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1 Evolução Vegetal Introdução As plantas estão por toda parte; são as grandes formadoras de paisagem. A existência humana depende de algumas espécies vegetais e a domesticação delas foi essencial para o estabelecimento das civilizações, influenciando diretamente a maneira do homem viver e de transformar seu universo. Não é por acaso, então, que o mundo vegetal atrai tanto a atenção do ser humano. Apesar da enorme diversidade vegetal nativa do Brasil, encontramos ainda uma literatura muito parca em sistemática vegetal no país. A sistemática sofreu uma guinada nas últimas décadas, estimulando uma série de novidades metodológicas refletidas em mudanças substanciais na taxonomia dos seres vivos. A classificação das plantas vem se modificando rapidamente, e as poucas referências nacionais estão bastante desatualizadas. Aqui, é apresentada uma caracterização da diversidade de plantas terrestres (ou embriófitas), com ênfase nos grupos mais representativos para o Brasil, procurando incorporar os resultados filogenéticos mais influentes na classificação vegetal. ReinoVegetal Os moldes atuais da taxonomia foram criados por Lineu em 1753. Nessa primeira classificação, ele havia reconhecido apenas animais e plantas. Em meados do séc. XIX, no entanto, estava claro que protistas e fungos não se adequavam bem a essa dicotomia. Logo foi criado o termo protista para incluir aqueles organismos que não eram plantas nem animais, e essa divisão passou a fazer parte da árvore da vida de Haeckel. Na metade do século vinte, já havia uma classificação com quatro reinos: Monera incluindo organismos procariotos (bactérias), Protista incluindo micróbios eucariotos, fungos e algas (exceto as clorófitas, incluídas no reino vegetal), animais e plantas. Desse esquema derivou a classificação de cinco reinos, um reino exclusivo para fungos, proposto por Margulis na década de 70 (antecipado por Whittaker nos anos 60s). Propriedades estruturais e bioquímicas indicam que as algas verdes são mais relacionadas com as embriófitas do que com qualquer outro grupo de eucariotos. Todas as plantas verdes (Chlorobiota) possuem um conjunto de características que permitem distingui-las dos demais grupos. A presença de pigmentos de clorofila a e b, reservas de amido no cloroplasto e a uma estrutura estelar que liga os nove pares de microtúbulos nas células flageladas são únicos entre os eucariotos. O cloroplasto deriva certamente da endossimbiose de um procarioto fotossintetizante (cianobactéria) cuja maior parte das funções passou a ser exercida pelo núcleo da célula hospedeira, possivelmente alguma célula amebóide. As algas verdes são incluídas ou não no reino vegetal conforme a classificação adotada; quando não incluídas (e.g. classificação de Margulis), as plantas são sinônimos de embriófitas ou plantas terrestres. Por uma questão prática essa será a delimitação adotada aqui. Discussões sobre a evolução das algas ficarão restritas ao seu relacionamento com as embriófitas e assim com a origem das plantas terrestres. Em 1868, Haeckel propôs um esquema filogenético explícito representando as relações entre os grupos pré-darwinianos. Ele se baseou na semelhança morfológica como evidência de ancestralidade comum. De maneira geral, ele considerou as plantas terrestres, as vasculares, as espermatófitas e as angiospermas monofiléticas, mas as 2 briófitas, as pteridófitas, as gimnospermas seriam grupos parafiléticos. Para ele a diversificação das plantas terrestres teria ocorrido no Devoniano, as espematófitas no Carbonífero e as angiospermas no Triássico. Atualmente as embriófitas são agrupadas segundo o quadro abaixo: ATRACHEOPHYTA Hepatophyta – hepáticas Anthocerophyta – antocerófilas Bryophyta – Musgos TRACHEOPHYTA Traqueófitas sem semente Lycophyta – licopódeos Sphenophyta – cavalinhas Psilophyta - Psilófitas Pterophyta – samambaias Traqueófitas com sementes (espermatófitas) Plantas sem flores (Gimnospermas) Cycadophyta – cicas Ginkgophyta – Ginko Gnetophyta – gnetófitas Coniferophyta – coníferas Plantas com flores (Angiospermas) Magnoliophyta Origem das Embriófitas Os primeiros sinais de vida na Terra são evidências indiretas em minérios de ferro datadas de 3,8 bilhões de anos (Ba). As primeiras evidências diretas são estromatólitos e filamentos microbianos encontrados na Austrália, possivelmente pertencentes às cianobactérias, datando de 3,5 Ba. As algas azuis e verdes dominaram a vida na Terra do Pré-Cambriano ao Paleozóico. Eucariotos teriam surgido há cerca de 2,1 Ba, mas sua diversidade só aumento depois do Neoproterozóico, há 1 Ba. Apesar de evidências bioquímicas sugerirem a presença de algas verdes a partir desse período, as primeiras algas multicelulares apareceram apenas por volta de 750 Ma. Evidências indicam que as primeiras plantas terrestres datam do início do Devoniano, mas a presença de esporos em tétrades típicos de embriófitas são encontrados desde a metade do Ordoviciano e início do Siluriano (470-430 Ma). Registros de plantas vasculares datam de 420 Ma (Siluriano), na Austrália. A ausência de fósseis de briófitas antes do Siluriano pode ser um artefato do registro fóssil, mas precário na ausência de lignina. A invasão do ambiente terrestre proporcionou uma série de alterações ecológicas, como maior estabilidade do solo devido às raízes e o aumento da umidade local devido a transpiração. A diferença mais evidente das embriófitas é a formação de um embrião. Sua origem, portanto está relacionada a mudanças no ciclo de vida. Existem duas teorias para explicar a origem das plantas terrestres. 3 Fig. 1. Fósseis de pólen de 471 Ma. Segundo a Teoria de Homólogos ou de Transformação, o ciclo de vida das algas ancestrais seria diplobiônticos, com alternância de geração, na qual tanto o gametófito quanto o esporófito seriam multicelulares e independentes. Teria havido a partir daí, uma transformação levando a um ciclo heteromórfico, ou seja com diferenças morfológicas entre as fases de vida. Nesse caso, as briófitas não são consideradas estados intermediários. O esporófito das briófitas seria resultado de redução em contraposição ao das traqueófitas, resultante de elaboração. Essa teoria, no entanto, não explica a formação de um embrião a partir de gerações livres. Não existem algas diplobiontes, os gametas são sempre liberados do gametófito, de modo que a fertilização e o desenvolvimento do embrião são livres, independentes do gametófito parental. Segundo a Teoria Antitética ou de Interpolação, as algas que deram origem as plantas terrestres teriam ciclo de vida haplobiôntico (uma única geração multicelular), com alternância de gerações, onde os gametófitos seriam multicelulares e os esporófitos unicelulares (apenas o zigoto). Nesse caso, o esporófito das briófitas representaria um estado intermediário entre o das algas e o das pteridófitas. Ao desenvolver a Teoria Antitética, Bower sugeriu que as plantas terrestres teriam derivado de algas verdes terrestres ou de água doce com ciclo haplobiôntico (dominância do gametófito), semelhantes às carófitas. A partir daí teria surgido a oogamia, formação de um gameta feminino (óvulo) grande e imóvel, seguido da retenção desse óvulo e posteriormente do zigoto no arquegônio do gametófito. O retardo da meiose do zigoto e a inserção de divisões mitóticas na fase diplóide (embriogênese) teriam evoluído para a formação de um esporófito multicelular associado ao gamétofito. A partir daí teria se estabelecido uma relação de nutrição e desenvolvimento entre esporófito e gametófito. A alternância de gerações parece ter surgido inúmeras vezes na evolução dos protistas. O ancestral das plantas terrestres estariam certamente dentre as clorófitas, mas precisamente dentreas carofíceas. Essas algas verdes são exclusivamente haplobiontes e oogâmicas, sustentando assim a Teoria Antitética. As algas verdes incluem cerca de 8.000 espécies (90% de água doce), e o gênero Coleochaetes, o mais relacionadas às embriófitas, possui 15 espécies. As carofíceas formam um grado em relação as embriófitas e juntas compõem as Estreptófitas. Dentre as características que sustentam essa relação estão a formação de fragmoplasto (conjunto de microtúbulos que surge na fase final da divisão celular e auxilia na formação da parede celular), o citoesqueleto dos gametas flagelados masculinos (ausente apenas em grupos mais derivados de espermatófitas), a fotorrespiração e a possível ocorrência de fitocromos (pigmento 4 protéico de plantas ativado pela luz e que está envolvido no desenvolvimento). Fósseis de Charales, grupo irmão de Coleochaetales-embriófitas, são registrados no Siluriano. Figura 2. Coleochaetes, as algas mais relacionadas com as plantas terrestres. A invasão do ambiente terrestre pelas plantas há pelo menos 450 Ma foi um dos mais importantes eventos da história da Terra. As primeiras plantas terrestres deviam ocupar locais encharcados. A água continuava essencial para a sobrevivência das plantas e principalmente para a reprodução, pois os gametas masculinos ainda tinham que alcançar o feminino nadando. As condições deviam ser rigorosas, sob alta exposição solar, períodos de seca freqüentes e solos pobres. Os níveis de CO2 estavam diminuindo e os de O2 subindo. A fotossíntese promoveu o acúmulo de oxigênio levando a formação da camada de ozônio, essencial para que as plantas pudessem emergir do escudo de água. Inicialmente, as plantas terrestres deviam ser semelhantes as briófitas, sem restrições mecânicas, compostas por um corpo taloso sem tecidos de condução ou sustentação especializados. Mudanças anatômicas e fisiológicas durante o Ordoviciano e o Siluriano foram então as mais importantes. Mas o contato com a atmosfera exigiu também mudanças biofísicas e bioquímicas, dentre elas a formação de camadas protetoras, como a cutícula e a esporolina, que amenizam a perda de líquidos. As trocas gasosas passaram mais tarde a ser realizadas por poros especializados denominados estômatos. A produção de metabólitos secundários como os compostos fenólicos também contribuiu para a proteção contra os raios ultavioletas, o parasitismo e a predação. Gametóforos mais altos proveriam uma dispersão mais eficiente para os esporos gerados nos esprófitos que ali germinassem. Sem sistema vascular, o sistema axial das primeiras plantas terrestre era mantido exclusivamente devido ao turgor, limitando o crescimento de apêndices e a altura da planta a apenas alguns centímetros. O desenvolvimento de um sistema de condução representou uma inovação fisiológica e mecânica importante para as plantas terrestres, mas elas continuaram restritas a ambientes úmidos. As briófitas são pequenas e simples. Típicas de ambientes úmidos, elas não possuem tecidos especializados para a condução de fluídos e nutrientes; eles são distribuídos por difusão. Nelas, o gametófito é a fase dominante na alternância de gerações. O esporófito consiste de um pé embebido no gametófito, um pedúnculo (seta) e um esporângio (cápsula) no ápice. São reconhecidos três principais grupos de briófitas. Marchantiopsida (hepáticas; 6.000-8.000 espécies), Anthocerotopsida (antocerófilas; 100-400 espécies) e Briopsida (musgos; com 10.000 espécies). Estudos filogenéticos têm demonstrado que as briófitas realmente formam um grupo parafilético em relação às traqueófitas, sendo as Briopsidas o grupo irmão. 5 Com a saturação dos ambientes úmidos, passou a haver uma seleção para características que permitissem a falta temporária de água. Surgiram então sistemas radiculares mais especializados na captação de água, e também na fixação de plantas maiores. O aumento na cutinização da epiderme e das paredes celulares de células subepidérmicas amenizou ainda mais a perda de líquidos por transpiração. O desenvolvimento de sistemas complexos de ramificação maximizando a superfície fotossintética foram acompanhados por sistemas mais eficientes de condução de água e sustentação obtidos com a produção de lignina nos tecidos vasculares. As primeiras plantas vasculares, supostamente a extinta Rhynia (entre 425 e 380 Ma), não possuíam raízes, nem folhas; eram homospóricas, com ramificação dicotômica (figura 3). Figura 3. Rhynia As raízes derivaram a partir da ramificação de um rizoma com rizóides. Elas auxiliaram não apenas na captação de líquidos, mas também na fixação das plantas. As folhas parecem ter surgido mais de uma vez nas traqueófitas. As folhas das licopsidas (microfolhas) são simples e supostamente derivadas de esporângios estéreis, enquanto as folhas das demais traqueófitas (megafolhas) teriam surgido a partir da expansão de ramos. A heterosporia, produção de micro e megásporos, o primeiro levando a formação de gametófitos masculinos e o segundo de gametófitos femininos (plantas com sexos separados), também surgiu diversas vezes a partir de ancestrais homospóricos (sem diferenciação de esporos) e com gametófitos produzindo anterídios e arquegônios. Ainda assim, a maiorias das traqueófitas que não produzem sementes são homospóricas. Apesar de bissexuais, existe freqüentemente uma assincronia na produção de gametas masculinos e femininos na mesma planta, forçando os gametas masculinos a nadarem até outro gametófito para realizarem a fertilização de um gametófito feminino. A heterosporia é frequentemente acompanhada por endosporia (desenvolvimento do gametófito no interior da parede do esporo). Após sua origem no Siluriano, as plantas vasculares se diversificaram rapidamente no Devoniano. A formação de um câmbio e o conseqüente crescimento secundário e um sistema vascular mais eficiente permitiram que as plantas pudessem crescer em tamanho e aumentassem seu tempo de vida. As comunidades e as paisagens terrestres cresceram bastante em complexidade no fim do Devoniano. No Carbonífero, já era possível encontrar licófitas (Phylum Licophyta ) com mais de 40 m de altura formando florestas em áreas alagadas. As licófitas estão entre as primeiras linhagens a divergirem na evolução das traqueófitas e chegaram a dominar a flora no final do Carbonífero. Atualmente, estão restritas a 1.000 espécies herbáceas divididas em Lycopodiaceae, Sellaginellaceae e Isoetaceae (figura 4). 6 Figura 4. Lycopodium Selaginella Isoetes As traqueófitas possuem tecidos vasculares, denominados floema e xilema, que transportam líquidos e nutrientes. O xilema possui lignina que sustenta a planta ereta. Nelas, é o esporófito a fase dominante no ciclo de vida. Ele é vistoso, possuindo diferenciação de raízes, folhas e caule. Fotossintetizante, o esporófito cresce de maneira independente. O gametófito por sua vez é reduzido, especialmente nos grupos mais derivados. A redução do gametófito é marcante especialmente nas espermatófitas. Em angiospermas, o gametófito fica limitado a poucas células e é nutrido pelo esporófito, atuando como um parasita. Alguns autores acreditam que as Licófitas surgiram de maneira independente das demais traqueófitas e consideram as plantas vasculares difiléticas ou parafiléticas. Além das Licophyta (Lycopodium, Selaginella e Isoetes), encontram-se entre as traqueófitas, as Sphenophyta (Equisetum, rabo de cavalo, com registros de 300 Ma) que também possuem esporângios reunidos em estróbilos, as Psilotophyta (Psilotum e Tmesipteris, sem raíz) e as Pterophytas (as verdadeiras samambaias com mais de 12.000 espécies). Nas Pterophytas, os esporângios ficam na face abaxial das folhas e geralmente ficamreunidos em soros protegidos ou não por um indúzio. A maioria das espécies estão incluídas em Filicales, que possuem frondes compostas, com desenvolvimento circinado, gametófitos bissexuados, mas funcionalmente unissexuados. Figura 5. Sphenophyta Psilotophyta Pterophytas Algumas dificuldades em se estabelecer as relações de parentesco entre os grandes grupos de plantas terrestres são a antigüidade dessas linhagens, a velocidade de diversificação em determinados períodos e a ausência de muitos representantes extintos. Irradiações rápidas e antigas geram problemas analíticos que dificultam a detecção de relações filogenéticas através de dados morfológicos e moleculares. O excesso de homoplasias, por sua vez, dificulta análises morfológicas. Folhas, por exemplo, surgiram cerca de seis vezes na evolução das traqueófitas. Essa conclusão é constatada 7 através de análises incluindo táxons extintos, que demonstram a derivação de seis grupos atuais com folhas a partir de táxons extintos sem folhas. Figura 6. Provável filogenia das plantas Os grupos de Espermatófitas Durante a irradiação das plantas vasculares no Devoniano (360 Ma), surgiu a linhagem que levaria às espermatófitas (Plantas com sementes), representada pelas extintas Progimnospermas, plantas que já ocupavam áreas com variações sazonais de umidade. Esse grupo possuía um sistema vascular semelhante ao das espermatófitas, isto é com câmbio, mas ainda não produziam sementes. As primeiras plantas com semente são artificialmente designadas Pteridospermales. A semente é o óvulo fecundado. Lembrando do ciclo de vida das plantas: a fase esporofítica é caracterizada pela produção esporos em esporângios. No caso das espermatófitas, os megásporos foram reduzidos a um único funcional, o qual passou a ficar incluído no megasporângio (nucelo) que por sua vez passou a estar protegidos por um tegumento. O gametófito feminino é endospórico, germinando dentro do megasporângio, assim como o zigoto que dará origem ao embrião da nova fase esporofítica ainda protegido pelo tegumento. 8 Fig. 7. Gimnospermas primitivas A retenção do megásporo e a formação da semente trouxeram uma enorme vantagem adaptativa para as espermatófitas. A fecundação do gametófito feminino tornou-se independente de água externa. Nas primeiras espermatófitas os grãos de pólen entravam pela micrópila, uma abertura no tegumento do megasporângio, chegando até a câmara polínica. O gametófito crescia se nutrindo do nucelo até alcançar a câmara arquegonial onde lançava dois gametas flagelados (anterozóides). Esses gametas masculinos nadavam até o arquegônio e fecundavam o gameta feminino. Esse tipo de fecundação caracteriza dois grupos de espermatófitas, as Cycadales e a Ginkgo biloba (único representante vivo das Ginkgoales). Em grupos mais derivados de espermatófitas, em vez de gametas flagelados, o tubo polínico cresce até o arquegônio lançando os gametas diretamente no gametófito feminino. Esse processo é denominado sifonogamia e geralmente está associado a ciclos de vida mais rápidos. Existe nesse caso uma completa independência da água para a reprodução. Com uma testa dura, a semente provê também maior proteção ao embrião do novo esporófito. A poliembrionia, desenvolvimento de mais de um embrião por óvulo pode ocorrer, mas geralmente apenas um sobrevive. As espermatófitas são tradicionalmente divididas em dois grupos: as gimnospermas (sementes nuas) e as angiospermas (sementes em urna). O primeiro grupo inclui quatro ordens: Cycadales, Ginkgoales, Coníferales e Gnetales. As gimnospermas surgiram no Devoniano, já se encontravam diversificadas no Carbonífero e atingiram o auge no Triássico. Elas são caracterizadas por possuírem crescimento secundário, traqueídes no xilema e células crivadas no floema. As folhas são geralmente perenes (exceto em Ginkgo) e a venação dicotômica (exceto em Gnetales). São geralmente unissexuados, com esporângios reunidos em folhas modificadas (esporofilos) que ficam agrupadas em estróbilos (ou cone; exceção para Ginkgo). 9 Cycadales Ginkgoales Coniferales Gnetales Figura 8.Representantes das ordens de gimnospermas Atualmente, as gimnospermas abrangem 80 gêneros e 870 espécies, principalmente nas regiões temperadas. Alguns grupos dominam grandes áreas florestais como é o caso das coníferas na taiga, enquanto outros são representados por populações isoladas nas regiões tropicais e subtropicais, como é o caso da maioria das Cycas; outros ainda, são extremamente localizados como é o caso da Gingko biloba, considerado um fóssil vivo, o único remanescente de uma linhagem, atualmente encontrada apenas em florestas remotas da China ou a Welwitschia mirabilis, espécie pitoresca e encontrada apenas no deserto da Namíbia, no sudeste da África. Dentre os grupos extintos destacam-se as Pteridospermales, as Glossopteridales, as Caytoniales, as Coritospermales e as Bennettitales. As Cycadales dominaram a vegetação entre 300-70 MA e hoje contam com 11 gêneros e 190 spp. Chamam a atenção pelos glicosídios tóxicos e de interesse biomédico, pelo caráter ornamental e por serem constituídas de representantes raros e remanescentes de uma linhagem antiga e ameaçada de extinção. As raízes, eventualmente expostas, são invadidas por bactérias e posteriormente formam nódulos de Anabaena, importantes na fixação de nitrogênio atmosférico, permitindo que essas plantas possam se instalar em solos muito pobres. O tronco é aéreo e colunar, com uma coroa de folhas pinadas no ápice. Os estróbilos são geralmente solitários. O masculino possui um eixo central e numerosos esporófilos espiralados com 1 até milhares de microsporângios, os quais liberam os esporos no ar ou são carregados por besouros. Os megasporofilos femininos formam estróbilos (exceção em Cycas, onde os esporófilos saem do centro da coroa e possuem 1-6 óvulos, nos demais são 2) e podem produzir até 500 sementes e chegar a 40 kg, indo de 80 cm em Macrozamia até 2 cm em Zamia. O Jurássico ficou conhecida como a idade das Cycadales e dos dinossauros, mas um outro grupo se destacou nesse período, as Bennettitales. Elas tinha folhas semelhantes com Cycadales, mas estróbilos bissexuados, considerados por vários 10 autores, o possível estádio ancestral das flores. Elas se extinguiram no Cretáceo, quando as primeiras angiospermas começaram a aparecer no registro fóssil. As Ginkgoales surgiram no Permiano, atingiu o auge no Jurássico, estando amplamente distribuída no Mesozóico. Atualmente, resta apenas uma espécie, Ginkgo biloba, cultivada em templos budistas da China e Japão e utilizada em projetos de urbanização, mas que parece existir em florestas montanhosas da China. São árvores até 30 m e ½ de diâmetro, folhas flabeliformes, com venação paralela, dicotômica. As sementes produzem um odor de manteiga rançosa, por causa do ácido bútrico do tegumento carnoso. Daí a preferência por plantas masculinas ou a utilização de ácido málico para evitar a produção de sementes, uma vez que é difícil distinguir o sexo das plantas quando jovens. As coníferas se referem às plantas que possuem cones (exceção feita a alguns gêneros como Juniperos, onde os estróbilos são muito modificados assemelhando-se a bagas). Elas ocorrem desde o Carbonífero e já eram comuns no Permiano e no Triássico. Hoje, a maior parte das florestas das regiões frias e temperadas são cobertas por coníferas. São plantas ramificadas, com folhas simples, aciculares ou escamiformes, geralmente espiraladas. Os cones femininos são compostos por escamas ovuliferas e escamas bracteais, com vários graus de fusão e vascularizações distintos de acordo com o grupo. Aescama bracteal corresponde a um ramo com óvulos reduzidos, subtendido por uma bráctea. O grão de pólen geralmente é auriculado, apresentando dois alvéolos. Essa estrutura parece estar relacionada não apenas a anemofilia, mas talvez esteja envolvida também na flutuação do pólen pela gota da micrópila. Incluem sete famílias, 60-65 gêneros, muitos monotípicos e cerca de 600 espécies. Pinaceae abrange 200 espécies caracteristicamente representada no hemisfério norte. Entre seus representantes merece destaque o Pinus logaves, cuja idade é estimada em quase 5000 anos. São bastante para a produção de madeira, com ornamentais, extração de compostos aromáticos. As Gnetales certamente estavam presentes no Cretáceo, mas fósseis sugerem sua origem no Triássico. Atualmente, é constituída por Ephedra, Welwitschia e Gnetum, gêneros muito distintos entre si, distribuídos de maneira bastante particular. Além das traqueídes muitos indivíduos possuem elementos de vaso no xilema secundário. Os estróbilos são compostos, morfologicamente bissexuais, mas funcionalmente unissexuais. Destacam-se também pela dupla fecundação. Ephedra conta com cerca de 50 espécies, geralmente arbustos cespitosos, encontrados em solos alcalinos de desertos ou montanhas rochosas, na Ásia, Norte da África, Europa, América do Norte e América do Sul. Gnetum abrange 40 espécies tropicais, a maioria de distribuição restrita. São geralmente lianas que se estendem até o dossel de altas florestas. As folhas são opostas e de nervação pinada, reticulada. Os estróbilos são compostos, agrupados em anéis (derivados da fusão de brácteas) em torno de um ramo, formando uma espécie de espiga. Welwitschia é representado unicamente por W. mirabilis. São plantas perenes com caule tuberoso, curto e reto, 45 cm no solo arenoso. São produzidas duas folhas carnosas e permanentes, de crescimento contínuo ao longo da vida da planta. As folhas crescem 8-15 cm/ano e chegam a alcançar 6,2 m (3,7 m de tecido vivo) de compr. e 1,8 de larg. A estimativa de vida de algumas plantas chega a 2000 anos. Ocorre basicamente no deserto da Namíbia, sudeste da África, onde a umidade está baseada principalmente na neblina litorânea. 11 Fig.9. Welwitschia mirabilis O outro grande grupo de espermatófitas, as angiospermas ou plantas com flores, é facilmente reconhecido pela produção de flores, ou mais especificamente pela inclusão dos óvulos em um carpelo, o qual quando maduro dará origem ao fruto. A origem do carpelo ainda é controvertida. A hipótese mais aceita supõe que ele é derivado de uma folha modificada. As angiospermas se caracterizam também pela dupla fertilização e o conseqüente endosperma triplóide. Ambos os gametófitos são ainda mais reduzidos, o feminino (saco embrionário) é constituído por apenas oito núcleos (dois núcleos polares, duas sinérgides junto ao gameta feminino e três antipodas), o masculino tricelular. O grão de pólen possui o teto reticulado e é recebido no estigma em vez de entrar pela micrópila. O óvulo é bitegmentado. O tubo polínico cresce e penetra o óvulo pela micrópila, lançando dois gametas no gametófito feminino. Um fertiliza o gameta feminino produzindo o zigoto diplóide e o outro se une às células polares formando o endosperma triplóide que nutrira o embrião esporofítico durante seu desenvolvimento. Uma flor perfeita (hermafrodita) é composta por um conjunto de sépalas (cálice), pétalas (corola), estames (androceu) e carpelos (gineceu). Geralmente o cálice é pouco vistoso, derivado de folhas modificadas e associado à proteção, ao passo que a corola vistosa, de origem foliar ou estaminal está associada à atração de polinizadores. Os estames são geralmente compostos de filetes longos e esguios, possuindo em seu ápice anteras, homólogas aos microsporângios. Os carpelos são esguios para o ápice compondo um estilete com uma zona receptiva no ápice denominada estigma, e englobam o óvulo ou megasporângio no ovário. As flores geralmente se encontram agrupadas em inflorescências. As flores atuam na atração de polinizadores, geralmente associando cores vistosas e odores intensos, o que associado a um sistema de incompatibilidade e reconhecimento entre grão de pólen e estigma, favorece a reprodução cruzada. Ainda assim, vários grupos, como as gramíneas, geralmente com flores inconspícuas são polinizados pelo vento. O desenvolvimento dos gametófitos é ainda mais curto, resultando em um ciclo mais rápido. O endosperma só é formado em caso de fertilização, não existindo um desperdício de energia para sua formação caso não haja um embrião para se desenvolver. Os frutos, além de contribuírem para a proteção da semente, também auxiliam na sua dispersão. Além das vantagens reprodutivas, a maioria das angiospermas possuem vasos (associado a fibras de sustentação) e tubos de células crivadas com células companheiras que aumentaram a eficiência da condução de líquidos em relação às traqueídes da maioria das gimnospermas. As angiospermas também possuíam um vasto arsenal químico, inicialmente através da produção de alcalóides benzilisoquinolínicos e óleos essenciais, depois taninos, iridóides, glicosídios 12 e outros tipos de alacalóides. Defesas mecânicas como ráfides de oxalato de cálcio também tornam suas folhas menos atrativas aos herbívoros. Origem das angiospermas A origem das angiospermas foi chamada por Darwin de o Abominável Mistério. Isso porque elas aparecem no registro fóssil já diversificadas, sem uma transição aparente. Elas surgiram no Cretáceo Inferior (aproximadamente 140 Ma) e no Terciário (aproximadamente 90 Ma) já dominavam o ambiente terrestre. Atualmente, contam com cerca de 250.000 espécies, incluindo uma enorme diversidade de formas. O número de características compartilhadas evidenciam o monofiletismo das angiospermas, mas sua relação com as demais espermatófitas foi alvo de vários estudos. As angiospermas parecem bastante relacionadas com as extintas Bennettitales, que apresentavam estróbilos bissexuais, semelhantes a flores. Duas teorias procuravam explicar a origem das flores das angiospermas. A teoria Antostrobilar, relacionava as flores com estróbilos bissexuados de Bennettitales e supunha que as flores mais primitivas seriam grandes, com muitas partes, sem maiores especializações do androceu e do gineceu, semelhantes às encontradas nas atuais Magnoliaceae. Essa teoria era corroborada por fósseis de Winteraceae e de Archaeanthus, grupo extinto semelhante às Magnoliaceae. A teoria do Pseudanto, por outro lado, acreditava que as primeiras flores eram inconspícuas e unissexuadas, reunidas em inflorescências, semelhantes às encontradas em Amentíferas, posteriormente relacionando-as com as Chloranthaceae, fazendo uma ligação entre as Gnetales e as angiospermas. Essa hipótese era corroborada por fósseis de pólen clorantóides, os mais antigos dentre os que são inquestionavelmente pertencentes às angiospermas, ou seja, columelados e com teto reticulado. Estudos moleculares vem contestando ambas as teorias, demonstrando que a linhagem que primeiro divergiu na evolução das angiospermas foi a Amborella. Esse gênero conta com apenas uma espécie da Nova Caledônia e possui flores medianas, unissexuadas, com peças livres, não muito numerosas, um número não muito grande de estames na flor masculina, nem muitos carpelos na feminina. Fig. 10. Amborella. As principais novidades evolutivas encontradas em angiospermas estão relacionadas ao desenvolvimernto e reprodução mais rápidos. O sistema vascular especializado permitiu a condução mais eficiente de água e a redução dos gametófitos femininos tornou o ciclo de vida mais curto. Essas vantagens devem ter permitido às primeiras angiospermas ocuparem regiões perturbadas e de clima sazonal. Elas provavelmente surgiram na região tropical, e se espalharamrapidamente, aproveitando pontes intercontinentais que ainda existiam na região equatorial durante o início da desintegração da Pangea no Cretáceo. 13 Até meados da década de 90, a hipótese mais aceita era de que, dentre os grupos atuais, as angiospermas eram mais relacionadas com as Gnetales. Essa relação era sustentada por várias características presente apenas nesses grupos, como dupla fecundação e presença de vasos no xilema, e era corroborada por análises filogenéticas com dados morfológicos. Esse grupo incluindo as angiospermas e as Gnetales foi denominado Anthophyta. Dessa maneira, as angiospermas formariam um grupo parafilético, já que seu ancestral comum não incluiria todos os descendentes, no caso as angiospermas. Recentemente, no entanto, as Anthophyta têm sido refutadas. Estudos filogenéticos com dados moleculares vêm demonstrando que não existe nenhum grupo dentre as gimnospermas atuais que seja mais relacionado com as angiospermas. Ou seja, as angiospermas formam grupo irmão das gimnospermas vivas, e as Gnetales aparecem mais relacionadas com as coníferas, talvez formando um grupo irmão bastante modificado das Pinaceae. Como a linhagem das gimnopermas atuais data do Devoniano, essa descoberta joga a origem da linhagem das angiospermas para essa mesma data, muito anterior aos primeiros registros fósseis do grupo, perpetuando assim o Abominável Mistério de Darwin. Como seriam os representantes de angiospermas durante esse intervalo de 200 Ma? Onde as angiospermas teriam evoluído? Diversificação das Angiospermas As angiospermas eram tradicionalmente classsificadas em Dicotiledôneas caracterizadas por um sistema radicular pivotal, dois cotilédones, crescimento secundário formando um anel, venação reticulada, e as Monocotiledôneas, com sistema radicular fasciculado, apenas um cotilédone, sistema vascular disperso, venação paralelinérvia. Essa dicotomia foi refutada em meados dos anos 90. Estudos filogenéticos mostravam que apesar das monocotiledôneas formarem um grupo monofilético, as dicotiledôneas seriam parafiléticas, com alguns grupos mais relacionados com as monocotiledôneas do que com algumas dicotiledôneas. Tornou-se importante nessa época a distinção de um outro grupo, as Eudicotiledôneas, fortemente sustentada em análises cladísticas e reconhecidas pelos pólen tricolpado ou tricolporado, ou derivado desse. Fig. 11. tipos de pólen de dicotiledôneas As angiospermas passaram então a estar divididas em angiospermas basais formando um grado na base, seguidas por um clado composto de grupos de Magnoliideae contendo 6% das angiospermas mais as Monocotiledôneas com cerca de 14 19% e finalmente as Eudicotiledôneas com os restantes 75%. Atualmente, estudos com um número maior de dados mostram que as Magnoliideae não estão mais relacionadas com as Monocotiledôneas e sim com as Eudicotiledôneas, de modo que com exceção de Amborella, as aquáticas Nymphaeales e três pequenas famílias, Iliciaceae, Schizandraceae e Trimeniaceae, as Euangiospermas poderiam sim ser divididas em dois grande grupos semelhantes às tradicionais Mono e Dicotiledôneas. Ao longo da evolução das angiospermas algumas novidades podem ser notadas na evolução das flores: houve uma estabilização no número de verticilos e de peças por verticilo, quatro ou mais freqüentemente três como é o comum nas monocotiledôneas e cinco, como é mais comum nas eudicotiledôneas. Passou a haver uma maior especialização das estruturas, diferenciação entre sépalas e pétalas, por exemplo, e a gamopetalia, isto é a fusão dos lobos da corola passou a ser comum. O ovário passou a ser ínfero em muitos casos, aumentando ainda mais proteção aos óvulos. A maioria dos grupos passou a oferecer néctar, recurso menos dispendioso à planta, em vez de pólen como recompensa a seu polinizadores. A associação com insetos mais especializados levou em muitos casos a simetria bilateral, em outros levou a agregação de flores em inflorescências congestas, como em compostas. Mas o que levaria um grupo a se diversificar mais que outro? Quais as novidades evolutivas ou fatores externos promoveriam mudanças na taxa evolutiva? Essas questões continuam sendo investigadas, agora sob a luz da sistemática filogenética. Um dos métodos mais utilizados é a comparação entre a diversidade de grupos irmãos, os quais por definição possuem a mesma idade. Os resultados de maneira geral são pouco conclusivos. Um dos estudos mais recentes, no entanto, mostrou que existe um certo padrão na distribuição de grupos com taxa de diversificação que fogem a média das angiospermas. Os clados com maior número de espécies por idade são aqueles mais recentes, especialmente encontrados nos grupos de Asteridea, enquanto os mais antigos são pouco diversificados. Aparentemente, existe uma relação entre a idade do táxon e sua taxa de diversificação. Talvez grupos mais antigos passaram por mais mudanças ambientais e assim tenham tido maiores chances de ter sua diversidade reduzida ao longo da evolução. No entanto, fósseis não demonstram uma grande diversidade desses grupos no passado, trazendo problemas para essa explicação. Uma vez que a diversidade e as taxas de diversificação são desigualmente distribuídas entre as linhagens de angiospermas, talvez grande parte das novidades evolutivas que caracterizam o surgimento das angiospermas não tenham sido suficientes para deflagrar o aumento na diversidade do grupo. 15 Fig.12. Evolução dos grupos vegetais em relação ao tempo. Bibliografia utilizada RAPINI, A. www.freewebs.com/rapinibot/encobio/aula3.htm acessado em 23 de fevereiro de 2011.
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