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Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS CAPÍTULO III - RÉPTEIS 1. ORIGEM A origem dos répteis data do final do Carbónico, tendo a sua evolução coincidido com uma grande expansão dos insectos, talvez nomeadamente com o desenvolvimento de formas aladas, com o aumento de vegetação terrestre em quantidade e diversidade. Crê-se que os primeiros répteis eram pequenos, com formas semelhantes às de um lagarto e provavelmente alimentavam-se dos insectos então abundantes. Contudo os répteis evoluíram rapidamente em tamanho e no início do Pérmico possuíam 2 a 3 m de comprimento. Inicialmente insectívoros, os répteis do Pérmico separaram-se em linhas carnívoras e herbívoras, com tendência para um aumento e diversificação do porte. Uma das maiores diferenças entre os anfíbios e os répteis é a ocorrência neste último grupo de um ovo amniótico que possibilitou a reprodução em terra num ambiente seco (Figura 3.1). As adaptações do ovo amniótico providenciam um ambiente óptimo ao desenvolvimento do embrião. A casca, que pode ser calcificada, providencia uma protecção mecânica permitindo simultaneamente as trocas gasosas com o meio. A albumina dá uma maior protecção contra acções mecânicas e constitui um reservatório de água e proteína. O vitelo fornece a energia necessária ao desenvolvimento do embrião. A diferença mais significativa entre os ovos anamniótico e amniótico consiste na presença de três membranas neste último, córion, âmnion e alantoína. O córion rodeia o embrião e o saco vitelino, o âmnion é uma membrana mais interna que contorna o próprio embrião. A alantoína é uma membrana entre o córion e o âmnion que encerra uma cavidade (alantóide), que funciona como um lugar para armazenar os desperdícios de azoto resultantes do metabolismo do embrião. No período Carbónico existiam extensas florestas tropicais, sobretudo constituídas por licopódios arborescentes, que deram origem às principais jazidas de carvão actuais. O aumento da aridez no final deste período resulta na regressão destas florestas e aparecimento das primeiras plantas com sementes, os fetos glossopterídeos, e mais tarde as pré- gimnospérmicas. Os anfíbios dominaram este período e o início do Pérmico, mas os Répteis começaram a dominar no final do Pérmico. As grandes florestas de Coníferas do Pérmico (a flora aumenta de estatura para proteger as estruturas reprodutoras dos insectos abundantes e diversificados) resultam no aumento e diversificação da entomofauna florestal, desenvolvendo-se formas gigantes e formas aladas. Da mesma forma, as plantas com sementes adaptadas a zonas mais secas apresentam um aumento paralelo de entomofauna de zonas áridas e predadores mais adequados a esta, os Répteis. 32 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Al: alantóide Am: âmnio Pca: localização da placenta corio-alantóide nas formas vivíparas Pv: localização da placenta vitelina nas formas vivíparas Sv: saco vitelino Figura 3.1. Estrutura de um ovo anamniótico. Fonte: Ruffié (1982). Os vestígios dos répteis mais primitivos até hoje encontrados foram descobertos em troncos de árvores fósseis do início do Carbónico Superior (aproximadamente 315 ma BP), tendo sido provavelmente os antepassados da maior parte dos répteis que surgiram posteriormente. Nesse tempo geológico, já existem vestígios, embora mais raros, de répteis de um tipo diferente percursores de uma linhagem que viria a dar origem aos primeiros pequenos mamíferos, no fim do Triásico (há cerca de 190 ma BP). As diferentes subclasses de répteis distinguem-se uma das outras sobretudo pelo número e pela estrutura das aberturas do crânio (Figura 3.2). A sua caixa craniana, completamente fechada e desprovida de arcadas temporais, valeu aos répteis arcaicos a designação de Anapsídeos (subclasse Anapsida), mas nos répteis da linhagem dos mamíferos (subclasse Sinapsida), aparece já uma abertura simples, acima de um osso quadrado, com o qual se articula a mandíbula. O Pérmico (200-225 ma BP) assistiu ao aparecimento de uma nova categoria de répteis, dotados de duas aberturas temporais, uma de cada lado do crânio, ligadas à sua parte inferior por um côndilo ósseo (subclasse dos Diapsida) a qual reúne a maior parte dos répteis, vivos e extintos. No final do Triássico, paralelamente ao desaparecimento dos Sinapsídeos, as duas grandes linhagens de Diapsídeos começaram a prosperar e a diversificar-se. O primeiro desses dois grupos, os Lepidossáurios, inclui a maior parte dos répteis vivos, isto é, as tatuaras e as três subordens com escamas reptilianas, os lagartos, as cobras e os anfisbenídeos. A taatara conserva a estrutura craniana dos primeiros Diapsídeos, com duas aberturas temporais. Nos lagartos “típicos”, a superior é bordejada por uma arcada óssea, mas o côndilo situado por baixo da inferior desapareceu. Embora os primeiros lagartos tenham aparecido no Triássico, as cobras (ou Ofídios), só surgiram no Cretácico Inferior (há cerca de 135 ma BP) e, de todos os grandes grupos de répteis, estes são de facto aqueles cuja evolução é mais recente e cuja diversificação, no que se refere ao número de famílias e de espécies, foi mais espectacular. É provável que os Ofídios tenham tido por antepassados lagartos fossadores de tipo desconhecido, sem dúvida muito diferentes dos actuais lagartos ápodes fossadores. A outra grande linhagem de Diapsídeos foi a dos Arcossauros, que atingiu o seu apogeu no Jurássico e no Cretácico (há cerca de 190-65 ma BP), na chamada Era dos Répteis. Os mais Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS espectaculares Arcossauros foram os extintos dinossauros, de que existem duas ordens: os Saurisquianos, que conservaram um osso ilíaco típico dos répteis, e os Ornitisquianos, cujo ilíaco era igual ao que se viria a encontrar mais tarde na classe das Aves. Os primeiros compreendiam todos os bípedes carnívoros como o enorme Tiranossauro, de mais de 12 m de comprimento e os Brontossauros, dotados de uma minúscula cabeça, mas com um pescoço alto e uma longa cauda. Um deles, o Braquiossauro, apresentava um comprimento que podia atingir os 23 m e um peso de 50 ton, e foi sem dúvida um dos mais pesados animais terrestres de sempre. Figura 3.2. As quatro subclasses de répteis distinguem-se entre si pelas aberturas temporais dos crânios: 1) a subclasse dos Anapsídeos é desprovida de aberturas temporais, possuindo apenas uma perfuração temporal como muitas tartarugas marinhas e terrestres actuais mas que não se parece com as aberturas encontradas nas outras subclassses; 2) a subclasse dos Sinapsídeos, que deu origem aos mamíferos, tem apenas uma abertura, com uma arcada óssea por baixo. 3) a subclasse dos Diapsídeos, a que pertencem os dinossauros, os pterossauros e todos os répteis vivos, com excepção das tartarugas marinhas e terrestres, é dotada de duas aberturas; 4) a subclasse dos Euriapsídeos, répteis marinhos do Mesozóico, apresenta uma abertura situada no alto do crânio. Os Ornitisquianos também eram formados por bípedes e quadrúpedes, mas todos eles herbívoros. Entre os bípedes, encontrava-se o famoso Iguanodon, cujo polegar era dotado de uma garra, assim como os Dinossauros de bico de pato, e entre os quadrúpedes refira-se o pesado Stegossaurus, com o dorso coberto de grandes placas ósseas, assim como os Dinossauros cornudos, parecidos com os rinocerontes, como o Triceratópe. Outros florescentes grupos de Arcossauros foram os répteis alados (Pterossauros) e os crocodilos, surgidos no Triásico, tal como os Dinossauros e a maior parte dos outros grupos de répteis mais conhecidos. Os répteis alados eram em certos aspectos semelhantes às aves. Todavia, estes dois grupos parecem completamenteindependentes quanto às suas origens, sendo as asas dos Pterossauros, membranosas e sustentadas pelos prolongamentos ósseos do quarto dedo, muito diferentes das das aves. Os crocodilos estão adaptados a um modo de vida de predadores anfíbios, sendo os únicos sobreviventes actuais dos Arcossauros. Existem dois outros grupos de répteis cuja classificação como Sinapsídeos ou como Diapsídeos continua a ser problemática. Trata-se dos grandes répteis marinhos do Jurássico, os Ictiossauros, semelhantes aos peixes, e os Plesiossauros, dotados de um longo pescoço e de 34 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS um corpo atarracado. Pouco se sabe sobre a origem destes dois grupos, no entanto como ambos possuem uma abertura parental única, situada bastante acima e na parte lateral do crânio, foram classificados na subclasse Euryapsida. Por último, temos a ordem dos Quelónios, as tartarugas, que apareceram bruscamente no Triásico, já com formas semelhantes às actuais. No entanto, as características únicas da sua anatomia levam a supor que a ordem dos Quelónios se tenha separado dos répteis primitivos no início da evolução dos répteis. Todavia, as tartarugas continuam a ser incluídas na subclasse dos Anapsídeos, a par da maior parte dos répteis primitivos conhecidos. Grupos mais importantes dos Répteis do Mesozóico Subclasse Euryapsida (marinhos) Ordens Ichtyosauria (forma de peixe) Nothosauria (tetrápodes) Plesiosauria (tetrápodes) Placodontia (lentos, com placas) Subclasse Archosauria Ordens Saurischia (forma de lagarto, carnívoros e herbívoros) ? Aves Ornithischia (geralmente bípedes e vivendo em manadas, herbívoros) Pterosauria (répteis voadores) Phytosauria (tipo crocodilo) Subclasse Lepidosauria Ordens Champsosauria (tipo crocodilo) Rhyncosauria Squamata ? Ophidia e Lacertilia A transição do Mesozóico para o Cenozóico é ecologicamente espantosa. As angiospérmicas suplantam rápidamente as gimnospérmicas (apresentando vasta diversificação em termos de frutos, polinização e defesas químicas) ao ponto destas serem actualmente quase relíquias, se exceptuarmos as florestas temperadas frias. As formas mais evoluídas de insectos surgem no Jurássico (Dípteros, Himenópteros, etc) e sofrem grande diversificação, que acompanha a das angiospérmicas. Estas transformações também se deram nos grupos de tetrápodes existentes. Como é do conhecimento comum, um ecossistema réptil-dominante no Mesozóico deu lugar a um ecossistema dominado por mamíferos no Cenozóico. Existem várias teorias para a explicação do desaparecimento dos grandes grupos de répteis do Mesozóico. Estas dividem-se nas catastróficas, que argumentam o desaparecimento dos Dinossauros na sequência de uma perturbação de grandes dimensões, e as que imputam aquele desaparecimento a alterações climáticas ou a processos biológicos. Nas catastróficas, citam-se entre outras: a Lua saiu do Oceano Pacífico causando terramotos, maremotos e erupções vulcânicas; a explosão duma supernova inundou a terra de radiações; e o impacto de um enorme asteróide espalhou na atmosfera uma camada de poeiras suficientes para encobrir o Sol e impedir a fotossíntese. Contudo, um acontecimento com resposta generalizada no 35 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS planeta Terra tem que ser articulado com a informação de que a transição de formas dominantes Cretácico-Terciário ocorreu a diferentes alturas em diferentes locais. Existem evidências geológicas de que no final do Cretácico ocorreram alterações climáticas, tornando-se o clima mais frio e variável, com estações alternadas e bem marcadas. Se os grandes répteis dependiam de uma estabilidade térmica da temperatura ambiente para a manutenção da sua temperatura corporal, este factor poderia ter-lhes sido bastante desfavorável. A diminuição de habitats óptimos em consequência de elevação dos continentes poderá igualmente ter contribuído para o desaparecimento deste grupo. De facto, ao longo deste período, muitas formas ancestrais de grupos actuais de anfíbios, répteis e mamíferos coexistiram nos ecossistemas terrestres, tal como é ilustrado na proporção de géneros encontrada em duas zonas florestais e aquáticas dos EUA (Figura 3.3). Os mamíferos encontravam-se bem representados em ambos os locais. Figura 3.3. Abundância relativa de géneros em locais do Cretácico final (Mesozóico). Fonte : POUGH e tal., 1999. 2. CARACTERÍSTICAS DOS RÉPTEIS ACTUAIS i) o corpo coberto de uma pele seca e córnea, sem glândulas mucosas e geralmente com um revestimento de escamas epidérmicas ou escudos; ii) dois pares de membros, cada um com cinco dedos com unhas córneas, adaptados para correr, rastejar ou trepar. Por vezes podem estar reduzidos ou não existir; iii) esqueleto bem ossificado, articulação do crânio à coluna vertebral feita por um só côndilo occipital; iv) coração tetracompartimentado, com divisão entre os ventrículos incompleta; v) poiquilotérmicos ou mais propriamente ectotérmicos; vi) respiração por pulmões; vii) excreção por rins, azoto excretado na forma de ácido úrico; 36 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS viii) fecundação interna, geralmente com orgãos copuladores, ovíparos ou, mais raramente, ovovivíparos, ovos de dimensões grandes com tegumento e vitelo e membranas embrionárias (âmnion, córion, saco vitelino e alantóide). Sem metamorfoses. Entre as adaptações à vida terrestre contam-se como mais importantes: • aumento da resistência da pele às perdas de água (comparativamente aos anfíbios); • espessamento e endurecimento da pele acompanhada pelo abandono da actividade respiratória cutânea. A respiração passa a ser feita apenas pelos pulmões. Um sistema circulatório mais eficiente rentabiliza mais a actividade respiratória; • os membros desenvolvem-se adaptando-se à locomoção num meio terrestre. As extremidades são protegidas por unhas que ajudam a locomoção em superfícies rugosas; • presença de um orgão copulatório, ausente ou incomum nos vertebrados inferiores, para a transferência interna do esperma; • ovos amnióticos, com casca resistente à secura e contendo uma cavidade amniótica preenchida de líquido que protege o embrião da dissecação e danos mecânicos; • maior ossificação do esqueleto; • diversificação da actividade alimentar. Os répteis actuais incluem-se em três subclasses, Anapsida, Archosauria e Lepidosauria : Subclasse Anapsida Ordem Testudinata (tartarugas e cágados) Esta ordem mudou pouco desde o Triássico. É característico da ordem a presença duma carapaça que encobre o protege o corpo do animal. A diversidade morfológica dentro do grupo é pequena. As tartarugas terrestres e marinhas distinguem-se pela forma e adaptações dos seus membros, curtos e de extremidades largas nas primeiras, adaptados para a natação nas segundas. Subclasse Archosauria Ordem Crocodilia (crocodilos, caimões, gaviais, jacarés) Também esta ordem mudou pouco desde o Mesozóico. Os crocodilos são os maiores répteis actuais e os que apresentam um comportamento social mais complexo, exibindo cuidados parentais especializados. Trata-se de um grupo com poucas diferenças morfológicas excepto as de dimensão, associadas às massas de água que habitam, e as do tipo bucal, associadas a hábitos alimentares especializados. Subclasse Lepidosauria Ordem Squamata (95% dos répteis actuais) Subordem Sphenodontia (tatuaras) Pequeno grupo com distribuição limitada à Nova Zelândia de animais com actividade nocturna, baixa temperatura, lentos, com dimensão máxima de 60 cm e que se alimentam principalmente de invertebrados. 37Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Subordem Amphisbaenia (lagartos vermiformes) Répteis de hábitos escavadores, ápodes com corpo vermiforme que habitam regiões tropicais. Subordem Lacertilia (lagartos, osgas, camaleão) Grupo dominante de répteis (os Lacertilia e Ophidia possuem 98% das espécies desta ordem) com dimensões, formas, habitats e hábitos alimentares muito diversificados. Subordem Ophidia (cobras, víboras) Os Ophidia caracterízam-se pela ausência de membros e pela sua grande especialização distinguindo-se dos lagartos ápodes por várias características morfológicas. 3. BIOLOGIA DOS RÉPTEIS ACTUAIS 3.1. TARTARUGAS Nas tartarugas, a epiderme é uma carapaça formada por uma placa de tecido ósseo sobre o qual se encontram escudos córneos. As vértebras e costelas estão soldadas ao espaldar ósseo (Figura 3.5). A carapaça é a característica mais importante deste grupo, simultaneamente explica o seu sucesso, existente desde o Triásico, e a sua limitada diversidade de formas. A morfologia da carapaça reflecte a ecologia das espécies de tartarugas. As tartarugas terrestres exibem grandes cúpulas abobadadas e pés elefantóides. As escavadoras são pequenas, com as patas anteriores adaptadas em forma de pá e abóbada da carapaça reduzida. Uma tartaruga africana apresenta uma forma bastante diferente da habitual, a carapaça é chapa e flexível, pouco ossificada, habita em regiões rochosas e tem particular habilidade para correr sobre as rochas e esconder-se em cavidades quando ameaçada por um inimigo. As tartarugas aquáticas possuem carapaças baixas, que oferecem pequena resistência aos movimentos da água, e membros adaptados para a natação. A família Emydidae, presente em Portugal, contém um grande número de espécies que habitam águas doces, lagoas, charcos, ribeiros e regatos. As tartarugas dividem-se em duas subordens, as Cryptodira, que retraem a cabeça na carapaça dobrando o pescoço na vertical, (dominantes) e as Pleurodira, que enrolam o pescoço na horizontal, que se encontram apenas no Hemisfério Sul (Figura 3.4.). Alguns grupos de taratarugas desenvolveram a região ventral (concha ventral ou plaston) de modo a fecharem as aberturas da cabeça e posterior. Algumas tartarugs aquáticas tem a carapaça muito leve para reduzirem o peso ao nadarem, e possuem os pés muito achatados e alartgados, em forma de barbatana As tartarugas não possuem dentes, mas apresentam um “bico” forte para apanharem as presas ou arrancarem pedaços de plantas. As Pelomedusidade emboscam as presas, apresentando a concha cheia de pregas às quais se agarram detritos e algas, aspirando as presas quando estas passam perto. Perderam assim o bico forte predatório que é característico da maior parte das tartarugas. O macho das tartarugas apresenta um orgão copulatório eréctil na parede da cloaca. Muitas das formas aquáticas apresentam brânquias cloacais. A tartaruga marinha pelágica de maiores dimensões (Chelonidae) tem 2 m e 500 kg e raramente vem a terra. 3.2. CROCODILOS 38 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Todos os crocodilos estão especializados para uma vida aquática. Possuem narinas superficiais, no topo do rostro, e um palato falso que conduz o ar até à extremidade posterior da boca. Na base da língua têm um tabique que impede a entrada de água na garganta, deste modo os crocrodilos podem respirar enquanto imersos apenas com a superfície superior do rostro à superfície. Figura 3.4. A ordem Testudinata está dividida em treze famílias, agrupadas em duas subordens: os Cryptodira, cujo pescoço é retráctil num plano vertical, e os Pleurodira, cujo pescoço se recolhe num plano horizontal. Os criptodiros possuem um plaston constituído por onze ou doze escamas e oito ou nove ossos; em contrapartida, os pleurodiros têm um com treze escamas e nove a onze ossos, e a sua bacia está soldada à carapaça. 3.2. CROCODILOS 39 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Todos os crocodilos estão especializados para uma vida aquática. Possuem narinas superficiais, no topo do rostro, e um palato falso que conduz o ar até à extremidade posterior da boca. Na base da língua têm um tabique que impede a entrada de água na garganta, deste modo os crocrodilos podem respirar enquanto imersos apenas com a superfície superior do rostro à superfície. Figura 3.5. Escudos da carapaça e vertebrais dos testudinata. (a) escudos epidérmicos da carapaça à esquerda e plastron à direita, (b) ossos dérmicos da carapaça à esquerda e plastron à direita e (c) vista interior da coluna vertebral. A família Alligatoridae (4 géneros, 7 espécies) inclui apenas espécies de água doce (aligatores e caimões), enquanto a família Crocodylidae (3 géneros, 14 espécies) tanto espécies estuarinas, como de pântanos ou de largos rios. Os maiores crocodilos são os de águas salobras, podendo atingir os sete metros de comprimento, por exemplo o Crocodilo do Nilo. Estas duas famílias aparecem na Índia, Austrália, África, América do Norte e Sul (Figura 3.6). A terceira família, Gavialidae (1 espécie), é representada por uma única espécie que habitava os grandes rios na Índia. Esta espécie tem o rostro mais pequeno entre todos os crocodilos, de forma estreita e alongada especializada para a captura de peixes. 40 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.6. Os Crocodilos mantêm uma forma semelhante desde o Mesozóico e nos vários continentes actuais onde existem. (a) Cuba (b) China (c) América (d) Índia. Fonte: POUGH e tal., 1999. 1.1 LAGARTOS E COBRAS Cerca de 95% dos répteis actuais pertence aos Squamata. Destes, 98% são cobras ou lagartos. Tanto nos lagartos como nas cobras há animais sem pernas, de facto, o desaparecimento destas ocorre várias vezes ao longo da evolução do grupo (Figura 3.7). Muitas espécies são arbóreas das quais as mais especializadas é o camaleão (Chamaeleonidae) adaptado de digitos e cauda prênseis, que lhe possibilitam segurar-se nos ramos, e uma língua extensível e pegajosa que permite a captura de insectos. A maioria das grandes espécies de maiores dimensões deste grupo são herbívoras, de que são exemplo as iguanas (Iguanidae), e as espécies arbóreas tropicais da América Central e do Sul. A família Varanidae (África, Sudeste Asiático Ilhas a SE da Austrália) constitui uma excepção a esta regra, sendo predadores activos de invertebrados e vertebrados, incluindo aves e mamíferos. Um dragão-de-Komodo Varanus komodoensis adulto, que pode atingir os três metros de comprimento, é capaz de matar um búfalo, embora as suas presas habituais sejam veados e caprinos selvagens. Os seus hábitos de caça são semelhantes aos mamíferos predadores. As espécies de lagartos sem pernas ou com os membros reduzidos estão normalmente associados a um habitat de vegetação baixa e densa. Alguns são escavadores (fossadores). 41 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.7 Forma de Lacertídeos. Pequenos herbívoros generalistas (a) Sceloporus e (b) Calotes; Herbívoros (c) iguana Ctenosaura, (d) Uromastyx. Comedores de formigas (e) Phrynosoma, (f) Moloch. De hábitos nocturnos (g) Gekko, (h) camaleão Chameleo. Sem patas terrícolas (i) Ophisaurus. Grandes predadores (j) Varanus. Fonte: POUGH e tal. 1999. Muitas espécies diurnas têm um comportamento de exibição associada à defesa do território, luta, côrte ou outras interacções sociais. Este comportamento é particularmente relevante nos machos adultos que exibem cores normalmentemais vistosas que as fêmeas. As espécies de hábitos nocturnos, são em geral menos coloridas, desenvolvendo outras formas de comunicação, com sons e quimiorrecepção. Funcional e filogeneticamente as cobras são lagartos sem membros especializados e a sua origem é relativamente recente. As cobras variam em tamanho desde pequenas formas escavadoras, que se alimentam apenas de térmitas e cujo tamanho máximo é de 20 cm, até às grandes constritoras que atingem os 10 m de comprimento. A Anaconda da América do Sul é considerada a maior de todas as cobras actuais, seguida do Pitão do Sudoeste asiático. A forma do corpo das cobras é bastante especializada havendo pequenas divergências, embora existam nichos ecológicos explorados muito diferentes. As formas terrestres têm olhos grandes e são alongadas; as formas escavadoras são curtas e fortes, com cabeças largas, cauda pequena e olhos pequenos; as formas arbóreas são extremamente longas o que permite distribuir o seu peso em comprimento e enrolar-se em ramos muito pequenos sem os partir; a maioria das formas aquáticas não têm adaptações particulares a este meio. As fibras do tecido conjuntivo da derme dos ofídeos, correm paralelas à superfície, por isso deslizam e dão elasticidade, permitindo a distensão das cobras, e formas de locomoção especializadas. Estas dividem-se em quatro tipos (Figura 3.7): i) serpentínico, em que as partes de apoio seguem uma linha ondulante; 42 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS ii) rectilíneo, em que blocos de anéis são comprimidos e distendidos sucessivamente. Forma de locomoção frequente sobretudo em cobras grandes e perto das presas; iii) em concertina, com ancoragem numa parte do corpo; iv) lateral, em que parte do corpo se apoia numa deslocação lateral (cobras do deserto). Figura 3.7. Esquema ilustrativo do deslocamento dos ofídeos por: A) ondulação lateral (o mais comum das espécies da fauna portuguesa) B) concertina (adoptado por muitas espécies para a progressão através de túneis), 1, 2 e3: pontos de contacto estático; C) deslize lateral (típico de algumas espécies dos desertos arenosos) - a ponteado: rasto das regiões do corpo de contacto estático. A seta indica a orientação do deslocamento nos três casos. Extraído de Crespo & Sampaio (1994). A especialização dos ofídeos, comparativamente à dos lagartos ápodes, compreende fortes pressões selectivas - sobre a locomoção e predação. O elongamento do corpo e redução do seu diâmetro foi acompanhado de rearranjos de anatomia interna: o pulmão esquerdo é reduzido ou ausente, há uma redisposição da bexiga, rins e gónadas, quebrando-se a simetria. O número de costelas aumenta, podendo ir até 400. Nas cobras, e também em muitos lagartos, a pele muda em intervalos regulares. Antes da muda as células epidérmicas produzem nova cutícula sob a anterior. Os ofídeos têm hábitos alimentares muito especializados. A língua das cobras é fina e bífida, podendo sair para o exterior quando a boca está fechada através de uma fenda. Contribui para o olfacto, recebendo estímulos químicos. Os dentes servem só para apanhar as presas e ajudar a deglutir, não para cortar. A alimentação é de facto um dos problemas dos ofídeos, visto que o enlongamento do corpo implica que a massa corporal é distribuída por um tubo de menor diâmetro. À medida que a boca se torna mais pequena o tamanho das presas capturáveis reduz-se também, e os indivíduos vêm-se limitados a alimentar um grande corpo com uma pequena boca. As cobras, porém, desenvolveram adaptações que lhes permitem engolir presas consideravelmente superiores ao seu diâmetro corporal. Este facto só por si explica o grande sucesso deste grupo comparativamente aos restantes répteis ápodes. 43 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.8. 1) serpente aglifa; 2) serpente opistoglifa; 3) serpente solenoglifa (monodonte): dentes (corte transversal) e impressões das mordeduras (dentes do arco superior). c- colmilho; cn- canal dentário; d.m.- dentes maxilares; d.p.- dentes do palato (palatinos e pterigóides); got.- goteira dentária; m-maxila; p- polpa dentária. Extraído de Crespo & Sampaio (1994). Entre as adaptações alimentares das cobras para a ingestão de grandes presas conta-se uma articulação flexível das mandíbulas, que permite extensos movimentos, e um esqueleto mais flexível que permite não só a distensão do corpo como complexos movimentos de locomoção. A articulação das mandíbulas deixa de ser feita por uma sinfíse mandibular óssea e passa a ser feita por músculos e pele, permitindo deslocar as mandíbulas livre e independentemente. A pele é particularmente extensível, por deslizamento de fibras conjuntivas. O osso que liga o crâneo e a mandíbula tem uma ligação muito frouxa. O esqueleto craneano apresenta suturas que deslizam, permitindo grande distensão e flexibilidade de movimentos. A musculatura do pescoço é reforçada e assegura o deslocamento da presa para o estômago, com movimentos alternados. Não tem externo nem qualquer articulação óseea ventral. A glote é muito anterior, logo após a língua, permitindo respirar durante a deglutição. Os ossos parietal e frontal são mais espessados, para resistir à presa que se debate. Há hipófises mais espessas no pescoço, protegendo a corda dorsal. Os dentes são frequentemente delgados e inclinados para trás no palato, impedindo a presa de sair da boca. No processo de alimentação uma das maxilas é fixada na presa e a outra avança e puxa e assim sucessivamente. A musculatura do pescoço assegura o deslocamento para o estômago. Existem quatro formas de dentição nos ofídeos (Figura 3.8): i) aglifos, sem dentes (por exemplo, cobra de água); ii) opistoglifos, os dentes do veneno situam-se atrás e a inoculação é pouco eficaz, regra geral mordem a presa e mantêm-na na boca até esta deixar de se debater, por exemplo cobra- bastarda; 44 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS iii) proteroglifos, os dentes inoculadores do veneno, dois, são ocos e curtos colocados na parte anterior da boca, seguidos de dentes pequenos (cobras em geral); iv) solenoglifos, os dentes inoculadores do veneno, dois, são ocos e grandes e rodam de forma a ficarem horizontais na boca quando esta é fechada (víboras e cascáveis). A forma do corpo das víboras permite-lhes capturar presas ainda de maiores proporções que as outras cobras e digerir durante a locomoção normal. O veneno além de matar ou imobilizar as presas é também um acelerador digestivo. Além da função alimentar o veneno serve ainda como defesa. O veneno é constituído por uma mistura complexa de enzimas, variável consoante a espécie. As enzimas mais comuns no veneno são proteinases, fosfolipases, amino-ácido oxidases, hialuronidase, colinesterase e fosfatases. A composição do veneno varia com a idade e sazonalmente, por vezes existem também diferenças geográficas. A reacção humana ao veneno é variável, dependendo da sua sensibilidade alergológica, entre outros factores. Associados à acção de defesa do veneno, certos ofídios desenvolveram avisos como o guizo das cascavéis, formado por capas de muda da pele, que friccionam produzindo som; ou o alargamento da pele do pescoço nas cobras capelo indianas. As cobras cuspideiras ejectam o veneno em pequenas gotas até dois metros, causando dor imediatamente e reacção tóxica a sua absorção pela pele. Outras cobras mimetizam as venenosas para sua defesa. 4. MECANISMOS DE TERMOREGULAÇÃO Para desempenhar funções fisiológicas e digestivas, a temperatura interna dos répteis deve atingir os 28-32ºC, de acordo com as espécies. A maior parte dos répteis, contudo, não suporta temperaturas superiores a 34-38ºC. De facto,e apesar de ectotérmicos, os répteis regulam a temperatura do corpo com grande precisão, a ponto do nível de temperatura do corpo poder ser uma característica da espécie e um factor de especiação. A baixas temperaturas o réptil não se move nem se alimenta, por isso estes animais dispendem muito tempo a regular a sua temperatura. Alguns autores admitem que os lagartos do Sul da Europa exibem comportamentos sociais mais elaborados que os do Norte porque os primeiros passam muito tempo a tentar aquecer-se. Existem várias formas pelas quais um organismo troca energia com o meio, podendo ganhar ou perder energia no processo. Ajustando este fluxo, um animal pode aquecer, arrefecer ou manter a sua temperatura estável. No caso de um ectotérmico, a radiação solar é a fonte de toda a energia que o animal pode usar para controlar a temperatura, no entanto essa radiação pode ser recebida de várias formas, directa e indirectamente. A radiação solar é recebida directamente pela epiderme do animal quando este se expõe ao Sol. Mas a radiação solar reflectida pelas nuvens, partículas de poeira na atmosfera e outros objectos circundantes, pode também ser recebida pelo animal. O animal continuamente irradia e recebe energia por convecção, na forma de infravermelhos, para e do ambiente. Esta troca de calor com o ambiente dá-se por convecção. Se o animal está mais quente que o meio perde energia, se está mais frio recebe-a. Estas trocas de calor por convecção são aumentadas com as correntes de ar. As trocas de calor do animal com o meio podem também ser feitas por condução, ocorrendo entre o corpo e o substracto com que contacta, efectuando-se no mesmo sentido das trocas por 45 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS convecção, ou seja dos corpos mais quentes para os mais frios. O animal pode alterar as trocas de calor por condução mudando a área da superfície do corpo em contacto com o substrato e alterando a taxa de condução de calor nas partes do corpo em contacto (Figura 3.9). A evaporação de água, da superfície do corpo ou resultante da respiração também representa uma perda de temperatura para o animal (cerca de 2450 joules por grama de água). O inverso, condensação de vapor de água no animal, produziria um aumento de temperatura, mas esta situação raramente acontece nas condições naturais. A produção de energia metabólica é a última via para o animal ganhar temperatura. Nos ectotérmicos o ganho de energia por esta via é quase desprezível quando comparado com o calor recebido da radiação solar. Os endotérmicos, por definição, obtém a maior parte da sua energia por metabolismo, mantendo contudo as mesmas relações com o meio referidas atrás. Durante o dia, quando activos, os répteis adoptam posições e comportamentos que lhes permite jogar com as fontes de energia do exterior (energia directa e reflectida, convexa e conduzida) e combiná-los com mecanismos fisiológicos de forma a manterem a sua temperatura numa faixa designada amplitude térmica activa. Esta é a zona térmica na qual o animal realiza todas as suas actividades (alimentação, corte e reprodução, defesa do território, etc.) e é mais ou menos característica da espécie. A amplitude do intervalo é também variável desde os 4ºC até aos 10ºC. A temperatura precisa que o animal mantém neste intervalo depende de um grande número de factores internos e externos. Por exemplo, quando o animal se alimenta mantém uma temperatura superior do que quando está em jejum. Os movimentos para se expor directamente ao Sol ou na sombra consoante a intensidade de calor desejada, a hora do dia ou a estação do ano contribuem decisivamente para a manutenção da faixa térmica activa. Habitats abrigados dos ventos e das correntes convectivas, ou ensoleirados, são muito procurados por estes animais A orientação do corpo em relação ao Sol, lateral ou frontal, também desempenha um papel importante. Muitos lagartos conseguem distender as costelas de forma a aumentar a área da superfície exposta. Inversamente, reduzir a superfície exposta quando a temperatura ambiente decresce, é uma forma comum de reduzir as perdas de calor. Os lagartos armadurados do Arizona chegam a variar a sua área de exposição dos 28% aos 175% da sua superfície normal em repouso. A alteração da cor pode ser uma outra estratégia, alterando-se assim a faixa doo comprimento de onda absorvida. As diferenças na taxa de absorção da temperatura entre as cores claras e escuras pode ir desde os 10 a 75%. 46 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.9. 1) Este diagrama ilustra as principais trocas térmicas entre o meio e o corpo do réptil e, para regular a sua temperatura interna, este aproveita a diversidade do meio; 2) durante as horas de exposição ao Sol, a temperatura interna do lagarto é relativamente alta e constante, mas à noite, quando se retira para o abrigo, a sua temperatura pode baixar. Este registo “contínuo” da curva térmica foi realizado por meio de uma pequena sonda que se deu a engolir ao animal. O comportamento de termoregulação dos lagartos é superior ao dos outros répteis. Devido às suas capacidades termoreguladoras, os lagartos conseguem atingir uma grande independência da temperatura do meio, podendo manter temperaturas de 30ºC e mais acima da temperatura ambiente. As tartarugas, por exemplo, não conseguem mudar de côr e o seu comportamento termoregulador está limitado aos movimentos de e para os locais de exposição ao Sol e de e para a água. Os crocodilos têm as mesmas limitações que as tartarugas embora alguns juvenis possam mudar ligeiramente de cor, assim como a maioria das cobras. Nos anos sessenta, descobriu-se que certos lagartos aqueciam mais depressa do que arrefeciam quando expostos ao mesmo diferencial térmico entre o corpo e o ambiente (Figura 3.10). Desde então tem-se procurado a existência de mecanismos fisiológicos que complementem os comportamentais. Trata-se essencialmente de alterações do sistema circulatório periférico. O aquecimento da pele causa uma vasodilatação cutânea localizada que acelera a transferência de calor às outras partes do corpo. O mesmo mecanismo evita o arrefecimento. Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.10. Mecanismo de termoregulação por vasodilatação nas iguanas. Fonte: POUGH e tal., 1999. São exemplo clássico deste mecanismo as iguanas. Os machos desta espécie não se abrigam da vegetação para fugir ao calor, primeiro porque esta escasseia e depois porque teriam de abandonar o seu território. De manhã orientam o corpo para o Sol para o aquecerem. A partir daí usam ajustamentos corporais para manter a mesma temperatura. Afastam-se da rocha quente que é arrefecida pela sombra do réptil e pelas correntes de ar. A vasodilatação provoca a circulação do calor do dorso do animal em direcção à região ventral, mais fria, e onde o calor se dispersa para a rocha ensombrada (Figura 3.10). A termoregulação está também associada a uma diversificação de nichos ecológicos (Figura 3.11). Por exemplo nas florestas de Cuba existem 20 espécies do género Anolis, ocupando nichos diferentes que este ecossistema lhes proporciona (densidades de copa e diâmetro das árvores diferentes, floresta cerrada, orlas da floresta ou clareiras). Todas estas espécies têm uma temperatura óptima diferente. As espécies de savana têm uma temperatura superior às da floresta densa. As cinco espécies mais abundantes dividem o habitat entre si com um mínimo de sobreposição das suas amplitudes térmicas. A amplitude térmica activa óptima para cada uma delas é apenas de 2 a 3ºC. No total estas espécies abrangem uma amplitude de 7,5 graus centígrados. Contudo,na Dominica, existe uma espécie Anolis oculatus que ocupa os cinco nichos das outras com uma faixa térmica exactamente de 7,5ºC, ou seja, a euritopia reptiliana está associada a uma euritermia relativa ou a uma maior amplitude da faixa térmica de cada espécie. A regulação de temperatura é um fenómeno conjunto de mecanismos fisiológicos, comportamentais e morfológicos, muito importante na vida dos répteis. Enquanto os peixes e 48 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS anfíbios são mais ou menos euritérmicos, mantendo-se activos num largo intervalo térmico, os répteis são estenotérmicos, dependendo para a sua actividade de um estreito intervalo térmico. Esta característica limita, por exemplo, os habitats que as espécies de répteis podem colonizar, assim como as estações do ano e períodos do dia em que podem estar activos. Figura 3.11. Partição de habitats por lagartos do género Ameiva. A-clareiras na floresta; B- orla da floresta; C- zona de fronteira mas fora da floresta; D- fora da floresta; E- vegetação baixa junto a estradas; F- vegetação baixa em pradaria. Fonte: POUGH e tal., 1999. Nas regiões temperadas, os répteis hibernam. A duração da hibernação depende da região e da espécie. As espécies mais meridionais são as primeiras a emergir do período letárgico, as mais setentrionais emergem um ou dois meses após estas. Assim, o período activo pode variar entre 4,5 e 9 semanas por ano. A partição de habitats intervem também neste fenómeno. Lacerta vivipera, por exemplo, apresenta um período de actividade anual mais curto de que as suas congéneres meridionais, mas no sopé das zonas montanhosas, onde todas estas espécies coabitam, o período é semelhante. Os machos emergem em geral duas a três semanas antes das fêmeas de modo a ser concluída a espermatogénese. 49 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS 5. ECTOTERMIA VERSUS ENDOTERMIA A vantagem da evolução de uma temperatura corporal estável (alta ou baixa), como a que ocorre nos mamíferos e aves, reside na maior precisão e integração de todos os processos e reacções metabólicas pelos sistemas reguladores. A evolução para a endotermia faz-se no sentido não só de uma estabilidade de temperatura interna corporal como na manutenção de temperaturas elevadas que favorecem a velocidade e quantidade de reacções químicas (duplicam cada 10ºC). No entanto a endotermia tem o seu custo, mais de 90% da energia absorvida através da alimentação é gasta no aquecimento do corpo, menos de 10% é usada na reprodução e crescimento. Num estudo na Estação Experimental de Hubbard Brook (USA), embora a quantidade de energia consumida por salamandras fosse apenas 20% da consumida por aves e pequenos mamíferos do mesmo sistema ecológico (uma pequena bacia hidrográfica), o incremento anual de biomassa corporal era semelhante. A contrapartida da endotermia é uma maior independência ambiental, podendo as espécies estarem activas em dias sombrios, em habitats mais frios e no inverno. Uma maior concentração de mitocôndrias permite nos endotérmicos produzir mais ATP por unidade de tecido corporal e apresentar uma taxa de actividade metabólica superior. Provavelmente foi a crescente taxa superior de actividade metabólica, aliada a um comportamento predatório, que levou à endotermia dos pré-mamíferos da era mesozóica e à sua sobrevivência. Esta tendência evolutiva foi altamente favorecida quando as variações climáticas se acentuaram e começaram a ocorrer ciclos térmicos mais instáveis. Os pequenos répteis ectotérmicos da era mesozóica apresentariam provavelmente uma paragem ou diminuição noctura de actividade (e talvez alguma termoregulação diurna) para sobreviverem. Os grande répteis demoravam muito tempo a arrefecerem e portanto sentiriam menos o efeito do arrefecimento nocturno, além das amplitudes térmicas diárias serem menos marcadas. Esta limitação pode ter permitido a sobrevivância e evolução dos mamíferos, pequenos e nocturnos, que predavam insectos, ovos e pequenos répteis letárgicos. Simulações indicam que os sáurios da era mesozóica tem vantagens adaptativas em situações de temperaturas quantes e mais ou menos estáveis. Não necessitam de formas de aquecimento corporal, basta a superfície exposta do corpo, e quase todo o alimento é conduzido para biomassa e reprodução. Em termos energéticos e adaptativos, o ectotérmicos são mais eficientes do que os endotérmicos, nas condições ecológicas da Era Mesozóica. Presentemente, a energia necessária para manter 1 kg de mamífero durante 1 dia é a mesma do que a necessária a 12 kg de réptil, isto é, uma manada de 12 Ornitosáurios consumia o mesmo que 1 vaca de tamanho idêntico. O aumento das amplitudes térmicas anuais e diurnas da Era Cenozóica abriu uma vasta gama de nichos ecológicos não acessíveis aos répteis. O tamanho grande passou a ser uma desvantagem para os ectotérmicos, num ambiente de temteraturas varáveis. De facto, os répteis actuais maiores estão restritos a zonas quentes (dragão de komodo, algumas tartarugas e crocodilos), e o tamanho médio das formas dos répteis actuais diminui com o aumento da latitude, bem como o número de espécies. Os répteis actuais mais bem sucedidos, lagartos e cobras, desenvolveram formas complexas de termoregulação. 6. EFICIÊNCIA NA CONSERVAÇÃO DA ÁGUA 50 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Os répteis são conhecidos por habitarem regiões muito áridas. Uma vez que a evaporação cutânea neste grupo tem sensivelmente a mesma taxa que nos mamíferos, a sua vantagem em colonizar zonas áridas não reside neste facto como inicialmente se pensava. Três características dos répteis são particularmente importantes na conservação de água em climas áridos: i) baixa taxa de metabolismo resultante da ectotermia. O ar que se respira deve ser humificado durante a sua passagem, de tal forma que fica saturado de água. Se há menor taxa metabólica, o volume de ar respirado também é menor e, consequentemente o volume de água utilizado na respiração, logo perde-se menos água expirada na forma de vapor; ii) a excreção dos desperdícios azotados na forma de ácido úrico ou sais derivados (uricotelismo, como na maior parte das aves). O ácido úrico é muito pouco solúvel na água, pelo que precipita na urina, formando uma massa branca semisólida. Esta massa é excretada e a água, libertada pela precipitação dos sais é de novo reabsorvida pelo sangue, usada para formar mais urina, sendo assim reciclada sucessivamente (Figura 3.12); Figura 3.12. Distribuição filogenética das três vias principais de excrecção azotada nos vertebrados. Fonte: POUGH e tal., 1999 51 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS iii) glândulas especializadas no transporte selectivo de iões que resultam na excreção de sais. Estas glândulas excretam principalmente Na, K, cloretos e bicarbonatos, numa concentração seis vezes superior à dos rins. Em muitas famílias de lagartos estas glândulas estão situadas nas narinas. O animal expele os sais expirrando. Nalgumas cobras (por ex. Hydrophiidae) são sublínguais, nas Boas (Homalopsidae) são pré-maxilares, nos crocodilos são supra-línguais e nas tartarugas lacrimais. Esta diversidade sugere um fenómeno polifilético. 7. REPRODUÇÃO E CUIDADOS PARENTAIS Os répteis são em geral ovíparos, menos frequentemente ovovivíparos ou vivíparos. Todas as tartarugas e crocodilos são ovíparos. As primeiras escavam um ninho no solo ou na areia a uma profundidade que pode ir até 50 cm, onde põem um número grande de ovos, variável de 5 a 100 e não exibem cuidados parentais. Apesar da incubação demorar semanas, a eclosão é rápida.A mortalidade juvenil é grande, sobretudo nas primeiras horas, daí o elevado número de ovos e a emergência simultânea de, por vezes, milhares de juvenis. Os crocodilos têm cuidados parentais muito desenvolvidos, quer dos ninhos, guardados pelas fêmeas, quer dos juvenis. As espécies dos pântanos constroem ninhos elevados por acumulação da vegetação, as dos rios escavam ninhos nas margens elevadas. Nalgumas espécies as fêmeas ajudam as crias a eclodir do ovo, carregam os filhotes para a água e alimentam-nss, por vezes até aos dois anos. Os cuidados parentais neste grupo parecem ser tão complexos como no caso das aves. Também respondem aos gritos dos juvenis. Nos Squamata já é mais frequente a ovovivíparidade. Os ovos são retidos nos oviductos até os juvenis emergirem. Os climas mais frios favorecem este comportamento, desta forma a temperatura dos ovos é mantida mais elevada, acelerando o desenvolvimento dos embriões. O desenvolvimento embrionar é tanto mais importante quanto mais fria for a região, uma vez que também é crescente a dificuldade de encontrar micro-habitats quentes onde depositar os ovos. Os cuidados parentais neste grupo são diminutos embora haja algumas espécies que guardam os ovos. Alguns juvenis, como as iguanas, são pro-coloniais. É nesta fase que ingerem os excrementos dos adultos, inoculando a flora microbiana que lhes permitirá serem herbívoros mais tarde. O sexo de alguns répteis parece ser afectado pela temperatura verificada durante o desenvolvimento embrionário (pelo menos algumas famílias de tartarugas, caimões e 2 espécies de lagartos). Nas tartarugas, as temperaturas baixas de incubação dão origem a machos e altas a fêmeas, com uma diferença de 3-4 ºC. Nos restantes grupos o processo é inverso (Figura 3.13). A altura do desenvolvimento embrionário sobre o qual se faz sentir certa temperatura é também importante. Como consequência da variabilidade microclimática dos locais de nidificação, cada ninho tem predominância de um ou outro sexo. Do mesmo modo a estação tem influência no número de indivíduos de cada sexo a nascer. Por exemplo, mais fêmeas na Primavera e mais machos no Verão. Esta dependência sexual da temperatura tem implicações conservacionistas no sentido da intervenção do homem na reprodução das espécies. Pressões ambientais podem também alterar a razão entre machos e fêmeas. 52 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Figura 3.13. Exemplos de definição de sexo através da temperatura de incubação. (a) cágado europeu Emys orbicularis, (b) e (c) tartaruga norte-americana Graptemys ouachitensis, (d) lagarto Agama agama. 8. HÁBITOS ALIMENTARES A maior parte dos répteis são carnívoros. As tartarugas terrestres e uns poucos lagartos como as iguanas são herbívoros. As tartarugas são conhecidas pelos seus hábitos herbívoros entre os répteis. As tartarugas terrestres, grandes e pequenas (Testudo, Goechelone, Terrapene) comem essencialmente materiais vegetais, embora os animais, particularmente invertebrados (moluscos, aracnídeos, insectos adultos e larvas) não estejam afastados da sua dieta. As grandes tartarugas marinhas alimentam-se quase exclusivamente de vegetais, os estados juvenis, contudo alimentam-se de insectos e outros invertebrados. As tartarugas carnívoras alimentam-se dominantemente de invertebrados (crustáceos e moluscos), mas também de vertebrados (peixes e anfíbios). Nos lagartos só as espécies de grande porte são herbívoras, como as iguanas. Aparentemente estas espécies não têm habilidade suficiente para a predação e para que as presas capturadas compensem as necessidades metabólicas adicionais do esforço de caça. Os restantes lagartos alimentam-se de invertebrados sendo sobretudo insectívoros. A família Varanidae, como já se referiu, é uma excepção, sendo predadores activos. 53 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS Os lagartos são geralmente diurnos e predam todas as presas inferiores ao seu tamanho. O regime é composto sobretudo de Artrópodes, e apreciam em particular Ortópteros e Aracnídeos. Outra componente alimentar são os Aracnídeos, comidos em partes, e os Moluscos, sobretudo lesmas e caracóis de casca mole. Só raramente ingerem micromamíferos e em geral recém-nascidos. Genericamente, são regimes alimentares de carácter oportunista. O regime alimentar varia com a idade, região e estação do ano, reduzindo-se assim a competição intraespecífica e os animais podem adaptar-se a alterações locais e sazonais da disponibilidade de alimento. A eurifagia permite, segundo as alterações sazonais, escolher o alimento mais abundante a dada altura e, portanto, mais acessível e que requer menos energia para a sua captura. Norrmalmente um animal não dá caça a uma espécie mas a um tipo de presa. Por exemplo, o sardão Lacerta lepida não caça uma dada espécie de insectos (por exemplo Erodius corinatus) mas um insecto de determinadas características: com tamanho médio, de actividade diurna e que prefere terrenos abertos. As cobras são exclusivamente carnívoras, procuram invertebrados, mas, sobretudo vertebrados, as de maior porte podem ingerir vertebrados de grandes dimensões. A actividade de alimentação é feita a intervalos bastante espaçados. A maioria das cobras tem uma dieta diversificada ainda que tenham alimentos preferidos, nomeadamente micromamíferos (Figura 3.14). Esta preferência reduz a competição interespecífica. Figura 3.14. Utilização diferenciada dos recursos alimentares pela cobra rateira e cobra de escada na Península Ibérica (Fonte: A Fauna, 1978) Esta preferência varia também com a idade da cobra (Figura 3.15). Natrix natrix, uma cobra aglifa aquática que é uma das espécies de maior distribuição na Europa, caça sobretudo de noite e após chuvadas, quando a temperatura o permite. O essencial do seu regime são anfíbios mas também pequenos peixes, juvenis de aves aquáticas, lagartos e pequenos mamíferos. Os maiores exemplares conseguem predar adultos de Bufo bufo e de Salamandra gallaica, apesar das suas glândulas granulosas. A frequência com que um animal se alimenta depende do alimento disponível, do tamanho das presas, e da energia que estas proporcionam relativamente às necessidades do animal. Os lagartos comem várias vezes ao dia, sempre que possam ou necessitem, enquanto as cobras, 54 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS que ingerem grandes quantidades de cada vez, comem de forma menos frequente. Anguis fragilis, um lacertídeo ápode e de hábitos escavadores, caça pelo odor e não à vista, em solos fofos, sobretudo de madrugada e ao crepúsculo. Prefere Artrópodes, sobretudo larvas de movimentos lentos. Figura 3.15. Variação do regime alimentar da cobra bastarda na Península Ibérica com o tamanho e idade. 1- losma; 2-lagartixa comum, 3- lagartixa de cauda vermelha, 4- lagarto comum, 6-larvas e insectos adultos; 7-crias de aves, 8-ofídeos, 9- aves adultas de porte médio, 10- aves de grande porte, 11- coelho. Fonte: A Fauna, 1978 9. ECOLOGIA DAS POPULAÇÕES HERPETOLÓGICAS A estrutura etária de uma população depende essencialmente da esperança de vida e da idade de maturidade populacional. Nas populações herptológicas a estrutura etária é muito variável. Nas espécies de grande longevidade como as tartarugas dos Galápagos (Geochelone) os adultos são em maior número que os juvenis sendo a população envelhecida. Como os adultos são de grande longevidade não são necessários muitos juvenis para substituírem os que morrem. Nalgumas populações de lagartos a estrutura etária é variável sazonalmente, predominam os juvenis e sub-adultos no fim do Verão, princípio de Outono, e predominam adultos no fim do Inverno, princípio de Primaveraevidenciando as características sazonais da reprodução. Neste caso a população renova-se por completo num ano. A maioria das populações herpetológicas têm uma estrutura etária entre estes dois extremos 55 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS A razão entre os sexos tende a ser igual a 1 nas populações herpetológicas, embora por vezes no campo, aparentemente o número de machos pareça superior ao das fêmeas. Isto deve-se quer ao seu comportamento, menos tímido, quer às suas cores, com frequência mais brilhantes e atractivas. O tamanho da fêmea e o da postura estão relacionados com o tipo de populações herpetológicas em causa. O tamanho da postura está também relacionado com a probabilidade de sobrevivência dos juvenis, ou seja com a percentagem destes que atinge a idade adulta. Nos répteis as épocas de postura são variáveis podendo ir de 1 até 12 por ano nas espécies de vida curta. A densidade tende a ser inversamente proporcional ao tamanho e tende a ser maior nos trópicos para o mesmo tamanho. A diversidade é em geral inversa à densidade das populações. Nas populações herpetológicas a mortalidade é grande nos estados juvenis, essencialmente devido à predação, e uma vez que o indivíduo atinge a maturidade a taxa de mortalidade decresce abruptamente. Ou seja, grande número de indivíduos jovens é produzido, mas só alguns atingirão a idade adulta, no qual o seu tamanho (tartarugas marinhas, lagartos) ou comportamento fugidio ou agressivo (lagartos, cobras), os tornam menos susceptíveis à predação. Raramente a mortalidade é igual em todos os estados etários. Durante o Inverno os répteis estão em diapausa. Para o observador, aparentemente a comunidade empobrece-se. As tensões intra e interespecíficas são mais notáveis na altura da reprodução, nesta época todas as espécies estão activas e multiplicam as suas necessidades tróficas. Ao mesmo tempo as suas presas são também mais abundantes com o aparecimento das novas gerações. De forma a reduzir a competição intraespecífica, jovens e adultos, e entre estes machos e fêmeas, tendem a diversificar os seus hábitos alimentares sendo frequente também as diferenças morfológicas (dimorfismo sexual e entre juvenis e adultos), que se revelam nas dimensões e forma do corpo. Nos lagartos, por exemplo, os machos são maiores que as fêmeas e possuem a cabeça mais larga. Desta forma há uma especialização dos diferentes grupos da mesma população em presas de diferentes dimensões. Os répteis são fundamentalmente sedentários, sendo o seu espaço vital de algumas dezenas a centenas de metros quadrados. Os machos deslocam-se em geral mais do que as fêmeas. A partilha do território entre os adultos é uma forma de reduzir a competição. A competição interespecífica é reduzida pela diversidade de habitats na comunidade. Os ofídeos tem maior tendência para a alopatria e substituição de espécies em altitude enquanto os lagastos tem maior tendância para a simpatria. Os répteis, na sua maioria carnívoros, são, por sua vez presas de outros animais, são por isso elementos intermediários nas cadeias tróficas (por ex. insecto→rã→cobra→mocho). Poucos são os répteis que escapam a esta situação intermediária. Entre estes contam-se os crocodilos, as cobras e as tartarugas gigantes, embora nestes casos os seus juvenis sejam em larga escala predados. A elevada mortalidade das crias das tartarugas marinhas é um dos exemplos. Esta tendência para uma posição de elo intermédio de cadeias alimentares verifica-se igualmente em regiões temperadas, embora alguns dos predadores de topo possam ser também répteis (Figura 3.16). Entre os principais predadores dos répteis contam-se as aves de rapina. As cobras são frequentemente também predadoras de outros répteis, sobretudo lagartos. Ainda que com menor expressão alguns mamíferos carnívoros de pequeno porte também procuram alimento neste grupo. 10. OS RÉPTEIS EM MEIO FLORESTAL 56 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS A repartição dos répteis nas florestas das regiões temperadas está associada à existência de um coberto de vegetação herbácea (0-50 cm), mas com clareiras. A vegetação providencia abrigo contra os predadores diurnos, sobretudo rapaces e alguns mamíferos carnívoros de pequenas dimensões, e o Homem. As clareiras permitem a exposição directa ao Sol, são necessárias à actividade termorreguladora, particularmente importantes na Primavera e Outono. No Verão como as temperaturas do ar são mais elevadas, os répteis não necessitam de se expor tanto ao Sol e, pelo contrário as áreas de sombra são mais procuradas de forma a evitar temperaturas excessivamente elevadas. Vegetais Artrópodes Peixes Anfíbios Anelídeos Aves Anguis Lacerta Natrix Micromamíferos Víboras adultas Coronella Víboras juvenis Coluber, Elaphe Figura 3.16. Representação esquemática da posição dos répteis nas cadeias alimentares dos ecossistemas de zonas temperadas. Os predadores dos répteis (mamíferos carnívoros e aves de rapina) não se encontram representados. Adaptado de A Fauna (1989). Nenhuma espécie de répteis das regiões temperadas é especificamente florestal, mas muitas espécies aí aparecem, na folhada, nas bordas das clareiras, ao longo dos caminhos, sempre que haja uma vegetação suficientemente densa mas descontínua. Mesmo as aquáticas, como a cobra de água Natrix natrix podem-se encontrar na floresta na beira dos charcos e ribeiros. Nos sistemas florestais as populações de répteis são sempre localizadas e repartidas. Os répteis são animais sedentários e logo que encontram um local favorável, ocupam-no, podendo o seu espaço vital não ultrapassar algumas dezenas de metros quadrados nas víboras, Lacertidae e Coronella sp., e algumas centenas de metros quadrados nos outros. O número de répteis florestais aumenta de norte para sul. O número de espécies presentes na floresta intertropical é bastante superior ao das florestas temperadas (grosso modo uma centena por oposiçã a escassas dezenas), ocupando habitats mais diversificados. A sua repartição é mais uniforme e a biomassa global superior. As formas escavadoras e arborícolas são muito raras na floresta temperada. As diferenças de alimentação são também bastante 57 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS acentuadas. Enquanto os ofídios das florestas se alimentam predominantemente de vertebrados (aves e micromamíferos), nas florestas intertropicais, os anfíbios e os invertebrados passam a ter uma importância dominante na sua alimentação. 11. CONSERVAÇÃO O Quadro no final do capítulo indica a lista das principais espécies de répteis existentes no território continental português, indicando a sua família, e sumariza a sua área de distribuição e algumas das suas características ecológicas e hábitos reprodutivos. Para mais pormenores, consultar Oliveira e Crespo (1989) e outra bibliografia da especialidade. Indicam-se igualmente as categorias de estatuto de conservação atribuídas pelo Instituto de Conservação da Natureza a cada espécie (SNPRCN, 1990) e ainda se estas figuram nas Convenções internacionais que Portugal ratificou (erespectivos anexos: Cites, I e II; Regulamento CEE (UE), C1 e C2; Bona, I e II; Berna II e III). As Convenções de protecção de espécies e habitats são leccionadas na disciplina de Gestão da Caça e Conservação da Fauna Selvagem. Para mais informações sobre o estatuto de conservação, consultar o site do Instituto de Conservação da Natureza, http://www.icn.pt/sipnat/ . O Instituto de Conservação da Natureza prepara neste momento uma nova versão actualizada do estatuto de conservação, com novos critérios UICN. As actuais categorias de estatuto de conservação tem o seguinte significado: EXTINTO (Ex) - taxa não observados, com certeza, no estado selvagem nos últimos 50 anos. EM PERIGO (E) - taxa em perigo de extinção e cuja sobrevivência será improvável se os factores limitantes continuarem a actuar. Incluem-se os taxa que se julgam em perigo iminente de extinção, devido aos seus efectivos terem diminuído a um nível crítico ou pelo seu habitat ter sido drásticamente reduzido. VULNERÁVEL (V) - taxa que entrarão na categoria EM PERIGO num futuro próximo se os factores limitantes continuarem a actuar. Incluem-se: - taxa dos quais todas ou a maior parte das suas populações sofrem regressão devido a sobre- exploração, ampla destruição do habitat ou a qualquer outra perturbação do ambiente; - taxa com populações gravemente reduzidas e cuja sobrevivência não está garantida; - taxa com populações ainda abundantes, mas que estão sob ameaça de sérios factores de regressão em toda a sua área de distribuição (nacional). RARO (R) - taxa com populações (nacionais) pequenas que actualmente não pertencem às categorias EM PERIGO ou VULNERÁVEL, mas que correm risco. Estes taxa localizam-se, normalmente, em áreas geográficas ou habitats restritos, ou ainda, apresentam uma distribuição esparsa numa área mais extensa. INDETERMINADO (I) - taxa que se sabe pertencerem às categorias EM PERIGO, VULNERÁVEL ou RARO, mas cuja informação existente é insuficiente para decidir em que categoria devem ser incluídos. INSUFICIENTEMENTE CONHECIDO (K) - taxa que se suspeita pertencerem a alguma das categorias precedentes, mas não se tem a certeza devido à falta de informacão. COMERCIALMENTE AMEAÇADO (CT) - taxa actualmente não ameaçados de extinção, mas estando a maioria das suas populações ameaçadas enquanto recurso comercial 58 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS sustentado, ou podendo vir a está-lo, a menos que a sua exploração seja controlada. Aplica-se apenas aos taxa cujas populações são relativamente numerosas. NÃO AMEAÇADO (NT) taxa que não se incluem em nenhuma das categorias anteriores. Fazem parte da actual herpetofauna portuguesa 17 espécies de anfíbios e 34 espécies de répteis, dos quais 10 endemismos ibéricos (anfíbios: Chioglossa lusitanica, Triturus boscai, Alytes cisternasii, Discoglossus pictus, D. galganoi e Rana iberica; répteis: Chalcides bedriagai, Lacerta monticola, L. schreiberi, Podarcis bocagei e Vipera seoanei). A maior parte das espécies actuais são autóctones, exceptuando as tartarugas marinhas, todas migradoras, e o camaleão, introduzido no Algarve. A conservação da nossa herpetofauna não oferece grandes problemas (SNPRCN, 1990). Das espécies autóctones apenas duas apresentam o estatuto de “Ameaçadas” - Lacerta monticola e Vipera seoanei. Os répteis parecem estar proporcionalmente mais ameaçados do que os anfíbios, sobretudo os marinhos, devido à sua extrema vulnerabilidade durante o período de postura e eclosão e à crescente ocupação humana do litoral. Os anfíbios e os répteis estão muito ligados a biótopos particulares, e em geral caracterizam-se por fraca mobilidade, tendo grande dificuldade em colonizar novas áreas no caso de destruição ou alteração dos seus biótopos naturais, o que os torna muito vulneráveis a qualquer tipo de intervenção antrópica. Por outro lado, são grupos desprovidos de interesse cinegético e com pequeno valor comercial. Por ainda conservarem íntegras com frequência as suas populações naturais, são fonte de preciosas informações genético-evolutivas. Na última década tem sido documentado o declíneo generalizado de populações de anfíbios a nível planetário, que incluem o aparecimento de malformações e lesões não explicadas. Por enquanto é possível apenas especular sobre as causas desta ocorrência, embora alguns trabalhos apontem para agressões químicas de origem humana ou influência da quantidade e tipo de radiações que atingem a superfície terrestre. Os principais factores de pressão das populações da herpetofauna portuguesa são por ordem decrescente da sua importância (SNPRCN, 1990): • alteração e destruição dos seus habitat naturais; • acção de substãncias tóxicas (Insecticidas, herbicidas, fungicidas) e poluição (detritos industriais e humanos); • extremínio por ignorância e mitos populares; • captura (coleccionismo, comércio e consumo alimentar); • mortes por tráfego rodoviário; • introdução de espécies exóticas. Um aspecto interessante de agressão antrópica é o das mortes de anfíbios resultantes de da ocorrência de infraestruturas lineares como estradas, autoestradas e vias férreas (Mougey, 1996). O domínio vital de anfíbios em zonas temperadas inclui em geral três tipos de territórios, um local de reprodução, um território de caça e um local de invernagem. Em diferentes períodos do ano, os anfíbios realizam verdadeiras migrações semdo a mais espectacular a dos adultos na primavera, dos locais de invernagem para os leitos de desova, desenrolando-se em geral entre Fevereiro e Abril, e envolvendo com frequência centenas de indivíduos. 59 Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS 60 As outras actividades migratórias são menos espectaculares, incluindo o regresso dos adultos ou as deslocações dos juvenis, dos locais de postura para os territórios de caça, e as dos adultos no outono, dos territórios de caça para os locais de invernagem. A mortalidade causada por infraestruturas lineares é extensiva, quer por esmagamento, quer por as espécies errarem horas ao longo de estruturas intransponíveis, quer por serem presa fácil de predadores. O comportamento dos machos de certas espécies, de esperar pelas fêmeas no meio do obstáculo, aumenta as probabilidades de esmagamento. Nas vias férreas, o tempo de retenção entre os carris em ambiente muito quente e seco, é também fatal. A mitigação ecológica destas estruturas inclui, preventivamente, ter em conta os principais centros de postura aquando da escolha da localização do traçado. Para além disso, começa a enraizar na Europa a ideia de realizar túneis de passagem sob as infraestruturas. Os primeiros túneis para anfíbios (‘crapauducts’ de Morguey, 1996) foram concebidos na Suiça em 1969 e existem actualmente cerca de 200 sítios deste tipo, embora apresentem como desvantagens os seus custos elevados e existam muitos poucos estudos sobre a sua eficácia. Os túneis tem sido construído segundo de dois tipos base (Morguey, 1996): a) túneis de sentido único, isto é, diferentes túneis existem para os movimentos de ida e volta; consistem num sulco paralelo à estrada que recebe os anfíbios que aí caem e dá acesso a colectores, onde se encontram as entradas da passagem. Os canais de passagem apresentam um fio de água, preferencialmente proveniente da zona alagada onde as posturas se realizarão. A distância entre entradas não deve exceder 60 m e os canais de passagem tem em geral 40 a 50 cm. b) túneis de dois sentidos (mais recomendadas), que são usadas para as migrações de ida e volta. São dispostas barreiras em zigzag ao longo das infraestruturas lineares, com um ângulo de 60º em relação à direcção de migração (Figura 3.12). Estas barreiras impedem a entrada na infraestrutura linear e guiam asespécies para os túneis. Nas entradas destes, barreiras complementares compostas de elementos curvos em plástico, com uma altura de 40 cm, direccionam as espécies e evitam o seu retrocesso. 13. BIBLIOGRAFIA CITADA SNPRCN (1990). Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Vol. 1 - Mamíferos, Aves, Répteis e Anfíbios. Serviço Nacional de Parques Reservas e Conservação da Natureza, Lisboa. C.L. (1986). Animais do Mundo - Anfíbios e Répteis. Edição Portuguesa 1989, Círculos dos Leitores. 146 pp. CRESPO, E.G. & SAMPAIO, E.L. (1994). As Serpentes de Portugal. Instituto de conservação da Natureza, Lisboa. 40 pp. MCFARLAND, W.N.; POUGH, F.H.; CADE, T.J. & HEISER, J.B. (1985). Vertebrate Life. 2nd Edition, Cornell University, New York. 636 pp. MOUGEY, T. (1996) Des tunnels pour batraciens. Le Courier de la Nature, 155:22-28 OLIVEIRA, M.E. & CRESPO, E.G. (1989). Atlas da distribuição dos anfíbios e répteis de Portugal Continental. SNPRCN, Lisboa. 98 pp. (1978). A Fauna. Publicações Alfa, Lisboa. Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS ESPECIES FAMÍLIA ESTATUTO DISTRIBUIÇÃO EM PORTUGAL ECOLOGIA REPRODUÇÃO Cágado-de- carapaça-estriada Emys orbicularis Emydidae K Berna II Todo o país, pouco comum, apresentando uma distribuição muito fragmentada. Águas paradas de lagoas e charcos. Normalmente carnívoro, alimentando-se de anelídios, crustáceos, moluscos aquáticos, insectos peixes e anfíbios. Mais frquentemente na parte final da Primavera, incubação entre 3-4 meses. Acasalamento na água 4-16 ovos/ninho na margem. Cágado Mauremys leprosa Emydidae NT Berna II Praticamente em todo o país mais mais comum no Sul. Ribeiros e regatos de corrente fraca, com fundo pedras. Hiberna nos fundos. Reproduz-se sobretudo na Primavera com uma postura de cerca de 10 ovos. Cobra-cega Blanus cireneus Amphisbaenidae NT Berna III Todo o país, sobretudo a sul do Douro Espécie de hábitos subterrâneos, fossadora. Solos húmidos e com manta morta espessa, frequente em, zonas cultivadas. Alimenta-se de isópodes, himenópteros, Dermápteros, coleópteros, aracnídeos e larvas de insectos. Cria em Junho e pensa-se que a postura é composta por apenas um único ovo. Camaleão Chamaeleo chamaeleon chamaeleon Chamaeleonidae K CitesII e C1, Berna II Algarve Arenícola e arborícola, sobretudo pinhais. Língua protáctil. Miméticos. Alimentação à base de insectos voadores tais, como Ortópteros e Lepidópteros. A reprodução tem lugar no decorrer do Verão. O seu período de letargia estende-se desde Dezembro a Março. Osga-turca Hemidactylus turcicus turcicus Gekkonidae K Berna III Sul do Tejo, sobretudo litoral e terras baixas. Terrestre, hábitos nocturnos, sendo a diferença mais comum entra as duas espécies de osgas de Portugal Continental as diferenças na morfologia das lamelas subdigitais. A sua dieta consiste em himenópteros (sobretudo formigas), coleópteros, aracnídeos, isópodes, lepidópteros e outros pquenos invertebrados. A época de reprodução parece ocorrer no final da Primavera, estendendo-se pelos meses do Verão. As fêmeas realizam 2-3 posturas cada ano, sendo em geral de apenas de 2 ovos. Osga-comum Tarentola mauritanica mauritanica Gekkonidae NT Berna III Todo o país, menos Minho. Terrestre, em rochas e folhada, nas casas e telhados, sendo uma espécie fortemente antropófila. No meio rural é muito comum em áreas pedregosas, bem espostos como muros velhos. Alimenta-se de himenópteros, aracnídeos, coleópteros, dermápteros, d´pteros, isópodes e lepidópteros. Pode alimentar-se de pequenas largatixas. As fêmeas realizam mais de uma postura anual, em geral de 2 ovos/postura. Normalmente ocorre no final da Primavera. Licranço (=cobra- de-vidro) Anguis fragilis NT Berna III Norte e Centro do país. É um lacertídeo muito especializado em função dos seus hábitos subterrêneos. Encontra-se em geral em regiões relativamente húmidas, prados, sub-bosques com abundante cobertura vegetal. Alimenta-se sobretudo de gasterópodes terrestres, anelídeos e artópodes vários. Pode incluir menos frequentemente pequenos lacertídeos e até ofídios jovens. A reprodução parece ter lugar entre Abril e Maio. A fêmea liberta 5-25 crias entre junho e Setembro. Cobra-de-pernas- pentadáctila Chalcides bedriagai losma Scincidae NT Berna II Todo o país, rara. Terrestre, sobre pedra e manta morta, sobretudo pinhais. Alimenta-se de coleópteros e aracnídeos, isópodes, heterópteros e gasterópodes. É uma forma ovovivípara. As fêmeas parem 1-4 crias entre Maio e Agosto. Cobra-de-pernas- tridáctila Chalcides chalcides chalcides Scincidae NT Berna III Todo o país, vulgar. Terrestre, habitando prados e locais com denso revestimento herbáceo. É extremamente ágil e com hábitos marcadamente fossadores. O seu período reprodutor é no final da Primavera que coincide com o máximo de actividade. Lagartixa-de-dedos Lacertidae NT Muito descontínua mas Arenícola (sobretudo no litoral). Vive em buracos na A sua reprodução parece ter lugar no fim da Primavera. A Textos de Apoio de Biologia e Ecologia de Vertebrados CAPÍTULO III - RÉPTEIS denteados Acanthodactylus erythrurus erythrurus Berna III sobretudo litoral. areia e solo solto. Alimenta-se de coleópteros, himenópteros, larvas de insectos, aracnídeos, ortópteros e heterópteros. Por vezes incluem vegetais e pequenos lacertídeos na sua dieta. postura costuma ser de 1-5 ovos. Sardão, lagarto Lacerta lepida lepida Lacertidae NT Berna II Todo o país. Euritópica. Terrestre, em buracos ou sob pedras. Alimenta-se de coleópteros, himenópteros, gasterópedos, isópodes, miriápodes. aracnídeos, micromamíferos, pequenas aves, outros lacertídeos e ovos de aves. frequentemente inclui vegetais e frutos maduros. É activo durante praticamente todo o ano com actividade máxima entre Abril e Junho, período que coincide com a sua época de reprodução. As fêmeas põem 5-25 ovos. Lagartixa-da- montanha Lacerta monticola monticola Lacertidae R Berna II Serra da Estrela. Regiões montanhosas. A sua dieta inclui coleópteros, dipteros, hemípteros, formícideos, aracnídeos e ortópteros. O seu período de actividade parece estender-se de Março a Setembro/Outubro. O número de ovos postos pelas f~emeas orça a dezena. Lagarto de água Lacerta shreiberi Lacertidae NT Berna II Todo o país, pouco comum Margens de cursos de água, sobretudo a norte do Tejo. A sua dieta inclui coleópteros, dípteros, ortópteros, aracnídeos e larvas de lepidópteros. A fêmea segundo se crê, põe em geral entre uma e duas dezenas de ovos. Lagartixa Podarcis hispanica/bocagei* * Lacertidae NT Berna III Todo o país. A sua dieta consiste sobretudo de artrópodes. Fazem em geral várias posturas (2-3) anuais de 1-5 ovos. Lagartixa-do-mato Psammodromus alginus alginus Lacertidae NT Berna III Todo o país. Terrestre, zonas secas e degradadas de vegetação alta de preferência, mas euritópica. Alimenta-se de coleópteros, ortópteros, hemípteros, aracnídeos, larvas de insectos, tisanuros e himenópteros. A sua reprodução ocorre normalmente entre Abril e Julho. As posturas constam de 3-10 ovos. Lagartixa-do-mato ibérica Psammodromus hispanicus hispanicus Lacertidae NT Berna III Todo o país. Terrenos arenosos.Enterra-se na areia solo solto. Alimentação à base de coleópteros, himenópteros, aracnídeos, hemípteros, dípteros e gastrópodes. Gregária na hibernação. Aparentemente a sua reprodução ocorre sobretudo na Primavera. A postura compreende 2-6 ovos. Ovovivípara, 6 a 24 jovens. Cobra-de-ferradura
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