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Trabalho processo civil ação rescisória e querela nullitatis ok

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO TOCANTINS – UNITINS
PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: PROCESSO CIVIL III
DOCENTE: JANAY 
ACADÊMICOS: JÉSSICA, MARIVALDO, NARA E RAQUEL ELLEN
AÇÃO RESCISÓRIA E QUERELA NULLITATIS
Palmas/TO
Maio de 2018
INTRODUÇÃO
Analisando o contexto histórico, a ação rescisória brasileira é herdeira da restitutio in integrum (espécie de reparação do dano com a restituição integral da coisa) do direito romano , da querela nullitatis do direito medieval italiano e das vicissitudes da revista de justiça e da viam nullitatis (remédio de impugnação de sentenças) do direito medieval lusitano. A restitutio in integrum visava a remover os efeitos de uma lesão ocasionada por um ato jurídico válido à luz do jus civile, mas contrário à equidade, promovendo o retorno ao status quo ante não sendo relevante o fato de ser natureza material ou processual tal ato jurídico. 
A existência de dolo de uma parte contra a outra, de erro, de violência contra o juiz ou a falsidade das provas que influenciaram a decisão serviam como fundamento para a restitutio in integrum contra os atos do processo, rol não taxativo. Com o passar do tempo, no período do processo da cognitio extra ordinem e do direito comum, acrescentou-se expressamente a possibilidade de restitutio fundada em prova nova. Assim, O reconhecimento de uma situação de iniquidade alegada mediante a restitutio dava lugar à concessão da actio rescissoria. 
O restitutio tinha lugar ao longo de toda a experiência romana como um remédio voltado contra as sentenças válidas e o espírito medieval concebeu a querela nullitatis justamente como um remédio suscetível de desafiar as sentenças inválidas.
A ação rescisória e a querela nullitatis são consideradas remédios processuais. Na ação rescisória, tem-se uma sentença transitada em julgado que poderá ser desconstituída com a interposição desse remédio no prazo legal. Já a querela nullitatis é imprescritível e visa desconstituir uma sentença que não pode ser atacada pela Ação Rescisória tendo como objetivo anular decisão inexistente que trata de vício na citação, surgimento de prova nova após o prazo da propositura da Rescisória, afronta direta a princípios constitucionais, dentre outros fundamentos.
O presente trabalho tem como objetivo tratar sobre a ação rescisória e querela nullitatis apresentando também a natureza jurídica, prazos e competências. 
NATUREZA JURÍDICA DA AÇÃO RESCISÓRIA
A natureza jurídica da ação rescisória está relacionada com a natureza jurídica da ação que se pretende desconstituir a sentença. O principal objetivo da ação rescisória é desconstituir a coisa julgada (caráter desconstitutivo), ou seja, desfazer os efeitos da sentença que não é mais passível de recurso. A ação rescisória possui a natureza de ação autônoma de impugnação, direcionada contra a decisão de mérito transitada em julgado estando presente no mínimo uma das hipóteses previstas no art 966 do NCPC. 
A ação rescisória não visa anular a sentença e sim rescindir os efeitos daquela sentença que obtiver algum vício sanável, sendo considerada como uma medida excepcional, visto que o direito prima pela preservação da coisa julgada, conforme dispõe a Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
No CPC/73, a ação rescisória poderia ser interposta contra decisão interlocutória, sentença ou acórdão e suas hipóteses de cabimento se limitavam ao art. 485. Mas existiam alguns requisitos que deveriam ser observados como o art. 282 e o art. 488 do CPC/73. Tais requisitos foram preservados pelo NCPC, sendo dispostos no artigo 968 com algumas alterações em seu conteúdo: 
Art. 968. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art. 319, devendo o autor:
I – cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento do processo;
II – depositar a importância de cinco por cento sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente.
§ 1º Não se aplica o disposto no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça.
§ 2º O depósito previsto no inciso II do caput deste artigo não será superior a 1.000 (mil) salários-mínimos.
§ 3º Além dos casos previstos no art. 330, a petição inicial será indeferida quando não efetuado o depósito exigido pelo inciso II do caput deste artigo.
§ 4º Aplica-se à ação rescisória o disposto no art. 332.
§ 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda:
I – não tiver apreciado o mérito e não se enquadrar na situação prevista no § 2º do art. 966;
II – tiver sido substituída por decisão posterior.
§ 6º Na hipótese do § 5º, após a emenda da petição inicial, será permitido ao réu complementar os fundamentos de defesa, e, em seguida, os autos serão remetidos ao tribunal competente.
O  art. 966 do NCPC apresenta as hipóteses de cabimento, referindo-se a decisão de mérito e não em sentença como no código anterior o que permite o ajuizamento da rescisória contra qualquer decisão, podendo ser interlocutória, sentença ou acórdão, contra casos nos quais o mérito não tenha sido analisado ou quando um recurso não for admissível.
A referência do novo código de processo civil a decisão interlocutória e não mais a sentença demonstra um avanço do sistema, visto que a denominação atual alcança maiores possibilidades de interposição da ação rescisória.
Sendo a decisão da ação rescisória favorável, a sentença será desconstituída e seus efeitos, em regra, são ex tunc, ou seja, seus efeitos irão retroagir para atingir a ação originária.
Observando os incisos do art. 966 do NCPC, o mesmo prevê oito hipóteses de cabimento, sendo eles: 
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
I – se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
II – for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;
III – resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;
IV – ofender a coisa julgada;
V – violar manifestamente norma jurídica;
VI – for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;
VII – obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;
VIII – for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.
Na ocorrência de um erro grave por parte do juiz com relação à aplicação do direito ao caso concreto, violando uma norma jurídica, essa decisão deve ser desconstituída. 
O inciso VII do art. 966, trata da obtenção de prova nova, cuja existência era ignorada, desconhecida ou que não podia fazer uso por motivo alheio a sua vontade, pela parte autora da ação rescisória. Para ser considerada como prova nova, nos termos desse artigo, a sua obtenção deve ocorrer depois que transitar em julgado a decisão rescindenda, ou seja, a prova deve ser posterior à última oportunidade de apresentação de prova na ação principal. Perderá o direito de propor a ação rescisória, por exemplo, em uma ação em que se tenha apresentado apelação e comprovando-se que antesdo julgamento a parte teve conhecimento da existência de um documento ou passou a poder utilizá-lo e não juntar aos autos. 
Em sede de recurso especial ou extraordinário, não se poderá mais juntar documentos ou produzir provas, tendo em vista a limitação da matéria de tais recursos.
Vale frisar que a prova nova obtida deve ser apta para garantir o resultado positivo para o autor da ação rescisória visto que de nada valeria desconstituir uma decisão, se a prova nova não tiver força para convencer o juiz de que a decisão anterior deve ser anulada e proferida em sentido contrário.
O  § 3º do art. 966 do CPC/15 prevê a possibilidade de propositura de ação rescisória parcial sendo necessária a observância de quem será a legitimidade para julgar a ação que será de acordo com o capítulo da sentença que se busca desconstituir. Exemplificando, digamos que se pretende rescindir somente a parte que trata dos honorários de sucumbência, assim o autor da demanda será o advogado.
Caso a decisão apresenta algum vício que se enquadre nas hipóteses legais de cabimento da ação rescisória, o mesmo será sanando com o trânsito em julgado da decisão, não sendo passível de ação rescisória.
PRAZO DECADENCIAL DA AÇÃO RESCISÓRIA
O antigo CPC extinguia o prazo decadencial em 2 anos contados do transito julgado da decisão. Já o novo CPC inova trazendo no caput do art. 975 “... extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. ” E ainda trouxe a possibilidade de prorrogação desse prazo nos parágrafos 1º, 2º e 3º desse mesmo artigo:
§ 1o Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense.
§ 2o Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo.
§ 3o Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão.
No entanto, mesmo antes da entrada em vigor do CPC/15, os julgados já vinham entendendo no sentido de que o início da contagem do prazo de prescrição para a rescisória iniciava-se somente quando não for mais cabível nenhum recurso do último pronunciamento judicial, fundamentavam na Súmula 401/STJ: “O prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial.”
Importante mencionar que a prescrição do prazo decadencial pode ser reconhecida ex ofício pelo juízo, conforme dispõe o art. 210 do CC: “Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.” Pode o relator, ao deparar-se com uma ação rescisória interposta fora do prazo, julgá-la liminarmente improcedente, conforme previsto no art. 332 §1º “O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição. ”
Sendo indeferida a petição inicial, caberá agravo interno da decisão que reconhecer a decadência e extinguir o processo interno, nos termos do art. 1.021 do CPC/15, o qual deverá ser interposto perante o colegiado competente para julgar a ação rescisória.
Art. 1.021.  Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, às regras do regimento interno do tribunal.
2.2- COMPETÊNCIA PARA JULGAR AÇÃO RESCISÓRIA
A competência para processar e julgar a ação rescisória é do tribunal, mesmo que não tenha ocorrido a interposição de recurso, Súmula nº 514 “Admite-se ação rescisória contra sentença transitada em julgado, ainda que contra ela não se tenha esgotado todos os recursos. ” A competência sempre será do tribunal, pois só ele é quem pode desconstituir a sentença, não podendo, portanto, ser proposta perante o juízo da 1ª Instancia, apesar de a mesma se desenvolver observando o procedimento comum, de um processo de conhecimento.
Dentro do tribunal, incumbe ao respectivo regimento interno estabelecer a qual órgão competirá julgar a rescisória. Cada tribunal é competente para julgar as ações rescisórias de seus próprios julgados, ou seja, o STF é competente para julgar as rescisórias de seus próprios julgados, e ao STJ da mesma forma, é competente para julgar a rescisória de seus julgados, e aos tribunais regionais. Os tribunais de justiça também detêm competência para processamento e julgamento das ações rescisórias.
Portanto, a sentença de primeiro grau poderá ser desconstituída através de ação rescisória quando estiver presente algum dos requisitos do art. 966 do CPC/15, devendo a mesma ser processada e julgada pelo tribunal ao qual está vinculado o juízo que proferiu a sentença.
Nestes aspectos, vale citar duas importantes Súmulas do STF a respeito de competência nas demandas rescisórias com base no art. 966, V do CPC/15, o qual se refere aos casos nos quais houver violação a literal dispositivo de lei, sendo elas, as Súmulas 249 e 515:
SÚMULA 249: É competente o Supremo Tribunal Federal para a ação rescisória, quando, embora não tendo conhecido do recurso extraordinário, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questão federal controvertida.
SÚMULA 515: A competência para a ação rescisória não é do Supremo Tribunal Federal, quando a questão federal, apreciada no recurso extraordinário ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisório.
Da leitura de tais Súmulas, temos que a competência em ações rescisórias sobre questões federais não questionadas em sede de Recurso Especial ou constitucionais não questionadas em sede de Recurso Extraordinário, serão de competência, respectivamente do TRF ou do TJ.
Pelo CPC/15, art. 968, §§ 5º e 6º, se a ação rescisória for endereçada a um tribunal incompetente para julgar a rescisória, o autor será intimado para emendar a sua inicial, após essa emenda, será dado ao réu prazo para complementar sua defesa e depois a ação será remetida ao tribunal competente.
Por fim, questão que ainda merece ser abordada é se o Ministério Público, a Fazenda Pública e a Defensoria Pública gozam de prazo em dobro para propositura da ação rescisória. É que, nos termos dos arts. 180 e 183 e 186 do CPC, todos eles possuem prazo em dobro para manifestarem se nos autos.
Conforme se depreende do dispositivo legal, o benefício de dilação do prazo só se aplica às manifestações em demandas já existentes (contestação e contrarrazões, por exemplo). A ação rescisória, todavia, constitui ação autônoma de impugnação de decisão judicial, razão pela qual não se sujeita à regra do prazo diferenciado.
3 - NATUREZA JURÍDICA DA QUERELA NULLITATIS INSANABILIS
		A Querela nullitatis é de natureza declaratória de inexistência ou nulidade de citação e serve para desconstituir ato praticado pelas partes que, tendo sido homologado pelo juiz em sentença, será de natureza meramente homologatória não fazendo, portanto, coisa julgada material e sim, meramente formal.
Em outras palavras, a ação declaratória tem por objetivo declarar a ausência de uma decisão no meio jurídico, a qual sequer forma coisa julgada.
Para Didier “a querela nullitatis é um meio para impugnar a sentença”. É expressão de origem latina, remonta do antigo sistema processual europeu, onde a mesma indicava ação hábil para impugnar sentença de mérito.
Seu primeiro registro remonta ao Direito Romano e havia duas espécies de querela nullitatis que eram a nullitatis sanabilis e a nullitatis insanabilis. Com o tempo, a querela nullitatis sanabilis uniu-se ao recurso de apelação, que saneava os vícios menos gravosos.
A querela nullitatis insanabilis, por outro lado, é utilizada para tratar de questões de maior gravidade e passou a constar nas açõesdeclaratórias de inexistência de citação, ações essas nas quais a sentença é considerada juridicamente inexistente.
Tal instituto surgiu no ordenamento jurídico pátrio porque não havia nenhuma previsão legal, nenhum tipo de recurso ou forma de procedimento quando se estava diante de uma sentença contaminada pela nulidade ou inexistência.
Nesse sentido, assim entendem os doutrinadores José Miguel Garcia Medina e Teresa Wambier:
Em se tratando de sentença juridicamente inexistente (p. Ex., proferida sem a citação do réu, ou quando julga procedente pedido juridicamente impossível), o meio adequado para retirar definitivamente do mundo jurídico as sentenças inexistentes é o da ação declaratória, que, no caso, é imprescritível.
Como vemos, para Teresa Arruda Alvim, a querela nullitatis tem natureza de ação declaratória. Já para Fredie Didiei Jr., a mesma possui natureza constitutiva.
Nestes termos, sempre que estivermos diante de uma decisão viciada, na qual tenha transcorridos todos os prazos para que a parte contrária pudesse se defender, tendo inclusive, transcorrido o prazo da ação rescisória, somente restará a parte prejudicada, propor ação declaratória de nulidade.
Nesse sentido, é o entendimento de Pedro Batista Martins:
Quando a sentença é nula, por uma das razões qualificadoras em lei, concede-se ao interessado ação para pleitear a declaração de nulidade.
Segundo o art. 238 do CPC/15, a citação é o ato pelo qual se chama o réu para responder ao processo, apresentando sua defesa às alegações do autor. Para tanto, é indispensável que para a validade do processo haja citação válida, caso contrário, será passível de nulidade, conforme podemos verificar em julgado de 2008 pela 2ª Câmara Cível do TJ de Sergipe:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE NULIDADE DE SENTENÇA. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL EM AÇÃO DE USUCAPIÃO AJUIZADA ANTERIORMENTE. CABIMENTO DA QUERELA NULLITATIS. CASO DE NULIDADE ABSOLUTA. DECRETAÇÃO A QUALQUER TEMPO E GRAU DE JURISDIÇÃO. NÃO VINCULAÇÃO AO PRAZO DA AÇÃO RESCISÓRIA. PRECEDENTES DO STF, STJ E TRIBUNAIS PÁTRIOS, INCLUSIVE DESTA CORTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. - Os apelados não refutaram a ausência de citação do apelante no processo que originou a presente ação, mas apenas contestaram aspectos processuais da peça inicial, tratando-se, portanto de matéria incontroversa;- Apesar disso, pode-se notar que o apelante foi considerado réu em lugar incerto, fato que autorizaria a citação por edital, porém não foram esgotadas as diligências no sentido de bem cumprir ordem citatória daquele em cujo nome estava transcrito o imóvel;- A nulidade por ausência de citação é nulidade absoluta, e, como tal, pode ser declarada a qualquer tempo e grau de jurisdição em Ação Declaratória de Nulidade da Sentença. (Processo: AC 2007206879 SE, Órgão Julgador: 2ª. CÂMARA CÍVEL, Julgamento: 6 de Outubro de 2008, Relator: DES. CEZÁRIO SIQUEIRA NETO).
O Relator Desembargador Cezário Siqueira Neto, ao proferir seu voto no presente caso, disse que, via de regra a citação deveria ter sido feita por correio, mas, no entanto, o réu foi considerado como estando em lugar incerto e não sabido, cabendo nessa hipótese, a citação por edital. Porém “não foram esgotadas as diligências no sentido de bem cumprir ordem citatória daquele em cujo nome estava transcrito o imóvel”, sendo que o nome do réu nem relacionado foi no edital, fato esse que prejudicou o seu direito de exercer o contraditório e ampla defesa, fato esse que acarretou na nulidade da decisão.
Nesse sentido, Didier assim leciona:
“A citação é uma condição de eficácia do processo em relação ao réu e, além disso, requisito de validade dos atos processuais que lhe seguirem.”
Não basta apenas ocorrer a citação para a formação da relação jurídico processual, é necessário também, que o ato seja válido, pois somente dessa forma é que poderão ser aplicados os efeitos do art. 240 do CPC/15. Ou seja, a citação é um pressuposto processual e se a mesma se der de forma inválida, o processo poderá ser extinto sem julgamento de mérito.
No nosso sistema jurídico há duas possibilidades de invalidar uma decisão mesmo após ter transcorrido o prazo da ação rescisória: quando a decisão for proferida em desfavor do réu, nos casos em que a ação correu à revelia, ou porque o réu não foi citado ou porque a citação se deu por meio inválido.
No CPC/15, observamos a sua presença nos arts. 525, § I e 535, I:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523
sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
§ 1o Na impugnação, o executado poderá alegar:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;
Essas previsões do CPC/15, vem para por fim a discussões doutrinárias a respeito da aplicação da querela nullitatis, estando agora, pacificado a sai hipótese de cabimento e de incidência.
Essa ação de nulidade se difere da ação rescisória em pelo menos quatro aspectos, quais sejam, as hipóteses de cabimento, que são mais restritas, por não haver prazo prescricional, não haver necessidade de depósito de 5% sobre o valor da causa e por não haver a necessidade de propositura perante o juízo que proferiu a decisão.
Entretanto, em virtude da doutrina e jurisprudência moderna, que vem considerando a possibilidade da relativização da coisa julgada, o STJ vem “alargando” a possibilidades de cabimento da ação anulatória, não sendo aplicadas apenas quando existir vício de citação insanável.
Dessa forma, seria possível o ajuizamento da querela nullitatis sempre que ocorresse umas das seguintes situações: 1º) quando houver sentença de mérito, faltando as condições de ação; 2º) se a sentença for proferida sem observar a coisa julgada; e 3º) se a decisão estiver embasada em lei que veio a ser declarada inconstitucional pelo STF.
No entanto, segundo o entendimento de Renato Montans de Sá, só haveria duas possibilidades de cabimento da ação anulatória, que seriam, “para atos que não dependem de sentença” e para “atos homologatórios”. Para ele, a ação anulatória aprecia substancialmente a transação.
Dessa forma, quando a parte contrária, prejudicada na ação quiser discutir os atos das partes os quais foram homologados por decisão, poderá se valer do § 4º do art. 966 do CPC/15, que foi uma inovação trazida pelo novo CPC, uma vez que o CPC/73 não tratava expressamente sobre essa questão o que ocasionava entendimentos divergentes entre os doutrinadores. Para uns a ação anulatória caberia quando houvesse vício no negócio jurídico homologado, mesmo tendo sentença de mérito transitada em julgado, para outros, a sentença que apenas homologasse o ato das partes, seria anulável e ainda para um terceiro grupo, o entendimento era de que só caberia ação anulatória se não houvesse o trânsito em julgado em aplicação, por analogia do art. 352 do CPC/73, atual 393 do CPC/15.
3.1 – PRAZO DECADENCIAL DA QUERELA NULLITATIS
Conforme anteriormente mencionado, não há prazo prescricional para a propositura da ação declaratória de inexistência ou nulidade de citação. Dessa forma, a ação pode ser proposta a qualquer tempo com o intuito de ver preservado o devido processo legal, o direito de defesa e também a segurança jurídica que, nesse caso foi prejudicada pelos vícios transrescisórios que estariam protegidos pelo trânsito em julgado, ou seja, ultrapassa os limites do prazo da rescisória.
3.2 – COMPETÊNCIA DA QUERELA NULLITATIS
A competência para processar e julgar a ação declaratória de nulidade ou a querela nullitatis, é do juiz que proferiu a sentença nula, nãoimportando se for juiz de primeiro grau ou do tribunal, diferente do que ocorre na ação rescisória, uma vez que na ação declaratória o que se postula não é a desconstituição da coisa julgada e sim, o reconhecimento da inexistência da relação processual pelo fato de ter ocorrido um vício.
Vale citar recente julgado nesse sentido, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul na qual inclusive foi reafirmado que é do entendimento do STJ que a competência nos casos de ação declaratória de nulidade é do juízo que proferiu a decisão viciada:
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. USUCAPIÃO (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE SENTENÇA. QUERELA NULLITATIS. COMPETÊNCIA DO JUÍZO QUE PROFERIU A DECISÃO VICIADA. É assente o entendimento desta Corte e do STJ que o a competência para julgamento de ação declaratória de nulidade de sentença (querela nullitatis) é do Juízo prolator da decisão alegadamente viciada JULGARAM IMPROCEDENTE O CONFLITO. (Conflito de Competência Nº 70054775697, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Celso Dal Pra, Julgado em 22/08/2013) (Processo: CC 70054775697 RS, Órgão Julgador: Décima Oitava Câmara Cível, Publicação: Diário da Justiça do dia 27/08/2013, Julgamento: 22 de Agosto de 2013, Relator: Pedro Celso Dal Pra).
Para Tanto a ação deve observar os requisitos da petição inicial, art. 319 e 320 do CPC/15, devendo, portanto, estar instruída com os documentos necessários, inclusive com cópia da sentença ou acórdão e com provas que demonstrem que o ato na realidade não se consumou e que essa sentença é, portanto, inexistente.
Importante que se diga que há diferença entre a sentença injusta e a sentença inexistente. Na sentença injusta ocorre o “error in judicando” do juiz quando este formula sua decisão, ou seja, ocorre quando o juiz se equivoca ao apreciar a ação, interpretando a lei de forma errônea ou porque não adequa a lei corretamente aos fatos; na sentença inexistente ocorre o “error in procedendo”, já que a sentença está contaminada pela nulidade insanável. É erro quando a forma, quando o juiz não observa os requisitos formais necessários para praticar determinado ato, o que acaba acarretando e uma decisão nula.
A querela nullitatis, ante a sua natureza imprescritível, busca a declaração da existência de uma nulidade processual, para que esta seja corrigida, para que ao final se tenha uma efetiva e justa prestação jurisdicional, visando dessa forma, garantir a segurança jurídica e a estabilidade das demandas.
4-CONCLUSÃO
Conclui- se que a ação rescisória e a querela nullitatis são instrumentos importantes para preservação dos direitos constitucionais do contraditório, ampla defesa e também para garantir a segurança jurídica das decisões
Nota-se que o novo CPC trouxe novidades em ambos os institutos, como a possibilidade, em sede de ação rescisória, em havendo prova nova após o trânsito em julgado, o prazo para propor ação rescisória só começa a contar a partir do descobrimento dessa prova nova.
A querela nullitatis, ante a sua natureza imprescritível, busca a declaração da existência de uma nulidade processual, para que esta seja corrigida, para que ao final se tenha uma efetiva e justa prestação jurisdicional, visando dessa forma, garantir a segurança jurídica e a estabilidade das demandas.
Em ambos os institutos, ao se propor a ação, deve se observar o princípio da instrumentalidade das formas, tendo em vista que tal princípio visa o aproveitamento de atos que não tragam prejuízos para as partes.
5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Do Processo nos Tribunais: Da Ação Rescisória. In: GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. NOVO CURSO DE DIREITO PROCESSUAL CIVIL:Processo de conhecimento (2ª Parte) e procedimentos especiais. 6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. Livro VIII. Cap. 4. P. 161-178
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SÁ, Renato Montans de. Manual de direito processual civil/ Renato Montans de Sá. 2 ed – São Paulo: Saraiva, 2016

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