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O Homem Domado Esther Villar

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1 
 2 
ÍNDICE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A felicidade do escravo 4 
O que é o homem 7 
O que é a mulher 12 
O horizonte feminino 17 
O sexo mais belo 21 
O universo é masculino 25 
A estupidez da mulher faz dela uma santa 30 
Atos de amestração 33 
Amestração por auto-humilhação 37 
Um dicionário 42 
As mulheres são pobres de sentimento 45 
Sexo como recompensa 48 
A libido feminina 54 
Amestração por bluff 58 
Orações comercializadas 63 
Auto-amestração 67 
Crianças como reféns 72 
Os vícios das mulheres 78 
A máscara da feminilidade 84 
Mundo profissional como coutada de caça 90 
A mulher “emancipada” 94 
O que é o amor 99 
 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este livro é dedicado 
Àqueles de que nele não são mencionados: 
aos poucos homens que não se deixam domar 
e às poucas mulheres que não se vendem. 
E também, aos felizes 
sem valor no mercado, 
por que são velhos, feios ou doentes mentais. 
E.V. 
 4 
A FELICIDADE DO ESCRAVO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 O MG Sport amarelo-limão derrapa. A jovem ao volante consegue dominá-lo a 
custo, ziguezagueando até parar. Sai e descobre que o pneu dianteiro da esquerda, está 
furado. 
Sem perda de tempo, ela procura providenciar a reparação: Olha para os carros que 
passam, como se esperasse alguém. A este sinal internacionalmente reconhecido de 
abandono feminino (“mulher fraca depende da técnica masculina”) logo pára uma 
Kombi. O motorista descobre imediatamente o que há para fazer e diz para a confortar: 
“Isso a gente faz num instante”. E para confirmar sua decisão, pede à mulher para lhe 
dar o macaco. Não lhe pergunta se ela mesma poderá trocar o pneu porque sabe – sua 
aparência é a de uma mulher de trinta, bem vestida e maquilada – que ela não pode. 
Como ela não consegue encontrar o macaco, ela acaba por ir buscar o seu e traz logo o 
resto da ferramenta. Em cinco minutos o serviço fica pronto e o pneu furado, posto 
direitinho no seu devido lugar. As mãos dele estão sujas de óleo. E quando a jovem lhe 
estende um lenço bordado, ele o recusa delicadamente. Para tais ocasiões sempre tem 
um trapo velho na sua caixa de ferramentas. A mulher agradece-lhe efusivamente e 
 5 
desculpa-se, por sua incompetência “tipicamente feminina”. Se não fosse ele, disse, ela 
teria ficado, até a noite naquele lugar. 
Ele não responde, mas depois dela se sentar, fecha gentilmente a porta do carro e dá-lhe, 
enquanto o vidro da janela desce, um último conselho, o de mandar reparar quanto antes 
a câmara de ar furada. Ela declara que nesse mesmo dia irá dar as necessárias instruções 
ao borracheiro. E parte. 
Enquanto arruma a ferramenta e, sozinho, volta para o carro, o homem lamenta não 
poder lavar as mãos. Também os seus sapatos que estão na troca do pneu se enterraram 
na lama, já não estão limpos como seria necessário para o seu tipo de trabalho: é 
vendedor. Caso queira alcançar ainda o seu próximo cliente, terá de se apressar. Liga o 
motor. “Essas mulheres – pensa ele – são uma mais burra que a outra”. E pergunta a si 
próprio, a sério, o que ela teria feito se ele não tivesse chegado logo. Conduz, bem 
contra o seu hábito, a uma velocidade perigosa, a fim de recuperar o atraso. Dali a 
pouco ele começa baixinho a cantarolar. De certa forma, sente-se feliz. 
 
Na mesma situação, a maioria dos homens teria agido da mesma maneira. A maioria 
das mulheres também. A mulher deixa o homem – pelo simples fato de que ele é um 
homem e ela, algo muito diferente, quer dizer uma mulher – deixa-o 
inescrupulosamente trabalhar por ela, sempre que a oportunidade se apresenta. Seu 
espírito empreendedor não vai além de esperar a ajuda do homem, já que também não 
aprendeu mais: em caso de enguiço no carro encarrega-se o homem da reparação. O 
homem, pelo contrário, se dispõe a prestar um serviço rápido, eficiente e gratuito a uma 
pessoa para ele completamente estranha. Arruína a sua roupa. Põe em perigo o resultado 
de um eventual negócio. Arrisca-se, finalmente, conduzindo a uma velocidade 
exagerada. E para além da troca do pneu poderia ter remediado uma dúzia de outros 
defeitos no carro. E tê-lo-ia feito, pois, para isso aprendeu. Afinal, por que razão terá a 
mulher de se ocupar com reparações desse tipo se a metade da humanidade, isto é, os 
homens, podem fazê-lo tão bem e ainda por cima sempre está pronto a colocar o seu 
saber à disposição da outra metade? 
As mulheres deixam os homens trabalhar por elas, por elas pensar e tomar as 
responsabilidades. As mulheres exploram os homens. Mas os homens são fortes, 
inteligentes, imaginativos. As mulheres, fracas estúpidas e sem imaginação. Então, por 
que motivo são os homens explorados pelas mulheres e não o contrário? 
Serão, na realidade, a força, a inteligência e a imaginação as condições prévias para 
o poder ou para a escravidão? Deverá o mundo ser dirigido pelo saber ou, antes, pelos 
que não servem para nada, isto é, as mulheres? E se assim é, como é que as mulheres 
conseguem que as suas vítimas não se sintam enganadas e humilhadas e se julguem, 
antes pelo contrário, como grandes senhores que é o que são menos? Como é que as 
mulheres dão aos homens essa sensação de felicidade, ao trabalhar pra elas, essa 
Hercules
Realce
 6 
consciência de orgulho e de superioridade que sempre os estimulam à prestação de 
serviços cada vez maiores? 
Por que não são desmascaradas? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
O QUE É O HOMEM 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O que é o homem? O homem é uma pessoa que trabalha. Com o trabalho sustenta-se 
a si próprio, a sua mulher e os filhos da sua mulher. A mulher, em contrapartida, é uma 
pessoa que não trabalha ou só trabalha temporariamente. Durante a maior parte da sua 
vida, ela não se sustenta, nem sustenta os filhos e muito menos o marido. 
A todas as qualidades do homem, das quais a mulher se aproveita, ela chama 
virtudes masculinas. E a todas aquela que lhe não servem, nem, aliás, servem a ninguém, 
ela dá o nome de qualidades femininas. Por isso, os aspetos externos do homem que 
fazem sucesso perante a mulher são apenas os maculos, quer dizer, os que estão 
sintonizados com a finalidade máxima da sua vida – o trabalho. E devem estar de tal 
forma dimensionados que, sejam quais forem as tarefas propostas, ele sempre 
conseguirá realizá-las. 
Exceto à noite, altura em que a maioria põe pijama com listras coloridas e até quatro 
bolsos, os homens sempre andam vestidos com uma espécie de uniforme, cinza marrom, 
feito de material resistente e nas cores que disfarçam a sujeira. Esse uniforme ou 
“costume” , como é designado, tem no mínimo dez bolsos nos quais o homem coloca – 
 8 
para as ter sempre bem à mão – todas as ferramentas de que precisa para o seu trabalho 
(a roupa da mulher nada faz, não tem bolsos alguns, nem de dia, nem de noite). 
Em reuniões sociais permite-se ao homem que vista trajes na cor mais sensível como 
é preto, pois aí o perigo de se sujarem não é tão grande, e, além disso, os vestidos 
femininos exuberantes de cor ganham maior realce no contraste. Apesar disso, são bem 
vistos os homens com trajes de sociedade verdes ou vermelhos, encontrados 
ocasionalmente, pois contribuem para dar um aspectoainda mais masculino aos 
verdadeiros homens presentes. 
Também quando aos demais aspectos externos, o homem adaptou-se à sua situação. 
Usa o cabelo curto de forma a bastar-lhe um quarto de hora todas as duas ou três 
semanas para ir cortá-lo. Caracóis, ondas ou manchas não são desejáveis, só o 
estorvariam no trabalho que tem que ser exercido ao ar livre com uma certa freqüência. 
E mesmo se os usasse e lhe ficassem bem não aumentariam certamente o seu sucesso 
perante as mulheres, porque as mulheres – ao contrário do que sucede com os homens 
em relação a elas – nunca os julgam sob o ponto de vista estético. Os homens que 
ostentam temporariamente cortes bem pessoais chegam por si próprios a essa conclusão 
pouco depois de regressarem a uma das duas ou três variantes do penteado masculino 
standard, curto ou longo. O mesmo acontece com os barbudos. Só hipersensíveis – na 
maioria dos casos, homens mais ou menos intelectuais que pretendem dar a impressão 
de robustez espiritual apresentando uma riqueza desmesurada de barba – usam durante 
muito tempo uma barba inteira. Como isso é uma indicação importante quanto à sua 
constituição e, por conseguinte, quando ao modo especial do seu aproveitamento 
possível, a barba é tolerada pelas mulheres, nesses casos, como sinal útil de 
reconhecimento (mostra a que nível se deixam esses homens explorar com mais 
facilidade, ou seja, no trabalho neurótico de intelectuais). 
Entretanto, geralmente, o homem usa todas as manhãs, durante três minutos, uma 
máquina de barbear elétrica para obstar ao crescimento da sua barba, e, para tratar da 
pele, bastam-lhe água e sabão, pois ao seu rosto nada mais se exige do que estar limpo e 
sem pinturas, de modo a ser fácil o controle por qualquer pessoa. Falta mencionar as 
unhas das mãos dos homens: devem ser, tendo em vista o trabalho, tão curtas quanto 
possível. 
Um homem másculo não usa jóias – a não ser a aliança de casamento, o que 
demonstra que já é explorado de determinada maneira por determinada mulher. O 
relógio grande e pesado no seu pulso – impermeável, inquebrável e indicando a data – é 
tudo menos um objeto de luxo. Muitas vezes é-lhe oferecido pela mulher para a qual 
trabalha. 
Roupa interior, camisas e meias são de tal modo uniformes que de homem para 
homem se distinguem, quando muito, no que se refere ao tamanho. Podem-se comprar 
em qualquer loja, para poupar tempo. Apenas quanto à escolha das gravatas teria o 
Hercules
Realce
 9 
homem uma certa liberdade, mas como não está habituado à liberdade, qualquer que 
seja a forma por esta assumida, deixa a escolha para a mulher – o mesmo se passa, de 
resto, quando às outras peças de roupa. 
Por muito se assemelham no seu aspecto exterior, um observador de uma estrela 
desconhecida seria levado a admitir que os homens têm empenho em serem iguais como 
dois ovos. É muito diferente, no entanto, a maneira como põem à prova a sua 
masculinidade, ou seja, a sua utilidade possível para as aspirações das mulheres. Têm 
mesmo que ser diferentes: como as mulheres praticamente não trabalham, os homens 
são necessários para tudo. 
Existem homens que, às oito da manhã, tiram da garagem com todo o cuidado o seu 
carrão. Outros vão para o emprego uma hora antes mais cedo num carro de classe média, 
e há ainda aqueles que, quando ainda faz noite, com uma pasta debaixo do braço, em 
que levam um agasalho e o pequeno almoço, se dirigem para o ônibus, o trem ou o 
metrô que os levam ao canteiro de obras ou à fábrica onde trabalham. É um destino 
cruel o deste grupo de homens, os mais pobres deles todos, pois ainda por cima são 
explorados pelas mulheres menos atraentes. Dado que as mulheres só se interessam, 
quando aos homens, por dinheiro, e a estes só interessa a aparência delas, as mulheres 
mais desejáveis do seu meio são-lhes tiradas pelos homens que mais ganham. 
É completamente indiferente o modo como determinado homem possa passar o dia, 
algo tem ele de comum com todos os outros: passa-o de maneira humilhante. E não o 
faz para si próprio, para conservação da sua vida própria vida – para isso bastaria um 
esforço muito menor (de resto os homens dão pouco valor ao luxo). Se humilha para os 
outros e fica infinitamente orgulhoso de o fazer. Na mesa de trabalho, tem as fotografias 
da mulher e dos filhos e mostra-as sempre que se lhe depara uma oportunidade. 
Seja o que for que o homem faça quando trabalha – quer tabele números, cure 
doentes, conduza um ônibus ou dirija uma firma – a todo o momento é parte de um 
sistema gigantesco e desapiedado estabelecido única e exclusivamente para a sua 
máxima exploração e fica entregue a esse sistema até o fim de sua vida. 
Será interessante tabelar números e comparar somas com outras somas – mas por 
quanto tempo? Uma vida inteira? Certamente que não. Talvez seja uma sensação 
fantástica conduzir um ônibus através da cidade, mas que acontece quando se trata dia 
após dia e ano após ano do mesmo ônibus no mesmo percurso da mesma cidade? E é 
certamente excitante exercer influência sobre as muitas pessoas que trabalham numa 
firma grande. Mas até que ponto, quando se descobre que se é mais prisioneiro do que 
chefe? 
Ainda jogamos hoje os mesmos jogos da nossa infância? Claro que não. E mesmo, 
enquanto crianças, não tínhamos sempre as mesmas brincadeiras, brincávamos até nos 
apetecer. O homem é, porém, como uma criança que tivesse de jogar sempre o mesmo 
jogo. O motivo é evidente: logo que ele é elogiado por uma das suas brincadeiras mais 
Hercules
Realce
 10 
do que pelas outras, especializa-se mais tarde nessa e fica condenada a ela uma vida 
inteira porque é “hábil” para isso e é como isso que pode ganhar mais dinheiro. Se na 
escola era bom em matemática, passará a vida à volta de contas – como contador, 
matemático, programador – pois aí reside o seu máximo rendimento. Fará contas, listas 
de números, alimentará máquinas, mas nunca poderá dizer: “Pronto, estou farto, vou 
procurar outra coisa”.A mulher que o explora, não permitirá mesmo que ele procure 
outra coisa. Incitado por essa mulher, talvez suba na hierarquia dos estatísticos. Em 
lutas de morte, chegará porventura a procurador ou diretor de banco. Mas o preço que 
paga pelo seu salário não será tanto quando demasiado alto? 
Um homem que altera o seu modo de vida – portanto, a sua profissão, já que viver 
significa para ele trabalhar – é tido na conta de merecedor de pouca confiança. Se muda 
diversas vezes de emprego, é expulso da sociedade e fica só. Pois a sociedade são as 
mulheres. 
O medo de tal conseqüência deve ser notável: se ele não existisse, seria possível que 
um médico (que em rapaz gostava de brincar com girinos e tubos de análise) passasse a 
vida inteira a cortar obsessos repugnantes a analisar excrescências humanas de toda a 
espécie e a dar-se noite e dia com seres humanos cujo aspecto dá vontade de fugir ás 
outras pessoas? E um pianista que não era mais que um garoto que gostava de tocar 
música, tocaria ele pela milésima vez aquele Nocturno de Chopin? E um político, que 
em tempos idos descobriria por acaso, no pátio da escola, uma mão cheia de truques 
para conduzir homens e que os sabia utilizar com sucesso, pronunciaria ele na idade 
adulta e durante dezenas de anos, todas essas frases que nada dizem, no papel de um 
qualquer partidário obediente e subalterno, faria ele todas essas caretas e suportaria ele 
o palavreado terrível dos seus concorrentes, igualmente subalternos? Ele sonhou uma 
vez com uma outra vida! E ainda que na seqüência desse caminho se tornasse 
Presidente dos Estado Unidos da América, não terá pago por esse cargo um pouquinho 
demais? 
Não, dificilmente se admite que os homens façam tudo o que fazemsem o mínimo 
desejo de mudança. Fazem-no porque para tal são amestrados: toda a sua vida nada 
mais é do que uma desconsolada seqüência de habilidades de circo. Homem que não 
consiga mais executar essas habilidades, que ganhe menos dinheiro, “falhou” e perde 
tudo: a mulher, a família, o lar, o sentido da sua vida – toda e qualquer segurança. 
Evidentemente que também se poderia dizer: um homem que já não ganhe dinheiro 
suficiente está automaticamente livre e poder-se-á alegrar com esse happy-end. Mas o 
homem não quer ser livre. Funciona, como veremos ainda, segundo o modelo prazer na 
falta de liberdade. Liberdade perpétua seria para ele ainda pior que escravidão perpétua. 
Ou formulado de outra maneira: o homem procura sempre alguém ou alguma coisa, 
a quem se possa oferecer como escravo visto que só como escravo é que ele se sente 
seguro – e a sua escolha recai, na maioria dos casos, sobre a mulher. Mas quem é ou o 
Hercules
Realce
Hercules
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 11 
que é a mulher para que ele se deixe escravizar por ela e que seja precisamente junto 
dela que ele se sinta seguro, quando é a ela que deve essa vida degradante e é por ela 
que ele é explorado com todos os requintes? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 12 
O QUE É A MULHER 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissemos que, ao invés do homem, a mulher é uma pessoa que não trabalha. 
Poderíamos concluir aqui a definição de mulher – não há muito mais a dizer a seu 
respeito – não fosse o conceito de pessoa um conceito demasiado extenso e impreciso 
para definir simultaneamente homem e mulher. 
O ambiente humano permite-nos a escolha entre uma existência mais animalesca – 
portanto, semelhante à dos bichos, inferior – e uma superior, mais espiritual. A mulher 
escolhe sem hesitação, a primeira. Bem-estar do corpo, um ninho e a possibilidade de 
observar, sem obstáculos, as normas de criação da sua ninhada, são para ela o máximo. 
Considera-se provado, que homens e mulheres nascem com as mesmas disposições 
espirituais, que não há, pois, diferenças intelectuais primárias entre os dois sexos. Está, 
porém, igualmente provado, que todas as potencialidades que não são desenvolvidas se 
perdem: as mulheres não usam os seus talentos intelectuais, arruínam voluntariamente a 
sua capacidade de pensar e após alguns anos de um treino cerebral esporádico caem 
num estágio de estupidez irreversível. 
 13 
Porque não usam as mulheres o seu cérebro? Não o usam porquê, para se 
conservarem vivas, não necessitam de aptidões espirituais. Teoricamente seria possível 
uma mulher ter menos inteligência que, por exemplo, um chimpanzé e, no entanto, 
afirmar-se entre os homens. 
O mais tardar aos doze anos – idade em que a maioria das mulheres resolve iniciar a 
carreira de prostituta, ou seja, a de deixar mais tarde um homem trabalhar para si, 
pondo-lhe a disposição a sua vagina, a intervalos determinados, como contraprestação – 
cessa a mulher de desenvolver o seu espírito. É certo que continua a instruir-se e 
adquire os mais variados diplomas – pois o homem crê que uma mulher que aprendeu 
qualquer coisa de cor também sabe qualquer coisa (um diploma eleva, por conseguinte, 
o valor de mercado da mulher) – mas, na realidade, é então que se separam para sempre 
os caminhos dos sexos. Toda a possibilidade de entendimento entre homem e mulher é 
então afastada para sempre. 
Por isso um dos erros mais importantes que o homem está constantemente 
cometendo quando aprecia a mulher é considerá-la como uma sua igual, quer dizer, 
como um ser humano que funciona mais ou menos no mesmo plano de sentimentos e 
inteligência que ele. O homem pode observar de fora o comportamento da sua mulher, 
ouvir o que ela diz, ver como os seus olhos aquilo de que ela se ocupa, concluir sobre o 
que ela pensa a partir de sinais exteriores –, mas em tudo ele regula-se pela sua própria 
escala de valores. Ele sabe o que diria, pensaria e faria em seu lugar. E ao observar – 
segundo a sua bitola – o resultado deprimente das suas observações, concluirá apenas 
que tem de haver algo que impede a mulher de fazer o que ele, no seu lugar, teria feito. 
Porque se considera – e com razão no caso de uma pessoa ser definida como um ser que 
pensa em abstrato – a medida para todas as coisas. 
Se, em virtude das suas observações, toma conhecimento de que sua mulher ocupa 
tantas horas do dia a cozinhar, limpar e lavar a louça, não conclui que essas ocupações a 
satisfazem, porque correspondem de uma forma ideal às suas necessidades espirituais. 
Pensa que é justamente isso que a impede de fazer tudo o mais e esforça-se por colocar 
à sua disposição máquinas de lavar louça automáticas, aspiradores e refeições prontas a 
servir, que a aliviem desses trabalhos estúpidos e lhe permitam fazer uma vida igual à 
que ele sonha para si próprio. 
Mas ficará desiludido: em vez da mulher começar a viver uma vida espiritual, mais 
rica, a preocupar-se com política, histórica ou com a origem do Universo, utilizará o 
tempo ganho para fazer bolos, passar a ferro a roupa interior, coser folhinhos ou, se for 
muito dinâmica, para colar decalques de florinhas no vaso sanitário. 
Como o homem tem que acreditar, ou melhor, como a mulher lhe faz crer (qual o 
homem que dá autêntico valor à roupa interior passada a ferro, padrões com flores ou 
bolos que não vêm da confeitaria?) que tudo isso é necessário para a vida, ou, pelo 
menos, faz parte da cultura, ele inventa a máquina automática de passar a ferro, a massa 
 14 
para bolos pronta a usar e o papel higiênico enfeitado industrialmente. Mas ainda não é 
então que a mulher começa a ler, a preocupar-se com a política. E a investigação do 
Universo continua a deixá-la completamente indiferente. O tempo que ela poupou vem-
lhe mesmo a jeito: poderá finalmente preocupar-se consigo própria. E como se sabe que 
é totalmente alheia a necessidades espirituais, entende por isso, como é evidente, a 
preocupação com o seu aspecto exterior. 
O homem que ama a mulher e nada deseja tão intensamente como a sua felicidade, 
também a acompanha nesta fase: produz para ela batons à prova de beijo, make-up para 
os olhos à prova de água, aparelhos que não necessitam ser passados a ferro, calcinhas 
para usar e jogar fora. Ao fazê-lo o homem continua a visar o mesmo objetivo: que tudo 
isso tenha um fim, que todas as necessidades vitais específicas da mulher – que ele crê 
ser “por natureza, mais delicada e sensível” – que lhe são estranhas, por conseguinte 
“superiores”, sejam satisfeitas, e que ela faça, enfim, da sua vida, a única coisa que ele 
acha que tem valor: a vida de um homem livre. 
E aguarda. Como a mulher não se dirige a ele por iniciativa própria, começa a atraí-
la ao seu mundo: propaga a co-educação nas escolas para que ela se habitue, desde tenra 
idade, ao seu estilo de vida. Chama-a para as suas universidades, utilizando todos os 
pretextos possíveis, para a iniciar nos segredos por ele descobertos, na esperança que 
ela adquira gosto pelas coisas importantes, graças ao contato direto com elas. O homem 
faculta-lhe o acesso aos cargos honorários mais elevados, exercidos até agora 
unicamente por ele (e prescinde de tradições que lhe são sagradas) e incita-a à tomada 
de consciência do seu direito político de voto para que ela possa modificar, segundo as 
suas concepções, o sistema de administração governamental por ele inventado (talvez, 
em matéria de política, ele espere que da intervenção dele resulte a paz, já que lhe 
atribui carisma pacifista).Na sua suposta missão, ele é a tal ponto insistente e conseqüente, que não se dá 
conta de como se torna ridículo segundo a sua própria bitola, não segundo a da mulher: 
esta é incapaz de ganhar distância e é, por conseguinte, completamente destituída de 
humor. 
Não, as mulheres não se riem dos homens. No máximo, podem é um dia 
aborrecerem-se um pouco com eles. As velhas fachadas – governo da casa, tratamento 
das crianças – com que mascaram a sua renúncia a uma existência espiritual, ainda não 
estão suficientemente arruinadas para quem as vê de fora. Ainda justificam, nem que 
seja pró-forma, a saída prematura das jovens da universidade e a renúncia às profissões 
mais exigentes. Mas o que sucederá quando o trabalho doméstico ainda mais 
automatizado, quando houver jardins de infância verdadeiramente bons e suficientes ou 
quando os homens chegarem até a descobrir – o que já devia ter sucedido há muito 
tempo – que para viver não são precisos filhos? 
 15 
Se o homem se detivesse, uma única vez, no meio da sua atividade febril, para fazer 
balanço, seria obrigado a reconhecer que os seus esforços no sentido de animar 
espiritualmente a mulher não a fizeram avançar um só passo, que é certa a mulher 
tornar-se de dia para dia mais enfeitada, mais cuidada e “cultivada”, mas que as 
exigências cada vez maiores que faz da vida são de ordem material e não espiritual. 
Alguma vez, por exemplo, a maneira de pensar dele, que ele ensina na suas 
universidades, a induziu a ela a desenvolver teorias próprias? Alguma vez ela utilizou 
para investigações próprias ou institutos de pesquisas que ele lhe fraqueou? – Pouco a 
pouco devia o homem notar que a mulher, pura e simplesmente, não lê todos aqueles 
livros maravilhosos que ele põe à sua disposição nas bibliotecas. Que as suas obras de 
arte, fantásticas, que lhe mostra nos museus, a incitam, quando muito, à imitação. Que 
todos os apelos para a emancipação com que ele espera atingi-la através de filmes e 
peças teatrais, feitas no seu próprio nível e na sua própria linguagem, são por ela 
apreciados apenas em função do seu valor recreativo, mas nunca – mas nunca! –a levam 
a revolta. 
É perfeitamente lógico que o homem, que tem a mulher na conta de sua igual, tendo 
assim que assistir à vida estúpida que ela leva junto de si, acredite que a subjuga. Mas, 
tanto nos lembramos, nunca a mulher foi obrigada a qualquer submissão à vontade do 
homem. Pelo contrário: foram-lhe concedidas todas as possibilidades para se tornar 
independente. Se a mulher, por conseguinte, durante esse longo período, não se libertou 
do seu “jugo”, só existe par isso uma explicação: esse jugo não existe. 
O homem ama a sua mulher, mas também a despreza, porque uma pessoa que sai de 
manhã cheia de energia para conquistar novos mundos – o que, evidentemente, raras 
vezes consegue, porque tem que ganhar a vida – tem de desprezar outra, que não quer 
fazer o mesmo. E talvez seja por essa razão que o homem é levado a preocupar-se com 
o desenvolvimento espiritual da mulher: ele envergonha-se por ela e acredita que ela 
também se envergonha. Cavalheiro como é, gostaria de a ajudar a sair desse embaraço. 
O que ele não sabe é que as mulheres desconhecem essa curiosidade, esse orgulho, 
essa ambição de fazer algo, que lhe parecem a ele evidentes. Se não participam do 
mundo dos homens é só porque não querem: Não sentem necessidade alguma desse 
mundo. A espécie de independência que os homens procuram não teria para si qualquer 
valor, elas não se sentem dependentes. A superioridade espiritual do homem não as 
intimida, pois desconhecem o orgulho em matéria espiritual. 
As mulheres podem escolher, e é nisso que reside a sua infinita superioridade sobre 
o homem: cada uma delas pode escolher entre a forma de vida de um homem e a de uma 
criatura de luxo, estúpida e parasita – escolhem, praticamente todas, a segunda 
modalidade. O homem não tem esta possibilidade de escolha. 
Se as mulheres se sentissem oprimidas pelo homem teriam criado ódio ou medo 
perante eles, o que é normal suceder em relação aos opressores. Mas as mulheres não 
 16 
odeiam nem tão poucos os receiam. Se os homens as humilhassem com a sua maior 
sabedoria elas teriam procurado imitá-los – uma vez que têm todos os meios à sua 
disposição. Se as mulheres não sentissem livres, ter-se-iam agora, finalmente, libertado 
dos seus opressores, nesta constelação historicamente favorável da sua vida. 
Na Suíça, um dos países mais desenvolvidos do mundo, as mulheres ainda não 
possuem um direito de voto geral, Há pouco tempo e em determinado cantão suíço 
pediram às mulheres para votar sobre a introdução do direito de voto feminino – a 
maioria decidiu-se contra. Os homens suíços ficaram atônitos, pois julgavam que essa 
situação indigna era o resultado da sua tutela centenária. 
Como se enganam: a mulher sente-se menos possível tutelada pelo homem. Uma das 
maiores verdades deprimentes a respeito das relações entre os sexos é simplesmente 
essa: no mundo das mulheres o homem praticamente não existe. O homem não é 
suficientemente importante para a mulher para que ela se revolte conta ele. A sua 
dependência perante ele é apenas material, em certo sentido, “física”. É a dependência 
de um turista em relação à companhia de aviação que o transporta, a de um dono de 
restaurante em relação à máquina de café, de um automóvel em relação à gasolina, de 
um televisor em relação à eletricidade. Tais dependências não originam qualquer 
sofrimento de alma. 
Ibsen, que incorreu no mesmo erro de outros homens, esforçou-se por escrever com 
a sua peça “Nora” uma espécie de manifesto de libertação para todas as mulheres. Mas 
a estréia da peça em 1880 causou um choque apenas entre os homens. Juraram a si 
próprios lutar com mais ênfase, ainda, por condições de vida femininas dignas de seres 
humanos. 
A propósito, os esforços de emancipação por parte das mulheres esgotaram-se, como 
é habitual, nunca variante da moda: durante algum tempo gostaram de verse mascaradas 
de sufragistas, em trajes tantas vezes ridicularizados. 
Uma impressão profunda, semelhante àquela, provocou mais tarde nas mulheres a 
filosofia de Sartre. Para provar que tinham entendido tudo deixaram crescer os cabelos 
até a cintura e passaram a usar calças compridas e camisolas pretas. 
O mesmo sucedeu há pouco tempo com as teorias do chefe comunista Mao-Tse-
Tung: durante uns tempos esteve em moda o “estilo Mão”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
O HORIZONTE FEMININO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Podem os homens fazer seja o que for para impressionar as mulheres: no mundo 
delas, eles não valem nada. No mundo das mulheres só contam as outras mulheres. 
É óbvio que uma mulher sente-se feliz quando repara que um homem se volta na 
rua para ver. Se este homem estiver bem vestido ou se guiar um carro esportivo bem 
caro, a alegria é muito maior. É talvez comparável àquela sensação experimentada por 
um acionista, quando lê um boletim de cotações da bolsa em alta. Não tem importância 
para a mulher que o homem seja ou não bem parecido, simpático ou antipático, 
inteligente ou não. Para o acionista também é indiferente a cor das suas ações. 
Mas se, por outro lado, a mulher repara que outra se volta para a ver – o que sucede 
apenas em casos extremos, pois os padrões com que as mulheres se medem são muito 
mais duros que os dos homens – então, atinge o cúmulo da sua felicidade. Ela vive 
para isso: para o reconhecimento, para a admiração, para o “amor” das outras mulheres. 
No mundo das mulheres existem apenas as outras mulheres. As mulheres com 
quem se encontram quando vãoa igreja, à reunião de pais e ao supermercado. As 
mulheres com quem conversam no elevador, à porta, nos jardins. As mulheres por 
Hercules
Realce
Hercules
Nota
As virtudes que a mulher enxerga no homem são diferentes daquelas que o homem acha que é preciso ter para conquista; manter a mulher.nullnullPor exemplo: mais vale um homem rico e violento do que um homem pobre e brando.
 18 
quem passam, aparentemente sem lhes ligar nenhuma importância, quando andam nas 
compras percorrendo as elegantes artérias comerciais ou, à noite, nas festas. Medem-se 
com o que existe nas suas cabeças, não nas dos homens; e para um simples elogio da 
boca de outra mulher prescindem de bom grado de todas as cortesias desajeitadas dos 
seus amantes que não podem deixar nunca de ser superficiais. 
Pois os homens não fazem a mínima idéia do mundo em que as mulheres realmente 
vivem, e nos seus hinos de louvor não se dão conta de todos os pontos de vista que são, 
de fato, importantes. 
Então, as mulheres não querem agradar em nada aos homens? É preciso não 
esquecer que os homens são a sua base material. Mas as necessidades dos homens 
poderiam ser satisfeitas com muito menos despesas, já que estes, no que respeita às 
mulheres, as consideram praticamente apenas às mulheres, as consideram praticamente 
apenas símbolos de sexo e reagem perante a pintura delas com uma certa estranheza. 
Bastariam, por exemplo, cabelos compridos, lábios pintados, camisolas apertadas, 
saias curtas, meias transparentes, saltos altos. Mas essas obras vivas de arte feminina 
que se encontram nas elegantes artérias comerciais de Paris, Roma ou Nova York 
estão muito para além dos desejos e da compreensão dos homens. Colocar uma boa 
sombra nas pálpebras e esbatê-la como mandaram as regras exige uma cultura elevada, 
a escolha de determinado batom, a técnica de o aplicar da melhor maneira, com pincel 
ou diretamente, em camadas ou não; equilibrar como deve ser as vantagens e 
inconvenientes das pestanas postiças, e por fim, harmonizar tudo entre si com o 
vestido, a estola, o casaco, a iluminação, exigem uma formação especializada. O 
homem não tem interesse nenhum por isso, não se especializou em nada relacionado 
com mascaradas femininas, e, assim, é-lhe radicalmente impossível apreciar 
adequadamente obras de arte ambulantes dessa natureza. Porque para tal é necessário 
tempo, dinheiro e uma limitação espiritual infinita – condições que encontram 
exclusivamente nas mulheres. 
Por outras palavras: uma mulher só quererá impressionar um homem ao ponto de 
ele ficar junto dela e de a alimentar – no sentido mais amplo, entenda-se. Tudo o que 
ela investe em si, para além disso, visa as outras mulheres. Para além da sua função de 
sustentador, a mulher não liga qualquer importância ao homem. 
Quando uma empresa anda em busca de um elemento de trabalho de elevada 
categoria, procurará atraí-lo, tanto tempo quanto for necessário, com as mais aliciantes 
promessas, até essa pessoa ceder. A empresa sabe que, assinando o contrato, verá as 
suas diligências bem recompensadas. Tem sempre a faca e o queijo na mão. Com as 
mulheres passa-se o mesmo: deixam aos seus maridos a liberdade suficiente para que 
eles, mesmo assim, prefiram a sua companhia à rescisão do contrato. 
Em geral, pode-se comparar muito bem uma mulher com uma firma. Assim como a 
firma é um sistema neutral, para a obtenção do maior lucro possível, assim a mulher 
 19 
está ligada ao homem que para ela trabalha, sem amor pessoal, sem malícia e sem ódio. 
Se ele a abandona, é evidente que se enche de medo, pois a sua existência econômica 
está em jogo. Mas trata-se aqui de um medo racional, tem origens racionais e admite 
coma compensação exclusivamente racional – sem se abrirem precipícios. Por 
exemplo, a de ela poder fazer um novo contrato com outro homem. Esse medo não tem, 
por conseguinte, nada de comum com os seus sentimentos de um homem que, perante 
a mesma situação, se consome em ciúme, complexo de inferioridade ou compaixão por 
si próprio. 
Como um homem só abandona uma mulher por causa de outra mulher e nunca para 
ser livre, não existe para a mulher qualquer motivo para o invejar ou sequer de 
situação. A aventura existencial que o seu marido vai viver em virtude de um novo 
amor para com outra mulher, observa-a ela da perspectiva de um pequeno empresário 
que perde o seu melhor empregado em favor de um concorrente e tem que se dar ao 
trabalho de arranjar um substituto útil. Desgosto de amor é para uma mulher, na 
melhor das hipóteses, a sensação de se esfuma um bom negócio. 
Por isso, é igualmente absurdo que um homem considere a sua mulher fiel só por 
ela não o enganar com outros homens que, aos seus olhos, são mais atraentes quer ele 
próprio. Porque havia ela de o fazer enquanto ele próprio. Porque havia ela de o fazer 
enquanto ele trabalha bem para si e lhe proporciona aquela felicidade que realmente 
lhe interessa? Nada têm de comum, fundamentalmente, a fidelidade de um homem 
com a de uma mulher: as mulheres são, ao contrário dos homens, insensíveis ao 
aspecto exterior do seu companheiro. Se uma mulher paquera o melhor amigo do seu 
marido, pois apenas os sentimentos dessa outra mulher são importantes para ela (se lhe 
interessante o homem não o mostraria tão abertamente). As novas práticas sexuais em 
grupo não passam de uma variante da paquera, já ultrapassada em certos setores da 
sociedade. Também aqui só interessam à mulher as outras mulheres e não os homens. 
A história está cheia de anedotas de reis e príncipes que se divertiam simultaneamente 
com várias amantes. É raro aparecem historiazinhas picantes e iguais a respeito de 
potentados femininos. Uma mulher aborrecer-se-ia mortalmente praticando sexo em 
grupo só com homens. Isso foi e sempre será assim. 
Se as mulheres reagissem ao aspecto exterior dos homens, já há muito tempo que a 
publicidade teria tirado proveito disso. Como as mulheres – graças ao dinheiro que os 
homens para elas ganharem – dispõem de um poder de compra de longe superior ao 
dos homens (existem a esse respeito estatísticas concludentes), os fabricantes 
procurariam obviamente estimular a venda dos seus produtos por meio de fotografias e 
“slogans” publicitários de homens bonitos e fortes com os caracteres sexuais 
secundários bem evidenciados. Mas verifica-se precisamente o contrário: para onde 
quer que se olhe, as agências de publicidade apresentam lidas jovens cuja missão é 
 20 
tornar tentadora a compra de excursões, automóveis, detergente em pó, aparelhos de 
televisão ou mobílias de quarto. 
Os produtores de filmes só agora começam a descobrir que podem apresentar às 
mulheres, em vez dos costumados galãs, amantes feios como, por exemplo, Belmondo, 
Walther Matthau ou Dustin Hoffman com o mesmo resultado. Os homens que sob o 
ponto de vista físico têm um conceito de valor sobre si próprios muito baixo e que só 
raramente se consideram “belos” – belos, são, a seus olhos, apenas as mulheres – 
podem identificar-se melhor com atores feios. Desde que os papeis femininos 
importantes continuem a ser desempenhados por estrelas belas, as mulheres 
consumirão esses filmes com tanto agrado como aqueles em que aparece Rock Hudson, 
pois só lhes interessam verdadeiramente as mulheres que neles atuam. 
Esta circunstância só não chegou antes ao conhecimento do homem porque ele 
assiste constantemente à difamação das mulheres umas pelas outras. Se ouve a todo o 
momento a sua mulher criticar o nariz torto, o peito liso, as pernas em “X” ou as ancas 
largas de qualquer outra, concluirá logicamente que as mulheres não se podem 
suportar umas às outras, concluirá logicamente que as mulheres não se podem suportar 
umas às outrasou que acham as outras totalmente destituídas de graça. Isso é, contudo, 
uma interpretação errada: um empresário que louvasse constantemente uma firma 
concorrente perante seus empregados, seria considerado louco. Certamente, dentro de 
pouco tempo, os empregados o abandonariam. Os políticos têm que representar a 
mesma espécie de comédia e caluniar-se mutuamente em público. No entanto, Nixon 
preferiria ser desterrado para uma ilha deserta com Fidel Castro ou Kosygin do que 
com o homem da rua que elogia e do qual recebeu o seu mandato. Nada o liga ao 
homem na rua. 
Se as mulheres tivessem o suficiente, sob o ponto de vista material, de certo 
prefeririam juntar-se umas às outras do que aos homens. De forma alguma por serem 
todas lésbias, – repara -se. O que os homens chamam de disposição lésbica das 
mulheres tem, provavelmente, pouco a ver com o instinto sexual delas. Não – os dois 
sexos não têm nenhuns interesses comuns. Portanto, que outra coisa senão o dinheiro 
manteria as mulheres junto dos homens? Elas próprias teriam entre se muito de comum, 
pois o intelecto feminino e a vida emocional feminina estacionaram a um nível 
primitivo, ou seja, geral, e não existem, praticamente, mulheres com inclinações 
individualistas ou aberrantes. Podermos imaginar facilmente que vida animada elas 
levariam, umas com as outras, – uma vida paradisíaca talvez, se bem a um nível 
horrivelmente baixo. Mas quem se incomoda com isso? 
 
 
 
 
 21 
O SEXO MAIS BELO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para um observador extraterreno o homem seria de certeza o ser mais digno de 
adoração deste planeta. De qualquer modo está fora de dúvida que o acharia muito 
mais atração atraente do que, por exemplo, a mulher. Pois ele possui duas vantagens 
em relação a ela: é belo e inteligente. 
Só por confusão centenária de todos os padrões de valores, se tornou possível 
considerar a mulher como o “belo sexo”. Bastava o fato de a mulher ser mais estúpida 
que o homem, para contrariar essa afirmação absurda. Uma pessoa estúpida nunca 
pode ser bela, a menos que se tome por base dessa apreciação o aspecto de mero 
animal do ser humano. E deve salientar-se que é, sobretudo, o próprio homem quem 
comete o erro de avaliar a mulher segundo critérios que colocam ao mesmo nível seres 
humanos e animais. Parece que isso é de fato necessário, pois no grupo homo sapiens 
ela não teria as mínimas possibilidades. 
Como ainda teremos ocasião de ver, o homem precisa da mulher para se submeter a 
ela. E para se afirmar aos seus próprios olhos tenta por todos os meios de dotá-la de 
qualidades tais que justifiquem a sua submissão. Como ela nunca pôs á prova o seu 
 22 
espírito, ele não a pode facilmente considerar espirituosa (se bem que já tenha feito 
tentativas nesse sentido, com a invenção do conceito “intuição feminina”). Por 
conseguinte, chama-lhe bela. 
Padrões estéticos forçam a manutenção da subjetividade. Cada juízo estético é um 
ato de liberdade pessoal. Mas a subjetividade converte-se facilmente em álibi e o 
homem deixa-se escravizar com prazer. Só porque a mulher se enfeita de determinada 
forma, que visa atrair sobre si todos os olhares, já o homem pressupõe que ela tem 
razões para isso. Ele acha que ela é bela, porque ela própria se considera bela. E fica-
lhe grato por ela consentir que ele a ache bela. 
Ainda por cima ela apóia essa pretensão com um truque. Como o mais elevado 
ideal da mulher – uma vida sem trabalhar e sem responsabilidades – corresponde ao de 
uma criança, ela imita a criança. As crianças são “comoventemente” desamparadas, 
têm um corpinho jeitoso com membros pequeninos e graciosos, e sobre os seus 
graciosos refegos de gordura, estende-se uma pele imaculada, jovem, delicada. São 
facilmente levadas ao riso e de modo geral comportam-se de maneira cômica. São uma 
forma engraçada de adulto – e como não se podem alimentar por si próprias, é natural 
que se cuide delas e se lhes desviem do caminho todas as dificuldades. Isso é 
assegurado por um mecanismo biológico: espécies que deixam perecer a sua 
descendência, desaparecem. 
Por meio de uma requintada cosmética que tem em vista conservar o seu ar de bebê 
e uma tagarelice entre insegura e engraçada, em que desempenham o principal papel 
exclamações de assombro, surpresa e admiração (Oh, que lindo! É maravilhoso!) a 
mulher procura simular tanto tempo quanto possível a menina doce e querida. Pois, 
conservando o seu rosto de criança e uma certa atitude de desamparo, apela para o 
instinto de proteção do homem, e leva-o a cuidar dela. 
Esse calculismo é, como tudo o que a mulher empreende por si, tão estúpido e 
míope, que chega a ser milagre resultar. É que, enquanto propagandeia o rosto bebê 
como ideal de beleza feminina, ela terá que verificar, o mais tardar aos vinte e cinco 
anos, que se encontra num beco sem saída. Não obstante todos os truques da cosmética 
(em revistas femininas lê-se, com efeito, que a mulher, ao pensar, deve evitar fazer 
rugas na testa e ao rir-se, rugas na face), é impossível evitar que nessa idade ela não 
fique com o rosto de pessoa adulta. 
Mas que vai o homem fazer com uma mulher adulta, ele que foi domado no sentido 
de achar lindas, amorosas e necessitadas de auxílio, mocinhas pequenas e gentis? 
Que irá ele fazer com uma mulher cujas curvas lisas e firmes se tornaram montões 
balofos de gordura sob um manto de pele branca e flácida? E cuja voz já não soa como 
a de uma criança, mas sim, estridentemente? E cujo riso já não é espontâneo e alegre 
mas sacudido e relinchado? Que fará ele com um espantalho cujo palavreado, 
repugnante estúpido, lhe dá cabo dos nervos, agora que já não vem de boca infantil, e 
 23 
em cujo rosto os repetidos “Ahs” e “Ohs” de surpresa cada vez fazer nascer por magia 
a expressão de espanto ingênuo e cada vez mais, a de imbecilidade? Essa criança 
mumificada nunca mais voltará a atear ilusões eróticas. Dir-se-ia que terminara, 
finalmente, o seu poder. 
Apesar disso, as contas da mulher batem certas, conforme se disse antes. É que, em 
primeiro lugar, com o auxílio das crianças que, entretanto, deu á luz, pode simular 
novamente falta de proteção, e, em segundo lugar, não há no mundo mulheres jovens 
em quantidade suficiente. 
É evidente que, se os homens pudessem escolher, trocariam com todo o prazer os 
seus bebês-mulheres tornadas adultas por outras mais novas. Mas como a relação 
numérica entre os sexos é aproximadamente de um para uma, não podendo existir 
assim para cada homem, em qualquer momento, uma mulher jovem, sobressalente – e 
como para a sua vida precisa absolutamente de uma mulher – fica junto daquela que já 
é dele. 
É fácil fazer-se a prova dessa afirmação. Quando o homem pode mesmo escolher, 
escolhe sempre a mulher mais nova. Marilyn Monroe ou Liz Taylor foram 
ultrapassadas no preciso momento em que as suas rugazinhas deixaram de poder ser 
disfarçadas: na bilheteria do cinema o homem comprou, simplesmente, o bilhete para 
ver uma atriz mais nova. Quem a tal se pode permitir financeiramente não escolhe só 
na bilheteria, mas também na vida. Os donos do mundo das finanças e da alta roda do 
espetáculo, trocam regularmente as suas esposas gastas por outras mais novas. Como 
pagam boas indenizações, ninguém leva isso a mal, nem sequer a própria mulher (que 
ficará provavelmente contente por se libertar do homem em condições tão favoráveis). 
Mas esse luxo só é acessível aos homens ricos. Quando um pobre diabo se torna 
arrojado e num momento de excesso e cegueira casa novamente com uma mulher 
jovem, pode estar certo que a breve trecho e perderá por seu dinheiro nãochegar para 
o sustento de duas mulheres (e seus filhos que a segunda também quererá ter). Se uma 
mulher nova e bela puder escolher entre um homem mais velho e um mais jovem com 
os mesmos rendimentos, dará sempre a preferência ao mais jovem, não, porém, em 
virtude dessa juventude a influenciar por simpatia ou motivos estéticos, mas por saber 
que o mais novo poderá cuidas dela durante mais tempo. As mulheres sabem 
exatamente o que podem esperar de um homem, por isso sabem também como deverão 
decidir-se. Presumivelmente, jamais aconteceu uma mulher preferir um homem pobre 
de vinte anos a um rico de quarenta. 
É uma felicidade para as mulheres adultas que os homens não se achem a si 
próprios belos. No entanto, os homens são na sua maioria lindos, Como os seus corpos 
elegantes, treinados pelo trabalho, os seus ombros fortes, as suas pernas musculosas, a 
sua voz melodiosa, o seu riso quente e humano, a expressão inteligente do seu rosto e 
os seus movimentos equilibrados – isto é, com sentido – deixam a perder de vista tudo 
 24 
o que a mulher algum dia pudesse ser, mesmo contemplando-a sob o prisma de 
simples animais. E como, ao contrário das mulheres, eles trabalham e continuam a 
utilizar constantemente o seu corpo de maneira sensata, este mantem-se belo durante 
mais tempo. O dela, em virtude da falta de treino, depressa entra em decadência e 
depois dos cinqüenta anos nada mais é que um monte de células humanas (basta 
observar nas ruas as donas de casa cinqüentenárias e comparar o seu aspecto com o 
dos homens da mesma idade). 
Mas os homens não sabem que são belos. Ninguém lhes diz isso. Muito se fala da 
“graça” das mulheres, do “encanto” das crianças, da “fascinação” do mundo dos 
animais. Porém, quando se fala do homem, elogia-se quando muito a sua coragem, a 
sua valentia, a sua determinação, – uma série de atributos relativos à sua possibilidade 
de utilização para as intenções das mulheres, e nunca ao seu aspecto exterior. Parece 
que fora dos livros de ensino médico não existem nenhuma descrição do homem que 
se detenha muito tempo com a formação dos seus lábios, a cor dos seus olhos sujeitos 
a esta ou aquela iluminação, o forte crescimento dos seus cabelos a delicadeza dos 
seus mamilos ou a boa proporção dos seus testículos. E o próprio homem ficaria 
imensamente admirado e divergido se alguém o elogiasse por causa dessas 
características do seu corpo. 
O homem não está habituado a que se fale da sua aparência física. A mulher adulta, 
que na maioria dos casos é feia e teria, portanto, um pretexto, suficiente para se 
entregar à admiração do homem (e, além disso, com tempo para o fazer), não o vê. 
Não se trata de má vontade ou até de calculismo, mas para ela o homem é apenas uma 
espécie de máquina sob pontos de vista estéticos mas sim funcionais. O homem é da 
mesma opinião e pensa sobre si da mesma maneira. Os homens estão demasiadamente 
apegados ao trabalho e desgastados pela permanente apegados ao trabalho e 
desgastados pela permanente luta contra a concorrência para que possam observar-se a 
si próprios e reconhecer as suas próprias qualidades. 
Mas, sobretudo, os homens não querem é mesmo saber se são belos ou não. Para 
dar um sentido à sua luta têm de ser as mulheres as belas, as desamparadas, as dignas 
de adoração. E por esse motivo continua a chamar-lhes, na falta de uma definição mais 
exata para as suas impressões contraditórias, o “belo sexo”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 25 
O UNIVERSO É MASCULINO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O homem – ao contrário da mulher – é belo, por que – ao contrário da mulher – é 
um ser intelectual. 
Isso significa que: 
O homem é curioso (quer saber o que se passa no mundo que o rodeia e como ele 
funciona). 
O homem pensa (tira conclusões dos dados que se lhe deparam). 
O Homem é criador (faz coisas novas a partir dos seus conhecimentos sobre o que 
existe). 
O homem sente (na sua escala de sensibilidade, extraordinariamente ampla e 
multidimensional, não se limita a registrar o comum nas suas “nuances” mais 
imperceptíveis. Também cria e descobre novos valores de sensibilidade que torna 
acessíveis a outros através de descrições tocantes ou de obras de arte). 
A curiosidade é de todas as qualidades do homem, certamente, a mais expressiva. 
Essa curiosidade é de tal forma da curiosidade feminina que precisa, sem dúvida, de 
alguns esclarecimentos. 
Hercules
Realce
Hercules
Realce
Hercules
Realce
Hercules
Realce
Hercules
Nota
As perguntas são mais importantes que as respostas.
 26 
A mulher interessa-se fundamentalmente apenas pro coisas que pode utilizar 
diretamente com proveito próprio. Se, por exemplo, lê no jornal um artigo político, é 
muito mais provável que queira cativar o estudante de ciências políticas que o 
escreveu do que ligue importância à sorte dos chineses, israelitas ou sul-africanos. Se 
busca no dicionário o nome de um filósofo grego, isso não significa um súbito 
interesse por filosofia grega, mas sim que lhe falta essa palavra para solucionar um 
problema de palavras cruzadas. Se estuda o anúncio de um automóvel novo, é por 
desejar esse automóvel e não por uma espécie de interesse platônico pela técnica. 
É um fato a maioria das mulheres – incluindo as mães – não ter a mínima noção de 
como se origina o ser humano, como este se desenvolve no seu ventre e que fazes 
atravessa até o nascimento. Evidentemente que seria um supérfluo ter conhecimento 
desses assuntos, já que nenhuma influência poderia ter sobre o feto. Para ela o 
importante é saber que uma gestação dura nove meses, que durante esse tempo deve 
poupar-se, e, caso surjam complicações, deve ir imediatamente ao médico, o qual, 
evidentemente, porá tudo em ordem. 
A curiosidade do homem é, ao invés disso, algo de muito diferente: basta-se a si 
própria e não estando relacionada com nenhum efeito útil imediato é, contudo, mais 
útil que a da mulher. 
Basta passarmos uma vez por um local em obras, onde esteja a trabalhar uma nova 
máquina, por exemplo, uma nova espécie de draga. Raros serão os homens – qualquer 
que seja a sua origem e classe social – que passem por lá sem se deterem pelo menos 
um bocado a olhar para ela. Muitos chegam a parar. Observam e conversam sobre as 
qualidades da nova máquina, quais o seu rendimento, porque dá esse rendimento e até 
que ponto se distingue dos modelos já conhecidos. 
Não lembraria a uma mulher ao pé de uma obra, ao menos que a aglomeração de 
pessoas fosse tal que ela pensasse que poderia ser uma sensação excitante 
(“Trabalhador esmagado por bulldozer”). Num caso desses, informar-se-ia 
pessoalmente e viraria as costas. 
A curiosidade do homem é universal. Não há, por princípio, nada que não lhe 
interesse, quer se trate de política, botânica, técnica atômica ou outra coisa qualquer. 
São também objeto do seu interesse assuntos fora da sua esfera de ação, tais como, por 
exemplo, conservar fruta, amassar bolos, cuidas do bebê. E não seria possível um 
homem estar nove meses grávido sem se interessar de todos os pormenores sobre a 
função da placenta e dos ovários. 
O homem não só observa tudo o que se passa em seu redor (e de modo geral no 
mundo) como também interpreta. E como procura informar-se sobre tudo, não lhe é 
difícil estabelecer comparações, reconhecer no que vê determinados princípios –, 
sempre com o objetivo de fazer, a partir disso, algo de novo. 
 27 
Não é necessário frisar que todas as invenções e descobertas do mundo têm sido 
feitas por homens, quer se trate de eletricidades, aerodinâmica, ginecologia, 
cibernética, mecânica, física quântica,hidráulica ou teoria da hereditariedade. 
Também foram deduzidos por homens os princípios da psicologia infantil, da 
alimentação de lactantes ou da conservação de refeições. Sim, até mesmo a evolução 
da moda feminina ou algo de tão banal como a descoberta de novas seqüências de 
pratos ou novos sabores estão tradicionalmente entregues aos homens. Se se procura 
algo de muito especial, uma experiência nova, para satisfazer o paladar, não a vamos 
encontrar, regra geral, em casa, mas, num restaurante onde, evidentemente, a comida é 
preparada pelo homem. A sensibilidade de paladar das mulheres é – mesmo que 
tivessem a intenção de descobrir uma nova receita – de tal modo limitada e tão 
embotada pela preparação das refeições diárias desprovidas de fantasia, que não o 
conseguirem. Não existem apreciadoras de boa comida, as mulheres não servem 
absolutamente para nada. 
O homem, porém, que reúne em si todas as condições espirituais e físicas para uma 
vida rica, livre e digna de um ser humano, prescinde da regalia e, em vez disso, leva 
uma vida de escravo. E que faz ele de todas as suas magníficas qualidades? Coloca-as 
ao serviço de quem não as possui, isto é, “da humanidade” e pensa, justamente, nas 
mulheres e nos filhos delas. 
Chega a ser realmente irônico que aqueles (leia-se as mulheres) que têm condições 
para levar uma vida ideal não a queiram e aqueles (leia-se os homens) que estão 
dispostos a facultar uma tal vida, graças ao seu sacrifício, não estejam nela 
interessados. Habituamo-nos de tal maneira ao mecanismo cego da exploração 
unilateral de um grupo por uma clique de parasitas, que todos os conceitos de moral se 
pervertem completamente. Achamos tão natural vermos Sisifo no sexo masculino, que 
vem ao mundo para aprender, trabalhar e procriar filhos e por aí fora, que já não 
podemos imaginar o homem vivendo neste mundo com outra finalidade. 
Um jovem que cria uma família de daí em diante dedica toda a sua vida, e na 
maioria dos casos em atividades estúpidas, ao sustento da mulher e dos filhos é tido na 
conta de honesto. Um que não se prende, que não procria filhos, que vive hoje aqui, 
amanhã ali, que faz uma coisa hoje, outra amanhã – porque lhe interessa, e par se 
sustentar a si e somente a si – e quem enfrenta a mulher, quando a encontra, como 
homem livre e não na qualidade uniformizada de escravo, é expulso da sociedade e 
desprezado. 
É deprimente ver como os homens no seu dia-a-dia traem aquilo para o que 
nasceram. Como eles, em vez de explorarem com o seu espírito, a sua força e a sua 
prodigiosa energia novos mundos com os quais nem ousamos sonhar, em vez de 
tornarem a vida infinitamente rica e digna de ser vivida (a sua própria, que as mulheres 
totalmente ignoram), renunciam a todas essas enormes possibilidades e ajustam 
 28 
voluntariamente o seu corpo e o seu espírito aquele modelo mesquinho que serve para 
satisfazer as repugnantes necessidades primitivas das mulheres. 
Tendo na mão a chave de todos os segredos do universo os homens descem 
voluntariamente ao nível das mulheres e passam a ser leais a elas. Como o seu espírito, 
força e fantasia que os predestinam para as novas e grandes realizações, apenas 
conservam e melhoram o que já existe. E, se inventam algo de novo, fazem-no sempre 
com o álibi de que mais cedo ou mais tarde isso será útil “a toda a humanidade” (ou 
seja, à mulher). 
Vão ao ponto de pedir desculpa pelas suas façanhas, pedem desculpa por efetuarem 
viagens interplanetárias e voarem para a Lua em vez de produzirem mais conforto 
corporal para as mulheres e para os filhos delas. O esforço mais penoso nas suas 
descobertas tam sido sempre a sua tradução em linguagem inteligível para as mulheres. 
É o caso, por exemplo, dos comerciais da televisão onde, entre tagarelices de crianças 
e sussurros adocicados de amor, chamam a atenção das mulheres e as convidam, 
amavelmente, a utilizar as novas realizações. Pois, devido à sua comprovada falta de 
fantasia, jamais as mulheres sentem, a priori, a necessidade de quaisquer invenções – 
se ela existisse as próprias mulheres seriam capazes de realizar uma descoberta, pelo 
menos uma única. 
Habituamo-nos tanto a que os homens façam tudo com vista à mulher, que nem 
sequer consideramos a hipótese de as coisas se passarem de outra maneira. Que os 
compositores, por exemplo, pudessem compor outras obras sem ser canções de amor 
(dependência). Que os escritores não mais escrevessem romances e poesia amorosa 
(dependente) mas, sim, arte. Que aconteceria se os pintores acabassem de vez com os 
seus nus e perfis de mulheres (pintados abstratamente ou de modo convencional) e nos 
proporcionassem obras novas, que nunca tivéssemos visto? 
Devia ser viável os cientistas não voltarem a dedicar as obras científicas às suas 
mulheres (que nunca as entenderão), os cineastas não fazerem pesar sobre as idéias dos 
seus filmes corpos femininos de seios abundantes, os jornais não se desculparem 
obrigatoriamente das reportagens de viagens espaciais com fotografias ampliadas de 
mulheres louras de astronautas e também os astronautas não pedirem para de Terra 
lhes transmitirem cançonetas lânguidas de amor (dependência). 
Não fazemos a mais leve idéia de como seria um mundo em que os homens 
empregassem na solução de problemas reais a fantasia que utilizam para fabricar 
panelas de pressão, que aqueçam ainda mais depressa, detergentes que lavem branco, 
veludos de cor mais resistente e batons mais fixos que não desapareçam com o beijo. 
Um mundo no qual, em vez de procriarem filhos (que por sua vez procriassem filhos) 
e, assim, continuassem empurrando a vida para diante, eles próprios se dedicassem a 
viver. Um mundo no qual eles, em vez de quererem constantemente investigar a 
“enigmática” psique da mulher – só lhes parece tão enigmática porque, 
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enigmaticamente, nada lá existe susceptível de ser pesquisado – investigassem a sua 
própria psique, ou refletissem sobre a possível psique de possíveis seres vivos 
existentes em outros planetas e imaginassem métodos para estabelecer contacto com 
eles. Um mundo em que construíssem naves espaciais cada vez mais aperfeiçoadas que 
os levassem a outros mundos quase tão depressa como a luz e nos relatassem coisas 
com que nem sequer sonhamos, vez de fabricarem armas para guerra cujo único fim é 
proteger a propriedade privada (que só é útil às mulheres). 
Infelizmente, sucedeu que os homens, marcados pela vontade e a capacidade de 
refletir sobre todas as coisas, declararam tabu tudo o que diz respeito às mulheres. O 
pior é que os tabus são tão eficazes que já ninguém os reconhece. Os homens fazem 
guerras das mulheres sem nunca pensarem nisso, ajudam a criar os filhos das mulheres, 
constroem as cidades das mulheres. E essas mulheres tornam-se simultaneamente mais 
preguiçosas, mais estúpidas e, materialmente, mais exigentes. E cada vez mais ricas. 
Por meio de um sistema primitivo mas eficiente de exploração direta, casamento, 
divórcio, sucessão, seguros de viuvez e de vida, enriquecem incessantemente. Nos 
Estados Unidos da América, onde o número de anos, sabe-se que as mulheres dispõem 
de mais de metade da propriedade privada social. O panorama não deve ser 
substancialmente diferente nos países mais progressivos da Europa. Dentro em breve a 
mulher não terá apenas o poder psicológico sobre o homem como também o poder 
material absoluto. 
O homem ignora-o e continua a procurar a sua felicidade na sujeição. Esta teria de 
certo modos uma justificação poética, caso a mulher fosse aquilo por que ela a toma. 
Se ela fosse aquele ser terno e gracioso, aquele anjo de um mundo melhor, bom demais 
para ele homem e para este mundo. 
Como é possível que sejam precisamenteos homens, que tudo o mais querem saber, 
aqueles que fecham os olhos a esses fatos tão simples? Que não reparam que nada 
mais há nas mulheres que uma vagina, um par de seios e alguns cartões perfumados 
com expressões estúpidas e estereotipadas? E que elas não passam de conglomerados 
de matéria, montões de pele humana empalhados, que têm pretensões a seres pensantes? 
Se os homens parassem uma vez só no meio da sua cega produtividade e se 
pusessem a pensar, teriam forçosamente que desmascarar num instante as mulheres 
com os seus colarzinhos, as suas blusinhas de folhos e sandaliazinhas douradas e 
construírem em poucos dias, graças à sua própria fantasia, inteligência e energia, uma 
espécie de máquina semelhante ao homem que substituísse perfeitamente a mulher, a 
qual, nem no aspecto exterior, é um ser original. Porque razão têm os homens medo da 
verdade? 
 
 
 
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 A ESTUPIDEZ DA MULHER FAZ DELA UMA SANTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Só os oprimidos sentem precisão da liberdade. Mal se libertam – partindo do 
princípio que são suficientemente inteligentes para avaliar essa liberdade com todas as 
suas conseqüências – transforma-se no oposto esse sua precisão de liberdade: enchem-
se de receios e começam a ansiar pela segurança da dependência. 
Nos seus primeiros anos de vida nenhum ser humano é livre. Está entalado entre as 
regras dos adultos e, como ele próprio não tem ainda experiência de comportamento 
social, é totalmente dependente dessas regras. Manifesta, portanto, um desejo ardente de 
liberdade, nada deseja tão veementemente como escapar da sua prisão, o que faz na 
primeira oportunidade. Quando finalmente se encontra livre, se for estúpido – e as 
mulheres são estúpidas – sentir-se-á muito bem na sua liberdade e procurará conservá-la. 
Uma pessoa estúpida não pensa abstratamente, não deixa o seu próprio campo e não 
conhece, portanto, medo existencial. Não receia a morte (não a pode imaginar) e não se 
interroga acerca do sentido da vida: todas as suas ações têm na realização dos seus 
apetites de conforto um sentido imediato e isso basta-lhe. É também alheia a 
necessidades religiosas. Mas se alguma vez elas surgem, as satisfaz imediatamente em 
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si própria, pois é típico dos estúpidos serem capazes de admirar desinibidamente a sua 
própria pessoa (se uma mulher adere a uma religião, ela o faz só para entrar no céu – o 
bom Deus nada mais é do que o homem que lhe consegue isso). 
A posição do ser inteligente (do homem) é completamente diferente: é certo que ele, 
a princípio, sente a libertação como um alívio imenso, extasia-se com as perspectivas 
grandiosas da sua independência, mas logo que faz uso dessa liberdade, portanto, logo 
que, por um ato livre, se quer comprometer num ou noutro sentido, começa a ser presa 
do medo; como está apto a pensar abstratamente também sabe que cada um dos seus 
atos alberga a possibilidade de inúmeras conseqüências – resultados que ele não pode 
prever na sua totalidade apesar de sua inteligência e pelos quais, em virtudes de se 
decidir livremente por esse ato, é plenamente responsável. 
Com que agrado mais se abalançaria a nada com receio das conseqüências negativas 
das suas ações! E como isso não é possível – o homem está condenado a agir – começa 
a ansiar pelo regresso às regras fixas da sua infância, a ansiar pelo regresso às regras 
fixas da sua infância, a ansiar por alguém que lhe diga o que tem ou não tem que fazer e 
que lhe dê novamente uma finalidade às suas ações, agora vazias de sentido (é certo que, 
no fim de contas, essas ações servem à sua própria necessidade de conforto, mas para 
que serve o homem em si?), permitindo-lhe aliviar a sua grande responsabilidade. E 
procura um deus que substitua o deus da sua infância – a sua mãe – ao qual se possa 
submeter incondicionalmente. 
Para esse efeito preferiria, é certo, um deus mais severo mas também mais justo, 
mais sábio e mais onisciente, como, por exemplo, o dos judeus, dos cristãos ou dos 
maometanos. Mas como é inteligente sabe que, evidentemente, não pode haver um deus 
assim, que cada adulto é por definição o seu próprio deus e que, por conseqüência, só 
pode satisfazer o seu prazer pela falta de liberdade (o regresso a um estágio semelhante 
à dependência da primeira infância dá-lhe um prazer profundo) mediante regras por ele 
próprio formuladas – lança-se à invenção dessas regras (deuses). 
Sem o saber, realiza tudo isso juntamente com outros. Como eles, registra as suas 
experiências individuais, compara-as com as dos outros, reconhece elementos comuns e 
simplifica tudo, inconscientemente, em regras, inventando desse modo leis para 
comportamento futuro “com sentido” (ou seja, um comportamento útil para alguém ou 
algo que não ele), leis às quais se submete voluntariamente. Os sistemas com esse 
processo de formação são desenvolvidos coletiva e individualmente e tornam-se a breve 
trecho tão complexos que o indivíduo acaba por não poder abarcá-los – ganham 
autonomia e tornam-se “divinos”. Já só é possível confiar nas suas leis – assim como a 
criança inexperiente tinha de confiar nas leis dos pais, sensatas umas, insensatas outras. 
Controlar essas leis é inviável, e, quando da sua violação, surge logo a ameaça da 
expulsão da comunidade e da perda da segurança. Marxismo, amor ao próximo, racismo 
ou nacionalismo são exemplos desses sistemas inventados, e os homens que conseguem 
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satisfazer através deles as suas necessidades religiosas tornam-se consideravelmente 
imunes à submissão a uma só pessoa (mulher). 
Contudo a grande maioria dos homens submetem-se de preferência e 
conscientemente aos deuses exclusivos mulheres (chamam a essa submissão amor) pois 
possuem, para satisfazer as necessidades religiosas dos homens, os mais favoráveis 
pressupostos: a mulher está sempre à disposição do homem, não tem necessidades 
religiosas próprias e é, portanto, nesse sentido, verdadeiramente “divina”. Como está 
constantemente a fazer exigências, o homem nunca se sente por ela abandonado (como 
deus, ela esta sempre presente). Torna-o independente de deuses coletivos que teria de 
dividir com concorrentes. Parece-lhes digna de confiança porque, identificando-se com 
a sua mãe, se assemelha ao deus da sua infância. Ela dá à sua vida sentido artificial, 
porque tudo o que ele faz serve para o conforto dela, não dele (e posteriormente, para o 
conforto dos filhos). Como deusa, pode não somente castigar (tirando-lhe segurança), 
como também recompensar (proporcionando-lhe prazer sexual). 
Os pressupostos mais importantes para sua divindade são, no entanto, a sua 
tendência para mascaradas e a sua estupidez. Um sistema qualquer tem que 
impressionar os seus crentes ou pela superioridade da sua sabedoria ou confundindo-os 
pela sua ininteligibilidade. Como a primeira das hipóteses não se aplica às mulheres, 
aproveitando a segunda. A sua mascarada faz com que ela pareça ao homem estranha e 
misteriosa, a sua estupidez torna-a inatingível às suas tentativas de controle. Pois, 
enquanto a inteligência se exprime em ações compreensíveis e lógicas e é, portanto, 
mensurável, computável, computável e controlável, as ações dos estúpidos carecem de 
toda e qualquer justificação e não se podem prever nem examinar. Assim, encontra-se 
mulher, à semelhança dos papas e ditadores, ao abrigo de ser desmascarada, graças a 
uma muralha protetora feita de pompa, palhaçada e mania dos segredos. Pode ampliar 
cada vez mais o seu poder e é precisamente por isso que garante ao homem, e longo 
prazo,a satisfação das suas necessidades religiosas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ATOS DE AMESTRAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Para que o homem no seu prazer pela escravidão se submeta de fato à mulher e 
não, porventura, a outros homens, a determinada espécie de animais ou a um dos 
citados sistemas, ela preparou para a vida dele uma série de atos de amestração que 
cedo lhe começa a ensinar. Resulta a seu favor que é precisamente nessa altura que 
ele está mais dependente dela, é enquanto criança que ele mais facilmente se deixa 
domar. E, por seleção natural, sucede que as mulheres que mais estão para domar o 
homem – as outras, aliás, que não se podem reproduzir: azar delas!... 
Bastaria o fato de o homem, desde início, estar habituado a ter uma mulher à sua 
volta, a sentir como “normal” a sua presença e como “anormal” a sua ausência, para 
mais tarde o tornar, de certo modo, dependência dela. Esta dependência, porém, não 
seria marcante, pois uma vida sem mulher equivaleria nesse caso tão somente a uma 
mudança de ambiente. Quem se criou na montanha e mais tarde vem habitar na 
planície terá provavelmente saudades da montanha, mas só por isso não voltará para 
lá. Há coisas mais importantes. 
 34 
Não seria também de interesse para a mulher criar no homem apenas uma saudade 
romântica e secundária, espécie de nostalgia, que só é sentida e à distância, e não leva 
a nenhumas conseqüências. Para ela é importante educar o homem diretamente para 
os frutos desse trabalho. Sendo assim, ela procurará em primeiro lugar condicionar 
nele uma série de reflexos, que o motivem à produção de todos os valores materiais 
de que ela precisa. E consegue-o, domando-o desde o primeiro ano, segundo a sua 
própria escala de valores. Isso leva o homem a equiparar, por fim, o seu valor à 
utilidade que tem para ela e a sentir-se feliz unicamente quando é valioso para ela, 
quer dizer, quando produz algo a que ela dá valor. 
A mulher em si torna-se para ele uma espécie de escala através da qual pode ler a 
cada momento o valor ou desvalor de determinada atividade. E quando faz algo que, 
segundo essa escala, não tem qualquer valor – como, por exemplo, jogar futebol – 
procurará compensar essa deficiência tão depressa quanto possível por atividade 
incrementada num dos campos de ação abrangidos pela escala (é por essa razão que 
os jogos de futebol e outras manifestações esportivas são de bom grado toleradas 
pelas mulheres até um certo ponto). 
De todos os métodos de amestração de que a mulher se serve para a educação do 
homem, o que mostra ser mais útil é o do elogio: é um método com que se pode 
começar muito cedo e que conserva até os últimos dias a sua crescente eficácia (ao 
contrário, por exemplo, da amestração pelo sexo que só é praticável dentro de um 
curto período). O método do elogio é tão eficiente que, devidamente doseado, até 
permite prescindir do seu oposto, a censura: alguém que esteja habituado ao elogio, 
sentir-se-á, sem ele com se tivesse sido censurado. 
A amestração pelo elogio tem, entre outras, as seguintes vantagens: torna o 
elogiado dependente (para que o elogio tenha valor tem de provir de alguém superior, 
o elogiado elevará pois o elogiador a um nível elevado); aumenta o seu rendimento (é 
conveniente o elogio não ser conferido sempre pelo mesmo resultado do trabalho, 
mas sim por um resultado sempre superior). 
Logo que um bebê é elogiado pela primeira vez por não ter feito as suas 
necessidades na cama mas no bacio, ou quando ele reconhece, num sorriso benévolo 
ou nalguma daquelas conhecidas locuções entre alegres e idiotas, um elogio por ter 
bebido o biberão até o fim, entra no círculo diabólico. Para voltar a beneficiar 
daquele elogio que tão bem lhe soube, procurará na primeira oportunidade repetir 
precisamente aquilo que provocou essa sensação. Se um dia falta o elogio, ele sente-
se infeliz e fará tudo em que veja a mínima hipótese de obter de novo aquela 
felicidade em que se viciou. 
Evidentemente que um bebê também se encontra à mercê de atos de amestração. 
Durante os dois primeiros anos de vida, a mulher mal estabelece qualquer diferença 
entre os seus filhos dos dois sexos. Mas a amestração termina, no caso das meninas, 
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mal aprendem as regras de higiene. Os caminhos separam-se e quanto mais progride 
na idade mais a moça é educada para exploradora e o rapaz, para explorado. 
Um meio importante são os brinquedos infantis. Fomentando primeiro o instinto 
de brincar das suas criancinhas e utilizando-o depois, a mulher, como por acaso, vai 
conduzindo-as na direção desejada. À menina dá bonecas e assessórios de bonecas: 
berços, caminhas, louças em miniatura; ao rapaz, tudo o que as meninas não recebem: 
caixas de construção, modelos de trens elétricos, carros de corrida, aviões. Desse 
modo a criança feminina tem muito cedo a oportunidade de se identificar com a mãe, 
de aprender o papel da mulher. Aplica os seus sistemas de amestração nas bonecas, 
elogia e censura, tal como é elogiada e censurada, aprende brincando as regras 
básicas da condução dos seres humanos. E como também a menina não pode 
prescindir de elogio, só o recebendo, no entanto, pela sua identificação com o papel 
de mulher, mais tarde não quererá ser senão “feminina”. A instância decisiva para ela 
serão sempre mulheres, nunca homens, porque só as mulheres podem avaliar como 
ela desempenha bem esse papel (aos homens ensina-se que o papel da mulher é 
inferior, por isso não interessam como elogiadores). 
A criança masculina é aplaudida por tudo menos pelo jogo com seres humanos em 
miniatura. Constrói modelos de represas, pontes, canais, desmancha, por curiosidade, 
automóveis de brincar, dá tiros com pistolas de mentirinha e exercita-se em tudo o 
que mais tarde virá a precisar para sustento da mulher. Quando o rapaz chega à idade 
escolar já conhece as leis básicas da mecânica, da biologia, da eletrotécnica. Por 
experiência própria, sabe construir cabanas com tábuas e defendê-las em brincadeira 
de guerra. Quanto mais iniciativa revelar, mais seguramente colherá elogios. É que a 
mulher está interessada em que ele, dentro de pouco tempo, saiba mais do que ela – 
ela própria mal se poderia manter viva com os conhecimentos que possui, num 
mundo sem homens – e que ele se torne completamente independente dela em tudo o 
que se referir ao trabalho. É certo que o homem, para ela, não é mais que uma 
máquina, mas não uma máquina vulgar: uma dessas teria que ser manobrada por ela 
convenientemente ou teria, pelo menos, que ser programada. Se uma mulher soubesse 
o que isso significa, passaria a designá-lo com uma espécie de autômato provido de 
consciência, apto a programar-se a si mesmo (e, portanto, a desenvolver-se 
progressivamente) e a adaptar-se de maneira ideal a cada nova situação com um novo 
programa (também os sábios se dedicam ao desenvolvimento de tais autômatos que 
para eles trabalharem, decidem e pensam e põem à disposição daqueles os frutos da 
sua atividade – evidentemente que se trata de autômatos sem vida). 
Assim tornou-se o homem a tal ponto viciado no elogio, mesmo antes de ter 
podido decidir-se independentemente por um outro modo de vida, que só se sente 
bem exercendo aquelas atividades pelas quais é elogiado por alguém. E como está 
viciado precisará cada vez mais de aplauso e para isso terá de realizar feitos cada vez 
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maiores, sempre de acordo com os objetivos das mulheres. Claro que, em princípio, o 
elogio também poderia ser feito por um homem, mas os homens – precisamente por 
esses motivos – estão permanentemente

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