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O HOMEM QUE CALCULAVA (1)

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O HOMEM QUE CALCULAVA
 Beremiz Samir, nasceu em uma pequena aldeia de Khói, na Pérsia, onde muito novo ainda pastoreava um grande rebanho de ovelhas e ao recolhê-las ao abrigo antes do cair da noite, contava-as varias vezes durante o dia com medo de ser castigado por negligência devido à perda de algumas delas. Desta forma foi adquirindo, pouco a pouco habilidade em contar que por vezes, num relance calculava sem erro o rebanho inteiro, começou a exercitar contando os pássaros, quando em bando voavam pelo céu afora as formigas, pequenos insetos. Desta forma tornou-se habilidoso nesta arte, chegando à contar todas as abelhas de um enxame. Seu patrão contente com os lucros liberou Beremiz com quatro meses de repouso, neste período em que estava de férias Beremiz conheceu um homem que se chama Bagdáli e o convida para uma viagem. Durante a viagem Beremiz ia se exercitando contando pássaros, galhos e folhas das árvores. Bagdáli admirado com tal habilidade sugeriu ao homem que calculava ganhar dinheiro com esta habilidade, o que Beremiz nunca tinha pensado antes e ele acabou aceitando a idéia
 Dali a poucas horas em que viajavam juntos, encontraram perto de um caravançará meio abandonado três homens que discutiam severamente acerca da correta divisão de 35 camelos deixados como herança pelo pai, que determinou a divisão da seguinte forma: O irmão mais velho deveria receber a metade, o irmão do meio Hamed Namir uma terça parte, e ao Harim, o mais moço, deveria tocar apenas a nona parte. A dificuldade era que as divisões não eram exatas, ao que Beremiz solucionou a questão fazendo uso da grande habilidade de calcular somando-se aos 35 camelos, o camelo que possuíam. Bagdáli não concordou a princípio em ceder o próprio camelo, porém Beremiz o convenceu. Enfim o homem que calculava fez matematicamente uma divisão que veio agradar e convencer os três sem perder o camelo de Bagdáli, deixando a todos maravilhados com tamanha habilidade nos cálculos e ainda saiu com a recompensa de ter um segundo camelo para que pudessem continuar a viagem mais comodamente. 
 Passados três dias e próximos às ruínas da pequena aldeia , encontraram, caído na estrada, um pobre viajante, roto e ferido, o qual, após ser socorrido fez o relato de sua aventura: Chamava-se Salém Nasair, um dos mais ricos mercadores de Bagdá, que regressando de Bácora, com grande caravana, foram atacados por uma chusma de nômades persas do deserto, onde todos os seus componentes pereceram nas mãos dos beduínos, exceto ele que oculto na areia conseguira escapar. Após tal relato este homem perguntou se ambos possuíam algo de comer, pois estava quase a morrer de fome, ao que Beremiz e Bagdáli, possuíam juntos 8 pães, Salém Nasair propôs fazerem uma sociedade com estes pães e quando chegassem a Bagdá, o mesmo pagaria 8 moedas de ouro o pão que comer. 
 Continuando viagem no dia seguinte, entraram em Bagdá, dando de cara com um cortejo, o cheique Salém fora cumprimentado e questionado pelo poderoso vizir Ibrahim Maluf, que estava à frente do cortejo, acerca do motivo de estar com trajes maltrapilhos e na companhia de dois homens desconhecidos, ao qual Salém fez o relato acima referido, fazendo grandes elogios a respeito de Beremiz e Bagdáli. Em seguida ordenou que pagasse conforme prometido as 8 moedas de ouro pelos pães aos homens que o socorrera, agradecendo pelo grande feito. Porém quando o rico xeque Salém Nasair fazia a divisão dando a Beremiz 5 moedas pelos 5 pães e a Bagdáli 3 moedas pelos 3 pães, o homem que calculava fora fiel à ciência que recebera como dom, corrigindo e provando matematicamente a divisão correta das moedas pagas pelos 8 pães, que deveria ser de 7 a si mesmo e 1 moeda a Bagdáli, porém Beremiz enfim repartiu em partes iguais, 4 moedas para cada, pois sabia que, embora, fosse matematicamente correta a divisão, aos olhos de Deus não estava certo. Esse homem é extraordinário, foi à declaração feita pelo vizir, referindo-se a Beremiz, pois ficou maravilhado com a sua habilidade e generosidade para com o companheiro e amigo Bagdáli, tomando-o como seu secretário. 
 Em 8 dias que estavam viajando juntos, Beremiz calculou a quantidade de palavras que pronunciara, entre esclarecer dúvidas e indagar sobre coisas importantes e concluiu que falara pouco, pois o sábio calculista ensinou que uma pessoa não pode ser excessivamente calada, porém em contrapartida aquele que fala sem parar irrita ou enfastia seus ouvintes, a seguir fez o relato de um velho homem habitante de Teerã, na Pérsia, o qual prometeu dar a um de seus três filhos um prêmio de 23 timões (moeda persa de ouro), ao que durante o dia inteiro não pronunciasse palavras inúteis, ao cair da noite foi premiado o filho que se aproximou do pai beijou suas mãos e limitou-se a dizer "Boa noite, meu Pai!", ao contrário dos outros, onde um falou mais que devia e outro foi excessivamente calado apenas estendendo as mãos para receber o prêmio. 
 Momentos depois chegaram ao Marreco Dourado, em busca de um quarto para ambos, onde em momento oportuno o calculista tirou o dono da hospedaria de um embaraço, pois um joalheiro vindo da Síria a vender joias em Bagdá, prometeu que iria pagar a sua conta de hospedagem da seguinte forma: 20 dinares se as vendesse por 100 dinares e 35 dinares se as vendesse por 200. Porém ao cabo de muitos dias vendeu-as por 140 dinares. O dono da hospedaria não estava concordando com os cálculos feitos pelo joalheiro, daí levantando se grande confusão, (neste momento, várias pessoas se aproximaram para ver a resolução do problema, já que foram informados que um grande calculista estava no local). Beremiz fez precisamente e corretamente o cálculo em instantes e esclareceu-o na presença de todos, pois o joalheiro pelos próprios cálculos pensava ser correto pagar 24 dinares e meio, ao passo que o calculista provou, matematicamente, ser o correto pagar 26 dinares, neste momento todos ficaram admirados com a habilidade de Beremiz, aponto de o joalheiro ceder como presente, um belo anel de ouro com duas pedras escuras, exornando a dádiva com afetuosas expressões. 
 Deixaram a Hospedaria do Marreco e se dirigiram à rica morada do ministro do rei o vizir Ibrahim Maluf, onde Bagdáli ficou espantado com a beleza do palácio descrevendo-a em detalhes, sendo guiados por um escravo, encontram o ministro do rei a palestrar na companhia de dois amigos, sendo um deles o xeque Salém Nasair. O dono da residência os receberam com demonstrações de viva simpatia, foram apresentados ao homem da medalha, um dos amigos do ministro o qual não os conhecia, souberam mais tarde que se tratava de um brilhante profeta por nome de Iezid Abdul-Hamid amigo e confidente do califa Al-Motacém. Este poeta não acreditava nas façanhas prodigiosas dos cálculos, neste momento o vizir propõe uma prova a Beremiz, conduzindo-o até uma das varandas do palácio. Após avistar uma grande quantidade de camelos, o calculista deveria dizer a todos a quantidade exata de camelos que, sendo que era do conhecimento do vizir a quantia certa, o qual revelou aos ouvidos do poeta tal quantidade, era de se verificar tamanha dificuldade devido à agitação em que estavam as alimárias. 
 O que parecia tão difícil, Beremiz, calculou com precisão e de uma forma mais interessante, pois ao invés de contar pelas cabeças, fez os cálculos contando as pernas e em seguida as orelhas, chegou ao número correto de 257 camelos, entusiasmando ao vizir. Beremiz fez uma sugestão ao vizir para que se retirasse dos 257 um camelo que era defeituoso, após saber da própria boca do vizir a idade de sua noiva Astir, a qual tinha 16 anos, o calculista justificou-se fazendo uma relação do número 16 - idade da moça – com o número 256 (o restante dos camelos), pois 256 é exatamente o quadrado de 16, pois deste modo o presente oferecido ao pai da encantadora Astir tomará feição matemática. 
 Alguns dias depois de encerrados os trabalhos no palácio do vizir, ambos foram a um suque (localonde ficavam as lojas e tendas dos mercadores, onde Beremiz interessou-se por um turbante que estava a venda por 4 dinares, na tenda de um mercador corcunda, mais pela coincidência que havia no significado dos dizeres "Os quatro quatros" que estava na tenda, em seguida Beremiz começou a explicar a Bagdáli as coincidências mostrando que com quatro quatros é possível formar qualquer número. O corcunda que acompanhava a explicação e vendo a habilidade de Beremiz, ofereceu ao calculista o turbante de presente se resolvesse o mistério que havia em uma soma que há dez anos lhe torturava o espírito. O corcunda havia emprestado 100 dinares, 50 a um xeque de Medina e os outros 50 a um judeu de Cairo. A sua tortura consistia em não entender o porquê que ao pagar a conta, a soma dos saldos devedores e dos valores pagos pelo medinense resultava corretamente em 50, ao passo que as somas do judeu cairota não resultava corretamente 50, mas passando uma unidade na soma dos valores pagos, não sabendo explicar o surgimento deste 1. O calculista esclareceu-lhe que nas contas de pagamento, os saldos devedores não tem relação alguma com o total da dívida, demonstrando numericamente, em instantes, exemplos desta explicação. O mercador alegrou-se pela explicação e em seguida cumpriu sua promessa, oferecendo ao calculista o lindo turbante que valia 4 dinares.
 Beremiz fala sobre seu encantamento com a geometria, dizendo a seu amigo viajante que há geometria em todo lugar do mundo, citando como exemplo os alvéolos das colmeias das abelhas em forma de prismas hexagonais. O problema a ser apresentado, no entanto se refere a geometria, e ao cabalístico número 7. Se tratava do pagamento de três viajantes por um lote de carneiros com 21 vasos dos quais 7 encontram-se cheios de vinho, 7 meio cheios e 7 vazios. Cada um deveria receber a mesma quantia de vasos e vinho. O calculista sugeriu o pagamento de 3 vasos cheios, 1 meio cheio e 3 vasios ao primeiro viajante. O segundo viajante ficou com 2 cheios, 3 meio cheios e 2 vasios. Ao terceiro viajante ficou com 2 cheios, 3 meio cheios e 2 vasios. Cabendo a cada um 7 vasos e a quantidade de vinho equivalente a 3 vasos e meio. Outro problema abordado e o pagamento das despesas na mesa da hospedaria. A despesa foi de 30 dinares onde cada viajante deu 10 dinares. Porém o dono errou, pois a despesa era de 25 dinares e mandou devolver 5 dinares, que foram dados um a cada viajante e dois ao escravo que os serviu Porem um dos viajantes se entriga e levanta uma indignação: se ficarmos com um dinar cada um significa que pagamos 9 dinares num total de 27 dinares, mas demos 2 dinares ao escravo o que completaria 29 dinares, onde foi parar o dinar dos 30 que demos? O calculista então explica que dos 27 dados, 25 ficaram com o dono da hospedaria e os 2 foram dados ao escravo, não faltando e nem sobrando nenhum dinar.

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