por [8] e [16-19] dos quais as Equações 7 a 9 representam três destes critérios, com a simbologia definida na seqüência. - Manual da ELETROBRÁS 2040 3880 320 . 83390 , b , H L ,Q.,D = (7) - Critério de Nigam adaptado para condutos comerciais (espessura não atrelada ao diâmetro) 6 1 3 2 9106 f. b.k. t.Q.kD = (8) - Manual de projeto de PCH´s da ELETROBRÁS 7 1 3 2371 = tH Q .,D (9) Q: Vazão pelo conduto (m3/s); L: Comprimento do conduto (m); Hb: Queda bruta (m); f: Fator de resistência da fórmula de perda de carga (adimensional); b: espessura da parede do conduto (m); t: Número de horas em operação no ano (h); σadm: tensão admissível do material do conduto (kgf/cm2); VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 11 k1: custo anual do conduto, incluindo a depreciação e a manutenção (R$/kWh); k2: custo de 1 kWh de energia (R$/kWh). Aplicando-se todos os critérios às duas usinas-piloto, com os três tipos de parede de conduto analisados e para as diferentes vazões máximas que podem escoar em cada caso, resultam os seguintes diâmetros econômicos, que comparados com os implantados nas obras mostram que os diâmetros atualmente implantados são suficientes. o Piabanha: diâmetro econômico médio de 3,54 m para o conduto adutor e 2,06 m para o conduto forçado; o Fagundes: diâmetro econômico médio de 1,61 m para o conduto adutor e 1,07 m para o conduto forçado. Uma variação de 10 % no valor do diâmetro ótimo conduz a variações pequenas no custo total e na relação benefício/custo (segundo muitos autores, no máximo 1 %). Assim, observa-se que os condutos forçados das duas usinas e o conduto adutor de Fagundes encontram-se bem dimensionados. O conduto adutor equivalente de Piabanha encontra-se no limite inferior da margem, o que não justifica a troca completa de condutos e estruturas de emboque e desemboque. PCH Fagundes A PCH Fagundes possui condutos em bom estado de conservação, mas a recuperação dos condutos com resina permitirá o aumento da vazão máxima escoada de 5,36 m3/s para 7,31 m3/s, suficiente para instalar máquinas com potência total de 8 MW, ou invés dos 4,8 MW instalados atualmente. A chaminé de equilíbrio continuaria operando satisfatoriamente mesmo com este aumento de vazão. Esta alteração permite o aumento da energia gerada na usina, apesar da perda de carga adicional gerada pelo aumento da vazão; o valor anual aumenta de 20.791 MWh/ano para 43.947 MWh/ano. A troca dos condutos por condutos de aço novo soldável conduz a resultados um pouco melhores, mas o alto custo do aço (em torno de R$ 15,00/kg instalado) torna esta opção pouco atraente. PCH Piabanha A PCH Piabanha não possui condutos em bom estado de conservação, e a recuperação dos condutos com resina permitirá o retorno a condições seguras de operação. Permitirá, ainda, o aumento da vazão máxima escoada de 26,37 m3/s para 29,88 m3/s, suficiente para instalar máquinas com potência total de 12 MW, ou invés dos 9 MW instalados atualmente. O tanque de compensação e seu vertedouro continuam operando de maneira eficiente. Esta alteração permite o aumento da energia gerada na usina sem um aumento substancial da perda de carga gerada pelo aumento da vazão; o valor anual eleva-se de 51.946 MWh/ano para 97.454 MWh/ano. A troca dos condutos por condutos de aço novo soldável conduz a resultados um pouco melhores, mas o alto custo do aço (em torno de R$ 15,00/kg instalado) torna esta opção pouco atraente. A troca do tanque de compensação por chaminés de equilíbrio apresentam resultados técnicos, em termos de geração de VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 12 energia, da mesma ordem de grandeza dos obtidos com a manutenção do tanque de compensação (portanto gerando energia elétrica em volume semelhante), mas incluem muitos custos adicionais que tornam essas alternativas inviáveis economicamente. 3.3 ESTUDOS ECONÔMICOS Os estudos econômicos são realizados a partir da determinação de preços para a troca ou recuperação dos condutos e preço para a energia gerada. Neste estudo foram adotados os seguintes custos: a) aço: R$15,00/kg instalado; b) recuperação completa e revestimento com resina: R$ 289,00/m2; c) energia vendida a R$ 116,13/MWh. O valor da troca completa dos conjuntos turbina-gerador para as usinas foi obtido junto a fornecedores e avaliada a sua variação pelas equaçõesda ELETROBRÁS. A Tabela 1 apresenta o resumo dos custos obtidos. Usina Item Valor (R$) Fagundes Troca do conduto 15.136.970,00 Recuperação dos condutos com resina 2.829.870,00 Nova motorização para 7 MW 3.708.889,00 Piabanha Troca do conduto 35.662.055,00 Recuperação dos condutos com resina 11.990.445,00 Nova motorização para 12 MW 7.278.072,00 TABELA 1 – Custos das Alternativas O resultado da análise do custo e do benefício das alternativas estudadas permite definir que as soluções técnica e economicamente mais interessante são as apresentadas na Tabela 2. Nesta Tabela 2 é apresentado, ainda, o período de retorno, entendido como sendo o período em meses decorrido desde o início da implantação das alternativas até que o investimento seja recuperado, considerando- se uma taxa de retorno de 10 % ao ano. As duas alternativas foram definidas a partir da recuperação dos condutos e seu revestimento interno com resina. No entanto, este é um material relativamente novo, e suas características de durabilidade e resistência ao colapso ainda não foram, aparentemente, exaustivamente estudados. A troca dos condutos, realizada de maneira isolada da repotenciação da usina, é claramente anti-econômica. Já a recuperação dos condutos isoladamente é viável no caso da usina de Fagundes, mas não para a usina de Piabanha, frente à grande área lateral dos condutos a recuperar. VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 13 Usina Item Valor Fagundes Potência a ser instalada 8,0 MW Energia a ser gerada anualmente 43.947 MWh/ano Receita anual R$ 5.103.511,00 Receita anual adicional (descontada a geração atual de 20.791 MWh/ano) R$ 2.689.052,00 /ano Período de retorno 40 meses Piabanha Potência a ser instalada 12,0 MW Energia a ser gerada anualmente 97.454 MWh/ano Receita anual R$ 11.317.291,00 Receita anual adicional (descontada a geração atual de 51.946 MWh/ano) R$ 5.284.802,00 /ano Período de retorno 60 meses TABELA 2 – Resultados Obtidos 4. CONCLUSÕES Este artigo apresenta a pesquisa realizada no âmbito do projeto de P&D ANEEL 0383-021/2004, da AMPLA Energia e Serviços S. A.. O objetivo principal deste projeto foi apresentar uma metodologia de análise para determinação da perda de carga em circuitos hidráulicos de PCH´s e determinação, se necessário, da substituição ou recuperação da tubulação adutora. Mostrou-se que para sua aplicação é necessária a realização do estudo hidráulico do sistema de adução da configuração atual da usina e da nova configuração proposta para implantação. As definições dos diâmetros equivalente e econômico são aspectos importantes neste estudo, assim como a determinação do grau de envelhecimento dos condutos. Os estudos hidrológicos e energéticos permitiram determinar que as duas usinas- piloto podem gerar mais energia do que a gerada atualmente, em função do aumento das vazões observadas ao longo do histórico. Observando o baixo rendimento atual das máquinas, pode-se concluir que a troca das máquinas permitirá um ganho ainda maior na geração de energia. A manutenção dos condutos atuais por mais um tempo em operação só é recomendável para a usina de Fagundes, tendo em vista o alto grau de deterioração dos condutos adutores de Piabanha. A troca dos condutos atuais por condutos novos de aço soldado é economicamente desvantajosa, ou mesmo inviável, frente à recuperação dos condutos e revestimento interno com resina. Se a durabilidade deste produto for maior do que 20 anos, esta é a solução econômica para as duas usinas-piloto; existem condutos recuperados no exterior a mais de 10 anos, em condições normais de utilização. Não foram encontradas referências a testes – de laboratório ou nas próprias usinas – de resistência dos condutos revestidos com resina ao colapso ou à ruptura por pressão interna excessiva, mas apenas a testes de arrancamento e cisalhamento. A obtenção de resultados de testes desse tipo é VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 14 interessante para a definição da segurança estrutural da obra após o reparo dos condutos. A viabilidade da repotenciação de usinas como as PCH´s de Piabanha e Fagundes é de resultados imprevisíveis a priori. A metodologia proposta conduz a uma conclusão com base científica, eliminando dúvidas e evitando investimentos inadequados. Ela é ampla por englobar aspectos hidráulicos, hidrológicos, energéticos e econômicos, e pode ser útil em outras usinas cuja repotenciação está em questão. Com respeito ao colapso dos condutos, apenas a instalação de equipamentos adicionais de entrada de ar eliminará a sua ocorrência. Sugere-se a instalação de sete ventosas de tríplice função no conduto adutor de Fagundes e de quatorze equipamentos nos condutos adutores de Piabanha, com um custo de R$ 108.270,00, fora a instalação. Nos estudos econômicos realizados, foi adotado que a vazão mínima remanescente para as duas usinas é nula, com o intuito de maximizar a geração de energia pelas usinas. Com isso, e analisando-se a viabilidade em passos de 1 MW na potência instalada e adotando-se como opção viável técnica e economicamente a recuperação dos condutos e o revestimento interno com resina, determinou-se a potência a ser instalada em cada usina, bem como o seu custo total e período de retorno, conforme mostrado na Tabela 2 O procedimento mostrado neste trabalho permite analisar o estado em que se encontra uma pequena central hidrelétrica antiga indicando, entre outras características, falhas na operação, causas de colapsos de adutoras e o ganho possível no caso de repotenciação da usina. 5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a colaboração dos engenheiros Márian C. Rohn, ex- LACTEC e Ricardo H. C. Magalhães, ex-AMPLA, pela grande colaboração na realização da pesquisa e deste artigo. Os autores agradecem, ainda, à ANEEL que, via seu programa de Pesquisa e Desenvolvimento permitiu o investimento de recursos para o desenvolvimento desta pesquisa. 6. PALAVRAS-CHAVE Diâmetro econômico; Perda de carga; Repotenciação; Tubulação adutora; Pequena central hidrelétrica. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] VENNARD, J. K. ; STREET, R. L. (1978) – “Elementos de mecânica dos fluidos” 687 p., 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Dois p. VI Simpósio Brasileiro Sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas 15 [2] PINTO, N. L. S., NEIDERT, S. H., FILL, H. D. O. A., TOZZI, M., OTA, J. J., (1998) “Mecânica dos fluidos”. 2 volumes , Curitiba : UFPR, DAEP. [3] BRADLEY, J. N., THOMPSOM, L. R. (1965) “Friction Factor for Large Conduits Flowing Full” (Engineering Monograph; 7) 67 p. Denver: Bureau of Reclamation. [4] FOX, R. W., McDONALD, A. T. (2001) “Introdução à mecânica dos fluidos” 504p., 5. ed. Rio de Janeiro: LTC. [5] IDEL´CIK, I. E. (1969) “Memento des pertes de charge: coefficients de pertes de charge singulieres et de pertes de charge par frottement” 494 p., Paris: Eyrolles. [6] LENCASTRE, A. 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