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DIREITO PROCESSUAL PENAL 2

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DIREITO PROCESSUAL PENAL – SEMINARIO
NOME: Gabriela Chaves Honório – RA00149764
Considerando a grande incidência de nulidades, em face da complexidade para a elaboração e votação do questionário, achou por bem o legislador introduzir alterações substanciais na sua formulação. Após anos de discussões no Congresso Nacional foi publicada a Lei 11.689, de 9 de junho de 2008, que altera quase que na íntegra o procedimento nas ações penais relativas aos crimes dolosos contra a vida e seus conexos.  
Não significa dizer que se deva abandonar as referências construídas pela doutrina e pela jurisprudência ao longo do tempo, mas não pode haver dúvidas que o propósito do legislador foi efetivamente criar um novo sistema, que naturalmente irá se aperfeiçoando no curso da aplicação da lei, como historicamente ocorreu.
Serão redigidos poucos quesitos, que se pretende sejam mais objetivos e de fácil interpretação. A elaboração, na forma de proposições afirmativas, simples e distintas, tomará por base a pronúncia, eventuais decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, o interrogatório do acusado (autodefesa) e as alegações das partes.
O Conselho de Sentença deverá ser perguntado antes de tudo sobre a própria existência do fato e a autoria ou participação do acusado, e, após, sobre se absolve ou não o réu (art. 482). De maneira simplificada, para a decisão dos jurados, no júri brasileiro, a regra processual delimita uma ordem na quesitação: materialidade, autoria, absolvição, diminuição de pena, qualificadora ou aumento de pena (art. 483 do CPP).
Sobre este aspecto da reforma, opinam Edilson Mougenot Bonfim e Domingos Parra Neto:
“Nos termos da lei, o questionário deverá conter indagações acerca das questões de fato, não submetida ao corpo de jurados a matéria de direito subjacente ao meritum causae. Composto o Conselho de Sentença por juízes leigos ("juízes do fato"), desprovidos de conhecimentos técnicos acerca do direito, a princípio, deveriam se manifestar tão-somente quanto à existência do crime, sua autoria, bem assim as condições e circunstâncias em que o fato teri sido praticado. Parece ter sido esta a intenção dos mentores da reforma, já que, pela análise da nova regulação legal acerca da formulação do questionário, foram excluídos os quesitos referentes às causas excludentes de ilicitude. De acordo com a nova regulamentação legal, reconhecendo os jurados ter agido o acusado sob o manto de excludente de ilicitude, deverão votar "sim" ao terceiro quesito, absolvendo o réu, sem, contudo, manifestarem-se especificamente sobre os requisitos legais da justificativa apresentada.”
 A decisão será obtida por maioria, ou seja, por quatro ou mais votos, uma vez que o conselho de sentença continuará composto por sete jurados. De qualquer forma, os quesitos devem ser elaborados de forma objetiva e clara, para que possam ser respondidos simplesmente com as palavras "Sim" ou "Não".
No primeiro quesito, se indagará sobre a materialidade do fato, ou seja, sobre a existência concreta do crime, o que, na maioria das vezes, pode-se demonstrar com laudo elaborado por peritos médicos. 
No segundo quesito, serão os jurados indagados sobre a autoria ou a participação no crime. 
O terceiro quesito é, dentre todos, o mais importante e fundamental tem redação na lei. Aos jurados será indagado apenas se absolvem ou condenam o acusado, através de cédulas especiais contendo as palavras “absolvo” ou “condeno”. A absolvição é critério subjetivo onde cabem todas as teses de defesa, qualquer que seja a sua natureza: o jurado absolve o acusado? Sim ou não, de acordo com a convicção/convencimento de cada jurado. A maioria (4 votos, de 7), em cada um desses quesitos, define o resultado: condenado ou absolvido. Se recusada a materialidade, a autoria ou se absolvido o acusado: absolvido! Se aceita a materialidade, a autoria, e recusada a absolvição: condenado!
Assim, respondidos afirmativamente os dois primeiros quesitos acerca da materialidade do fato e sobre a autoria ou participação, será formulado o terceiro quesito, que engloba todas as teses apresentadas pela defesa. Com essa providência, afasta-se a maior fonte de nulidades, atende-se à determinação constitucional de que aos jurados apenas se propõem questões sobre matéria de fato, simplifica o julgamento e, segundo nos parece, protege melhor o acusado, permitindo segurança e garantia de um julgamento justo.
Assim, invocada qualquer causa que exclua o crime ou isente o réu de pena, será ela incluída num só quesito, a ser votado pelos julgadores leigos nesse momento. Ou seja, em uma única pergunta estarão incluídas todas as teses defensivas, mesmo que alternativas e aparentemente incompatíveis. Este quesito somente será votado quando reconhecidas a materialidade e a autoria ou participação no crime.
Este é o ponto positivo do novo sistema: somar os votos de todos os jurados que entenderem justa absolvição, independentemente da consideração do fundamento pelo qual chegaram a essa decisão. Evita-se, com isso, que as teses defensivas possam ser individualmente afastadas e em consequência o réu condenado por divergência dos jurados quanto à causa de exclusão de ilicitude ou de culpabilidade aplicável ao caso concreto.
A resposta negativa de mais de 3 (três) jurados ao quesito "genérico" de absolvição importa na condenação do acusado pelo delito da pronúncia no seu tipo "básico". Exemplo: acusado pronunciado por homicídio qualificado estará até este momento condenado por homicídio simples, cabendo ao Conselho de Sentença decidir em quesitos separados sobre o privilegio eventualmente sustentada pela defesa ou sobre a qualificadora ou a causa de aumento de pena reconhecida na pronúncia.
Condenado o acusado, a quesitação prossegue para a diminuição de pena, eventual qualificadora ou aumento de pena. A diminuição de pena por excelência está registrada no critério do privilégio (art. 121, § 1º do CP). As qualificadoras e agravantes estão registradas no § 2º do art. 121 do CP, e podem ser cumulativas. Garantem, no conjunto, um reforço para a dosimetria (para mais ou para menos), a ser finalizada pelo Juiz-Presidente da sessão plenária de júri.
Estando o acusado condenado pela resposta negativa ao quesito "genérico" de absolvição, o magistrado formulará, logo após, quesito sobre causa de diminuição de pena eventualmente sustentada pela defesa em plenário. 
Por mais que se queira buscar a simplificação dos quesitos, tratando-se de causas de diminuição ou de aumento de pena e de qualificadoras não é possível formular um quesito "genérico" sobre elas. Significa dizer que devem ser quesitadas as causas de diminuição de pena efetivamente alegadas pela defesa, como destacado no próprio inciso IV do art. 483.
Assim, a formulação de causas de diminuição de pena será sempre específica, não havendo razão para fugir da redação tradicional dos quesitos a elas correspondentes.
As qualificadoras e as causas de aumento de pena para poderem ser sustentadas pela acusação em plenário precisam ter sido reconhecidas na pronúncia, como expressamente exige o art. 413, § 1º.
Também neste caso, como já se destacou acima, não é possível formular um quesito "genérico" sobre qualificadoras e causas de aumento de pena. Assim, devem ser quesitadas as qualificadoras e causas de aumento de pena efetivamente reconhecidas na pronúncia.
A formulação, portanto, de quesitos sobre qualificadoras e causas de aumento de pena será sempre específica, não havendo razão para se abandonar as formas tradicionais utilizadas no sistema anterior.
A Reforma Legislativa de 2008 em nada se pronunciou sobre o sistema de nulidades como, aliás, essa parte fundamental do processo penal não foi alvo de qualquer das reformas pontuais.
Vale-se, assim, da permanente concepção de arguição em tempo oportuno, a dizer, ao final dos debates e quando da leitura dos quesitos a serem votados em sala secreta, para que a parte insurgente se manifeste sob pena de “preclusão” como regra geral.
No bojo do acórdão do processo HC 106317/PR,o e. Relator, Min. Felix Fischer, enfrentando tema, manifestou-se para decidir que: “Ademais, qualquer impugnação referente à redação dos quesitos deve ser suscitada em Plenário de Julgamento, ex vi do art. 571, VIII do CPP. Tal, todavia, não ocorreu. A jurisprudência desta Corte tem se posicionado no sentido de que, como regra, a ausência de protesto no momento oportuno, quanto aos quesitos formulados, acarreta preclusão.”
Acerca do tema, os seguintes precedentes: 
"Habeas Corpus. Processual Pena. Homicídio Qualificado. Nulidade. Júri. Quesitação Deficiente. Inexistência. Matéria Preclusa. Jurado Que Teria Manifestado Dúvida Quanto Ao Quesito Da Qualificadora E Pedido Nova Votação. Ausência De Comprovação Dos Fatos. Necessidade De Revolvimento De Matéria Fático-Probatória Incompatível Com A Via Eleita. Writ Parcialmente Conhecido E, Nessa Parte, Denegado. 1. Eventual irregularidade na quesitação, por se tratar de nulidade relativa, deve ser arguida pela defesa no momento oportuno, sob pena de preclusão. Precedentes do STJ. 2. (...) 3. Parecer do MPF pelo não conhecimento ou pela denegação da ordem. 4. Ordem parcialmente conhecida e, nessa parte, denegada.” (HC 63369/RS, 5ª Turma, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJ de 03/09/07).
Deve ser ressaltado, contudo, que nem todas as arguições acerca dos quesitos elaborados, se não forem feitas em momento oportuno, acarretam preclusão. Com entendimentos em sentido contrário, não se pode generalizar o tema, afirmando-se que os vícios na quesitação tratam sempre de nulidade relativa. Esta de fato é a regra; porém ocorrem casos, como a formulação de quesitos que possam causar perplexidade aos jurados, em que poderá haver nulidade absoluta, reforçando o tema sumulado pelo STF (súmula 156:"É absoluta a nulidade de julgamento, pelo Júri, por falta de quesito obrigatório”) mas deixando claro que nas hipóteses de complexidade excessiva dos quesitos – a nulidade é igualmente absoluta.
A jurisprudência, ainda em formação, malgrado os anos passados da reforma, terá de se posicionar para uniformizar a possibilidade ou não da persistência do recurso com o fundamento mencionado, sob risco de gerar desigualdades gritantes no mundo prático.
E, para isso, precisará se posicionar sobre a extensão de uma reforma que modificou – voluntariamente ou não – o papel do juiz togado no plano cognitivo do processo, nada obstante não lhe tenha alterado em nada o restante da estrutura e, mais ainda, tenha criado situações processuais que autorizam a realização de sessões plenárias sem que perante o julgador natural prova alguma seja produzida mas, apenas, interpretações, pelas partes, daquelas efetivadas perante o juiz togado ou mesmo informes colhidos na fase investigativa.
Além disso, é de se colocar também no centro do debate a criação de um modelo decisório amplamente descontrolado, seja pela ausência de motivação – algo que é entendido como “natural” no modelo brasileiro – seja pela ausência de formas de revisão. Tal amplitude parece ser, ao menos da forma como a discussão está sendo proposta, distante de um ideal de democracia participativa no processo penal.
Referências:
LUZ, Delmar Pacheco da. Tribunal do Júri: a nova quesitação. 
Revista Consultor Jurídico
BONFIM, Edilson Mougenot. O novo procedimento do júri: comentários à Lei n.11.689/2008. São Paulo: Saraiva, 2009.
LEAL, Saulo Brum. Alterações no tribunal do júri: quesitos (lei n. 11689 - 09.06.08) / Saulo Brum Leal. In: Revista da Ajuris: doutrina e jurisprudência, v.35, n.111, p.229-231, set., 2008.

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