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Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL João Roberto Mendes Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Divisão Acadêmica: Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica: Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica: Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná Material de uso didático. Universidade Tuiuti do Paraná Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Pró-Reitoria de Promoção Humana Ana Margarida de Leão Taborda Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Carmen Luiza da Silva Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL 1º Bimestre Unidade 1.4 PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL João Roberto Mendes NOTAS SOBRE O AUTOR João Roberto Mendes – é graduado em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (1998). Bolsista em projetos de extensão universitária relacionados às Tecnologias da Informação e da Comunicação - TICs durante a graduação. Especialização em Magistério Superior (1999). Mestre em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR (2002). Doutorando em Geografia pela UFPR (2012). Professor das Faculdades OPET (Tutor AVA); e Professor Adjunto dos Cursos de Pedagogia e de Tecnologia em Logística da Universidade Tuiuti do Paraná - UTP. Professor do Curso de Pedagogia EAD da Universidade Federal do Paraná. Trabalha com as disciplinas: Gestão Sustentável; Tecnologias de Comunicação e Informação; Sistemas de Informação; Interação Humano Computador, Tecnologia da Informação e Metodologia do Ensino de Geografia. Autor de livros e materiais didáticos para a EAD. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO AO ESTUDO ...................................................... OBJETIVOS DO ESTUDO .......................................................... PROBLEMATIZAÇÃO ................................................................. CONCEITUAÇÃO DO TEMA ...................................................... PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL .................................... 1 CONCEITO DE IMPACTO AMBIENTAL .................................. 2 ORIGEM DAS PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL ........ 2.1 As pesquisas de Impacto Ambiental no Brasil ....................... 2.2 O licenciamento ambiental .................................................... 3 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA ............................. 4 RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – RIMA .................... EXERCÍCIOS .............................................................................. REFERÊNCIAS ........................................................................... 9 10 11 13 13 13 16 17 19 21 23 26 27 9 INTRODUÇÃO AO ESTUDO Nesta unidade apresentaremos aos acadêmicos as fases das pesquisas de impactos ambientais: Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), tendo em vista que diversas atividades econômicas podem trazer como consequência de sua realização impactos ambientais. Nesse sentido, são necessários estudos que identifiquem os tipos de impactos causados, tendo em vista prevenir ou amenizar efeitos indesejados relacionados à qualidade ambiental. 10 Como forma de controlar o desenvolvimento de atividades econômicas impactantes no meio ambiente, diversas políticas e princípios vêm sendo adotados em diferentes países. No Brasil, a partir da Política Nacional de Meio Ambiente estabelecida pela Lei 6938, de 1981, diversos órgãos em nível municipal, estadual e federal passaram a direcionar ações e normatizar por meio de licenciamentos as atividades econômicas impactantes. Nesse contexto, destaca-se a importância das pesquisas de impactos ambientais com a finalidade de detectar a amplitude e os efeitos reais e potenciais das atividades econômicas impactantes. 11 OBJETIVOS DO ESTUDO Apresentar as diretrizes, princípios, requisitos e orientações exigidas pelos órgãos competentes para o licenciamento ambiental com destaque para os Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). 12 PROBLEMATIZAÇÃO Qual a importância da avaliação de impacto ambiental? 13 CONCEITUAÇÃO DO TEMA PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL A busca por um uso mais racional dos recursos naturais aumentou de forma significativa, sobretudo a partir da década de 1980. Isso porque a Constituição Federal de 1988 passou a requerer ações mais ativas quanto às questões ambientais por parte dos estados e municípios. Com isso tiveram início as políticas e programas objetivando aliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade, que impulsionou a evolução da legislação nas últimas décadas estabelecendo regras e normas mais adaptadas à realidade do Brasil, buscando amenizar e/ou prevenir impactos ambientais. 1 CONCEITO DE IMPACTO AMBIENTAL Tendo em vista uma melhor compreensão sobre a relação entre pesquisas as consequências das atividades ou 14 empreendimentos, faz-se necessário refletir sobre o significado dessa expressão, ou seja: o que é impacto ambiental? De acordo com a resolução 001/86, do CONAMA, considera-se que esse tipo de impacto caracteriza-se por qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I a saúde, a segurança e o bem estar da população; II as atividade sociais e econômicas; III a biota (conjunto de seres vivos de um ecossistema); IV as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V a qualidade dos recursos ambientais. Também referindo-se ao conceito de impacto ambiental, Barbieri (2011, p. 307) diz que trata-se de Portanto a palavra impacto abrange as alterações no meio físico, biótico e social que ocorrem ou podem ocorrer a partir de atividades humanas. Nesse sentido, ao se referir aos impactos decorrentes das ações humanas, O autor destaca ainda que é preciso não esquecer os impactos positivos, que são aqueles que podem conferir qualquer mudança no ambiente natural e social decorrente de uma atividade ou de um empreendimento proposto. Mesmo considerando que qualquer mudança pode ocorrer por causas naturais, as que interessam [nesse contexto] são as resultantes de ações humanas. há uma tendência em associá-los apenas aos efeitos negativos sobre os elementos do ambiente natural e social, pois a degradação ambiental que nos rodeia são basicamente resultados indesejáveis dessas ações. (BARBIERI, 2011, p. 307) 15 sustentabilidade econômica, social e ambiental à atividade ou empreendimento. Na norma ISO 14001 (2004), encontra-se como definição de impacto ambiental “qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo ou em parte, dos aspectos ambientais da organização”. A expressão meio ambiente contida nessa definição caracteriza-se como restrita, pois conforme Barbieri (2011, p. 308), trata-se da “circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas interações”. Porém, os impactos ambientais não se restringem a uma determinada localidade, pois podem em alguns casos, alcançar uma dimensão regional ou planetária. Um exemplo são os buracos na camada de ozônio na região da Antártida, causados pela emissão de CFCs a partir de váriospontos do globo terrestre. Clorofluorcarbonos – CFCs Caracterizam-se como substâncias artificiais utilizadas por décadas nas indústrias de refrigeração e ar condicionado, espumas, aerossóis, extintores de incêndio. Atualmente os únicos produtos fabricados com CFCs são os Inaladores de Dose Medida (MDI), utilizados no tratamento de asma. Descobriu-se, na década de 1970, que tais substâncias destruíam a camada do gás ozônio que envolve a Terra em altitudes entre 15 a 50 km e que são responsáveis pela absorção da maior parte da radiação ultravioleta enviada pelo Sol. Como consequência, contribui para o aumento da incidência dos raios ultravioletas prejudiciais à saúde, podendo causar doenças como câncer de pele, além de interferir no clima, na biodiversidade e na produção agrícola. Outra característica desses gases é que participam da intensificação do efeito estufa, ou seja, contribuem para o aquecimento global. Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: < http://www.mma. gov.br/estruturas/173/_arquivos/indicador_cfc.pdf > Acesso 10 jul. 2014. Ainda de acordo com Barbieri (2011, p. 308), também na Lei 6.938/1981, o conceito de meio ambiente deixa a desejar, pois consta como “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, 16 abriga e rege a vida em todas as suas formas”, porém deixa de considerar as questões de ordem socioeconômica. 2 ORIGEM DAS PESQUISAS DE IMPACTO AMBIENTAL Durante décadas, o desenvolvimento econômico impulsionado pela indústria desconsiderou os impactos ambientais provenientes desse tipo de atividade. Apesar da poluição, contaminação dos solos, das águas, entre outros serem visíveis, “os benefícios proporcionados pelo progresso eram justificados como um ‘mal necessário’.” (BRASIL, 2009, p. 11) Nesse contexto, as preocupações ambientais, quando ocorriam, eram extremamente limitadas a uma análise do ponto de vista econômico. Os impactos decorrentes das atividades econômicas passaram a ser considerados a partir da National Environmental Policy Act (Nepa), uma lei que entrou em vigor em 1969, nos Estados Unidos, como a primeira iniciativa do mundo em determinar a obrigatoriedade da realização de estudos sobre os impactos ambientais provenientes da implementação de projetos, programas e atividades, principalmente dos órgãos federais norte-americanos. (PRADO FILHO e SOUZA, 2004). Após a Conferência de Estocolmo, em 1972, a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente representou um avanço importante na disseminação da prática de exigir estudos sobre impactos ambientais causados pelas atividades humanas, principalmente nos países em desenvolvimento. Isso porque, conforme Barbieri (2011), o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outros bancos de desenvolvimento multilaterais e regionais passaram a exigir pesquisas de impacto ambiental como condição para concessão de empréstimos para grandes obras de infraestrutura como estradas, portos e hidroelétricas. No Brasil, essas pesquisas foram exigidas nos financiamentos dos seguintes projetos: as usinas hidrelétricas 17 de Sobradinho, na Bahia, e de Tucuruí, no Pará; e o terminal porto-ferroviário Ponta da Madeira, no Maranhão, ponto de exportação do minério extraído pela Companhia do Vale do Rio Doce (CVRD), na Serra dos Carajás. (BRASIL, 2009) Destaca- se que nesses projetos os estudos foram elaborados tendo como referência as normas internacionais, pois o Brasil ainda não possuía legislação própria, a qual foi promulgada em 31 de agosto de 1981, estabelecendo a Política Nacional de Meio Ambiente, com o advento da Lei 6938/81. (BRASIL, 2009) Dos diversos instrumentos e métodos de avaliação desenvolvidos e apresentados na Conferência de Estocolmo com objetivo de incorporar as questões ambientais ao processo de decisão, a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) tem sido o instrumento mais discutido. (BRASIL, 2009) Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, a importância da AIA foi reconhecida e sua obrigatoriedade está expressa na Carta Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável da Câmara de Comércio Internacional (ICC), em seu princípio 5, no qual enfoca: “avaliar os impactos ambientais antes de iniciar nova atividade ou projeto e antes de desativar uma instalação ou abandonar um local”. (BARBIERI, 2011, p. 354) A partir desse evento, a AIA passou a ser adotada em diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Sendo que hoje se observa que “houve um grande avanço no tratamento das questões ambientais, tanto no tocante ao aprimoramento da legislação ambiental quanto à conscientização da população”. (BRASIL, 2009, p. 11) Embora os avanços tenham sido significativos, considera- se que diversos são os desafios, ainda em nossos dias, tendo em vista a garantia da qualidade ambiental. 2.1 As pesquisas de Impacto Ambiental no Brasil No Brasil, a AIA foi legalmente introduzida a partir da Lei Federal 6938, de 1981, que estabelece Política Nacional do 18 Meio Ambiente. Porém, conforme Prado Filho e Souza (2004), foi com o Decreto Federal 99.274, de 06 de junho de 1990, que trata da regulamentação da AIA no Brasil, que se estabeleceu definitivamente que tal procedimento é parte integrante do licenciamento ambiental de atividades que podem provocar significativos impactos socioambientais. Nesse sentido, a Lei 6938 trouxe como aspectos inovadores: • instituiu a Avaliação do Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental como instrumentos de execução da Política Nacional de Meio Ambiente, em nível federal; • criou o Sistema Nacional de Meio Ambiente, o SISNAMA, uma estrutura político-administrativa composta por um conjunto articulado de órgãos, entidades, regras e práticas responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental; • criou o Conselho Nacional do Meio Ambiente, o CONAMA, órgão colegiado de caráter deliberativo e consultivo que, entre outras responsabilidades, delibera sobre normas e padrões para um ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida. O CONAMA constitui-se num mecanismo formal de participação da sociedade e de cooperação entre governo e sociedade, propiciando o debate de temas ambientais relevantes entre representantes da União, dos estados e municípios, da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil; • instituiu o princípio da responsabilidade objetiva do poluidor (independente de haver ou não culpa, o poluidor identificado obriga-se a reparar o dano causado ao meio ambiente); • incluiu as iniciativas governamentais (as que cabiam) no rol das atividades que deviam se submeter aos princípios da legislação ambiental. (BRASIL, 2009, p. 16) Com a promulgação da Constituição Federal, em 05 de outubro de 1988, dedicando o Capítulo VI, do Título VIII (art. 225), ao meio ambiente e definindo os direitos e deveres do Poder Público e da coletividade em relação à conservação do meio ambiente como bem de uso comum, evidenciou-se a preocupação da sociedade brasileira quanto às questões ambientais. (BRASIL, 2009) 19 O art. 225 da Constituição Federal, em seu parágrafo 1º, inciso IV, destaca que a avaliação de impacto ambiental deve “ser exigida pelo Poder Público (como ‘estudo prévio de impacto ambiental’), para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente”. (BRASIL, 2009, p. 16) Constituição Federal, 1988 Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (...) § 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) IV - exigir, na forma da lei,para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; (...) Com o destaque às questões ambientais dados pela Constituição de 1988, diversas aspectos da Lei 6.938/81 foram reafirmados, destacando a necessidade do licenciamento ambiental como um importante mecanismo de controle, pois é por meio deste que o Poder Público estabelece condições e limites ao exercício de determinada atividade. 2.2 O licenciamento ambiental No contexto da Política Nacional de Meio Ambiente, o licenciamento ambiental caracteriza-se como um instrumento que tem como propósito a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. (BRASIL, 2009, p. 33) 20 Inicialmente, o licenciamento ambiental era aplicado somente às indústrias de transformação, porém com a ampliação da legislação ambiental no Brasil passou a abranger uma gama maior de projetos desenvolvidos por empresas e organismos governamentais, além de indústrias extrativas e a projetos de expansão urbana, agropecuária e turismo, cujas atividades podem causar direta ou indiretamente impactos ambientais. A exigência do licenciamento ambiental foi determinada pela Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que reforçando a Política Nacional de Meio Ambiente, regulamenta as “atividades degradadoras da qualidade ambiental, contendo, inclusive, as penalidades a serem aplicadas ao infrator”. (BRASIL, 2009, p. 12) Com essa exigência, busca-se estabelecer formas de controle ambiental das atividades que possam comprometer a qualidade ambiental. Nesse sentido, a AIA possibilita diagnosticar os impactos ambientais que podem ocorrer no desenvolvimento de uma determinada atividade, tendo em vista a aplicação de medidas preventivas ou corretivas para garantir a qualidade ambiental. O processo de licenciamento ocorre por meio de procedimento administrativo a partir dos requisitos estipulados pelo órgão ambiental competente (municipal, estadual ou federal), referentes a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades que demandam recursos ambientais, que podem efetivamente ou potencialmente causar degradação ambiental. Para isso, são consideradas as disposições legais, regulamentos e normas técnicas aplicadas a cada caso. (BRASIL, 2009, p. 33) Nem toda atividade ou empreendimento, segundo Barbieri (2011), está sujeito ao licenciamento ambiental. A Resolução do Conama 237/97 traz uma relação das atividades que dependem de tal licenciamento, porém trata-se de uma listagem não exaustiva e “os órgãos ambientais competentes podem considerar outros tipos de empreendimentos e atividade sujeitos ao licenciamento ambiental, além dos que estão expressamente citados na Resolução 237/97”. (Barbieri, 2011, p. 311) 21 O licenciamento ambiental, conforme Resolução CONAMA 001/86, estabelece diretrizes gerais para elaboração do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) nos processos de licenciamento ambiental, definindo, ainda, critérios para sua aplicação. A seguir, busca-se uma caracterização desses tipos de estudos ambientais. 3 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL – EIA Ao analisar o apontamento sobre a necessidade dos estudos ambientais abordados pela Lei Federal 6938/81, que inclui a avaliação de impacto ambiental entre os instrumentos de políticas pública, e a abordagem dessa mesma questão na Constituição de 1988, art. 225, que usa a expressão “estudo prévio de impacto ambiental”, Barbieri (2011) destaca a necessidade de considerar a diferença entre os dois termos: Dessa forma tem-se como referência a definição de EIA desse autor, por considerá-la mais abrangente e que melhor explica as características desse tipo de estudo. Ainda conforme Barbieri (2011, p. 319), o EIA se caracteriza como um “estudo mais amplo, envolvendo [...] classificação de impactos, predição de efeitos, pesquisas de campo, análises laboratoriais, valoração monetária dos recursos ambientais”. O EIA passou a fazer parte dos requisitos para licenciamento ambiental a partir do Decreto 88.351/1983, que regulamentou a Lei 6.938/81, até junho de 1990. Essa exigência foi mantida pelo Decreto 99.274/90.Tendo como base as diretrizes abordadas na Resolução CONAMA 001/86, destacamos alguns requisitos aos quais o EIA deve atender: o estudo de impacto ambiental [EIA] compreende, além da avaliação dos impactos, a identificação de soluções alternativas, o desenvolvimento de medidas para prevenir os impactos, para controlar e compensar os impactos inevitáveis, entre outras atividades. (BARBIERI, 2011) 22 Resolução CONAMA 001/86 (...) Artigo 5º. O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais: I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não execução do projeto; II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de implantação e operação da atividade; III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza; lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de influência do projeto, e sua compatibilidade. (...) Artigo 6º. O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades técnicas: I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando: a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime hidrológico, as correntes marinhas, as correntes atmosféricas; b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente; c) o meio socioeconômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura desses recursos. II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, [por meio] de identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais. III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas. lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados). 23 (...) Artigo 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes á realização do estudo de impacto ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e informações, trabalhos e inspeções de campo, análises de laboratório, estudos técnicos e científicos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e fornecimento de pelomenos 5 (cinco) cópias. (BRASIL, 1986) O EIA pode conter informações sigilosas, pois mesmo considerando o princípio da publicidade plena, conforme preconiza o Princípio 10 da Declaração do Rio de Janeiro (documento resultante da ECO 92, que busca assegurar participação de todos os cidadãos interessados na qualidade ambiental), admite, de acordo com Barbieri (2011, p. 320-321), “restrições para os casos que contenham sigilo industrial, cabendo aos proponentes do projeto empreendedor demonstrar a necessidade de resguardar tal sigilo”. ECO 92 Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento Princípio 10 A melhor maneira de tratar questões ambientais e assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar de processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a procedimentos judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito à compensação e reparação de danos.(...) Nesse sentido, o sigilo é uma forma de impedir a sonegação de informações importantes por parte do proponente do empreendimento. 4 RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL – RIMA Destaca-se o RIMA, como um relatório que, conforme Barbieri (2011), expressa de forma conclusiva os resultados dos 24 trabalhos realizados no EIA, objetivando trazer uma avaliação valorativa que identifique se o projeto é ou não nocivo ao meio ambiente e em que nível. Deve apontar ainda medidas amenizadoras dos impactos negativos, acompanhamento e monitoramento dos impactos e apontamento de alternativas mais favoráveis. Ainda tendo como referência as diretrizes abordadas na Resolução CONAMA 001/86, destacamos alguns requisitos que o RIMA deve atender: Resolução CONAMA 001/86 (...) Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de impacto ambiental e conterá, no mínimo: I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas setoriais, planos e programas governamentais; II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes, emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados; III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do projeto; IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade, considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e interpretação; V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua não realização; VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado; VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos; VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem geral). Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua implementação. (...) (BRASIL, 1986) 25 Destaca-se o caráter público do RIMA, pois segundo Barbieri (2011), essa publicidade é o que pode garantir a participação de diferentes públicos no processo de avaliação do projeto. Para isso, cópias do RIMA precisam ficar à disposição do público nas bibliotecas dos órgãos ambientais competentes. Nessa perspectiva, O EIA e o RIMA configuram um conjunto de documentos que têm como propósito diagnosticar impactos ambientais reais ou potenciais provenientes de determinados tipos de empreendimentos. É importante considerar que o EIA e o RIMA não são os únicos estudos considerados no processo de licenciamento, podem ser requisitados tendo em vista diagnosticar especificidades de determinados empreendimentos, como exemplos, o Plano de Controle Ambiental (PCA) e Relatório de Controle Ambiental (RCA), dentre outros. Destaca-se ainda a importância dos estudos de impacto ambiental como forma de obter conhecimentos estratégicos por parte do empreendedor, tendo em vista melhorar o desempenho da gestão ambiental, assunto que trataremos na próxima unidade. o RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e de fácil compreensão [...] acompanhadas de mapas, quadros, gráficos etc., de modo a que as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as consequências ambientais de sua implantação, fiquem claras. (BRASIL, 2009, p. 40) 26 EXERCÍCIOS Todos os exercícios estão disponíveis na página da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem em http://ead.utp.edu.br, para respondê-los é necessário fazer login. 27 REFERÊNCIAS BARBIERI, J. C. Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumento. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 01 de 23 de janeiro de 1986. Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília: DOU de 17/02/1986. Disponível em: < http://mma.gov.br >. Acesso em: 13 jun. 2014. ______. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Resolução Conama n. 237 de 19 de dezembro de 1997. Regulamenta os procedimentos e critério de licenciamento ambiental como instrumento de gestão ambiental instituído Política Nacional do Meio Ambiente. Brasília: DOU de 22/12/1997. Disponível em: < http://mma.gov.br >. Acesso em: 13 jun. 2014. ______. Ministério do Meio Ambiente – MMA. Programa Nacional de Capacitação de gestores ambientais: licenciamento ambiental. Brasília, 2009. 28 PRADO FILHO, J. F.; SOUZA, M. P. O licenciamento ambiental da mineração no Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais: uma análise da implementação de medidas de controle ambiental formuladas em EIAs/RIMAs. Revista de Engenharia Sanitária Ambiental. Vol. 9 - Nº 4 - out/dez 2004, 343-349. 29 Disciplina de GESTÃO SUSTENTÁVEL Coordenadoria de Educação a Distância Coordenação Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Editoração Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior