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Aula: SABER JURÍDICO E AS QUESTÕES RELATIVAS A SEU CARÁTER CIENTIFICO Dificuldade inicial: O que é ciência? Ciência não é algo unívoco, isto é, não possui uma única interpretação, mas um conhecimento de enunciados que completam e refinam constatações dos saberes vulgar da sociedade. A ciência descreve, comprova e sistematiza seu objeto de estudo. Saber cientifico jurídico e a dicotomia: ciências naturais e ciências humanas. Há uma distinção quanto ao método usado em determinado objeto, isto é, o método será diferente de acordo com as ciências naturais e humanas. Pode-se dizer que o método aplicado às ciências naturais é inadequado às ciências sociais. Os “objetos humanos” devem ser estudados de maneira diferente aos objetos naturais, pois aqueles possuem o “poder” de julgar, dar um certo valor aos fatos, ou seja, os “objetos humanos” devem ser compreendidos, isto é, reprodução intuitiva e valorativa do sentido dos fenômenos. COMPREENSÃO: os objetos deixam de ser apreendidos a partir de uma observação rigorosa e neutra – como nos fatos da natureza -, mas captados a partir se seu sentido implícito, ou seja, estudar o homem pela sua essência. “(...) nos fenômenos naturais, o método de abordagem se refere a possibilidade de explica-los, isto é, constatar a existência de ligações constantes entre fatos, deles deduzindo que os fenômenos estudados daí derivam; já nos fenômenos humanos se acresce à explicação o ato de compreender, isto é, o cientista procura reproduzir intuitivamente o sentido dos fenômenos, valorando-os. A introdução do compreender traz para a ciência o discutido conceito de valor. As ciências humanas passam a ser explicativas e compreensivas à medida que se reconhece que o comportamento humano, não tendo apenas sentido que lhe damos, tem também o sentido que ele próprio se dá (...)”. (FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 03). O comportamento humano exige um método próprio – não mais baseado nos pressupostos das ciências naturais -. No século XIX o saber jurídico é atividade ordenada segundo princípios e regras do modelo das Ciências da Natureza, ou seja, considera-se as relações lógico-formais dos fenômenos jurídicos, deixando de lado seu caráter empírico e axiológico (formalismo rígido). AXIOLÓGICO: Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. O fenômeno da positivação resulta em um processo de secularização do direito natural (XVII – XVIII), ou seja, há um esforço por entender o objeto desse saber como um produto tipicamente humano e social, não mais metafísico. SECULARIZAÇÃO: de modo geral, entende-se o processo pelo qual a religião deixa de ser aspecto cultural agregador. A ciência do direito se voltaria para as normas postas, fazendo com que um novo método se desenvolve-se: captação da norma na sua situação concreta. A ciência do direito não pode se libertar dos conceitos abstratos e genéricos (diferentes formalismos) ao mesmo tempo em que reclama um “sentido concreto” – Tais conceitos são uma simples expressão da “realidade concreta” (diversos empirismos). POSITIVAÇÃO ENQUANTO LEGALISMO (XIX): direito positivo é aquele que vale em virtude de uma decisão e só por força de uma nova decisão pode ser revogado. Lei = norma posta pelo legislador. POSITIVAÇÃO ENQUANTO DECISÃO (XX): fenômeno segundo no qual todas as valorações, normas e expectativas de comportamento na sociedade precisam ser “filtradas” por meio de processos decisórios antes de adquirir validade. Há uma certa burocratização no fenômeno. IMPORTANTE: O objeto principal da ciência do direito não é a positivação, nem o conjunto de normas positivadas, mas o homem que se representa, ou seja, O HOMEM ENQUANTO REPRESENTAÇÃO DA PRÓPRIA POSITIVAÇÃO. O homem representa na norma seus próprios valores culturais, sociais, etc. A positivação eliminou a possibilidade de a ciência do direito trabalhar com enunciados descritivos – transmissão de uma informação precisa sobre a realidade – que aspiram à verdade na sua verificação intersubjetiva – de um modo abrangente, as normas se tornam interpretáveis, menos rígidas-. Dessa maneira, a positivação faz com que a ciência do direito apreende o direito positivo não como criação da decisão legislativa – relação causal entre vontade do legislador e o direito como normal -, mas como imputação de validade a certas decisões (legislativas, judiciárias, administrativas, etc.). O objeto da ciência jurídica passa a resultar uma série de fatores causais muito mais importantes que a decisão: valores socialmente predominantes, obrigações econômicas e políticas, etc. Porém, a decisão do legislador continua a ter uma função muito importante: escolher uma possibilidade de regulamentação do comportamento em detrimento (agravo) de outras, logo, maior flexibilidade/liberdade na decisão. O problema da ciência do direito não é propriamente uma questão de verdade, mas de decidibilidade. A ciência do direito se manifesta como um pensamento tecnológico: dogmatiza os seus pontos de partida e problematiza apenas a sua aplicabilidade.