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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO HISTÓRIA COMTEPORÂNEA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS APARTHEID E A FORMAÇÃO DA ÁFRICA DO SUL APARTHEID AND TRAINING OF SOUTH AFRICA Autor: Brandão, Graziela Cristina. 1 Cabral, Luciano Nazareno. 2 Faraj, Guilherme Hansen. 3 Lima, Mayara Machado De. 4 Oliveira, Mayra Costa. 5 Orientador: Prof. Wilson Maske 6 RESUMO O presente artigo tem por objetivo analisar como surgiu o sistema segregacionista do aparthaid, assim como a colinização holandesa e posteriormente a inglesa influenciaram a formação do povo sul africano. Para alcnçar este objetivo, foi abordado a questão da teoria de raças e como elas culminaram no racismo, também foi aborado a influência da igreja para a legetimação da segragação racila. Foi apontado como o regime foi implantado e as respostas de resistência e da comunidade internacional. Resaltou-se as marcas deixadas pelo apartheid o seu termino e o surgimento de políticas de inclusão social apoiadas pelo presente governo negro sul-africano, e com isso, o possível surgimento de um novo sistema _______________ 1 Graduada em Relações Internacionais pela Universidade Tuiti do Paraná. 2 Graduado em Fisioterapia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR, graduado em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Campos Andrade – UNIANDRADE, pós graduado em História Social da Arte pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR. 3 Graduado em Direito pela Universidade Tuiti do Paraná. 4 Graduada em Licenciatura em História pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR. 5 Graduada em Relações Internacionais pela Faculdade UNIJORGE- Salvador BA, graduada em direito pela Faculdade Ruy Barbosa- Salvador BA. 6 Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná (1992). Mestre em História do Brasil (1999) e Doutor em História (2004), ambos pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná. Pesquisador nas áreas de História Política, Relações Internacionais, História das Religiões e Imigração. Professor de História Contemporânea na PUCPR. 2 racista no país em resposta aos quarenta anos de abusos ocorridos durante o século XX na África do Sul. Palavras-chave: Apartheid. Segregação. África do Sul. ABSTRACT This article aims to analyze how the segregationist system aparthaid emerged, as well as the Dutch and later the English colinização influenced the formation of the South African people. Alcnçar for this purpose, was addressed the issue of race theory and how they led to racism, was also aborado the influence of the church for the legetimação racila segragação. He was appointed as the regime was implemented and resistance responses and the international community. Resaltou the marks left by apartheid its end and the emergence of social inclusion policies supported by this black South African government, and with it, the possible emergence of a new racist system in the country in response to forty years of occurring abuse during the twentieth century in South Africa. Key-words: Apartheid. Segregation. South Africa 1 INTRODUÇÃO O aparthaid foi um sistema segregacionista peretencen a África do Sul, onde uma minoria branca controlava a maioria negra e mestiça, legalmente segregada nos locais públicos, nas escolas, no direito de ir e vir e até mesmo no direito de votar. Após sanções, pressões e diversos outros manifestos oficiais da comunidade internacional contra o Apartheid, este chegou ao fim. Em 1994 o regime apartheid foi finalmente abolido, permitindo o acontecimento da primeira eleição democrática no país que elegeu Nelson Mandela como o primeiro presidente negro da nação Sul- Africana. Mandela vinha de uma trajetória de 27 anos de reclusão acusado de comunista durante o regime. O desdobramento da política sul-africana conduzida por Mandela proporcionou ao país o mérito de exemplo de união racial durante o pós-apartheid. Na atualidade, a África do Sul é considerada uma nação emergente, que se destaca sócio-economicamente. Entretanto, este desenvolvimento sócio-econômico e a influência de políticas internacionais no país não superaram totalmente as marcas deixadas pelo Apartheid. Acredita-se que um novo sistema racista pode 3 estar ressurgindo no país, em resposta aos quarenta anos de abusos ocorridos durante o século XX na África do Sul. O governo criou políticas de inclusão social para os negros, e agora, quem se sente discriminada e excluída socialmente é a população branca do país. Os índices de criminalidade de negros contra brancos são altos e as taxas de desemprego dentre os brancos vêm crescendo cada vez mais em decorrência das políticas implementadas na África do Sul. 2 ANTECEDENTES DO APARTHEID Apartheid significa “vidas separadas” em africâner A origem histórica do apartheid é bem antiga e remonta ao período da colonização da África do Sul. Os primeiros colonizadores bôeres (também denominados de afrikaner) compunham-se de grupos sociais europeus que vieram da Holanda, França e Alemanha e se estabeleceram no país nos séculos 17 e 18. Esses colonizadores dizimaram as populações autóctones (grupos tribais indígenas) e tomaram suas terras. Os líderes afrikaners manipularam e converteram um preceito religioso cristão, que a princípio estabelecia a segregação como uma forma de defender e preservar as populações tribais da influência dos brancos, em uma ideologia nacionalista que pregava a desigualdade e separação racial. Como aponta Noberto Bobbio os colonizadores usavam a classificação de raças para impor seu domínio, pertecentes a raça branca sempre foram denominados “superiores” e utilizam desses três postulados do racismo como sua visão de mundo: A humanidade está dividida em raças, cuja a diversidade é dada por características biológicas e psicológicas. Estas têm elementos culturais que derivam, porém, das características biológicas, cuja natureza é invariável e se transmite hereditariamente; Não existem raças diversas, mas existem raças superiores e inferiores; Não existem raças, e estas se dividem entre superiores e inferiores, como também as superiores têm o direito de dominar as inferiores. (BOBBIO apud LAFER, 2005, p.60). Esse tipo de visão de mundo racista apontada por Bobbio gera a discriminação, que pode ocorrer em diversos níveis de agressividade, podendo chegar a: Uma intensidade de violência à dignidade da pessoa humana que é a segregação. Esta consiste, como diz Noberto Bobbio, „em impedir a mistura dos diversos entre os iguais‟. Pode expressar-se por meio de obstáculos jurídicos à miscigenação e pela colocação da „raça inferior‟ pela „raça superior‟ num espaço separado. O Apartheid, na África do Sul, enquanto perdurou, foi um paradigma da segregação institucionalizada e do que há 4 de mais nefasto na herança racista do colonialismo europeu.(LAFER, 2005, p.60). Os afrikaners se consideravam a verdadeira e autêntica nação (ou volk, que em alemão significa povo). A cor e as características raciais determinaram o domínio da população branca sobre os demais grupos sociais e a imposição de uma estrutura de classe baseada no trabalho escravo. 2.1 NEGROS Os negros eram a maior parte da papolução sul africana e eram também os principais nativos do país. Antes da vinda dos colonizadores havia um grande n´mero de diferentes tribos, com características e modo de vidas peculiares, com línguaprópria e estruturas hierárquicas e políticas muito singulares. A maioria das tribos se constituía de reinos ou clãs. Algumas eram formadas por vilarejos interligados sem um sistema político formal. Destacam-se como principais tribos encontaradas na áfrica do Sul: os San, Khoikhoi, Sotho, Tswana, Nguni, Venda, Tsonga, Zulu e Xhosa. Algumas dessas tribos foram praticamente exterminadas durante o processo de colonização ocorrido no país. Os afriknders considerevam negros todos os não brancos e pessoas aceitas como mebros de uma raça aborígene ou tribo da África. Essa clasificação perdurou por dois séculos. 2.2 OS HOLANDES E A COMPANHIA DAS ÍNDIAS ORIENTAIS Em 1621 fundou-se a “Companhia das Índias Orientais” tendo atuação no Oceano Índico, como no Pacífico e no Atlântico. Passando-se vinte sete anos da criação da companhia a sua frota naufragou na Baia do Cabo sendo este o primeiro contato dos holandeses com a região. Os holandeses não tinham interesses de colonizar a região e sim apenas utiliza-lo como local para vendas de especiarias trazidas da índia sem ter contato com os nativos. Em 1660, Jan van Riebeeck, líder da primeira leva de holandeses que chegaram à região do Cabo, deu ordem para a construção de uma espécie de cerca que separasse sua pequena comunidade de europeus brancos dos habitantes da região. Esse foi o primeiro marco de segregação no país. 5 Com a primeira leva de Holandeses fixados na região do Cabo começa o período de formação do povo Africânder: holandeses, franceses e alemães (agricultores e camponeses) que se tornariam africanos brancos ou africânder e passariam a falar o novo idioma afrikaans. O nacionalismo surgiu em conjunto com o Protestantismo Calvinista que alega que os brancos naquela região eram enviados de Deus como aponta Conervin (1979) “argumentos teológicos e científicos foram construídos para estabelecer a idéia de um “povo escolhido”, colocado por Deus na África do Sul, para cumprir a missão divina de ajudar os povos primitivos”. A Igreja Reformada Holandesa defendia o apartheid e se baseava na “sagrada escritura”. 2.3 OS BÖERS Com o passar do tempo após a fixação da “Companhia das Índias Orientais” começaram a chegar os primeiros colonos livres os böers. Pertecentes a Igreja Reormanda Holandesa possuíam convicções calvinistas e utilizavam mão de obra escrava de várias etnias diferentes. Em 1700 a Colônia do Cabo tinha a população constituída de holandanses, escadinavos, alemães e franceses. Além dos colonos boers, havia também escravos africanos e malaios, estes últimos trazidos das Índias Orientais. Surgiram nesta época os coloured que eram os mestiços provenientes de relações entre brancos e negros o que se era proibido. Houve expedições para o interior do país, chamadas Treks, em que: Cada grupo boer seguia atrás de um líder religioso, reconhecido por todos e consciente da sua missão. No espírito daqueles colonos protestantes africanizados, o Trek refazia a epopéia bíblica do Êxodo, e tinha por fim o encontro da Terra Prometida. (MAGNOLI, 1998, p.20). A Colônia do Cabo era um lugar isolado e distante da Europa, sendo o único meio de comunição era através de barcos, na colônia não hesistia escolas, rodvias, ferrovias, jornais, rádio etc. Apesar da falta de estrutura os colonos preservavam o máximo de suas tradições e crenças religiosas. A única fonte de educação se dava através da Bíblia em assembleias formadas pelos patriarcas da família, dessa maneira seguinte somente à autoridade divina. 2.4 OS INGLESES 6 Em 1795 a Colônia do Cabo foi anexada à Coroa Inglesa, esse fato ocorreu, pois a Iglaterra percebeu a grande importância da região devida sua posição estratégica. Sendo a Índia a maior fornecedora de especiarias e a mais lucrativa de suas colônias os Igleses trataram de anexar a Colônia do Cabo. Essa anexação se deu pelo pagamento de seis milhões de libras esterlinas a Holanda devido às invasões napoleônicas. Os afrikanders foram totalmente contra a ocupação inglesa, entederam isso como invasão do seu território e se tornaram mais nacionalistas. A aversão aos ingleses ficou cada vez maior, prinncipalmente no âmbito religioso e de uma espécie de projeto de recolinação que os ingleses desejavam realizar. Como aponta Magnoli: O choque entre o poder britânico e o modo de vida böer manifestou-se já de início no plano cultural, como oposição entre as missões religiosas anglicanas e a Igreja Reformada Holandesa. Contudo, o cerne do conflito encontrava-se no projeto de recolonização conduzido pelo Ministério Colonial de Londres, que implicava profundas transformações na organização da propriedade da terra e da força de trabalho.(MAGNOLI, 1998, p.21). A Coroa Britânica implantou um novo sistema de propriedade da terra, chamado Indirect Rule, que: Consistia na concessão de certo grau de autonomia para os territórios coloniais no estabelecimento de autoridades locais associadas a Londres. No fundo, procurava-se criar uma camada de dirigentes nativos vinculada à Coroa, a fim de reduzir o papel da força na manutenção da soberania britânica. (MAGNOLI, 1998, p.21). Esse sistema foi um osbaculo para os colonos que estavam acostumados a liberdade de expandir suas terras e ficarem distantes de supervisões do governo, livres de taxas e impostos. Sendo esse motivo de nenhuma cooperação entre os afrikanders e os ingleses. Foi a Coroa Inglesa que surgiram instuições administrativas formais, mas os colonos fugiam do controle destas burlando suas regras. Foram os britânicos que inseriram a educação, a industrialização e a urbanização no país. Houve catequização forçada para os negros, algo que jamais havia acontecido antes, pois os afrikanders não desejavam manter contato com os nativos do Cabo, algo que os ingleses fizeram. Os ingleses trouxeram a modernidade para a África do Sul levando a infraestrutura para a região. A terra distribuída para os Ingleses não eram propricias ao cultivo, as boas terras se encontravam em poder dos böers. Na tentativa de se estabelecrem melhor na região envolveram-se em vários conflitos de disputas territoriais tanto contra as 7 tribos nativas sul-africanas quanto contra os Afrikanders. Não tendo sucesso nessas disputas. Com o passar do tempo com a expansão e o crescimento da áfrica do Sul houve aumento na demanda de trabalho, entrtanto a mão de obra deveria ser barata, então os ingleses aboliram o trabalho escravo acreditando que os negros poderiam oferecer serviços a baixo custo. Assim surgiu pela primeira vez leis especificamente para negros que estabelecia os direitos e deveres do tarabalhador negro. Isso acarretou um sistema de imigração por trabalho e o surgimento de uma nova classe social sul-africana. Surgiu assim às primeiras áreas residenciais para negros morarem, chamadas de “Bantustões”, surgiu também a Magna Carta dos Hotenttot‟s dando aos negros o mesmo status legal que tinham os brancos. Mesmo abolindo a escravidão foi assim que sul africanos de língua inglesa criaram bases para a estrutura política do aparthaid e seu trabalho explorativo. Em nomo do humanitarismo aboliram a escravidão e promulgando a Ordenação Colonial n. 50, ou a Carta Magna de Hottentot, que deu aos Khoikhoi status legal igual aos brancos e permitiu que um trabalhador Khoi que tenha sofrido abusos podia levar seu empregador branco à Corte e condená-lo por maus tratos. 2.5 GUERRA ANGLO-BÖER Nos séculos XVII e XVII havia muita terra e um pequeno número de habitantes na Colônia do Cabo de modo a ocorrer à separação de gruposm que não se toleravam. Com o aumento do trabalho e da população era quasepossível viver segregado, mas os afrikanders, não admitiam uma interação. Em conseqüência disso, ocorreu o “Grande Trek”, ou seja, expedições de böers para áreas ainda não habitadas por brancos na Colônia. Essa expendição foi como aponta Magnoli: Expedições através das quais novas famílias juntavam-se aos pioneiros. Esse movimento de colonização gerou o aparecimento de numerosos ambientes novos e dispersos de fixação. O seu resultado foi a fundação das repúblicas böers do Transvaal e do Orange e de uma efêmera organização republicana autônoma no Natal, em torno de Pietermaritzburgo. (MAGNOLI, 1998, p.23-24). Para se estabelecerem na região ouve batalhas entre os afrikanders e as ultimas tribos negras que resisiam a côlonia os Ndebele e os Zulus. Essas tribos acaram subjulgadas pelos brancos devido ao seu alto pode bélico. Durante algumas 8 décadas, estas famílias de descendentes böers viveram pacificamente nas regiões do Trasvaal, Orange e Natal. Porém, com a descoberta de minas de diamantes nestes territórios, a Coroa Britânica deixou de reconhecer aquela região como território dos böers, mas sim como parte da Colônia do Cabo. Revoltados pela falta de reconhecimento, acreditando que aquela terra era por direito deles e reivindicando um território autônomo agrícola e auto-suficiente, os afrikanders deram início, em 1899, ao que ficou conhecido como a “Guerra Anglo-Böer”, a maior guerra entre brancos na história sul-africana. Como resultado dessa guerra grande parte das famílias Böers perderam suas terras e casas e realocados em campos de concentração ingleses onde a comida era insuficiente, a higiene era muito precária e as condições climáticas locais eram agressivas. Durante este período morreram entre vinte e vinte e seis mil Böers. 3 A SEGRAGAÇÃO Com o fim da guerra Anglo-Böer a África do Sul no século XX possuía quatro diferentes grupos sociais principais: os afrikanders (descendentes dos böers), os sul- africanos descendentes dos ingleses, os negros (de diversas tribos distintas) e os coloureds. Neste novo domínio britânico, todo o controle político foi dado aos brancos, uma vez que o direito dos negros de se sentarem no parlamento foi banido. Os bôeres logo fundaram o Partido Reunido Nacional para disputar com os ingleses a hegemonia política da região. Sob a bandeira deste partido, os africânderes começaram a lutar pela oficialização das práticas de segregação racial de seus ancestrais. Os africânderes chegaram ao poder em 1910, em 1913, todos os negros, com exceção dos moradores da província do Cabo, foram impedidos de comprarem terras fora das "reservas indígenas". Ainda naquele ano, a Lei de Terras Nativas dividiu a posse da terra na África do Sul por grupos raciais. Os negros, que constituíam dois terços da população, passaram a ter direito a apenas 7,5% das terras, enquanto os brancos, um quinto da população, tinham direito a 92,5% das terras. As pessoas "de cor" (mestiços) não tinham direito à posse da terra. A lei determinava ainda que os negros só poderiam viver fora de suas terras quando fossem empregados dos brancos. Em 1918, o Projeto de Lei sobre Nativos em Áreas Urbanas foi concebido para obrigar os negros a viverem em locais específicos. Entretanto, a segregação 9 urbana só foi introduzida no governo seguinte, de Jan Smuts, membro do Partido Unido. Foi Smuts quem havia cunhado a palavra apartheid, em discurso de 1917. Durante seu segundo governo, os indianos foram proibidos de comprar terras. O governo de Smuts começou a se afastar da aplicação de leis segregacionistas rígidas durante a Segunda Guerra Mundial. Em meio a temores de que a integração acabaria por levar a nação à assimilação racial, os legisladores estabeleceram a Comissão Sauer para investigar os efeitos das políticas do Partido Unido. A comissão concluiu que a integração traria uma "perda de personalidade" para todos os grupos raciais. O Partido Reunido Nacional, o principal partido político do nacionalismo africânder, venceu as eleições gerais de 1948 sob a liderança de Daniel François Malan, clérigo da Igreja Reformada Holandesa. Uma das principais promessas de campanha de Malan era aprofundar a legislação de segregação racial. O Partido Reunido Nacional derrotou por pequena margem o Partido Unido de Jan Smuts – que havia apoiado a noção vaga de lenta integração racial – e formou um governo de coalizão com outro partido defensor do nacionalismo africânder, o Partido Afrikaner. Malan instituiu o regime do apartheid, e os dois partidos logo se fundiriam para formar o Partido Nacional. A discriminação racial, há muito tempo uma realidade na sociedade sul- africana, havia sido elevada à condição de filosofia Uma sociedade conhecida como Broederbond("Irmandade") congregava os "solucionadores de problemas" que elaboraram a doutrina do apartheid. Se a população negra já sofria com preconceito racial, entre o final dos anos 40 e início dos 50 do século passado, quando o apartheid é instituído, a questão racial vira questão política, com várias leis, passando a determinar a segregação da população de modo a afastar do centro da cidade todos aqueles que fossem não europeus a fim de manter uma cidade branca, governada e habitada por brancos. Foi assim então que toda a população foi agrupada, separada e dividida em grupos conforme a cor de sua pele, origem, hábitos, costumes e descendência, classificando em brancos (uma pequena minoria de brancos europeus dominantes no poder político), pretos (africanos), mestiços e não europeus que seriam os Indianos e Asiáticos. Não bastasse dividir a população com base em características físicas, foram deslocados para bairros afastados da cidade, onde viviam isolados e entre eles, e 10 ainda tiveram de obedecer regras como não frequentar os mesmos lugares que os brancos, usar transportes distintos, pedir autorização para adentrar e atravessar o território dos brancos, como uma espécie de passaporte e passe livre, foram proibidos de se misturar entre eles e menos ainda com os brancos, e proibidos de casarem e terem qualquer tipo de relação pessoal íntima com pessoas de outras raças, caracterizando uma verdadeira criação de identidade racial, além de terem que se candidatar a postos específicos de trabalho de acordo com a cor da pele. Tendo sido instituído num período onde já não cabia mais, em todo o mundo, se falar em segregação racial, o regime imposto na África do Sul, que durou até o início da década de 90 do século passado, foi duramente condenando e criticado por diversos países, inclusive o Brasil, além de ter sofrido restrição comercial por parte do Reino Unido e Estados Unidos. E, especialmente num país de maioria da população negra, esse regime acabou por gerar diversas revoltas e manifestações ao longo dos anos em que se manteve, haja vista o isolamento e as imposições dadas a essa cama da população. Foi então que, nos bairros negros, os chamados bantões ou guetos, como o Soweto, várias foram as organizações e os movimentos de revolta e rebelião contra o apartheid que, mesmo tendo feito inúmeras vítimas continuou crescendo e se manifestando cada vez mais, como foi o caso de uma revolta sangrenta ocorrida em Soweto em 1975. Os anos de submissão a esse regime foram se passando e aumentando, na população segregada o ódio, a raiva, a vontade de se rebelar, se manifestar, mesmo diante de várias novas regulamentações, tendo se destacado, na década de 1980 com grande repercussão até os dias atuais o nome de Nelson Mandela. 4 NELSON MANDELA A história de Nelson Mandela se confunde com a própria história do apartheid, pois olíder sul-africano seria um dos mais importantes sujeitos políticos em atuação contra o processo de discriminação instaurado por este sistema na África do Sul e se tornaria um ícone internacional na defesa das causas humanitárias. Mandela, de etnia xhosa, nasceu em 18 de julho de 1918, na cidade de Transkei. Era filho único e pertencente à uma antiga família de aristocratas da casa real de Thembu. Seguindo as tradições de sua etnia, ele teve sua iniciação na sociedade aos 16 anos e seguiu para o Instituto Clarkebury onde estudaria cultura 11 ocidental. Já em 1934, o jovem Mandela iniciaria o curso de Direito na Universidade de Fort Hare, lugar onde conheceria Oliver Tambo, amigo este que lutaria mais tarde contra os ditames do apartheid ao seu lado. Seria na Universidade de Fort Hare que Mandela se envolveria com o movimento estudantil. O mesmo se envolveria em um boicote contra as políticas universitárias, o que culminaria em sua expulsão da instituição. Todavia, seria este fato aliado à sua tentativa de se esquivar de um casamento arranjado sob a cultura de sua etnia que o levariam até Johanesburgo, onde concluiria uma graduação em Artes na Universidade da África do Sul por correspondência e continuaria seus estudos de Direito na Universidade de Witwatersrand, porém apenas concluiria seus estudos nessa área já nos anos de sua prisão. Mandela, através do amigo Walter Sisulu, começaria a trabalhar em um escritório de advocacia e se envolveria na oposição ao regime do apartheid, regime este que negava aos negros, mestiços e indianos seus direitos políticos, sociais e econômicos. Assim, ele se uniria ao Congresso Nacional Africano (CNA), em 1942 e após dois anos seria fundado por ele, Walter Sisulu e Oliver Tambo (dentre outros), a Liga Jovem do CNA. Após a eleição de 1948, a qual daria vitória aos afrikaners do Partido Nacional e sendo estes, apoiadores da política de segregação racial, seria a deixa para Nelson Mandela se tornar uma liderança ativa dentro do CNA. No início de suas atividades políticas, Mandela e seus correligionários estiveram comprometidos apenas com atos de não violência, porém após o Massacre de Sharpeville ocorrido em março de 1960, os mesmos se inclinaria a recorrer às armas, pois a polícia sul-africana teria atirado em manifestantes negros, culminando com a morte de 69 pessoas e deixando 180 feridos. No ano seguinte, Mandela se tornaria o comandante do braço armado do CNA, denominado Umkhonto we Sizwe (Lança da Nação ou MK), o qual seria fundado por ele e outros militantes e através do qual coordenaria uma campanha de sabotagem contra alvos militares e governamentais. Na condição de militante, Mandela viajaria para o Marrocos e para a Etiópia com vistas a obter treinamento paramilitar. “Em seu famoso discurso, “Estou Preparado para Morrer”, proferido em seu julgamento em 20 de abril de 1964, Mandela expôs os motivos que levaram à fundação do MK: ‘em primeiro lugar, acreditávamos que, como resultado da política do governo, a violência do povo africano tinha se tornado inevitável e, a não ser que uma liderança responsável pudesse canalizar e controlar os sentimentos do nosso povo, haveria ondas de terrorismo que espalharia (sic) um amargor e hostilidade tão intenso entre as raças desse 12 país que nem uma guerra poderia produzir. Em segundo lugar, sentimos que sem violência não haveria nenhum modo de o povo africano ter sucesso em sua luta contra o princípio da supremacia branca. Todas as formas legais de expressar oposição a esse princípio foram solapadas pela legislação e nós fomos colocados em uma posição na qual ou aceitávamos um estado permanente de inferioridade, ou teríamos de desafiar o governo. Nós escolhemos desobedecer a lei. Primeiro infringimos a lei de modo a não recorrer à violência. Quando essa forma foi considerada ilegal e o governo recorreu à uma mostra de força para esmagar a oposição, apenas então decidimos responder à violência com violência’.” BLANC, Claudio. Madiba, O Guerreiro da Igualdade: Uma biografia de Nelson Mandela. E-book disponível em https://issuu.com/padeirosspmemoria/docs/nelson_mandela (Acesso em 06/10/2016 às 12h30) Através de informações cedidas pela CIA à polícia sul-africana que em agosto de 1962, Mandela seria preso e sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves. Todavia, em 1964 o mesmo seria condenado à prisão perpétua por sabotagem admitida e por conspiração com vistas ao auxílio de outros países a invadir a África do Sul, fato este negado por Mandela. O líder sul-africano permaneceria encarcerado por quase três décadas em uma ilha, tendo inclusive recusado uma revisão de sua pena que poderia tê-lo colocado sob liberdade condicional se em contrapartida, o mesmo se comprometesse a não incentivar a luta armada. Todavia, todo este tempo o faria se transformar em um grande ícone da luta contra o apartheid e sua imagem estaria intrinsecamente ligada à oposição ao regime e a pressão internacional para sua libertação seria crescente em vários países. Nelson Mandela somente seria libertado em fevereiro de 1990, por ordem do presidente Frederik Willem de Klerk e juntos eles dividiram o Prêmio Nobel da Paz em 1993 devido aos seus esforços pela conciliação do país. Mandela seria eleito como o primeiro presidente negro da África do Sul e estaria à frente de seu país de 1994 a 1999, de modo que comandaria a transição do regime de privilégios da minoria branca culminando na conquista de grande respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa. Mandela, enfim extinguiria o apartheid e sua transição seria pacífica! Após o fim de seu mandato, Mandela se engajaria em causas de diversas organizações sociais e de direitos humanos, com especial atenção à luta contra a AIDS, sendo condecorado no exterior em diversas ocasiões. Aos 85 anos de idade, em 2004, Mandela anunciaria ao mundo sua retirada da vida pública, abrindo exceção apenas ao seu compromisso ao combate à AIDS. 13 Nelson Mandela faleceria em 2013 aos 95 anos em sua casa na África do Sul, deixando seu legado ao mundo: a luta contra a discriminação sócio-racial. 5 RESISTÊNCIA Em um ambiente de opressão surgiram os movimentos de resistência ao apartheid, no início através de manifestações pacíficas. As artes e mais propriamente a música foram amplamente utilizadas como um veículo de expressão social na conscientização das grandes massas populares e principalmente nos Town ships que eram áreas urbanas destinadas somente a negros e indianos viviam muitos poetas e compositores. A música negra sul africana foi dotada de significativa riqueza melódica e rítmica, ao contrário da maioria dos países africanos não agregava valores sincréticos até mesmo porque as religiões cristãs tinham maior influência cultural na África do Sul. Contudo não demorou governo africâner de Pretória iniciar um período de perseguição política a artistas, alguns fugiam e se exilavam na Europa ou Estados Unidos é o caso da cantora Miriam Makeba que continuou com ativismo político mesmo fora de sua terra natal testemunhando ao mundo as atrocidades do apartheid, Miriam retornou a África do Sul em 1990 a convite de Nelson Mandela, outros não teriam a mesma sorte, Vuyisile Mini por exemplo, era um poeta, dançarino e cantor que ao ser preso foi torturado e enforcado na Prisão Central de Pretória em março de 1964 sob a acusação de traição e sabotagem. Assim como Miriam, a mulher teve um papel imprescindível na luta contra a segregação racial, a começar na educação dos filhos que cedo já eram instruídos a buscar formas de protesto e lutarpor condições de igualdade, nas escolas haviam poucos homens lecionando, a morte e prisão por qualquer ato mínimo de desobediência e as leis fizeram muitos órfãos e coube a mulher um papel a mais na formação humana de muitos jovens. Contudo o ativismo feminino não se ateve ao lar e a escola, muitas formavam agremiações e lideravam alas até mesmo radicais em partidos políticos de oposição ao governo africâner. Lilian Masediba Matabane Ngoyi era operária em uma fábrica têxtil e fundou a Federação das Mulheres Sul africanas liderou uma marcha junto a 20.000 mulheres à Union Buildings de Pretória, junto a Lilian uma amiga pessoal teve destaque pelo intenso trabalho junto as comunidades mais pobres e nas lideranças estudantis, era Helen Joseph uma professora e assistente social inglesa que foi presa em 1957 sob 14 acusação de sabotagem e alta traição. A polícia de Port Elizabeth temia matar Helen por ser britânica, contudo ela conseguia grandes adesões nas passeatas e gozava de prestígio em instituições femininas que combatiam crimes contra mulheres no Reino Unido. Entende-se o porquê para o serviço de inteligência pretoriano Helen era vista como um problema, em 1962 foi absolvida. Winnie Madikizela Mandela talvez seja a mais conhecida de todas as ativistas, mas não somente por ter sido esposa de Nelson Mandela. Crianças em Shaperville FONTE: Acervo do Museu de Pretória Winnie pertencia a mais de um movimento de resistência, teve ampla e marcante participação em marchas e insurreições contra o apartheid, criou um grupo miliciano travestido de time de futebol, arrecadava alimentos para crianças das Town Ships e fundou a Federação das Mulheres Negras e a Associação dos Pais Negros, foi detida por 16 meses em março de 1969. Atualmente é considerada a mãe dos negros na África. O CNA (Congresso Nacional Africano), era a organização de oposição mais antiga, pregava uma revolução social e um país multirracial, tinha como lideres Oliver Tambo e Nelson Mandela, ambos fundaram a Liga Juvenil do Congresso Nacional Africano. Em 25 de junho de 1955 em um estádio de futebol foi realizado o Congresso do Povo, um evento cívico que reuniu líderes tribais, indianos e membros de partidos de oposição ao governo do apartheid. Em um clima de festa foi lida a 15 Carta da Liberdade, documento que expressava o desejo de um regime igualitário e da estatização dos recursos naturais. Todos os itens da carta foram aprovados por no congresso. No dia 26 policiais confiscaram a carta, bandeiras e todo tipo de referência a ela e no início de dezembro de1956 Oliver, Mandela e mais 156 pessoas foram detidas e acusadas de alta traição, em 1961 Mandela foi absolvido. 1958 foi o ano de ascensão de Hendrik Frensch Verwoerd ao cargo de 1º ministro, o Partido Nacionalista colocava em uso uma estratégia mais audaciosa na segregação, através da criação dos Bantustões que eram pseudo estados de acordo com a origem tribal. Todo esforço do apartheid foi dirigido para identificar, ressaltar e aprofundar as distinções culturais e, simultaneamente, negar ou mascarar a origem comum dos bantos da África austral. Uma caudalosa literatura foi produzida pelos africânderes com o intuito de descrever as manifestações culturais “típicas” das “etnias” negras e a especificidade dos diversos dialetos. Nos bantustões formados nas antigas reservas tribais o Estado branco procurou e frequentemente encontrou chefes nativos dispostos a constituir uma “autoridade” política “nacional” apoiada, financiada e sustentada por Pretória. (MAGNHOLI, 1992, p.45). Os bantustões criavam micro áreas super povoadas em terras com pouca fertilidade, seriam mais um zonas de exclusão racial, com a falsa impressão de independência. Os partidos contrários ao apartheid, já estavam vivendo na clandestinidade desde 1956 quando por lei foram proibidos, e a ideia de pacifismo parecia mais utópica, na intenção de dar uma resposta mais clara aos africaners foi organizada uma passeata em Sharpeville, cidade negra nos arredores de Johannesburgo. Com a adesão de 20.000 estudantes se dirigiram a delegacia policial para protestar contra a lei de passes, o resultado foi catastrófico, a polícia abriu fogo indiscriminadamente, o que resultou em um saldo de 69 mortos e 180 feridos. A partir deste dia a população negra passou a pressionar os grupos insurgentes para abandonar a estratégia de oposição pacífica. Em 1964 Mandela foi preso e condenado a prisão perpetua por alta traição, de início foi levado a prisão central de Pretória e mais tarde à ilha de Robben, onde mesmo preso liderava ações do CNA que agora iriam realizar atos de sabotagem em empresas governamentais. Havia vários movimentos em atividade clandestina que buscavam o fim do apartheid, CPA ( Congresso Pan Africano) era mais radical, contra a instauração de uma África multirracial e tinha por finalidade a organização de levantes sociais, foi o patrocinador da passeata em Sharpeville, tinha poucas conexões externas, já o PCAS ( Partido Comunista da África do Sul) recebia apoio e 16 armas de Moscou e pregava uma revolução socialista. Contudo o mais temido pelo governo africâner era o MK (Lança da Nação), miliciano e mais radical realizava sequestros, atentados em órgão públicos e explosões em estradas e portos. No início da década de 70 sob a liderança de Steve Biko, o movimento de Consciência Negra (CN) inaugurava uma onda de auto valorização física e intelectual do cidadão negro, coisas como alisar o cabelo usar roupas típicas de brancos eram consideradas uma atitude de desprezo pela natura física, muitos dos adeptos eram intelectuais e traziam ideias libertárias. O ano de 1975 foi marcado pela elevada taxa de evasão escolar, muitos jovens foram para Angola e Moçambique a fim de receber treinamento de guerrilha, o efeito do aumento significativo de militantes viria no ano seguinte, onde se deu o maior levante da história da África do Sul. Soweto era um subúrbio de Johannesburgo, com elevada densidade populacional e precárias condições de saneamento, um local sempre pronto a agitações políticas. O estopim foi à reforma educacional imposta pelo governo, nela estudantes negros pagariam por aulas ofertadas em escolas sem infraestrutura adequada em africâner ao invés de inglês, ao contrário alunos brancos se beneficiavam do ensino gratuito. Uma passeata organizada por Steve Biko, líder da CN iniciou em direção a um estádio, quando a polícia tentou reprimir a marcha através de disparo de balas de borracha e bombas de lacrimogênio. Desta vez mesmo sob tiros e bombas, os manifestantes enfrentaram a polícia, 95 foi o número oficial de mortos, esse evento incendiou o país, em todas as regiões havia confrontos, esse episódio ficou conhecido como o massacre de Soweto. Mais tarde em 1977 a polícia prendeu e torturou Biko que veio a falecer por hemorragia cerebral. Mesmo com instabilidade política e social, a economia local era prospera, empresas norte americanas e inglesas exploravam minerais, por esse motivo a ONU aprovava menções contra as agressões contra negros na África do Sul, mas não buscavam medidas concretas. Ao início dos anos 80, as milícias estavam dividas, algumas tinham apoio de líderes tribais e outras de lideranças dos Town ships, disputas internas pelo poder geravam sequestros e mortes entre as etnias negras. Líderes religiosos orientavam a população a não perder o pouco a coesão conquistada. 17 Ao fim dos anos 80 devido à instabilidade política e social muitas multinacionais se retiravamda África do Sul, isso somado a pressão das grandes corporações que ali tinham investimentos levou o governo africâner a buscar soluções rápidas. Com esse intuito no dia 20 de setembro de 1989 subiu ao poder Frederik Willem de Klerk como presidente, de Klerk como era chamado era um político moderado, em fevereiro de 1990 decreta um pacote de medidas, entre elas a legalização de partidos clandestinos e a libertação de Nelson Mandela. 6 O FIM DO APARTHEID O fim da Guerra Fria deflagrou mudanças substanciais na ordem econômica e social em todos os continentes do globo. Especificamente na África, um dos efeitos, não o único, foi o início das negociações que culminariam no fim do apartheid, consequência de pressões internas e externas amplificadas no período. Nesse fenômeno, em fevereiro de 1990 Nelson Mandela foi libertado e assumiu a presidência do CNA, iniciando, no ano seguinte, as tratativas com o Presidente Frederik De Klerk e o Partido Conservador, no poder desde 1948. Enfrentando inúmeros conflitos, foram tratados os temas de interesse dos negros e revoltosos, como a volta de exilados e a libertação de presos políticos, em contraposição a garantias da prosperidade branca. Em 1992 foi realizado um plebiscito em que a população branca respondia se aprovava, ou não, o processo de reformas iniciado em 1990, com as negociações e a formulação de uma nova Constituição. O resultado foi 68% a favor das reformas, e assim era legitimado o fim do Apartheid. Por fim, foi agendada para 1994 a eleição presidencial, com direito a voto para os negros, e foram revogadas todas as leis segregacionistas. As eleições de 1994, com os votos dos excluídos, foi pacífica e teve o resultado das urnas respeitado, elegendo-se Nelson Mandela como presidente da África do Sul com grande maioria dos votos. Era hora, então, com a assunção do poder por quem há pouco sequer gozava de direitos políticos e sociais, de reorganizar um país desestruturado social e economicamente – o CNA herdou um Estado falido –, embasado em critérios raciais para o acesso aos bens essenciais e ao trabalho no setor público e privado. De repente o negro vislumbrou a possibilidade de sair de seu gueto e buscar meios de sobrevivência em qualquer lugar do país, pois teve à sua disposição, depois de um longo período, o direito de ir e vir. Ocorre que o país não estava 18 preparado para receber essa massa de novos cidadãos e, a despeito das melhorias sociais alcançadas, sobressaltava grande índice de desemprego. Para atender a tantas expectativas, foram elaborados programas com metas ambiciosas, que, conquanto não tenham sido alcançadas, escancararam a necessidade de vultosos investimentos estruturais no país. Aí residia mais um problema, pois a CNA não conseguiu de pronto alterar a estrutura socioeconômica – muito em razão dos interesses nacionais e internacionais a ela vinculados – e, no empenho de atendimento às necessidades prementes da população, se viu obrigado a fazer várias concessões a setores do mercado, o que desagradou a alas de esquerda que apoiavam seu governo. Mandela governou até o ano de 1999, e logrou inserir o país na democracia, simbolizando o primeiro passo rumo aos direitos humanos em todos seus aspectos e para toda a população. Nas eleições de 1999 foi eleito Thabo Mbeki, também da CNA, como presidente, cuja política neoliberal desagradou boa parte da população africana, principalmente quando se notou flagrante a pouca preocupação do governo com a população mais necessitada. Por isso o eleitorado africano alçou ao poder o ex-vice de Mbeki, Jacob Zuma, cujo discurso se afeiçoava mais aos anseios da população negra mais necessitada e representava a esperança de abandono das políticas neoliberais do seu antecessor. 6.1 PRECONCEITO PÓS APARTHEID O que se tem para o futuro da África do Sul é, ainda, a superação, além do trauma do apartheid, da dominação branca de quase 350 anos, que legaram uma estrutura social e econômica voltada ao atendimento de uma parcela da população, é dizer, da parcela branca. O apartheid foi resultado de um sentimento diluído nas classes altas, que, quando não apoiava, ao menos aceitava naturalmente um regime tão odioso. Inviável o implemento de regime absurdamente drástico em sociedade de consciência plural, de convivência pacifica com a diversidade, e obviamente essa indisposição para a convivência inter-racial harmônica e em igualdade é perene e permanece, ainda que em menor grau e de forma não declarada, na sociedade atual. Outra consequência do Apartheid ainda sentida é o afastamento espacial do negro. Melhor explicando, para segregar a população indesejada, foram criados os bantustões, consistentes em assentamentos afastados dos centros urbanos, onde 19 não chegavam serviços estatais e não havia estruturas mínimas de sobrevivência. O movimento pós Apartheid foi de abandono desses locais precários para buscar ocupação nas cidades proibidas em antanho. Nas cidades essa população forma comunidades de extrema pobreza, com muita dificuldade para se estabelecer de maneira digna e conseguir trabalho formal. Por conseguinte, se conclui que ainda há muito a que se enfrentar em se falando de segregação racial na África do Sul, porquanto remanesce o racismo arraigado na sociedade, e infelizmente assim deve permanecer ainda por longo período, em um processo que em muito lembra o ainda enfrentado no Brasil pós escravidão. Formalmente o negro goza dos mesmos direitos que todos os demais cidadãos, o que concretamente não se confirma, pois na prática ainda lhes são fechadas portas e não cessaram os atos flagrantemente racistas ainda frequentemente cometidos. O cartunista africano Anton Kennemeyer consegue sintetizar genialmente as dificuldades enfrentadas pela população negra, em charges como essa, em que a carência de acesso à formação profissional caracteriza o currículo do negro, como se vê: 20 CONCLUSÃO O apartheid, que passou a ser considerado um crime contra a humanidade, entretanto existem possibilidades de um novo sistema de segregação racial estar se formando novamente na África do Sul, em razão da não superação das marcas deixadas na sociedade. Neste artigo foi abordado que o conceito de raças gerou o racismo e este pode atingir um nível tão elevado de discriminação, chegando à institucionalização de sistemas de segregação raciais como o Apartheid. Além disso, foi demonstrada a composição dos povos que foram personagens importantes na criação do que hoje é a África do Sul, a colonização holandesa e inglesa, que desde os primórdios sempre foi baseada na servidão dos negros e mestiços que habitavam a região, passando pelos Treks e a Guerra Ânglo-Böer. Foi apontando também sobre a imposição do regime de segregação racial de forma institucionalizada no país, através de inúmeras normas, deixando principalmente a população negra, mas também a mestiça, à margem da sociedade sul-africana. Finalmente o sistema de desenvolvimento separado da África do Sul chegou ao fim após tantas pressões da comunidade internacional sobre o país. Em 10 de Maio de 1994, Nelson Mandela fez o juramento comopresidente da África do Sul diante de uma eufórica multidão. Dentre suas primeiras ações foi criada a Comissão Verdade e Reconciliação e reescrita a Constituição. Na eleição multi-racial seguinte, o ANC de Mandela ganhou com larga margem, efetivamente terminando com a era do apartheid. A herança do apartheid e as desigualdades sócio-econômicas que ela promoveu e sustentou podem vir a prejudicar a África do Sul por muitos anos nofuturo. 21 REFERÊNCIAS BUTSON, Thomas G. Mandela. São Paulo, Nova Cultural, 1992. CORNEVIN, Marianne. Apartheid, Poder e Falsificação Histórica. Ed 70 Lisboa, Portugal: UNESCO, 1979. JONGE, Klass. África do Sul: Apartheid e resistência. São Paulo, Cortez, 1991. LAFER, Celso. A internacionalização dos direitos humanos: constituição, racismo e relações internacionais.1 ed. Barueri: Manole, 2005 MAGNOLI, Demétrio. África do Sul: Capitalismo e apartheid. São Paulo, Contexto, 1992. MAGNOLI, Demétrio. África do Sul: o racismo como instituição, conflitos internos e pressões externas, o futuro da África do Sul. 4 ed. São Paulo: Contexto, 1998. PEREIRA, Analucia Danilevicz. A Revolução Sul-Africana. São Paulo: Editora Unesp, 2012 VISENTINI, P. F,; RIBEIRO, L. D.; PEREIRA, A. D. História da África e dos Africanos. 3 ed. Petrópolis, RJ: Vozaes, 2014. SITES: A HISTORY OF APARTHEID IN SOUTH AFRICA. In: South African History Online: towards a people’s history. Disponível em: < http://www.sahistory.org.za/article/history-apartheid-south-africa > Acesso em 5 out. 2016 APARTHEID (1948-1994). Disponível em: < http://www.blackpast.org/gah/apartheid-1948- 1994 > Acesso em 5 out. 2016 APARTHEID. In: Britannica Escola. Disponível em: < http://escola.britannica.com.br/article/480627/apartheid > Acesso em 5 out. 2016 APARTHEID. In: História do Mundo. Disponível em: < http://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/apartheid.htm > Acesso em 5 out. 2016 APARTHEID. In: History. Disponível em: < http://www.history.com/topics/apartheid > Acesso em 5 out. 2016 22 BLANC, Claudio. Madiba, O Guerreiro da Igualdade: Uma biografia de Nelson Mandela. E-book disponível em https://issuu.com/padeirosspmemoria/docs/nelson_mandela (Acesso em 06/10/2016 às 12h30); GUIA GRANDES LÍDERES DA HISTÓRIA (NELSON MANDELA & MARTIN LUTHER KING) ED. 01 POR ONLINE EDITORA. E-book disponível em https://books.google.com.br/books?id=iRnODAAAQBAJ&pg=PA10&dq=nelson+man dela&hl=ptBR&sa=X&ved=0ahUKEwigzL6wucbPAhUFhpAKHbJzBV0Q6AEILzAC#v =onepage&q=nelson%20mandela&f=false (Acesso em 06/10/2016 às 12h45); http://brasilescola.uol.com.br/biografia/nelson-mandela.htm (Acesso em 06/10/2016 às 13h00) http://educacao.uol.com.br/biografias/nelson-mandela.htm (Acesso em 06/10/2016 às 12h15) APARTHEID ORIGEM: ORIGEM HISTÓRICA DA SEGREGAÇÃO RACIAL NA ÁFRICA DO SUL. DISPONÍVEL EM: < HTTP://EDUCACAO.UOL.COM.BR/DISCIPLINAS/SOCIOLOGIA/APARTHEID- ORIGEM-ORIGEM-HISTORICA-DA-SEGREGACAO-RACIAL-NA-AFRICA-DO- SUL.HTM > ACESSO EM 5 OUT. 2016. O REGIME DO APARTHEID. IN: HISTÓRIANET. 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