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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ 
ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES 
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO HISTÓRIA COMTEPORÂNEA E RELAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
 
APARTHEID E A FORMAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL 
 
APARTHEID AND TRAINING OF SOUTH AFRICA 
 
 
Autor: Brandão, Graziela Cristina.
1
 
 Cabral, Luciano Nazareno.
2
 
 Faraj, Guilherme Hansen.
3
 
 Lima, Mayara Machado De.
4
 
 Oliveira, Mayra Costa.
5
 
 Orientador: Prof. Wilson Maske
6
 
 
RESUMO 
O presente artigo tem por objetivo analisar como surgiu o sistema segregacionista 
do aparthaid, assim como a colinização holandesa e posteriormente a inglesa 
influenciaram a formação do povo sul africano. Para alcnçar este objetivo, foi 
abordado a questão da teoria de raças e como elas culminaram no racismo, também 
foi aborado a influência da igreja para a legetimação da segragação racila. Foi 
apontado como o regime foi implantado e as respostas de resistência e da 
comunidade internacional. Resaltou-se as marcas deixadas pelo apartheid o seu 
termino e o surgimento de políticas de inclusão social apoiadas pelo presente 
governo negro sul-africano, e com isso, o possível surgimento de um novo sistema 
_______________ 
 
1
 Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Tuiti do Paraná. 
2
 Graduado em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR, graduado em 
Licenciatura em História pelo Centro Universitário Campos Andrade – UNIANDRADE, pós graduado 
em História Social da Arte pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR. 
3
 Graduado em Direito pela Universidade Tuiti do Paraná. 
4
 Graduada em Licenciatura em História pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR. 
5
 Graduada em Relações Internacionais pela Faculdade UNIJORGE- Salvador BA, graduada em 
direito pela Faculdade Ruy Barbosa- Salvador BA. 
6
 Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná (1992). Mestre em História 
do Brasil (1999) e Doutor em História (2004), ambos pelo Programa de Pós-Graduação em História 
da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador nas áreas de História Política, Relações 
Internacionais, História das Religiões e Imigração. Professor de História Contemporânea na 
PUCPR. 
 2 
racista no país em resposta aos quarenta anos de abusos ocorridos durante o 
século XX na África do Sul. 
Palavras-chave: Apartheid. Segregação. África do Sul. 
 
ABSTRACT 
This article aims to analyze how the segregationist system aparthaid emerged, as 
well as the Dutch and later the English colinização influenced the formation of the 
South African people. Alcnçar for this purpose, was addressed the issue of race 
theory and how they led to racism, was also aborado the influence of the church for 
the legetimação racila segragação. He was appointed as the regime was 
implemented and resistance responses and the international community. Resaltou 
the marks left by apartheid its end and the emergence of social inclusion policies 
supported by this black South African government, and with it, the possible 
emergence of a new racist system in the country in response to forty years of 
occurring abuse during the twentieth century in South Africa. 
Key-words: Apartheid. Segregation. South Africa 
 
1 INTRODUÇÃO 
O aparthaid foi um sistema segregacionista peretencen a África do Sul, onde 
uma minoria branca controlava a maioria negra e mestiça, legalmente segregada 
nos locais públicos, nas escolas, no direito de ir e vir e até mesmo no direito de 
votar. Após sanções, pressões e diversos outros manifestos oficiais da comunidade 
internacional contra o Apartheid, este chegou ao fim. Em 1994 o regime apartheid foi 
finalmente abolido, permitindo o acontecimento da primeira eleição democrática no 
país que elegeu Nelson Mandela como o primeiro presidente negro da nação Sul-
Africana. Mandela vinha de uma trajetória de 27 anos de reclusão acusado de 
comunista durante o regime. O desdobramento da política sul-africana conduzida 
por Mandela proporcionou ao país o mérito de exemplo de união racial durante o 
pós-apartheid. 
Na atualidade, a África do Sul é considerada uma nação emergente, que se 
destaca sócio-economicamente. Entretanto, este desenvolvimento sócio-econômico 
e a influência de políticas internacionais no país não superaram totalmente as 
marcas deixadas pelo Apartheid. Acredita-se que um novo sistema racista pode 
 3 
estar ressurgindo no país, em resposta aos quarenta anos de abusos ocorridos 
durante o século XX na África do Sul. O governo criou políticas de inclusão social 
para os negros, e agora, quem se sente discriminada e excluída socialmente é a 
população branca do país. Os índices de criminalidade de negros contra brancos 
são altos e as taxas de desemprego dentre os brancos vêm crescendo cada vez 
mais em decorrência das políticas implementadas na África do Sul. 
 
2 ANTECEDENTES DO APARTHEID 
Apartheid significa “vidas separadas” em africâner A origem histórica 
do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os 
primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se 
de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se 
estabeleceram no país nos séculos 17 e 18. 
Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais 
indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram 
um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma 
forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em 
uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial. Como 
aponta Noberto Bobbio os colonizadores usavam a classificação de raças para 
impor seu domínio, pertecentes a raça branca sempre foram denominados 
“superiores” e utilizam desses três postulados do racismo como sua visão de mundo: 
 
A humanidade está dividida em raças, cuja a diversidade é dada por 
características biológicas e psicológicas. Estas têm elementos culturais que 
derivam, porém, das características biológicas, cuja natureza é invariável e 
se transmite hereditariamente; Não existem raças diversas, mas existem 
raças superiores e inferiores; Não existem raças, e estas se dividem entre 
superiores e inferiores, como também as superiores têm o direito de 
dominar as inferiores. (BOBBIO apud LAFER, 2005, p.60). 
 
Esse tipo de visão de mundo racista apontada por Bobbio gera a discriminação, que 
pode ocorrer em diversos níveis de agressividade, podendo chegar a: 
 
Uma intensidade de violência à dignidade da pessoa humana que é a 
segregação. Esta consiste, como diz Noberto Bobbio, „em impedir a mistura 
dos diversos entre os iguais‟. Pode expressar-se por meio de obstáculos 
jurídicos à miscigenação e pela colocação da „raça inferior‟ pela „raça 
superior‟ num espaço separado. O Apartheid, na África do Sul, enquanto 
perdurou, foi um paradigma da segregação institucionalizada e do que há 
 4 
de mais nefasto na herança racista do colonialismo europeu.(LAFER, 2005, 
p.60). 
 
 
Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que 
em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio 
da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma 
estrutura de classe baseada no trabalho escravo. 
 
2.1 NEGROS 
Os negros eram a maior parte da papolução sul africana e eram também os 
principais nativos do país. Antes da vinda dos colonizadores havia um grande 
n´mero de diferentes tribos, com características e modo de vidas peculiares, com 
línguaprópria e estruturas hierárquicas e políticas muito singulares. A maioria das 
tribos se constituía de reinos ou clãs. Algumas eram formadas por vilarejos 
interligados sem um sistema político formal. 
Destacam-se como principais tribos encontaradas na áfrica do Sul: os San, 
Khoikhoi, Sotho, Tswana, Nguni, Venda, Tsonga, Zulu e Xhosa. Algumas dessas 
tribos foram praticamente exterminadas durante o processo de colonização ocorrido 
no país. Os afriknders considerevam negros todos os não brancos e pessoas aceitas 
como mebros de uma raça aborígene ou tribo da África. Essa clasificação perdurou 
por dois séculos. 
 
2.2 OS HOLANDES E A COMPANHIA DAS ÍNDIAS ORIENTAIS 
Em 1621 fundou-se a “Companhia das Índias Orientais” tendo atuação no 
Oceano Índico, como no Pacífico e no Atlântico. Passando-se vinte sete anos da 
criação da companhia a sua frota naufragou na Baia do Cabo sendo este o primeiro 
contato dos holandeses com a região. Os holandeses não tinham interesses de 
colonizar a região e sim apenas utiliza-lo como local para vendas de especiarias 
trazidas da índia sem ter contato com os nativos. Em 1660, Jan van Riebeeck, líder 
da primeira leva de holandeses que chegaram à região do Cabo, deu ordem para a 
construção de uma espécie de cerca que separasse sua pequena comunidade de 
europeus brancos dos habitantes da região. Esse foi o primeiro marco de 
segregação no país. 
 5 
Com a primeira leva de Holandeses fixados na região do Cabo começa o 
período de formação do povo Africânder: holandeses, franceses e alemães 
(agricultores e camponeses) que se tornariam africanos brancos ou africânder e 
passariam a falar o novo idioma afrikaans. O nacionalismo surgiu em conjunto com o 
Protestantismo Calvinista que alega que os brancos naquela região eram enviados 
de Deus como aponta Conervin (1979) “argumentos teológicos e científicos foram 
construídos para estabelecer a idéia de um “povo escolhido”, colocado por Deus na 
África do Sul, para cumprir a missão divina de ajudar os povos primitivos”. A Igreja 
Reformada Holandesa defendia o apartheid e se baseava na “sagrada escritura”. 
 
2.3 OS BÖERS 
Com o passar do tempo após a fixação da “Companhia das Índias Orientais” 
começaram a chegar os primeiros colonos livres os böers. Pertecentes a Igreja 
Reormanda Holandesa possuíam convicções calvinistas e utilizavam mão de obra 
escrava de várias etnias diferentes. Em 1700 a Colônia do Cabo tinha a população 
constituída de holandanses, escadinavos, alemães e franceses. Além dos colonos 
boers, havia também escravos africanos e malaios, estes últimos trazidos das Índias 
Orientais. Surgiram nesta época os coloured que eram os mestiços provenientes de 
relações entre brancos e negros o que se era proibido. Houve expedições para o 
interior do país, chamadas Treks, em que: 
 
Cada grupo boer seguia atrás de um líder religioso, reconhecido por todos e 
consciente da sua missão. No espírito daqueles colonos protestantes 
africanizados, o Trek refazia a epopéia bíblica do Êxodo, e tinha por fim o 
encontro da Terra Prometida. (MAGNOLI, 1998, p.20). 
 
 
A Colônia do Cabo era um lugar isolado e distante da Europa, sendo o único 
meio de comunição era através de barcos, na colônia não hesistia escolas, rodvias, 
ferrovias, jornais, rádio etc. Apesar da falta de estrutura os colonos preservavam o 
máximo de suas tradições e crenças religiosas. A única fonte de educação se dava 
através da Bíblia em assembleias formadas pelos patriarcas da família, dessa 
maneira seguinte somente à autoridade divina. 
 
2.4 OS INGLESES 
 6 
Em 1795 a Colônia do Cabo foi anexada à Coroa Inglesa, esse fato ocorreu, 
pois a Iglaterra percebeu a grande importância da região devida sua posição 
estratégica. Sendo a Índia a maior fornecedora de especiarias e a mais lucrativa de 
suas colônias os Igleses trataram de anexar a Colônia do Cabo. Essa anexação se 
deu pelo pagamento de seis milhões de libras esterlinas a Holanda devido às 
invasões napoleônicas. 
Os afrikanders foram totalmente contra a ocupação inglesa, entederam isso 
como invasão do seu território e se tornaram mais nacionalistas. A aversão aos 
ingleses ficou cada vez maior, prinncipalmente no âmbito religioso e de uma espécie 
de projeto de recolinação que os ingleses desejavam realizar. Como aponta Magnoli: 
 
O choque entre o poder britânico e o modo de vida böer manifestou-se já de 
início no plano cultural, como oposição entre as missões religiosas 
anglicanas e a Igreja Reformada Holandesa. Contudo, o cerne do conflito 
encontrava-se no projeto de recolonização conduzido pelo Ministério 
Colonial de Londres, que implicava profundas transformações na 
organização da propriedade da terra e da força de trabalho.(MAGNOLI, 
1998, p.21). 
 
A Coroa Britânica implantou um novo sistema de propriedade da terra, 
chamado Indirect Rule, que: 
Consistia na concessão de certo grau de autonomia para os territórios 
coloniais no estabelecimento de autoridades locais associadas a Londres. 
No fundo, procurava-se criar uma camada de dirigentes nativos vinculada à 
Coroa, a fim de reduzir o papel da força na manutenção da soberania 
britânica. (MAGNOLI, 1998, p.21). 
 
Esse sistema foi um osbaculo para os colonos que estavam acostumados a 
liberdade de expandir suas terras e ficarem distantes de supervisões do governo, 
livres de taxas e impostos. Sendo esse motivo de nenhuma cooperação entre os 
afrikanders e os ingleses. Foi a Coroa Inglesa que surgiram instuições 
administrativas formais, mas os colonos fugiam do controle destas burlando suas 
regras. Foram os britânicos que inseriram a educação, a industrialização e a 
urbanização no país. Houve catequização forçada para os negros, algo que jamais 
havia acontecido antes, pois os afrikanders não desejavam manter contato com os 
nativos do Cabo, algo que os ingleses fizeram. Os ingleses trouxeram a 
modernidade para a África do Sul levando a infraestrutura para a região. 
A terra distribuída para os Ingleses não eram propricias ao cultivo, as boas 
terras se encontravam em poder dos böers. Na tentativa de se estabelecrem melhor 
na região envolveram-se em vários conflitos de disputas territoriais tanto contra as 
 7 
tribos nativas sul-africanas quanto contra os Afrikanders. Não tendo sucesso nessas 
disputas. Com o passar do tempo com a expansão e o crescimento da áfrica do Sul 
houve aumento na demanda de trabalho, entrtanto a mão de obra deveria ser 
barata, então os ingleses aboliram o trabalho escravo acreditando que os negros 
poderiam oferecer serviços a baixo custo. Assim surgiu pela primeira vez leis 
especificamente para negros que estabelecia os direitos e deveres do tarabalhador 
negro. 
Isso acarretou um sistema de imigração por trabalho e o surgimento de uma 
nova classe social sul-africana. Surgiu assim às primeiras áreas residenciais para 
negros morarem, chamadas de “Bantustões”, surgiu também a Magna Carta dos 
Hotenttot‟s dando aos negros o mesmo status legal que tinham os brancos. Mesmo 
abolindo a escravidão foi assim que sul africanos de língua inglesa criaram bases 
para a estrutura política do aparthaid e seu trabalho explorativo. Em nomo do 
humanitarismo aboliram a escravidão e promulgando a Ordenação Colonial n. 50, ou 
a Carta Magna de Hottentot, que deu aos Khoikhoi status legal igual aos brancos e 
permitiu que um trabalhador Khoi que tenha sofrido abusos podia levar seu 
empregador branco à Corte e condená-lo por maus tratos. 
 
2.5 GUERRA ANGLO-BÖER 
Nos séculos XVII e XVII havia muita terra e um pequeno número de 
habitantes na Colônia do Cabo de modo a ocorrer à separação de gruposm que não 
se toleravam. Com o aumento do trabalho e da população era quasepossível viver 
segregado, mas os afrikanders, não admitiam uma interação. Em conseqüência 
disso, ocorreu o “Grande Trek”, ou seja, expedições de böers para áreas ainda não 
habitadas por brancos na Colônia. Essa expendição foi como aponta Magnoli: 
 
Expedições através das quais novas famílias juntavam-se aos pioneiros. 
Esse movimento de colonização gerou o aparecimento de numerosos 
ambientes novos e dispersos de fixação. O seu resultado foi a fundação das 
repúblicas böers do Transvaal e do Orange e de uma efêmera organização 
republicana autônoma no Natal, em torno de Pietermaritzburgo. (MAGNOLI, 
1998, p.23-24). 
 
Para se estabelecerem na região ouve batalhas entre os afrikanders e as ultimas 
tribos negras que resisiam a côlonia os Ndebele e os Zulus. Essas tribos acaram 
subjulgadas pelos brancos devido ao seu alto pode bélico. Durante algumas 
 8 
décadas, estas famílias de descendentes böers viveram pacificamente nas regiões 
do Trasvaal, Orange e Natal. Porém, com a descoberta de minas de diamantes 
nestes territórios, a Coroa Britânica deixou de reconhecer aquela região como 
território dos böers, mas sim como parte da Colônia do Cabo. Revoltados pela falta 
de reconhecimento, acreditando que aquela terra era por direito deles e 
reivindicando um território autônomo agrícola e auto-suficiente, os afrikanders deram 
início, em 1899, ao que ficou conhecido como a “Guerra Anglo-Böer”, a maior guerra 
entre brancos na história sul-africana. 
Como resultado dessa guerra grande parte das famílias Böers perderam suas 
terras e casas e realocados em campos de concentração ingleses onde a comida 
era insuficiente, a higiene era muito precária e as condições climáticas locais eram 
agressivas. Durante este período morreram entre vinte e vinte e seis mil Böers. 
 
3 A SEGRAGAÇÃO 
Com o fim da guerra Anglo-Böer a África do Sul no século XX possuía quatro 
diferentes grupos sociais principais: os afrikanders (descendentes dos böers), os sul-
africanos descendentes dos ingleses, os negros (de diversas tribos distintas) e os 
coloureds. Neste novo domínio britânico, todo o controle político foi dado aos 
brancos, uma vez que o direito dos negros de se sentarem no parlamento foi banido. 
Os bôeres logo fundaram o Partido Reunido Nacional para disputar com os ingleses 
a hegemonia política da região. 
 Sob a bandeira deste partido, os africânderes começaram a lutar pela 
oficialização das práticas de segregação racial de seus ancestrais. Os africânderes 
chegaram ao poder em 1910, em 1913, todos os negros, com exceção dos 
moradores da província do Cabo, foram impedidos de comprarem terras fora das 
"reservas indígenas". Ainda naquele ano, a Lei de Terras Nativas dividiu a posse da 
terra na África do Sul por grupos raciais. Os negros, que constituíam dois terços da 
população, passaram a ter direito a apenas 7,5% das terras, enquanto os brancos, 
um quinto da população, tinham direito a 92,5% das terras. As pessoas "de cor" 
(mestiços) não tinham direito à posse da terra. A lei determinava ainda que os 
negros só poderiam viver fora de suas terras quando fossem empregados dos 
brancos. 
Em 1918, o Projeto de Lei sobre Nativos em Áreas Urbanas foi concebido 
para obrigar os negros a viverem em locais específicos. Entretanto, a segregação 
 9 
urbana só foi introduzida no governo seguinte, de Jan Smuts, membro do Partido 
Unido. Foi Smuts quem havia cunhado a palavra apartheid, em discurso de 1917. 
Durante seu segundo governo, os indianos foram proibidos de comprar terras. 
O governo de Smuts começou a se afastar da aplicação de leis 
segregacionistas rígidas durante a Segunda Guerra Mundial. Em meio a temores de 
que a integração acabaria por levar a nação à assimilação racial, os legisladores 
estabeleceram a Comissão Sauer para investigar os efeitos das políticas do Partido 
Unido. A comissão concluiu que a integração traria uma "perda de personalidade" 
para todos os grupos raciais. 
O Partido Reunido Nacional, o principal partido político do nacionalismo 
africânder, venceu as eleições gerais de 1948 sob a liderança de Daniel François 
Malan, clérigo da Igreja Reformada Holandesa. Uma das principais promessas de 
campanha de Malan era aprofundar a legislação de segregação racial. O Partido 
Reunido Nacional derrotou por pequena margem o Partido Unido de Jan Smuts – 
que havia apoiado a noção vaga de lenta integração racial – e formou um governo 
de coalizão com outro partido defensor do nacionalismo africânder, o Partido 
Afrikaner. Malan instituiu o regime do apartheid, e os dois partidos logo se fundiriam 
para formar o Partido Nacional. 
A discriminação racial, há muito tempo uma realidade na sociedade sul-
africana, havia sido elevada à condição de filosofia Uma sociedade conhecida 
como Broederbond("Irmandade") congregava os "solucionadores de problemas" que 
elaboraram a doutrina do apartheid. 
Se a população negra já sofria com preconceito racial, entre o final dos anos 
40 e início dos 50 do século passado, quando o apartheid é instituído, a questão 
racial vira questão política, com várias leis, passando a determinar a segregação da 
população de modo a afastar do centro da cidade todos aqueles que fossem não 
europeus a fim de manter uma cidade branca, governada e habitada por brancos. 
Foi assim então que toda a população foi agrupada, separada e dividida em 
grupos conforme a cor de sua pele, origem, hábitos, costumes e descendência, 
classificando em brancos (uma pequena minoria de brancos europeus dominantes 
no poder político), pretos (africanos), mestiços e não europeus que seriam os 
Indianos e Asiáticos. 
Não bastasse dividir a população com base em características físicas, foram 
deslocados para bairros afastados da cidade, onde viviam isolados e entre eles, e 
 10 
ainda tiveram de obedecer regras como não frequentar os mesmos lugares que os 
brancos, usar transportes distintos, pedir autorização para adentrar e atravessar o 
território dos brancos, como uma espécie de passaporte e passe livre, foram 
proibidos de se misturar entre eles e menos ainda com os brancos, e proibidos de 
casarem e terem qualquer tipo de relação pessoal íntima com pessoas de outras 
raças, caracterizando uma verdadeira criação de identidade racial, além de terem 
que se candidatar a postos específicos de trabalho de acordo com a cor da pele. 
Tendo sido instituído num período onde já não cabia mais, em todo o mundo, 
se falar em segregação racial, o regime imposto na África do Sul, que durou até o 
início da década de 90 do século passado, foi duramente condenando e criticado por 
diversos países, inclusive o Brasil, além de ter sofrido restrição comercial por parte 
do Reino Unido e Estados Unidos. 
E, especialmente num país de maioria da população negra, esse regime 
acabou por gerar diversas revoltas e manifestações ao longo dos anos em que se 
manteve, haja vista o isolamento e as imposições dadas a essa cama da população. 
Foi então que, nos bairros negros, os chamados bantões ou guetos, como o 
Soweto, várias foram as organizações e os movimentos de revolta e rebelião contra 
o apartheid que, mesmo tendo feito inúmeras vítimas continuou crescendo e se 
manifestando cada vez mais, como foi o caso de uma revolta sangrenta ocorrida em 
Soweto em 1975. 
Os anos de submissão a esse regime foram se passando e aumentando, na 
população segregada o ódio, a raiva, a vontade de se rebelar, se manifestar, mesmo 
diante de várias novas regulamentações, tendo se destacado, na década de 1980 
com grande repercussão até os dias atuais o nome de Nelson Mandela. 
 
4 NELSON MANDELA 
A história de Nelson Mandela se confunde com a própria história do apartheid, 
pois olíder sul-africano seria um dos mais importantes sujeitos políticos em atuação 
contra o processo de discriminação instaurado por este sistema na África do Sul e 
se tornaria um ícone internacional na defesa das causas humanitárias. 
Mandela, de etnia xhosa, nasceu em 18 de julho de 1918, na cidade de 
Transkei. Era filho único e pertencente à uma antiga família de aristocratas da casa 
real de Thembu. Seguindo as tradições de sua etnia, ele teve sua iniciação na 
sociedade aos 16 anos e seguiu para o Instituto Clarkebury onde estudaria cultura 
 11 
ocidental. Já em 1934, o jovem Mandela iniciaria o curso de Direito na Universidade 
de Fort Hare, lugar onde conheceria Oliver Tambo, amigo este que lutaria mais tarde 
contra os ditames do apartheid ao seu lado. 
Seria na Universidade de Fort Hare que Mandela se envolveria com o 
movimento estudantil. O mesmo se envolveria em um boicote contra as políticas 
universitárias, o que culminaria em sua expulsão da instituição. Todavia, seria este 
fato aliado à sua tentativa de se esquivar de um casamento arranjado sob a cultura 
de sua etnia que o levariam até Johanesburgo, onde concluiria uma graduação em 
Artes na Universidade da África do Sul por correspondência e continuaria seus 
estudos de Direito na Universidade de Witwatersrand, porém apenas concluiria seus 
estudos nessa área já nos anos de sua prisão. 
Mandela, através do amigo Walter Sisulu, começaria a trabalhar em um 
escritório de advocacia e se envolveria na oposição ao regime do apartheid, regime 
este que negava aos negros, mestiços e indianos seus direitos políticos, sociais e 
econômicos. Assim, ele se uniria ao Congresso Nacional Africano (CNA), em 1942 e 
após dois anos seria fundado por ele, Walter Sisulu e Oliver Tambo (dentre outros), 
a Liga Jovem do CNA. Após a eleição de 1948, a qual daria vitória aos afrikaners do 
Partido Nacional e sendo estes, apoiadores da política de segregação racial, seria a 
deixa para Nelson Mandela se tornar uma liderança ativa dentro do CNA. 
No início de suas atividades políticas, Mandela e seus correligionários 
estiveram comprometidos apenas com atos de não violência, porém após o 
Massacre de Sharpeville ocorrido em março de 1960, os mesmos se inclinaria a 
recorrer às armas, pois a polícia sul-africana teria atirado em manifestantes negros, 
culminando com a morte de 69 pessoas e deixando 180 feridos. No ano seguinte, 
Mandela se tornaria o comandante do braço armado do CNA, denominado 
Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação ou MK), o qual seria fundado por ele e outros 
militantes e através do qual coordenaria uma campanha de sabotagem contra alvos 
militares e governamentais. Na condição de militante, Mandela viajaria para o 
Marrocos e para a Etiópia com vistas a obter treinamento paramilitar. 
 
“Em seu famoso discurso, “Estou Preparado para Morrer”, proferido em seu 
julgamento em 20 de abril de 1964, Mandela expôs os motivos que levaram 
à fundação do MK: ‘em primeiro lugar, acreditávamos que, como resultado 
da política do governo, a violência do povo africano tinha se tornado 
inevitável e, a não ser que uma liderança responsável pudesse canalizar e 
controlar os sentimentos do nosso povo, haveria ondas de terrorismo que 
espalharia (sic) um amargor e hostilidade tão intenso entre as raças desse 
 12 
país que nem uma guerra poderia produzir. Em segundo lugar, sentimos 
que sem violência não haveria nenhum modo de o povo africano ter 
sucesso em sua luta contra o princípio da supremacia branca. Todas as 
formas legais de expressar oposição a esse princípio foram solapadas pela 
legislação e nós fomos colocados em uma posição na qual ou aceitávamos 
um estado permanente de inferioridade, ou teríamos de desafiar o governo. 
Nós escolhemos desobedecer a lei. Primeiro infringimos a lei de modo a 
não recorrer à violência. Quando essa forma foi considerada ilegal e o 
governo recorreu à uma mostra de força para esmagar a oposição, apenas 
então decidimos responder à violência com violência’.” 
BLANC, Claudio. Madiba, O Guerreiro da Igualdade: Uma biografia de Nelson Mandela. E-book 
disponível em https://issuu.com/padeirosspmemoria/docs/nelson_mandela (Acesso em 
06/10/2016 às 12h30) 
 
Através de informações cedidas pela CIA à polícia sul-africana que em agosto 
de 1962, Mandela seria preso e sentenciado a cinco anos de prisão por viajar 
ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Todavia, em 1964 o mesmo seria 
condenado à prisão perpétua por sabotagem admitida e por conspiração com vistas 
ao auxílio de outros países a invadir a África do Sul, fato este negado por Mandela. 
O líder sul-africano permaneceria encarcerado por quase três décadas em 
uma ilha, tendo inclusive recusado uma revisão de sua pena que poderia tê-lo 
colocado sob liberdade condicional se em contrapartida, o mesmo se 
comprometesse a não incentivar a luta armada. Todavia, todo este tempo o faria se 
transformar em um grande ícone da luta contra o apartheid e sua imagem estaria 
intrinsecamente ligada à oposição ao regime e a pressão internacional para sua 
libertação seria crescente em vários países. Nelson Mandela somente seria libertado 
em fevereiro de 1990, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk e juntos 
eles dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993 devido aos seus esforços pela 
conciliação do país. 
Mandela seria eleito como o primeiro presidente negro da África do Sul e 
estaria à frente de seu país de 1994 a 1999, de modo que comandaria a transição 
do regime de privilégios da minoria branca culminando na conquista de grande 
respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. 
Mandela, enfim extinguiria o apartheid e sua transição seria pacífica! Após o fim de 
seu mandato, Mandela se engajaria em causas de diversas organizações sociais e 
de direitos humanos, com especial atenção à luta contra a AIDS, sendo 
condecorado no exterior em diversas ocasiões. 
Aos 85 anos de idade, em 2004, Mandela anunciaria ao mundo sua retirada 
da vida pública, abrindo exceção apenas ao seu compromisso ao combate à AIDS. 
 13 
Nelson Mandela faleceria em 2013 aos 95 anos em sua casa na África do Sul, 
deixando seu legado ao mundo: a luta contra a discriminação sócio-racial. 
 
5 RESISTÊNCIA 
Em um ambiente de opressão surgiram os movimentos de resistência ao 
apartheid, no início através de manifestações pacíficas. As artes e mais 
propriamente a música foram amplamente utilizadas como um veículo de expressão 
social na conscientização das grandes massas populares e principalmente nos 
Town ships que eram áreas urbanas destinadas somente a negros e indianos viviam 
muitos poetas e compositores. 
A música negra sul africana foi dotada de significativa riqueza melódica e 
rítmica, ao contrário da maioria dos países africanos não agregava valores 
sincréticos até mesmo porque as religiões cristãs tinham maior influência cultural na 
África do Sul. Contudo não demorou governo africâner de Pretória iniciar um período 
de perseguição política a artistas, alguns fugiam e se exilavam na Europa ou 
Estados Unidos é o caso da cantora Miriam Makeba que continuou com ativismo 
político mesmo fora de sua terra natal testemunhando ao mundo as atrocidades do 
apartheid, Miriam retornou a África do Sul em 1990 a convite de Nelson Mandela, 
outros não teriam a mesma sorte, Vuyisile Mini por exemplo, era um poeta, 
dançarino e cantor que ao ser preso foi torturado e enforcado na Prisão Central de 
Pretória em março de 1964 sob a acusação de traição e sabotagem. 
Assim como Miriam, a mulher teve um papel imprescindível na luta contra a 
segregação racial, a começar na educação dos filhos que cedo já eram instruídos a 
buscar formas de protesto e lutarpor condições de igualdade, nas escolas haviam 
poucos homens lecionando, a morte e prisão por qualquer ato mínimo de 
desobediência e as leis fizeram muitos órfãos e coube a mulher um papel a mais na 
formação humana de muitos jovens. Contudo o ativismo feminino não se ateve ao 
lar e a escola, muitas formavam agremiações e lideravam alas até mesmo radicais 
em partidos políticos de oposição ao governo africâner. 
Lilian Masediba Matabane Ngoyi era operária em uma fábrica têxtil e fundou a 
Federação das Mulheres Sul africanas liderou uma marcha junto a 20.000 mulheres 
à Union Buildings de Pretória, junto a Lilian uma amiga pessoal teve destaque pelo 
intenso trabalho junto as comunidades mais pobres e nas lideranças estudantis, era 
Helen Joseph uma professora e assistente social inglesa que foi presa em 1957 sob 
 14 
acusação de sabotagem e alta traição. A polícia de Port Elizabeth temia matar Helen 
por ser britânica, contudo ela conseguia grandes adesões nas passeatas e gozava 
de prestígio em instituições femininas que combatiam crimes contra mulheres no 
Reino Unido. Entende-se o porquê para o serviço de inteligência pretoriano Helen 
era vista como um problema, em 1962 foi absolvida. 
Winnie Madikizela Mandela talvez seja a mais conhecida de todas as 
ativistas, mas não somente por ter sido esposa de Nelson Mandela. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Crianças em Shaperville FONTE: Acervo do Museu de Pretória 
 Winnie pertencia a mais de um movimento de resistência, teve ampla e 
marcante participação em marchas e insurreições contra o apartheid, criou um grupo 
miliciano travestido de time de futebol, arrecadava alimentos para crianças das Town 
Ships e fundou a Federação das Mulheres Negras e a Associação dos Pais Negros, 
foi detida por 16 meses em março de 1969. Atualmente é considerada a mãe dos 
negros na África. 
O CNA (Congresso Nacional Africano), era a organização de oposição mais 
antiga, pregava uma revolução social e um país multirracial, tinha como lideres 
Oliver Tambo e Nelson Mandela, ambos fundaram a Liga Juvenil do Congresso 
Nacional Africano. Em 25 de junho de 1955 em um estádio de futebol foi realizado o 
Congresso do Povo, um evento cívico que reuniu líderes tribais, indianos e membros 
de partidos de oposição ao governo do apartheid. Em um clima de festa foi lida a 
 15 
Carta da Liberdade, documento que expressava o desejo de um regime igualitário e 
da estatização dos recursos naturais. Todos os itens da carta foram aprovados por 
no congresso. No dia 26 policiais confiscaram a carta, bandeiras e todo tipo de 
referência a ela e no início de dezembro de1956 Oliver, Mandela e mais 156 
pessoas foram detidas e acusadas de alta traição, em 1961 Mandela foi absolvido. 
1958 foi o ano de ascensão de Hendrik Frensch Verwoerd ao cargo de 1º ministro, 
o Partido Nacionalista colocava em uso uma estratégia mais audaciosa na 
segregação, através da criação dos Bantustões que eram pseudo estados de acordo 
com a origem tribal. 
Todo esforço do apartheid foi dirigido para identificar, ressaltar e aprofundar 
as distinções culturais e, simultaneamente, negar ou mascarar a origem 
comum dos bantos da África austral. Uma caudalosa literatura foi produzida 
pelos africânderes com o intuito de descrever as manifestações culturais 
“típicas” das “etnias” negras e a especificidade dos diversos dialetos. Nos 
bantustões formados nas antigas reservas tribais o Estado branco procurou 
e frequentemente encontrou chefes nativos dispostos a constituir uma 
“autoridade” política “nacional” apoiada, financiada e sustentada por 
Pretória. (MAGNHOLI, 1992, p.45). 
 
Os bantustões criavam micro áreas super povoadas em terras com pouca 
fertilidade, seriam mais um zonas de exclusão racial, com a falsa impressão de 
independência. Os partidos contrários ao apartheid, já estavam vivendo na 
clandestinidade desde 1956 quando por lei foram proibidos, e a ideia de pacifismo 
parecia mais utópica, na intenção de dar uma resposta mais clara aos africaners foi 
organizada uma passeata em Sharpeville, cidade negra nos arredores de 
Johannesburgo. Com a adesão de 20.000 estudantes se dirigiram a delegacia 
policial para protestar contra a lei de passes, o resultado foi catastrófico, a polícia 
abriu fogo indiscriminadamente, o que resultou em um saldo de 69 mortos e 180 
feridos. A partir deste dia a população negra passou a pressionar os grupos 
insurgentes para abandonar a estratégia de oposição pacífica. 
Em 1964 Mandela foi preso e condenado a prisão perpetua por alta traição, 
de início foi levado a prisão central de Pretória e mais tarde à ilha de Robben, onde 
mesmo preso liderava ações do CNA que agora iriam realizar atos de sabotagem 
em empresas governamentais. Havia vários movimentos em atividade clandestina 
que buscavam o fim do apartheid, CPA ( Congresso Pan Africano) era mais radical, 
contra a instauração de uma África multirracial e tinha por finalidade a organização 
de levantes sociais, foi o patrocinador da passeata em Sharpeville, tinha poucas 
conexões externas, já o PCAS ( Partido Comunista da África do Sul) recebia apoio e 
 16 
armas de Moscou e pregava uma revolução socialista. Contudo o mais temido pelo 
governo africâner era o MK (Lança da Nação), miliciano e mais radical realizava 
sequestros, atentados em órgão públicos e explosões em estradas e portos. 
No início da década de 70 sob a liderança de Steve Biko, o movimento de 
Consciência Negra (CN) inaugurava uma onda de auto valorização física e 
intelectual do cidadão negro, coisas como alisar o cabelo usar roupas típicas de 
brancos eram consideradas uma atitude de desprezo pela natura física, muitos dos 
adeptos eram intelectuais e traziam ideias libertárias. O ano de 1975 foi marcado 
pela elevada taxa de evasão escolar, muitos jovens foram para Angola e 
Moçambique a fim de receber treinamento de guerrilha, o efeito do aumento 
significativo de militantes viria no ano seguinte, onde se deu o maior levante da 
história da África do Sul. 
Soweto era um subúrbio de Johannesburgo, com elevada densidade 
populacional e precárias condições de saneamento, um local sempre pronto a 
agitações políticas. O estopim foi à reforma educacional imposta pelo governo, nela 
estudantes negros pagariam por aulas ofertadas em escolas sem infraestrutura 
adequada em africâner ao invés de inglês, ao contrário alunos brancos se 
beneficiavam do ensino gratuito. 
Uma passeata organizada por Steve Biko, líder da CN iniciou em direção a 
um estádio, quando a polícia tentou reprimir a marcha através de disparo de balas 
de borracha e bombas de lacrimogênio. Desta vez mesmo sob tiros e bombas, os 
manifestantes enfrentaram a polícia, 95 foi o número oficial de mortos, esse evento 
incendiou o país, em todas as regiões havia confrontos, esse episódio ficou 
conhecido como o massacre de Soweto. Mais tarde em 1977 a polícia prendeu e 
torturou Biko que veio a falecer por hemorragia cerebral. 
Mesmo com instabilidade política e social, a economia local era prospera, 
empresas norte americanas e inglesas exploravam minerais, por esse motivo a ONU 
aprovava menções contra as agressões contra negros na África do Sul, mas não 
buscavam medidas concretas. Ao início dos anos 80, as milícias estavam dividas, 
algumas tinham apoio de líderes tribais e outras de lideranças dos Town ships, 
disputas internas pelo poder geravam sequestros e mortes entre as etnias negras. 
Líderes religiosos orientavam a população a não perder o pouco a coesão 
conquistada. 
 17 
Ao fim dos anos 80 devido à instabilidade política e social muitas 
multinacionais se retiravamda África do Sul, isso somado a pressão das grandes 
corporações que ali tinham investimentos levou o governo africâner a buscar 
soluções rápidas. Com esse intuito no dia 20 de setembro de 1989 subiu ao poder 
Frederik Willem de Klerk como presidente, de Klerk como era chamado era um 
político moderado, em fevereiro de 1990 decreta um pacote de medidas, entre elas a 
legalização de partidos clandestinos e a libertação de Nelson Mandela. 
 
6 O FIM DO APARTHEID 
O fim da Guerra Fria deflagrou mudanças substanciais na ordem econômica e 
social em todos os continentes do globo. Especificamente na África, um dos efeitos, 
não o único, foi o início das negociações que culminariam no fim do apartheid, 
consequência de pressões internas e externas amplificadas no período. 
Nesse fenômeno, em fevereiro de 1990 Nelson Mandela foi libertado e 
assumiu a presidência do CNA, iniciando, no ano seguinte, as tratativas com o 
Presidente Frederik De Klerk e o Partido Conservador, no poder desde 1948. 
Enfrentando inúmeros conflitos, foram tratados os temas de interesse dos negros e 
revoltosos, como a volta de exilados e a libertação de presos políticos, em 
contraposição a garantias da prosperidade branca. Em 1992 foi realizado um 
plebiscito em que a população branca respondia se aprovava, ou não, o processo de 
reformas iniciado em 1990, com as negociações e a formulação de uma nova 
Constituição. O resultado foi 68% a favor das reformas, e assim era legitimado o fim 
do Apartheid. Por fim, foi agendada para 1994 a eleição presidencial, com direito a 
voto para os negros, e foram revogadas todas as leis segregacionistas. 
As eleições de 1994, com os votos dos excluídos, foi pacífica e teve o 
resultado das urnas respeitado, elegendo-se Nelson Mandela como presidente da 
África do Sul com grande maioria dos votos. Era hora, então, com a assunção do 
poder por quem há pouco sequer gozava de direitos políticos e sociais, de 
reorganizar um país desestruturado social e economicamente – o CNA herdou um 
Estado falido –, embasado em critérios raciais para o acesso aos bens essenciais e 
ao trabalho no setor público e privado. 
De repente o negro vislumbrou a possibilidade de sair de seu gueto e buscar 
meios de sobrevivência em qualquer lugar do país, pois teve à sua disposição, 
depois de um longo período, o direito de ir e vir. Ocorre que o país não estava 
 18 
preparado para receber essa massa de novos cidadãos e, a despeito das melhorias 
sociais alcançadas, sobressaltava grande índice de desemprego. Para atender a 
tantas expectativas, foram elaborados programas com metas ambiciosas, que, 
conquanto não tenham sido alcançadas, escancararam a necessidade de vultosos 
investimentos estruturais no país. 
Aí residia mais um problema, pois a CNA não conseguiu de pronto alterar a 
estrutura socioeconômica – muito em razão dos interesses nacionais e 
internacionais a ela vinculados – e, no empenho de atendimento às necessidades 
prementes da população, se viu obrigado a fazer várias concessões a setores do 
mercado, o que desagradou a alas de esquerda que apoiavam seu governo. 
Mandela governou até o ano de 1999, e logrou inserir o país na democracia, 
simbolizando o primeiro passo rumo aos direitos humanos em todos seus aspectos e 
para toda a população. Nas eleições de 1999 foi eleito Thabo Mbeki, também da 
CNA, como presidente, cuja política neoliberal desagradou boa parte da população 
africana, principalmente quando se notou flagrante a pouca preocupação do governo 
com a população mais necessitada. Por isso o eleitorado africano alçou ao poder o 
ex-vice de Mbeki, Jacob Zuma, cujo discurso se afeiçoava mais aos anseios da 
população negra mais necessitada e representava a esperança de abandono das 
políticas neoliberais do seu antecessor. 
6.1 PRECONCEITO PÓS APARTHEID 
O que se tem para o futuro da África do Sul é, ainda, a superação, além do 
trauma do apartheid, da dominação branca de quase 350 anos, que legaram uma 
estrutura social e econômica voltada ao atendimento de uma parcela da população, 
é dizer, da parcela branca. 
O apartheid foi resultado de um sentimento diluído nas classes altas, que, 
quando não apoiava, ao menos aceitava naturalmente um regime tão odioso. 
Inviável o implemento de regime absurdamente drástico em sociedade de 
consciência plural, de convivência pacifica com a diversidade, e obviamente essa 
indisposição para a convivência inter-racial harmônica e em igualdade é perene e 
permanece, ainda que em menor grau e de forma não declarada, na sociedade 
atual. 
Outra consequência do Apartheid ainda sentida é o afastamento espacial do 
negro. Melhor explicando, para segregar a população indesejada, foram criados os 
bantustões, consistentes em assentamentos afastados dos centros urbanos, onde 
 19 
não chegavam serviços estatais e não havia estruturas mínimas de sobrevivência. O 
movimento pós Apartheid foi de abandono desses locais precários para buscar 
ocupação nas cidades proibidas em antanho. Nas cidades essa população forma 
comunidades de extrema pobreza, com muita dificuldade para se estabelecer de 
maneira digna e conseguir trabalho formal. 
Por conseguinte, se conclui que ainda há muito a que se enfrentar em se 
falando de segregação racial na África do Sul, porquanto remanesce o racismo 
arraigado na sociedade, e infelizmente assim deve permanecer ainda por longo 
período, em um processo que em muito lembra o ainda enfrentado no Brasil pós 
escravidão. Formalmente o negro goza dos mesmos direitos que todos os demais 
cidadãos, o que concretamente não se confirma, pois na prática ainda lhes são 
fechadas portas e não cessaram os atos flagrantemente racistas ainda 
frequentemente cometidos. 
O cartunista africano Anton Kennemeyer consegue sintetizar genialmente as 
dificuldades enfrentadas pela população negra, em charges como essa, em que a 
carência de acesso à formação profissional caracteriza o currículo do negro, como 
se vê: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 20 
CONCLUSÃO 
O apartheid, que passou a ser considerado um crime contra a humanidade, 
entretanto existem possibilidades de um novo sistema de segregação racial estar se 
formando novamente na África do Sul, em razão da não superação das marcas 
deixadas na sociedade. Neste artigo foi abordado que o conceito de raças gerou o 
racismo e este pode atingir um nível tão elevado de discriminação, chegando à 
institucionalização de sistemas de segregação raciais como o Apartheid. Além disso, 
foi demonstrada a composição dos povos que foram personagens importantes na 
criação do que hoje é a África do Sul, a colonização holandesa e inglesa, que desde 
os primórdios sempre foi baseada na servidão dos negros e mestiços que habitavam 
a região, passando pelos Treks e a Guerra Ânglo-Böer. Foi apontando também 
sobre a imposição do regime de segregação racial de forma institucionalizada no 
país, através de inúmeras normas, deixando principalmente a população negra, mas 
também a mestiça, à margem da sociedade sul-africana. Finalmente o sistema de 
desenvolvimento separado da África do Sul chegou ao fim após tantas pressões da 
comunidade internacional sobre o país. 
Em 10 de Maio de 1994, Nelson Mandela fez o juramento 
comopresidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão. Dentre suas 
primeiras ações foi criada a Comissão Verdade e Reconciliação e reescrita a 
Constituição. Na eleição multi-racial seguinte, o ANC de Mandela ganhou com larga 
margem, efetivamente terminando com a era do apartheid. 
A herança do apartheid e as desigualdades sócio-econômicas que ela 
promoveu e sustentou podem vir a prejudicar a África do Sul por muitos anos nofuturo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 21 
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