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Apresentação da disciplina
A disciplina Fundamentos das Relações Internacionais está estruturada de forma a oferecer ao estudante uma visão abrangente dos principais temas contemporâneos referentes à política internacional, assim como desenvolver as principais ferramentas conceituais e analíticas para uma compreensão autônoma dos fenômenos que envolvem as relações internacionais.
O objetivo da disciplina é apresentar ao estudante conceitos e ferramentas essenciais que o ajudem a compreender os principais fenômenos internacionais contemporâneos.
Sob esse foco, a disciplina Fundamentos das Relações Internacionais foi estruturada em quatro módulos, nos quais foi inserido o seguinte conteúdo:
Módulo 1 – Guerra e paz
Neste módulo, abordaremos as principais causas da guerra e da paz, as questões morais e legais relacionadas ao uso da força no sistema internacional, a distinção entre o direito da guerra e o direito à guerra, a formação de coalizões e alianças, e a manutenção de um equilíbrio de poder, bem como a extensão e os limites do direito internacional.
Módulo 2 – Poder
Neste módulo, discutiremos o conceito de poder. Serão abordadas, em especial, questões como: o poder se manifesta na vida internacional? Como ele se constitui? Quais são as diferentes expressões de poder na política entre os Estados? Como podemos medir o poder e os seus principais efeitos na política internacional?
Módulo 3 – Governança internacional
Neste módulo, discutiremos uma das questões mais perenes no estudo das relações internacionais: por que os Estados cooperam? Ao analisarmos essa questão, veremos também como se desenvolvem os mecanismos de governança global, o papel das instituições e dos regimes internacionais, a questão da segurança internacional, os problemas de desenvolvimento, os processos de integração regional e a construção de uma economia global.
Módulo 4 – Ordem internacional contemporânea
Este módulo oferece ao estudante uma discussão substantiva acerca dos principais temas referentes à política internacional contemporânea, tais como nacionalismo, direitos humanos, meio ambiente, atores transnacionais, terrorismo, gênero e cultura.
UNIDADE 1
Conceito de guerra
Se quisermos entender a guerra, devemo-nos perguntar por que os decisores políticos escolhem a força militar em vez de outros meios e recursos para atingir os objetivos desejados.
Definição
A guerra pode ser definida como um conflito de larga escala marcado pelo uso da violência entre grupos politicamente definidos – muitas vezes, com o emprego de forças militares – durante determinado período. Nem toda forma de violência, contudo, constitui um ato de guerra.
De acordo com a definição apresentada, podemos concluir que violência não é guerra, a não ser que seja empregada por uma unidade política contra outra unidade política.
A tradicional definição de Clausewitz torna a guerra um evento com um objetivo ainda mais específico.
Para Clausewitz, a guerra é um ato de força empregado para compelir outros atores – em princípio, seus oponentes – a realizar seus objetivos.
Guerras e concepção racionalista da guerra como uma instituição
Guerras são formas de comportamento humano construídas socialmente e em larga escala. Dessa forma, devem ser compreendidas dentro do contexto mais amplo dos seus cenários culturais e políticos.
A guerra é a violência organizada de unidades políticas contra outras unidades políticas. No entanto, devemos distinguir a guerra em seu sentido flexível, que envolve a violência organizada realizada por qualquer unidade política – uma tribo, um império antigo, um principado feudal, uma facção civil moderna –, da guerra em seu sentido restrito, que se refere à guerra internacional ou interestatal, ou seja, à violência organizada travada por Estados soberanos. No sistema estatal moderno, somente a guerra em sentido restrito – ou seja, a guerra internacional – é legítima.
Nas guerras, os Estados soberanos buscam preservar para si mesmos o monopólio do uso legítimo da violência. Em qualquer real hostilidade que possa ser chamada de guerra, as normas ou regras, leais ou não, sempre desempenham uma função.
Guerra e paz
O estudo da guerra procura reunir esforços para prevenir a sua ocorrência, reduzir a sua frequência ou mitigar as suas consequências.
A guerra é uma das atividades mais destrutivas das nossas sociedades. À medida que os séculos passaram, novas tecnologias e instituições tornaram os conflitos armados cada vez mais violentos.
	guerra
	quantidade de mortes
	Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
	2 milhões de pessoas
	Guerras napoleônicas (1799-1815)
	2 milhões e meio de pessoas
	Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
	7,7 milhões de pessoas
	Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
	13 milhões de pessoas
A tradicional definição de Clausewitz de guerra como a continuação da política por outros meios, como um instrumento para alcançar interesses políticos, sugere que ela é, intrinsecamente, política.
Nesse sentido, se quisermos entender a guerra, devemo-nos perguntar por que os decisores políticos escolhem a força militar em vez de outros meios e recursos para atingir os objetivos desejados.
É importante entendermos, em primeiro lugar, um dos problemas fundamentais da ordem global: se guerras são tão custosas, por que os Estados não resolvem as suas disputas de outras formas?
Existe uma série de fatores, tanto na política internacional quanto na política doméstica dos Estados, que fazem com que soluções pacíficas nem sempre sejam possíveis.
Catalisador de mudanças
A intensidade da guerra, muitas vezes, pode agir como um catalisador de mudanças sociais, políticas e econômicas.
A guerra pode acelerar ou colocar em movimento forças de transformação, modificando a indústria, a sociedade e os governos. Tais mudanças são, ao mesmo tempo, fundamentais e permanentes.
Basta olharmos para a década de ouro que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.
Apesar da grande destruição causada pelo conflito, dois Estados se beneficiaram enormemente dos esforços de guerra e tiraram vantagens das mudanças provocadas pelo conflito – em especial, com relação aos avanços tecnológicos e industriais.
Isso explica, em parte, a emergência dos Estados Unidos e da União Soviética como superpotências na década de 1950.
Frequência e gravidade
A guerra tem sido um fenômeno recorrente da interação entre as pessoas, mas também tem variado enormemente em função da sua frequência e gravidade, ao longo do tempo e do espaço.
Durante os últimos cinco séculos, tivemos, em média, uma guerra envolvendo uma grande potência ou mais a cada década.
Severidade dos conflitos
A diminuição da frequência das guerras tem sido acompanhada do aumento da severidade nesses conflitos. Tal severidade é definida pelo número de mortes relacionadas ao conflito, tanto em termos absolutos quanto em relação à população.
A potencialização da severidade dos conflitos é, em grande medida, produto de avanços tecnológicos responsáveis pela criação de itens como:
tanques
(Primeira Guerra Mundial)
aviões e bombas atômicas
(Segunda Guerra Mundial)
armas nucleares
(Guerra Fria)
bombas químicas, como napalm (Guerra do Vietnã)
Além disso, vale destacarmos alguns avanços recentes, como:
a utilização de aviões não tripulados (os drones), com capacidade estratégica de longa distância e
o desenvolvimento de armamento militar padrão, como rifles e lançadores de granadas.
Outro fato que merece destaque é que essas tecnologias têm estado cada vez mais disponíveis para um número maior de pessoas.
Pequenas potências e expansão
Há uma importante transformação no caráter da guerra nas Relações Internacionais desde o século XX.
Os conflitos, antes dominados pelas grandes potências – Estados que tinham recursos para sustentar um conflito armado a longo prazo –, passaram a ter participação predominante de pequenas potências.
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) é um exemplo de conflito que, apesar de se concentrar, inicialmente, no espaço europeu,expandiu-se para outras regiões, em especial o Oriente Médio e a África, além de para outras localidades do Sul Global.
Conflitos intraestatais
Desde meados do século XX, a guerra passou de, majoritariamente, um conflito entre Estados para conflitos em Estados.
Atenção!
Conflitos causados por disputas étnicas, religiosas ou culturais, e disputas alimentadas por ideologias nacionalistas ou separatistas influenciaram grande parte dos conflitos intraestatais desde meados do século XX.
Apesar da sua recorrência, contudo, as mortes causadas por guerras civis têm diminuído desde o final da Segunda Guerra Mundial.
Esse fenômeno tem demandado uma nova forma de caracterizar a guerra, uma vez que concepções tradicionais assumem que um conflito se torna guerra quando atinge uma severidade mínima de mil mortes relacionadas ao conflito, o que, muitas vezes, não é o caso de conflitos intraestatais.
Novas guerras
Nos conflitos contemporâneos, muitas vezes, ao invés de guerras diretas contra outros Estados ou contra populações, os esforços militares são empregados:
no combate a formas de terrorismo ou de insurgências armadas – seja em prol da ideologia que for.
na intervenção em outros Estados assolados por crises internas, ameaças de genocídio ou assassinatos em massa.
Essas são as chamadas "novas guerras".
Se, de fato, as guerras assumem formas distintas e, possivelmente, novas, isso é uma consequência de mudanças maiores pelas quais o sistema internacional tem passado nas últimas décadas. A guerra não é, portanto, o principal causador dessas mudanças.
A guerra não é o principal causador dessas mudanças. Guerras são formas socialmente construídas de comportamento humano em grupo em larga escala e, por isso, devem ser compreendidas dentro do contexto mais amplo de seus cenários culturais e políticos.
Causas da guerra
Quais são as causas da guerra? A resposta mais óbvia para essa pergunta é que os Estados, muitas vezes, têm interesses conflitantes sobre temas importantes. Dois ou mais Estados podem, por exemplo, cobiçar um mesmo território.
Segunda Guerra Mundial
O desejo de expansão da Alemanha nazista pela Europa foi uma das causas da Segunda Guerra Mundial.
Guerra do Golfo
Da mesma forma, a tentativa do Iraque de conquistar o Kuwait, em 1990, foi o estopim para a Guerra do Golfo (1990-1991).
Existe uma série de questões pelas quais os Estados lutam. Clique em cada uma delas, a seguir, para obter mais informações.
território
convicções políticas
política desenfreada de fortalecimento da segurança
poder
1.5 Arbitragem internacional
A ideia de que Estados vão à guerra simplesmente por interesses conflitantes é, na melhor das hipóteses, incompleta. Afinal, esses Estados poderiam ter recorrido a outros métodos para resolver os seus conflitos.
No século XIX, era comum o uso da arbitragem internacional para a resolução de disputas territoriais. Esse era o princípio do Concerto Europeu, uma tentativa das potências europeias de evitarem um novo conflito da proporção das guerras napoleônicas.
No caso de um conflito iminente entre dois Estados, um representante de um terceiro era chamado para arbitrar o conflito, decidindo a favor de uma das partes.
Essa terceira parte envolvida era reconhecida como neutra por não ter alianças com nenhum dos Estados em questão e por não ter interesse imediato no que estava sendo debatido.
É importante entendermos, detalhadamente, como funciona a interação entre os Estados na ordem internacional.
Na maioria dos sistemas políticos modernos, as disputas entre indivíduos são resolvidas por instituições policiais e jurídicas que asseguram, em uma situação ideal, a manutenção da ordem política e de um mínimo de controle da violência e do uso da força. O problema é que, no nível internacional, isso não ocorre da mesma forma. Em teorias de política internacional, dizemos que é justamente esse fato que torna o sistema internacional anárquico, pois não há autoridade acima dos Estados nacionais.
Instituições internacionais existem, e uma série delas está voltada para a criação de regras e normas acerca do uso da força, como o Conselho de Segurança da ONU. No entanto, essas instituições carecem dos mesmos mecanismos de constrangimento que as instituições domésticas possuem. Por essa razão, a barganhaentre os Estados torna-se um componente muito mais importante no processo de solução de conflitos de interesse.
barganha entre Estados nas instituições internacionais e definições-chave de regime de segurança
As instituições internacionais são importantes em questões de guerra e paz, pois ajudam os Estados a barganharem mais eficientemente, o que, muitas vezes, evita que conflitos ocorram de fato.
Um Estado pode, por exemplo, utilizar a sua presença em uma instituição para aumentar os potenciais prejuízos para um Estado caso o conflito ocorra. Pode, também, aplicar sanções econômicas ou ameaçar retirar o Estado adversário de determinada instituição. Um Estado pode, ainda, utilizar a sua participação em uma comunidade de segurança, como a Otan, por exemplo, para constranger o adversário a não iniciar um conflito armado. Nesse caso, o Estado que faz parte da Otan pode contar com o apoio dos demais Estados-membros dessa instituição, e só essa possibilidade em si pode constranger um potencial adversário.
A seguir, encontram-se algumas definições-chave de regime de segurança.
Segundo Karl Deutsch, uma comunidade de segurança é um grupo de pessoas que se tornou "integrado". Nas palavras do autor: "Por integração nós entendemos a realização, dentro do território, de um "sentimento de comunidade", e de instituições e práticas fortes o suficiente e difundidas o suficiente para assegurar [...] expectativas dependentes de "mudança pacífica" dentre sua população. Por "sentimento de comunidade" nós entendemos uma crença [...] de que problemas sociais comuns devem e podem ser resolvidos por processos de "mudança pacífica"."
Já Robert Jervis afirma que regimes de segurança ocorrem quando um grupo de Estados coopera para administrar as suas disputas e evitar guerras, procurando silenciar o dilema de segurança tanto pelas suas próprias ações quanto pelas suas suposições a respeito do comportamento dos demais.
Segundo Barry Buzan, um complexo de segurança envolve um grupo de Estados cujas preocupações primárias de segurança estão ligadas de modo tão forte que as suas seguranças nacionais não podem ser realisticamente consideradas de maneira independente.
Por fim, o Relatório Palme de 1992 apresenta a seguinte definição: “a aceitação de segurança comum como um princípio organizacional de esforços para reduzir o risco de guerras, limitar armas e mover-se em direção ao desarmamento significa, em princípio, que a cooperação vai substituir o confronto ao resolver conflitos de interesse. Isso não quer dizer que se deve esperar que diferenças entre nações devem desaparecer [...] o desafio é somente assegurar que esses conflitos não venham a ser expressos por meio de atos de guerra ou em preparações para guerras. Isso significa que nações devem entender que à manutenção da paz mundial deve ser dada uma prioridade mais alta do que assegurar suas próprias ideologias e posições políticas.
Preferência pela diplomacia
Como guerras são custosas, em geral, os Estados preferem resolver as disputas diplomaticamente, se for possível.
Atenção!
Quanto mais eficientes forem os mecanismos de ordem internacional para facilitar a interação entre os Estados, menor será a incidência de conflito.
1.6 Interesses
É importante entendermos como interesses conflitantes podem, ocasionalmente, levar a uma guerra. Mas, de onde vêm os interesses dos Estados?
A resposta mais comum é a seguinte:
Isso, muitas vezes, é verdade. Principalmente, em casos em que a própria sobrevivência do Estado pode estar em jogo, o que, frequentemente, acontece em grandes guerras. Essa visão, no entanto, nem sempre consegue explicar todas as situações.
Existe uma série de conceitos que serve ao analista de Relações Internacionaispara identificar as origens dos interesses em determinado conflito. A seguir, listamos dois desses conceitos. Clique em cada um deles para obter mais informações.
política doméstica
percepções
O primeiro ponto para o qual devemos olhar é a política doméstica dos Estados.
Há diferentes interesses e ideias dentro de cada Estado, por exemplo, entre as suas elites políticas, os seus grupos de interesse e os seus demais atores.
Sabemos que há muito na política interna dos Estados que pode afetar as decisões de ir ou não à guerra. Por exemplo, embora guerras sejam custosas, seus custos – e potenciais benefícios – não são distribuídos entre toda a população igualmente. Isso significa que alguns setores podem ter interesse direto na guerra porque:
 têm mais a ganhar e menos a perder com os resultados do conflito ou
estão em jogo determinadas ideias e princípios que lhes são caros.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar sugestão de leitura sobre percepção.
Sugestão de leitura
Clique no ícone para acessar o texto Hoje na história: começa a crise dos mísseis em Cuba.
Apesar das disputas domésticas sobre ir ou não à guerra, a menos que a guerra seja altamente impopular domesticamente – como foi a Guerra do Vietnã a partir dos anos 1960 –, um Estado em guerra, geralmente, é um Estado internamente pacífico. Isso acontece porque conduzir uma guerra requer um alto grau de coordenação e cooperação doméstica.
Vejamos um dos paradoxos da guerra:
UNIDADE 2
Direito internacional e guerra
A guerra é uma das atividades mais destrutivas das nossas sociedades. À medida que os séculos passaram, novas tecnologias e instituições tornaram os conflitos armados cada vez mais violentos.
Pacifismo e belicismo
Além de terem de explicar por que a guerra ocorre, muitos analistas de Relações Internacionais buscam entender as questões morais por trás do uso da força na ordem internacional. Vejamos:
pacifismo
Corrente que acredita que não há motivos ou razões suficientes para que sociedades entrem em guerra, e que a força não deve ser empregada para atingir nenhuma forma de objetivo.
belicismo
Corrente que afirma que a guerra não só é parte integral da experiência humana como também é um evento desejável, pois provoca a renovação das sociedades.
Teoria da Guerra Justa
Uma das tradições mais importantes de pensamento no belicismo diz respeito à Teoria da Guerra Justa, uma teoria que ficaria no meio do caminho, entre o pacifismo e o belicismo.
A Teoria da Guerra Justa (ou conjunto de teorias) tem um importante componente normativo: busca prescrever como o Estado ou os agentes que atuam em seu nome devem agir em situações de conflito armado para tentar limitar as consequências destrutivas da guerra.
Em grande parte, esse conjunto de teorias se baseia:
nas obrigações assumidas pelos Estados em tratados;
nas tradições jurídicas das diversas sociedades;
em princípios morais e obrigações que determinadas sociedades podem considerar fundamentais em determinado contexto histórico.
A Teoria da Guerra Justa se apoia em dois grandes pilares:
jus ad bellum (direito de ir à guerra) – refere-se ao direito de começar ou não uma guerra e
jus in bello (direito na guerra) – refere-se às condutas corretas e incorretas das partes durante o conflito.
Tradição filosófica ocidental
Referências a como devem ser travadas as guerras e a quais guerras são moralmente aceitáveis são encontradas em toda a tradição filosófica ocidental, como em Platão, Agostinho e Cícero, segundo o qual a guerra deveria ser combatida de forma justa.
Alguns desses pensadores, como os gregos e os romanos, apoiavam-se em preceitos religiosos e morais pré-cristãos. Outros, como Agostinho e Tomás de Aquino, foram também profundamente influenciados pelas suas interpretações da moral religiosa cristã.
Muitos dos princípios defendidos por esses pensadores clássicos não são mais considerados válidos na guerra moderna, como o direito à escravização de povos derrotados, que era defendido por Aristóteles.
Outros princípios, como o direito dos prisioneiros de guerra receberem um tratamento digno, defendido por muitos pensadores na antiguidade, estão sendo ou foram revistos junto ao movimento pela defesa dos direitos humanos no século XX.
Fontes do Direito da guerra
Assim como ocorre com outros princípios do Direito Internacional, o Direito da guerra tem como fontes:
princípios gerais;
leis consuetudinárias;
tratados formais;
precedentes estabelecidos em casos julgados em cortes e
escritos de juristas.
As Convenções de Haia (1899 e 1907) e suas regulações, bem como as Convenções de Genebra e seus Protocolos, representam a codificação do moderno Direito sobre a guerra.
Clique nos conceitos a seguir para melhor entendê-los.
jus ad bellum
O direito de ir à guerra (jus ad bellum) depende de haver uma causa justa, como quando um Estado é invadido por outro, constituindo um ato de agressão.
A decisão de ir à guerra, contudo, só pode ser tomada por uma autoridade legítima dentro do Estado, ou seja, uma guerra não pode ser declarada por qualquer um. Pode haver discordâncias sobre quem seria uma autoridade legítima. No entanto, geralmente, essa autoridade se caracteriza pelos corpos políticos ou pelos representantes determinados constitucionalmente para tal.
Além disso, a resposta deve ser proporcional à agressão. Deve também haver alguma chance de sucesso, senão o esforço de ir à guerra seria apenas uma forma de dar fim a vidas.
A guerra deve ser, ainda, o último recurso disponível. Em outras palavras, os Estados devem recorrer a outras formas de resolução do conflito antes de ir à guerra.
jus in bello
O direito na guerra (jus in bello) busca definir um conjunto de princípios morais cujo objetivo é restringir a destruição causada pela guerra ao que for militarmente necessário. No entanto, esse é um princípio facilmente sujeito à manipulação, pois é difícil definir o que é "militarmente necessário".
De acordo com o jus in bello, o emprego militar necessário é somente aquele destinado a destruir a capacidade militar do inimigo, ou seja, bases militares, sistemas de transporte, etc. Dessa forma, o emprego militar necessário tem como alvos apenas as forças militares e as partes da infraestrutura da sociedade que contribuam diretamente para o esforço de guerra.
Não combatentes
Durante a guerra, precisamos distinguir entre combatentes e não combatentes.
Não combatentes não devem ser tomados como alvos de guerra, assim como prisioneiros de guerra. Estes, embora combatentes, devem ser considerados uma categoria à parte, pois não têm condição de defender-se enquanto prisioneiros.
Atenção!
Os defensores da Teoria da Guerra Justa acreditam que matar não combatentes pode ser moralmente aceitável apenas quando isso resultar de uma ação destinada a enfraquecer as capacidades militares do inimigo.
Uso de armas
O uso de armas pode ser moral ou não, especialmente com relação às armas convencionais. Esse é o caso de mísseis, bombas convencionais e armamentos, como rifles, minas e granadas.
Muitos defendem que há alguns tipos de armas cuja utilização não pode ser moral devido ao seu caráter de destruição ilimitada. O uso de tais armas desfaz, muitas vezes, a distinção entre combatentes e não combatentes e, por isso, não há emprego que justifique moralmente a sua utilização. São exemplos desses tipos de arma:
armas químicas e biológicas
bombas nucleares
Ao longo da década de 1920, a Liga das Nações tentou estabelecer um sistema formal que:
regulasse o uso da força nas relações internacionais e
substituísse as coalizões de defesa coletiva formadas aleatoriamente e baseadas em critérios de força, poder e hierarquia por um sistema de segurança coletiva, fundado no Direito Internacional.
No entanto, os diversos conflitos e as intervenções que ocorreram na década de 1930 provaram o fracasso dessa iniciativa.
Para evitar um novo fracasso, a Carta das Nações Unidas tenta ser mais específica quanto aos critérios utilizados paradefinir quando e por que o uso da força pode ser empregado.
Força essencial
Vista por uma perspectiva pragmática, o uso da força permanece como um elemento essencial das relações internacionais.
No entanto, em um sistema anárquico, não existe um governo central ou uma autoridade geral capaz de fazer valer o conteúdo do Direito Internacional para todos os Estados. Nesse caso, as entidades soberanas nem sempre observam o que o Direito Internacional tem a dizer sobre o uso da força, especialmente, os seus critérios e as suas restrições.
Por vezes, os próprios Estados escolhem ignorar ou violar os princípios do Direito Internacional para atingir os seus objetivos. Em outras ocasiões, as violações são justificadas a partir de variadas interpretações do Direito Internacional, de forma a fundamentar o que os Estados já fizeram ou planejam fazer.
De uma forma geral, é importante lembrarmos que uma guerra não é totalmente determinada pela decisão de um grupo ou de um Estado de lutar.
UNIDADE 3
Tendências no caráter da guerra
Devido à globalização, apesar de serem mais localizadas, as guerras contemporâneas envolvem uma ampla gama de redes internacionais de atores.
Mudanças
Muitos analistas afirmam que, apesar de a natureza da guerra continuar a mesma – o emprego da violência entre unidades políticas para atingir objetivos específicos –, mudanças recentes, ocorridas nas últimas décadas, têm contribuído para alterar o seu caráter.
Alguns estudiosos afirmam que as estruturas que produzem a riqueza de uma sociedade também produzem a sua guerra. Isso significa que as tecnologias empregadas para produzir riqueza provavelmente também serão empregadas na área militar.
Vejamos algumas observações com relação às guerras:
têm diminuído em frequência e severidade nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial;
têm-se deslocado da Europa para outras regiões e
têm aumentado no que se refere a conflitos intraestratais.
A seguir, estão listados alguns fenômenos que afetaram o caráter da guerra nas últimas décadas. Clique em cada um deles para obter mais informações.
avanço tecnológico
banalização
privatização
guerras virtuais
Guerras hiperbólicas
Uma característica da guerra moderna está no que Raymond Aron chamou de guerra hiperbólica, em que as crescentes escala e intensidade da guerra são alimentadas pelas pressões dos avanços tecnológicos e industriais.
O advento da Revolução Industrial e das democracias populares produziu a nacionalização da guerra, em que os esforços de guerra passam a envolver a totalidade da sociedade.
Esse é o advento da guerra total, em que, cada vez menos, distingue-se entre os esforços militares e os esforços civis, produzindo eventos como:
A barbaridade das guerras não é um fenômeno exclusivamente contemporâneo. Muitas guerras não são mais orientadas pelos princípios do Direito Internacional, e sim por princípios locais, de costume ou de religião. Além disso, muitas vezes, o que pode ser visto como violência sem sentido tem sido, de fato, utilizado para ganhar vantagem militar, mais do que pelo simples motivo de infligir sofrimento à população ou auferir ganhos econômicos.
Globalização da guerra moderna
A guerra moderna também tem sido afetada pelo processo de globalização.
Devido à globalização, apesar de serem mais localizadas, as guerras contemporâneas envolvem uma ampla gama de redes internacionais de atores. Navegue pelas setas para conhecê-los.
UNIDADE 4
Novas guerras
Uma das características das novas guerras é que esses eventos têm sido cada vez mais marcados e orientados por questões
culturais e de identidade.
Nova categoria
Mary Kaldor sugeriu que uma nova categoria de guerras teria emergido a partir de meados dos anos 1980: as chamadas novas guerras.
Na década de 1990, 95% dos conflitos armados ocorreram dentro dos Estados, e não entre Estados. O fenômeno por trás dessas novas guerras seria a globalização, que envolve tanto integração quanto fragmentação, homogeneização e diversificação.
Esses conflitos são tipicamente baseados na desintegração do Estado e nas subsequentes lutas pelo controle por grupos oponentes. Tais grupos estão, ao mesmo tempo, tentando impor a sua própria definição de identidade nacional, do Estado e da sua população.
Assim como as guerras modernas teriam contribuído para a emergência da figura do Estado a partir do século XVI, as novas guerras estariam levando à desintegração, ao colapso e à falência dos Estados. Além disso, muito da pressão que esses Estados sofrem vem do processo de globalização no sistema internacional.
Ocorrência de novas guerras
As novas guerras ocorrem em Estados cuja economia:
tenha baixíssimos índices de crescimento;
seja incapaz de gerar riqueza para a sociedade
esteja em colapso total.
Vejamos como as novas guerras ocorrem:
NOVAS GUERRASA perda do controle de estruturas por parte do EstadoO questionamento da legitimidade do Estado por parte de setores da sociedadelevam àprivatização do acesso às armas e àcapacidade para recorrer à violência,provocando surgimento de:perda de legitimidade ou ao colapso do governo. grupos paramilitaresguerrilhasorganizações criminosas, etc.
As novas guerras ocorrem, tipicamente, nos chamados Estados falidos, países onde o Estado perdeu o controle sobre porções significativas do território nacional e não dispõe dos recursos necessários para reaver o controle de tais territórios.
Características
Uma das características das novas guerras é que esses eventos têm sido cada vez mais marcados e orientados por questões culturais e de identidade.
Uma das explicações dadas para essa mudança é a de que ela é uma reação ao processo de globalização, que, cada vez mais, tem destruído as noções tradicionais de classe e ideologia, ao mesmo tempo em que coloca grande importância na capacidade agregadora de sentimentos identitários e culturais.
Outra consequência da globalização é a própria ameaça de sobrevivência de algumas culturas e das suas identidades.
Muitos argumentam que esse é um dos motivos por trás do aumento do terrorismo global islâmico nas últimas décadas, uma resposta à crescente ameaça de dominação das suas culturas e sociedades por valores e estruturas ocidentais ou por noções secularistas.
A seguir estão listadas algumas características das novas guerras. Clique em cada uma delas para obter mais informações.
gênero e idade
grupos paramilitares
sistema vestfaliano
desenvolvimento econômico
relação entre novas guerras e suporte econômico
Intervenção humanitária
A questão da intervenção humanitária coloca um desafio para uma sociedade baseada nos princípios de:
não intervenção;
soberania e
uso limitado da força.
Esse desafio se dá por conta de os princípios humanitários estabelecidos pela sociedade internacional após o fim da Segunda Guerra Mundial, frequentemente, entrarem em conflito com os princípios de soberania e não intervenção.
Tais princípios humanitários têm relação com:
a proteção aos civis;
as leis contra o genocídio e
o estabelecimento dos direitos humanos básicos.
Sobre os conflitos gerados pelos princípios humanitários, podemo-nos questionar:
1
Como a sociedade internacional deve agir perante Estados que abusam, ativamente, dos seus cidadãos ou falham em protegê-los?
2
Que responsabilidade outros Estados e instituições internacionais têm de defender e promover os direitos humanos em Estados que, claramente, violam tais direitos massivamente?
Histórico de ilegitimidade da intervenção humanitária
A intervenção humanitária armada não foi uma forma legítima de intervenção durante a Guerra Fria. Isso porque os Estados valorizavam mais manter o princípio da soberania intocado – um Estado é soberano sobre seu território – do que defender os direitos humanos, os quais também só ascenderam como um regime respeitado de Relações Internacionais a partir do final da década de 1970.
Esse padrão começou a mudar durante a década de 1990, com a expansão das novas guerras.Navegue pelas setas para compreender melhor como ocorreu a autorização para as intervenções humanitárias.
A sociedade internacional, no pós-Guerra Fria, passou a clamar por normas que defendessem os direitos humanos e que protegessem os civis ameaçados de genocídio e assassinatos em massa.
A norma que começava a emergir, contudo, ainda era fraca – em nenhum momento, o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou uma intervenção armada contra um Estado soberano em pleno funcionamento, embora já tenham ocorrido intervenções sem a autorização do Conselho.
Argumentos favoráveis e contrários
Há argumentos tanto favoráveis quanto contrários às intervenções humanitárias. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
argumentos favoráveis às intervenções
argumentos contrários às intervenções
Os que defendem as intervenções humanitárias afirmam que, na Carta das Nações Unidas, a proteção dos direitos humanos é tão importante quanto a manutenção da paz e a promoção da segurança.
Segundo essa visão, o direito à intervenção por motivos humanitários estaria presente no Direito Internacional, estabelecido tanto na Carta das Nações Unidas quanto no direito consuetudinário internacional.
Outros proponentes afirmam que as intervenções estariam baseadas em princípios morais, especialmente no princípio de que todos os seres humanos têm direito a um nível mínimo de proteção pelo simples fato de fazerem parte de uma humanidade comum.
Ataque de 11 de setembro
O ataque de 11 de setembro e a subsequente guerra ao terror tiveram consequências diversas no regime de intervenções humanitárias.
Os defensores de uma visão otimista afirmam que esses eventos injetariam autointeresse nas atividades humanitárias, de forma a diminuir as fontes de ameaça terroristas.
Por outro lado, alguns céticos afirmam que, após tais eventos, a intervenção humanitária poderia ser utilizada, cada vez mais, para servir aos interesses dos países que a empregam, e não daqueles que sofrem as violações dos seus direitos.
A intervenção no Iraque e a não intervenção em Darfur são casos que acabam dando razão aos céticos, pois sublinham os abusos cometidos e a seletividade na escolha dos casos a se intervir em função de interesses próprios de alguns países.
Proteção
O conceito de responsabilidade de proteger apareceu, inicialmente, em um relatório da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania do Estado em 2001, como parte de um esforço para resolver a tensão entre a proteção da soberania do Estado e apromoção dos direitos humanos.
De acordo com tal conceito, os Estados têm a responsabilidade principal de proteger os seus próprios cidadãos. Entretanto, se tais Estados não estiverem dispostos ou forem incapazes de realizar tal tarefa, essa responsabilidade é transferida para a sociedade internacional. Em outras palavras, o princípio de não intervenção dá lugar à responsabilidade internacional de proteger.
A iniciativa da Comissão foi alimentada pela resposta demorada do Conselho de Segurança da ONU com relação à atuação em Kosovo, em 1999, e pelo fato de a comunidade internacional ter ignorado o genocídio em Ruanda, no começo da década de 1990.
A Comissão defende que o debate não deve ser dirigido para a questão de os Estados terem o direito de intervir ou não, mas sim para a responsabilidade de proteger pessoas em perigo.
Para o órgão, a responsabilidade não está apenas em agir em crises humanitárias, mas também em evitá-las ao promover a reconstrução de Estados falidos ou tirânicos.
Adoção da responsabilidade de proteger
O princípio da responsabilidade de proteger foi também adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em uma reunião global, em 2005.
Há importantes diferenças entre o documento aprovado e o texto da Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania do Estado de 2001, devido, especialmente, às críticas formuladas por países como Estados Unidos, China e Rússia aos critérios estipulados em 2001.
Fundamentalmente, duas mudanças se destacam:
os critérios para governar o uso da força em situações de intervenção foram retirados do documento e
a autorização para a intervenção passou a ser localizada expressamente no Conselho de Segurança, sendo que o veto de um ou mais membros dos cincos países permanentes – Estados Unidos, Inglaterra, França, China e Rússia – poderia indeferir a proposta.
Essas mudanças representam a cristalização da norma de intervenção humanitária que se desenvolveu ao longo dos anos 1990.
UNIDADE 5
Origens da paz
Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir hostilidades que possam tornar impossível a construção de confiança recíproca na paz futura, como o emprego de assassinos e envenenadores, a quebra da capitulação e a instigação à traição no Estado com que se guerreia.
Paz perpétua de Kant
Kant argumentou que a melhor forma de promover a paz nas relações internacionais é encorajar o crescimento de repúblicas cujos arranjos constitucionais favoreçam o estabelecimento de mecanismos de equilíbrio entre os diversos grupos da sociedade.
Para o filósofo, o estado de paz entre os homens que vivem lado a lado não é um estado natural anterior ao estado de guerra.
Dessa forma, o estado de paz tem de ser instituído por meio do direito público, sendo assegurado por estruturas jurídicas institucionais. Nas palavras de Kant, “a razão condena absolutamente a guerra como procedimento de direito e torna, ao contrário, o estado de paz um dever imediato, que, porém, não pode ser instituído ou assegurado sem um contrato dos povos entre si.”
Impeditivos
Para Kant, há seis impeditivos para o estabelecimento da paz nas Relações Internacionais. Clique nos números para conhecê-los.
Promoção do estado de paz
Para promover a paz entre os Estados, Kant estabelece três artigos:
a constituição civil, em cada Estado, deve ser republicana;
o direito das gentes deve ser fundado sobre um federalismo de Estados livres;
o direito cosmopolita deve ser limitado às condições da hospitalidade universal.
Clique em cada um deles a seguir para melhor compreendê-los.
constituição republicana
federalismo
hospitalidade universal
constituição republicana
Para Kant, a constituição de um Estado deve-se fundar nos princípios de liberdade dos cidadãos enquanto membros da sociedade, da sua dependência a uma legislação comum e da sua igualdade.
Quando a legislação comum é uma constituição republicana, os cidadãos refletem sobre as consequências pessoais que podem advir das suas decisões e, por isso, são mais cautelosos.
Isso significa que, na hipótese do início de um conflito armado, os cidadãos avaliarão bem antes de concordarem com a sua eclosão.
Perspectivas contemporâneas
Liberais, por muito tempo, questionaram a perspectiva realista da política internacional – que afirma que as relações entre os Estados, por diferentes razões, sempre tendem ao conflito iminente –, argumentando que:
sob determinadas condições domésticas e internacionais, e com estratégias apropriadas por parte dos Estados, o caráter violento da política destes poderia ser contornado e
níveis de violência armada poderiam ser consideravelmente reduzidos.
Muitos observadores concordam que o caráter anárquico do sistema internacional cria as principais condições para que a guerra aconteça – incerteza, competição, busca pelo acúmulo de poder, etc.
Coerentes com essa lógica, alguns estudiosos defendem que a única forma de fomentar a paz seria eliminar a natureza anárquica do sistema com alguma forma de governo mundial que tivesse poder e recursos – incluindo forças armadas e força policial – para evitar que Estados entrem em guerra.
No entanto, essa é uma alternativa pouco viável, dada a força das normas de soberania e não intervenção na sociedade internacional contemporânea.
Efeitos pacíficos do Direito Internacional
Alguns analistas da política internacional têm apontado efeitos pacíficos do Direito Internacional e das instituições internacionais. São eles:
promoção e facilitação da cooperaçãoentre Estados;
estabelecimento de regimes para orientar as ações dos Estados e regular o que um Estado pode esperar dos demais em determinadas áreas
fomento de regimes de segurança coletiva e alianças.
No entanto, ainda não há uma abordagem unificada para essas diversas tentativas.
Relação entre interdependência econômica e paz
A ideia de que o comércio e as outras formas de interdependência econômica promovem a paz foi tema central da teoria econômica liberal do século XIX.
Norman Angell foi um dos seus principais propositores ao afirmar, em 1912, que os custos econômicos de uma guerra entre as grandes potências seriam tão devastadores que a guerra seria impensável.
No entanto, a Primeira Guerra Mundial logo provou que Angell não estava totalmente certo.
Ressurgimento da proposição
A proposição de que a interdependência econômica poderia evitar novas guerras ressurgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial como uma das bases da ideologia liberal americana.
Essa foi a base, por exemplo, do programa de assistência econômica e financeira à Europa em 1947 (conhecido como Plano Marshall) e também da institucionalização de um sistema financeiro e econômico integrado ao longo da década de 1970.
Vejamos como se desenvolve essa premissa:
Argumentos de natureza doméstica são empregados a favor da ideia de que o comércio promove a paz.
Dessa maneira, evita-se que elites políticas usem problemas externos como "bodes expiatórios" para aumentar o seu apoio doméstico ou mesmo diminui a necessidade de protecionismo externo, o que, sabemos, pode levar a hostilidades prolongadas.
No entanto, a realidade pode colocar em cheque esses argumentos, ao menos em alguma medida.
Isso acontece porque os benefícios econômicos e industriais advindos do esforço de guerra – avanços tecnológicos e aumento da produção, por exemplo – podem superar os prejuízos advindos da cessação parcial do comércio, especialmente se o Estado não é o cenário da guerra, como foi o caso dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Teoria da paz democrática
Liberais, há muito tempo, argumentam que as democracias são mais pacíficas que outros regimes, como sugeriu Woodrow Wilson durante a Primeira Guerra Mundial.
No entanto, esse argumento só se fortaleceu a partir dos anos 1980, quando começaram a surgir evidências de que democracias raramente entram em guerra umas com as outras.
Pesquisadores demonstraram que essa regularidade empírica não poderia ser explicada:
por uma separação geográfica dos Estados;
pelo comércio intensivo entre díades democráticas;
pelo papel do poder americano em evitar conflitos entre democracias desde o final da Segunda Guerra Mundial ou
por outros fatores econômicos e geopolíticos correlacionados com a democracia.
Participação das democracias
Muitos analistas perceberam que, ao contrário do que Kant afirmava, as democracias não são, significativamente, mais pacíficas que outros tipos de Estados em geral, mas sim que as democracias, raramente, entram em conflito com outras democracias.
As democracias têm a mesma probabilidade de ir à guerra que outros tipos de regime político. Em guerras entre democracias e regimes autoritários, geralmente, as democracias iniciam o ataque e usam operações secretas nos conflitos.
Ao mesmo tempo, as explicações da paz democrática devem ser consistentes com as evidências de que as democracias:
quase nunca acabam em lados opostos em guerras multilaterais;
ganham um número desproporcional das guerras que lutam;
sofrem menos baixas nas guerras que iniciam e
engajam-se em mais processos de resolução pacífica de conflitos.
MÓDULO – PODER
UNIDADE 1
Conceito de poder
O exercício de poder pode produzir resultados não antecipados ou resultados não intencionais. Da mesma forma, o poder não é só a capacidade de obter a mudança de comportamento de um ator mas também a capacidade de fazê-lo com objetivos determinados.
Definição de poder
O estudo da política internacional, necessariamente, implica o estudo do poder. Em 1957, Robert Dahl definiu poder como
[...] a capacidade de "A" – ator ou grupo de atores que exerce o poder – modificar o comportamento de "B" – ator ou grupo de atores que sofre o exercício de poder –, gerando, dessa forma, um resultado que pode ou não ser o esperado por "A".
Nessa concepção, um comportamento não precisa ser definido de forma específica, mas pode incluir:
crenças
atitudes
opiniões
expectativas
emoções
predisposições para agir
Essa definição de poder tem a vantagem de não identificar o exercício de poder com a necessária obtenção de resultados esperados.
O exercício de poder pode produzir resultados não antecipados ou resultados não intencionais. Da mesma forma, o poder não é só a capacidade de obter a mudança de comportamento de um ator mas também a capaciade de fazê-lo com objetivos determinados.
Uma relação de poder opera em um domínio e em relação a determinada área ou com um escopo particular. Isso significa dizer que, em uma relação de poder, além de nos perguntarmos quem exerce o poder, precisamo-nos perguntar:
sobre quem o poder está sendo exercido e
em que área o poder está sendo exercido.
Essas questões ajudam a delimitar as circunstâncias do exercício de poder.
Concepções tradicionais de poder
No estudo da política internacional, são duas as concepções tradicionais de poder:
poder como relação e
poder como uma propriedade dos atores (em geral, dos Estados).
Por vezes, essas definições são utilizadas de forma paralela – o poder dos Estados, por exemplo, é definido com base nas suas capacidades e na sua relação com os demais Estados do sistema internacional.
Capacidades, por si só, não se transformam em recursos de poder, e alguns recursos podem ser utilizados de forma eficiente em uma relação de poder, mas não em outras. Os recursos em si também não produzem, necessariamente, uma mudança de comportamento, quanto mais um comportamento desejado.
Isso dependerá do contexto da relação de poder e da forma pela qual o poder é exercido.
Influência e coerção
Muitos analistas tratam as relações de poder de forma intercambiável com relações de influência ou de coerção. Outros estudiosos afirmam haver diferenciação entre aquelas e as relações de influência.
Geralmente, essa distinção se faz necessária quando entendemos que uma relação de poder é reservada a situações de oposição social na qual exercer poder é superar certa resistência do objeto sobre o qual o sujeito exerce esse poder, por vezes, por coerção ou por meio da aplicação de incentivos negativos.
Nessa situação, exercer influência seria, necessariamente, um movimento distinto, por produzir o comportamento desejado sem que haja necessidade de coerção, por meio de incentivos positivos. Nessa linha de raciocínio, a influência seria uma forma não coercitiva de poder.
Por vezes, também se assume que a influência produz o efeito desejado sem que o objeto do exercício de poder se dê conta de que está participando de uma relação desigual e modificando o seu comportamento em benefício do sujeito que exerce o poder.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de aplicação de incentivos negativos.
Problema da credibilidade
Entender o exercício do poder como uma relação em que a coerção desempenha um papel principal implica trazer o problema da credibilidade.
É verdade que a coerção, por vezes, pode não produzir o comportamento desejado por parte do ator que exerce poder sobre outro. Nesse sentido, incentivos negativos podem ter consequências não previstas, também chamadas pela literatura de consequências não intencionais.
Também é verdade que, para tentar garantir que o exercício de poder tenha o efeito desejado sobre o objeto a que se aplica, é necessário que o ator que exerce poder tenha credibilidade perante o objeto da sua ação. Vejamos o esquema a seguir:
Esse foi o caso, por exemplo, do bloqueio econômico de Cuba pelos Estados Unidos e da expulsão do país da Organização dos Estados Americanos (OEA),após Fidel Castro declarar a adoção do regime marxista-leninista em 1961.
Certamente, as duas sanções não produziram o efeito desejado pelos Estados Unidos – qual seja, o alinhamento de Cuba ao bloco ocidental e o abandono do regime comunista. Mesmo assim, o governo norte-americano seguiu com a aplicação das sanções, sendo que algumas permanecem até os dias de hoje.
No contexto de competição bipolar em que o mundo se encontrava durante a Guerra Fria, ficou claro que a capacidade de realizar ameaças críveis era fundamental para a sobrevivência de cada um dos dois blocos. Nesse sentido, a percepção de como as relações de poder foram conduzidas no passado também influenciará como os atores responderão no presente tanto com relação à apresentação de ameaças ou de recompensas no exercício do poder.
Tipos de poder
Michael Barnett e Raymond Duvall desenvolveram uma análise extensiva do conceito de poder nas relações internacionais. A taxonomia que os autores desenvolveram a partir dessa análise tinha como objetivo responder à seguinte questão fundamental:
De que maneira os atores são capazes de determinar os seus destinos e como essa habilidade é limitada ou potencializada pelas relações sociais de que eles participam com outros atores?
Para Barnett e Duvall, analisar o poder nas relações internacionais deve levar em consideração duas questões:
1
A capacidade de um ator agir diretamente para modificar o comportamento de outro.
2
A produção de agendas e estruturas que delimitam as relações sociais de interação entre os atores sobre os quais o poder é exercido.
Nesse sentido, além de nos perguntarmos sobre quem o poder é exercido, devemo-nos questionar para que ele é exercido.
Atenção!
Responder a essa segunda questão é tentar entender como as relações sociais definem quem os atores são e que tipo de capacidades e práticas eles podem utilizar em determinada relação de poder.
A abordagem dessas duas dimensões – poder sobre quem e poder para quê – ocorre por meio da análise de três tipos de poder. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
poder compulsório
É a capacidade de um ator – ou grupo de atores – exercer controle direto sobre outro. Esse tipo de poder está presente sempre que as ações de Acontrolam as ações ou circunstâncias de B, mesmo que de forma não intencional.
Nesse caso, entende-se que a relação de poder existe mesmo que o ator que exerce o poder não tenha consciência de como as suas ações influenciam o comportamento de outros atores.
O tipo de relação entendido como poder compulsório sublinha os recursos que A emprega para produzir uma mudança no comportamento de B.
Esses recursos não são limitados a capacidades materiais, mas compreendem também recursos simbólicos e normativos, como o apelo às normas e à autoridade constituída.
poder institucional
Ocorre quando atores exercem controle sobre outros por meio de relações sociais difusas de interação.
Nesse sentido, enquanto o poder compulsório estabelece o controle direto de um ator sobre outro, o poder institucional determina o controle por meios indiretos.
O poder institucional ocorre, portanto, quando instituições formais ou informais medeiam a relação entre A e B. Nesse caso, A trabalha por meio de regras, normas, práticas e procedimentos que definem essas instituições para guiar, constranger ou potencializar as ações de B.
Esse entendimento ressalta a possibilidade de o poder ser exercido na formação e no desenvolvimento de instituições, enquanto estas podem refletir relações de poder, constranger ou fornecer a base para o seu exercício.
poder estrutural
É a constituição das capacidades dos sujeitos em uma relação estrutural direta uns com os outros.
Enquanto o poder institucional sublinha os diferentes constrangimentos que os arranjos institucionais produzem sobre os atores, o poder estrutural foca os processos que constituem a formação das capacidades e dos interesses dos atores.
O poder estrutural analisa como as estruturas constituem privilégios sociais desiguais em relações de poder.
Esse tipo de poder é conferido, por exemplo, pela distribuição desigual de recursos e capacidades aos atores na estrutura do capitalismo global.
UNIDADE 2
Capacidades e recursos de poder
A análise do poder como capacidades ou elementos do poder nacional não só aparece, com frequência, nos estudos realistas e neorrealistas das relações internacionais, como se encontra firmemente enraizada nos estudos da balança de poder, não importando qual versão consideremos.
Análise de poder
As duas principais abordagens de análise do poder nas relações internacionais têm tratado o poder ou como capacidades e recursos (ou elementos do poder nacional), ou como uma relação.
Por essa razão, grande parte das discussões sobre poder começa por fazer uma distinção básica entre o poder como:
uma capacidade ou propriedade da unidade a ser analisada – na política internacional, isso, geralmente, se refere aos Estados, mas pode incluir também atores não estatais – ou
uma relação entre unidades.
Ambas as abordagens de análise do poder estão presentes na literatura contemporânea sobre relações internacionais, mas, por vezes, são associadas a tradições teóricas distintas.
Poder como relação
A abordagem do poder como relação foi desenvolvida, durante a segunda metade do século XX, por estudiosos de uma variedade de disciplinas das Ciências Sociais e da Filosofia.
Poder como capacidades e recursos
A análise do poder como capacidades e recursos está mais intimamente ligada à tradição realista nas relações internacionais.
Histórico
No século XVIII, o poder de Estados individuais era concebido como suscetível a ser medido por certos fatores bem definidos. Clique nas imagens para conhecer esses fatores.
Nos séculos seguintes, esse entendimento da composição do poder dos Estados passou a compreender os elementos do poder nacional.
Podemos destacar, nesse período, as seguintes obras:
Politics among nations (1948), deHans Morgenthau
The twenty years crisis (1919-1939, publicado em 1939), deE. H. Carr
Balança de poder
A análise do poder como capacidades ou elementos do poder nacional não só aparece, com frequência, nos estudos realistas e neorrealistas das relações internacionais, como se encontra firmemente enraizada nos estudos da balança de poder, não importando qual versão consideremos.
Todas as versões da Teoria da Balança de Poder compartilham da premissa de que é possível identificar e combinar os vários elementos do poder nacional para calcular a distribuição de poder entre as grandes potências.
A ideia de balança de poder pode ser entendida de duas formas:
como política implementada pelo Estado no cenário internacional ou
como propriedade do sistema internacional.
A ideia de balança de poder como propriedade do sistema internacional foi desenvolvida, de forma mais sistemática, por Kenneth Waltz em Theory of international politics, livro publicado em 1979.
No seu trabalho, Waltz propõe uma teoria estrutural da política internacional. Segundo o autor, uma das características definidoras dessa estrutura é a distribuição de capacidades entre os Estados.
Para Waltz, os Estados podem ser classificados de acordo com a quantidade e a extensão das capacidades que possuem. As capacidades, por sua vez, determinam a posição de poder do Estado no sistema internacional.
Essas capacidades, segundo o autor, seriam, necessariamente, as seguintes:
Capacidades
Capacidades ou recursos de poder são partes fundamentais de uma relação de poder, embora a presença dessas capacidades, por si só, não determinem a natureza de tal relação.
Uma vez que a habilidade de fazer um ator mudar o seu comportamento é associada à posse de certos recursos, muitos políticos e diplomatas definem o poder como o agrupamento de algumas capacidades.
Muitos estudiosos também entendem que, para obter o comportamento desejado do ator sobre o qual o sujeito (também um ator) está exercendo poder, é necessário, antesde tudo, que o agente tenha determinadas capacidades ou recursos que mobilizem o objeto da sua ação na direção desejada.
Sem as capacidades para exercer poder, o sujeito não consegue obter o comportamento desejado. Por outro lado, as capacidades, por si só, não se transformam em poder.
Por exemplo, recursos militares não são, necessariamente, poder militar, a não ser que o seu uso ou a sua ameaça de uso por parte de um Estado atue para produzir a mudança de comportamento desejada sobre outro ator.
Discussões de poder
Apesar de haver controvérsias sobre que fatores constituem capacidades passíveis de serem transformadas em recursos de poder, alguns indicadores figuram, com certa frequência, em análises sobre o poder como capacidades ou propriedades das unidades. Navegue pelas setas para conhecer esses indicadores.
 
O Produto Interno Bruto (PIB) e o PIB per capita, o tamanho da população, a extensão territorial e a localização geográfica, e o tamanho das forças armadas;
Discussões sobre poder que o considerem como capacidades têm de levar dois elementos em consideração. Clique em cada um deles a seguir para conhecê-los.
1º elemento
Primeiramente, as capacidades de um Estado precisam ser avaliadas de forma relacional, isto é, em comparação com as capacidades de outros Estados.
Além disso, como vimos, as capacidades não funcionam, necessariamente, como recursos de poder em todas as situações. Na verdade, o que pode constituir um elemento de poder em uma situação pode constituir uma fraqueza em outra.
2º elemento
O segundo elemento a ser considerado é o conjunto de premissas que está envolvido na definição de quem (e como) está tentando mudar o comportamento de quem, a fim de atingir o quê com isso.
Sem ter ciência dessas premissas, é difícil avaliar as capacidades de um Estado.
Limites
Mesmo os Estados mais poderosos têm limites com relação às capacidades que podem atingir.
Em muitos casos, o efeito das capacidades também está ligado à percepção dos atores de que os Estados vão, de fato, empregá-las no exercício de poder.
Nesse caso, a capacidade militar de possuir armamentos nucleares, por exemplo, pode não ser vista como um recurso de poder se os demais Estados não acreditam que a potência nuclear estaria disposta a empregá-la em um conflito militar.
Em definições de poder, além de existirem como propriedades dos Estados, as capacidades também podem figurar como relações.
Nesse caso, as capacidades – ou recursos de poder, atentando para a qualidade potencial de esses recursos se transformarem em instrumentos de poder – são situadas nos contextos de domínio e escopo do ator que está exercendo poder.
Atenção!
É mais fácil estimarmos os recursos de que um arquiteto ou um engenheiro civil vai precisar para finalizar o seu projeto se soubermos se ele planeja construir uma casa ou um edifício de vinte andares.
Cinco eixos
As capacidades mais indicadas na literatura estão agrupadas em cinco eixos. Clique nas abas para conhecê-los.
capacidades militares
capacidades geográficas
capacidades econômicas
capacidades políticas
capacidades sociais e culturais
UNIDADE 3
Interesses e objetivos
Geralmente, os interesses dos Estados são diversos e apresentam-se para os líderes em ordem de prioridade distinta. No entanto, análises tradicionais da política internacional entendiam que o mínimo objetivo comum de qualquer Estado seria a sobrevivência nacional ou, colocado de outra forma, a defesa da sua soberania.
Definição weberiana
Max Weber definiu poder como:
A probabilidade de um ator dentro de uma relação social estar em posição de realizar sua vontade apesar de resistência, apesar da base sobre a qual essa probabilidade se baseia.
A definição de Weber recupera um elemento importante da discussão: a definição de poder como um exercício relacional entre atores ou grupos de atores.
No entanto, a explicação de Weber também faz com que as intenções do ator que exerce o poder sejam uma parte importante da sua definição.
Componentes essenciais
A definição weberiana de poder sublinha dois componentes essenciais da relação de poder. Clique nas imagens para conhecê-los.
Os objetivos que o ator que exerce o poder quer atingir por meio dessa relação.A capacidade de um ator realizar esses objetivos por meio do exercício de poder.
Em um sistema anárquico, assume-se que os Estados sejam atores racionais que agem de forma a atingir os objetivos estabelecidos de acordo com os seus interesses.
Nesse cenário, o potencial de um ator para atingir os seus objetivos por meio do exercício de poder não será apenas definido pelas capacidades desse ator que exerce o poder mas também pelas capacidades relativas – além dos constrangimentos institucionais e normativos – dos atores sobre o qual o poder é exercido.
Soberania
Geralmente, os interesses dos Estados são diversos e apresentam-se para os líderes em ordem de prioridade distinta. No entanto, análises tradicionais da política internacional entendiam que o mínimo objetivo comum de qualquer Estado seria a sobrevivência nacional ou, colocado de outra forma, a defesa da sua soberania.
Esse objetivo era uma meta necessária dos Estados, por exemplo, durante os séculos XVIII e XIX, quando a sobrevivência territorial ou a autoridade de um Estado sobre parte do seu território poderia ser ameaçada a qualquer momento por outros Estados que desejassem expandir o seu território ou que não reconheciam a jurisdição de algum governo sobre o seu território.
É possível perceber que, com exceções específicas, a preservação da soberania dos Estados na ordem internacional do século XXI não é mais um imperativo dos Estados.
Objetivos como guias no processo de decisão
Interesses precisam ser traduzidos em objetivos para figurarem no processo político. Ao traduzir interesses em objetivos, os formuladores de política externa utilizam esses objetivos como guia no processo de decisão.
Os objetivos não são estipulados apenas em função dos interesses de um Estado, mas também em função das ameaças e das oportunidades apresentadas aos formuladores políticos pelo sistema internacional.
Atenção!
Os interesses e objetivos de um Estado não são estáticos. Eles se desenvolvem ao longo do tempo, acompanhando as contingências do sistema internacional. 
Os objetivos dos Estados Unidos com relação ao continente europeu, por exemplo, modificaram-se, de forma acentuada, do final do século XIX até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Vejamos:
final do século XIX
O principal objetivo do Estado norte-americano com relação ao continente europeu era não tomar parte nas disputas entre os Estados europeus.
final da Segunda Guerra Mundial
O objetivo dos Estados Unidos era assegurar a reconstrução da Europa ocidental, de forma a impedir o avanço do comunismo.
Classificação dos objetivos
Os objetivos podem ser classificados conforme o escopo, o custo e o tempo estimados para a sua realização, ou conforme a urgência e importância na qual são priorizados.
O quadro a seguir apresenta exemplos de temas e objetivos classificados em curto, médio e longo prazos. Vejamos:
	exemplos de temas
	objetivos
	
	objetivos de curto prazo
	objetivos de médio prazo
	objetivos de longo prazo
	segurança
	Negociar um cessar-fogo entre as partes em conflito.
	Estabelecer alianças, administrar disputas que podem vir a se tornar um conflito armado.
	Conseguir uma paz durável, ganhar disputas militares, conquistar territórios e manter a integridade territorial do seu Estado.
	economia
	Negociar acordos comerciais e obter acesso a matérias-primas.
	Participar de instituições multilaterais comerciais e financeiras, como a OMC, o FMI e o Banco Mundial.
	Ampliar os mercados estrangeiros para os produtos nacionais e apoiar a expansão de empresas domésticas para outros países.
	valores
	Conter eventos que ameacem os direitos humanos e a segurança de populações.
	Estabelecer instituições de promoção e defesa dos direitos humanos.
	Promover a expansão do seumodelo político e adquirir adesão aos seus valores no cenário internacional.
É importante notarmos que a classificação dos objetivos depende, claramente, de elementos além da natureza própria dos objetivos, como a posição de um Estado no sistema internacional, e as oportunidades e ameaças que se apresentam no desenvolvimento de estratégias para a realização desses objetivos.
Influência de atores não estatais
O processo de definição dos objetivos a serem perseguidos por meio da política externa não é isento de controvérsias.
Pode haver controvérsias dentro de setores do governo e mesmo dentro de burocracias governamentais acerca de que objetivos devem ser definidos em função dos interesses do Estado.
Grupos de fora do governo também podem participar do processo de definição dos objetivos, influenciando-o. A seguir, apresentamos alguns desses grupos. Clique nas imagens para conhecê-los.
grupos de interesse;mídia;bancos;empresas multinacionais;público em geralatores transnacionais e instituições internacionais.
Além de participarem do processo de definição e de implementação dos objetivos dos Estados, os atores não estatais também têm interesses e objetivos próprios, e, por vezes, procuram implementá-los no cenário internacional apesar dos objetivos dos Estados.
As ONGs comprometidas com a promoção e a defesa dos direitos humanos, por exemplo, podem deparar-se com a resistência de Estados que tenham como objetivo manter a sua política doméstica longe de possíveis críticas no cenário internacional.
Exemplo
Clique no ícone para acessar um exemplo de influências no processo de definição dos objetivos na política externa.
Conflito de objetivos
A priorização dos objetivos também pode estar sujeita a disputas e controvérsias. Nesse processo, é possível, ainda, que a realização de alguns objetivos entre em conflito com a realização de outros.
Os objetivos não precisam ser, necessariamente, todos compatíveis entre si. Muitas vezes, os estadistas precisam tomar decisões com base em objetivos conflitantes.
Também não é incomum que objetivos de política externa conflitem com objetivos domésticos.
Interesse nacional
Não há como discutirmos interesses e objetivos sem tratarmos do conceito de interesse nacional.
Até meados do século XX, nas análises da política internacional, havia uma tendência generalizada de equacionar interesses e objetivos com a ideia de interesse nacional.
O desenvolvimento do conceito no léxico político acompanhou o desenvolvimento da figura do Estado-Nação, substituindo o emprego da ideia de raison d‘etat.
Esse é um dos motivos pelo qual o conceito refletia a centralidade da figura do Estado-Nação como ator, quase exclusivo, da política internacional. Afinal, quem além do Estado poderia ter interesses nacionais?
UNIDADE 4
Exercício e controle de poder
O poder político pode ser exercitado por meio de ordens e ameaças, pela autoridade ou carisma de um homem ou de um órgão bem como pela combinação de quaisquer desses meios.
Poder político
Morgenthau afirma que o poder político consiste em uma relação entre os que o exercitam e aqueles sobre os quais ele é exercido.
O poder político faculta aos primeiros o controle sobre certas ações dos últimos, mediante o impacto que os primeiros exercem sobre as mentes desses últimos.
Esse impacto pode derivar de três fontes:
expectativa de benefícios;
receio de desvantagens e
respeito por indivíduos ou instituições.
O poder político pode ser exercitado por meio de ordens e ameaças, pela autoridade ou carisma de um homem ou de um órgão bem como pela combinação de quaisquer desses meios.
O exercício e o controle do poder apresentam algumas diferenças importantes com relação à maneira como foram empregados, por exemplo, durante a primeira metade do século XX.
Alguns movimentos fizeram com que se tornasse mais difícil empregar recursos tradicionais de poder ou converter recursos de uma área a outra para atingir objetivos na política internacional. São exemplos desses movimentos:
a interdependência econômica;
a consolidação das redes de atores transnacionais;
o fortalecimento da atuação e da participação de atores não estatais;
a difusão da tecnologia e
outras dinâmicas particulares das últimas décadas.
Escopo e domínio
É importante compreendermos o escopo e o domínio em uma relação de poder. Clique em cada um deles a seguir para obter mais informações.
escopo
A natureza do escopo em uma relação de poder pode, em grande medida, determinar a capacidade de um ator empregar os seus recursos.
domínio
O domínio de uma relação de poder, por outro lado, deve não só incluir os Estados mas também levar em consideração os interesses e os objetivos de atores não estatais ou de pequenas potências que, dependendo do escopo considerado, têm maior ou menor influência sobre o ator que exerce o poder.
Por exemplo, sanções econômicas podem não ser tão eficazes em Estados menos dependentes da importação de alimentos ou de recursos naturais.
Da mesma forma como mudam os instrumentos de poder, o escopo e o domínio de uma relação de poder também mudam as estratégias do seu emprego.
Dimensões do poder
O exercício do poder ocorre em função de algumas dimensões.
Como vimos, ao estipularmos o domínio e o escopo de uma relação de poder, procuramos responder à seguinte pergunta: O poder é exercido sobre quem e em que situação? No entanto, há outras dimensões alternativas do exercício de poder a serem consideradas. Clique nos itens a seguir para visualizá-las.
domínio
Ao nos referirmos ao domínio de uma relação de poder, procuramos analisar o número e o tipo de atores que estão sujeitos à influência do ator (ou grupo de atores) que está exercendo o poder.
Nessa dimensão do poder, observamos a extensão da capacidade de A de mudar o comportamento de B, sendo B exatamente o ator que procuramos conhecer.
B pode ser um Estado ou um grupo de Estados, uma instituição, uma organização não governamental ou qualquer um dos demais atores não estatais.
Dessa forma, por exemplo, um Estado pode exercer poder eficazmente em uma região do mundo, mas não ter influência em outra.
escopo
O escopo de uma relação de poder refere-se ao aspecto do comportamento de B afetado por A no exercício de poder.
Atentar para o escopo de uma relação de poder é tão importante quanto analisar o seu domínio. É possível que A consiga afetar o comportamento de B em algumas áreas e, em outras, não.
peso e custo
Alguns autores apontam para as dimensões de peso e custo de uma relação de poder.
O peso se referiria à probabilidade de A afetar o comportamento de B no exercício de poder, seja na direção desejada ou não. Já o custo se referiria ao dispêndio de recursos, tanto por parte de A quanto por parte de B, na relação de poder.É custoso ou relativamente fácil para A mudar o comportamento de B? De maneira inversa, é custoso ou não para B mudar o comportamento conforme as demandas de A?
Alguns estudiosos afirmam ainda que, se A conseguir mudar o comportamento de B em uma área em que seria mais custoso para B atender às demandas de A, isso seria evidência do maior poder de A em relação a B do que se fosse fácil para B fazer o mesmo movimento.
Meios de exercício do poder
Há muitas maneiras de exercer influência e poder. Existem diversos modos pelos quais podemos produzir incentivos (negativos e positivos) para alterar o comportamento de outro ator da forma desejada.
Há também muitas formas de categorizarmos os meios a partir do quais exercemos o poder.
Um dos vários modelos encontrados na literatura sobre o assunto divide tais meios em quatro categorias, seguindo de perto a divisão de capacidades. Clique em cada uma delas a seguir para obter mais informações.
meios militares
meios diplomáticos
meios econômicos
meios simbólicos
Medição do poder
Para analisar a distribuição de capacidades, é necessário encontrar alguma forma de medir essas capacidades. Contudo, essa tarefa tem trazido importantes desafios para os analistas de poder.
Isso nãosignifica afirmar que o poder é algo difícil de medir. Apesar das dificuldades implícitas ao desafio, o poder de A sobre B pode ser medido em termos, por exemplo, de domínio X e escopo Y.
Podemos medir a capacidade de poder de A das seguintes maneiras:
a probabilidade de que B mude o comportamento em resposta a A;
a extensão de resistência de B para mudar o seu comportamento ou, dito de outra forma, a velocidade da resposta de B;
a quantidade de temas em Y sobre o qual A produz uma mudança de comportamento em B;
a quantidade de atores em X sujeitos ao exercício de poder de A;
os custos do exercício de poder para A;
os custos para B mudar ou não o seu comportamento em resposta a A;
o número de opções disponíveis para B responder a A e
a magnitude dos incentivos negativos (sanções) ou positivos (recompensas) fornecidos por A a B.
Conversão do poder
A ideia de conversão de poder está associada ao conceito de fungibilidade.
Fungibilidade refere-se à facilidade com que os recursos de poder de uma área podem ser empregados como recursos de poder em outras áreas.
Podemos afirmar que as mudanças das últimas décadas no sistema internacional fizeram com que o poder perdesse algo da sua capacidade de ser fungível.
O poder nunca foi tão fungível como o dinheiro, mas a especialização das esferas que produzem recursos de poder em potencial fez com que seja mais difícil converter poder hoje em dia.

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