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Seção 5 de Penal = Estagio ll

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO, DA 2° VARA DO TRIBUNAL DO JURI DA VARA CRIMINAL, DA COMARCA DE AMAPÁ/AP 
PROCESSO N°: XXXX
Paulo Las Vegas, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, por meio de seu advogado que este subscreve, vem perante vossa excelência, inconformado com a respeitável sentença que o condenou pelo crime do art. 121 Caput do Código Penal, vem por meu desta interpor:  RAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO, no prazo de 8 dias, nos termos do art. 600, caput, do CPP tendo em vista a intimação da sentença ter ocorrido ao final da sessão, bem como a interposição de mencionado recurso já ter ocorrido na própria ata da sessão de julgamento perante o Tribunal do Júri, conforme previsão legal inserta no art. 578, do CPP.
Que seja recebida e processada, a presente apelação, e remetida com as inclusas razões, ao Egrégio Tribunal de Justiça.
 Termos em que pede e espera deferimento.
 Cidade de Amapá, / Ap xx de xx de xxxx.
 Advogado                                                      
 OAB/ xxxx        
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO 1ª CÃMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO /AP 
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
PROCESSO N° XXXXXXX
AÇÃO: Ação Penal
JUIZO DE ORIGEM: 2°do Tribunal do Júri
PROMOVIDO: Paulo Las Vegas
Paulo Las Vegas, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem, por seu procurador abaixo assinado, respeitosamente, perante VOSSA EXCELÊNCIA, apresentar Razões do Recurso de Apelação em face da sentença condenatória proferida nos autos deste processo criminal sobre a qual paira irresignação pelos motivos que passa a expor de fato e de direito.
I. DOS FATOS
Em 03 de dezembro de 2012, a defesa de Paulo Las Vegas, em tempo e modo, arrolou testemunhas que prestaram depoimento em plenário, com cláusula de imprescindibilidade (art. 461, CPP), requereu diligências e juntou documentos, tudo em conformidade com o art. 422, do CPP. Assim, foram cumpridas, pelo magistrado presidente, as formalidades previstas no art. 423, do CPP, e agendado o julgamento para 11 de janeiro de 2013 (sexta-feira), às 8h da manhã.
Na manhã do dia 11 de janeiro, dia do julgamento em Plenário de Júri, o Ministério Público realizou a juntada de um vídeo, no qual Paulo Las Vegas é visto agredindo uma pessoa, não identificada, durante um jogo de futebol, que acabaria sendo exibido durante a sessão, a fim de demonstrar que Paulo é uma pessoa agressiva e explosiva.
No Fórum local, se observou uma grande movimentação por parte da imprensa, assim como uma manifestação de proporção nunca antes vista, realizada pelos eleitores de Lucas Califórnia, o qual, como dito na Seção 1, foi eleito pela quase totalidade dos eleitores de Amapá/AP, tratando-se de pessoa muito querida na cidade. Ainda, constatou que os jurados, sorteados nos termos do art. 433, do CPP, chegaram carregados pela multidão, que clamava pela condenação de Paulo Las Vegas, comparecendo à sessão de julgamento somente 15 dos 25 sorteados. Vale ressaltar que tudo foi registrado pela imprensa local, por meio de fotografias e vídeos. 
Dando início ao julgamento e apregoadas as partes, presentes 15 jurados, todas as testemunhas e o réu, notou-se que 12 dos jurados postaram mensagens nas redes sociais manifestando o desejo de condenar Paulo Las Vegas.
Sorteados os jurados, que prestaram compromisso, não havendo dispensa por nenhuma das partes, restou formado o Conselho de Sentença, sendo inquiridas as testemunhas de acusação e defesa, ato contínuo interrogado o réu, que confessou ter matado Paulo, agindo em legítima defesa.
 Importante ressaltar que o magistrado presidente determinou que Paulo entrasse em plenário de julgamento utilizando algema e grilhão, tendo, após formalizado inconformismo da defesa, fundamentado a decisão, de forma oral, na existência de risco para as testemunhas. 
Realizados os debates, como tese principal, requereu a absolvição de Paulo, sob o argumento de que ele teria agido em legítima defesa de terceira pessoa. Portanto, no caso de não reconhecimento da tese primária, requereu o decote das duas qualificadoras constantes da Sentença de Pronúncia (motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima), com a aplicação do privilégio previsto no art. 121, § 1º, do Código Penal, pois Paulo teria agido impelido por motivo de relevante valor social e, logo em seguida, por injusta provocação da vítima. Por outro lado, para surpresa da Qual é a peça prático-profissional a ser apresentada? defesa, o Ministério Público pugnou a condenação de Paulo Las Vegas com base em elementos que não existiam nos autos, notadamente, no fato de que a morte teria ocorrido em virtude de desavenças de caráter político, tendo em vista Paulo ter apoiado o candidato que não se sagrou vencedor nas eleições municipais, argumento constante no quesito referente à autoria.
Ao apresentar os quesitos aos jurados, observou-se aquele de caráter absolutório, bem como o fato de os quesitos referentes à qualificadora (motivo fútil – art. 121, § 2º, II, CP) e ao agravante (recurso que dificulte a defesa da vítima – art. 61, II, c), CP) terem sido alocados antes daqueles referentes às teses defensivas (Paulo agiu em legítima defesa? Paulo agiu impelido por motivo de relevante valor social e, logo em seguida, por injusta provocação da vítima?).
Imediatamente suscitado ao magistrado, acerca da ausência do quesito absolutório, este informou que a confissão da autoria e a certeza da materialidade dispensariam a realização do quesito. Ainda, fez constar em ata a irresignação tocante à inversão da ordem dos quesitos.
No final, o Conselho de Sentença decidiu, por 7 votos a 0, favoravelmente aos quesitos relacionados à materialidade do fato, à autoria e à aplicação das qualificadoras e, consequentemente, 7 votos a 0 desfavoráveis às 3 teses defensivas (legítima defesa; decote das qualificadoras; homicídio privilegiado), tendo as partes assinado o termo de votação.
Portanto, foi proferida a sentença, a qual fixou a pena base em 26 anos de reclusão, tendo valorado negativamente as circunstâncias judiciais (art. 59, CP) relativas à culpabilidade, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e às consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, sem fundamentar a razão de cada uma delas, reconhecendo o motivo fútil para qualificar o homicídio; na segunda fase, considerou a agravante atinente ao recurso que dificultou a defesa da vítima, prevista no art. 61, II, c), do CP, majorando a pena em ½, totalizando 40 anos de reclusão, inicialmente em regime fechado. Disse que Paulo seria maior de 21 anos quando da prolação da sentença, bem como não ter confessado o crime. Com base no argumento de que o crime teria gerado elevado clamor social e que haveria risco de fuga, determinou a prisão imediata de Paulo Las Vegas, que foi recolhido ao presídio local logo após a leitura da sentença.
Insatisfeito, ao final da audiência, como Advogado, defensor de Paulo, interpôs Recurso, o fazendo na própria ata, informando que os argumentos seriam apresentados na data legal. Assim, lavrada a ata, saíram as partes devidamente intimadas da sentença proferida na sessão de julgamento, realizada em 11 de janeiro de 2013 (sexta-feira).
II- CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE DO RECURSO, em sede PRELIMINAR, deve ser requerida:
 1-  NULIDADE POR FALTA DE QUESITO OBRIGATÓRIO (ART. 483, III do CPP/ SÚMULA 156 do STF)
Nos termos do que preconiza a Súmula 156, do STF, “é absoluta a nulidade do julgamento, pelo júri, por falta de quesito obrigatório” (BRASIL, 1963, [s.p.]), estando ele preconizado no art. 483, do CPP.
Após as alterações legislativas, trazidas pela Lei nº 11.689/2008, que modificou o rito do Tribunal do Júri, o quesito genérico de absolvição (art. 483, III, CPP) não pode deixar de ser realizado, especialmente, sob o argumento de ser contraditório em relação ao reconhecimento da autoria e da materialidade do crime porparte do Conselho de Sentença
2-NULIDADE POR INVERSÃO DA ORDEM DOS QUESITOS DEFENSIVOS (SÚMULA 162 do STF)
“Absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das circunstâncias agravantes” (BRASIL, 1963, [s.p.]).
Sobre o momento para que as nulidades sejam suscitadas, assim disse o Ministro Nefi Cordeiro, da 6ª Turma do STJ, quando do julgamento do AgRg no REsp 1366851/MG, realizado em 4/10/2016, DJe 17/10/2016:
Quanto ao processo de competência do Tribunal do Júri, as nulidades posteriores à pronúncia devem ser arguidas depois de anunciado o julgamento e apregoadas as partes, e as do julgamento em plenário, em audiência, ou sessão do Tribunal, logo após sua ocorrência, sob pena de preclusão, consoante determina o art. 571, V e VIII, do Código de Processo Penal. (HC 149007/MT, Rel. Min. Gurgel de Faria, Dje de 21/5/2015)
3- NULIDADE POR INDEVIDA DETERMINAÇÃO DE USO DE ALGEMAS (ART. 474 §3º do CPP/ SÚMULA VINCULANTE nº 11 do STF)
Ressalta-se que, sobre a utilização de algemas por parte do réu, a Súmula Vinculante nº 11, do STF, deixa claro tratar-se de exceção, devendo sua utilização ser devidamente fundamentada por parte do magistrado2, sob pena de ser declarada a nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, valendo anotar tratar-se de nulidade relativa. Sobre o assunto, ver AgRg no Ag em Esp nº 1.053.049/SP3.
III- MÉRITO 
DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA À PROVA DOS AUTOS (ART. 593, III, d, do CPP)
Sobre o mérito, mesmo não havendo por parte dos jurados (juízes leigos) a obrigatoriedade de fundamentar a decisão, ao contrário do que ocorre em relação à análise do mérito por parte de um juiz togado (sob pena de nulidade da decisão, nos termos do art. 93, IX, da Constituição Federal de 1988), o jurado deve julgar conforme sua própria convicção, dizendo, apenas, “sim” ou “não” aos quesitos apresentados. Ocorre que limitações existem, e, dentre elas, está o dever do jurado de decidir em conformidade com uma das versões existentes nos autos, não cabendo ao Tribunal revisor decidir se a versão x ou y é a mais adequada ao caso. Nesse sentido:
As decisões do Júri não podem ser alteradas quanto ao mérito, mas podem ser anuladas quando se mostrarem contrárias a prova dos autos, assegurando-se a devolução dos autos ao Tribunal do Júri para que profira novo pronunciamento. A soberania dos veredictos, prevista no art. 5, inc. XXXVIII, c, da Constituição Federal, não exclui a recorribilidade de suas decisões, como proclama o Supremo Tribunal Federal. (HC 72.783, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 15.3.1996, em RExt 2743362, Rel. Min Cármen Lúcia4).
Portanto, sendo a versão aceita pelos jurados completamente divorciada das provas dos autos, ela deve ser anulada, submetendo o feito a novo julgamento perante o Conselho de Sentença, tendo em vista a competência do júri para julgamento de rimes dolosos contra a vida e o princípio, não intocável, da soberania dos veredictos. Nesse sentido, ver HC 107906/SP, Min. Rel. Celso de Mello5, para o qual: 
Embora ampla a liberdade de julgar reconhecida aos jurados, estes somente podem decidir com apoio nos elementos probatórios produzidos nos autos, a significar que, havendo duas ou mais teses ou versões, cada qual apoiada em elementos próprios de informação existentes no processo, torna-se lícito ao Conselho de Sentença, presente esse contexto, optar por qualquer delas, sem que se possa imputar a essa decisão dos jurados a ocorrência de contrariedade manifesta à prova dos autos.
Senhores Desembargadores, além da decisão do Conselho de Sentença ter sido totalmente contrária à prova dos autos, visualizamos ainda um outro fato que, sem a menor sombra de dúvida, induz em nulidade. Nulidade esta posterior à decisão que pronunciou o apelante.
Analisando os depoimentos das testemunhas, depoimentos estes que levantam apenas uma única tese, qual seja: a da legítima defesa. Desta feira, resta duvidoso o real motivo pelo qual Senhores Jurados entenderam pela condenação do apelante, haja vista que, como dito, não há nenhuma prova nos autos em seu desfavor, sendo todo manancial probatório favorável ao mesmo.
Assim, o único motivo que nos leva a crer que os jurados entenderam pela condenação do apelante, fora justamente a contaminação dos membros do júri pela pela manifestação nas redes sociais, pois, como dito, não há nenhuma prova, nem indícios, que atestem que o apelante seja culpado, mas, todo o manancial probatório atesta que os mesmo agiu unicamente em legítima defesa pelas manifestações em favor da vítima.
Senhores Desembargadores, como Vossas Excelências sabem melhor do que todos, não há que se confundir os membros do Tribunal do Júri, com os membros do Conselho de Sentença.
Portanto, o Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, que é o seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados, que serão sorteados dentre os alistados, dentre os quais 07 (sete) formarão o Conselho de Sentença. Aliás, é justamente isso o que determina o Código de Processo Penal, a saber:
Art. 447 do CPP, O Tribunal do Júri é composto por 1 (um) juiz togado, seu presidente e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de Sentença em cada sessão de julgamento. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
Destaque, não há que se confundir Tribunal do Júri, com o Conselho de Sentença. Sendo aquele muito mais amplo do que este, uma vez que é formado por 26 (vinte e seis) pessoas – o juiz presidente e mais os 25 (vinte e cinco) jurados. Enquanto o Conselho de Sentença é formado apenas pelos 07 (sete) jurados sorteados dentre os vinte e cinco.
Aliás, é justamente este o entendimento do festejado doutrinador Guilherme de Souza Nucci, quando vaticina que:
“O Tribunal Popular é composto pelo juiz togado, que o preside, e por 25 jurados sorteados para a sessão, e não unicamente pelo magistrado e pelo Conselho de Sentença (7 jurados escolhidos dentre os 25), dos quais, em uma segunda etapa, atinge-se o número de oito (um juiz presidente e sete jurados)”. (Editora Revista dos Tribunais, 6ª ed., p. 762).
- DA DECISÃO DOS JURADOS MANIFESTAMENTE CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS
Senhores Desembargadores, como dito acima, a irresignação do presente recurso cinge-se, dentre outros fundamentos, no fato de que a decisão do Conselho de Sentença tenha sido contrário às provas dos autos. Ou seja, entende a defesa técnica do acusado que a decisão dos Senhores Jurados fora totalmente contrária ao manancial probatório que consta nos presentes autos, e que foram colhidas durante toda a instrução processual.
Desse modo, faz-se mister uma análise mais acurada de todas as provas constantes nos presentes autos, para que assim possa ficar claro a tese de que a decisão dos Senhores Jurados fora manifestamente contrária às provas dos autos.
 - DAS PROVAS COLHIDAS NO PRESENTE PROCESSO
Desde já, se afirme que nenhuma das testemunhas ouvidas durante a instrução processual acusaram o apelante em nenhum momento, mas, muito pelo contrário, todas as testemunhas que presenciaram o fato, inclusive aquelas arroladas pela a acusação, afirmaram peremptoriamente, e sem titubearem que o apelante agiu em legítima defesa.
Ainda deve ser dito que não houve dubiedade no depoimento das testemunhas, ou seja, as testemunhas não discreparam em seu depoimento, mas todas elas apontaram para que o acusado agira única e exclusivamente em sua legítima defesa.
 “Que o depoente apartou a briga dos mesmos (vítima e acusado);”
 “Que, a vítima, antes da confusão, estava portanto uma estilete, comprovado por todos; ”
 “Que a vítima abusou de uma criança sedo a filha do réu comprovado pela perícia medica que fui uma das testemunhas; ”
 “Que, pelo que o depoente sobre o acusado é boa pessoa; ”
“Que, Paulo Las Vegas, é boa pessoa, não tem costume de andar armado, que possui um bom relacionamento na cidade de sendo inclusive, e um ótimo funcionário público do Município; é trabalhador, gosta de ajudaras pessoas, não possuindo inimigos que o depoente saiba”
Tais depoimentos só corroboram o que é de conhecimento de todos no Município que conhece ou seja, que o Sr. Paulo Las Vegas, é pessoa de boa índole, e que este fato isolado em sua vida, só veio a acontecer devido ao mesmo ser obrigado a se defender. A acusação não mencionou nenhuma prova, nem muito menos fez referência a nenhum depoimento das testemunhas.
Analisando os depoimentos supratranscrito, e que, como dito, levantam apenas uma única tese, qual seja: a da legítima defesa, resta duvidoso o real motivo pelo qual Senhores Jurados entenderam pela condenação do apelante, haja vista que não há nenhuma prova nos autos em seu desfavor.
Senhores Desembargadores, é bem verdade que o Tribunal do Júri é um órgão do Poder Judiciário, e que a Lei Maior estabelece a soberania dos vereditos. Todavia, mesmo sendo soberana, a decisão dos Senhores Membros do Conselho de Sentença, é passível de erro, e, assim sendo, passível também de modificação. A soberania da decisão do tribunal do júri não aponta no sentido de que o Tribunal do Júri possa tomar toda e qualquer decisão que bem queira. Mas, em termos contrários, a soberania do Tribunal do Júri significa que este possa escolher por uma dentre todas as teses que emergem do conjunto probatório!
“Não há afronta ao art. 5º, inciso XXXVIII, alínea c, da CF/88, ou seja, ao princípio constitucional da soberania dos veredictos, quando se determina a realização de novo julgamento pelo Tribunal do Júri, nos casos em que a decisão se mostra manifestamente dissociada do conjunto probatório dos autos”.
“A soberania dos veredictos não é um princípio intangível, que não admita relativização. Em verdade, a decisão do Conselho de Sentença, quando manifestamente contrária à prova dos autos resulta em arbitrariedade que deve ser sanada pelo juízo recursal, nos termos do art. 593, inciso III, alínea d, do Código de Processo Penal”.
“A Corte de Apelação, ao determinar a realização de um novo julgamento, não substitui a decisão popular por outra, nem usurpa a competência do júri, mas tão-somente determina que seja realizado outro julgamento, conforme art. 593, § 3.º, do Código de Processo Penal. Outrossim, não se admite, pelo mesmo motivo, segunda apelação, com o que o novo veredicto, quer pela absolvição, quer pela condenação, não pode mais ser alterado. Portanto, infere-se que o mencionado princípio constitucional da soberania dos veredictos (art. 5º, inciso XXXVIII, alínea c, da CF/88) coexiste em perfeita harmonia com o sistema recursal penal (art. 593, inciso III, alínea d, do CPP)”.
Pedimos vênia ainda para transcrever a ementa da decisão do Eg. STF, quando do julgamento do Habeas Corpus nº 108.996/BA, cuja relatoria ficou a cargo da Ministra Carmen Lúcia, onde também fixou estampado o entendimento segundo o qual a a determinação, pelo Tribunal de Justiça, de realização de novo julgamento pelo Tribunal do Júri não contraria o princípio constitucional da soberania dos veredictos, quando a decisão for manifestamente contrária à prova dos autos. In verbis:
“HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL PENAL. IMPUTAÇÃO DO DELITO DE HOMICÍDIO QUALIFICADO. DETERMINAÇÃO DE NOVO JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI. ALEGAÇÃO DE CONTRARIEDADE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA SOBERANIA DO VEREDICTO: IMPROCEDÊNCIA. NECESSIDADE DE REEXAME DE FATOS E PROVAS IMPRÓPRIO NA VIA ELEITA.
1. A determinação de realização de novo julgamento pelo Tribunal do Júri não contraria o princípio constitucional da soberania dos veredictos quando a decisão for manifestamente contrária à prova dos autos. Precedentes.
2. Concluir que o julgamento do Tribunal do Júri que absolveu os Pacientes não teria sido contrário à prova dos autos e que o Conselho de Sentença teria optado pela versão dos fatos da defesa impõe, na espécie vertente, revolvimento do conjunto probatório, o que ultrapassa os limites do procedimento sumário e documental do habeas corpus.
IV - DO ERRO NA APLICAÇÃO DA PENA
DOSIMETRIA DA PENA (ART. 59 do CP- Em virtude da ausência de fundamentação para fixação das circunstâncias judiciais - ART. 61, II, c, do CPP - Excesso no aumento relacionado à majorante. - ART. 65, I do CP Não aplicação das atenuantes da menoridade. - ART. 65, III, d, do CP Confissão espontânea.)
Acerca do crime previsto no art. 121, do CP, também já foi falado em seções anteriores acerca de sua estrutura, inclusive, especificando cada uma das qualificadoras. Ponto até então não explorado, refere-se ao chamado homicídio privilegiado, inserido no § 1º do art. 121, o qual dispõe que “se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço)” (BRASIL, 1940, [s.p.]). Sobre tal minorante, ou causa de diminuição de pena, importante destrinchar cada um de seus elementos:
Relevante valor social e moral: para Romano (2015, [s.p.]), “observe-se que o motivo de valor social é aquele que atende aos interesses ou fins da vida coletiva. O valor moral do motivo se afere segundo os princípios éticos dominantes que são aprovados pela moralidade média, que se extraem dos princípios éticos próprios da sociedade presente”, enquanto o valor social refere-se à comoção da sociedade acerca de fato praticado pela vítima, por exemplo, o estupro de uma criança.
Domínio de violenta emoção: a violenta emoção é caracterizada como uma perturbação violenta, incontrolável, irracional, relacionada, geralmente, ao aspecto da afetividade.
Senhores Desembargadores, verificando a sentença que aplicou a pena ao apelante, vislumbramos um erro em sua aplicação. Não obstante o Juiz de Direito Presidente do Egrégio Tribunal do Júri da Comarca da 2ª CÃMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO /AP seja conhecido por seus vastos conhecimentos jurídicos, todavia, especificamente quando da concretização da pena que fora imposta ao apelante, tal magistrado não agiu com o acerto que lhe é tão peculiar.
Logo após, foi proferida a sentença, a qual fixou a pena base em 26 anos de reclusão, tendo valorado negativamente as circunstâncias judiciais (art. 59, CP) relativas à culpabilidade, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e às consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, sem fundamentar a razão de cada uma delas, reconhecendo o motivo fútil para qualificar o homicídio; na segunda fase, considerou a agravante atinente ao recurso que dificultou a defesa da vítima, prevista no art. 61, II, c), do CP, majorando a pena em ½, totalizando 40 anos de reclusão, inicialmente em regime fechado. Disse que Paulo seria maior de 21 anos quando da prolação da sentença, bem como não ter confessado o crime. Com base no argumento de que o crime teria gerado elevado clamor social e que haveria risco de fuga, determinou a prisão imediata de Paulo Las Vegas, que foi recolhido ao presídio local logo após a leitura da sentença.
Como sabido por Vossas Excelências, o primeiro ato da concretização da pena é justamente a fixação da pena base. Acontece que a fixação de tal pena base é feita mediante a análise das 08 (oito) circunstâncias judiciais contidas no caput do artigo 59 do Código Penal, a saber: culpabilidade; aos antecedentes, à conduta social; à personalidade do agente; aos motivos; às circunstâncias e consequências do crime; e comportamento da vítima.
Acontece que, obviamente, no caso de todas essas circunstâncias serem favoráveis ao acusado, não a motivo nem muito menos razão jurídica que a pena base seja fixada acima da pena mínima prevista em abstrato.
Neste caso, perlustrando a análise realizada pelo MM Juiz Presidente no que se refere às circunstâncias judiciais, observamos que nenhumas das circunstâncias foram desfavoráveis ao apelante. Ou seja, não há, na análise feita pelo magistrado em sua respeitável sentença (fls. 212/214), nenhuma circunstância judicial que seja desfavorável ao apelante, razão pelaqual sua pena base não deveria ter se afastado da pena mínima.
Destarte, não vemos, data vênia, razão para que a pena base do apelante tenha sido fixada muito além do mínimo. Assim, tendo em mira que a pena mínima em abstrato prevista para o apelante é de 12 (doze) anos, e que o Digno Magistrado fixou a pena base em 26 (vinte seis) anos, ou seja, a pena base do apelante, que deveria ter sido fixada na pena mínima em abstrato, fora majoranda em 1/2 (um quarto) da pena prevista, vemos um claro e gigantesco distanciamento da pena mínima, sem qualquer fundamentação em elementos concretos existentes nos autos.
Para a fixação da pena base, o magistrado tenha que analisar individualmente cada circunstância judicial prevista no artigo 59 do Código Penal, trata-se de uma garantia ao réu, que deve saber as razões do totum de sua condenação. Por que motivo, deve o magistrado agir com a maior acuidade possível, inclusive para não fomentar nenhuma injustiça, pois, por pior que seja um delito, o condenado não deve ficar nem um dia a mais sequer privado de sua liberdade.
Nesse sentido, oportunas são as palavras do doutrinador Ricardo Augusto Schmitt quando, escrevendo sobre a fixação da pena base, vaticinou que:
“O cálculo da pena-base está diretamente ligada a análise das circunstâncias judiciais, as quais estão previstas no artigo 59, do Código Penal. Trata-se da primeira fase de aplicação da pena, seguindo o critério trifásico consagrado à sua dosagem. O Código Penal, ao definir que as circunstâncias enumeradas em seu artigo 59 devem ser consideradas pelo julgador no momento da fixação da pena, o fez como garantia própria do réu, como meio para que o Magistrado, através da análise daqueles critérios, possa ter melhor condição de proferir uma decisão justa – tratando os iguais igualmente e os desiguais desigualmente. O julgador deve, ao individualizar a pena, examinar com acuidade os elementos que dizem respeito ao fato, obedecidas e sopesadas todas as circunstâncias judiciais, para aplicar, de forma justa e fundamentada, a reprimenda que seja, proporcionalmente, necessária e suficiente à reprovação do crime”. (Editora Juspodivm, 3ª ed., p. 99/100).
 V- DESAFORAMENTO ART. 427 do CPP / ART. 428 do CPP 
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existem aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 1º O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 2º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo júri. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 3º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
§ 4º Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existem aqueles motivos, preferindo-se as mais próximas. (BRASIL, 1941, [s.p.])
VI- REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ART. 312 do CPP (Princípio da contemporaneidade e ausência de qualquer dos requisitos previstos no art. 312, do CPP).
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
VII- DOS PEDIDO
POR TODO O EXPOSTO requer o apelante que o presente recurso de apelação criminal seja conhecido e provido, acatando-se as nulidades supra arguidas e ocorridas após a decisão de pronúncia, para se determinar a anulação da sessão de julgamento do apelante pelo Egrégio Tribunal do Júri da Comarca de 2ª CÃMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO /AP determinando-se novo julgamento perante o referido Tribunal do Júri. No caso de não serem acatadas as nulidades supra arguidas, então que se anule o julgamento do apelante, pois por todas as razões acima explanadas, resta incontroverso que a decisão dos senhores membros do Conselho de Sentença foi manifestamente contrária às provas dos autos, determinando que o apelante seja sujeito a novo julgamento. Tudo isso nos termos do artigo 593, inciso III, alínea d e § 3º do Código de Processo Penal.
Neste caso, a não anulação do julgamento do apelante, requer então a anulação da sentença de, pelos motivos acima expostos, para que a pena base do apelante seja fixada no patamar mínimo previsto em abstrato.
Assim fazendo, o Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Amapá, além de velar pela correta aplicação da Lei, estará fazendo a tão sonhada e almejada JUSTIÇA!
 São os termos em que, Pede-se deferimento.
 Cidade de Amapá, / AP, 11 de janeiro de 2013.
 Advogado ....
 OAB xxxxx

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