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ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 1 Introdução A linguagem pode ser encarada como a faculdade que permite ao ser humano interpretar a realidade, o que implica interagir com o mundo e com as pessoas, entender as relações estabelecidas entre elas e as representações sociais. Todas essas interações que ocorrem por meio da comunicação – seus significados, suas interpretações, sua continuidade, suas reformulações etc. – só são possíveis devido à linguagem. Através dessa faculdade, adquirimos sistemas originados de nossa língua materna e de outras línguas, o que enriquece a vida profissional. Nesta aula, analisaremos a linguagem justamente sob este ponto de vista: tratando-a como propriedade do indivíduo. Objetivo: Identificar a faculdade da linguagem – inclusive a proficiência em outras línguas – como traço exclusivo do ser humano. Conteúdo Entendendo a linguagem Antes de iniciarmos nossos estudos sobre os aspectos da linguagem e produção textual, vejamos a cena a seguir: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 2 Galeria de Vídeos Vejamos a cena a seguir. Uma jovem é encontrada em sua casa na floresta, onde vivia com sua mãe eremita. O médico que a encontra após a morte de sua mãe constata que ela se expressa em um dialeto próprio, evidenciando que até aquele momento ela não havia tido contado com outras pessoas. Intrigado com a descoberta e ao mesmo tempo encantado com a inocência e a pureza da moça, ele tenta ajudá- la a se integrar na sociedade. Diante da cena que vimos anteriormente e do que você entende por linguagem, reflita sobre a seguinte frase: “Mais do que qualquer outra coisa, é a linguagem que nos torna, de fato, humanos.” (Crystal, 2010) ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 3 Ausência de linguagem Atualmente, em tempos de violência, muito se tem discutido sobre o que nos diferencia dos animais. Afinal, assistimos a tantas cenas inexplicáveis que é justo questionarmos em que medida nos distinguimos dos selvagens. Pense sobre a seguinte situação... Se você tem um animal de estimação – como um cachorro, por exemplo –, é natural que o conheça, que saiba quando ele está sentindo fome ou algum tipo de dor, não é verdade? Nessas situações, você sempre espera determinado tipo de comportamento, pois sabe como ele vai se portar e como vai reagir nesses casos. Logo, essa conduta é previsível, porque o animal age da mesma maneira todas as vezes que possui necessidades. Esse comportamento repetitivo representa a ausência de linguagem. Em outras palavras, por mais que possa se comunicar, o animal sempre o faz de forma limitada. Agora, vamos comparar essa situação com os exemplos apresentados a seguir. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 4 Vejamos algumas situações possíveis quando o indivíduo está faminto: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 5 Atenção Nos três exemplos que vimos, observamos diferentes formas de expressar a mesma necessidade – a fome –, o que não acontece no caso do animal. O ser humano se comporta desse modo criativo porque é portador da faculdade da linguagem e se comunica de acordo com cada situação específica. Comunicação e linguagem Observe as imagens e, com base na comparação entre os comportamentos animal e humano, indique a que sistema cada uma se refere: Comunicação Linguagem ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 6 O indivíduo é capaz de interagir e de relacionar-se com o mundo, com as pessoas, bem como com os ambientes a sua volta de diversas formas – seja para falar de um mesmo objeto ou de variadas sensações. Esse relacionamento é construído através da potencialidade da linguagem, da capacidade criativa inerente a ela, que permite ao sujeito organizar diferentes discursos para as mesmas situações ou para casos distintos. Por isso, os animais estão aptos à comunicação – ainda que limitada –, e o ser humano possui linguagem. Comunicação dos animais A fim de compreendermos melhor a comunicação dos animais, vejamos um trecho do filme Procurando Nemo: Na cena que acabamos de ver, a personagem Dori, a peixe da raça Blue Tang, fala “baleiês”, que, segundo ela, é a língua das baleias. Em sua opinião, essa comunicação através de uma linguagem animal seria possível? Pesquisas têm sido feitas para esclarecer melhor a possibilidade de comunicação dos animais. Você já deve ter ouvido algo sobre a linguagem das baleias (como vimos no trecho do filme), dos gorilas e das abelhas, por exemplo. Nesses casos, o termo linguagem não pode ser entendido como a faculdade de que dispõe o ser humano. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 7 Galeria de Vídeos Vejamos o filme a seguir. Marlin, um peixe palhaço, cria sozinho seu único filho Nemo desde que perdeu sua esposa e todo o restante da ninhada a qual Nemo fazia parte em uma tragédia. Durante uma discussão com seu pai, Nemo, o pequeno e simpático peixe palhaço, acaba sendo capturado por um mergulhador. Desde então, o pai superprotetor parte em uma busca incansável pelo mar aberto, na esperança de encontrar seu amado filhote. No meio do caminho, ele acaba conhecendo Dory e, juntos, a dupla vai viver uma incrível aventura. Enquanto isso, Nemo também vive uma intensa experiência ao lado de seus novos amigos habitantes de um aquário, pois eles precisam ajudá-lo a escapar do destino que lhe foi reservado: ir parar nas mãos da terrível Darla, sobrinha do dentista dono do aquário. Atenção É possível que os animais possuam algum código de comunicação ou se relacionem através de formas comunicacionais, e não por meio da linguagem. Atividade proposta Vamos assimilar bem o que acabamos de discutir? Para isso, sugerimos que você desenvolva suas habilidades de escrita. Complete os raciocínios a seguir a respeito do que estudamos há pouco, elaborando respostas de 5 a 10 linhas: 1) Podemos dizer que a linguagem é um traço característico humano, pois... 2) A comunicação humana não é feita somente por meio de gestos e sinais. Sendo assim, ... Chave de resposta ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 8 Você pode completar essas reflexões a partir da comparação de situações de comunicação entre pessoas e animais, a fim de avaliar quem pode ser mais criativo. Nesse caso, considere a linguagem verbal usada pelo ser humano. Proficiência em línguas Vimos, até aqui, que, por meio da faculdade da linguagem, o ser humano enxerga o mundo e interage com ele. Isso ocorre porque somos dotados de raciocínio, o que nos permite expressar nossas necessidades e melhorar nossa condição em diversos níveis – inclusive o profissional. Galeria de Vídeos Vejamos o comercial de um famoso curso de inglês que trata desse assunto. Você concorda que uma pessoa proficiente em, pelo menos, um idioma diferente de sua língua materna tem mais chances de obter uma boa colocação no mercado de trabalho? Antes de responder a esse questionamento, vamos entender melhor a discussão polêmica que envolve essa ideia. Proficiência em línguas versus fala de uma língua Normalmente, fazemos referência a alguém que domina outra língua como aquele que fala outro idioma. No entanto, em termos profissionais, preferimos dizer que o diferencial de umcandidato em uma seleção de emprego é a proficiência em línguas. Vamos entender melhor essa distinção? Ser proficiente em um idioma ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 9 Dizer que alguém possui melhores chances de colocação profissional no mercado de trabalho porque é proficiente em determinado idioma significa afirmar que essa pessoa o utiliza de forma adequada e conhece seus aspectos pragmáticos. Em outras palavras, esse indivíduo conhece as situações de uso e os contextos socioculturais dessa língua e, portanto, sabe se comunicar e organizar seus discursos a partir dela. Falar uma língua A pessoa que fala uma língua, por sua vez, somente conhece seus aspectos estruturais –, o que não garante uma boa comunicação. Trataremos dessas características da estrutura das línguas na próxima aula. Diante das explicações que vimos, é possível afirmar que o indivíduo proficiente em um idioma tem mais chances de obter sucesso profissional do que aquele que, simplesmente, sabe falar uma língua. Problemas na comunicação Imagine, por exemplo, que você esteja em outro país e que não saiba recriar o contexto de determinada expressão ou de determinado aviso tal qual como em sua língua materna. Por não conhecer a realidade sociocultural desse lugar, você pode não conseguir se comunicar e sofrer consequências drásticas por isso. Vejamos um exemplo: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 10 A imagem nos apresenta um exemplo de tentativa de tradução do português para o inglês. Podemos notar que a pessoa responsável pela tradução não soube recriar o contexto da expressão “frios” na língua inglesa. Isso, provavelmente, interferiu no entendimento de quem leu a mensagem. Linguagem verbal e não verbal Discutimos, até o momento, sobre as questões linguísticas e sobre ser proficiente em determinada língua, o que envolve diretamente a faculdade da linguagem. Além disso, diferenciamos o comportamento animal da conduta do ser humano e, a partir dessa distinção, identificamos a capacidade limitada daquele e a criatividade deste. Esse aspecto criativo é resultado da faculdade da linguagem do indivíduo, que o possibilita raciocinar no processo de comunicação sobre: Quando falamos de processo de comunicação, estamos considerando, essencialmente, a linguagem verbal. Diante dessa explicação aparentemente óbvia, você deve estar se perguntando: Como pode haver comunicação em uma linguagem diferente? Vejamos: Comunicação animal Os animais são capazes de se comunicar, mas, nem por isso, fazem-no através da verbalização. Por exemplo, o papagaio parece falar, contudo, ele não produz discurso, porque não reage a nenhuma pergunta, apenas repete o que lhe ensinam. Em outras palavras, esse animal não possui linguagem. Logo, ele não é um falante, e sim um repetidor. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 11 Comunicação humana A comunicação humana ocorre por meio das linguagens: • Não verbal; • Verbal. A seguir, veremos algumas possibilidades de uso dessa comunicação. Linguagem verbal e não verbal Imagine que você deseja se comunicar com alguém, no entanto, por alguma razão, não consegue falar ou utilizar o discurso, ou seja, a linguagem verbal. Para concluir esse processo de comunicação, você pode se valer de gestos ou sinais – isto é, da linguagem não verbal –, mas as pessoas com as quais está se comunicando precisam conhecê-la. Isso significa que, para obtermos sucesso na comunicação, todos os envolvidos nesse ato – os chamados interlocutores – têm de reconhecer e interpretar a linguagem nele utilizada. Do contrário, não entenderemos a mensagem do outro tampouco seremos entendidos por ele. Em outros termos, não haverá comunicação! Capacidade linguística Vamos analisar, agora, o artigo proposto para esta aula, que envolve aspectos linguísticos. A partir desse conteúdo, discutiremos sobre as atividades de linguagem. Artigo Brasil sobe em ranking, mas familiaridade com língua inglesa ainda é baixa. Observe que, no texto, a expressão “baixa proficiência” – do Brasil em relação ao inglês – representa o baixo índice de quem sabe o vocabulário, as regras de ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 12 concordância, de pontuação e de ortografia da língua inglesa e conhece seus aspectos pragmáticos, bem como seus contextos de uso. Como podemos, então, relacionar as informações sobre a capacidade da linguagem do ser humano e esse ranking dos países em relação ao idioma inglês? Vejamos... Vejamos, no gráfico a seguir, o que podemos concluir a partir da leitura do artigo tratado anteriormente: Em outras palavras, o texto chama a atenção para o fato de os brasileiros não aproveitarem sua capacidade linguística para aprender outros idiomas – independente de sua condição financeira – e melhorar sua colocação profissional. Investimento no aprendizado de outras línguas Se a proficiência em outras línguas – nesse caso, a língua inglesa – é um diferencial para a inserção do sujeito no mercado de trabalho, por que não investir nesse aprendizado? Afinal, a linguagem não verbal não dá conta da comunicação eficaz entre pessoas de nacionalidades distintas. Por isso, para manter esse tipo de interação, é necessário se valer da linguagem verbal. Nesse contexto, o Brasil perde pontos por limitar tal processo, já que grande parte da classe média não é proficiente em inglês – o idioma mais usado no mundo inteiro. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 13 Aprenda Mais Leia sobre a proficiência da população brasileira na língua inglesa. Leia sobre a tentativa de tornar o aprendizado da língua inglesa disponível às classes mais baixas. Referências CRYSTAL, D. Pequeno tratado sobre a linguagem humana. São Paulo: Saraiva, 2012. BOUISSAC, P. Saussure: um guia para os perplexos. Petrópolis: Vozes, 2012. CHOMSKY, N. Novos horizontes no estudo da linguagem e da mente. São Paulo: UNESP, 2005. Exercícios de fixação Questão 1 Analise a seguinte situação...Sérgio chegou a sua casa e quis conversar com seu papagaio, pois estava cansado e chateado. Na verdade, ele precisava de alguém para desabafar. Como possuía um papagaio, por um momento, achou que o animal pudesse compartilhar de suas aflições. Mas Sérgio não conseguiu o que queria, porque: a) O papagaio gritava tanto que não o deixou falar. b) Falava tão rápido que o papagaio não o entendia. c) O papagaio é um repetidor e não acompanha uma conversa humana. d) A comunicação do papagaio não foi entendida por ele. e) O papagaio não estava bem e não pronunciava coisa alguma. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 14 Questão 2 Analise a seguinte situação...Ao se deparar com uma criança conversando com um adulto, Marcos percebeu que o menino fazia muitos gestos para se fazer entender e que, em determinado momento, a pessoa que o acompanhava dizia:– Você precisa falar o que quer, precisa saber falar, senão, não consigo entender. Diante dessa cena, Marcos chegou à seguinte conclusão: a) O ser humano comunica-se melhor por meio de sinais. b) Os gestos são pouco utilizados por quem não pode falar. c) A linguagem verbal proporciona comunicação mais eficiente. d) A comunicação humana ocorre por meio das linguagens verbal e não verbal. e) A comunicação humana não compreende sinais, pois se vale da fala. Questão 3 De acordo com o que estudamos ao longo desta aula a respeito da proficiênciaem um idioma, podemos afirmar que: a) Falar bem uma língua é ser proficiente. b) Ser proficiente em uma língua é conhecer seus contextos de uso. c) Falar bem uma língua e pronunciar bem as palavras é ser proficiente. d) Falar bem uma língua é saber se comunicar por meio de gestos e de palavras. e) Ser proficiente em uma língua é reconhecer seus contextos de uso e saber como se comportar linguisticamente a partir deles. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 15 Questão 4 Expandir a capacidade linguística adquirindo um idioma – como o inglês, por exemplo – pode aumentar nossas possibilidades no mercado de trabalho, porque: a) Todos que falam esse idioma são valorizados. b) Essa língua é exigida para a obtenção de melhores salários. c) O conhecimento desse idioma é mais exigido do que o de português. d) Esse idioma facilita e expande a comunicação e as negociações profissionais. e) Aquele que desconhece essa língua não consegue uma boa colocação profissional. Questão 5 O Brasil ocupa uma posição bem abaixo dos países desenvolvidos em relação à proficiência no inglês, pois: a) Para os brasileiros, não é importante falar o idioma. b) No País, há a tendência de se preservar a língua portuguesa. c) O País está descobrindo, aos poucos, a importância de outro idioma. d) Os países mais desenvolvidos estão mais próximos da realidade do idioma. e) O País ainda está descobrindo que se comunicar através dessa língua é importante. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 1 Introdução Como você já sabe, esta disciplina trata de atividades de linguagem. Na aula anterior, entendemos que a faculdade da linguagem é exclusiva do ser humano e, por isso, permite a ele interpretar a realidade, além de interagir com as pessoas. Agora, vamos explorar as potencialidades da língua para suprir as necessidades de comunicação e interação em termos pessoais e profissionais. Às vezes, tais reflexões podem se tornar problemáticas por exigirem abstração de algo que adquirimos e utilizamos sem muito esforço, apenas mantendo contato com o meio ambiente. É como se tivéssemos de isolar a língua, distanciando-se dela para estudar os elementos que a integram. Essa não é uma tarefa fácil, mas necessária. A nosso favor está o fato de que somos portadores da faculdade da linguagem. Por isso, podemos, a todo o momento, trocar experiências e questionar aquilo que não nos parece simples de internalizar. Então, mãos à obra! Objetivo: 1. Explicar a noção de língua a partir da caracterização de sua estrutura e da análise de seus aspectos socioculturais; 2. Identificar as potencialidades linguísticas a partir das necessidades sociais e profissionais. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 2 Conteúdo Adquirindo a língua Como vimos na aula anterior, podemos nos comunicar e interagir com as pessoas não apenas através de nossa língua materna mas também por meio de outros idiomas. Vejamos um exemplo na charge a seguir: Note que, incialmente, Mafalda, personagem da charge que acabamos de ver, não entendeu o significado da expressão sala de estar. Esse entendimento só ocorreu depois que sua mãe traduziu a expressão para a língua inglesa. Devido ao estrangeirismo, o termo living era mais comum à Mafalda do que sala de estar. Essa comunicação por meio tanto da língua materna quanto de línguas estrangeiras só é possível porque nos valemos da faculdade que nos é inerente – nesse caso, utilizando a linguagem verbal, ou seja, a estrutura da língua. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 3 Interação social Mas como ocorre, de fato, a interação social a partir da estrutura da língua? Lembre-se do bebê que está começando a falar assistindo à cena a seguir: Galeria de Vídeos Veja o vídeo Bebê versus papai. Percebeu como mesmo sem ter ainda adquirido as primeiras palavras, ele já emite sons como se estivesse interagindo com aqueles que estão a sua volta? Portanto, já nessa fase inicial de aquisição da linguagem, há alguma espécie de comunicação. Na verdade, essa interatividade é o que proporciona o aprendizado da língua falada na comunidade em que esse bebê vive. Em outros termos, a faculdade da linguagem e o contato que mantém com o meio social permitem que a criança adquira a estrutura da língua. Vejamos, a seguir, os aspectos que a tornam importante nesse processo de aprendizagem. Estrutura linguística A estrutura da língua apresenta as relações sintáticas entre seus elementos. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 4 Enfim, essa estrutura representa todo o aparato linguístico de que necessitamos para produzir nosso discurso, e seus elementos ficam armazenados na mente de cada um. Embora haja um volume grande de informações desconhecidas a respeito do emprego da língua, todos nós somos capazes de utilizá-las e de combiná-las em uma produção discursiva. Claro que há momentos de hesitação – aqueles em que não sabemos bem que palavra usar –, mas são poucos comparados com a fluência no discurso de qualquer indivíduo. Quer ver um exemplo? Escolha dos elementos linguísticos Imagine que, em uma conversa, os participantes se comunicassem desta forma: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 5 Nesse caso, cada elemento pronunciado no discurso é devidamente analisado e nomeado de acordo com a norma gramatical do português. Mas você sabe que ninguém fala desse modo, não é verdade? Se assim o fosse, todo usuário da língua portuguesa precisaria conhecer esse tipo de classificação, o que não é fato. Mesmo assim, as pessoas conseguem se comunicar. Isso significa que, para adquirir uma língua, não é necessário dominar suas regras gramaticais. Basta saber escolher os elementos e usá-los adequadamente para produzir ideias que façam sentido – o que deriva de nossa capacidade mental e de nosso convívio social. É esse contato constante com a comunidade linguística em que estamos inseridos – seja esta usuária do português, do mandarim, do francês, do inglês ou do espanhol – que nos permite adquirir nossa língua materna. Potencialidades da língua Você se lembra de sua infância e das vezes em que sua mãe, seu pai ou alguém de sua família lhe ensinou a pronunciar determinadas palavras corretamente? ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 6 Foi assim que você aprendeu a falar, certo? Na verdade, foi assim que você desenvolveu seu potencial linguístico e começou a se comunicar a partir da linguagem verbal, relacionando os vocábulos a seu significado e a seus contextos de uso. Isso nos leva a concluir o seguinte: Por se tratar de um veículo de comunicação mediado pela linguagem verbal, a língua não pode ser encarada somente como um acervo de palavras e de elementos presente na estrutura linguística. Quando adquirimos uma língua, não aprendemos somente termos ou apenas combinamos elementos, mas passamos a entender o significado de ambos e a identificar em que situações podemos empregá-los. Além disso, a realidade que nos circunda é percebida e registrada por meio da língua, o que resulta no conhecimento sociocultural. É importante que você registre essa informação para discutirmos as potencialidades desse aprendizado. Atividade proposta Agora que já estudamos a respeito das potencialidades linguísticas, reflita sobre o que aprendeu e explique, com suas palavras, a frase a seguir: Aprender uma língua é reconhecer seus contextos de uso. Chavede resposta É importante que você reflita sobre a noção de língua e sobre seu aprendizado, que ultrapassa o simples conhecimento da estrutura linguística, contemplando os contextos socioculturais em que cada idioma é empregado. Propostas para o Ensino Superior Vamos analisar, agora, o artigo proposto para esta aula: Artigo Rio sediará encontro internacional de reitores em 2014. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 7 O texto traz à tona o encontro internacional de reitores de universidades, no Rio de Janeiro, em 2014, para a discussão do rumo dos estudos universitários – tema, por sinal, extremamente relevante para nossos estudos. Vamos debater sobre alguns aspectos importantes que são alvo de reflexão no artigo, tais como: • Investimento em educação – foco na igualdade e no desenvolvimento; • Incentivo à pesquisa – ampliação do acesso dos estudantes para a realização de estudos científicos; • Papel da universidade – instituição como fator de transformação social. A seguir, analisaremos, então, tais propostas para o Ensino Superior, considerando que este é o início da preparação para o mercado de trabalho. Investimento em educação De imediato, verificamos, pelo título do artigo objeto de estudo desta aula, que a discussão proposta envolve a ação dos reitores nas mudanças urgentes e necessárias à organização do ensino universitário. Muito se tem falado em investimento em educação como o caminho para uma sociedade mais justa e mais igualitária, no sentido de haver oportunidades reais para todos ou para a maioria de seguir a vida com qualidade. Não é razoável pensar, pelo menos, que a educação promove igualdade e desenvolvimento? Por meio dela, adquirimos conhecimento e aprendemos a refletir sobre a realidade, sobre injustiças, preconceitos, coerção, enfim, sobre tudo o que pode provocar desigualdade e frear o crescimento pessoal e profissional de alguém. Vejamos a entrevista do pensador Edgar Morin para o programa Roda Viva: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 8 Galeria de Vídeos Assista a entrevista com o pensador Edgar Morin. Desde 1986, quando a democracia engatinhava após o regime militar, a TV Cultura abriu um espaço plural para a apresentação de ideias, conceitos e análises sobre temas de interesse da população, num espaço raro na televisão para a reflexão não só da realidade brasileira e mundial, como do próprio jornalismo e dos jornalistas. O programa oferece à sociedade brasileira uma informação de interesse público, promovendo o aprimoramento educativo e cultural de telespectadores e internautas, visando a transformação qualitativa da sociedade. Num cenário único, os entrevistados colocam-se diante de jornalistas e especialistas convidados para expor suas opiniões e esclarecer questões relevantes para a sociedade brasileira. Repetida semanalmente ao longo de duas décadas, a fórmula transformou o Roda Viva num marco no debate democrático e reflexivo em torno de temas e ideias. De acordo com Paulo Freire, “Educar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou sua construção.” Considerando a citação de Freire e o que foi dito por Edgar Morin a respeito das ideias complexas, reflita sobre os problemas que nossa sociedade enfrenta atualmente, principalmente aqueles voltados para a área de educação. Você concorda com o que foi dito por Morin? Para você, é preciso entender nossa realidade, a forma como os diferentes problemas se relacionam para, então, resolvê-los? A partir do que vimos anteriormente, podemos concluir que a educação é libertadora, porque tem o poder de fomentar reflexões. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 9 Galeria de Vídeos A fim de refletirmos melhor sobre isso, vejamos um trecho do filme Escritores da Liberdade: Uma jovem e idealista professora, Gruwell, chega a uma escola de um bairro pobre, que está corrompida pela agressividade e violência. Os alunos se mostram rebeldes e sem vontade de aprender. Há, entre eles, uma constante tensão racial. Para fazer com que aprendam e, também, falem mais a respeito de suas complicadas vidas, a educadora lança mão de métodos diferentes de ensino. Aos poucos, os estudantes vão retomando a confiança em si mesmos, aceitando o conhecimento e reconhecendo valores – tais como a tolerância e o respeito ao próximo. Você notou como a educação pode ser libertadora? Como afirma Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Mas você concorda que transformar pessoas para mudar a realidade não é uma tarefa simples? Por isso, investir em educação – em termos financeiros mesmo – é essencial! O resultado desse investimento no processo de ensino e aprendizagem é percebido a longo prazo em forma de produção do conhecimento. Incentivo à pesquisa Outra questão que o artigo alvo de reflexão desta aula propõe é o incentivo à pesquisa nas universidades – referência para a ampliação do saber. Através desses estudos científicos, obtemos resultados nos quais podemos nos basear para seguir adiante com determinada ação em prol de algum objetivo e constatamos verdades bem fundamentadas. Em outras palavras, por meio desse tipo de trabalho investigativo, produzimos conhecimento. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 10 Logo: O trabalho de pesquisa é extremamente importante e não pode parar. A universidade é justamente o local em que podemos ampliar tais estudos e que permite a circulação do saber, bem como a troca de experiências. Papel da universidade: saber universal e transformador O último assunto abordado no artigo em questão é o papel da universidade como fator de transformação social. Sabemos que a consciência de viver em comunidade não é algo que se adquire, inteiramente, no ambiente familiar. É claro que, quando estamos em família, é possível aprender a conviver com o outro e a respeitar seu espaço, mas nem sempre isso acontece. Geralmente, valores como esses são trabalhados na instituição de ensino. Nesse caso, a função que a universidade exerce sobre a sociedade fica mais evidente. Tudo o que o ambiente universitário pode promover – como a ampliação de pesquisas e a produção do conhecimento, por exemplo – contribui para a referida transformação. Por meio do saber ali adquirido e das experiências ali vivenciadas, somos despertados para uma realidade em que podemos atuar, modificando, inclusive, o estado das coisas. Atividade proposta Antes de finalizarmos esta aula, vamos fazer uma atividade! Como vimos ao longo deste estudo, a sociedade é composta por indivíduos que interagem uns com os outros, com o meio ambiente, enfim, com a realidade que os cerca. Essas pessoas se constituem como sujeitos críticos através do exercício da linguagem e em função do conhecimento adquirido por meio da língua: a ferramenta que torna possível tal representação social. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 11 Pensando nessas questões, aponte o papel da universidade para a formação do cidadão na sociedade. Chave de resposta A universidade se constitui como o espaço de construção coletiva do conhecimento e de interação entre os sujeitos. Esse ambiente promove formação específica, preparando o indivíduo para uma ocupação no mercado de trabalho. O resultado desse desenvolvimento pessoal e profissional se reflete na atuação do sujeito em sociedade. Aprenda Mais Para saber mais sobreos tópicos estudados nesta aula, sugerimos a seguinte leitura: • CÂMARA JÚNIOR, J. M. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 1970. Referências CRYSTAL, D. Pequeno tratado sobre a linguagem humana. São Paulo: Saraiva, 2012. SAUSSURE, F. Curso de Linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2006. RONCARATI, C. As cadeias do texto: construindo sentidos. São Paulo: Parábola, 2010. Exercícios de fixação Questão 1 A língua pode ser entendida como: a) Vocabulário. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 12 b) Vocabulário e pronúncia correta das palavras. c) Estrutura coletiva compartilhada com a comunidade. d) Estrutura individual, afinal, cada um tem determinado jeito de falar. e) Vocabulário e gestos que servem à comunicação. Questão 2 A comunicação linguística ocorre por meio: a) Da fala. b) De gestos e de palavras. c) Da faculdade da linguagem. d) Da faculdade da linguagem e da escolha de palavras. e) Da faculdade da linguagem, da estrutura da língua e da fala. Questão 3 De acordo com alguns estudiosos, a língua é encarada como um veículo social, algo que pertence à comunidade, porque: a) A maioria das pessoas se comunica. b) Algumas pessoas se comunicam com outras. c) A comunidade se comunica com palavras e gestos. d) Todos os membros de uma comunidade precisam se entender. e) A comunicação é realizada a partir de um aspecto exclusivo do indivíduo. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 13 Questão 4 Aprender uma língua significa: a) Saber se comunicar. b) Adquirir o vocabulário desse idioma. c) Pronunciar as palavras e frases corretamente. d) Elaborar uma boa fala, um discurso impecável. e) Aplicar esse conhecimento em situações adequadas. Questão 5 Aquele que imprime fluência em seu discurso: a) Expressa-se corretamente. b) Repete o que lhe foi falado. c) Comunica-se sem problemas de entendimento. d) Comunica-se obedecendo à gramática formal da língua. e) É entendido mesmo sem obedecer à gramática formal da língua. Questão 6 De acordo com as reflexões propostas nesta aula, é possível que os usuários da língua interajam socialmente por meio do discurso, afinal: a) A interação ocorre através de gestos e de sinais. b) Através do conhecimento da linguagem formal, adquirimos fluência no discurso. c) Se o ser humano possui a faculdade da linguagem, ele é capaz de interagir e de se comunicar através de palavras. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 14 d) Através da faculdade da linguagem, da estrutura da língua e do contato com o meio ambiente, a comunicação verbal se desenvolve. e) Mesmo com problemas com a faculdade da linguagem, o contato com o meio ambiente permite a interação linguística entre os indivíduos. Questão 7 Analise a seguinte afirmação:"Uma pessoa que sabe se comunicar em sua própria língua é aquela que detém o conhecimento da norma gramatical".De acordo com o que discutimos sobre fluência do discurso, essa ideia está: a) Incorreta, afinal, são os gestos que embasam as expressões linguísticas. b) Correta, afinal, essa fluência só é possível ao indivíduo que domina a norma gramatical da língua. c) Correta, afinal, valer-se das regras da gramática da língua é fundamental para o bom desempenho linguístico. d) Correta, afinal, é necessário ter domínio das regras gramaticais da língua para se comunicar em ambientes formais. e) Incorreta, afinal, ao adquirir sua língua materna, o sujeito é capaz de se comunicar, independente de sua fala estar em conformidade com as regras da gramática formal. Questão 8 (SEPLAG-2010) Leia o seguinte fragmento de texto: A = quer dizer... os meios de comunicação... é a... é a dominação... é onde eu digo... a dominação começa onde// nos meios de comunicação... aí eles fala assim... bom... greve é coisa de agitador... de comunista... de não sei o quê... o pessoal guarda isso... falou em greve eles têm a resposta... que nem computador... você dá dados... né? dá ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 15 dados... e aí brum, brum, brum.... vem tudo... E o funcionário explorado não tem direito de...de... reivindicar. B = greve é sinônimo disso aí. aí na hora que u- a... pessoa desprovida de raciocínio ela fala assim... greve... automaticamente o cérebro joga a resposta... A = ah isso é baderna... B = é... assim é mesmo". Fonte BERNARDO, S. Foco e ponto de vista na conversa informal. Rio de Janeiro: UFRJ, [s.d.].p. 198. Esse texto reproduz a conversação de dois locutores – A e B. A partir da leitura desse fragmento e do estudo desta aula sobre os contextos de uso da língua, podemos afirmar que: a) Os locutores só conseguem se entender porque há repetição de termos, e as frases se complementam. b) O entendimento entre os falantes é perturbado pela existência de frases incompletas e digressões tópicas. c) A inteligibilidade do texto é prejudicada pelo excesso de pausas, repetições, hesitações e sobreposições de falas. d) A legibilidade do texto é assegurada pelo contexto e pelo compartilhamento de conhecimentos entre os locutores. e) A existência de termos ou de frases que não obedecem ao padrão culto da língua compromete a legibilidade do texto. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 16 Questão 9 (ENEM-2012) Leia o texto Cabeludinho. Nele, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das expressões "voltou de ateu", "disilimina esse" e "eu não sei a ler". Com essa reflexão, o autor destaca: a) Os desvios linguísticos cometidos pelos personagens do texto. b) O relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho durante suas férias. c) A distinção clara entre a norma culta e as outras variedades linguísticas. d) A valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da linguagem. e) A importância de certos fenômenos gramaticais para o conhecimento da língua portuguesa. Questão 10 De acordo com o que estudamos ao longo desta aula, investir em educação significa: a) Contratar excelentes professores para dar conta de um ensino de qualidade. b) Garantir políticas sociais que incluam pesquisa e circulação de conhecimento. c) Construir muitas universidades para garantir oportunidades de aprendizagem. d) Possibilitar a todos a oportunidade de estudar em boas instituições de ensino. e) Proporcionar um ambiente de estudo de qualidade a partir de projetos sociais. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 1 Introdução Daqui em diante, daremos ênfase ao entendimento da linguagem e ao desenvolvimento de habilidades relacionadas a ela. Para começar, nesta aula, analisaremos as práticas de fala, de leitura e de escrita, a fim de valorizar o foco da disciplina: as atividades de linguagem. Bons estudos! Objetivo: 1. Explicar os contextos formais e informais da fala; 2. Analisar o processo de leitura; 3. Reconhecer as produções textuais e sua tipologia. Conteúdo A fala e seus contextos Na aula anterior, refletimos sobre o conhecimento adquirido através da língua e sobre como ela torna possível a representação desse saber. Nesta aula, trataremos da potencialidade da língua para aplicar tal conhecimento. Inicialmente, vamos nos focar nas primeiras formas de interação: as atividades de fala – considerando o português brasileiro. Como a fala é naturalmente desenvolvida ao longo de nossas vidassem que façamos muito esforço, não nos importamos muito em estudá-la, não é verdade? Mas, para identificar QUANDO e COMO podemos empregar essa forma de comunicação, é necessário atentarmos para essa prática nos diversos contextos sociais. Em outras palavras, se cada contexto implica comportamento e linguagem próprios, precisamos adequar nossa fala a cada um deles. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 2 Veja, a seguir, como nos valemos da linguagem em situações específicas. Atenção Sobre a importância da oralidade, Lira (2008, p. 41-42) afirma: “A tomada da palavra como realidade humana e social não estaria completa se não salientássemos, também, uma opção de comunicação oral. A maior parte das vias de comunicação que estão abertas em nossas sociedades, especialmente do ponto de vista da comunicação interativa (o face a face, a ligação telefônica), utiliza, com efeito, o oral. Isso ocorre através do canal vocal-auditivo, mostrando que o oral mobiliza dois sentidos: o vocal para falar e o auditivo para ouvir, ao mesmo tempo, o que se diz a si mesmo e o que os outros dizem. É importante já, agora, lembrarmos que a oralidade é própria de todos os seres humanos que se comunicam falando conforme seus diversos contextos sociais. [Disso resulta] a importância do respeito que se deve ter às variedades linguísticas, que, no oral, só enriquecem a língua”. Linguagem formal e informal Vamos tratar, agora, das linguagens formal e informal. Você sabe distingui-las? Cada uma delas é empregada de acordo com determinado contexto e possui as seguintes características: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 3 Linguagem formal Linguagem formal Este tipo de linguagem – também chamado de culta – é usado em situações que exigem o emprego da gramática formal da língua, tais como: • Entrevista de emprego; • Audiências; • Reuniões de negócios etc. Como não a adquirimos naturalmente, essa linguagem tem de ser praticada. Linguagem informal Linguagem informal Este tipo de linguagem, também chamado de coloquial, é usado em situações do cotidiano – como em uma conversa com amigos, por exemplo –, nas quais não ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 4 nos preocupamos tanto com o vocabulário de que vamos nos servir na produção de nosso discurso. Nesse caso, as frases podem apresentar repetições de palavras, há abreviações de vocábulos, pausas e retomadas de ideias constantes etc. Em outros termos, fugimos da norma culta da língua portuguesa, porque determinados contextos permitem tal emprego da língua. Vamos refletir, agora, sobre as situações apresentadas anteriormente. Como vimos, cada um desses contextos exige determinado comportamento linguístico, o que significa que precisamos saber como nos portar em todos eles. Mas muitas pessoas acreditam que quem se vale da norma culta é o único a empregar a língua corretamente. Galeria de Vídeos Veja o vídeo Turma da Mônica: Chico Bento no shopping. Quantas pessoas você conhece que são julgadas pela fala que produzem, assim como Chico Bento? Por não dominarem o registro formal da língua, esses sujeitos são alvo de preconceito linguístico, mas isso não significa que eles não possam se comunicar. O uso adequado da linguagem formal é um reconhecimento de prestígio social. Quem não possui essa habilidade apenas usufrui de uma fala sem esse valor. Atividade de leitura Vamos estudar, agora, o processo de leitura e sua importância para as atividades de linguagem. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 5 Desde que nos deparamos com a realidade, praticamos atividades de leitura. O simples contato visual para reconhecimento do mundo que nos cerca representa esse ato de compreensão leitora. Na verdade, estamos habituados a falar em leitura como algo que depende de elementos linguísticos – de palavras, de textos etc. –, mas, aqui, vamos nos referir a esse assunto de forma mais abrangente, tratando-o como um processo cognitivo. Estudos sobre o tema afirmam que o texto – objeto de leitura clássico –, por si só, não carrega todas as informações necessárias ao leitor para o entendimento da mensagem que se pretende transmitir. Para compreendê-lo, esse leitor precisa interagir com o texto a partir das pistas deixadas nas entrelinhas e de seu conhecimento enciclopédico, ou seja, sua leitura de mundo. Veja, a seguir, que exercício cognitivo é exigido do indivíduo nesse momento. Leitura como processo cognitivo Como processo cognitivo, a leitura baseia-se nas seguintes etapas: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 6 A decodificação linguística é a primeira etapa do processo de leitura. Afinal, não há como compreender qualquer mensagem sem reconhecer os elementos linguísticos que a compõem. Entretanto, decodificar um texto não é o suficiente para concluir a atividade de leitura – exercício interativo, que implica a relação autor-texto-leitor –, pois precisamos interpretar e entender o que lemos. Por isso, ao organizar uma produção textual, o autor deve sempre lembrar de que ela é destinada a um leitor, que tem de reconhecer sua mensagem e recuperar seu sentido, tornando-se coautor do texto. Caso contrário, este não terá significado para o interlocutor. Quer ver um exemplo? Você mesmo, neste momento, está interagindo com o conteúdo desta disciplina online e refletindo sobre as ideias apresentadas nesta aula para fins de construção do conhecimento, certo? O conteúdo, por sua vez, está permitindo que você faça essas reflexões por sua organização dinâmica e interativa. Por isso, lembre-se: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 7 O processo interativo é algo legítimo na atividade de leitura e é mediado pelo texto. Atenção Se compararmos a interação autor-texto-leitor com a interpessoal, verificaremos que o indivíduo se vale muito mais de sua capacidade cognitiva na primeira do que na segunda, que se apoia na linguagem gestual. Veja as considerações de Kato (2007, p. 54) a respeito do assunto: “É interessante observar que, até agora, falamos em interação leitor-texto, mas, em nenhum momento, falamos em interação leitor-escritor. Contudo, em situações de comunicação oral, o que é relevante é a interação falante-ouvinte. Na verdade, essa interação entre produtor e compreendedor é o objetivo de qualquer comunicação, mas, como tem sido frequentemente observado, na comunicação escrita, esse objetivo é muito mais dependente do código verbal e muito menos apoiado nas pistas contextuais, na linguagem gestual, no universo semântico partilhado ou nas regras conversacionais”. Ensino da atividade da linguagem Vamos analisar, agora, o artigo proposto para esta aula: Artigo 90% das escolas estaduais – onde estudam 65% dos alunos – ficam abaixo da média no Enem 2012. A partir do tema sugerido pelo artigo, refletiremos sobre os seguintes pontos: • A importância do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem); • O desempenho das escolas públicas e das escolas privadas; • A relevância do ensino de atividades de linguagem. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 8 Por meio dessa análise, será possível conferir as etapas do processo de leitura. Vamos começar? Exame Nacional de Ensino Médio Atualmente, o Enem oferece vantagens para os estudantes ingressarem no Ensino Superior. Se eles obtiverem uma boa avaliação nesse exame, sua vaga em determinadas universidadesestará garantida. Mas isso vai depender do preparo do aluno durante seu período de estudos. Diante desses benefícios, o Ensino Médio passou a ser mais valorizado, por se tratar de uma etapa extremamente importante na formação intelectual do jovem como cidadão. O artigo mostra justamente um ranking de escolas federais, municipais e privadas que possuem índice de aprovação no Enem. Implícitos no texto Você percebeu que identificamos alguns implícitos no texto para chegar à interpretação anterior? A discussão sobre essas ideias faz parte de seu entendimento, mas elas não estão expostas, de forma precisa, no corpo do artigo, e sim sugeridas em suas entrelinhas. Essa atitude constitui o que chamamos de inferência: um raciocínio resultante de indícios presentes no texto e da colaboração do próprio saber prévio do leitor a respeito do assunto. Isso faz parte do ato de leitura – um processo cognitivo que contempla: • A decodificação da mensagem; • As deduções ou inferências; • A interferência do conhecimento de mundo do sujeito leitor etc. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 9 Entretanto, só será possível chegarmos a tais conclusões se estivermos familiarizados o suficiente com o tema do artigo. Do contrário, não conseguiremos concretizar essas ações de compreensão leitora e apenas decodificaremos o texto, sem interpretá-lo ou entendê-lo. Desempenho de escolas públicas e privadas Quando discutimos sobre a importância do Enem destacada no artigo alvo de análise desta aula, de certa forma, já começamos a refletir sobre o desempenho das escolas públicas e privadas nesse exame. Diante da relevância que o Enem adquiriu e do ranking estabelecido de acordo com a performance dos estudantes, o preparo desses alunos e as instituições em que estudam também vêm sendo avaliados. Pensando nessas questões, somos conduzidos a examinar, criticamente, o ensino de modo geral e toda a política que o envolve. Tudo isso é possível a partir da leitura de um texto que aborda essa temática. Observe que podemos levantar inúmeros questionamentos e chegar a várias conclusões a respeito do assunto sem que todas essas ideias estejam explicitamente organizadas no artigo. Este é o trabalho do leitor: ressignificar as informações sugeridas pelo texto e desvendar o que não está ali claramente exposto para fins de compreensão do todo escrito. Atividades de linguagem Dando continuidade à análise do artigo proposto para esta aula, é inevitável discutir sobre o tema principal de nosso estudo: as atividades de linguagem. O texto levanta a importância do Enem para o Ensino Superior, a questão do desempenho das escolas públicas e privadas nesse exame e o preparo dos alunos para alcançar a tão sonhada aprovação no referido teste. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 10 Galeria de Vídeos Veja, a seguir, um trecho da entrevista do Luiz Cláudio Costa sobre o ENEM para o programa Roda Viva: Você percebeu a importância de possíveis mudanças no ensino médio com base nos resultados obtidos nas provas do ENEM? Tais mudanças devem visar à obtenção de um maior índice de aprovação dos estudantes nesse exame. Atenção Além de todos esses pontos de atenção abordado por Luiz Cláudio, não podemos nos esquecer de que o Enem é elaborado com base nas atividades de linguagem. Por isso, quando o índice de uma escola não é tão bom em termos de aprovação no exame, é fundamental repensar a forma como as atividades de linguagem estão sendo desenvolvidas nesse ambiente, o que inclui: • Compreensão leitora; • Produção de textos; • Exercícios de fala e de escrita etc. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 11 Ainda pensando nas atividades de linguagem, vejamos a charge a seguir: Fonte: CALVIN e Hobbes. Autor: Bill Watterson. Você percebeu por que a leitura deve ser encarada como um processo cognitivo, cujo resultado é o entendimento do conjunto textual? Reflita sobre como tem realizado esse processo até o momento. Atividade proposta Como já vimos, a atividade de leitura é muito importante para quem deseja desenvolver habilidades linguísticas que envolvem a fala, a escrita, a ortografia, o vocabulário etc. A partir de agora, vamos tratar das produções textuais, ou seja, das possibilidades de construção e organização de textos. Antes disso, leia o texto O gigolô das palavras. Essa estrutura textual foi modificada propositalmente. Veja se você consegue organizá-la de forma coesa e coerente, de acordo com a sequência correta de ideias. Chave de resposta A escrita requer um trabalho cognitivo que contemple os contextos em que determinado tema está inserido, um vocabulário adequado e a organização lógica de ideias. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 12 O autor do texto, por sua vez, deve estar atento a seu possível leitor e ajustar bem o canal de transmissão do conteúdo para que a mensagem não se perca. Compare, então, a organização textual pensada por você com o texto original O gigolô das palavras e verifique como ele foi construído. A escrita e o texto Se a interação permeia todas as atividades de linguagem, na escrita, não seria diferente. Você percebeu, pela atividade anterior, como o texto, quando organizado de forma coerente, exprime uma mensagem compreensível ou ideias com sentido? Como produto das atividades de escrita, o texto precisa estar bem estruturado e apresentar uma sequência lógica de conteúdo para que o interlocutor – o leitor – possa interpretá-lo e entendê-lo. Isso não significa que ele necessita ser composto por um número exato de palavras. Vejamos a charge a seguir: Adaptado de: http://www.setimaregional.com.br Assim como vimos na charge, suponha que você esteja diante de uma pessoa gritando: “Socorro!”. De imediato, você entende que ela necessita de ajuda, certo? Com um único vocábulo, a frase é perfeitamente entendida por todos e constitui, portanto, um texto coerente e coeso por comunicar uma ideia completa. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 13 Vamos entender melhor, a seguir, esses aspectos tão importantes da produção textual. Coesão e coerência A coesão e a coerência são os fatores responsáveis pela produção do texto. Vejamos como podemos empregá-los, de modo que nossos escritos se tornem compreensíveis: Coesão Coesão A coesão ocorre no nível sintático da língua e é um recurso linguístico usado para substituir e encadear ideias. Veja um exemplo: “[...] Os dados relativos a 2012 revelam apenas o desempenho de instituições de ensino em que pelo menos metade dos alunos concluintes do Ensino Médio realizou o exame naquele ano. Escolas com menos de dez alunos também foram desconsideradas do levantamento. [...]” Disponível em: veja.abril.com.br. Acesso em: 9 jun. 2014. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 14 Coerência Coerência A coerência ocorre no nível semântico da língua – do sentido, da organização lógica – e permite que o leitor reconstrua a mensagem para compreender o texto. Veja um exemplo: “Os vistos engordam casa fechada de muita coisa embora diga”. Observe que, neste segmento escrito, há várias palavras legítimas da língua portuguesa, mas a combinação desses termos em uma sequência frasal não faz sentido. Diferente do exemplo anterior, que revela uma ideia compreensível, nesse caso, não há coerência na mensagem. Tipologia textualApós as considerações sobre o texto, vamos identificar os tipos que ele pode assumir: Narração Texto que apresenta fatos, que contém personagens e que conta histórias, situando-as em determinado espaço e em certo tempo. Geralmente, os textos narrativos utilizam verbos de ação. Descrição Texto comum que expõe detalhes sobre determinada paisagem, determinado local ou mesmo sobre pessoas. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 15 Nos textos descritivos, os verbos de ação são substituídos por verbos de ligação – tais como SER ou ESTAR –, normalmente no passado. Veja um exemplo: Todos os dias, ela fazia as mesmas coisas: pela manhã, organizava o café, arrumava a casa e começava a tarefa do almoço. A casa era composta de móveis coloniais, e as paredes eram claras. Observe que o texto é estático e não lida com fatos, que dão a ideia de movimento. Dissertação Texto que confronta ideias e apresenta pontos de vista sobre determinado assunto geralmente polêmico. No fechamento do texto dissertativo, não há, necessariamente, uma conclusão, mas uma proposta de discussão sobre o tema em questão. Argumentação Texto que também trata de assuntos polêmicos, mas com o objetivo de persuadir o leitor, com base em argumentos convincentes, a seguir o ponto de vista defendido pelo autor. Injunção Texto que apresenta instruções sobre algo. São alguns exemplos: • Bulas de remédio; • Manuais; • Receitas etc. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 16 Distinção das tipologias textuais Você deve estar se perguntando: Às vezes, percebemos, claramente, tais tipologias, mas é difícil o texto apresentar somente uma característica. Por isso, para classificá-lo, você precisa identificar o aspecto que nele predomina. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 17 Aprenda Mais Para saber mais sobre a intolerância com relação ao emprego informal da língua, sugerimos a seguinte leitura:• BAGNO, M. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999. Para saber mais sobre o conhecimento enciclopédico, sugerimos a seguinte leitura:• FREIRE, P.A importância do ato de ler – em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1988. Para saber mais sobre a questão do ato de ler como processo cognitivo, sugerimos as seguintes leituras:• KLEIMAN, A. B. Oficina de leitura – teoria e prática. Campinas: Pontes, 1999. • ______. Texto e leitor – aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 2002. Para saber mais sobre o ENEM, assista a uma reportagem da Universidade Paranaense que trata desse exame. Referências KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2011. RONCARATI, C. As cadeias do texto: construindo sentidos. São Paulo: Parábola, 2010. LEAL, T. F.; GOIS, S. (Orgs.). A oralidade na escola: a investigação do trabalho docente como foco de reflexão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. KATO, M. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 2007. LIRA, B. C. Linguagens e a palavra. Rio de Janeiro: Paulinas, 2008. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 18 Exercícios de fixação Questão 1 A frase "Onde cê tava?" é legítima da fala do português brasileiro, porque: a) Sua pronúncia é inteligível, independente do contexto em que está inserida. b) É uma tendência da modalidade informal da língua, em que se subtraem as sílabas das palavras. c) Faz parte do cotidiano das pessoas com menos escolaridade e, por isso, não está inserida em um contexto. d) É uma tendência da modalidade formal da língua, em que se economizam expressões no momento da comunicação. e) É uma tendência das modalidades oral e escrita, formal e informal, em que tanto faz pronunciar as palavras por completo ou não. Questão 2 Leia o seguinte segmento de texto: "Estamos diante de um caso ameaçador, haja vista o desdobramento que a questão assumiu". Da mesma forma que a anterior, essa frase é legítima do português, porque, em termos linguísticos: a) Compõe a estrutura da língua. b) Simplesmente existe, independente de ser entendida ou não. c) Faz parte da modalidade escrita da língua, e não oral, em que a pronúncia é diferente. d) Possui significado e pode ser compreendida de acordo com o contexto em que é empregada. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 19 e) Faz parte da modalidade oral da língua, e não escrita, em que há um aspecto ortográfico comum. Questão 3 Leia a seguinte frase: "Hoje, vamos falar sobre a história dos povos indígenas, que é muito importante para que a gente entenda tudo desde o início". Escolha a opção que melhor representa o contexto em que a fala ocorre: a) O início de uma aula, de teor semiformal. b) Uma situação informal de aula, de fácil entendimento. c) Tanto um caso formal quanto informal de sala de aula. d) Uma situação formal de aula, de cunho acadêmico-científico. e) O início de uma apresentação oral em sala de aula, de teor informal. Questão 4 De acordo com o que estudamos ao longo desta aula, devemos adequar nossa fala aos contextos sociais, porque: a) Eles possuem regras próprias. b) Eles comportam diferentes falas. c) Ela diz quase tudo sobre nosso estado e é nosso cartão de visitas. d) Ela caracteriza nosso comportamento e precisa estar coerente com ele. e) Ela caracteriza nosso comportamento e precisa estar adequada a cada situação em que a empregamos. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 20 Questão 5 Sabemos que, através da linguagem informal, podemos nos comunicar sem problemas, mas é importante adquirir a formal, porque: a) Contextos informais a admitem. b) É ela que nos oferece mais prestígio social. c) Precisamos dela para manter uma melhor comunicação. d) Devemos adequar nossa fala aos diversos contextos sociais. e) Ela permite a comunicação de acordo com a norma culta da língua. Questão 6 De acordo com os estudos da linguagem, a leitura deve ser considerada um processo, e não simplesmente um ato, afinal, ler implica a) Decodificar elementos linguísticos. b) Entender as informações do texto. c) Decodificar elementos linguísticos, figuras, imagens etc. d) Decodificar elementos linguísticos e ressignificar o texto. e) Decodificar elementos linguísticos, formar ideias, deduzir etc. Questão 7 No processo de leitura, o leitor é aquele que: a) Recebe o texto feito justamente para ele. b) Interpreta as ideias do autor, embora seja passivo. c) Entende o texto a partir das informações contidas nele. d) Interage com as ideias presentes no texto para interpretar a mensagem. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 21 e) Interage com o texto, valendo-se somente de seu conhecimento de mundo. Questão 8 A ideia de que todas as informações estão contidas no texto ainda é uma realidade no desenvolvimento das habilidades de leitura. Mas, de acordo com o que estudamos ao longo desta aula, NÃO podemos partir desse pressuposto, afinal: a) O autor da mensagem é que sabe o que quis dizer. b) Quando o texto é bem composto, a mensagem fala por si. c) Para entender o texto, o leitor também se vale de seu conhecimento enciclopédico. d) Saber decodificar bem os elementos linguísticos é o suficiente para entender o universo do texto. e) O autor do texto é seu grande criador, o que significa que suas informações são dominadas por esse indivíduo. Questão 9Os leitores precisam estar familiarizados com o assunto alvo de leitura, pois: a) A escolha adequada do texto é proporcional à idade de quem o lê. b) Esse conhecimento é fundamental para o entendimento parcial da mensagem. c) O sujeito necessita interagir com o texto para fins de retomada das ideias do autor. d) O conhecimento de mundo e a realidade de cada um são essenciais para o entendimento do texto. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 22 e) O processo de interpretação implica saber prévio sobre o tema associado ao conhecimento das intenções do autor do texto. Questão 10 No processo de criação de seu texto, o autor deve-se lembrar de que ele é destinado a um leitor, que se constitui como: a) Interlocutor do texto. b) Parte do cenário que envolve a leitura. c) Figura capaz de entender o universo do texto. d) Alvo da mensagem produzida em forma de texto. e) Sujeito apto a ressignificar a mensagem do texto. Questão 11 Indique como é possível diferenciar um texto de um amontoado de palavras: a) O texto só pode ser visto como tal quando possui elos coesivos. b) O texto possui a ideia de ligação entre os elementos linguísticos. c) Não há distinção entre ambos, já que o texto é organizado a partir de palavras. d) O texto precisa conter uma ideia completa, coerente, que pode ser reorganizada pelo leitor. e) Um amontoado de palavras não possui necessariamente elos coesivos, mas, mesmo assim, pode ser entendido como texto. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 23 Questão 12 Assinale a opção que apresenta um exemplo de texto: a) Não sei se ele. b) Assumi o compromisso, o foguete foi à padaria. c) Fogo! d) Malhei ilustre dado conquanto foi. e) Piterdorus é. Questão 13 Um texto narrativo apresenta os seguintes elementos: a) Personagens que façam parte da realidade. b) Personagens, fatos, local e tempo. c) Personagens que contem uma história. d) Personagens, fatos e local. e) História e tempo. Questão 14 Indique a diferença entre os textos argumentativo e dissertativo: a) O texto dissertativo apresenta fatos. b) O texto dissertativo apresenta argumentos. c) Ambos apresentam ideias polêmicas a serem discutidas. d) O texto argumentativo discute sobre determinado tema com base em fatos. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 24 e) O texto argumentativo apresenta um ponto de vista a ser defendido pelo autor. Questão 15 Os textos que apresentam mais de uma característica em termos de tipologia textual podem ser classificados a partir: a) Da divisão de seus parágrafos. b) De diversas categorias linguísticas. c) Dos aspectos linguísticos mais relevantes. d) Da ênfase a um caráter linguístico específico. e) Dos verbos que predominam em seu conjunto. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 1 Introdução Estamos encerrando nossos estudos, mas você pode – e deve – continuar a refletir sobre as atividades de linguagem para interpretar a realidade, valendo-se da potencialidade dessa faculdade. Nesta aula, vamos discutir sobre os contextos da escrita, a organização discursiva de diferentes textos e sua circulação na sociedade. Além disso, refletiremos sobre a parceria entre leitura e escrita e sobre o domínio dessa forma de comunicação em uma sociedade letrada. Objetivo: 1. Analisar os contextos da escrita; 2. Explicar a organização discursiva de diferentes gêneros textuais. Conteúdo Adequação do texto escrito Na aula anterior, refletimos sobre a fala, a leitura e as atividades de escrita. Agora, vamos continuar a percorrer o mundo da escrita e as diferentes possibilidades de organização de textos. Para darmos continuidade aos nossos estudos. Galeria de Vídeos Veja o clipe Inútil da banda Ultraje a Rigor. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 2 Considere, mais uma vez, a fala e suas adequações aos contextos. Você se lembra de quando discutimos sobre situações formais, semiformais e informais, nas quais precisamos nos comunicar em nosso cotidiano? Agora, pensemos na música que escutamos anteriormente... Você notou que o compositor fez uso de erros gramaticais propositalmente, a fim de criticar e hostilizar a população, que, para ele, estaria agindo de forma errada? Através desses erros, ele conseguiu que o ouvinte captasse a mensagem proposta.Concluímos, portanto, que temos de ajustar nossa fala a cada ocasião comunicativa específica. Do contrário, não efetivaremos a comunicação. Com a escrita, ocorre o mesmo: é necessário adequar o texto de acordo com seu objetivo. Situações informais Diante do que vimos aqui, você deve estar se perguntando: Como posso adaptar meu texto a situações informais do dia a dia se, na maioria das vezes, a escrita exige formalidade? Descubra-o a seguir! Reveja o Percurso de estudo desta disciplina. Habilidade da escrita Geralmente, adquirimos a habilidade da escrita quando realizamos essa ação com frequência, ou seja, quando tornamos essa prática um hábito. Isso implica: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 3 Atenção Além disso, a escrita é muito conceituada nas sociedades letradas. Você já parou para pensar em como um escritor famoso é bem visto pela comunidade em que vive? Só o fato de ter o registro escrito de suas ideias já faz com que ele seja respeitado. Isso parece ser fruto de uma sociedade que valoriza a escrita como uma atividade de prestígio. Mas, para que adquira bom desempenho na escrita, você precisa praticar. Aspectos pragmáticos da língua Você se lembra de quantas vezes precisou reescrever algumas informações de um texto porque percebeu que seu sentido estava confuso? Isso ocorre porque, muitas vezes, quando escrevemos, não conseguimos transmitir nossas ideias com exatidão, devido a algum aspecto pragmático da língua. Disso resulta a necessidade de releitura e de possível reescritura do texto. Além disso, sempre que estivermos envolvidos em atividades desse tipo, temos de nos colocar no papel de leitor para saber se o texto proposto será bem compreendido. Isso significa que a escrita abrange algumas etapas que ultrapassam o simples conhecimento do alfabeto ou a combinação sintática das palavras. A leitura, por exemplo, funciona como parceira desse processo, como vimos na aula anterior. Afinal, quando estamos em contato com textos e com a organização textual, desenvolvemos a habilidade de escrever de forma coesa e coerente. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 4 Atenção Os textos, por sua vez, precisam estar de acordo com os aspectos culturais da língua em que estão sendo escritos, de modo que o interlocutor possa recuperar o sentido dessa mensagem. Vamos refletir, então, sobre os contextos sociais da escrita. Contextos da escrita Nas aulas anteriores, expusemos o quanto é importante conhecer os contextos sociais em que ocorrem as comunicações e adequar a linguagem a cada um eles. Isso inclui as modalidades oral e escrita. Logo, podemos desmistificar a ideia de que a escrita é essencialmente formal. Cada situação específica demanda determinada organização textual. Vejamos: Contexto escrito formal O contexto escrito formal exige um vocabulário, por vezes, rebuscado, que esteja de acordo com a norma culta da língua, respeitando a gramática e as regras de pontuação e acentuação, por exemplo. Contexto escrito informalO contexto escrito informal requer uma linguagem mais simples. Nesse caso, a preocupação não está voltada para a sintaxe da língua, mas em produzir uma mensagem compreensível. Contexto escrito semiformal O contexto escrito semiformal é aquele em que coexistem marcas de formalidade e de informalidade. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 5 Atividade proposta: gêneros textuais Cada um dos textos que se enquadram nas situações que vimos anteriormente é organizado de determinada forma. Você já analisou os diversos textos que circulam entre nós? Para que possamos reconhecê-los, precisamos perceber a especificidade da organização de suas informações, até porque cada texto escrito possui característica e objetivo próprios. É isso o que define o gênero textual a que pertence. Na atividade proposta a seguir, vamos assimilar bem o que acabamos de discutir. Você está pronto? Podemos começar? Agora, veja, então, se você consegue classificar os textos a seguir com base nos elementos abaixo: Crônica Movimentos Foram necessários três cigarros, um copo de vodca barata e um empurrão para que se aproximasse e conseguisse dizer que a amava. Entretanto, o beijo precisou partir dela, que não aguentou esperar pelo uísque. (Danielle Gasparini) - 14/10/2013 Disponível em: http://www.artistasgauchos.com.br Acesso em: 16 jun. 2014. Chave de resposta: CONTO O gênero conto possui uma organização textual que apresenta início, meio e fim através de uma linguagem simples e direta. Para reconhecer esse texto, então, é importante identificar a presença de elementos narrativos, tais como: • Eixo temático único com poucos personagens; • Contextualização do relato em curto tempo – cronológico ou psicológico; ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 6 • Situação do relato – de caráter real ou imaginário – em determinado espaço; • Desfecho da história. Receita Bolo fácil Ingredientes • 4 ovos; • 1 lata de leite condensado; • 1 colher de sopa de fermento em pó; • 1 envelope de 100g de coco ralado. Modo de preparo • Bater tudo no liquidificador; • Levar ao forno pré-aquecido em forma untada até dourar . Disponível em: http://www.tudogostoso.com.br/. Acesso em: 16 jun. 2014. Chave de resposta: RECEITA O gênero receita culinária possui uma organização textual específica: uma que anuncia os ingredientes necessários à preparação de determinado alimento e outra que explica como conduzir esse preparo. Para reconhecer esse texto, então, é importante perceber seu objetivo – ensinar a cozinhar – e identificar a quem pretende atingir – pessoas que têm esse desejo. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 7 Conto Verão 7 novembro 2009 Da janela, espio o verão se insinuando lá fora, enrugando as testas de preocupação com os presentes de Natal e a silhueta – não necessariamente nessa ordem. Uma vez que a gente sobrevive ao feriado de finados, o diabo do trânsito empacota de vez qualquer esperança de fluidez – urbana ou intelectual, objetiva ou emocional. O calorão empapa as ideias e, quando começa a refrescar, já estamos no happy hour, que ninguém é de ferro... Novembro é o seguinte: nós, mulheres, adoramos pintar as unhas de cereja, os cabelos de noz, usar hidratante de amêndoas e xampu de chocolate. E esperamos o verão comendo alface, aguardando a revelação de um novo farelo incrível para o intestino. (Postado por Bibi, ao sábado). Disponível em: http://bibidapieve.blogspot.com.br. Acesso em: 16 jun. 2014. O gênero crônica possui uma organização textual semelhante a do conto. Trata- se de uma narração curta de linguagem informal. A diferença é que, nesse caso, o relato baseia-se nos fatos do cotidiano. Para reconhecer esse texto, então, é importante identificar a presença dos seguintes elementos narrativos: • Personagens comuns; • Temática de natureza humorística, crítica ou irônica; • Contextualização da história em determinado tempo cronológico – o que não é obrigatório. Essa crônica, em específico, foi retirada de um blog: um espaço interativo virtual bastante comum hoje em dia. Nele, a participação do indivíduo ocorre por meio ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 8 de postagem livre: o sujeito pode escrever uma poesia, um comentário, uma crítica ou uma história, desde que esteja de acordo com o tema proposto pelo organizador do ambiente. O objetivo é manter a interação. Propósito dos gêneros textuais Os textos apresentados na atividade anterior enquadram-se em diferentes gêneros textuais que circulam em nossa sociedade com propósitos específicos – instruir, persuadir, informar, emocionar etc. Sua organização linguístico-discursiva é distinta porque cada gênero possui determinado objetivo. Pense nos diferentes textos com os quais você se depara quase todos os dias, tais como aqueles presentes em outdoors, publicidades e anúncios em geral. Todos eles apresentam características típicas que os encaixam em certo gênero, certo? Vejamos a imagem a seguir: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 9 Diante do que vimos anteriormente a respeito da organização linguístico- discursiva, você consegue identificar o propósito da propaganda? O intuito da mesma é influenciar a venda do produto em questão. Note que o publicitário, utilizou “bolacha” para se referir ao biscoito Bono. Se atentarmos à problemática de maus-tratos e violência com menores de idade, podemos entender a palavra “bolacha” como “palmada”, o que tornaria a propaganda uma apologia à violência contra menores. Mas, nesse caso, “bolacha” aparece como variante de “biscoito”, o biscoito Bono. Daí a ideia positiva da propaganda de dar biscoitos a crianças, alegrando-as. Gênero X tipologia textual Você sabe a diferença entre gênero e tipologia textual? Não podemos confundir essas duas estruturas! Vejamos: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 10 A natureza do texto, em termos de características estruturais e de organização linguística, define seu gênero – notícia de jornal, romance, manual etc. Mas, em cada um desses, podemos encontrar diferentes aspectos tipológicos – narrativo, descritivo, dissertativo ou argumentativo – que são analisados a partir dos contextos em que se empregam. Leitura e interação Vamos analisar, agora, o artigo proposto para esta aula: Artigo Pisa 2012: Cazaquistão e Albânia crescem mais que Brasil. Como você pode perceber, o gênero do texto em questão é uma notícia de jornal do tipo descritiva. Afinal, relata-se um fato. Observe que não se trata de uma narração, porque não se conta uma história, e o texto não possui movimento tampouco é organizado com verbos de ação. Além disso, há um tom de polêmica ao longo do artigo quando se informa que houve crescimento na avaliação da educação brasileira em Matemática, mas perda em Leitura – atividade de linguagem. Isso faz com que o leitor reflita sobre a questão e pondere sobre como a leitura tem sido trabalhada nas instituições de ensino do Brasil. O conteúdo que vimos no artigo também nos permite estender essa discussão para a prática da leitura fora do âmbito acadêmico. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 11 Galeria de Vídeos Veja, um trecho do filme Uma professora muito maluquinha A partir do que você leu no artigo proposto e da cena que acabamos de assistir, reflita a respeitodas seguintes questões: • Como a sociedade brasileira encara a leitura? • O povo possui esse hábito? Em caso positivo, o que se costuma ler? • Essa leitura possui objetivo? • Os pais têm o hábito de ler para os filhos? • As pessoas conversam em família ou com amigos sobre suas leituras? • Que ideia fazemos do papel do leitor? • De que maneira estamos formando leitores? O texto do artigo não faz, claramente, uma crítica ao ensino no Brasil, mas sugere essa reflexão pelas pistas apresentadas ao leitor. Cabe a ele identificá-las e refletir sobre o conteúdo de forma analítica. Vejamos a charge a seguir: ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 12 Diante do que estudamos até aqui e da charge que acabamos de ver, percebemos que a estratégia de reflexão faz parte do processo interativo de leitura! Você se lembra de como discutimos essa questão na aula anterior quando tratamos da leitura e de como a retomamos agora em relação à escrita? Essas atividades de linguagem só produzem sentido por meio de tal interação, quando o interlocutor processa a mensagem que recebeu – oral ou escrita – para fins de interpretação e de construção do conhecimento. Na charge, por exemplo, diferentemente do artigo que lemos anteriormente, a crítica ao político é feita de forma clara, mas o interlocutor só processa a mensagem, através de sua interpretação. Atividades de linguagem no mundo dos negócios Vamos, analisar, agora, o estudo de caso proposto para esta aula – Dove: Evolution of a brand . O objetivo é analisar as atividades de linguagem no mundo empresarial. O texto relata a época em que o fabricante Unilever pretendia buscar uma identidade da marca Dove voltada para a beleza real. Como a marca possuía formas descentralizadas, conforme a região geográfica em que atuava, era necessário haver uma identidade que abrangesse diferentes locais, mas com o objetivo de levar um único conceito do produto, que apresentava benefícios funcionais. A publicidade foi construída, então, para “projetar honestidade e autenticidade”, e a campanha para realizar essa missão preferiu utilizar mulheres comuns: modelos que apresentavam alguma imperfeição no rosto – como sinais de idade avançada, por exemplo. De acordo com o texto, a Unilever tinha a intenção de ultrapassar a funcionalidade e de criar um ponto de vista para atingir diretamente o cliente, de modo que ele construísse uma ideia do produto. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 13 Já aqui, constatamos o trabalho de interação com o outro – no caso, a marca interage com o consumidor em potencial. No mundo da propaganda, uma ideia positiva é vendida ao cliente para criar e confirmar um conceito projetado pela proposta da empresa – resultado da produção de uma campanha, ou seja, de um ponto de vista sobre determinada marca. O consumidor passa, então, a idealizar um produto e a tomar decisões de compra por si só, a partir desse ponto de vista que o permite fazê-lo. Foi dessa forma que a Unilever planejou a campanha da marca Dove. Em termos de linguagem, todo este trabalho cognitivo auxiliou a formação do conceito de uma identidade – as conclusões a respeito do produto, as deduções e a tomada de decisão do consumidor –, o que nos remete ao processo de leitura. Como você percebeu, realizamos atividades de linguagem em qualquer situação: seja no cotidiano, seja no ambiente de trabalho. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 14 Referências BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. CHACON, L. Ritmo da escrita: uma organização do heterogêneo da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998. DELL’ISOLA, R. L. P. Leitura: inferências e contexto sociocultural. Rio de Janeiro: Formato, 2001. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. GOFFMAN, E. Ritual de interação: ensaios sobre o comportamento face a face. Petrópolis: Vozes, 2011. KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São Paulo: Parábola, 2011. KATO, M. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística. São Paulo: Ática, 1986. Exercícios de fixação Questão 1 Em uma sociedade letrada, a escrita promove aspecto positivo para quem a domina, pois: a) Apresenta ideias verdadeiras e coerentes. b) Figura como um exercício necessário que auxilia o equilíbrio mental. c) Representa um amontoado de ideias que nem sempre são verdadeiras. d) Produz satisfação, exercita o cérebro, e isso acaba transparecendo em diversas situações. e) É uma forma de comunicação complexa que exige organização do pensamento – por isso, quem a produz de modo eficiente goza de prestígio. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 15 Questão 2 A escrita NÃO deve ser encarada como tarefa que compreende, essencialmente, o conhecimento do alfabeto e das palavras, porque representa a materialização: a) Do universo da língua. b) Do pensamento somente. c) Do pensamento através da língua. d) Do pensamento baseado em uma intenção. e) Do pensamento encadeado através de elos coesivos. Questão 3 Analise a seguinte afirmação:"A avaliação do texto escrito deve considerar somente os aspectos ortográficos da língua".De acordo com o que estudamos ao longo desta aula, essa ideia está: a) Incorreta, afinal, o texto bem escrito dispensa a ortografia. b) Correta, afinal, o texto representa o pensamento de forma escrita e precisa considerar a ortografia. c) Correta, afinal, o texto necessita ser avaliado de acordo com as regras da gramática formal da língua em que é escrito. d) Correta, afinal, o texto necessita ser avaliado de acordo com a ortografia, a coesão e a coerência das ideias nele presentes. e) Incorreta, afinal, o texto bem escrito é aquele que valoriza não apenas os aspectos gramaticais da língua, mas a coesão e a coerência das ideias nele presentes. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 16 Questão 4 Analise a seguinte afirmação:"Há legitimidade na escrita abreviada de mensagens enviadas por e-mails ou por redes sociais em função do contexto em que é usada".De acordo com essa ideia: a) Esse tipo de escrita pode ser transposto para qualquer contexto. b) Essa escrita é tipicamente usada por jovens – por isso, é legítima. c) Essa escrita é sempre válida, independente do contexto em que é empregada. d) A escrita apresenta novidades que devem ser incorporadas em todos os contextos. e) Os contextos que permitem esse tipo de escrita não devem ser confundidos com aqueles que exigem o uso da norma culta da língua. Questão 5 A parceria entre leitura e escrita fica mais evidente quando entendemos que: a) A leitura produz prazer, assim como a escrita. b) Todo contato visual com palavras e as construções de ideias na leitura são transportados para a escrita. c) A leitura informa e auxilia a elaboração do pensamento, e a construção da escrita necessita dessa organização. d) A leitura informa, e a escrita serve para a comunicação. e) A escrita pode ser desenvolvida sem a prática da leitura. Questão 6 ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 17 Analise a seguinte situação... Em uma conversa de domingo, pela manhã, meu pai disse:– As notícias dos jornais não contam só os fatos, mas querem fazer a gente pensar do jeito delas. De acordo com a fala do pai, através do gênero textual notícia de jornal, a imprensa: a) Relata histórias apenas. b) Conta fatos e emiteopiniões. c) Produz matérias sensacionalistas. d) Reflete sobre os fatos do cotidiano. e) Apresenta informações para fins de convencimento. Questão 7 Existem inúmeras formas de organizar os textos, o que resulta em distintos gêneros textuais. Isso ocorre porque cada texto é: a) Adaptado em função do interlocutor. b) Construído de acordo com seu objetivo. c) Adaptado e organizado em função de seus propósitos. d) Organizado em função do público heterogêneo a que se destina. e) Construído de acordo com seu objetivo e com o público que pretende atingir. Questão 8 De acordo com o que estudamos ao longo desta aula, é possível diferenciar o conto da crônica a partir: a) De suas estruturas narrativas. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 18 b) De elementos linguísticos presentes em suas estruturas textuais. c) De seus elementos narrativos e do contexto em que as histórias acontecem. d) Da base de suas narrativas – o relato do conto fundamenta-se nos fatos do cotidiano. e) Da base de suas narrativas – o relato da crônica fundamenta-se nos fatos do cotidiano. Questão 9 Os gêneros receita e manual apresentam o seguinte aspecto comum: a) Linguagem informal. b) Traço injuntivo, instrucional. c) Linguagem de fácil compreensão. d) Forma de tratamento afetivo com o leitor e próximo a ele. e) N.R.A. Questão 10 O gênero artigo científico possui as seguintes características: a) Linguagem semiformal e vocabulário simples. b) Personagens, local, fatos, tempo e verbos de ação. c) Linguagem formal e escrita com proximidade ao leitor. d) Linguagem formal e escrita com distanciamento do autor. e) Linguagem semiformal e escrita com construções sintáticas simples e diretas. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 19 Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - C Justificativa: Refletir sobre a linguagem significa pensar no compartilhamento de ideias e no sentido inerente a toda e qualquer atividade que a envolva – o que não acontece na relação entre o homem e o animal através da verbalização, como é o caso da "conversa" malsucedida entre Sérgio e seu papagaio. Questão 2 - D Justificativa: Os gestos podem ser utilizados, em alguns momentos, em uma interação, mas são limitados, pois não comunicam como as palavras. Questão 3 - E Justificativa: A diferença entre ser proficiente em determinada língua e falar uma língua nos permite atentar para a noção de língua madura. Questão 4 - D Justificativa: Nossa capacidade linguística cresce quando conseguimos nos comunicar em outros idiomas para além de nossa língua materna. Questão 5 - E Justificativa: É importante aprender várias línguas – especialmente o inglês, falado no mundo inteiro –, pois, dessa forma, conseguimos uma boa colocação no mercado de trabalho. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 20 Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - C Justificativa: O aluno deve perceber sobre o caráter de compartilhamento da estrutura linguística. Questão 2 - E Justificativa: Por meio da faculdade da linguagem, adquirimos uma estrutura linguística que se materializa pela fala. Questão 3 - D Justificativa: Para haver comunicação, é preciso compartilhar ideias, pensamentos e sentidos. Por isso, a língua é um veículo social, e não individual. Questão 4 - E Justificativa: Aprender uma língua implica empregar os enunciados de acordo com seus contextos de uso. Questão 5 - E Justificativa: Lembre-se de que o enunciado que foge às regras da gramática normativa de determinada língua não está, necessariamente, errado, mas apenas fora dos padrões cultos do idioma. Questão 6 - D Justificativa: A língua também é adquirida e aprendida fora dos ambientes escolares e acadêmicos, pois o indivíduo dispõe da faculdade da linguagem. Questão 7 - E Justificativa: O indivíduo fluente no discurso é aquele que se comunica sem problemas, mesmo fora dos padrões cultos da língua. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 21 Questão 8 - D Justificativa: Conforme apontam os elementos textuais e a própria fonte do texto, este fragmento representa uma conversa informal, cuja linguagem se caracteriza por aspectos da modalidade oral. Em função desse contexto, o coloquialismo foi empregado de forma adequada, sem prejuízo do entendimento da mensagem. Questão 9 - D Justificativa: A linguagem informal representa uma variedade linguística distinta daquela denominada culta e permite a fluidez na comunicação. Quando bem empregada, dinamiza a leitura dos textos – estejam estes na modalidade oral ou escrita da língua. Questão 10 - B Justificativa: Investir em educação é fundamental para o crescimento profissional e pessoal da sociedade. Aula 3 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: Devemos ser capazes de produzir e reconhecer formas linguísticas em diferentes situações, de acordo com os contextos em que são empregadas. Questão 2 - D Justificativa: O contato com os contextos adequados de linguagem auxilia o desenvolvimento das habilidades discursivas. Afinal, as expressões linguísticas só existem quando fazem sentido. Questão 3 - A Justificativa: Precisamos reconhecer os diferentes contextos em que a linguagem pode ser empregada e usá-la adequadamente em cada um deles. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 22 Questão 4 - E Justificativa: Com consciência dos contextos sociais e de suas exigências – inclusive em termos de fala –, podemos desenvolver mais nossas habilidades discursivas. Questão 5 - D Justificativa: É necessário desenvolvermos as habilidades discursivas em todos os contextos de uso da língua, valendo-nos da linguagem formal em situações com as quais não estamos familiarizados. Questão 6 - E Justificativa: Lembre-se de que a leitura é um processo cognitivo que requer não somente a decodificação da língua mas também a interação com o conteúdo lido, em um movimento de troca entre texto e leitor. Questão 7 - D Justificativa: No processo da leitura, o leitor é coautor do texto, pois reveste a mensagem do autor de significado. Questão 8 - C Justificativa: A leitura é um processo interativo, e o leitor é parte integrante desse processo. Questão 9 - D Justificativa: O sujeito leitor precisa ter um mínimo de conhecimento sobre o tema alvo de sua leitura. Do contrário, pode não entender o texto por completo. Questão 10 - E Justificativa: O texto precisa ser elaborado de forma coerente e organizada para fins de entendimento por parte do leitor. Questão 11 - D ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 23 Justificativa: Reflita sobre a noção de texto, tão necessária para estabelecer a textualidade. Questão 12 - C Justificativa: O texto é classificado como tal quando apresenta uma ideia completa, coesa e coerente, mesmo que apresente um único vocábulo. Questão 13 - B Justificativa: O texto narrativo apresenta fatos, contém personagens e conta histórias, situando-as em determinado espaço e em certo tempo. Questão 14 - E Justificativa: O texto argumentativo trata de assuntos polêmicos, visando persuadir o leitor, com base em argumentos convincentes, a seguir o ponto de vista defendido pelo autor. Questão 15 - C Justificativa: O texto pode apresentar mais de um aspecto linguístico, mas há características que predominam em seu conjunto, o que nos permite classificá-lo em termosde tipologia textual. Aula 4 Exercícios de fixação Questão 1 - E Justificativa: A atividade de escrita exige prática, reflexão e adequação de linguagem aos contextos em que o texto é empregado. Questão 2 - D Justificativa: Como parte de um processo cognitivo, a escrita segue etapas que ultrapassam o simples conhecimento do alfabeto ou a combinação sintática das palavras. ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 24 Questão 3 - E Justificativa: Elaborar um bom texto implica considerar as questões gramaticais da língua, os aspectos semânticos, a organização textual, o público a que se destina e outros aspectos que ultrapassam o simples conhecimento da norma culta do idioma em que é escrito. Questão 4 - E Justificativa: O universo da escrita apresenta contextos formais, semiformais e informais. Cabe a nós usarmos a linguagem adequada de acordo com cada um deles. Questão 5 - C Justificativa: Devemos associar a prática de leitura com as atividades de escrita, afinal, uma influencia a outra. Questão 6 - B Justificativa: Todos os gêneros textuais apresentam uma organização discursiva específica. Questão 7 - E Justificativa: A elaboração de textos não é simplesmente um exercício de escrita, mas exige uma organização determinada em função do objetivo que pretendemos alcançar. Questão 8 - E Justificativa: No conto, os eventos narrados podem ser reais ou fictícios. Já na crônica, o relato baseia-se nos fatos do cotidiano. Questão 9 - B ASPECTOS DA LINGUAGEM E PRODUÇÃO TEXTUAL 25 Justificativa: Os gêneros textuais apresentam traços específicos em função de seu objetivo, mas alguns podem apresentar aspectos em comum, como é o caso da receita e do manual. Questão 10 - B Justificativa: O gênero textual artigo científico é desenvolvido, geralmente, com base em resultados de estudos e de pesquisas, e publicado em revistas ou periódicos especializados em determinada área do conhecimento. Disso resulta a exigência de elaborá-lo em linguagem formal, de acordo com a norma culta da língua. 511-P03 R E V : 2 5 M A R Ç O 2 0 0 8 ________________________________________________________________________________________________________________ Caso LACC # 511-P03 é a versão traduzida para Português do caso # 508-047 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um gerenciamento eficaz ou ineficaz. Copyright 2011 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. J O H N D E I G H T O N Dove: A Evolução de uma Marca Em 2007, Dove, da Unilever, era a marca número 1 de “higiene” do setor de saúde e beleza no mundo, com vendas acima de US$ 2,5 bilhões por ano em mais de 80 países. Competia em categorias como sabonetes em barra, sabonetes líquidos para corpo e mãos, cuidados para o rosto e cabelo, desodorantes, antiperspirantes e hidratantes para o corpo. Concorria com marcas como a Ivory, da Procter and Gamble, a Jergens, da Kao, e a Nivea, da Beiersdorf. A Dove lançara recentemente o que chamou de uma campanha master de marca, sob o título A Campanha Dove pela Real Beleza (The Dove Campaign for Real Beauty). Para alguns observadores de marketing, a campanha foi um sucesso absoluto, dando uma identidade única a uma vasta gama de produtos de saúde e beleza. Mas essa nítida identidade deveu muito ao uso, durante a campanha, de todo um mundo inexplorado e caótico de mídia na internet1. Haveria risco em divulgar a história da “real beleza” em meios como o YouTube, em que os consumidores se sentiam livres para expressar opinião e crítica? Em blogs e boletins de notícias, comentaristas de marketing argumentavam que a administração da Dove estava abdicando de sua responsabilidade de gerir o que se dizia sobre a marca, pondo em risco seus ativos multibilionários.2 Unilever Fabricante líder de bens de consumo de distribuição no mundo, a Unilever operava no setor de economia de alimentos, casa e cuidados pessoais. Onze de suas marcas tinham receitas anuais globais de mais de US$ 1 bilhão: Knorr, Surf, Lipton, Omo, Sunsilk, Dove, Blue Band, Lux, Hellmann’s, Becel e o logotipo da Heartbrand, um identificador visual em produtos de sorvete. Entre outras marcas, estavam Pond’s, Suave, Vaseline, Axe, Snuggle, Bertolli, Ragu, Ben and Jerry’s e Slim-Fast. Com receitas anuais de US$ 50 bilhões, o tamanho da Unilever se comparava ao da Nestlé (US$ 69 bilhões), da Procter and Gamble (US$ 68 bilhões) e da Kraft Foods (US$ 34 bilhões). 1 Grant McCracken, “Is marketing now cheap, fast and out of control?”, This Blog Sits at the Intersection of Anthropology and Economics, www.cultureby.com, 27 out. 2005. 2 Gerry Lantz, “This brand has started a genuine conversation that they don’t have control of” http://www.stevedenning.com/Conferences/SmithsonianMay07.htm, acesso em 9 jul. 2007, e “The interesting thing here is the risky bet Dove is making”, in Seth Stevenson, “When Tush Comes to Dove”, Slate, 1 ago. 2005.. This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 2 A Unilever foi formada em 1930, quando a Lever Brothers, com base no Reino Unido, se fundiu com a holandesa Margarine Unie – uma fusão lógica, já que ambas as empresas dependiam de óleo de palma, uma para os sabonetes e a outra para produtos comestíveis. Na década de 1980, diminuíra a dependência da Unilever de óleo de palma, mas sua herança de comércio britânico colonial e holandês continuava a moldar o empreendimento altamente multinacional. Operava em todos os continentes e tinha força especificamente na Índia, na África, na América Latina e no sudeste da Ásia. A empresa se autodescrevia como um combinado de raízes locais com escala global. A descentralização global trouxe forças pela diversidade, mas também problemas de controle. Em particular, o portfólio de marca da empresa havia crescido de uma maneira basicamente laissez-faire. Em relação ao sorvete, por exemplo, a Unilever era a maior fabricante do mundo, mas lhe faltava uma identidade global unificada. Produzia sorvete sob a marca da Wall’s no Reino Unido e na maior parte da Ásia; sob as marcas Algida na Itália, Langnese na Alemanha, Kibon no Brasil, Ola na Holanda e Ben & Jerry’s e Breyers nos EUA. Outras categorias de produto tinham semelhante falta de identidade. Em fevereiro de 2000, a Unilever adotou uma estratégia de cinco anos denominada “Rota para o Crescimento”. Parte importante dessa iniciativa foi um plano de afunilar suas mais de 1.600 marcas para apenas 400. Dentre as marcas sobreviventes, um pequeno número seria selecionado como “Marcas Máster”, destinadas a servir como identidade “guarda-chuva” para uma variedade de produtos. Antes, a Unilever gerava marcas numa forma relativamente descentralizada, permitindo que a orientação fosse feita por gerentes de marcas em cada região geográfica em que operava. Agora, pela primeira vez, haveria uma unidade de marca global para cada Marca Master, com a responsabilidade de criar uma visão global e a obrigação de gerar cooperação de todos os mercados geográficos. Dove: a era dos benefícios funcionais A origem da marca Dove remonta aos EUA do pós-SegundaGuerra Mundial. Seu primeiro produto, chamado barra de beleza, foi lançado em 1957, com a promessa de que não ressecaria a pele como os sabonetes – pois tecnicamente não era, de forma alguma, um sabonete. Sua fórmula veio de pesquisas militares conduzidas para descobrir uma loção de limpeza de pele que não a irritasse, para ser usada em queimaduras e ferimentos, e continha altos níveis de hidratantes naturais. Estudos dermatológicos descobriram que era mais suave que barras feitas de sabão. A campanha publicitária do lançamento de 1957 para a Dove foi criada pela agência Ogilvy and Mather. A mensagem era: “O sabonete Dove não seca sua pele porque um quarto dele é feito de creme de limpeza”, e a declaração era ilustrada com fotografias que mostravam o creme sendo despejado na barra. Essa simples proposição foi divulgada na televisão, em meios impressos e outdoors; logo depois, a Dove se tornou um dos mais reconhecidos ícones de marca nos EUA. As Figuras 1, 2, e 3 mostram exemplos anteriores e posteriores de publicidade da Dove. Com o tempo, houve pequenas mudanças no slogan – por exemplo, a expressão “creme de limpeza” foi substituída por “creme hidratante” –, mas por 40 anos a Dove manteve o discurso de que não resseca a pele e a recusa de designá-la um sabonete. A publicidade almejava projetar honestidade e autenticidade, preferindo que mulheres de aparência comum, e não modelos produzidas, testemunhassem os benefícios do produto. Na década de 1980, a barra de beleza da Dove era defendida amplamente por médicos e dermatologistas para tratar peles ressecadas. Até o ano 2000, a marca dependia das promessas de superioridade funcional sustentada pelo benefício de hidratação do produto. This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. Dove: A Evolução de uma Marca 511-P03 3 Dove foi impulsionada para se tornar uma marca master em fevereiro de 2000. Nesse papel, estava encarregada de emprestar seu nome a lançamentos da Unilever em categorias de cuidados pessoais para além da categoria da barra de limpeza, tais como desodorantes, produtos de cuidado e de tratamento para cabelos, loções de limpeza para a pele e hidratantes para o corpo. Apesar de a publicidade de muitos desses produtos apelar para benefícios funcionais, a comunicação que construiria a marca master precisava fazer algo diferente – tinha de atribuir à Dove u` m sentido que pudesse ser aplicado e ampliado a toda a gama de produtos. A marca não poderia mais veicular apenas superioridade funcional, já que funcionalidade significava uma coisa diferente em cada categoria. Unilever decidiu, em vez disso, que Dove deveria representar um ponto de vista, e a procura começou prontamente. Um processo investigativo de pesquisa de marketing, consultas com especialistas, conversas com mulheres e testes de mensagens desembocaram na “Campanha pela Real Beleza”. Uma marca com ponto de vista Os primórdios da ideia vieram em 2002. Silvia Lagnado, a diretora de marca global da Dove com base em Greenwich, Connecticut, liderou uma investigação mundial da reação de mulheres diante da iconografia da indústria de beleza e revelou um profundo descontentamento. “Jovem, loira e magra” eram as características quase universais das mulheres retratadas nos anúncios e nas embalagens, mas, para a maioria das mulheres, esses padrões eram inatingíveis; longe de se sentir inspiradas, elas sentiam-se insultadas. Na busca de uma visão alternativa do objetivo dos cuidados pessoais, a Unilever recrutou duas especialistas. Nancy Etcoff era uma psiquiatra da Universidade de Harvard que trabalhava no Massachusetts General Hospital, autora do livro Sobrevivência do mais belo. Suzy Orbach era uma psicoterapeuta de Londres, mais conhecida por ter tratado a princesa Diana Spencer, e autora do livro Gordura é uma questão feminista. Philippe Harousseau, vice-presidente de desenvolvimento de marcas da Dove, explicou: “Trabalhar com psicólogos era um benefício a mais e gerava resultados enormes. Em comparação, os grupos focais apenas arranhavam a superfície”. A Unilever fez alguns levantamentos de dados. Entrevistou 3.000 mulheres em dez países e explorou algumas hipóteses formuladas pelos psicólogos. Dentre as descobertas, estava o fato de que apenas 2% das entrevistadas no mundo optaram por se descrever como lindas (Figura 4). Instruída pela pesquisa, Lagnado deu início às primeiras publicidades para explorar o conceito. Contratou o fotógrafo britânico John Rankin Waddell, um profissional avant-garde de moda, mais conhecido por usar pessoas comuns em contextos de supermodelos e por livros de nudez retratando modelos com aparência natural. O resultado foi a assim chamada campanha Tick-Box, em que se lançavam outdoors e se oferecia ao público o número telefônico 1-888-342-DOVE, pelo qual as pessoas podiam opinar sobre a mulher que aparecia no anúncio, dizendo se ela estava “acima do peso” ou “acima da média [de beleza]”. Um contador no outdoor exibia os votos em tempo real. A iniciativa despertou grande interesse. No início, a opção “acima do peso” ficou na frente, mas depois foi ultrapassada. A série seguinte de anúncios da Dove, em junho de 2005, era conhecida internamente como a campanha pela Firmeza, porque promovia um creme que firmava a pele. A série retratava seis mulheres “reais” posando alegremente, com uma simples roupa íntima branca. A diretora de marketing da Dove nos EUA, Kathy O’Brien, disse à imprensa que a empresa queria que os anúncios “mudassem o modo como a sociedade via a beleza” e “provocassem uma discussão e um debate acerca da real beleza”. Todd Tillemans, o gerente geral da Unilever para Negócios de Pele na América do Norte, comentou: “Essa propaganda, em retrospectiva, foi uma transição fácil para sair Source: Unilever. This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 4 apenas da funcionalidade. Estávamos vendendo um creme de firmeza para a pele e, assim, entregávamos um benefício funcional”. Mas, à medida que a campanha se desenvolvia, começaram a surgir dúvidas dentro da equipe da marca. O argumento ouvido por Tillemans era que o trabalho realizado sob a “Campanha para a Real Beleza” gerava o risco de uma mudança de posicionamento da marca que não se ajustava a sua herança. “Quando se fala em real beleza, perde-se o elemento de aspiração? Os consumidores vão se sentir inspirados a comprar uma marca que não promete levá-los a um nível novo de atratividade? Desbancar o mito de beleza acarreta o risco de subverter, ao mesmo tempo, toda a razão de se gastar um pouco mais de dinheiro num produto. Parece que você está se armando para ser uma marca medíocre”. O passo seguinte na campanha era particularmente controverso. Em uma reunião da equipe de liderança da Dove fora da sede, houve um esforço para engajar os executivos na ideia por trás da “Campanha pela Real Beleza” pela filmagem de suas próprias filhas debatendo seus desafios para conquistar a autoestima. O impacto foi enorme, e a agência Ogilvy and Mather rapidamente transformou a ideia por trás do filme em um anúncio publicitário. Em dado momento, o anúncio enfocava uma jovem com sardas exibindo a legenda “Ela odeia sardas”. Em outro, a imagem de uma jovem asiática pré- adolescente era sobreposta pela legenda “Ela desejava ser loira”. O anúncio em si foi amplamente admirado, mas surgiu uma controvérsia sobre o fato de que ele não mencionava nenhum produto. Como ganharia um retorno de investimento na mídia? Tillemans comentou: “Tratava-se de uma marca da categoria de saúde e beleza que explicitamente se propunha a desbancar o sonho de que a beleza de uma supermodeloestava ao alcance de suas mãos. Estávamos dizendo que a indústria de beleza retratava uma imagem inalcançável e estereotipada do que seria a beleza, mas pertencíamos a essa mesma indústria”. No entanto, os defensores da campanha publicitária prevaleceram, e ela foi divulgada durante a transmissão do jogo de futebol americano entre o Pittsburgh Steelers e o Seattle Seahawks, no Superbowl. O quarto estágio da campanha pela Real Beleza envolvia não um anúncio, mas um filme. No Canadá, a equipe de construção de marca regional da Dove estava realizando uma série de workshops de autoestima para mulheres, e o escritório da agência de publicidade Ogilvy and Mather em Toronto desenvolveu um filme de 112 segundos para atrair público para esses eventos. A equipe de construção de marca da América do Norte viu o filme e decidiu que merecia uma audiência mais ampla. O resultado foi um filme digital conhecido como “Evolução”. Mostrava o rosto de uma jovem à medida que os cosméticos, a produção dos cabelos e o Photoshop a transformavam da simplicidade para o glamour das campanhas. Diante de sua duração incomum, a televisão não era uma opção e, em outubro de 2006, o filme foi postado no YouTube, um site popular de compartilhamento de vídeos. Dentro de três meses, tinha sido visto três milhões de vezes. A Unilever criou uma missão como âncora para uma variedade de iniciativas criativas que unificava a “Campanha para a Real Beleza”. A missão dizia: This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. Dove: A Evolução de uma Marca 511-P03 5 A missão da Dove é fazer mais mulheres se sentirem bonitas todos os dias, ampliando a estreita definição de beleza e inspirando-as a cuidar muito de si mesmas. O propósito da declaração de missão foi resumido por Harousseau: Se você não for muito claro sobre a missão da marca, não vai conseguir controlar o que acontecerá quando as pessoas a ampliarem. Todos os que trabalham na Dove sabem essas palavras de cor. Sabem que a declaração de missão não diz que a Dove faz as mulheres se sentirem mais bonitas... mas que faz mais mulheres se sentirem bonitas. Nossa noção de beleza não é elitista. É comemorativa, inclusiva e democrática. Do ponto de vista da marca para o dos consumidores No fim de 2006, os construtores de marca da Dove na América do Norte anunciaram um concurso intitulado Anúncios Reais de Mulheres Reais, convidando os consumidores a criarem seus próprios anúncios para o Cream Oil Body Wash, da Dove, cujo lançamento estava previsto para o início de 2007. Os comerciais vencedores seriam transmitidos durante o intervalo do 79° Oscar na televisão aberta, em 25 de fevereiro de 2007. Dentre as regras, incluía-se uma lista de “ideias preliminares” para aqueles que cogitavam participar da competição: Experimente o produto. Quando estiver usando o Cream Oil Body Wash da Dove no chuveiro, preste atenção no que está sentindo, cheirando, vendo e ouvindo. Você se lembra de alguma experiência prazerosa ou de algum lugar interessante? Procure a definição de “luxo” no dicionário. O que significa? O que poderia significar? Explore o mundo a sua volta. Que luxos existem em seu mundo? Um frozen yogurt depois de uma atividade física cansativa, um momento relaxante depois de um dia longo e caótico, a visão de um passarinho colorido fora da sua janela. O site do concurso estava hospedado na AOL, e os anúncios finalistas do grande prêmio foram postados no http://dovecreamoil.com/. Planejamento de mídia Harousseau descreveu o plano de mídia para a “Campanha pela Real Beleza” como uma quebra de todas as regras da empresa: “A gente aprendia conforme as coisas iam acontecendo”. A campanha de Firmeza atacou diversas mídias pagas. “Compramos todos os cartazes na Grand Central Station. A intenção era fazer alarde. Ficamos sabendo que tínhamos conseguido quando, em 14 de julho de 2005, Katie Couric passou 16 minutos no Today Show com nossas meninas da propaganda. Simplesmente não dá para comprar esse tipo de exposição. Não dá para comprar cultura pop”. Ainda assim, ele ficou chocado quando sua equipe propôs o investimento de mídia no Superbowl para o anúncio “Ela odeia suas sardas”. “Nem sobre o meu cadáver”, disse. “No Superbowl se vende cerveja. Vocês querem exibir nossa mensagem ali? E eles me responderam: ‘Se você quer mostrar para os EUA que as mulheres sofrem de baixa autoestima, que lugar melhor do que o Superbowl para dizer isso a 90 milhões delas?’” O impacto foi extraordinário. Programas de notícias ecoavam a mensagem do anúncio, e Oprah Winfrey dedicou um programa inteiro à autoestima, com o anúncio This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 6 como peça central. Jay Leno fez uma paródia dele em seu programa noturno de entrevistas, e a Wal- Mart desenvolveu uma versão retratando seus próprios funcionários. Quando a agência publicitária levou a ideia do anúncio Evolução para a Unilever, estava preparada para ir adiante sem absolutamente nenhuma mídia paga. O anúncio foi divulgado no YouTube e nunca foi transmitido na televisão, exceto em contextos de notícias e em programas de auditório como Good Morning America. Mas figurou dentre os comerciais mais assistidos no YouTube, e sua popularidade foi assunto de uma cobertura considerável por parte de jornais, rádios e canais de televisão. Gerou inúmeras discussões em salas de bate-papo, contribuindo para tópicos como anorexia e trocas comoventes entre pais e filhas. Relações públicas Ao lado da publicidade, a estratégia de relações públicas da Unilever era um dos elementos do planejamento de mídia, das promoções de consumo e do marketing de clientes, que pertenciam a uma abordagem integrada de planejamento de marketing. Um canal de estratégia de relações públicas foi criado por Stacie Bright, Gerente Sênior de Marketing de Comunicações da Unilever, e pela Edelman, a agência de relações públicas da Dove, em diversos países, inclusive os EUA, para gerar uma ampla divulgação da “Campanha pela Real Beleza” e estabelecer uma ligação emotiva com as mulheres. Embutido em um conjunto de metas de relações de mídia agressivas, um objetivo se colocava acima de todos: disparar um diálogo e um debate sobre beleza que, no fim, conseguisse penetrar a cultura popular. “O mundo das comunicações mudou radicalmente desde a primeira campanha de marketing da Dove, em 1957”, comentou Bright. “O cenário da mídia está cada vez mais fragmentado, e as pessoas não estão mais consumindo passivamente. Tínhamos uma grande oportunidade de construir uma base para lançar um debate e dar conta dos desafios que sabíamos que existiriam quando tentássemos dividir o controle da mensagem com a mídia e o público”. O plano estava fundamentado em pesquisas. O levantamento global de dados (Figura 4) era o que dava suporte a todas as comunicações externas. Dava credibilidade científica à hipótese da equipe de que a definição de beleza havia se tornado limitadora e inatingível. O plano tinha que prever a discordância na mídia. Alguns canais de mídia confrontaram a premissa da marca de que “as mulheres reais eram bonitas”. Por exemplo, um articulista do Chicago Sun Times, Richard Roeper, escreveu: “Mulheres gorduchas usando lingerie acabam de invadir a minha casa [...]. Acho esses anúncios um pouco perturbadores. Se eu quiser ver meninas cheinhas exibindo muita carne, irei para o festival de comidas exóticas de Chicago”. A Unilever e a equipe de relações públicas tinham de decidir se evitariam esse tipo de controvérsia ou se as enfrentariam e poriam mais lenha na fogueira. Escolheram a segunda opção. Nesse caso, a equipetomou medidas para garantir que os canais locais de Chicago e outros mercados maiores tomassem conhecimento da opinião de Roeper. A equipe deu continuidade à ampliação da cobertura e do interesse pela história, com mais de 200 programas locais de notícias e mais de 60 canais nacionais e de mídia impressa, como a revista People, que fez uma edição de capa sobre a campanha. Formadores de opinião desempenharam um papel central na conquista de defensores e na geração de discussão na elite da mídia. Por exemplo, antes do lançamento da campanha de Firmeza, a equipe identificou quem seriam as Duas Dúzias da Dove, um grupo de mulheres de mídia e entretenimento que poderiam compartilhar sua filosofia, e mandou-lhes pacotes interativos This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. Dove: A Evolução de uma Marca 511-P03 7 customizados que provocavam um debate sobre a campanha. A marca também desenvolveu uma parceria estratégica com uma organização protetora, a American Women in Radio and Television (Mulheres Norte-americanas no Rádio e na Televisão), e criou o “Prêmio Dove pela Real Beleza” para sua festa de gala anual. O último pilar da campanha era “falar menos e fazer mais”. A Unilever criou o Fundo Global de Autoestima da Dove, para aumentar a autoestima de meninas e jovens. Nos EUA, o fundo financiou o uniquely ME! (unicamente EU!), uma parceria com a União das Escoteiras dos EUA que ajudava a criar autoconfiança em garotas de 8 a 17 anos por meio de recursos educacionais e atividades manuais. A divulgação da campanha fazia uma interligação com o site campaignforrealbeauty.com, que convidava os visitantes a saberem mais e a compartilharem suas opiniões em um fórum de mensagens, além de baixarem dicas e ferramentas para desenvolver a autoestima. “Sabíamos que estávamos bem perto de atingir nossa meta quando a mídia começou a cobrir a própria cobertura que havia da campanha”, disse Bright. Em 4 de setembro de 2005, Rob Walker, da revista do New York Times, escreveu um artigo intitulado “Lubrificante social – Como uma campanha de marketing se tornou um catalisador para um debate na sociedade”, em que observava: “[...] o fato mais intrigante é que uma campanha de marketing – e não uma figura política, uma grande agência de notícias ou mesmo um filme – é que ‘abriu o diálogo’ [...]”. Organizando a gestão de marca Historicamente, a Unilever organizava seu trabalho de marketing de um modo semelhante ao de seu principal concorrente, a Procter & Gamble, conhecido como sistema de gestão de marcas. Dentro de uma categoria de produto, a empresa frequentemente oferecia diversas marcas, cada uma liderada por um gerente de marcas. Na verdade, cada marca operava como um negócio à parte, competindo com suas “irmãs” e também com produtos de outras empresas. Uma equipe de assistentes de marca executava as políticas de seu gerente. Cada gerente de marca tinha em relação a ela as responsabilidades de um gerente-geral, incluindo a elaboração de estratégia, a conquista de metas de lucro e o poder sobre muitas decisões diárias de marketing, como os anúncios publicitários e as promoções comerciais necessários para atingir a lucratividade. Em 2000, guiada pela iniciativa da Rota para o Crescimento, a Unilever começou a dividir a responsabilidade por uma marca entre dois grupos – um encarregado do desenvolvimento da marca e outro, da construção da marca em mercados específicos. O Desenvolvimento de Marca era centralizado e global em seu escopo. A Construção de Marca era descentralizada de acordo com as principais regiões geográficas em que a Unilever operava. O Desenvolvimento de Marca se responsabilizava por desenvolver a ideia por trás da marca, por inovar e por fazer a ideia evoluir para o futuro. Estava encarregado de uma faixa de mercado de médio a longo prazo, da saúde da marca, de medidas inovadoras e de gerar valor na categoria. Era responsável pela estratégia de publicidade televisiva e por decidir que meios não tradicionais a marca deveria explorar. Desenvolvia o plano para a marca e, em geral, ficava na região do mundo onde a marca era mais forte. A Construção de Marca era multiplicada em cada um dos grandes mercados da Unilever no mundo. Os gerentes dessa cadeia de comando estavam encarregados de dar vida à marca em seu respectivo mercado. Eram os responsáveis pelo crescimento, lucro, fluxo de caixa e pela faixa de mercado de curto prazo. Trabalhando a partir da missão herdada do desenvolvimento de marcas, This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 8 tinham liberdade de usar a imaginação para ir além dos domínios de seu mercado específico. Gerenciavam as relações públicas e comunicações informais e tomavam decisões sobre o nível de gasto que colocariam nas campanhas publicitárias que recebiam do desenvolvimento de marcas. Os construtores de marca estavam subordinados ao gerente-geral de um conjunto de marcas, que, por sua vez, estava sob o comando de um gerente de país ou região. Conclusão Em setembro de 2006, a Landor Associates identificou a Dove como uma das dez marcas com maior porcentagem de ganhos em força de marca e valor de mercado nos três últimos anos.3 Calculou que a marca tinha crescido US$ 1,2 bilhão. Grande parte do crescimento foi atribuída a sua extensão para novas categorias de cuidados pessoais, e não era possível comprovar quanto exatamente podia ser creditado à “Campanha pela Real Beleza”. O que estava claro, porém, é que a campanha conseguiu gerar comoção no público. Milhares de blogs e fóruns de bate-papo na internet mostraram uma rica diversidade de diálogo público. Havia declarações de pais para filhas sobre temas como autoestima e defesas do posicionamento da Dove contra os estereótipos de beleza. Paródias dos anúncios transbordavam em sites que permitiam às pessoas postarem vídeos, como o YouTube, o Google Video e o Grouper. Algumas paródias eram respeitosas com relação à marca ou gentilmente cômicas, mas outras eram mais radicais. Certas paródias e alguns postings na internet questionavam a sinceridade, os objetivos e os motivos da Unilever. E havia também os profissionais de marketing e consultores que tentavam entender a estratégia de uma marca que construía significados pela geração de controvérsias. Alicia Clegg, escrevendo no site Brandchannel.com, resumiu sua perspectiva da estratégia da Dove nas seguintes palavras: Arcar com o ônus da realidade foi uma estratégia arriscada para a Dove. A ideia subjacente era atraente; a dificuldade estava em como expressá-la. Quando a Dove fez sua campanha de Marca Master, foi criticada por alguns por escolher mulheres “reais” que não eram representativas – uma mulher de 96 anos, descrita por um marqueteiro como “a velha senhora que equivale a uma supermodelo”; uma jovem cheia de sardas, mas muito bonitinha; uma garota de 22 anos, e assim por diante. A última campanha foi mais radical, pendendo a balança mais para o realismo do que para a simples vontade. Pode ser mais honesta, mas será que sua honestidade deixa espaço para as mulheres sonharem? Seth Stevenson, colunista de uma revista online popular, Slate, foi além disso: “Fale o quanto quiser sobre a real beleza – quando se tornar a marca das garotas gordinhas, estará frita”.4 3 Fortune magazine, 18 set. 2006. 4 Seth Stevenson, “When Tush Comes to Dove.” This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. Dove: A Evolução de uma Marca 511-P03 9 Figura 1 – Anúncio da Dove: “E eis que o sabonete éantiquado!” Fonte: Unilever This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 10 Figura 2 – Anúncio da Dove: “Dove hidrata sua pele enquanto você toma banho” Fonte: Unilever This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. Dove: A Evolução de uma Marca 511-P03 11 Figura 3 – Anúncio da Dove: “Comprove que Dove não resseca sua pele como o sabonete.” Fonte: Unilever This document is authorized for use only in 2014-07-07 by ESTACIO_SC1 at Estacio de Sa University from July 2014 to January 2015. 511-P03 Dove: A Evolução de uma Marca 12 Figura 4 – Trechos de “A verdade real sobre a beleza real: um relatório global”, preparado por Dra. Nancy Etcoff, Dra. Susie Orbach, Dra. Jennifer Scott e Heidi D’Agostino, set. 2004. Destaques do estudo BRA ARG EUA CAN GBR ITA FRA HOL POR JAP Mulheres bonitas têm mais oportunidades na vida 68% 52% 44% 28% 37% 50% 49% 40% 50% 39% Mulheres fisicamente atraentes são mais valorizadas pelos homens 69% 60% 59% 51% 50% 63% 71% 40% 73% 57% A mídia e a publicidade definem um padrão irreal de beleza, que a maior parte das mulheres nunca poderá atingir 66% 77% 81% 69% 74% 80% 72% 72% 62% 20% Gostaria que a mídia fizesse um trabalho melhor, retratando mulheres de diversos tipos de atratividade física – idade, forma e tamanho 91% 86% 80% 75% 75% 81% 77% 69% 66% 41% A beleza pode ser conquistada por meio de atitude, espírito e outros atributos que nada têm a ver com aparência física 88% 82% 87% 82% 64% 76% 74% 72% 81% 57% Não me sinto confortável em me descrever como bonita 40% 49% 44% 35% 54% 45% 41% 34% 36% 41% fonte: Unilever PLC. 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