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INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA A lógica molecular dos organismos vivos

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Universidade Estadual do Ceará / Faculdade de Veterinária
Bioquímica Veterinária I
Prof. Dr. Genário Sobreira Santiago
INTRODUÇÃO A BIOQUIMICA: a lógica molecular dos organismos vivos
1. INTRODUÇÃO	
	Os seres vivos são compostos de moléculas inertes. Quando estas moléculas são isoladas e examinadas individualmente, elas obedecem a todas as leis físicas e químicas que descrevem o comportamento da matéria inanimada. Entretanto, os organismos vivos possuem atributos extraordinários, não apresentados pela coleção de moléculas inanimadas. Se examinarmos algumas destas propriedades especiais podemos abordar o estudo da bioquímica com uma melhor compreensão das questões fundamentais que se procura responder.
Podemos agora perguntar: Se os organismos vivos são compostos de moléculas intrinsecamente inanimadas, por que a matéria viva difere tão radicalmente da matéria não viva, que também consiste de moléculas inanimadas? Filósofos já responderam que os organismos vivos são dotados de uma força vital misteriosa e divina. Entretanto, esta doutrina, chamada de vitalismo, foi rejeitada pela ciência moderna, que procura o racional e, acima de tudo, explicações comprováveis dos fenômenos naturais. O objetivo básico da Ciência Bioquímica é determinar como uma coleção de moléculas inanimadas, que constituem os organismos vivos interage para manter e perpetuar o estado vital.
	Claro, a bioquímica também fornece importantes esclarecimentos e aplicações práticas na medicina, veterinária, agricultura, nutrição e indústria, mas a sua preocupação final é com o mistério da vida e dos organismos vivos.
	As moléculas que compõem os organismos vivos obedecem a todas as leis conhecidas da química, mas também interagem entre si de acordo com outro conjunto de princípios, que norteiam todas as atividades vitais.
2. CARACTERÍSTICAS DA MATÉRIA VIVA
2.1. Todos os organismos são construídos segundo um plano comum
	A maioria dos componentes químicos dos organismos vivos é formada por compostos orgânicos de carbono (C), onde os átomos estão covalentemente ligados com outros átomos de carbono e com o hidrogênio (H), o oxigênio (O) ou o nitrogênio (N). Os compostos orgânicos ocorrem na matéria viva com extraordinária variedade e muitos deles são extremamente grandes (com peso molecular na ordem de milhões) e complexos. Por exemplo, mesmo a mais simples e menor das células, a bactéria, contém um número muito grande de diferentes moléculas orgânicas. Uma única célula da mais comum das bactérias, a Escherichia coli, contém cerca de 5.000 diferentes espécies de compostos orgânicos, incluindo 3.000 diferentes espécies de proteínas e 1.000 diferentes espécies de ácidos nucléicos.
	Além disto, as proteínas e os ácidos nucléicos são moléculas muito grandes e complexas (macromoléculas), das quais se conhecem estruturas precisas de apenas algumas. No organismo humano, muito mais complexo, pode haver cerca de 50.000 diferentes espécies de proteínas. É improvável que qualquer uma das moléculas de proteínas da Escherichia coli seja idêntica a qualquer uma das proteínas encontradas em seres humanos, embora muitas funcionem de maneira bastante semelhante. Na verdade, cada espécie de organismo possui o seu conjunto próprio de moléculas de proteínas e ácidos nucléicos, quase todos marcadamente diferentes dos de outras espécies. Como provavelmente haja perto de 10 milhões de espécies de organismos vivos, podemos ver que todas as espécies juntas devem conter pelo menos 1011 diferentes espécies de moléculas de proteínas e quase outras tantas espécies de diferentes ácidos nucléicos.
	Para os bioquímicos, tentar isolar, identificar e sintetizar todas as diferentes moléculas orgânicas presentes na matéria viva seria uma tarefa desesperançosa. Paradoxalmente, entretanto, a imensa diversidade das moléculas orgânicas nos organismos vivos é reduzível a uma simplicidade básica. Isto porque todas as macromoléculas das células são compostas de moléculas pequenas e simples, moléculas de unidades fundamentais, de alguns poucos tipos diferentes, enfileiradas em longas cadeias contendo de 50 a muitos milhares de unidades. 
As longas cadeias moleculares dos ácidos desoxirribonucléicos (DNA) são construídas a partir de apenas quatro diferentes espécies de unidades fundamentais, os desoxirribonucleotídeos, arranjados numa sequência característica. As proteínas consistem de cadeias covalentemente ligadas de 20 diferentes espécies de aminoácidos, pequenas moléculas orgânicas de estrutura conhecida. Os 20 diferentes aminoácidos podem ser arranjados em muitas sequências diferentes para formar muitas espécies distintas de proteínas, exatamente como as letras de palavras, sentenças ou mesmo livros. Além disso, os poucos tipos de nucleotídeos a partir dos quais todos os ácidos nucléicos são construídos e os 20 tipos diferentes de aminoácidos, a partir dos quais todas as proteínas são construídas são idênticos em todas as espécies, seja micróbio, planta ou animal. Este fato sugere fortemente que todos os organismos podem ser descendentes de um ancestral comum (figura 1). 
2.2. As macromoléculas são multifuncionais
	As moléculas de unidades fundamentais, a partir de onde todas as macromoléculas são construídas, possuem outra característica admirável. Cada uma delas apresenta mais de uma função nas células vivas. Os diferentes aminoácidos servem não apenas como unidades fundamentais das proteínas, mas também como precursores dos hormônios, alcaloides, pigmentos e muitas outras espécies de biomoléculas. Os nucleotídeos servem não apenas como unidades fundamentais dos ácidos nucléicos, mas também como coenzimas e moléculas transportadoras de energia. Tanto quanto sabemos, os organismos vivos não contêm compostos sem função, embora haja algumas biomoléculas cujas funções ainda não entendemos.
Figura 1
(a) segmento de uma molécula de DNA, mostrando a sequência de suas 4 diferentes unidades fundamentais de nucleotídeos. (b) segmento de uma molécula de proteína mostrando a sequência de suas unidades de aminoácidos
	A partir destas considerações podemos agora estabelecer alguns dos princípios da lógica molecular da vida:
Há uma simplicidade básica na estrutura das macromoléculas biológicas.
Todos os organismos vivos usam as mesmas espécies de moléculas de unidades fundamentais e, portanto, parecem ter um ancestral comum.
A identidade de cada espécie de organismo é preservada pela sua posse de distintos conjuntos de ácidos nucléicos e de proteínas.
Todas as biomoléculas possuem funções específicas nas células.
2.3. Intercâmbio de matéria e energia entre os organismos vivos
	Os organismos vivos não são exceções às leis físicas que governam as trocas energéticas. O seu crescimento e manutenção requerem energia, que deve ser paga de alguma maneira. Os organismos vivos absorvem do seu ambiente as formas de energia que lhe são úteis, nas condições especiais de temperatura e pressão em que vivem. Eles então retornam ao ambiente uma quantidade equivalente de alguma outra forma de energia, menos útil. A espécie de energia útil que a célula requer é a energia livre, que pode ser definida simplesmente como o tipo de energia que pode realizar trabalho a temperatura e pressão constantes. O tipo de energia menos útil que as células retornam ao seu ambiente consiste principalmente de calor, que é aleatoriamente dissipado aos arredores. Aqui temos outro princípio da lógica molecular da vida (figura 2):
Os organismos vivos criam e mantém suas estruturas complexas, ordenadas e direcionadas às expensas da energia livre do seu ambiente, ao qual retornam energia em formas menos úteis.
	Embora os organismos vivos sejam sistemas transformadores de energia, eles são muito diferentes das familiares máquinas feitas pelo homem. Os sistemas de transformação de energia das células vivas são construídos inteiramente de moléculas orgânicas instáveis e relativamente frágeis, incapazes de suportar altas temperaturas, correntes elétricas fortes ou condições extremasde pH. Todas as partes de uma célula viva possuem essencialmente a mesma temperatura; além disto, não há diferenças significativas de pressão. Portanto, podemos concluir que as células são incapazes de usar o calor como fonte de energia, pois o calor apenas realiza trabalho se de um corpo a outro de temperatura inferior. Temos assim, outro princípio da lógica molecular da vida.
As células são sistemas isotérmicos e isobáricos.
Figura 2
Os organismos vivos realizam várias formas de trabalho às expensas da energia livre do ambiente. Eles retornam ao seu meio uma quantidade igual de calor e outras formas de energia que se torna aleatória e inútil. Tal energia dissipada é chamada entropia. 
As células usam energia química para realizar o trabalho químico de reparo e crescimento celular, o trabalho osmótico necessário para transportar os nutrientes nas células e o trabalho mecânico da contração e movimento.
Finalmente, todos os organismos vivos na biosfera derivam sua energia da luz solar, que se origina da fusão nuclear dos átomos de hidrogênio para formar hélio na imensamente alta temperatura do sol. As células fotossintetizantes do mundo das plantas captam a energia radiante da luz solar e a usam para converter o CO2 e a água nos vários produtos das plantas, ricos em energia, como, por exemplo, o amido e a celulose. Assim fazendo eles lançam oxigênio molecular (O2) livre na atmosfera. 
Finalmente, os organismos não fotossintetizantes obtêm energia para suas necessidades dos produtos das plantas, ricos em energia, oxidando-os às expensas do oxigênio atmosférico para formar CO2 e outros produtos finais, que retornam ao ambiente e são reciclados pelo mundo das plantas. Desta forma outros princípios da lógica molecular da vida são (figura 3):
As necessidades energéticas de todos organismos são fornecidas, direta ou indiretamente, pela energia solar.
O mundo das plantas e dos animais – na verdade, de todos os organismos vivos – são dependentes entre si para as trocas de energia e matéria com o ambiente. 
2.4. Presença de catalisadores para organização das reações químicas
	As células podem funcionar como máquinas porque possuem enzimas, catalisadores capazes de aumentar imensamente a velocidade das reações químicas específicas sem serem consumidas no processo. As enzimas são moléculas de proteínas altamente especializadas, sintetizadas pelas células a partir de simples unidades fundamentais de aminoácidos. 
Figura 3
Cada tipo de enzima pode catalisar apenas um tipo específico de reação química; desta forma, centenas de diferentes tipos de enzimas são necessárias no metabolismo de qualquer célula. As enzimas são muito superiores aos catalisadores feitos pela química, pois são muito mais específicas, possuem maior eficiência catalítica e podem funcionar sob condições mais brandas de temperatura e pH. As enzimas podem catalisar em segundos sequências complexas de reações que necessitariam dias, semanas ou meses de trabalho no laboratório químico. Além disto, as reações catalisadas por enzimas se realizam com 100% de rendimento; não há a formação de subprodutos. Ao contrário, quando o químico orgânico realiza reações no seu laboratório, elas quase sempre acompanhadas pela formação de um ou mais produtos colaterais. Pelo fato das enzimas poderem aumentar uma reação de uma via de certa molécula, sem aumentar as outras possíveis reações, as células podem realizar simultaneamente muitas reações químicas diferentes sem atolar-se num pantanal de produtos colaterais inúteis.
	As centenas de reações químicas, catalisadas por enzimas nas células são organizadas em muitas sequências diferentes de reações consecutivas. Tais sequências podem de 2 a 20 ou mais etapas de reações. Algumas destas sequências de reações degradam os nutrientes orgânicos em produtos finais simples, a fim de extrair energia química. Outras começam a partir de pequenas moléculas precursoras e constroem macromoléculas longas e complexas, passo a passo para o que é necessária energia. Estas vias, catalisadas por enzimas, que juntas constituem o metabolismo das células, possuem muitas interconexões.
2.5. As células transmitem a energia numa forma química
	As células vivas capturam, armazenam e transportam a energia numa forma química, principalmente como adenosina trifosfato (ATP) (figura 4).
O ATP funciona como o principal transportador de energia química das células de todas as espécies vivas. O ATP pode transferir a sua energia para certas biomoléculas e, assim o fazendo, o seu grupo fosfato terminal é destacado; a molécula de ATP, rica em energia, torna-se pobre, adenosina difosfato (ADP), que pode, por sua vez, readquirir um grupo fosfato para se tornar ATP a expensas de energia solar nas células fotossintetizantes ou de energia química nas células animais. O ATP é o principal ponto de conexão entre duas grandes redes de reações catalisadas por enzimas na célula. 
Figura 4
(a) Fórmula estrutural e 
(b) modelo espacial para o ATP
Uma destas redes conserva a energia química retirada do ambiente, principalmente forçando a fosforilação da molécula pobre em energia, ADP, na molécula rica em energia, ATP. A outra rede utiliza a energia do ATP para realizar a biossíntese dos componentes celulares a partir de precursores simples, o trabalho mecânico necessário para a contração e a movimentação, e o trabalho osmótico de transporte de membrana. Da mesma forma que as biomoléculas de unidades fundamentais, estas redes de reações catalisadas por enzimas, consecutivamente ligadas, são virtualmente idênticas na maioria das espécies vivas (figura 5).
Figura 5
O ATP é o transmissor químico que une as fontes de energia aos processos celulares que requerem energia
2.6. O metabolismo celular é constantemente regulado
	As células em crescimento podem simultaneamente sintetizar milhares de moléculas de diferentes espécies de proteínas e ácidos nucléicos nas proporções precisas necessárias para constituir o protoplasma funcional vivo, característico das suas espécies. As reações do metabolismo, catalisadas por enzimas, são desta forma intrinsecamente reguladas para sintetizar apenas o número necessário de cada tipo de molécula de unidade fundamental e para montá-las num certo número de moléculas dos diversos ácidos nucléicos, proteínas e lipídeos ou polissacarídeos. Além disto, as células vivas possuem também o poder de regular a síntese do seu próprio catalisador, as enzimas. Desta forma a célula pode “desligar” a síntese de uma enzima necessária para fabricar certo produto a partir de seus precursores toda vez que este produto estiver disponível, já sintetizado pelo ambiente. Estas propriedades auto ajustáveis e autorreguláveis permitem às células vivas se manterem num estado de equilíbrio, mesmo quando o ambiente externo varie. Podemos então definir outro princípio:
As células são motores químicos autorreguláveis, sintonizados para operar no princípio da economia máxima. 
 2.7. Os organismos vivos se replicam com precisão
	A mais admirável de todas as propriedades das células vivas é a sua habilidade de se reproduzir com quase perfeita fidelidade por centenas e milhares de gerações. Três características imediatamente aparecem. Primeiro, os organismos vivos são tão imensamente complexos que a quantidade de informação genética transmitida parece desproporcional ao tamanho mínimo do núcleo celular, que é o repositório da informação genética. Sabemos hoje que toda a informação genética de uma célula bacteriana está contida numa única e longa molécula de DNA. E que a imensamente grande quantidade de informação genética de uma célula germinativa humana está codificada num conjunto de moléculas de DNA pesado juntas apenas 6 x 10-12g. Chegamos assim a outro princípio:
A informação genética está codificada em unidades de dimensões submoleculares; estas unidades são as quatro espécies de nucleotídeos que compõem o DNA.
	Uma segunda característica marcante da propriedade de auto-replicaçãodos organismos vivos é a extraordinária estabilidade da informação genética armazenada no DNA. Muito poucos registros históricos anteriores têm sobrevivido por tanto tempo, mesmo que tenham sido impressos em cobre ou esculpidos em pedra. Os pergaminhos do Mar Morto e a pedra de Roseta, que forneceram a chave para a decifração dos hieróglifos egípcios antigos têm apenas alguns milhares de anos. Mas há boas razões para se acreditar que muitas bactérias possuem aproximadamente o mesmo tamanho, forma e estrutura interna e contêm as mesmas espécies de moléculas de unidades fundamentais, as mesmas espécies de enzimas daquelas que viveram bilhões de anos atrás. E isto apesar do fato da bactéria, como todos os outros organismos, ter sofrido constante alteração evolutiva. A informação genética é preservada não no cobre ou na pedra, mas na forma de DNA uma molécula orgânica tão frágil que se quebrará em muitos pedaços se uma solução que a contiver for simplesmente agitada ou pipetada. Mesmo na célula intacta as fitas de DNA frequentemente podem se quebrar, mas são rápida e automaticamente reparadas. A admirável capacidade das células vivas de preservar o seu material genético é resultado da complementaridade estrutural. Uma fita de DNA serve como molde ou padrão para a replicação enzimática ou reparo de uma fita de DNA estruturalmente complementar (figura 6).
E, a despeito da quase perfeita fidelidade da replicação genética, o DNA ocasionalmente sofre uma alteração muito pequena, uma mutação, que algumas vezes resulta numa progênie melhor ou mais adaptada e as vezes numa progênie menos hábil para sobreviver. Desta forma os organismos vivos podem continuamente melhorar a sua habilidade de sobreviver, permitindo que a diferenciação e posterior evolução de novas espécies ocorram à medida que o ambiente se altere com o tempo.
	Há uma terceira característica admirável da transferência da informação genética nos organismos vivos. A informação genética está codificada na forma de uma sequência linear unidimensional das unidades fundamentais de nucleotídeos do DNA. Entretanto, as células vivas são tridimensionais na estrutura. A informação unidimensional do DNA é convertida na informação tridimensional inerente aos organismos vivos pela tradução da estrutura do DNA em estruturas proteicas, processo onde participa o RNA.
	Ao contrário das moléculas de DNA, que possuem todas uma forma basicamente idêntica, as diferentes moléculas de proteínas espontaneamente se enrolam e se dobram numa variedade enorme de estruturas tridimensionais específicas, cada uma necessária na realização de uma função determinada. A geometria precisa de cada tipo de proteína é determinada pela sequência de seus aminoácidos, e isto por sua vez é determinado pela sequência de nucleotídeos do DNA.
	
Podemos resumir agora os vários princípios da lógica molecular das células:
Uma célula viva é um sistema isotérmico de moléculas orgânicas automontadas, autocontroladas e autoperpetuáveis, que extrai a energia livre e a matéria-prima do seu ambiente.
Ela realiza muitas reações orgânicas consecutivas, promovidas por catalisadores orgânicos ela própria produz.
Ela se mantém num estado de equilíbrio dinâmico, longe do equilíbrio com a sua vizinhança. Ela funciona sob o princípio da máxima economia das partes e processos.
A sua quase precisa replicação, através de muitas gerações, é garantida por um sistema linear de codificação auto-reparável.
É objetivo da bioquímica entender como as interações das biomoléculas entre si resultam nestas características da vida. Em nenhum instante no nosso exame da lógica molecular das células vivas encontramos qualquer violação das leis físicas conhecidas, nem tivemos a necessidade de definir novas leis. A “delicada” maquinaria orgânica das células vivas funciona com o mesmo conjunto de leis que governam as operações das máquinas feitas pelo homem, entretanto as reações químicas e os processos reguladores das células foram refinados muito além da presente capacidade da engenharia química. 
3. Estrutura tridimensional	
	A ligação de quatro diferentes grupos a um átomo de carbono resulta em estruturas tetraédricas diferentes. As moléculas com composições idênticas, mas com diferentes estruturas, são chamadas isômeros. Os isômeros que diferem no arranjo espacial são denominados estereoisômeros. Estas estruturas apresentam centros assimétricos (centros quirais) indicando que os estereoisômeros podem ocorrer em formas orientadas a direita ou à esquerda. Os estereoisômeros são imagens especulares um do outro e não são superponíveis sendo chamadas moléculas quirais. Os estereoisômeros são enantiômeros e apresentam atividade ótica, i.e., giram a luz plano-polarizada para a direita (dextrógiro) ou para a esquerda (levógiro). Uma mistura equimolar de cada enantiômero é opticamente inativa (mistura racêmica).Figura 6
	As posições dos átomos ou grupos ao redor de um átomo de carbono quiral não estão relacionadas com a direção do desvio da luz plano-polarizada de uma maneira simples. Emil Fisher, em 1891, arbitrária e corretamente, designou uma das estruturas do gliceraldeído e chamou de D-gliceraldeído. O isômero levo rotatório foi chamado L-gliceraldeído. Atualmente, o gliceraldeído permanece a base da configuração estereoquímica das moléculas das moléculas biológicas. Estereoisômeros de todas as moléculas quirais têm configurações estruturais relacionadas com um dos gliceraldeídos e são designadas por D ou L, independente de sua atividade óptica. A atividade óptica é indicada por (+) para dextrorotatórios e (-) para levorotatórios.
	Os centros quirais são de grande importância biológica, pois grande número de moléculas são seletivas quanto a quiralidade, por exemplo, virtualmente todas as proteínas e polissacarídeos dos organismos superiores são compostos por L-aminoácidos e D-monossacarídeos, respectivamente. Esta seletividade é devida a estabilidade adicional que estas configurações conferem às moléculas poliméricas. 
4. LEITURA
	“A anatomia molecular revela relações evolucionárias”
	A bioquímica tem confirmado e estendido muito a teoria evolucionária. No século XVIII, o naturalista Carolus Linnaeus (1707-1778) reconheceu as similitudes e as diferenças anatômicas entre os organismos vivos e forneceu uma base para estudar o relacionamento das espécies diferentes. Charles Darwin (1809-1882), no século XIX, deu-nos uma hipótese unificadora para explicar a filogenia dos organismos modernos – a origem de espécies diferentes a partir de um ancestral comum. 
	Quadro 1. Alguns organismos cujos genomas foram completamente sequenciados
	Organismo
	Tamanho do genoma
	Interesse biológico
	Mycoplasma pneumoniae
	0,8
	Causa pneumonia
	Treponema pallidum
	1,1
	Causa sífilis
	Borrrelia burgdorferi
	1,3
	Causa doença de Lyme
	Heliobcater pylori
	1,7
	Causa úlcera gástrica
	Methanococcus jannaschii
	1,7
	Cresce à 85°C
	Haemophilus influenzae
	1,8
	Causa influenza bacteriana
	Methanobcterium thermoautotrophicum
	1,8
	Membro da Arquea
	Archaeoglobus fulgidus
	2,2
	Metanogênio de alta temperatura
	Synechcystis sp.
	3,6
	Cianobactéria
	Bacillus subtilis
	4,2
	Bactéria comum do solo
	Escherchia coli
	4,6
	Algumas linhagens causam síndrome do choque tóxico
	Saccharomyces cerevisiae
	12,1
	Eucarioto unicelular
	Caenorhabditis elegans
	97
	Verme multicelular
A bioquímica, no século XX, começou a revelar a anatomia molecular das células de diferentes espécies – a sequência de subunidades nos ácidos nucleicos e proteínas e as estruturas tridimensionais de moléculas individuais de ácidos nucleicos e proteínas.
	Em nível molecular, a evolução é a emergência, no tempo, de diferentes sequências de nucleotídeos no interior dos genes. Com novas sequências genéticas sendo determinadas experimentalmente quase todos os dias, os bioquímicos têm um vasto e rico tesouro de evidências com o qual podem analisar as relações evolucionárias e refinar a teoria da evolução.As sequências de nucleotídeos de genomas inteiros (o genoma é o dote genético completo de um organismo) estão sendo determinados (quadro 1). As sequências genômicas de um número de eubactérias e uma arqueobactéria, um microrganismo eucariótico (Saccharomyces cerevisiae), e um animal multicelular (Caenorhabditis elegans) foram determinadas; sequências de uma planta (Arabidopsis thaliana) e mesmo do Homo sapiens serão conhecidos logo.
	Com essas sequências em mãos, comparações quantitativas, altamente detalhadas, entre as espécies proporcionarão esclarecimentos sobre o processo evolucionário. A filogenia molecular derivadas das sequências de genes é consistente com a filogenia clássica baseada em estruturas macroscópicas, mas em muitos casos mais precisas do que ela. Os mecanismos e as estruturas moleculares têm sido conservados durante o processo evolucionário, embora os organismos tenham divergido continuamente em nível anatômico macroscópico. Porém, em nível molecular, a unidade básica da vida é facilmente visível; mecanismos e estruturas moleculares cruciais são notavelmente similares desde o organismo mais simples até o mais complexo. A bioquímica tornou possível descobrir as características unificadoras comuns a todas as formas de vida.
5. BIBLIOGRAFIA
BACILA, M. Bioquímica Veterinária. São Paulo: Varela. 1980, 534p.
BENNET, P. B., FRIEDEN, E. Tópicos modernos de bioquímica: Estrutura e função das moléculas biológicas. São Paulo: Edgard Blücher, 1971. 175p.
FERREIRA, W. M. Apostila de nutrição de não-ruminantes. Belo Horizonte: UFMG, s/data.
GONZÁLEZ, F. H. D., SILVA, S. C. Introdução à bioquímica clínica veterinária. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2006, 358p.
LEHNINGER, A. L., NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de bioquímica. São Paulo: SARVIER. 1995, 839p.
PRATT, C., CORNELY, K. Bioquímica Essencial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, 716p.

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