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A3 - Impactos ambientais

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Análise do enfoque no meio antrópico em Estudos de Impacto Ambiental para verificação de viabilidade ambiental de projetos de desenvolvimento
Renata Utsunomiya a*
Marcelo Montaño a
Autor para correspondência: rezinha.uts@gmail.com (16) 8142-2434
Palavras chave: Avaliação de Impacto Social, Licenciamento Ambiental, Estudos Ambientais
Título Abreviado: Impactos Sociais em Estudos de Impacto Ambiental
RESUMO
A avaliação de impacto ambiental, no Brasil, é aplicada de modo formal exclusivamente associada ao licenciamento ambiental de projetos de desenvolvimento (empreendimentos e atividades econômicas), objetiva o estudo da viabilidade ambiental de novos empreendimentos que tenham potencial de causar significativa degradação ambiental. Constituinte importante do sistema ambiental, a análise do meio antrópico (ou meio socioeconômico), deve ocorrer durante as etapas do estudo ambiental, condicionando o escopo dos estudos ambientais e orientando os diagnósticos realizados para a identificação e análise dos impactos. Deve-se visar a incorporação de informações sobre as necessidades, aspirações e estilos de vida das populações envolvidas, buscando a compreensão das conseqüências sobre os locais afetados com a implantação do empreendimento, de modo a orientar o processo decisório. A importância da abertura de um processo participativo é essencial para esta compreensão, sob pena de inviabilizar o processo decisório referente às licenças ambientais. Dentre as deficiências apontadas, associadas a abordagens inadequadas na condução do processo de avaliação de impacto, podem-se citar a elaboração de 
caracterizações socioeconômicas genéricas, a ausência da acepção do conceito de patrimônio e identidade cultural, incompreensão do modo de vida de comunidades socioculturais singulares, entre outros. O presente trabalho tem como objetivo analisar comparativamente a avaliação dos impactos sobre o meio antrópico nos estudos ambientais, visando o entendimento da inserção da variável social neste instrumento de gestão ambiental. Realizou-se a análise de quatro estudos de impacto ambiental formalmente elaborados para fins de licenciamento ambiental, procurando-se apontar deficiências nos procedimentos adotados, a partir da identificação de elementos similares aplicados entre seus atributos metodológicos e resultados apresentados. Espera-se que o presente trabalho venha contribuir para melhorar a inserção das esferas social e ambiental no processo de licenciamento ambiental e na Avaliação de Impactos Ambiental, aproximando os instrumentos da realidade sócioambiental, e auxiliando nos processos de tomada de decisão.
Social analisys on Environmental Impact Assessments to verify environmental viability of projects in development on Brazil
ABSTRACT
The Environmental Impact Assessment is applied under legal requirements, in Brazil, only attached to environmental licensing processes, and focused exclusively on development projects. Its objectives are linked to evaluate the environmental viability of projects, to guide the decision-making process. Due to its relevance to environmental systems, the socio-economic environment analysis must occur along all stages of environmental studies, and considered a key element to the scoping and environmental baseline stages. In theory, the evaluation of socioeconomic impacts must consider the necessities and aims of the affected community, and be conducted along a participative framework. Otherwise, the decision-making process can lead to mistaken decisions. The present work brings a comparative analysis of how impacts over socioeconomic environment are integrated to environmental studies. Four Environmental Impact Statements were investigated looking for methodological or procedural mistakes, considering the impacts appointed. It is expected that the present work can contribute to improve the insertion of socioeconomic and environmental themes at licensing and Environmental Impact Assessment processes, contributing to more fitted decisions.
INTRODUÇÃO
A viabilidade ambiental das transformações do espaço, em função das decisões adotadas, pode ser sentida de diferentes maneiras. Para Sanchez (2006), o conceito de viabilidade ambiental não é único. Para a análise ambiental, um projeto pode ser viável sob determinados pontos de vista, desde que certas condições sejam observadas, como o atendimento a requisitos legais, por exemplo. No entanto, os impactos sócio-ambientais de um projeto distribuem-se de maneira desigual. Segundo Coelho (2004) o que é considerado positivo para uma classe social pode não ser para outra, ou ainda, o que é tido como positivo em um determinado momento do processo pode não ser nos demais.
MARCO TEÓRICO
A definição da viabilidade ambiental está entre os principais objetivos da Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, sendo incorporada à Lei da Política Nacional do Meio Ambiente - Lei n° 6.938/81, como instrumento da Política Nacional de Meio Ambiente. Segundo Fabbro Neto & Souza (2009), a AIA aplicada atualmente no Brasil abrange a avaliação das decisões que antecedem as instalações de empreendimentos, por meio da elaboração de Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, conforme concebido pela Resolução CONAMA 01/86.
	A conceituação de impacto social foi publicada na Interorganizational Commitee foi Guidelines and Principles for Social Impact Assesment, em 1994, indicando uma lista de 80 indicativos de impactos sociais, refletindo a mudança no enfoque nos Projetos para inclusão de impactos em Políticas e Programas, considerando não só os impactos negativos, mas também incluindo os benefícios e aumentando o escopo das conseqüências negativas para inclusão de conseqüências intencionadas.
	Segundo Vanclay (2001), o impacto social nem sempre é um impacto em si, pois pode representar processos de mudança social que causarão, ou não, impactos dependendo da situação. Para a realização de estudos de impacto social, o escopo não pode se reduzir à listas de verificação (checklists) realizadas por especialistas na área, a participação e envolvimento públicos são necessários para compreensão dos mecanismos complexos que causam os impactos, especialmente os impactos secundários e reações em cadeia.
O presente trabalho tem como objetivo analisar comparativamente a avaliação dos impactos sobre o meio antrópico nos estudos ambientais, visando o entendimento da inserção da variável social neste instrumento de gestão ambiental. Realizou-se a análise de quatro estudos de impacto ambiental formalmente elaborados para fins de licenciamento ambiental, procurando-se apontar deficiências nos procedimentos adotados, a partir da identificação de elementos similares aplicados entre seus atributos metodológicos e resultados apresentados.
METODOLOGIA
O estudo apresenta como material de estudo os seguintes Estudos Ambientais analisados: 
Nova Unidade Automobilística da Toyota do Brasil, em Sorocaba – SP
Condomínios Residenciais Ecoesportivos DAMHA, em São Carlos – SP
Barragem Casa Branca, em Mucugê – BA
Usina Hidrelétrica Tijuco Alto, no rio Ribeira de Iguape – SP e PR
Com base na leitura dos estudos ambientais e na bibliografia consultada, elaborou-se uma tabela de comparação de diagnósticos no meio socioeconômico (tabela 1), uma matriz de relação dos diagnósticos com os impactos identificados do empreendimento UHE Tijuco Alto (tabela 2) e uma tabela de comparação das matrizes de identificação e ponderação dos impactos ambientais (tabela 3).
As análises foram focadas nos levantamentos dos diagnósticos levantados no escopo do estudo, nas metodologias utilizadas para a identificação e ponderação dos impactos e a relação entre os estudos de base com o resultado indicado pelo estudo.
	Diagnósticos no Meio Sócioeconômico levantados nos Estudos de Impacto Ambiental
	Unidade Toyota do Brasil
	Condomínio DAMHA
	Barragem Casa Branca
	UHE Tijuco Alto
	Histórico de Ocupação
	Histórico deOcupação
	Histórico de Ocupação
	Histórico de Ocupação
	Perfil Demográfico
	Perfil Demográfico
	Perfil Demográfico
	Perfil Demográfico
	Perfil Sócioeconômico da População e Atividade Econômica
	Perfil Sócioeconômico da População e Atividade Econômica
	Perfil Sócioeconômico da População e Atividade Econômica
	Perfil Sócioeconômico da População e Atividade Econômica
	Indicadores de Qualidade de vida
	Indicadores de Qualidade de vida
	
	Indicadores de Qualidade de vida
	Infra Estrutura Social
	Infra Estrutura Social
	
	
	
	Estrutura Urbana
	
	
	
	Organização Social
	
	
	Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural
	Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural
	Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural
	Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural
	
	Uso do Solo
	
	Uso do Solo
Tabela 1. Comparação de Diagnósticos no Meio Sócioeconômico
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os diagnósticos no meio socioeconômico, levantado pelos estudos ambientais, refletem a quantidade de dados considerados no escopo do projeto. Apesar de seguirem regulamentações legais básicas, o escopo pode variar conforme as regulamentações estaduais. Pode-se notar que o estudo ambiental do empreendimento Barragem Casa Branca, localizado no estado da Bahia, apresenta menor quantidade de diagnósticos que os demais empreendimentos.
Os projetos “Unidade Automobilística Toyota do Brasil” e “Condomínio Residencial DAMHA” estão localizados no estado de São Paulo, próximos à grandes centros urbanos em expansão. Ambos apresentam grande quantidade de dados levantados, como indicadores de qualidade de vida, infra-estrutura social e indicadores demográficos, o que é recorrente devido à maior quantidade de estudos em diversas áreas (saúde pública, educação, etc.) pelos centros de pesquisa e universidades próximos às áreas de implantação. Os Planos Diretores dos municípios onde se localizam estes empreendimentos são considerados durante o estudo, porém os diagnósticos não alcançam uma abordagem urbanística integrada das populações urbanas mais afetadas diretamente, utilizando dados genéricos relativos ao município como um todo. 
Os estudos realizados para os empreendimentos “Barragem Casa Branca” e “UHE Tijuco Alto” se assemelham devido à tipologia do empreendimento e à proximidade a Unidades de Conservação e paisagens cênicas com grande potencial turístico. Devido à menor proximidade de centros urbanos, apresentam maiores dificuldades de acesso a dados e estudos para a realização dos diagnósticos. No caso de Casa Branca, o estudo apresenta poucos levantamentos acerca do meio antrópico, além de não apresentar indicadores de qualidade de vida da população da região, fator importante para a compreensão dos impactos. O estudo não apresenta levantamentos sobre as aglomerações urbanas da região e pouco cita sobre as condições dos serviços básicos na região. A construção da barragem objetiva o abastecimento público e, por apresentar uma justificativa focada em uma problemática social, como sua demanda hídrica, desconsidera muitos levantamentos necessários.
O empreendimento da UHE Tijuco Alto evidencia grandes contradições entre os benefícios gerados pelo empreendimento e a localização deste em uma área com relevantes aspectos ecossistêmicos e socioculturais. O projeto tem como objetivo fornecer energia somente à CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, proponente do projeto. O empreendimento é parte de um conjunto de empreendimentos que visa o controle de enchentes do rio Ribeira de Iguape e é requerido pelo proponente desde 1987. Como se nota na tabela 2, diagnósticos como: Contexto Histórico e Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico, são recorrentes para a previsão dos impactos evidenciando a importância no entendimento histórico dos aspectos culturais, refletidos no uso e apropriação de terras e nas atividades socioeconômicas das populações envolvidas.
CONCLUSÕES
No Brasil, as metodologias de avaliação de impactos sociais são incipientes, com poucas pesquisas realizadas na área. Essa metodologia é presente na avaliação de impacto ambiental, porém pouco aprofundadas, predominando os aspectos econômicos, o que pode ser caracterizado pela ausência da participação popular efetiva, o que traria significativas contribuições para as percepções sócioambientais dos estudos e melhor contemplação das demandas sociais.
Pode-se notar as diversas dificuldades para se obter dados referentes a questões culturais dos remanescentes quilombolas da região do Vale do Ribeira, como apropriação territorial e organização social, além da relutância destes em colaborar com o estudo. Isso demonstra o conhecimento insatisfatório dessas coletividades socioculturais singulares e a dificuldade de inter-relação entre estudos sociológicos e antropológicos e o levantamento de impactos considerados. A própria existência do projeto gerou expectativas nas comunidades, acarretando mobilizações nas comunidades quilombolas para reconhecimento e titulação das terras junto ao ITESP – Instituto de Terras de São Paulo.
Não obstante o estudo não considera aspectos relevantes como: (1) Tombamento pela UNESCO, desde 1999, do Vale do Ribeira, onde se localiza o projeto, como Patrimônio natural, sócioambiental e cultural da humanidade. (2) O Vale do Ribeira possui a maior área contínua de Mata Atlântica do Brasil, ecossistema ameaçado devido a grande expansão urbana na sua área original. A não contemplação desses aspectos na ponderação dos impactos demonstra a ausência de acepção do conceito de patrimônio cultural, respaldados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal.
Espera-se que o presente trabalho venha contribuir para melhorar a inserção das esferas social e ambiental no processo de licenciamento ambiental e na Avaliação de Impactos Ambiental, aproximando os instrumentos da realidade sócioambiental, e auxiliando nos processos de tomada de decisão
BIBLIOGRAFIA
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