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Enzimologia clínica PROFESSORA CRISTIANE PAIVA C SOARES Enzimologia clínica As enzimas são proteínas com propriedades catalisadoras sobre as reações que ocorrem nos sistemas biológicos. Apresentam um elevado grau de especificidade sobre seus substratos acelerando reações específicas sem serem alteradas ou consumidas durante o processo. Em algumas doenças as atividades de certas enzimas são medidas. A utilidade diagnóstica das enzimas plasmáticas reside no fato que as alterações em suas atividades fornecem indicadores sensíveis de lesão ou proliferação celular. Estas modificações ajudam a detectar ou até localizar a lesão tecidual, monitorar o tratamento e o progresso da doença. As enzimas não estão confinadas a tecidos ou órgãos específicos, pois estão grandemente distribuídas e suas atividades podem refletir desordens envolvendo vários tecidos. Enzimologia clínica Aminotransferases Alanina aminotransferase (TGP ou ALT) e Aspartato aminotransferase (TGO ou AST) Igualmente abundantes no tecido hepático, a AST (TGO) apresenta concentração 20 vezes maior que a ALT (TGP) no músculo cardíaco. A determinação simultânea das duas enzimas fornece uma clara indicação da provável localização da lesão tecidual. Obs.: A especificidade enzimática pode também ser aumentada pela análise das formas isoenzimáticas de algumas enzimas como na lactato desidrogenase. Enzimologia clínica Enzimologia clínica Amilase (AMS) Enzima que catalisa o desdobramento do amido ingerido na dieta. A amilase sérica é secretada, fundamentalmente, pelas glândulas salivares (forma S) e células acinares do pâncreas (forma P). Secretada no trato intestinal por meio do ducto pancreático. As glândulas salivares secretam a amilase que inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos na boca e esôfago. Obs.: A amilase tem massa molecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, facilmente, filtrada pelo glomérulo renal. Enzimologia clínica Amilase Significado clínico A amilase sérica aumentada: pancreatites agudas e crônicas. Obs.: Pode ainda estar aumentada nas condições em que o paciente é portador de pseudo-cisto pancreático, perfuração intestinal com peritonite, gravidez ectopica e patologias que comprometam as vias biliares. Valores de referência: 60-160 U/dl Enzimologia clínica Lipase (LPS) Enzima altamente específica que catalisa a hidrólise dos ésteres de glicerol de ácidos graxos de cadeia longa (triglicerídeos) em presença de sais biliares e um cofator chamado colipase. Lipase e colipase: são sintetizadas pelas células acinares do pâncreas. Significado clínico Marcador mais específico de doença pancreática aguda comparada a amilase. Níveis aumentados em pacientes com pancreatite aguda e recorrente, pseudo cisto pancreático, trauma, carcinoma de pâncreas, obstrução dos ductos pancreáticos e no uso de fármacos (opiáceos). Enzimologia clínica Lipase Pode estar aumentada na maior parte das condições inflamatórias da cavidade abdominal, doenças do trato biliar, abscessos abdominais e insuficiência renal aguda e crônica (com menor freqüência do que a amilase). Valores de referência: Até 200U/L Enzimologia clínica Fosfatase alcalina (ALP) Amplamente distribuída nos tecidos, notadamente na mucosa intestinal, fígado (canalículos biliares), túbulos renais, baço, ossos (osteoblastos) e placenta. A forma predominante no soro em adultos origina-se do fígado e esqueleto. Função: a exata função metabólica da enzima ainda é desconhecida. Parece estar associada com o transporte lipídico no intestino e com processos de calcificação óssea. Significado clínico: Investigação das desordens hepatobiliares e ósseas. Nas enfermidades hepatobiliares, as elevações são encontradas, predominantemente, na obstrução extra-hepática (cálculo vesical, câncer de cabeça do pâncreas). Enzimologia clínica Fosfatase alcalina Valores de referência: 26 a 117 U/L Na obstrução do trato biliar: até dez vezes aumentada. Ocorre aumento em várias enfermidades ósseas, especialmente naquelas que evoluem com quadro de osteólise. A doença de Paget apresenta as maiores atividades de fosfatase alcalina, com níveis 10 a 25 vezes acima dos limites superiores dos valores de referência. Discreto ou moderados aumentos podem ser observados durante a gravidez, sendo essa fosfatase de origem placentária. Enzimologia clínica Gama Glutamil Transferase (GGT) Localizada predominantemente nos hepatócitos. Doenças hepáticas ativas cursam para um aumento de GGT. Muito específica para indicar colestase. Pode apresentar alta em hepatites agudas. Método de triagem para alcoolismo. (A ingestão de álcool pode aumentar a GGT em pequenas doses de bebida). Valores elevados são encontrados em: hepatite, cirrose, necrose hepática, colestase, tumor hepático, ingestão alcoólica. Valores de referência: Mulheres: até 38U/L Homens: até 55 U/L Enzimologia clínica Fosfatase ácida Amplamente distribuída nos tecidos. Maior atividade é encontrada na glândula prostática (1000 vezes maior que em outros tecidos), células osteoblásticas do osso, fígado, baço, rins, eritrócitos e plaquetas. Em homens, a fração prostática representa em torno de 50% da fosfatase ácida total, sendo o restante proveniente do fígado e de desintegração das plaquetas e eritrócitos. Para o sexo feminino é proveniente do fígado, eritrócitos e plaquetas. ** Os níveis de fosfatase ácida no soro apresentam importância clínica no diagnóstico e monitorização do câncer prostático, pelo emprego da fração prostática da fosfatase (FACP). Enzimologia clínica Fosfatase ácida Significado clínico Diagnóstico e a monitorização do câncer prostático e particularmente o da forma metastática. Discretos aumentos de fosfatase ácida total são encontrados na doença de Paget, anemia hemolítica e anemia megaloblástica. Valores de referência: Fosfatase Ácida Total (ACP): < 9 U/l Fosfatase Ácida Prostática (PAP): < 3,5 U/l Enzimologia clínica Lactato desidrogenase (DHL) Catalisa a oxidação reversível do lactato a piruvato, em presença da coenzima NAD+ . Presente em todas as células do organismo, principalmente: miocárdio, fígado, músculo esquelético, rim e eritrócitos. Significado clínico No infarto agudo do miocárdio, a DHL torna-se elevada dentro de 24-48 horas após o infarto, atingindo um valor máximo entre 48-72 horas. Na lesão hepatocelular aguda, o valor total da DHL não é tão sensível quanto o da AST. DHL mostra-se anormal em muitos pacientes com anemia megaloblástica e com anemias hemolíticas moderadas ou graves. A DHL pode estar elevada em pacientes com embolia pulmonar. Enzimologia clínica Lactato desidrogenase (DHL) Pode ser fracionada em isoenzimas. § DHL1: coração, hemácias e rins. § DHL2: coração e sistema retículo endotelial. § DHL3: pulmões e outros tecidos. § DHL4: placenta e pâncreas. § DHL5: fígado e músculos esqueléticos. Valores de referência: Adulto : 135,0 a 214,0 U/L Crianças (2-15 anos) : 120,0 a 300,0 U/L Crianças (20 dias a 2 anos) : 200,0 a 450,0 U/L Enzimologia clínica Lactato desidrogenase (DHL) Valores de Referênciadas Isoenzimas no soro ou plasma LDH1 17 - 27% LDH2 27 - 37% LDH3 18 - 25% LDH4 3 - 8% LDH5 0 - 5% Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) Catalisa a fosforilação reversível da creatina pela adenosina trifosfato (ATP) com a formação de creatina fosfato. A CK está associada com a geração de ATP nos sistemas contráteis ou de transporte. A função fisiológica predominante desta enzima ocorre nas células musculares, onde está envolvida no armazenamento de creatina fosfato (composto rico em energia). Amplamente distribuída nos tecidos, com atividades mais elevadas no músculo esquelético, cérebro e tecidocardíaco. Obs.: O fígado e eritrócitos são essencialmente desprovidos desta enzima. Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) A CK é um dímero composto de duas subunidades: M (muscle-músculo) e B (brain-cérebro). A composição dessas duas subunidades resulta em três isoenzimas: MM, MB e BB. Obs.: Níveis elevados de CK são encontrados em infarto agudo do miocárdio. A elevação já é constatada 6 horas após o início do quadro e atinge o ápice em torno de 24 horas, permanecendo os valores elevados por 72 a 96 horas. Os valores de CK no soro podem estar alterados em várias condições clínicas associadas a lesão muscular aguda ou a esforço muscular intenso. Os níveis de CK encontram-se normalmente altos na miosite, distrofia muscular, traumatismo muscular, após exercício moderadamente intenso, após cirurgia. Níveis altos de CK podem ser encontrados nos casos de alcoolismo acentuado, devido ao efeito do álcool sobre os músculos. Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) Diagnóstico do infarto do miocárdio, a dosagem da CK total apresenta alguns inconvenientes: · falta de especificidade, devido a elevações falso-positivas em conseqüência de lesão dos músculos esqueléticos, principalmente nas injeções intramusculares. · período de tempo relativamente curto em que a enzima permanece alta após o início do infarto. Isoenzimas da Creatinoquinase (CK) A CK total pode ser separada em 3 frações principais, denominadas de CK-BB (CK1), CKMB (CK2) e CK-MM (CK3). Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) 1- IsoenzimaCK-BB É encontrada predominantemente no cérebro e no pulmão, sendo que uma elevação dos seus níveis não é comum. Pode estar elevada em algumas condições como após embolia pulmonar e em alguns pacientes com câncer de pulmão. Obs.: Nos casos de distúrbios cerebrais, nos quais teoricamente deveria ser liberada a isoenzima CK-BB, o comum tem sido encontrar no soro a isoenzima CK-MM. Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) 2. IsoenzimaCK-MM Compreende mais de 95% da CK dos músculos esqueléticos e cerca de 70-75% da enzima do miocárdio. A elevação dos níveis de CK-MM no soro sugere a uma lesão ou hipóxia do músculo esquelético, incluindo exercício intenso, convulsões, traumatismo, inflamação, distrofia muscular ou injeção intramuscular. Obs.: Podem ser observados aumentos também da fração MM nos casos de hipotireoidismo e hipocalemia atingindo os músculos. Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) 3. IsoenzimaCK-MB É uma fração híbrida composta de cadeias M e B, que é encontrada predominantemente no músculo cardíaco. A sua determinação é bastante específica para o diagnóstico do infarto do miocárdio. Obs.: Existe uma correlação grosseira entre o grau de elevação da enzima e a extensão do infarto. Enzimologia clínica Creatina Quinase (CK) Valores de Referência :Até 25 U/L Valores elevados da Isoenzima CK-BB Infarto pulmonar, lesão cerebral, acidente vascular cerebral, embolia pulmonar e câncer no cérebro. Valores elevados da Isoenzima CK-MM Distrofia muscular, miosite, convulsões recentes, cirurgia recente, hipotireoidismo, hipocalemia, injeções intramusculares. Valores elevados da Isoenzima CK-MB Infarto agudo do miocárdio, desfibrilação cardíaca, isquemia cardíaca, miocardite, cirurgia de aneurisma cardíaco. Enzimologia clínica Colinesterase (CHE - CHS) Enzima com a função de catalisar a hidrólise da acetilcolina em colina e acetato. Papel de regular a transmissão do impulso nervoso na sinapse do nervo e na junção neuromuscular. Dois tipos de colinesterase são determinadas: acetilcolinesterase (colinesterase verdadeira) e pseudocolinesterase. Enquanto a acetilcolinesterase (acetilcolina hidrolase) é encontrada nas hemácias e terminações de nervos colinérgicos, a pseudocolinesterase (butirilcolinesterase) encontra-se no plasma, fígado, músculo liso e adipócitos. *** A colinesterase verdadeira tem afinidade pela acetilcolina, enquanto a pseudocolinesterase caracteriza-se por catalisar a hidrólise da butirilcolina. Enzimologia clínica Colinesterase (CHE - CHS) Valores diminuídos de CHE Encontrados nas doenças hepáticas crônicas, devido à diminuição da síntese enzimática do fígado. Na hepatite aguda e na hepatite crônica de longa duração há uma diminuição de 30 a 40% da atividade enzimática. Na cirrose avançada e no carcinoma hepático, a diminuição da síntese enzimática atinge valores de 50 a 70%. Obs.: A CHE é considerada uma enzima indicadora de síntese hepática. ** Valores diminuídos de CHE são também verificados nos envenenamentos por inseticidas organofosforados, atuam como inibidores da enzima. Enzimologia clínica Colinesterase (CHE - CHS) Valores diminuídos de CHE Logo... Valores diminuídos de CHE são encontrados nas seguintes situações: -envenenamento por inseticidas organofosforados, -doença hepatocelular, -desnutrição -pessoas com deficiência congênita de enzimas. Valores de Referência:3200-9000 U/L Enzimologia clínica - IAM É necrose miocárdica resultante de obstrução aguda de uma artéria coronária. Os sintomas incluem desconforto torácico com ou sem dispneia, náuseas e diaforese. O diagnóstico é efetuado por ECG e pela existência ou ausência de marcadores sorológicos. Marcadores primordiais: São enzimas cardíacas (CPK-MB) e conteúdos celulares (troponina I, troponina T e mioglobina) que são liberados na corrente sanguínea após necrose da célula miocárdica. Obs.: Troponina é um complexo de três proteínas. Troponina C (TnC): liga-se fortemente aos íons de Cálcio (Ca2+) Troponina T (TnT): grande afinidade pela tropomiosina Troponina I (TnI): cobre o sítio activo da actina, onde interage com a miosina Enzimologia clínica - IAM Os marcadores surgem em períodos diferentes após a lesão, e os níveis diminuem em proporções diferentes. Obs.: A sensibilidade e especificidade para lesão miocárdica celular variam significativamente entre esses marcadores, mas as troponinas (cTn) são as mais sensíveis e específicas e atualmente são os marcadores de preferência. Enzimologia clínica - IAM Embora o nível de troponina elevada indique lesão celular miocárdica, ele não indica a causa do dano (embora qualquer elevação da troponina aumente o risco de resultados adversos em muitas doenças). Além da síndrome coronariana aguda, muitas outras doenças cardíacas e não cardíacas pode elevar os níveis de troponina. Obs.: nem todos os níveis elevados de troponina representam IAM, e nem todas as necroses miocárdicas resultam de um evento de síndrome coronariana aguda, mesmo quando a etiologia é isquêmica. Mioglobina Proteína que está presente no músculo cardíaco e nos outros músculos do corpo, fornecendo o oxigênio necessário para a contração muscular. Obs.: não está presente no sangue, só sendo liberada quando há uma lesão. Enzimologia clínica - IAM Mioglobina Obs.: em pessoas saudáveis, o exame de mioglobina é negativo, só sendo positivo quando existe um problema em algum músculo do corpo. Sugestivo para: Distrofia muscular; Pancada grave nos músculos; Inflamação muscular; Infarto Valores de referência O resultado normal é que o exame seja negativo ou que os valores de mioglobina sejam inferiores a 0,15 mcg/dL. Enzimologia clínica - IAM Logo... - Mulheres e pacientes com diabetes têm maior probabilidade de apresentar sintomas atípicos, e 20% do IAM são silenciosos. - O diagnóstico é por ECG e marcadores cardíacos. - O tratamento imediato inclui oxigênio, antianginosos, drogas antiplaquetárias e anticoagulantes. - Depois da recuperação, iniciar ou continuar as drogas antiplaquetárias, betabloqueadores, inibidores de ECA e estatinas. Caso clínico Paciente de 45 anos, hipertenso, deu entrada em um pronto-socorro comdor em pontadas de forte intensidade com sudorese associada. O eletrocardiograma mostra apenas alterações de repolarização ventricular após 2 horas de dor. O exame mais sensível para o diagnóstico de infarto agudo domiocárdio é: a) Ck-MB b) Troponina I c) Mioglobina d) TroponinaT e) TGO Caso clínico A. CKMB INCORRETO CK-MB É uma isoenzima que corresponde a enzima liberada pelo músculo cardíaco. Esta enzima eleva-se quando ocorre isquemia em um determinada região do músculo cardíaco. Esse aumento de CKMB atinge o auge entre 12 e 24 horas, depois regressa ao normal dentro de 48 a 72 horas. As enzimas tradicionalmente usadas no diagnóstico de IAM, CK e CK-MB, demoram para se elevar. B. troponina I INCORRETO É a mais específica para lesões do músculo cardíaco, eleva-se entre 4 a 6 horas e atinge o pico em torno de 12 horas após a lesão miocárdica, permanecendo elevada no soro por um período de 3 a 10 dias. Apontado como o marcador de injúria miocárdica mais próximo do ideal, demonstrando claramente seu valor prognóstico tanto no infarto como na angina instável. Vários estudos demonstraram sua positividade na presença de microinfartos indetectáveis por outros marcadores. Caso clínico C. MioglobinaCORRETO A necessidade de se estabelecer diagnóstico de IAM logo que o paciente é admitido à emergência tem suscitado interesse sobre marcadores biológicos detectáveis nas primeiras horas da doença. A mioglobina é um marcador sérico identificável nas primeiras horas (2,5h) e retorna a valores normais entre 24 e 48h. D. troponina T INCORRETO Enzima liberada no sangue a partir de 2 a 8 horas após a lesão do miocárdio. Os valores se elevam por um período de 2 horas a 14 dias após o infarto. E. TGO INCORRETO Não é utilizada. Até a próxima aula!!!!
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