Buscar

As Políticas Brasileiras de Seguridade Social: previdência social - Maria do Socorro Reis Cabral

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Introdução
1. Bases históricas da Seguridade Social
2 . A Previdência Social passo a passo
3. A Previdência Social na lógica da Seguridaoe
4 . R eforma Previoenciária e neoliberalismo 
A ouem interessa a Reforma P revioenciária.
Referências bibliográficas
wr.ra-CA ICC.U
1 •' ano&çâss
A gênese e a expansão da Seguridade Social no Brasil e no mundo, no âmbito 
do sistema capitalista, estão lntlmamente relacionadas com o processo dè 
acumulação e sua forma de organizar o trabalho, com a capacidade de luta.e 
resistência dos trabalhadores e com a natureza do Estado.
Qualquer exame da política econômica e da política social deve estar 
fundamentado no desenvolvimento contraditório da história. Em nível, 
.lógico, tal exame mostra as vlnçulações dessas políticas com a acumula­
ção capitalista. Em nível histórico, consiste em respostas às necessida­
des sociais, satisfazendo-as ou não. fbra dal. resta a Ilusão. (Vieira. 
1992: 15)
Portanto, a Previdência Socla], como uma das políticas da Seguridade Social 
é expressão das suas bases sociais e produtivas.
0 O objetivo deste trabalho i situar a trajetória da Previdência Social no 
Brasil e suas determinações hlstórlco-conjunturals. Nesse sentido, serâ 
Inevitável a abordagem de alguns conceitos cuja apreensão se deu na 
análise de cada uma das .etapas constitutivas do processo de 
estruturação dessa Política Social, estabelecendo suas relações com a 
Seguridade Social.
1. Bases históricas da S eguridade Social
0 grande marco inicial do Seguro Social com caráter compulsório, e alguma 
abrangêncla.tem como enaô""fiístõricò o perfcdo~àe consolidação da Ufivulti* 
çào Industrial alemã e o processo de lutas operárias que se travava naquele 
país, sob a dlreçáo<do Partido Social Democrata. Em 1871, Bismarck envia 
ao Parlamento um projeto de lei que institui o seguro-acldente obrigatório, po­
rém, é nos marcos do chamado ciclo de ouro do capitalismo avançado - cal­
cado na teorlaTmervencionlsta^eTíeyneif e nas propostas formulã3as~poF
Wliliam Beveridgc, deputado Uberal Inglês, em 1942, que o sistema de segu­
rança social passa a s e estruturar como serviço público t ganha status de di­
reito social.
çhssârfo
Seguridade Social • 5 item a ca 
proteçio sódai con rtiu .dono Sdsií, 
pelas políticas de saúda, previdêreia 
e assistência divida acs indivíduos, 
decorrente do direito social 
e entendida como garantia 
d e proteçáo a ser assurída 
primordialmenre pelo c&ado, 
sob os princípios da universalidade, 
uniformidade, equidade 
e deseentralizaçáo.
Beverídge elabora sua proposta de_ Seguridade Social sob os princípios da 
universalidade, unificação dos sistemas e uniformidade das prestações - p rin ­
cípios que ainda hoje são consagrados.
Este sistema de seguridade se consolida como~üm~p'ãdfã'õ^ê~protêçãV^óclál' 
no pós-guerra, tomando-se hegemônico nas décadas de 50 e 60. consldera- 
; os anos dôUraSóS ao capitalismo, marcadas por altas taxas de cresclmen-
Previdénda Sodal - Na Brasil, foi 
m m o entendimento de sistemai ii 1
de proteção ao trabalhador e sua 
família, mantido pela contribuirão 
índividuãído trabalhadora de Loca 
sooedaae (tríplice comnbülçào), 
com caráter de fadisuibuiçaTde""* 
Ta garantia do"2Ttã3oT^
I
anotações
g lo s s á r l1
Seg uro S o c ia l • 0 Seguro Social’ 
baseado n a conW butividade regida 
üor cálculos atuariais, de modo que \ 
os benefícios guardam uma 
recip rod dsáe corri a contribuição 
efetuada. O ingresso nesta 
modalidade-de proteção baseía^e 
erm critérios previamente 
estóbeleddos por este tipo 
de contrates. As primeiras formas 
de Previdência Social foram 
/ortemente m arcadas pela lógica do • 
Seguro Soc ia l, com benefícios 
concedidos a s m prévia contribuição 
e relação-contratual semelhante 
•'a do seguro privado.
Estadcr tâe Bem-Estar Soda!
(ver: IV. 1 e 2 .3 ) • Refere-se á 
proposta.de intervenção estatal, 
dominante afpôs a Segunda Guerra 
Mundial, nera .países centrais, que 
garante * /sealização de políticas 
sociais im plem entadas pelo Estado 
na perspectiva de garantia 
de mlcrómos sócias relativos à 
Seguridade So c ia l, Educação e etc.
to econômico e prosperidade em âmbftò mundial. A partir dos anos 70, a cri-$ 
se no sistema capitalista, põe em questão esta proposta de Seguridade. ••*£
.a
A configuração dessa crise revela-se como fundamentalmente de corte estru-1 
tural, localizada ha incapacidade do capitalismo de manter altas taxas delu-l# IvS:' 
cro e de crescimento econômico. Tem-se como consequência um quadro eco- %;.V 
nômicô recessivo, que põe em questão as garantias sociais preconizadas pelo ' | | 
Estado de Bem-Estar Social. Nos grandes centros capitalistas a superação da j»; 
■crise é marcada pela busca de um novo padrão produtivo - de caráter flexível. f£. 
com forte emprego de terceirização, utilização de alta tecnologia é intensifica- 4'j 
ção do ritmo produtivo - aliado à adoção de metodologia de geíenciamento de f| 
mão-de-obra, que procura comprometer os trabalhadores com a lógica dò ça- 
pitai, convocando-os como colaboradores. Este novo padrão produtivo tem le- .fí
K'.
vado a sensível redução nos postos de trabalho, forip precarização, cresci­
mento do emprego informal e quebra das conquistas trabalhistas.
, , O mais brutal dos resultados dessas transformações é a expansão, sem 
precedentes na era modeimá, do desemprego estrutural, que atlnge' o' 
mundo em escala global. Pode-se dizer, de maneira sintética, que há 
uma processualidade contraditória que, de um lado reduz o operário . 
industrial e fabril e de outro aumenta o subproletariado, o trabalhador 
precário e o assalariamento no setor de serviços. Incorpora o trabalho | 
feminino e exclui os mais jovens e mais velhos. Há, portanto, um pro- 
cesso’de maior heterogeneização, fragmentação e complexiflcação da 
ciasse operária. (Antunes. 1995: 41-2)
Esta nova ordem se amplia em escala mundial, rompendo barreiras e empeci­
lhos à sua realização, exigindo assim um novo redimensionamento do papei ç . 
,do Estado como gestor de políticas sociais.^
jv Quais os principais elementos constitutivos da proposta de Seguridade 
Social forjada no pós-guerra?
P revidência Social passo a passo
Projeto S o c ie tá r io - Refere-se 
a projetos estratégicos, coletivos, 
voltados para o conjunto da 
sociedade, n a perspectiva de uma 
nov&t&rdem socbl, política 
e econòknica e que disputam 
a hegemonia.
\ A Lei Eloy Chaves, de 1923, é considerada o marco inicial da Previdência So- 
| ciai no Brasil e se efetivou no período histórico da Velha República, em uma 
j corijüntura de crise política em que o liberalismo das elites brasileiras está 
[ fortemente ameaçado. Para esta crise vão concorrer questões externas mais 
I amplas, cpm o final da Primeira Guerra Mundial, corn a assinatura do Trata- 
j do de Versalhes, que Invocava a necessidade de um corpo de medidas sociais 
no enfrentamento da questão social, e, a ainda, a vitória da Revolução Russa, 
descortinando um novo projeio societário. destacando a centraJldade e 0 
protagonismo do proletariado na sua construção. ' ..........
, Lei Eloy Chaves Institui um fundo especial de aposentadorias e pensões - 
çalxa de Aposentadorias e Pensões, as CAPs - parâ os trabalhadores em fer­
rovias. Posteriormente, a hei é ampliada pelo Decreto 5.L09/26, que estende 
|estas medidas aos marítimos e portuários, A-proposta previdenciárta de Eloy- 
ÍChaves não se dirige aos trabalhadores em geral, nem se referencia a um con­
ceito de cidadania, mas cria medidas de proteção para um grupo específico;
I tomando a empresa como unidade de cobertura. Propõe, ainda, benefícios 
f pecuniários de aposentadorias e pensões e prestações de sdrv^os médicos e 
farmacêuticos. As CAPs eram estruturadas'como
organizações (privadaii su- 
.'pérvisidnádas-pdo governo e- financiada pelos trabalhadores! paíronato /pela 
contribuição dos usuários da rede ferroviária, via impostos'. Esta legislação 
Inicialmente, restringe-se aos ferroviários; posteriormente, estende-se a ou­
tras categorias ligadas à Infra-estrutura de serviços públicos, refletindo as ca­
racterísticas do desenvolvimento capitalista do período, centrado em uma 
economia agro-exportadora, em que esses senhços são essenciais.
As bases do moderno sistema previdenciárlo brasileiro, que vige até 1966, têm 
seus pilares definidos no período Vargas, 1930-1945, e se constróem a partir do 
sistema proposto em 1923. O projeto previdenciárlo está articulado com um 
conjunto de medidas sociais e trabalhistas qut integram uma estratégia maior 
e pohtica estatal da proposta nacional desenvoIWmenüsta de Vargas. Do ponto 
de vista estou tural, está em construção um novo patamar da acumulação capita­
lista no país com base no processo de substituição das Importações, via instala- 
çao de um parque industrial e ação ativa do Estado na economia e no setor soci- 
l ai, redefinindo novas relações entoe este e a sociedade.
' A exPansâ0 previdenciária se deu. inicialmente. através da ampliação do nú­
mero de CAPs; posteriormen te, foram criados os rnstitutos de Aposentadoria' 
c Pensão, a partir de 1933. Seu perffl organizacional supera os limites da em­
presa como unidade estouturante, ao se constituir como autarquia pública, 
ainda que preservando a administração colegiada. Os IAPs possuem planos 
diferenciados de benefícios e serviços, sendo, os mais comuns, aposentadoria 
■ Pensões, auxílío-funeral e auxílio-doença. Inicialmente, foram benelíciadas as 
categorias ligadas à infra-estrutura de serviços públicos, e gradativamente fo­
ram incluídos outros setores, sendo o dos trabalhadores da mdustoia o úlú- 
mo a ser Instalado; em 1938.
p i Os governos da Velha República procuravam ignorar a questão social, dando 
ao seu enfrentamento um tratamento repressivo. Entretanto, os fatores exter­
nos e a própria condição objetiva de vida e trabalho no Brasil põe os trabalha­
dores em mpvünetito. É Importante destacar que as greves de 1917 e 1919 
cm São Paulo, colocam na ordem do dia a necessidade de cumprimento do 
Tratado cie Versalhes, do qual o BrasLi é signatário, e exigem medidas de pro- 
leção social.
anotações
glossário
Tratad o d e Versalhes -Tratado 
assinado, no armistído da par, entre 
a Alem anha e as potências aliadas e 
associadas,'em 28 dsjun ho de 
) 9 19. Dentre as suas déusulas 
firma se a necessidade de ''''edídaí 
de proteção.soda!.._
C ftíV -i-a-k-'
anotações
ikàfb
(UiV
!3i,V^0v" tí*v w» GtSMl 
/sií>C,Ut>" K aUí \ gK í é US* .
C 1; ' lA V - '- ' -'<' ^ ;
^ujUjiAiíA/tl&ÍA 'J
^H-fC _ tuüsrr&n*A' 0 $ ^ ' 
'•«Xjr>t*=t cM K r-'
I jAôdidrâb |5!uV«aAXb« )
íh pojAa. u-vtv ■*- -eü^t^-
O ê^SSA M Ív ...1/ M/VYU\
,yn - v^^vVji f
'■- <í.'V'vu- 0& v J í s v
CV w U f c - .
D $ 6 4 -• 3 )4;V.'W-<'X. P
c u * t e f i 4 ^ É>
| Ainda com Getúiio, temos uma tentativa não consolidada de reforma do siste- 
! ma prevldenciário, com um projeto de unificação da Previdência - a criaçãp 
do Instituto de Serviços Sociais (ISS). 0 debate sobre a Reforma da Previdên­
cia Social brasileira vai desaguar na Lei Orgânica da Previdência Social - a 
LOPS, de 1960. Este debate é caudatárío das posições Internacionais que’se 
formam, de um lado no âmbito da Organização Internacional do Trabalho,
OIT. e, de outro, das Idéias de Beverldge, que continham uma reformulação'|í 
da Previdência Social inglesa, com ênfase em uma concepção de política social Ç 
ancorada no; Estado, no pós-guerra. ' a ym, ir fS m fr *> j
r ^ í k - M i * . I
.N o período Juscelino (1956-19611,1 a tônica será a proposta'! 
desenvolvimentista, pela associação ao capital estrangeiro. Ao. final do seu 
mandato,; é japrovada e promulgada a Lei Orgânica da Previdência Social, .1?. 
após um longo período de debate. O texto aprovado, não incorpora a tese da f 
unificação; na realidade, foi uma uniformização de planos, permanecendo i ’í 
diversidade dos IAPs. Esta' legislação também não contemplou a transferência 
de Indenização do seguro-acldente para 0 controle dos IAPs. A Incorporação. 
dos trabalhadores rurais só vai ocorrer em 1963, com a criação do Estatuto: ■
, do Trabalhador Rural; No período 1960-1964, à Previdência Incorporam-se 
as reivindicações dos trabalhadores relativas à ampliação de benefícios, como- , 
a abolição da Idade mínima de 55 anos para aposentadoria e a afirmação dos: '
- - I 111 mi „ ‘ * * : __________ I I M-— ■ ■ ■ *-■— » ra o = » - " ' 'L . J l ' -.1-
1 35 anosae'~gerWço cõmõ~cHteHõ*Slco. Acrise econômica e a radicalização. ■' 
crescente, devido às exigências de reforma de base no período João Goulart, i 
vão resultar rio golpe militar de 1964, que lança 0 Brasil em um período auto- .• 
ritárlo, com fechamento político e forte intervenção nas organizações de traba- 
Ihadores, aléfn de depuração política nos IAPs.
J a K Ü U
Nesse períodp, 0 sistema prevldenciário brasileiro vai passar .por uma série 
de mudanças que alteram substanclalmente seu perfil, em um, contexto mar­
cado pela. construção de um novo padrão de acumulação em base 
monopolista, que redefine as relações Estado-sociedade. No que se refere á 
Previdência, é Importante ressaltar que esta cumprirá um papel Importante 
como polítlca.compensatória, ampliando programas assistenclals, numa con­
juntura de forte exclusão dos trabalhadores da cena política e de moderniza­
ção da máquina estatal para atender às exigências da nova ordem econômica.
■■ ' universalização, registramos, em 1971, a extensão da previdência aos trahslha " 
doresimrais; em l ^ . a^cSTgSraçaodos empregadosdomê5tÍc~ ~--. -"T7-~ 
compulsório; em 1973, a incorporação dos autônomos. CoiSc5M tãmí^T7~ 
institui-se ó amparoà veihicire aos inválidos e cria-se o s a i á r iõ ^ ^ ^ m r ^ —
anotecoer
F&fi - S í» .
0 atendimento aos benefícios e serviços na área rural ficou afeto ao Funrural ’
uma autarquia admlnistratlvamente desvinculada do Instituto Nacional de Se u'
ro Social flNSS). A proposta do Funrural não vai contar com rede própria ^ 
ministrar serviços e benefícios, mas se vale dos sindicatos rurais que r l c d ^
dotações m ensais. Esta proposta incide poli tiram ente sobre
m
/ifir-x
esses sindicatos ru­
rais. inchando-os de serviços e mantendo-os sob um controle oficial direto aT 
de forçar a vinculação dds trabalhadores aos sindicatos, num cenário em q 
organizações sindicais vão cumprir papel de coadjuvantes do Estado napfest^ 
ção de serviços sociais, em detrimento de sua capacidade de organização e luta
Em 1977, instituhse 0 Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social 
ÍSlnpas), Lei 6.434/77, composto, pelo Instituto Nacional de,Seguro
S.
Em 1966 é criado 0 Instituto Nacional de Previdência Social (INPSJ, com base na . 
unificação e,un3õrmtmção dos planos de benefícios e expulsão dos trabalhado­
res da gestão previdenciáfla. Na área cfãlisslstenclaníeidica teriSseumã orlentã- 
ção política dejcompra de serviços àrede privada, com ênfase na prática da me- : ; 
diclna curativa, promovendo um processo de aumento, crescente da 
lucratividade e|da capitalização do setor saúde. O INPS. em 1967, vai assumir 0 
seguro de acidente, apesar da resistência das seguradoras. Na direção da
• (INSS), Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência So I 
(INAMPS), Instituto de Administração Financeira da Previdência Social 
(IAPAS), alem da empresa de processamento de dados da Previdência Social 
Dataprev Compondo também 0 Sistema, tem-se a Legião Brasileira de As I - 
têncla Social (LBA), a Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FunabeÜd 
e a Centrai de Medicamentos (Ceme).-Esta Reforma Administrativa
vaí 
aprofundar, na área da assistência médica, o modelo privatlvlsta, tendo o Es 
tado como financiador, via Previdência Social. Nesta conjuntura identlfica-se J 
agravamento da estabilidade econômica marcada pela falência do chamad 
milagre brasileiro e pelas crises internacionais do petróleo, com consequente 
aceleração do processo inflacionário, explosão da dívida externa, recessão 
desemprego e aumetito crescente da pobreza. Diante da crise vêm à tona tü’ 
debiiidades do Caixa da Previdência, uma vez que suas receitas decorrem5 
fundamentalmente, da folha de salário e registra-se, ainda, o crescimento dos 
gastos com a assistência médica, fruto do aumento da demanda deste serviço 
e do financiamento público do setor privado de saúde, que se capitaliza e se 
expande. O enfrentamento da crise financeira da Previdência vai se dar via aiT 
mento das alíquotas de contribuição - 10% para os empregadores, de 8»/ Z 
10% para os empregados, aumento na taxação de alguns produtos’iniporta 
dos, além de autorização para emissão de Obrigações Rèajustávels do Tesou- 
ro Nacional (OTNs), à rede bancária, referenciadas ao valor do débit 
prevldenciário. 0
Que determinantes hístórico-conjunturals configuram o projeto 
prevldenciário do período Vargas e quais as características centrais des­
te projeto?
C fe -
anotações
3 . A Previdência .Social na lócica da seguridade
No íínaJ dos anos 70. novos sujeitos sociais passam a ter expressão no cenário 
político que se ejqjressam através da organização sindicai e popular, presslpnan- 
do o Estado por atendimento às suas necessidades. Configura-se aí um processo 
de resistência e luta que vai culminar com a criação do Partido dos Trabalhado­
res. ern 1980 e da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, em 1985. Também é 
deste período a fundação da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensio­
nistas [Cobap], que vai cumprir um papel importante no debate previdenciário 
brasileiro. Os trabalhadores e aposentados se fazem presentes na Assembléia 
Constituinte, via Plenária de Participação Popular Pró-constituinte. apresentan­
do suas propostas ao Parlamento. No debate constitucional assume importância 
a proposta de Reforma Sanitária discutida e formulada no âmbito do movimento 
popular de saúde e no movimento sanitarísta. No debate sobre aAssistêncla vão 
incidir as análises e propostas formuladas pela categoria dos assistentes sociais 
nos seus órgãos de representação.
de garantir maior efi-ícõrrênda do princípio de descentralização, na tentativa 
cácla dç>s serviços, a União, o Distrito Federal.' os Estados e municípios con­
tribuem dlretamenté: Também foram introduzidas moiifícações nos planos 
de benefícios, incorporando novos direitos e recompondo valores. Dentre as 
alterações, destacamos: lícença-matemidade de 120 dias, extensiva aos rurais 
,e domésticos: direito à pensão para maridos e companheiros; redução do li­
mite de Idade - 60 anos para homens e 55 para mulheres: aposentadoria pro­
porcional para as mulheres aos 25 anos de-serviço: dtrelto de contribuição in­
dependente do exercício de atividade; recomposição das aposentadorias e 
pensões pelo número de salários mínimos da época, da concessão; 
integralldade do 13’ salário, e correção das últimas 36 contribuições para 
efeito de cálculo do salário de beneficio.
l i
glossário
R eg im e d e s im p le s repartição - 
é baseado num contrato de 
gerações, em q u e os trabalhadores 
' das gerações atuais, em atividade, 
garantem os benefícios das gerações 
passadas. N esse sentido, a relação 
• ativo/ina-tivo ^‘fa to rp m m tâ iã r 
d e equilíbrio do sistema.
(ã Constituição de'1988TntroHuz, rio sêü’’Àrtigo' 19í; o eóhcéltó de Seguridade 
Social, compreendido como um conjunto Integrado de Iniciativas dos poderes 
públicos e da sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à Saúde, à 
Assistência e à Previdência Social. De acordo com o parágrafo único deste 
mesmo artigo,
compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade 
com base nos objetivos de: universalidade de cobertura e do atendimen­
to; uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações 
urbanas e rurais; seletividade e distribuição das prestações dos benefí­
cios e serviços: irredutibilldade do valor dos benefícios; equidade das 
formas de participação no custeio; diversidade dâbase de financiamen­
to; caráter democrático e descentralização da gestão administrativa com , 
participação da comunidade, em especial, de trabalhadores, empresári­
os e aposentados. É / \
DLferentemente do período autoritário, Impõe-se uma compreensão articulada 
das áreas da saúde, da.previdêncla social e da assistência social regidas sob o 
princípio da universalização dos direitos e da eqüLdade social estendendo-as 
não sõ aos trabalhadores inseridos no mercado formal, mas aos desemprega- , 
dos. às donas de casa, aos deficientes; aos Idosos e outros. Contrapõe-se, as- ■ 
sim. à cidadania regulada o direito universal. A regra constitucional reafirma • 
o sistema de repartição simples parã a Seguridade, sendo esta financiada 
pela folha de salários, pela contribuição sobre o lucro líquido e o faturamento 
da empresa - Contribuição para o Financiamento da Seguridade (Cofins), inl- 
ciaimente. chamado Finsocial - e, também, por percentual sobre os concursos 
vde loterias, cabendo ao Estado a responsabilidade pela complementação em 
caso de déficit no caixa da Seguridade Social, com os recursos fiscais. Em de-
Entende-se que as alterações mais significativas dizem respeito ao conceito de 
Seguridade Social tomado do ponto de vista de direito do cidadão e de dever 
do Estado. Reconhece-se, assim, a Seguridade como um direito inerente à 
. ; condição.de cidadania. Outros dispositivos que merecem destaque são: a re­
composição dos valores de aposentadorias e pensões, ante os efeitos de su­
cessivos penodos de arrocho a que foram submetidos os benefícios; além do 
tratamente-éqüànime dado aos trabalhadores rurais. Esses direitos foram re­
gulamentados pelas Leis 8.212 e 8.213 de 24.07.91, respecUvamente, Plano 
de-Benefícios e Plano de Custeio dá Previdência Social. É importante frisar 
que esta regulamentação ocorre no período do governo Collor, após o veto da 
regulamentação inicial proposta pelo governo Sarney. A proposta do governo 
Collor (1989-1992) embute restrições aos direitos incorporados à Constitui­
ção quando estabelece o aumento gradativo da carência previdencíãria para 
15 anos e desvincula o reajuste dos beneficios ao salário mínimo, esvaziando 
a recomposição dos benefícios instituídos no documento constitucional.
Embora hala conceltualmente uma unidade entre as três áreas que compõem 
a Seguridade Social, a política traçada para cada uma delas, a sua adminis- 
lB £ 3 fl^ * ee« fae -té« ^ e~ d ^ ^ marieíra lragmeriTS5a. contrariando os preZ"*1 
supostos doutrinários. É emblemático o fato de que em 1993 o repasse de 
verbas para a saúde tenha sido suspenso sob a alegação da necessidade de 
garantir a continuidade de pagamento das aposentadorias e pensões 
previdenciárlas. O cumprimento do princípio da descentralização vem se con­
cretizando princlpaimente na área da saúde, observando-se que os- repasses 
da União têm se subordinado às Imposições do programa de estabilização 
econômica e aos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI), resul- 
tando redução significativa nos percentuais de repasse a cada ano.
, A conjuntura dos anos 80 é marcada pela ascensão das lutas populares e sin- 
..diçais e pela realização, do Congresso Constituinte, onde o caráter conserva^
' dor das elites se expressa - via articulação do Centrão 
Pedir a incorporação de alguns direitos sociais.
t t O - í 4 r 1 C ; . -1
- sem. entretanto, im-
í 4 - f ^ O ^ y y 0 j y < r 
C c o iO \ -
anotações
r . : 1
O quadro inflacionário e recessivo
vigente nos anos 80 comprometeu o crescí-’^ , 
mento econômico., com repercussões no nível-de emprego e de salários, ;f | 
precarüançlo as condições de vida e trabalho. A crise brasileira está inserida.^ 
na crise mais global do capitalismo e esta.inserção repercute na Seguridade 
Social com a redução em sua base arrecadadora, decorrente da diminuição 
de postos.de trabalho e sua precarização, que aumenta, também, a pressão 
sobre a Previdência, com o crescimento da demanda por benefícios e serviços, 
além de'incidir na alteração do caráter redlstrlbutivo da seguridade. Alia-se a ^ 
esse fato á fragilidade da máquina arrecadadora da Previdência, registrando- 
se nessa década um índice de sonegação estimado em 40% o que evidencia 
complacência com fraudadores e sonegadores.
Em julho de 1991, o govemo Coilor apresenta à sociedade uma ampla pro­
posta de qeforma que ficou conhecida como Projeto, RossI.- nòpe do enião 
presideáte do INSS, vinculado à iniciativa privada. A principal característica 
deste projeto é a transferência para o setor privado das faixas salariais acima 
dè cincti-'s'alários'mínimos, bem como dq seguro-qcidente piara o âmbito pri­
vado. Estajproposta tem como pano de fundo a transferência para o setor pri­
vado das faixas salariais mais rentáveis, ficando a Previdência Pública restrita 
a uma previdência básica. A Reforma se Justificaria pela leitura de que a Pre- 
vidêncla Publica enfrentaria uma crise de grandes proporções que causaria ^
um coiapsb no sistema e não garantiría o cumprimento dos compromissos 
com os benefícios em manutenção.
Destaca-se, ainda, no período, as mobilizações dos movimentos de aposenta- 1 
dos, "que se iniciam com a reivindicação do reajuste de 147.06% retroativo a 
setembro/91, Este movimento de aposentados, num primeiro momento, dá-se ■ 
através de ações judiciais, seguidas de passeatas, atos públicos e caravanas a 
Brasília.! Mas, além disso, ocorrem ocupações em prédios do INSS e em agên­
cias bancárias de várias partes do País.
O debate previdenciárlo está lançado.^De um lado, as alternativas que redu­
zem a Pfevidêncla Pública em favor da ampliação do mercado e, de outro, as 
que afirmam o direlkfde proteção ao trabalho como responsabilidade do Es- ; 
tado. ^ íesse sentido, a Centrai Única'dos Trabalhadores apresenta, inicial- ? 
mente, Í3;pontos fundamentais para o enfrentamento da crise e, posterior- ■ 
mente, entrega um projeto mais global de Reforma Previdenclária, para 
discussão pela sociedade, canforme'dbcüm'ent'o da Central Única dos Traba­
lhadores, de maio de 1995.
O governo Coilor levou a um crescente processo de insatisfação, que culmina 
com grandes mobilizações em praças públicas em todo o Brasil e, finalmente, 
com o seu Jmpeachment pelo Congresso Nacional, assumindo o vice-presiden-. 
te Itamar Franco. i
fis eleições presidenciais de 1994 ocorrem num clima de forte polarização de 
projetos políticos divergentes - Lula X FHC -, tendo sido vencedor o projeto ' ahoísl! ° ^ 
de perfil neoliberal, capitaneado pelas elites burguesas.
Qual o significado de a Previdência Social constituir-se como um dos 
. * componentes da Seguridade Social?
4. Reforma previoenciária e neouberausmo
No govemo FHC, as medidas neoliberals tomam corpo ante a crise brasileira 
e se assentam num programa de estabilização econômica com a adoção de 
uma nova moeda, de modo a romper com a cultura inflacionária. A essa me­
dida .assõciam-se um programa de abertura econômica e exigências de medi­
das estruturais para garantir maior fôlego ao referido prográma. Esse ajuste 
vai colocar na ordem do dia a necessidade de reformas estruturais que inte­
grem o Brasil à nova ordem econômica globalizada, exigindo ampla abertura' 
da economia e dçsregulamentação dp.mercadoídelcámbjoJp de capitajs, favp.- , 
recendo as importações e a entrada do capital estrangeiro, notadamente o vol-i 
tado para a especulação.
/ Para que a reforma capitalista brasileira se flrmàsse, fot necessário combinar­
as medidas neoliberals com a reestruturação produtiva, base material desse: 
Ideirio/No plano internacional, a experiência capitalista vem substituindo o 
padrão de acumulação — taylorista/fordista — por formas produtivas 
flexibilizadas e desregulamentadas. Concomitantemente, vem ocorrendo o 
desmonte do Estado de Bem-Estar Social com a adoção de medidas 
prívattzantes e de destruição das políticas públicas, e o redimensionamento 
do Estado. Esse quadro intensificou a redução dos postos de trabalho, a 
precarização do trabalho e o aumento considerável da desigualdade.
4 0 mercado de trabalho, por exemplo, passa por uma radical
reestruturação. Diante da forte volatilidade do mercado, do aumento da 
competição e do estreitamento das margens d.e lucro, os patrões tira­
ram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quanti­
dade de mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) ' 
para Impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis. (Harvey, 
1992: 143)
/Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, os 
setores que mais reduziram postos de trabalho, em 1999, foram as Indústrias 
do fumo, metalurgia, material elétrico e de ^ comunicações, material de trans­
porte e madeira. Esses setores registraram, também, maior redução da pro- 
duçâo verlficando:se «ma significativa retração dos pssiiMLds. trat>jdho_na- 
área Industrial da ordem de 7.3%, destacando-se que em São Paulo e Minas ’ 
Gerais fci, respectivamente, de 8% e 9.3%. Esses estudos revelam uma queda
f??Ü
A
.
ESüSsmaaseiesvMs
yatvioí#iú»J22í.
anotações
expressiva da massa salarial na indústria - total de salários pagos - da ordem 
de 10%, em Minas e São Paulo, ocorreram os índices mais elevados: de 11% e g 
11 4%, conforme publicação no Jornal Folha de São Paulo, em 19.02.00. J i
/ . H'■( A Previdência também foi afetada pela reforma do aparelho do Estado (Emenda ® |' 
Constitucional n" 19). com a Incorporação dos parâmetros aplicados ao proces- | | ? 
so de reestruturação. Assim, as agências executivas, que são o novo desenho de':f 
autarquias públicas, passam a adotar o modelo flexibilizado, com amplo empre- ^ 
go de terceirização e contratação de mão-de-obra precária, além de imprimirem 
ao seu gerenciamento um tipo de metodologia de controle de qualidade com fixa- |" 
ção de contratos de gestão. São, ainda, características desse novo padrão |
• gerencial do Estado a intensificação do ritmo produtivo, a desregulamentação, a |
^ DoUvalência no exercício das atividades e a redução do quadro de pessoal, acar- };■
4 ■retando significativas mudanças no mundo do trabalho público.
glossário
Regime de capitalização - 
Baseada n a aplicação financeira 
das contribuições mensais, cujos 
benefícios serão pagos pela 
valoriraç3o desses investimentos. 
. Em decorrência das oscilações 
de m ercada , tem-se instituído 
sistema de resseguro para garantir 
os benefícios futuros, exígindo-se, 
assim, d o s seguros, uma função 
macroeconôm ica de geração 
d e poupança interna.
Segundo o Sindicato dos .Trab.albadares em Saúde e Previdência (Sinprev - “ 
SP), a Reforma Administrativa, na'que diz respeito às regras relativas ào fun­
cionário público, rompeu direitos'históricos Já conquistados e inscritos na 
Constituição e no Regime Jurídico Único, tais como: perda da estabilidade, 
quebra do Regime Jurídico Único com o estabelecimento de Regime Celetista 
para., os trabalhadores públicos .em geral, e manutenção do Regime 
Estatutário exclusivamentc. para as chamadas atividades essenciais do Esta­
do. Foram alteradas, ainda, as regras previdenclárias para os servidores pú­
blicos pelo estabelecimento do critério de tempo de contribuição e limite de 
idade. O receio, ante às novas regras, antecipou a aposentadoriademÜhares 
de servidores que engrossaram o contingente de inativos! Hoje, na base
doj 
Staprev - SÉ o quàntltâüvo de inativos está igualado ao contingente de ativo^i 
. acompanhando a tendência que vem se registrando em todo o Brasil. / '
" ■ -- , - -..................... ........... , «
A Reforma Previdencfária vai se constituindo em peça importante do_a[uste_ 
neoliberal, na. medida em quê-se reduzem as faixas de previdência ptjíllicã.e 
se estimula a busca da previdência complementar sob o slstenia ‘di/capltqK- 
^ \ o mo mecanismo de captação de poupança, necessário ao hnancia- 
mentO-Go crescimento econômiçp.
! Í
A estratégia Inicial do governo, na aprovação das medidas estruturais no Con- 4 
gresso Nacional, define como prioritária a aprovação das medidas relativas à 
ordem social. Deste modo, a Reforma Previdendária e do Aparelho do Estado 
seriam as primeiras. Diante da grande resistência dos movimentos de aposen­
tados e trabalhadores e. no âmbito do Congresso, na própria base de susten­
tação do governo, este se viu obrigado a reorientar sua estratégia de aprova­
ção, submetendo, ínicíalmente, as medidas relativas à ordem econômica — 
flexibilização do monopólio estatal de petróleo, privatização das telecomunica­
ções e abertura da navegação de cabotagem âs empresas estrangeiras.
A proposta sobre a Reforma do Estado direciona o redimensionamento de suas 
funções públicas, entendendo que o papel de promotor do desenvolvimento e 
gestor dás políticas sociais, até então vigentes, era uma decorrência do modelo 
de substituição das importações. Hoje, o novo contexto, seguindo a ótica 
neoliberal. exige um Estado reduzido que garanta a realização do mercado,
' centrando sua funções em segurança, fiscalização e arrecadação de impostos. .
Dadas as dificuldades de garantir a aprovação da Reforma Previdendária, o go­
verno se viu obrigado a estabelecer um processo de negociação no Congresso Na­
cional que o obrigou a recuar em alguns pontoyA Reforma aprovada não se con­
solida no patamar pretendido inlcialmente, tanto que o Instituto rir. Pesquisa 
Econômica AplícadaJIPEA) lança um novo estudo, coordenado por Otto Lara 
. Rezende, propondo novas alterações no corpo da Previdência Pública, o que 
aprofunda ainda mais o'corte privatizante da Reforma Previdendária.
Aaprovação da Reforma Previdendária não alterou o capítulo relativo à concep­
ção e aos princípios dá Seguridade, porém, os negou, quando reduziu a Previ- 
■ déncia Pública pratícamente a Instrumento de política econômica, em detrimen­
to do seu caráter de distribuição de renda. Esta proposta afirma a Previdência 
como elemento importante na solução da crise da acumulação capitalista brasi­
leira, ao mesmo tempo que releva o seu significado, pela desconsideração frènte 
as questões sociais colocadas pelo ajuste da economia e da reestruturação pro­
dutiva. Este padrão de Previdência contrapõe-se a uma Seguridade Social que 
radicalize seu caráter redistributivo e equãnime. fundado num novo tipo de Soli­
dariedade e afinado com os reais interesses da classe trabalhadora..
O projeto de Reforma Previdendária proposto pelo governo Fernando 
íjenriquç tem como justificativa:
a alegação de uma-profunda crise na Previdência Pública, cuja dimen­
são mais grave se assenta num déficit de caixa que ameaça a própria vi­
abilidade financeira do sistema, fruto de um baixo coeficiente de depen­
dência - relação ativo/inatívo. Como tática de marketing, têm sido 
alardeados critérios de Justiça social na Previdência, sob a alegação da 
existência de privilégios em algumas categorias em detrimento da maio­
ria, de baixos salários. (Cabral, 1995)
I As Justificativas oficiais da reforma previdendária ■" ___-
\Q chclt Previdenclárlo________ __________________— ”
0 gOTcinu lciVi ãlc^do como razão para os ajustes estruturais na Previdência 
o déficit de caixa. É preciso dizer que a União, os Estados e os municípios 
.."Í?..f!?R?.* 1ll™:..sj5f.t™.?JíÇ-^Ç9-^'.-ã9ãS.pbrjgações.preyidenciárias. A dívida es— 
tatai previdendária gerou uma crise política que culminou com a demissão do 
então Ministro da Previdência. Hélio Beltrão, em 1983. Por Outro lado. a sone­
gação do setor privado tem alimentado esse déficit. Até 1977. a arrecadação
êHPJC-.b.v l-?c^
íocjí.
anofjiçòaj
,V -
V .\ ’■
previdencíáría previa trípLice contribuição: Estado, empregadores e emprega­
dos, dispositivo nunca cumprido; ao contrário, a União sempre retirou recur­
sos do Fundo ;Previden.ciár-io acumulando uma dívida colossal. Fosteriorraen- 
te, a lógica.*trípartite foi substituída pelo entendimento de que caberia à União 
a responsabilidade de custear apenas os-gastos operacionais de pessoai e “ad­
ministrativos - despesa esta nunca assumida. Alérn disso, o Tesouro Nacional 
devería repassar as receitas arrecadadas, decorrentes das contribuições sobie 
o lucro e o faturamento das empresas, para o Fundo de Seguridade Social. 
Em 1995;; a CUT! denunciou a retenção desses repasses da ordem de 
R$14,160 bilhões, àe lím total arrecadado de R$15,219 bilhões.
l i
Com a criàção do Fundo Social de Emergência, em 199f; ,permlttu-se que 
20% de todos os impostos e contribuições sociais pudesserâ^ser gastos livre­
mente, independentemente de sua vinculação. Na renovação do referido Fun­
do, em 1997, ele passa a se chamar Fundo de Estabilidade Fiscal, tendo sido 
mantida a'garantía do governo de continuar confiscando contribuições desti­
nadas à-Seguridade. Assim, temos em 1997 o confisco de mais de R$ 2,8 bi­
lhões e.:em 1998 - situação até 30 de novembro de R$ 3,'8 bilhões, confor­
me documento elaborado pela deputada Jandira Feghali, publicado pelo 
Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados, em 1999.
Por ocasião da reformulação da proposta orçamentária de 1999, requerida 
por força do acordo com o Fundo Monetário Internacional' (FMI), há u.m au- 
mento de|9,3% nas receitas relativas às contribuições sociais, enquanto'as 
despesas contêm apenas o incremento de 0,4%. A análise comparativa entre a 
proposta inicial e a reformulação ressalta um aumento significativo de recur­
sos para despesas com juros, encargos e amortização da divida- pública da or­
dem de 52,35%. Mais uma vez, os recursos da Seguridade; Social sçrão con­
fiscados pelo governo, sustentando o Tesouro em sua ciranda financeira de 
juros. Portanto, é falacioso citar déficit na Previdência e, mais grave, reduzir e
cortar Híreltos em nome do equilíbrio financeiro.
“ 1 ■ " -
q
Relação ativo-ínatívo . v -
Outro argumento que tem sido empregado para justificar a inviabilidade fi­
nanceira da Previdência Social é o elevado coeficiente de dependência, expres- , 
são da relação ativo-inatlvo, calculado oficialmente na ordem de 2:1. Estudos 
realizados pelo professor Décio Munhoz apontam equívocos de ordem 
metodológica na construção deste coeficiente, e de utilização de padrões de 
análise inadequados ao quadro brasileiro, uma vez que são emprestados de 
realidades com padrões econômicos muito distintos da situação brasileira. O " 
recálculo da relação ativo-inativo realizado pelo professor Munhoz é da ordem 
de 4:1, significando o dobro da relação apresentada pelo governo.
í ! •
,.s ç.'J.-C Sf
Carga de Contribuição Social das Empresas
D governo aponta como outra justificativa para a Reforma Previdencíária a ex­
cessiva carga de contribuições sociais das empresas, que repercutem na 
elavação do custo do produto e na competitividade brasileira, em um merca­
do altamente globalizado. O percentual relativo às contribuições 
previdenciárlas é de 23,3%, sendo que apenas 15% deste montante é efetiva- 
mente destinado a Previdência, índice compatível com os de contribuição soci­
al praticado em outros países, o que contraria a afirmativa oficial.
O Corpo da Reforma
O projeto de Reforma Previdencíáría foi aprovado depois de um longo período 
de tramitação — quase quatro anos — consolidando-se na Emenda Constitucio­
nal n 20. Para enfrentar
essa morosidade a tática do governo foi utilizar a le­
gislação Infra-constitucional, aprovando no Congresso Nacional a Lei n° 
9.032/96, que altera a Legislação de Benefícios e Custeio, no que nâo cdllde 
com a Constituição em vigor. As alterações de maior impacto dizem respeito à 
base de cálculo para o benefício acldentário, submetendo-o à média das ulti- 
mas 36 contribuições, além de unificar os percentuais do .valor do auxillo-acL 
dente em um valor abaixo do limite máximo. Na situação anterior, o referido 
benefício era calculado com base no salário do dia do acidente. Outra modifi­
cação efetuada na referida Lei e também de grande impacto, diz respeito à 
aposentadoria especial, restringindo a concessão do benefício ã exposição do 
trabalhador a agentes tóxicos, químicos, fisiológicos ou biológicos, desconhe­
cendo os efeitos danosos do trabalho penoso e sujeito a desgaste físico.
’ A Reforma néo altera o corpo de princípios assentados no Artigo 194 da 
Constituição, mas, na realidade, ao submeter o direito - antes assegurado 
/ pelo Estado - ao equilíbrio das contas da Previdência, subverte o direito soct- 
W firmado constltucionalmente. Outra alteração relevante foi a substituição 
do conceito de tempo de serviço por tempo de contribuição. Esta alteração as­
sume maior gravidade quando, em abril de 1999, registrou-se um total de 
18,3 milhões de assalariados celetistas sujeitos ao Regime de Previdência, 
sendo 15.7 milhões de trabalhadores free-lance. 8,3 milhões de assalariados 
sem registro em carteira, 7 milhões de autônomos e de 10.4 milhões de de­
sempregados. segundo dados da Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia 
por Tempo de Serviço e Informações à Previdência Social [GF1PJ, publicados 
no Jornal Folha de São Paulo, em 4 de Julho de 1999. Esses dados expressam 
que uma parcela ponderável da população, segundo o novo conceito, não será 
abrangida pela Previdência Social.
O Sistema-Previdenciárto brasileiro é constituído por um regime básico, com 
teto máximo de RS 1.200.00: por regimes especiais e por regimes comple­
mentares, sendo este último baseado num sistema de captação. Dentre os 
dispositivos aprovados no texto da Reforma, destacamos-a extinção da apo­
sentadoria por tempo de serviço. Inscituindo-se o critério de tempo de contrí-
anotações
buição. além da elim inação da apos.eatadoria proporclonal. Para os trabalha-^ 
dores que se encontravam Inseridos no mercado de trabalho até a data deffl 
promulgação da emenda, e não possuíssem direitos plenos para aposentado-!; 
ria, foi instituída uma regra de transição.. '
portanto, a Previdência, construindo-se no movimento histórico da sociedade 
brasileira, atende às exigências do novo patamar de acumulação capitalista;;! 
' postas no limiar do novo século, e redimensiona as necessidades de proteção 
* '• ‘ social aos trabalhadores, sob a ótyca do mercado.
f § i $ - ‘
Aprovada a Reforma, o governo se antecipa à sua regulamentação, emitindo.-g 
medidas provisórias que aprofundam o ser caráter excludente, configurada na'|f W}r, 
MP 1.729 de 3.12.98 - que, embora fosse conhecida como a emenda que tra- ^ | j\. 
tava da sonegação fiscal na filantropia, na realidade, possuía 150 dísposItívos.’|Íí ® ■ 
que alteravam o Plano de Custeio e Benefícios da Previdência. | |
anotações
y*/ Com base em que considerações a Reforma Previdencfária é parte 
* reajuste estrutural em curso na sociedade brasileira?
do
A QUEM INTERESSA A REPORMA PREVIDENCIÁRIA
• - M $V'
O,projeto de lei 1.527/99. que altera o Plano de Benefícios, e Çusteio' da Previ- £
dência, penaliza mais uma vez o trabalhador, Na verdade, como analisa o " 
DIAF em seu boletim de setembro de 1999. esse proJf£i| se constitui em mais | 
uma tentativa do governo em restabelecer a Idade mínima para o setor priva- ^ 
do. Dentre os pontos centrais deste, estão o fator prevldenciárlo, o salário-1. 
maternidade e o saláriô-famflia. ,0'fatór p'revldénciárlo. agfega;pára o cálculo i: 
do benefício variáveis como o tempo de contribuição, a idade no momento da 
aposentaria e a expectativa de sobrevida. após a concessão da aposentadoria, j 
Quanto ao salário-matemidade, devido até então às seguradas empregadas, j 
avulsas e especiais, este beneficio é estendido para os autônomos empresári- 
os e facultativos, mas estabelece uma carência de doze meisés pârá'o seu usu- tf [ 
fruto, alterando a situação de carência, inexistente anteriormente. Não quere­
mos esquecer de apontar,que o salário-famílla passou a ter caráter seletivo, 
na medida em que será devido ao segurado com salário Inferior ou Igual a R$ 
376,70. Das grandes modificações, tem-se, ainda, a base de cálculo de benefi­
cio. até entào estimada pela média das últimas 36 contribuições reajustadas 
mensalmente, ao passo que. hoje, o critério proposto toma como base de cál­
culo a média das contribuições a partir de Julho de 1994, atualizadas pela in­
flação acumulada-, aumentando um mês de contribuição por período de 30 
dias, até o limite fixado de 30 a 35 anos de contribuição, respectivamente, 
para mulheres e homens. A ampliação do período de contribuição para efeito 
de cálculo impõe mais arrocho salarial ao benefício, que Já é calculado sçbre 
um salário que vem sofrendo arrochos sucessivos. A Regulamentação da Pre­
vidência foi aprovada pela Lei n°3.048 de 06.05.1999. alterada, posteriormen- 
te. pela Lei n*3.265 de 29.11.1999.
Constatamos, em síntese, que a Reforma Previdenciária restringe direitos, ao 
mesmo tempo que aumenta a contribuição do trabalhador e altera o cálculo 
de benefícios, arrochando-os ainda mais, em nome de um pretenso equilíbrio 
financeiro e atuarial. Enfatizamos que. no que diz respeito aõ salárío-famflia e 
auxílio-reclusão, ambos os benefícios agora estão restritos aos dependentes;: 
de baixa renda. É importante salientar que o seguro .de acidente do trabalho - 
passa, também, a ser praticado pela Iniciativa privada, concorrendo esta còm 
o regime público.
A Reforma da Previdência não está desvinculada das propostas de superação 
da crise do capitalismo brasileiro, 'que a elegeu como um dos principais ins­
trumentos de geração de poupança Interna via ampliação das faixas de merca­
do para seguradoras privadas, que trabalham com regime de capitalização, 
num contexto em que os programas de estabilização necessitam de financia­
mento para retomada do desenvolvimento econômico. Nos anos 70. o finançl- ■ 
amento do modelo desenvolvimentlsta da ditadura se deu pelo financiamento 
• externo - recursos esses que. dada a conjuntura internacional, hoje não têm 
viabilidade. Portanto, torna-se necessário criar novas formas de captação in­
terna de recursos, ainda que em detrimento da proteção ao conjunto dos 'tra­
balhadores, Já penalizados pelas profimdastransforrnações que se operam.no 
mundo do trabalho por força da reestruturação produtiva, que precariza. 
parçializa e complexLfíca relações de trabalho e reduz, em escala geométrica, 
postos de trabalho. O modelo mais radical de Reforma Previdenciária se deu 
no Chile, onde toda a Previdência Pública foi dizimada e onde a proteção 
previdenciária passou a ser exercida pelas seguradoras privadas, que detêm 
30% do PIB chileno e fazem investimentos financeiros no mercado internacio­
nal. Enquanto isso, uma parcela signjficativajjos trabalhadores chilenos nào 
consegue manter planos de previdência privada. A experiência chilena alertou 
o mundo segurador para o fato de que as parcelas da população com faixas 
de rendimentos mais baixas devem permanecer no sistema básico público e 
as faixas salariais mais altas devem ser estimuladas a comprar a sua 
-complementação previdenciária. ainda que a redução do teto do regime geral 
ponha em risco o regime público de proteção previdenciária.
Considerando as determinações sócio-hJstóricas, identifique os interes- 
* ses em Jogo e o perfil previdenclário buscado no-ProJeto
de Emenda
Constitucional e dem ais atos. que compõem o re p e r tó r io d as alterações
prevldenciárias no quadro geral.
anotações
’ ANDERSPN, P. "Balanço do Neoliberalismo", úLSADER, E.;e GENTILLE, 
(orgs.). Pós Neoliberalismo - A s Políticas Sociais e o Estado Democrático. ] 
de Janeiro: Paz e Terra, 1995.
ANTUNES, R. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e ‘ai 
centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 1995.
CABRAL, Mê S. e Domlngues, S. “A Previdência Social e a Revisão Constltúclo-j 
•nal",. in Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, n° 44, abril, 1994.
CARTAXO, A. M. B. "S
constituição; crise e, reform a”. Texto apresentado no . treinamento para assisT'g ? ||^ ;.'
1. J . rLrr-c’ __________, J _____ l - J . r>________' . U __________j ÍW&Í^sM' .
aln° 20'. Centro de Documentação e Informação. Coordenação de Publica­
is Cãmàra dos Deputados. Brasília: 1999.
)LHA DE SÃO PAULO- edições de 04/7/99 e 19/02/00.
HARVEY, D. Condiçãopós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
,LOY J. M. Política de Previdência Social no Brasil. Rio de Janeiro : Ed. 
Graal, .1986.
•MOTA, A. E. Cultura da crise e Seguridade Social- Um estudo sobre as 
, tendências da Previdência e Assistência Social nos anos 80 e 90. São 
Paulo: Cortez. 1995.
ção aoiVIII Congresso Brasileiro de Assistentes S.ociais. Salvador: 1995.'^'® ^^,
t-âípw P OLIVEIRA, J.A.A. e Teixeira, S. M. E (Io) Previdência Social - 60 anos de Hls-
Sistema de proteção social x política previdenclária -W ^§^tóría 'da Previdência no Brasil. Petrópolis: Ed. Vozes/Abrasco, 19S9.
tentes sociais do INSS, promovido pelo Centro de Recursos Humanos do^; 
INSS e pelo CESP/UnB. Brasüia: nov./1997 (mimeo.).
COHN,:A. "A Reforma da Previdência Social: Wrando a páglna.da histó-.|í SíjA 
rlaLpniSeguridade, Crise e Trabalho, Rerísta São Paulo em Perspectiva, 
publicação da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Sead),
São Paido: n° 09, out.-dez./1995.
— . "Previdência Social e Processo Político no Brasil'1. São Paulo: Ed.
Moderna, 1980. j |
CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES. "Previdência Social: números que 
mentem". Brasüia: mar./1995. :
CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES. "Previdência Social: quadro atual /; 
e alternativas".. Brasília: mar./1995. ' . j
CENTRAL ÚtylCA DOS TRABALHADORES. "Uma Nova Previdência Social: 
proposta da CUT para discussão com a sociedade". Brasília: malo/1995. De­
partamento Interslndlcal de Assessorla Parlamentar (Diap). Boletim DIAP. 
Brasília: sef./1999.
FALEIROS, V P “Previdência Social e neoliberalismo”, in Revista Universidade 
e Sociedade, ano IV Brasília, fev.1994.
FEGHAL1, J. “A Reforma da Previdência Social: análise e perspectivas sobre o. 
sistema previdenciárlo brasileiro apôs a promulgação da Emenda Constitucl-
VIEIRA, E. Democracia e Previdência Social. Coleção Polêmica do Nosso Tem­
po, n°49. São Paulo: Cortez e Autores Independentes Associados, 1992.
Legislação
jli Decreto n° '3.081, de 10/jun./99 - Aprova a nova estrutura e o quadro de­
monstrativo de comissão e funções gratificadas do INSS.
Emenda Constitucional n° 19, relativa à Reforma Administrativa. Brasília: 
Congresso Nacional.
Emenda Constitucional n° 20, que modiilca o^SIstema de Previdência e esta­
belece normas de transição para os servidores públicos. Brasüia: Congresso 
Nacional,
Lei n“ 3.048 de 06.05.1999, que foi alterada pela Lei n° 3.265 de 29.11.ig99 
- referente ao Regulamento da Previdência Social,
Leis n“ 8.212- e 8.213 de 24/7/91 - referentes ao Plano de Custeio da Previ­
dência Social c Plano de Benefício da Previdência Social.
Medida Provisória n° 1.729 de 03.12.1998 -Trata da guestáo da Filantropia 
e altera o Plano de Benefícios e Custeio da Previdência.
Projeto de Lei n° 1.527/99, que altera Plano de Benefícios e Custeio da Previ­
dência Social, Lei n° 8.212 e 8 .213/91.
; j anotações
I fCiM
w

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando