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SDE0010 – GENÉTICA Aula 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética Conteúdo desta Aula AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER 1. Base genética do câncer; 2. Oncogenes; 3. Leucemia; 4. Linfoma; 5. Genes supressores de tumores; 6. Câncer e o meio ambiente. Genética do Câncer Genética Definição Câncer é um nome geral utilizado para descrever doenças que envolvem proliferação descontrolada de células (neoplasias) que acabam produzindo massas celulares ou tumores (neoplasmas). Para que um neoplasma se torne um câncer (tumor maligno) é necessário que seu crescimento tenha perdido o controle e seja capaz de invadir tecidos vizinhos (metástase), espalhando para locais mais distantes. Os tumores que não apresentam a capacidade de invasão ou de produzirem metástases são chamados de benignos. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genética do câncer Existem três tipos principais de cânceres: sarcomas, nos quais os tumores são originados de células de tecidos mesenquimais, como ossos, músculos, tecidos conjuntivos ou de tecidos nervosos; carcinomas, derivados de células epiteliais, como as que revestem o intestino, brônquios e dutos mamários; e os neoplasmas hematopoiéticos e linfoides, como as leucemias e os linfomas, que se espalham da medula óssea, sistema linfático e sangue periférico. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Base genética do câncer As neoplasias ocorrem por um desbalanço entre a proliferação celular e a remoção celular por morte celular programada (apoptose). O câncer se desenvolve por mutações em um ou vários genes que regulam o crescimento celular e a apoptose. Os cânceres são decorrentes de síndromes hereditárias, a mutação inicial que causa câncer é herdada através da linhagem germinativa e consequentemente presente em cada célula do corpo. Uma grande proporção dos cânceres é de origem esporádica, originam de mutações que ocorrem em uma única célula somática, e acaba desenvolvendo o câncer. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Base genética do câncer Como a taxa erro da DNA polimerase é de um erro a cada 1010 bases por divisão celular, e o número de divisões celulares de 1015 durante o tempo de vida de um adulto, resultariam em algumas centenas de mutações no genoma. Essas mutações podem atingir qualquer gene, e se um deles for responsável pelo controle do crescimento celular, pode gerar uma célula cancerosa. Uma parte dos genes envolvidos no câncer inclui genes que não codificam proteínas, mas são transcritos em RNAs que possuem funções regulatórias, como os microRNAs (miRNAs). AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Base genética do câncer A célula que sofreu uma mutação inicial que a tornou cancerosa acaba acumulando uma série de mutações posteriores em genes que mantêm a integridade celular, principalmente genes que reparam danos de DNA e mantém a normalidade citogenética. Danos nestes genes produzem uma cascata de amplificação de mutações em outros genes que controlam a proliferação celular e o reparo do DNA. Dessa forma, o câncer pode ser considerado uma doença genética em que as mutações são as chaves centrais de como ele irá progredir. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Cânceres familiares Vários tipos de câncer possuem padrões de herança que seguem o modelo mendeliano. Mesmo que as síndromes de cânceres hereditários alcancem menos de 5% de todos os pacientes com câncer, análises de quais genes são responsáveis possuem importância fundamental para o procedimento clínico das famílias portadoras, o que pode incluir uma rotina mais intensiva de exames laboratoriais e/ou terapias preventivas, assim como a possibilidade de compreender os mecanismos envolvidos na doença. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Oncogenes Um gene mutante que induz a um estímulo anormal à divisão e a proliferação celular é considerado um oncogene. Oncogenes codificam proteínas que atuam em diversas vias de controle de crescimento celular, como receptores de fatores de crescimento (que estimulam a proliferação celular) ou as proteínas que transduzem os sinais de estímulo para a divisão celular, ou as proteínas que respondem a estes sinais, e também podem ser proteínas que inibam a apoptose. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Oncogenes ativados em síndromes de canceres hereditários: A síndrome das neoplasias endócrinas múltiplas do tipo 2 é provocada por mutações do gene RET, que codifica o receptor da tirosina quinase, que atua como receptor para dois ligantes diferentes, o neurturina (fator neurotrófico ) e fatores de crescimento derivados de células gliais. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Oncogenes ativados em câncer esporádico: Um dos primeiros oncogenes ativados descoberto foi o gene mutante RAS, que codifica uma proteína que se liga à guanosina trifosfato (GTP), que é uma proteína G. Essas proteínas atuam como um interruptor que pode ativar ou inibir moléculas da cascata de ativação quando nelas está ligado o GTP, mas interrompem a sua atividade após quebra do GTP pela enzima GTPase, formando guanosina difosfato. Uma proteína RAS anormal é capaz de sinalizar continuamente, mesmo na ausência do GTP, estimulando o crescimento da linhagem celular, transformando-a em um tumor. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Ativação de oncogenes por translocação cromossômica: Os oncogenes podem surgir por alterações na estrutura dos cromossomos, foram descritos mais de 40 oncogenes originados após translocações cromossômicas, estes eventos provocam principalmente leucemias espontâneas e linfomas, e mais raramente sarcomas de tecidos conjuntivos. A ativação de oncogenes pelas translocações pode ser explicada por meio de quebras entre íntrons e a fusão das extremidades formando um gene que codifica uma proteína quimérica (que porta segmentos de diferentes genes) com propriedades oncogênicas. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Telomerase atuando como oncogene: A telomerase é uma enzima que adiciona sequências específicas e repetitivas de DNA à extremidade 3’ dos cromossomos, onde são localizadas estruturas cromossomais chamadas de telômeros, que possuem como função principal estabilizar a estrutura dos cromossomos. A atividade da telomerase é necessária devido à propriedade semiconservativa do DNA polimerase, que precisa de uma sequência da extremidade 3’ da fita molde, para parear e iniciar o processo de cópia do DNA. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Telomerase atuando como oncogene: Como este pequeno segmento utilizado no pareamento não é replicado, a cada processo de cópia do DNA seria perdido um fragmento da extremidade 3’ da fita molde. Conforme a atividade da telomerase diminui, a cada replicação do DNA, durante as divisões celulares, um segmento de 35 pares de bases é perdido, encurtando o telômero e, após vários ciclos de replicação, a extremidade do cromossomo é danificada, levando a morte celular por apoptose. Em muitos tumores, mutações geram uma superexpressão e ativação da telomerase, permitindo que células tumorais proliferem. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: Os genes supressores de tumores codificam proteínas que atuam na regulação do ciclo celular eapoptose, consequentemente inibindo a formação de tumores. Mutações que provocam perda de função de genes supressores de tumores contribuem para o desenvolvimento de tumores. Os genes supressores de tumores são altamente heterogêneos, uma subclasse deles, os genes “zeladores” está envolvida no reparo de danos do DNA ou de quebras cromossômicas. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: Os tumores provocados por mutações em genes supressores de tumores podem ocorrer tanto na forma esporádica quanto na hereditária, como a forma esporádica ou hereditária do câncer infantil retinoblastoma. Nos casos de cânceres familiares, nem sempre a mutação é o único fator responsável, pois há ainda algumas modificações epigenéticas que provocam o silenciamento de genes supressores de tumores, como a metilação do DNA, que torna a cromatina indisponível para os fatores de transcrição. Isto é transmitido ao longo das gerações. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: Cerca de 40% dos casos de retinoblastoma são hereditários, e as crianças portadoras da doença possuem um alelo mutante do lócus retinoblastoma (RB1) na linhagem germinativa. Após uma mutação em uma célula somática ou outra alteração que provoque a perda de função do único lócus funcional, desencadeia o desenvolvimento de tumores. Esta desordem possui padrão de herança dominante. Os 60% dos casos restantes de retinoblastoma são de origem esporádicas, neles ambos os alelos RB1 em uma única célula retinal foram independentemente inativados. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: O câncer de mama é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo, e ocorre tanto em homens e mulheres, mas com uma incidência muito mais alta nas mulheres. No Brasil foram estimados cerca de 57.000 novos casos em 2014, e o número de mortes em 2011 foi 13.345 (120 homens e 13.225 mulheres), segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCRA). AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: Em estudos de ligação genética de famílias que manifestam precocemente a doença encontraram mutações em dois genes que aumentavam a predisposição ao câncer de mama, um presente no braço longo do cromossomo 17, o BRCA1 e outro no braço longo do cromossomo 13, o BRCA2. O BRCA1 é responsável por metade e o BRCA2 por um terço dos casos de câncer de mama que possuem padrão de herança autossômica dominante, mas estes cânceres perfazem menos de 5% de todos os canceres de mama na população. BRCA 1 e 2 são genes supressores de tumor. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Genes supressores de tumores: Em estudos epidemiológicos sobre o risco de câncer de mulheres heterozigotas para os alelos mutantes BRCA1 e BRCA2 foi estimado em 45% e 60% até a idade de 70 anos. Em homens, mutações no gene BRCA1 são responsáveis por até 20% dos casos de câncer de mama, que atinge ao redor de 0.1% de todos os homens. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Câncer e o meio ambiente O câncer, além de ser uma doença genética, originando de mutações em oncogenes e genes supressores de tumores, possui um importante componente ambiental, que inclui alimentos, radiações, compostos químicos e vírus. Em alguns casos o meio ambiente pode atuar como um agente mutagênico, promovendo mutações somáticas, que propiciam o surgimento de células tumorais. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Genética do Câncer Genética Câncer e o meio ambiente: Radiação ionizante que inclui os raios gama, raios X e ultravioleta. Sobreviventes de Hiroshima e Nagasaki mostraram o surgimento de leucemia após 5 anos. A exposição ao tabaco, aditivos alimentares, carcinógenos industriais aumentou a preocupação sobre o risco de tumores. Um exemplo é a ingestão da aflatoxina B1 produzido pelo fungo Aspergillus flavus que cresce em amendoim. A fumaça de cigarros contém hidrocarbonetos policíclicos que são convertidos em epóxidos altamente reativos que, por sua vez, causam danos no DNA, gerando mutações. AULA 14: GENÉTICA DO CÂNCER Assuntos da próxima aula: 1. Farmacogenética; 2. Variações no metabolismo da Fase II; 3. Variação na resposta farmacodinâmica.
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