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Mediação de Conflitos Material de estudo

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS
AULA 1
-Introdução: É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, mas também, e principalmente, a tutela jurisdicional efetiva, rápida e sem demoras indevidas. Isto significa dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos prejuízos que causa quando não presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não respeita, por omissão, o direito humano fundamental de real acesso à justiça.
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de 1988.
O que percebemos, na atualidade, é que os limites do Judiciário, que eram organizados buscando uma precisão, estão com seu alcance diminuído. A expansão da informática, dos meios de comunicação e dos transportes vão estabelecendo múltiplas redes de relacionamento. O formalismo demanda tempo para a solução dos litígios, e o tempo é inimigo da efetividade da função pacificadora.
O Judiciário foi estruturado para atuar sob a orientação de Códigos, cujos prazos e procedimentos tornaram-se incompatíveis com as várias lógicas, processos decisórios, ritmos e tempos, presentes em nosso mundo globalizado.
Estamos no tempo da simultaneidade, com um Judiciário ainda sem meios materiais e técnicos para acompanhar esse contexto cada vez mais complexo.A garantia ao acesso à justiça deve ser entendida, então, como uma garantia que vai além do simples ingresso no Poder Judiciário. Nesse contexto, tendem a se desenvolver outros procedimentos jurisdicionais como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, como formas alternativas para alcançar a informalidade, a celeridade e a praticidade.
Mudança de Paradigma: As relações sociais são extremamente ricas em detalhes emocionais e culturais e, ao mesmo tempo, demasiadamente frágeis. Diante dessas características, os conflitos não podem ser tratados de forma generalizada e superficial, sendo necessária e fundamental uma ruptura com o paradigma vigente que é o da lógica determinista binária. 
O paradigma da lógica determinista binária é o paradigma do ganhar/perder, em que a perpetuação do litígio é quase inevitável, podendo chegar a níveis patológicos. Quem é ferido, quer ferir, depois há o revide, e, por causa dessa reação, ocorre outra reação. Essa situação é infinitamente alimentada pelos sentimentos que desperta. As partes são dominadas pela emoção, perdem a noção de responsabilidade pelos seus atos e a importância de uma convivência pacífica com o próximo.
Como você percebeu, é importante a adoção de novas técnicas e posturas que possibilitem a minimização das consequências geradas pelo litígio. Fica claro, então, que não basta, para a solução dos conflitos, a mera aplicação da Lei. Essas relações não são matemáticas. Normalmente, para os envolvidos em um conflito, dois mais dois nunca é quatro. Há sempre este ou aquele detalhe, e que teve consequências determinantes e irreparáveis na maneira de ver a realidade que se apresenta. Portanto, percebe-se como urgente e necessária uma mudança de paradigmas para o manejo dos conflitos. Em vez de privilegiar os processos litigiosos, deve-se buscar o entendimento entre as partes, sempre visando à manutenção e responsabilização correlatas.
Dessa maneira, percebe-se claramente a importância dessa nova postura, que privilegia a formação de novos paradigmas em substituição àquele do “ganhar/perder”. Esses novos paradigmas têm como matriz a cooperação e a construção conjunta das soluções.
E o que está sendo feito?
Desde o fim dos anos 90, a demora na prestação judicial e o acesso à justiça vem sendo destacada em nosso país. De acordo com o Manual de Mediação para a Defensoria Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014), há um movimento conjunto dos três poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, para modificar o sistema judiciário brasileiro e a cultura do litígio (lógica determinista binária), que ainda é predominante em nosso país. Algumas ações são destacadas:
a) Prevenção do litígio por meio de políticas que garantam uma melhor prestação de serviços à população, por parte de empresas que hoje representam um dos polos da maioria dos processos judiciais;
b) Promoção de alternativas ao Judiciário para resolução de conflitos, com ênfase no uso de técnicas autocompositivas (autocompositivas “são aquelas em que as próprias partes interessadas, com ou sem a colaboração de um terceiro, encontram, através de um consenso, uma maneira de resolver o problema.” (SANTOS, 2004, p. 14); nas heterocompositivas, “o conflito é administrado por um terceiro, escolhido ou não pelos litigantes, que detém o poder de decidir, sendo a referida decisão vinculativa em relação às partes.” (SANTOS, 2004, p. 14).) como a mediação, a conciliação e a negociação;
c) Capacitação de profissionais que possam atuar como mediadores extrajudiciais, judiciais e no âmbito da Administração Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014). 
Não podemos esquecer do incentivo às Universidades para criar disciplinas voltadas a essa temática.
Referências
ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R. V. M.; CAVALCANTI, R. R. B. (Orgs.). Manual de mediação para a Defensoria Pública. Brasília, DF: CEAD/ENAM, 2014.
SANTOS, R. S. S. dos. Noções gerais da arbitragem. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2004.
Mecanismos alternativos de resolução de conflitos:
-Negociação: Você, possivelmente, já participou de uma negociação no decorrer de sua vida. Concorda que a negociação é o caminho natural nas relações humanas para a resolução de conflitos? Com frequência, em nossas vidas, temos de negociar algumas questões. Tais situações tornaram-se tão comuns que, algumas vezes, não percebemos que estamos diante de uma negociação. Em vários momentos, sejam eles no convívio social e familiar, em uma loja, na Universidade, no trânsito ou no trabalho, estamos vivenciando relações com contínuas propostas e contrapropostas.
Definição- A negociação pode ser definida como uma relação que duas ou mais pessoas estabelecem a respeito de um assunto, visando encontrar posições comuns e chegar a um acordo que seja vantajoso para todos.
Dinâmica- A negociação inicia-se quando há diferença de posições entre as partes. No entanto, ela só existe se houver interesse das partes em tentar chegar a um acordo. Dessa forma, respeitar o outro é uma norma que existe em qualquer negociação.
As partes- É preciso ficar claro que as pessoas não são consideradas inimigas em uma negociação. Muito pelo contrário, são vistas como colaboradoras, trabalhando para eliminar as diferenças existentes e chegar a um acordo aceitável por todos. Quando negociamos, enfrentamos os problemas e não as pessoas.
Meta da negociação- Buscar um acordo que satisfaça as necessidades de todos os envolvidos. Deve-se tentar chegar a uma solução equitativa que inclua os pontos de vista e interesses de todos os envolvidos. Assim, todos os envolvidos considerarão o acordo como algo construído por todos, e não como uma solução imposta. Enfim, todos sairão satisfeitos de uma negociação, com a intenção de cumprir o que foi combinado e com o interesse de manter essa relação que teve um resultado tão vantajoso para todos.
-Conciliação: Conciliar, se olharmos os dicionários, significa harmonizar-se, alcançar pacificação. A tentativa de conciliação prevê, portanto, a expressão maior do pacto social entre as partes. Vamos aprofundar um pouco mais esse significado.
Conceito- Conciliação é uma forma de resolução de controvérsias na relação de interesses administrada por um Conciliador (investido de autoridade ou indicado pelas partes), a quem compete: aproximar as partes, controlar as negociações, aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontar vantagens e desvantagens. O objetivo do conciliador é sempre o de estabelecer uma composição do litígio pelas partes.
O Conciliador- A participação ativa do conciliador, como instrumento e garantia de possibilidade de acordo, arenovação da proposta pelo juízo e o bom senso das partes e dos advogados são questões fundamentais. Empenho e técnica, assim como o tratamento respeitoso, farão com que as partes, diante da resposta rápida e eficiente através da conciliação, sejam vistas como o próprio fim da prestação jurisdicional.
Características da Conciliação- A conciliação tem suas próprias características. Além da administração do conflito por um terceiro imparcial, esse conciliador tem a prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após avaliar as vantagens e desvantagens que tal proposta acarretaria para as pessoas.
Amparo legal- Em resposta aos anseios sociais e em atendimento ao mandamento constitucional, contido no artigo 98 da Constituição da República Federativa do Brasil (1988), o Legislativo editou e aprovou a Lei 9.099/95. Os Juizados Cíveis e Criminais, de que trata essa lei, são órgãos da Justiça criados para conciliação, processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência, disciplinadas por essa lei. O processo, nesses Juizados, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
Juizados e Justiça do Trabalho- O Juizado Especial Cível (JEC) tem competência para a conciliação, processo e julgamento de causas cíveis de menor complexidade. O Juizado Especial Criminal (JECRIM) também tem competência para a conciliação, julgamento e execução de infrações penais de menor potencial ofensivo, tais como as contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, excetuando os casos em que a lei prevê legislação especial. A conciliação é também consagrada na Justiça do Trabalho para prestigiar o espaço de autonomia das vontades individuais, buscando uma solução negociada de conflitos entre patrão e empregado.
-Arbitragem: A arbitragem já estava prevista em nossas leis há muito tempo, e, segundo alguns autores, ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei 9.307 – Lei de -Arbitragem. A arbitragem é um meio privado e alternativo de solução de controvérsias extrajudiciais de direito patrimonial disponível nas áreas cível, comercial e trabalhista. Ela pode ser usada para resolver problemas jurídicos sem a participação do Poder Judiciário. É um mecanismo voluntário: ninguém pode ser obrigado a se submeter à arbitragem contra sua vontade.
Instrumentos da arbitragem- Os instrumentos que podem ser utilizados na arbitragem são a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Esses dois instrumentos levam as partes para a arbitragem e excluem a participação do Judiciário, desde que a escolha pela arbitragem tenha sido feita livremente por todos os envolvidos.
Adesão das partes- É importante destacar que ninguém pode ser obrigado a assinar um compromisso arbitral ou um contrato que contenha a cláusula compromissória. Contudo, se os envolvidos já fizeram livremente a opção pela arbitragem no passado, não poderão voltar atrás no futuro e desistir dela, caso surja algum problema. Somente será possível recorrer ao Judiciário se tiver ocorrido uma violação grave do direito de defesa, bem como em outras situações bem limitadas.
AULA 2
VOCÊ SABIA?
Somente a partir da virada do século XX, a mediação tornou-se institucionalizada em vários países, e desenvolveu-se como uma profissão reconhecida. O crescimento da mediação deve-se, principalmente, ao reconhecimento dos direitos humanos: aspirações em relação à participação democrática em todos os níveis sociais, a crença de que o indivíduo tem o direito de participar e ter controle sobre as decisões que afetam a sua vida e maior tolerância à diversidade.
Aula voltada à fatos históricos e a evolução da Mediação no mundo, baixa relevância, para um material preparatório para a prova, caso tenha interesse, estude pelo SIA.
AULA 3
 -Bases teóricas e princípios da mediação: A mediação, como já vimos, é um meio não adversarial, voluntário e pacífico de resolução de conflitos, em que um terceiro (o mediador, imparcial) atua como facilitador do diálogo entre as partes envolvidas. Ele as conduz a encontrarem, de maneira cooperativa, as soluções que melhor satisfaçam os seus interesses. No entanto, esse procedimento exige uma base teórica, na qual fundamenta suas técnicas e princípios que devem ser respeitados para que essa prática ocorra de forma correta e ética.
Vamos iniciar nossa aula conhecendo a relação da mediação com algumas disciplinas:
-Direito: A Mediação inspira-se no Direito quando objetiva auxiliar as pessoas a resolverem seus conflitos, orientadas pelo parâmetro da solução justa, respeitando as questões legais determinadas pela sua cultura. Isso fica mais claro quando, por exemplo, é solicitada a revisão legal de um acordo, antes da assinatura pelos mediandos, sempre que a matéria assim o exigir, cumprindo uma norma ética na Mediação. A mediação, dessa forma, poderia ser considerada como uma forma de ordem jurídica justa, porque leva a uma justiça mais:
Adequada: Aumenta o acesso à justiça porque, entre os outros métodos, possui uma forma mais apropriada de abordar e resolver aquele determinado conflito.
Tempestiva: Por ocorrer no tempo dos mediandos, uma vez que, de certa forma, estabelecem o período de duração da mediação, a partir de suas habilidades e capacidades de negociação, aumentam o acesso à justiça.
Efetiva: A solução é construída pelas próprias pessoas envolvidas no conflito, tendo como base a satisfação e o benefício mútuos, a partir do atendimento de suas necessidades, aumentando, assim, o acesso à justiça (ALMEIDA, 2014).
-Sociologia: A contribuição da Sociologia é decisiva para a compreensão do valor das redes sociais nos processos de negociação. Mediadores também trabalham com a negociação que os mediandos precisam fazer com os seus interlocutores – advogados, amigos, parentes, colegas de trabalho ou de crença religiosa, entre outros.
Com essas pessoas, são estabelecidas alianças e construídos entendimentos sobre o desacordo e sobre o outro, assim como soluções e interesses a serem defendidos.
Os mediandos não podem, em algumas situações, avançar em uma negociação, em função de compromissos estabelecidos com suas redes de pertinência. Nesses casos, é preciso ajudá-los a negociar com essas redes, dentro ou fora do processo de mediação, para que possa ocorrer a autocomposição.
A mediação estimula o diálogo dos mediandos com suas redes de pertinência e permite que elas venham à mediação, quando são identificadas como geradoras de impasses à solução do processo, ou, ainda, quando são o suporte para o cumprimento do que foi estabelecido na mediação.
Teoria dos sistemas:
Há anos, as pessoas perceberam que há coisas comuns nas diferentes áreas do conhecimento. Existem problemas similares que podem ser resolvidos com soluções similares. Essas mesmas pessoas perceberam que algumas características e regras aconteciam em todas as áreas. Assim, surgiu a definição de Sistema, que é um conjunto de elementos inter-relacionados com um objetivo comum.
Todas as áreas do conhecimento possuem sistemas com características e leis independentemente da área onde se encontram. Os sistemas apresentam como características básicas: os elementos formadores do sistema, a relação entre eles e um objetivo comum.
Além disso, não podemos esquecer o meio ambiente, que é o que está fora do sistema, ou seja, não pode ser controlado por ele. No entanto, o sistema pode estabelecer uma relação de troca com o meio ambiente e, por isso falamos que um pode influenciar o outro.
A abordagem sistêmica é uma forma de resolver situações sob o ponto de vista da teoria geral dos sistemas. Muitas soluções surgem quando analisamos um sistema sendo formado por elementos que estabelecem relações entre eles, que apresentam um objetivo, inseridos em um meio ambiente.
Essa abordagem é uma ferramenta, um método que nos capacita a promover mudanças. Ela enfatiza a interação entre os componentes em vez de os componentes por si só, o propósito dosistema em vez de suas causas, as regras operacionais que capacitam o seu desenvolvimento, o objetivo a ser alcançado, o futuro, o envolvimento das pessoas.
O olhar sistêmico, segundo Vasconcellos (2002), contribui para que a mediação reconheça os componentes multifatoriais dos desacordos – legais, psicológicos, sociológicos, financeiros, entre outros, e trabalhe com eles conforme a sua prevalência, de forma a atender aos interesses e necessidades dos mediandos.
Também como resultado dessa abordagem, os mediadores entendem que o que é trazido à mediação faz parte de uma cadeia de acontecimentos passados e futuros e que sua intervenção provocará alterações na lógica de desenvolvimento dessa cadeia, com repercussões sobre um conjunto de pessoas.
Os mediadores comprometem-se com o curso e com o resultado da mediação, agindo na condução de sua dinâmica, avaliando, de forma continuada, a adequação de sua atuação, pois a consideram parte do sistema de resolução. Os mediadores sabem que sua intervenção poderá contribuir para a construção ou para a desconstrução de impasses futuros.
Estratégias da abordagem sistêmica:
Algumas estratégias da abordagem sistêmica são importantes na mediação. Vamos vê-las a seguir:
Dividir para atingir um fim – todo problema deve ser dividido em partes menores porque isso facilita a sua compreensão e o seu manejo;
Identificar todas as partes do sistema – identificar tudo o que faz parte do sistema, porque algumas partes identificadas podem fazer a diferença;
Atentar para detalhes que estão sendo demonstrados pelas pessoas;
Olhar para o todo, para ter uma compreensão sobre como as partes se relacionam;
Utilizar analogias, comparações, ou seja, usar soluções antigas adaptadas à nova realidade, na solução de problemas similares.
-Teoria da cibernética: A Teoria Cibernética ou Teoria do Controle foi desenvolvida pelo matemático N. Wiener. E tem por objeto o estudo da autorregulação dos sistemas, uma vez que é necessária a manutenção da ordem no interior de cada um, ou entre sistemas, combatendo o caos. A cibernética é uma teoria de controle, baseada na comunicação entre os sistemas e o meio ambiente, bem como a comunicação dentro do próprio sistema. A Teoria da Cibernética foi dividida em dois períodos:
1º período- De acordo com Grandesso (2000), no primeiro período da cibernética, a preocupação consistia nos mecanismos e processos pelos quais os sistemas funcionavam com a finalidade de manter a sua organização. O objetivo do sistema era, então, corrigir os desvios para poder se manter estável e sobreviver. Esse processo é conhecido como retroalimentação, em que um sistema sobrevive mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio.
2º período- No segundo período da cibernética, mudou-se o foco de trabalho e o conflito passou a ter a função de mostrar que algo não vai bem no sistema. O foco sai do conflito e vai para as relações estabelecidas naquele sistema. Fato importante para o trabalho com a mediação. A partir desse segundo momento, houve a possibilidade de compreender o potencial de transformação dos sistemas, levando ao desenvolvimento de técnicas na mediação que possibilitassem a ampliação dessa capacidade de mudança.
Reflexão: Unindo os dois paradigmas teóricos, cibernético e sistêmico, podemos chegar à conclusão de que, na mediação, são trabalhadas as relações e a comunicação no sistema, propondo a compreensão da função do conflito dentro do próprio sistema. E, para isso, precisamos também do auxílio das teorias da comunicação, como uma forma de identificar como as pessoas estão expressando os seus conflitos.
-Teorias da comunicação: Teorias da comunicação contribuem com numerosas abordagens e dão suporte a algumas das técnicas utilizadas na Mediação.
A comunicação humana é uma das bases de sustentação da dinâmica da Mediação e precisa ser decifrada pelo mediador, a cada momento, de forma a servir de referencial para a identificação da intervenção a ser utilizada.
As contribuições são inúmeras. Algumas estão mais ligadas com o pragmatismo da comunicação humana (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967), outras com as narrativas e a análise dos discursos e de sua subjetividade (MAINGUENEAU, 1997).
Os axiomas da comunicação foram desenvolvidos por Watzlawick e colaboradores (1967) e fornecem importante base conceitual para entendermos o processo de comunicação, sendo aplicados no procedimento de mediação.
A seguir, veremos o que, resumidamente, estes autores estabeleceram.
É impossível não comunicar, mesmo quando achamos que não estamos nos comunicando, existe uma mensagem.
Há mediandos que utilizam o silêncio como estratégia para agredir o outro. Outros podem usar o silêncio para criar uma atmosfera de mistério sobre o que estão pensando, para aguardar que os outros transmitam informações importantes, que eles utilizarão de acordo com as suas conveniências.
O silêncio pode permitir a organização dos pensamentos e encorajar a outra pessoa a expandir suas ideias, reações ou sentimentos. Saber calar quando necessário também é muito importante na comunicação.O silêncio pode, também, ser sentido como confortável ou perturbador, e ser utilizado para aproximar ou afastar as pessoas nas relações com as outras.
Toda comunicação possui uma forma e um conteúdo. A relação entre o conteúdo e a forma na comunicação é chamada de metacomunicação. Pode-se usar de gestos, olhares, expressões corporais e faciais para dar mais ênfase ao que queremos comunicar e ao modo como queremos ser interpretados.
A técnica de metacomunicação é utilizada, em geral, quando queremos expressar algum sentimento, mas de forma não invasiva a uma pessoa. É uma forma menos brusca de se transmitir uma mensagem, como uma preparação para que a pessoa receba a mensagem sem constrangimento ou espanto.
Usamos a metacomunicação quando fazemos uma pequena introdução àquilo que se quer comunicar, por exemplo, ao noticiar fatos ruins, ao dar alguma advertência etc. 
Ao censurarmos alguém, podemos realizar uma metacomunicação verbal e não verbal, quando, por exemplo, dizemos “Estou brincando“ e piscamos o olho ao mesmo tempo. Essa comunicação precisa ser neutralizada pelo mediador, que deverá estar atento às situações.
A natureza de uma relação encontra-se na contingência da identificação das sequências de comunicação entre os envolvidos.
É fundamental identificar quem comunica, quem responde, como e quando, para obter informações a respeito do equilíbrio ou do desequilíbrio de poder nas relações, dos estados emocionais das pessoas e outras situações significativas na comunicação.
Os seres humanos comunicam-se de forma digital e analógica. Na mediação, na maior parte das vezes, a comunicação será analógica, ou seja, face a face.
Dessa forma, haverá possibilidade de observar os conteúdos analógicos da comunicação, como por exemplo: o sorriso, o brilho no olhar, o timbre de voz, a postura corporal, a disposição para ouvir etc. Esses conteúdos valorizam a comunicação e devem ser explorados pelo mediador.
Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares.
As simétricas são aquelas que possibilitam o diálogo entre as pessoas. Já as complementares, em geral, aparecem em situações de dependência, em que um manda e o outro obedece, um grita e o outro se cala, por exemplo. Este último tipo de troca deve ser convertido ou restabelecido em uma troca simétrica através do trabalho do mediador.
Em comum, tais contribuições trazem o entendimento de considerar a linguagem como um cenário em que se constroem os sujeitos, sua forma de expressão e de ação, nas suas relações com os outros.
-Comunicação não violenta (CNV): A Comunicação Não Violenta (CNV) é um processo conhecido por sua capacidade de inspirar ação solidária, ponto fundamental no procedimento da mediação. Foi desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, doutor em Psicologia Clínica, mediador internacional e fundador do Centro Internacional de Comunicação Não Violenta.
É uma teoria prática, que se confunde com um processo educativoe questiona os perigos da linguagem. A partir do conceito de Ahimsa, tornado famoso por Mahatma Gandhi, ressalta o poder que é liberado quando a intenção de agredir o outro é totalmente superada.
Baseado na ideia de que todos os seres humanos têm a capacidade da compaixão e recorrem à violência quando não percebem outro recurso, ou quando não têm suas necessidades supridas, busca-se criar uma cultura de expressão que resolva os conflitos, em vez de criá-los.
Para isso, a CNV se baseia na escuta empática e na expressão autêntica em três âmbitos: nossa própria experiência interior, nossa relação com os outros e nossa conexão com os sistemas nos quais estamos inseridos.
Ela foi utilizada, primeiramente, em projetos americanos do governo federal, a fim de
integrar, de forma pacífica, escolas e instituições públicas durante os anos 60. A CNV parte
da observação de que a crescente violência na qual vivemos e estamos inseridos é o resultado de uma lógica de ação e reação dissociada de seus verdadeiros valores.
A CNV afirma que formas culturais predominantes de comunicação levam-nos a entrar em
choque com as pessoas de opiniões e culturas diferentes. Em sua prática, a CNV propõe
alternativas aos confrontos em que nos colocamos e ajuda a desconstruir a lógica destrutiva
da raiva, da punição, da vergonha e da culpa. O seu fundamento é a cooperação e a harmonia, princípios e valores básicos universais.
Dessa forma, as críticas pessoais, os rótulos, os julgamentos dos outros, os atos de violência física, verbal ou social, são entendidos como expressões de necessidades não atendidas. A abordagem da CNV possibilita mudanças estruturais na forma de viver e organizar as relações humanas, responsabilizando as pessoas pelos seus atos, diminuindo a chance de agressões e opressões.
A Comunicação Não Violenta tem se mostrado eficaz na resolução de conflitos, tanto no
âmbito interpessoal, quanto na prevenção de agressões, na reconciliação de comunidades e
na criação de sistemas de parceria e convívio, que demonstram que a Cultura de Paz é
possível.
-Princípios da mediação:
LEI Nº 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015.
CAPÍTULO I
DA MEDIAÇÃO
Seção I
Disposições Gerais
Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios:
I - imparcialidade do mediador;
II - isonomia entre as partes;
III - oralidade;
IV - informalidade;
V - autonomia da vontade das partes;
VI - busca do consenso;
VII - confidencialidade;
VIII - boa-fé.
AULA 4
-Manejo do conflito: A mudança de foco na evolução da resolução (baseada na imposição, pela força e pelo poder para uma busca de solução que identifique os interesses das pessoas envolvidas e a possibilidade de atendê-las) levou a uma mudança de foco da preocupação com o resultado do problema para uma preocupação com as pessoas e suas relações.
Essa mudança nos leva a entender que não existe uma solução apenas para resolver os conflitos. Dessa forma, vários autores destacam alguns aspectos importantes a serem observados na forma de abordar os conflitos. Schimidt e Tannenbaum (1992)apontam para três aspectos que devem ser observados no diagnóstico de uma situação de conflito. São eles:
Pontos de vista e interesses divergentes – a natureza das diferenças;
Informações, percepções e papéis que as pessoas ocupam na sociedade – fatores subjacentes;
Momento em que o conflito se encontra – estágio do conflito.
-Classificação de conflito:
Intrapessoal- É um conflito exclusivamente nosso, e que, às vezes, existe porque nós o vivemos assim. Ou seja, é o que cada um de nós vive quando está perante motivações que são incompatíveis. É o que chamamos de conflito interno.
Interpessoal- Os conflitos interpessoais se dão entre duas ou mais pessoas e podem ocorrer por vários motivos: diferenças de idade, de sexo, de valores, de crenças, por falta de recursos materiais, financeiros, e por diferenças de papeis. Neste último caso, podemos dividir o tipo de conflito em duas situações: conflitos hierárquicos são aqueles que colocam em jogo as relações com a autoridade existente; e conflitos pessoais, que dizem respeito ao indivíduo, à sua maneira de ser, agir, falar e tomar decisões. Você já percebeu que as relações interpessoais, com sua pluralidade de percepções, crenças e interesses, são conflituosas. Negociar conflitos é o nosso cotidiano.
Intragrupal- Falar de conflitos grupais é muito complicado porque a mera descrição de algumas características não esgotará todas as possibilidades de se entender essa questão. As diferenças individuais têm influência na dinâmica dos grupos, podendo levar a discussões, tensões, insatisfações e ao conflito aberto, ativando sentimentos e emoções mais ou menos intensos, que afetam a objetividade do grupo, reduzindo-a a um mínimo e transformando o clima emocional do grupo.
Intergrupal- Esse conflito ocorre quando temos dois ou mais grupos com um problema a ser resolvido. O conflito intergrupal é definido como uma incompatibilidade de objetivos, crenças, atitudes ou comportamentos encontrados entre grupos.
Social- É o conflito que afeta a sociedade como um todo. Os conflitos na sociedade humana não podem ser reduzidos a uma abordagem, tendo em vista que cada nação, cada cultura, cada sociedade engendra modelos de relações sociais que são, invariavelmente diferentes, gerando conflitos sociais com interesses também diferentes.
Além disso, para os mediadores, os conflitos também podem ser divididos em quatro espécies. Ainda, tais espécies podem ocorrer de forma cumulativa em determinadas situações. São elas:
Conflitos de valores- Ocorrem entre pessoas que têm modos diferentes de vida ou critérios divergentes de como avaliar comportamentos. Os valores surgem como uma expressão cultural específica das necessidades, das motivações básicas e dos requisitos do desenvolvimento comuns a todos os seres humanos, que podem ser exemplificados pelas diferenças morais, éticas, religiosas etc. As diferenças reais ou percebidas em termos de valores não levam necessariamente ao conflito. Este surge apenas quando são impostos valores aos grupos ou quando se impede que os grupos mantenham os seus sistemas de valores (ONU,2001).
Conflitos de informação- Envolve a falta de informação e a informação errônea, assim como pontos de vista diferentes sobre os dados que são relevantes, a interpretação desses dados e como é feita a avaliação (ONU,2001). Podem decorrer da sonegação de dados ou de mensagens mal compreendidas, podendo a informação ser distorcida ou ter uma conotação negativa.
Conflitos estruturais- São causados pela distribuição desigual ou injusta do poder e dos recursos. Limitações de tempo, padrões de interação destrutivos e fatores geográficos ou ambientais desfavoráveis (ONU,2001).
Conflitos de interesses- São aqueles que envolvem a concorrência real ou percebida de interesses em relação aos recursos, à forma de resolver uma disputa ou às percepções de confiança e equidade (ONU,2001).
-Níveis de conflito
Ainda podemos falar de diferentes níveis em que o conflito pode ocorrer. São eles:
Latente- O conflito latente pode-se dizer que existe, mas não é dito, porque não é percebida a sua existência por quem o detém. O conflito está lá, mas escondido, não é notado nem sentido ainda;
Percebido- A pessoa ou as duas partes sabem da existência dele, mas não querem resolvê-lo, talvez por não incomodar o suficiente, ainda, os envolvidos;
Sentido- É aquele que já atinge ambas as partes, e em que há emoção e consciência da sua existência;
Manifesto- “A agressividade está explícita, os comportamentos são assumidos como tais. Essa agressão explícita pode variar desde a resistência passiva branda, passando pela sabotagem, até o conflito físico real” (BOWDICTH, 2002, p. 111).
-Conflito e mediação: 
Para lidarmos bem com nossos conflitos interpessoais, devemos desenvolver uma comunicação de caráter construtivo. A evolução do conflito e suas manifestações ligadas à violência variam de acordo com as circunstâncias históricas, sociais, culturaise econômicas. Os conflitos, como percebemos, têm aspectos positivos e negativos, e pode haver um ciclo construtivo e outro destrutivo, a partir de um certo nível. A visão negativa que temos do conflito está mais ligada ao desgaste emocional que eles geram.
Um manuseio adequado do conflito tem a ver com a gestão das relações emocionais que eles provocam. O mediador contribui com um outro olhar sobre a questão. Deve fazer com que as partes enxerguem esse conflito como um espaço de reconstrução, de aprendizado e de formação de sua autonomia. O mediador precisa cooperar para que o conflito seja visto e analisado de forma pedagógica e, assim, contribuir para que a mediação seja compreendida como um espaço de aprendizagem das questões que estão sendo discutidas e, também, dos próprios envolvidos.
O conflito precisa ser interpretado e elaborado pelos interessados em conjunto com o mediador, pois é dessa forma que eles poderão ser ressignificados e transformados. O mediador deve tratar o conflito como algo positivo, sem a percepção de ameaça, atuando com moderação, equilíbrio, naturalidade, compreensão, não reagindo de forma a lutar ou fugir, pois, se o conflito for visto como uma questão negativa, poderá desencadear a reação denominada “retorno de luta ou fuga”.
O mediador não encerra o conflito segundo as normas legais, comunicando a sua decisão às partes. Ele incentiva a construção de um acordo comum, construído a partir dos conhecimentos e com as propostas dos envolvidos. Sendo assim, o mediador estimula a transformação da curiosidade comum em curiosidade do conhecimento a respeito da situação.
A mediação é uma prática pedagógica para a autonomia, voltada para a emoção e ligada com a ressignificação dos conflitos e com a origem dos sentimentos. É importante, na mediação, a escuta do outro, revelando-se, cada vez mais, como uma prática política e ética na formação e no crescimento do ser humano.
AULA 5
-Fundamentos da negociação: Somos todos negociadores, desde crianças e durante toda a nossa vida. Negociar é um ato inevitável em nosso dia a dia. Negociamos aumento de salário, tentamos chegar a um acordo sobre o preço de uma mercadoria à venda, tentamos persuadir nosso amigo a ir ao cinema no sábado à noite. Todos esses casos são exemplos de negociação. Apesar de usarmos a negociação todos os dias, não é fácil realizá-la e, muitas vezes, as pessoas podem ficar insatisfeitas, com raiva ou cansadas.
A negociação direta é considerada um meio autocompositivo de resolução de conflitos e, a partir dos estudos sobre negociação da Escola de Direito de Harvard, ganharam uma perspectiva colaborativa, fundamental para a mediação.
As negociações podem ocorrer de várias formas, e há vários perfis de negociadores. No entanto, o melhor caminho para uma negociação é a colaboração. A partir dela, haverá a possibilidade de construir o consenso e de chegar a um acordo, sem o desgaste da relação.
A negociação é o meio pelo qual as pessoas lidam com suas diferenças. Na verdade, negociar é buscar um acordo por meio de um diálogo. É importante que você perceba que a negociação está de forma permanente em nossas vidas. Negociamos com nossos pais, nossos filhos, nossos companheiros, ou seja, tanto em nossa casa, como no trabalho com nossa chefia ou nossos subordinados.
-Conceito de negociação: O que se escrevia sobre negociação consistia em estratégias para tirar vantagem sobre o adversário por meio de truques que só funcionavam se ele não tivesse lido nada sobre o tema. No final da década de 70, a negociação começou a ser estudada de forma integrada, com metodologia e visando uma aplicabilidade a qualquer tipo de negociação e útil para todas as partes envolvidas na negociação.
A partir dessa mudança de abordagem da negociação como tema de estudo e desenvolvimento, surgiram diferentes modelos para a prática da negociação que tiveram a colaboração de várias ciências, como a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Política, entre outras. Essas disciplinas foram importantes porque trouxeram contribuições para o aprofundamento das formas como as pessoas podem resolver os seus problemas juntas, trabalhando e construindo algo sobre as suas diferenças.
Observe três condições necessárias para que uma negociação ocorra:
As partes devem ter interesses em comum– as partes preferem, em conjunto, certos resultados no lugar de outros.
As partes devem ter interesses conflituais– alguns dos resultados desejados são melhores para uma das partes e outros são melhores para a outra.
As partes devem ter possibilidade de comunicar entre si- para que exista a busca de um acordo, é necessário ter oportunidade de comunicar o que se oferece e o que se aceita.
-Negociação como processo
A negociação é um processo em que deverá ocorrer um planejamento prévio, desenvolvimento e conclusões finais. A necessidade de negociar surge quando duas ou mais partes desejam resolver um conflito, chegando a um acordo que seja benéfico para todos. O desejo de chegar a um acordo é um requisito que não pode faltar em uma negociação.
Segundo Moore (1998), para que ocorra o processo de negociação, é imprescindível uma série de quinze condições, são elas:
Partes identificadas que estão dispostas a participar– se uma parte decisiva está ausente ou não está disposta a negociar, diminui a possibilidade de acordo;
Interdependência– para que a negociação seja produtiva, os participantes devem depender uns dos outros para a satisfação de suas necessidades e interesses;
Disposição para negociar– para que comece o diálogo, as partes têm de estar dispostas a negociar;
Meios de influência ou de pressão– para que as pessoas cheguem a um acordo sobre problemas sobre os quais discordem, devem possuir alguns meios de influenciar nas atitudes ou nas condutas das outras partes;
Acordo em alguns pontos de interesse– em geral, os participantes compartilham alguns pontos de interesses e outros não;
Vontade de acordo– se a continuação de um conflito é mais importante que o acordo, a negociação está condenada ao fracasso;
Resultado imprevisível– as pessoas negociam porque o resultado de não negociar é imprevisível;
Urgência e velocidade de tempo– os participantes devem ter uma sensação de urgência e ser conscientes de que, se não conseguirem uma decisão a tempo, poderão sofrer uma ação adversa ou uma perda de benefícios;
 Ausência de impedimentos psicológicos importantes para um acordo– fortes sentimentos expressados ou silenciados para a outra parte podem afetar a disposição psicológica de uma pessoa para negociar;
Os temas têm de ser negociáveis– as partes devem estar conscientes de que há opções de acordo aceitáveis que tornam possível a participação no processo.
As pessoas têm autoridade para decidir– se uma das partes não tem direito legitimado e reconhecido para decidir, o processo será apenas uma troca de informações entre as partes;
Vontade de compromisso– para alcançar uma conclusão satisfatória deve–se ter o
compromisso de aceitação das partes daquela decisão;
O acordo deve ser razoável e realizável– os participantes devem ser capazes de construir um acordo realista e factível;
Fatores externos favoráveis ao acordo– devem ser criadas condições externas favoráveis a um acordo;
Recursos para negociar– os participantes devem colocar em ação suas habilidades necessárias para negociar e o compromisso com o diálogo.
MOORE, C. W. O processo de mediação. Estratégias práticas para a resolução de conflitos. 2. ed. Porto
-Negociação colaborativa, integrativa ou baseada em princípios: Agora que você já conheceu as condições para que ocorra uma negociação, vamos iniciar nossa aprendizagem sobre a Negociação colaborativa ou baseada em princípios, desenvolvida pela Escola de Harvard.
A abordagem principal da negociação, utilizada na mediação, é aquela que foge de uma forma de negociar chamada de posicional. Nesse tipo de negociação, os negociadores se tratam como oponentes, o que acarreta uma situação em que um ganha e o outro perde. No lugar de analisar osméritos da questão, as partes pressionam o máximo e cedem o mínimo. Desse modo, pode haver um aumento de raiva e ressentimento, prejudicando a relação social dos envolvidos e, principalmente, levando uma parte a sentir que está cedendo às intransigências da outra, enquanto suas preocupações permanecem desatendidas. Voltaremos a apresentar essa negociação quando abordarmos a barganha distributiva.
Destacamos a importância da negociação colaborativa ou baseada em princípios, que chega a resultados justos, abordando os reais interesses dos envolvidos, e não suas posições. É muito importante que você aprofunde seus conhecimentos sobre essa negociação e, para isso, indicamos o livro: Como chegar ao SIM, de Roger Fisher, William Ury e Bruce Patton (2005).
Para esses autores, quatro pontos fundamentais são necessários na negociação colaborativa:
Separação das pessoas dos problemas- Os negociadores são pessoas que, em conflito, tendem a misturar questões referentes à relação com a questão objetiva a ser negociada. Os aspectos pessoais fazem parte da negociação, não podem ser ignorados, mas não devem se misturar às questões objetivas. O revide em uma discussão não ajudará a solucionar um problema. As emoções se misturam com frequência aos méritos de uma negociação. As questões subjetivas – relacionais, emocionais, comunicacionais – devem ser reconhecidas e trabalhadas através de ferramentas apropriadas que veremos na aula 7.Dessa forma, antes de atacar as pessoas, deve-se atacar os méritos da negociação. Por exemplo, alguém pode iniciar uma negociação exigindo que uma pessoa se mude de um condomínio porque não tem educação quanto à altura do som que costuma escutar. Uma outra forma de iniciar a mesma negociação seria falando sobre algumas práticas como as proteções acústicas existentes e muitas utilizadas na vizinhança. Ao estabelecer que o problema é o vizinho, a comunicação fica difícil na negociação.
Foco nos interesses e não nas posições- Um conflito se expressa, primeiro, através de posições. Os autores do livro já citado Como chegar ao Sim (FISHER; URY e PATTON, 2005), apresentam um exemplo que esclarecerá muito bem o que estamos querendo dizer.Exemplo: duas irmãs brigavam por uma laranja. Depois de muita discussão resolveram dividi-la ao meio. A primeira pegou a sua metade, comeu a polpa e jogou a casca no lixo; a segunda usou a casca de sua metade para fazer uma geleia e jogou a polpa fora.Como você explicaria o que aconteceu?Se elas tivessem usado uma negociação colaborativa e colocado o foco nos seus interesses e não em suas posições, teriam terminado a negociação integralmente satisfeitas.Muitos autores costumam representar este tema usando a figura do iceberg. As posições correspondem à parte visível do iceberg e os interesses o que fica submerso e deve ser descoberto.Os interesses são identificados por meio de perguntas como: por quê? Com qual finalidade? O que pretendo ou o que o outro pretende?
Geração de opções de ganhos mútuos- Muitas vezes, as pessoas em conflito acreditam que apenas existe uma quantidade fixa de recursos a serem partilhados. Quando uma parte fica atendida na maior parte de seus interesses, a outra se sentirá desatendida. Neste caso, a ideia é aumentar os recursos disponíveis, gerando novas possibilidades para resolver o conflito. Os negociadores devem buscar atender os interesses de todos os envolvidos, numa solução ganha-ganha. É através da geração de novos recursos, articulação de necessidades e possibilidades de cada um dos negociadores que será possível atender os interesses em comum e criar harmonia entre os diferentes, de forma a satisfazer a todos os envolvidos. São diferentes as necessidades dos negociadores e estas podem trabalhar de forma a gerar benefícios mútuos. O que para um negociador é secundário, para o outro pode não ser, o que pode gerar novos recursos de negociação.
Utilização de critérios objetivos- Os negociadores devem utilizar critérios objetivos para avaliar as soluções que foram levantadas e para a tomada de decisão. Como esses critérios são externos, não envolvem a subjetividade das partes na decisão e evitam a polarização nesse momento. São exemplos: a legislação, o parecer de um técnico, o valor de mercado etc.
-Melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA): Além dos quatro princípios da Escola de Harvard, um importante conceito é o da melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA). Trata-se do curso de ação de nossa preferência caso não haja consenso. É saber o que faremos ou o que vai acontecer se não conseguirmos chegar a um acordo. É importante observar qual é a MAANA antes de entrar em uma negociação, do contrário, não se saberá se o acordo será proveitoso ou não.
Por exemplo, Luis XI, rei da França resolveu negociar quando Eduardo IV, rei da Inglaterra, atravessou o Canal da Mancha para capturar territórios franceses. Sabendo que poderia envolver-se em uma guerra prolongada e dispendiosa (MAANA), Luis XI calculou que seria melhor fazer um acordo com Eduardo IV. Assinou um tratado de paz com o rei da Inglaterra, pagando um certo valor adiantado e uma anuidade pelo resto da vida do monarca inglês, expulsando os ingleses da França.
O melhor negócio não é aquele que prevalece em detrimento do outro, mas aquele que satisfaz os dois lados.
-Barganha distributiva e negociação integrativa: É importante lembrar que a escolha do tipo de negociação está ligada a uma série de fatores como:
O objetivo que se tem em mente ao participar da negociação;
O comportamento característico dependendo da abordagem utilizada;
Os resultados alcançados a partir do modelo usado.
Não basta saber que o conflito é uma oportunidade positiva, mas temos de saber em que essa disputa pode contribuir para a vida das pessoas envolvidas. Em contraposição a essa negociação, temos a barganha distributiva ou negociação baseada em posições, em que os interesses reais das pessoas não serão contemplados e sequer discutidos, podendo levar a negociação para um impasse e deterioração das relações. A barganha distributiva tem como premissa que tudo que se ganhar na negociação é à custa do oponente. Cada ganho que tiver implica diretamente perda para o outro. Exemplo: Se você vai negociar o prazo de entrega de um relatório com um membro de sua equipe e o pressiona para que a data seja antecipada para o mais breve possível, cada dia que se ganhar de antecipação implica diretamente trabalho dobrado para o outro, porque esse terá que se dedicar ao máximo para dar conta dessa demanda e de outras.
De acordo com o Manual de Mediação Judicial (2013):
O regateio, a barganha, a informação não revelada, a desconfiança na proposta do outro lado, a sensação de que pode estar sendo enganado, o jogo de concessões mútuas, a necessidade de dividir a diferença ou o prejuízo, o medo de estar sendo explorado e tantos outros aspectos, fazem parte de um tipo de negociação impregnado culturalmente em nossa sociedade.
Voltando à aula 4, a partir da Moderna Teoria do Conflito, devemos utilizar as situações de conflito como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e geração de ganhos mútuos. É importante aproveitar a energia do conflito causado pela divergência de interesses, ideias e valores para construir novas realidades e relacionamentos, mais produtivos para todos. A negociação integrativa, como já vimos e queremos reforçar porque ela é fundamental para a mediação, é uma forma de resolver conflitos que leva em conta a satisfação conjunta dos interesses das pessoas envolvidas. Ela obedece a uma sequência lógica e cronológica de passos a serem seguidos, diferente da barganha distributiva, em que a resolução da questão acontece de forma aleatória. Os passos a serem seguidos são:
Identificar e definir o problema;
Entender o problema e trazer os interesses e necessidades para a negociação;
Gerar soluções alternativas para o problema;
Avaliar e selecionar as alternativas.
-Habilidades do negociador: Em linhas gerais, as habilidades que os negociadores utilizamdepende do tipo de negociação que será realizada, do método e das estratégias empregadas. No entanto, existe um número significativo de habilidades que todo negociador deve ter, independente da situação. Resumindo algumas, podemos destacar:
Excelente comunicação;
Flexibilidade;
Criatividade;
Capacidade de observação;
Decisão.
Além disso, não deve superestimar ou subestimar as suas próprias capacidades pois, isso pode levar ao fracasso da negociação.
AULA 6
 -Agentes e alguns fatores importantes na mediação: Definiremos, a seguir, os sujeitos no processo de mediação. Contudo o faremos de forma geral, lembrando que, no Judiciário, existem algumas peculiaridades, a partir da Lei da Mediação e do novo CPC, que serão explicados separadamente.
Mediador- O mediador tem como função exclusiva mediar a negociação. Ou seja, ele está eticamente impedido de exercer sua profissão de origem, inclusive no que diz respeito a prestar esclarecimentos técnicos às partes. Caso essas informações sejam necessárias, os mediandos devem ser orientados a procurar um especialista naquela área. O mediador deve cumprir e fazer cumprir os princípios da mediação, vistos na aula 3. É frequente, quando possível ou necessário, o trabalho em conjunto, chamado de comediação. Em geral, usamos esse termo para designar o trabalho de duplas de mediadores, que apresenta características valorizadas na mediação como: colaboração, diálogo e inclusão. É um trabalho enriquecedor porque, de certa forma, amplia a visão sobre o conflito, suas possibilidades de atuação, além de demonstrar para os mediandos a possibilidade de um trabalho colaborativo. Para um aprofundamento sobre a importância da comediação, sugerimos a leitura da página 82 do Manual de mediação Judicial (2013).
Partes- São os participantes da mediação e aqueles que têm o poder de decisão. A participação de quaisquer outros poderá ser vista como uma violação ao caráter privado e confidencial da mediação, pondo em risco o seu sucesso, por dificultar a abertura do diálogo. No entanto, em muitos casos, a decisão poderá vir a traduzir-se em impacto nas relações pessoais dos intervenientes, pelo que se promove a consideração da possível intervenção de outras pessoas relevantes para o processo. Mas essas são situações que deverão ser analisadas caso a caso, não trataremos delas neste momento. Destacamos, contudo, que tais discussões devem ser realizadas numa capacitação e em sua respectiva supervisão. As partes têm autonomia e protagonismo na mediação. Sendo toda e qualquer decisão fruto de suas reflexões e diálogos. Além disso, devem assumir a responsabilidade de tomar as decisões que influenciarão as suas vidas, no presente e no futuro.
Advogados- A mediação é um processo que não envolve apenas direitos, mas outros interesses mais amplos. Na maior parte da mediação, quando há a presença dos advogados, estes não se manifestam. E, se isso ocorre, entendemos que estão desempenhando os seus papéis de forma correta. Por quê? O objetivo da mediação é promover a comunicação entre as partes, é permitir que elas se expressem livremente e que possam se entender diretamente a partir daí. Os advogados são os assessores jurídicos das partes, garantindo que ninguém abrirá mão de direitos sem estar plenamente consciente dessa renúncia e dos ganhos possíveis decorrentes da decisão. Assim, os advogados ou representantes legais participarão das mediações, também esclarecendo os direitos de seus clientes. Para que você entenda melhor como ocorre a mediação judicial e a participação desses profissionais, julgamos fundamental a leitura dos dois documentos que especificam e esclarecem sua participação na mediação: a lei da mediação e o novo CPC. Acrescentamos, ainda, algumas considerações importantes sobre os advogados na mediação, destacadas na página 86 do Manual de Mediação Judicial (2013).
-Estrutura do processo de mediação: Antes de conhecermos a dinâmica da mediação, é necessário entender que ela é composta de uma série de atos coordenados, no entanto, o mediador tem a liberdade de, dependendo da situação, flexibilizar o procedimento para que seja eficaz. Cada mediador desenvolve e tem um estilo próprio, respeitando as questões técnicas e éticas. É essa flexibilidade que torna a mediação um procedimento que requer não apenas a capacitação, mas também a criatividade do mediador.
Além de enfatizar a flexibilidade na estrutura do processo de mediação, é importante destacar a informalidade que ela deve incentivar. Para isso, é necessário que o mediador não se apresente como uma figura de autoridade. Ele deve coordenar a mediação em um tom de conversa, sem formalidades e estimulando o diálogo. Você deve entender que essa informalidade não exclui a preservação de uma postura profissional adequada.
-A dinâmica da mediação: Atualmente, no Judiciário, temos uma série de procedimentos que deverão ser seguidos para que a mediação ocorra. Podemos citar, entre eles, o encaminhamento para a mediação, o comparecimento obrigatório a partir da designação da mediação, além da possibilidade de poder desistir do processo sem mesmo ter comparecido a ele em um primeiro momento. Para melhor esclarecer esses aspectos, acreditamos ser fundamental para o seu aprendizado a leitura dos documentos que legalizam a mediação: a lei 13.105 (2015) e a lei 13.140 (2015).
Em contrapartida, nas mais variadas áreas, incluindo aquelas ligadas ao Judiciário (a Defensoria Pública, os Escritórios de Prática Jurídica das Universidades, por exemplo), podemos ter a situação em que uma pessoa procura a instituição para dar entrada em uma ação. É, pois, oferecida a mediação (com uma breve explicação sobre ela) a partir de uma avaliação sobre a pertinência desse procedimento, segundo o caso apresentado.
Sendo aceita a proposta pela parte, é importante que o contato com a outra seja realizado, por escrito ou por telefone, mas, principalmente, sob a forma de um convite para um diálogo, e não de uma convocação. Havendo a aceitação do convite, teremos um momento denominado pré-mediação. Antes de falarmos da pré-mediação, é importante lembrarmos que o seu ambiente deve ser bem confortável, mantendo a privacidade, e estimulante para o diálogo. O espaço deve conter, sempre que possível, uma mesa redonda, em que é criada a garantia de que todos se veem e estão no mesmo plano. Todos devem ter acesso a papéis e canetas para realizar as anotações que se fizerem necessárias.
-Pré-mediação: Esse momento pode ser feito individualmente ou com as duas partes simultaneamente.
Na pré-mediação, ocorre a troca de informações que antecede a mediação propriamente dita. O mediador explica sobre o processo de mediação, avalia se ela é possível, a partir das informações das partes, e analisa a possibilidade da sua atuação como mediador naquele caso (se há algum impedimento quanto a sua imparcialidade).
É importante que, na pré-mediação, os mediandos sejam informados sobre a técnica da mediação, seus objetivos e alcance. São descritos os papéis do mediador e dos mediandos. Se estes comparecerem com seus advogados, o mediador deve esclarecer a importância deles como assessores e consultores jurídicos, assegurando que a mediação é uma prática colaborativa que busca o consenso. Devem ser tranquilizados sobre a necessidade desses profissionais na revisão legal do acordo e encaminhamento para a homologação do mesmo, caso seja preciso. 
Há um breve relato das partes sobre o conflito, a fim de ser avaliada a pertinência da mediação e a existência de algum impedimento ético ou pessoal. Após a pré-mediação, se os mediandos optarem pela mediação e o mediador avaliar como possível sua realização, o procedimento terá início.
Alguns autores evidenciam a importância de estabelecer uma agenda nessa fase, que deve conter os seguintes itens: estimativa do tempo de duração, frequência e duração das reuniões; lugar e idioma da Mediação ou, se assim o desejarem, deixar a critério da Instituição ou entidade organizadora do serviço; e custos e formas de pagamentoda Mediação.
-Etapas da mediação:Vamos observar, agora, como as etapas da mediação funcionam.
Abertura- Chamamos esse momento de discurso de abertura. É a partir daí que tem início a mediação. O discurso pode ocorrer após a pré-mediação, principalmente quando as partes comparecem juntas, ou em um outro momento em que deve ser lembrado, de forma resumida, o que foi conversado na pré-mediação. São estabelecidas, pois, as regras de comportamento dos mediandos, os princípios da mediação e o papel do mediador. Quanto à regra fundamental, deve ficar claro que, para uma comunicação ser eficaz, quando uma parte fala, a outra deve escutar, sem interromper. O enfoque das partes deve ser nos interesses e não na discussão de provas jurídicas. Deve ser abordada a possibilidade de sessões individuais, além das expectativas do mediador em relação às partes. Deve ser relembrado o papel dos advogados na mediação e explicado como a mediação ocorrerá. O entendimento das regras pelas partes deve ser confirmado, além da disposição de participarem. Após esse momento, em vários setores, há a assinatura de um Termo que pode ser denominado, por exemplo, Termo de Consentimento ou Termo de Participação, dependendo da instituição em que acontece a mediação. Para que você veja como uma sessão de abertura ocorre, indicamos a leitura do material do Manual de Mediação Judicial (2013) contido nas páginas 97 a 112.
Relato das histórias- Nesse momento, ouvimos a história de cada uma das partes sobre o conflito que as levou à mediação. O objetivo é dar a todos a oportunidade de ouvir o relato dos fatos e analisar as percepções das pessoas envolvidas. Podemos ter uma visão geral e, ao mesmo tempo, identificar questões e interesses que estão por trás das posições declaradas nas histórias. Há possibilidade de expressão de sentimentos, sem interrupções ou outros impedimentos, sempre mantendo um clima respeitoso e educado. O mediador deve escutar os relatos de forma ativa (ferramenta que será estudada na aula 7) e, após a exposição das partes sobre suas perspectivas, poderá elaborar perguntas, reunindo informações que o auxiliarão a entender aspectos que podem não estar claros em relação ao conflito trazido.
Resumo- Após o relato das histórias, o mediador faz um resumo do que foi dito, utilizando uma linguagem neutra ou positiva. Ele deve transformar posições trazidas nos relatos como, por exemplo, “Eu não aceito pagar esse valor pelo serviço prestado, porque isso não foi o combinado”, em interesses “Acredito que o senhor esteja falando que concorda em pagar o valor justo pelo serviço prestado” (veremos mais detalhes na aula 7). Como você percebeu, o mediador faz uma leitura do conflito de forma despolarizada, evidenciando interesses comuns e compartilhados, que foram identificados nos relatos das partes, potencializando uma postura colaborativa. O resumo fornece uma orientação para a mediação, buscando centralizar o diálogo entre as partes para os principais pontos a serem trabalhados. O mediador deve construir uma versão imparcial, neutra e prospectiva daquilo que escutou e entendeu. Além disso, a realização do resumo serve para avaliar a compreensão do mediador sobre o que foi trazido. É importante saber que a técnica do resumo pode ser utilizada em etapas posteriores: após troca de informações importantes, após sugestões de possíveis soluções, lembrar os reais interesses e apaziguar ânimos.
Pauta de trabalho- Após o resumo realizado pelo mediador e a confirmação das partes sobre a compreensão do profissional em relação ao ocorrido, é definida uma pauta de trabalho. Esta traduz os interesses ressaltados em temas a serem tratados. Ela pode ser confirmada, ratificada ou adequada pelos mediandos. A pauta é dinâmica e deve ser atualizada conforme o trabalho na mediação vai acontecendo. Podem aparecer outros temas no decorrer da mediação e deverão ser organizados pelo mediador, para que mantenham uma sequência lógica. Sistematizar o trabalho através de uma pauta de trabalho é uma forma de organizar a mediação e promover uma certa tranquilidade aos mediandos, que conhecerão os temas a serem tratados. É importante que se inicie a mediação a partir dos temas que apresentam menos desacordo, para que possa ser criada a percepção nos mediandos de que a colaboração entre eles é possível.
Esclarecimento das controvérsias- Com o uso das ferramentas que serão apresentadas na aula 7, o mediador trabalhará as questões da pauta de trabalho junto com os mediandos, buscando elucidá-las.
Resolução de questões- A partir do trabalho realizado quanto ao esclarecimento das controvérsias e tendo sido alcançada a compreensão sobre o conflito, chega a hora de o mediador utilizar as ferramentas para conduzir as partes para a análise das possíveis soluções. É importante que os mediandos elejam critérios objetivos na tomada de suas decisões, evitando o surgimento de novas polarizações.
Finalização da mediação- Você deve saber que a mediação pode terminar com a assinatura ou não de um acordo ou pode ser interrompida a qualquer momento pelo mediador ou pelas partes quando alguma situação dificultar a sua continuidade. No entanto, isso não quer dizer que a mediação que não acaba em acordo, assinado ou não, seja um fracasso. Muitas vezes, a mediação já possibilitou a abertura para um diálogo, que levará a uma solução daquele conflito no Judiciário, frente ao juiz, se for o caso, ou em um outro momento. O acordo escrito deve ser redigido pelo mediador, na linguagem dos mediandos, evitando, sempre que possível, o uso de termos técnicos que comprometem a compreensão deles. Deve refletir os compromissos mútuos e sua complementaridade. A linguagem é sempre positiva, otimista e com foco no futuro. Deve ser lembrada a possibilidade de um acordo provisório, que necessitará de um período de monitoramento ou de reavaliação para verificar a eficácia ou não daquela decisão. Essa situação ocorre com a marcação de futuras sessões de mediação a fim de avaliar a necessidade ou não de revisão sobre o que foi combinado.
-Benefícios da mediação: Todos nós já sabemos que um conflito é muito mais amplo do que aquilo que é apresentado e discutido entre as partes. Temos o que as partes revelam e o que é realmente o interesse delas.
Sendo assim, acreditamos que só quando resolvemos o conflito como um todo é que teremos resolvido a questão. Não basta solucioná-la superficialmente se os verdadeiros interesses, que motivaram o conflito, não foram identificados e muito menos resolvidos. Além do problema trazido pelas partes, temos, em várias situações, relacionamentos anteriores que ficaram desgastados, personalidade de cada um dos mediandos, valores, formas de comunicação e, ainda, seus interesses e necessidades. Algumas pessoas acreditam que esses fatores são secundários na solução de conflitos, mas, pelo contrário, eles estão na origem do conflito.
É a partir da consideração desses aspectos, que são trabalhados pelo mediador, que as partes chegarão a um diálogo construtivo, transpondo as barreiras de comunicação e superando as diferenças para chegarem a uma solução. Como você está percebendo, a mediação apresenta vários benefícios. Podemos destacar, por exemplo, o empoderamento das partes, em que cada uma delas terá o seu senso de valor e poder restaurado para que possa resolver aquele conflito e os futuros conflitos, porque, como sabemos, não há vida sem conflitos.
Um outro benefício da mediação é poder proporcionar um ambiente neutro para que as partes possam expor os seus sentimentos e, também, compreender o ponto de vista contrário, com a facilitação da comunicação pelo mediador. Sendo assim, há a possibilidade de manter, construir de outra forma ou melhorar o relacionamento com a outra parte. E, por fim, não poderíamos deixar de lembrar da celeridade e dos baixos custos que envolvem a mediação.
AULA 7
-Introdução Ferramentas da Mediação: Esclareçamos a seguinte questão: Por que o termo “ferramentas”? Caixa de Ferramentas, segundo Almeida (2014), é uma metáfora usualmenteempregada na prática da mediação para designar o conjunto de técnicas e procedimentos utilizados na dinâmica desse processo.
Um dos maiores desafios para a mediação é trabalhar desarmando as defesas e as acusações das partes, buscando a cooperação entre elas e o caminho para uma solução conjunta. Para estimular o processo e construir o entendimento recíproco, utilizamos essas ferramentas.
-Ferramentas da mediação: Como uma prática que visa favorecer o diálogo, a mediação de conflitos utiliza várias ferramentas, para permitir que os mediandos consigam realizar uma dinâmica pautada na comunicação, favorecendo as suas relações. Essas ferramentas são importantes tanto para a construção do rapport como para a melhora do diálogo entre os mediandos, sendo este o principal objetivo do trabalho na mediação.
É importante reforçar que as ferramentas são utilizadas durante todo o processo de mediação, sendo fundamental para o mediador o seu conhecimento e a sua aplicação nos diferentes momentos do processo.
A seguir, conheceremos algumas dessas ferramentas:
Recontextualização ou parafraseio: A recontextualização consiste em uma técnica em que o mediador irá estimular as partes a perceberem determinado contexto a partir de outra perspectiva. Esse trabalho consiste em estimular a pessoa a considerar ou entender certo comportamento, expressão, interesse ou situação, de forma mais positiva, para que se possa trabalhar soluções também positivas para aquela questão. O sentido original da fala é mantido e podem ser utilizadas palavras ou expressões do discurso dos mediandos. O mediador chamará a atenção para aspectos importantes e significativos das falas dos mediandos, levando-os a uma nova escuta. O parafraseio possibilita que o autor da fala escute o que disse, novamente, podendo reorganizá-la ou confirmá-la. O ouvinte tem a oportunidade de escutar o que foi falado pela outra parte, de forma imparcial, através do mediador, sem as emoções e as cargas negativas que fizeram parte da fala original. O ouvinte pode, então, ampliar a sua escuta. Além disso, os mediandos terão a oportunidade de escutar a fala, através do mediador, como uma possibilidade de reflexão.
Audição de propostas implícitas: Encontramos, em uma mediação, as partes com bastante dificuldade de se comunicar de uma forma neutra. Normalmente, estão exaltadas. Isso gera uma comunicação inadequada e, muitas vezes, elas podem propor soluções mesmo sem perceber. O mediador deve identificar essas propostas para os mediandos a fim de que eles possam construir uma solução consensual.
Afago ou reforço positivo: O afago é uma resposta positiva do mediador a um comportamento produtivo das partes ou dos advogados, se for uma mediação que conte com a presença desses profissionais. Essa atitude é uma forma de estimular as partes ou os advogados a continuarem a ter uma atitude positiva frente à mediação. Muitas vezes, pode-se demonstrar o afago através de uma expressão facial ou uma linguagem corporal. O mediador deve sempre tomar cuidado para que o afago seja natural, porque, de outra forma, poderia não ser compreendido pelas partes. O mediador pode dizer, por exemplo: “Estamos avançando na mediação. Estão sendo muito produtivas as opções que vocês estão trazendo”.
Sessões privadas ou individuais ou Caucus: As sessões privadas são encontros realizados entre o mediador e cada uma das partes, sem que a outra esteja presente. É utilizada com as duas partes, com igual tempo para ambas. Os objetivos são diversos:
Permitir a expressão de sentimentos, sem aumentar o conflito;
Eliminar uma comunicação não produtiva;
Identificar e esclarecer questões;
Evitar reações que dificultem o acordo;
Aplicar a técnica de inversão de papéis (que veremos mais adiante, nesta aula);
Evitar comprometimentos prematuros com soluções ou propostas;
Explorar algum desequilíbrio de poder;
Trabalhar habilidades de negociação com as partes;
Examinar alternativas;
Quebrar impasses;
Avaliar as propostas da sessão conjunta com cada parte;
Evitar situações inadequadas à mediação.
Inversão de papéis
É uma técnica para desenvolver a empatia entre as partes. Cada um deve perceber o contexto sob a perspectiva do outro. Recomenda-se, em geral, que essa técnica seja utilizada em sessões privadas. Além disso, o mediador deve avisar às partes que é uma técnica e que será aplicada com a outra parte também.
Inversão de papéis: É uma técnica para desenvolver a empatia entre as partes. Cada um deve perceber o contexto sob a perspectiva do outro. Recomenda-se, em geral, que essa técnica seja utilizada em sessões privadas. Além disso, o mediador deve avisar às partes que é uma técnica e que será aplicada com a outra parte também.
Muitas vezes, as partes sentem constrangimento pelo fato de estarem em conflito e tendem a colocar a culpa ou a responsabilidade no outro. Por isso, a técnica da inversão de papéis serve para que cada um se coloque no lugar do outro, percebendo o contexto no qual se encontra inserido e a visão que possui a respeito do conflito.
Por exemplo, o mediador fala para uma das partes em um conflito entre consumidor e comerciante:
“O senhor, apesar de ter seu comércio, também é consumidor. Vou aplicar, agora, uma técnica da mediação chamada de inversão de papéis, que será utilizada com a outra parte também. Pergunto: “como você gostaria de ser tratado como consumidor, no caso da devolução de um produto com defeito?”.
Geração de opções: Como já sabemos, o mediador não apresenta soluções, mas estimula as partes a criá-las. Elas devem aprender a buscar opções sozinhas, já que a mediação tem um papel educativo e, em novas situações conflituosas, elas tenderão a buscar suas próprias soluções. O mediador deverá realizar perguntas que ajudem as partes a pensar em soluções conjuntas. O importante é que elas gerem o maior número de opções. Uma outra questão muito importante é levar uma parte a pensar nos interesses da outra, ou seja, em alguma sugestão que pudesse ser dada e aceita pela outra parte.Com essa ferramenta, o mediador anima a criatividade das partes e incentiva sua imaginação, fazendo com que elas pensem em algo novo e não fiquem presas às perspectivas antigas, que não deram certo.O mediador poderia perguntar, por exemplo:
“O que você pode fazer para ajudar a resolver esta situação?”
“Para você, o que pod;eria funcionar como solução?”
Normalização:Sabemos que o conflito é uma característica natural de qualquer relação. No entanto, as partes se sentem constrangidas, principalmente, quando o conflito está na Justiça. E, assim, a culpa tem de ser de alguém. Nesse caso, é importante que o mediador não permita que as partes se culpem nem se sintam constrangidas.Dessa forma, o mediador irá normalizar o conflito e fazer com que as partes a percebam que o problema pode levá-las à construção de uma melhora em sua relação.
Organização de questões e interesses: Já vimos essa técnica na aula 5, mas é sempre bom relembrar. As partes, em geral, perdem o foco em situações de disputa, deixando de lado as questões que são importantes para a solução da mediação. O mediador, nesses casos, deve estabelecer uma relação com as questões a serem trabalhadas e os interesses reais das partes.Na mediação, é fundamental a identificação de interesses reais. Isso ocorre porque, quando as pessoas se expressam em um conflito, estão colocando as suas posições ou interesses aparentes. Por trás destes, há os interesses reais.Por exemplo, quando uma mãe diz para sua filha que não quer que ela chegue em casa tarde (posição), podemos presumir que ela está preocupada com a segurança da filha (interesse real).
Validação de sentimentos: Essa técnica consiste em identificar os sentimentos que foram desenvolvidos em razão do conflito e trabalhá-los como uma consequência natural. O mediador acolherá e legitimará um comportamento considerado como negativo, identificando nele o que há de positivo: uma necessidade não atendida.William Ury (2007), em sua obra “O poder do não positivo”, demonstra que,por trás de cada “não”, há um “sim” subjacente. Quanto mais importante o valor defendido, mais forte será o “não”. É a partir de uma escuta ativa (que veremos adiante) que o mediador poderá identificar e trazer esse valor para a mediação. A validação de sentimentos, na mediação, será realizada de forma a acolher o valor defendido e nunca deve ter um caráter de repreensão. Por exemplo, um mediador diz para as partes que estão se expressando de forma irritada e interrompendo uma a outra:“Entendo que ambos estão irritados porque querem resolver esta situação. Ao mesmo tempo, não vejo como essa forma de comunicação pode ajudar a construirmos uma solução que seja aceitável para vocês. Posso contar com a colaboração de vocês?"
Escuta ativa:Uma escuta de qualidade, e não apenas o fato de ouvir, é fundamental para a mediação. A escuta ativa requer que o mediador tenha uma participação efetiva no diálogo. Ela implica algumas questões:
Escutar com curiosidade genuína:O mediador deve procurar escutar para conhecer o conflito sob o ponto de vista dos mediandos e não para estabelecer pressuposições. Cada conflito e cada pessoa são únicos. O relato das partes deve ser ouvido pelo mediador sem preconceitos e pré-julgamentos. Ele deve se colocar no lugar de quem fala para entender o seu ponto de vista;
Estimular a fala dos mediandos:O mediador deve demonstrar interesse por qualquer tipo de comunicação, seja verbal ou não verbal. Deve realizar perguntas para o desenvolvimento do diálogo; permitir que o mediando se expresse sem interrupções; utilizar marcadores de escuta, como “compreendo”, “entendo”;
Perceber a dinâmica e o conteúdo da comunicação como um todo: O que é dito e não dito, a forma como é dito, os efeitos do que é dito e a comunicação não verbal;
Confirmar o entendimento:Confirmar o entendimento daquilo que o mediando falou, através dos resumos de suas falas. Estes irão comprovar que o mediador escutou e compreendeu, além de permitir ao mediando confirmar ou corrigir a compreensão do mediador.
A escuta ativa legitima os mediandos e faz com que eles se sintam verdadeiramente compreendidos e considerados nas questões que trazem para a mediação. Isso os ajuda a saírem de suas posições rígidas e a confiarem no processo do diálogo. A mediação é, pois, o lugar para que eles trabalhem o conflito. É através dessa escuta que as partes irão encontrar, entender e incluir a perspectiva do outro, mantendo as suas, sem se sentirem ameaçadas.
AULA 8
Nesta aula, estudaremos diferentes escolas de mediação.
Trataremos das três posições mais conhecidas em relação à mediação, não deixando de mencionar outros modelos que se apresentam bem eficazes nessa prática. 
Para iniciarmos nossa aula, é importante entendermos que os modelos mais utilizados nos países que praticam a mediação são: o modelo tradicional linear (Modelo de Harvard), o Modelo Transformativo (Busch e Foger) e o Modelo Circular Narrativo (Sara Cobb).
Há modelos voltados para o acordo e modelos voltados para a relação. A mediação satisfativa, por exemplo, prioriza o problema concreto e busca o acordo. Os modelos circular-narrativo e transformativo já priorizam a transformação do padrão relacional, por meio da comunicação, da apropriação e do reconhecimento.
Os vários modelos de mediação acolhem os princípios da autonomia da vontade, da confidencialidade e da inexistência de hierarquia, fatores que já vimos na aula 3.
Medição satisfativa:Podemos dizer que o início da dinâmica da mediação, realizada na Escola de Negociação de Harvard, que conhecemos na aula 5, logo ganhou adesões teóricas, que possibilitaram uma maior abrangência de estudos, levando à construção de novas técnicas e ao surgimento de diferentes modelos de prática da mediação. O início desse tipo de mediação esteve muito fundamentado em princípios de negociação e mais voltado para os acordos, se o comparamos com os modelos que surgiram mais tarde. Apesar dessa tendência, nesse modelo, não podemos esquecer que participar de um processo de diálogo regido pelos princípios da mediação já possibilita que as relações entre as pessoas em desacordo estejam sendo cuidadas. A Escola de Harvard é uma referência quando falamos de mediação, e vários procedimentos e conceitos são usados pela maioria dos outros modelos de mediação. Vamos a alguns exemplos:
Identificar posições, consideradas como atitudes polarizadas e explícitas dos mediandos, e interesses, vistos, a princípio, como contraditórios e antagônicos, que deverão ser trabalhados na mediação.
Utilizar técnicas de criação de opções para a satisfação dos interesses identificados;
Observar os dados de realidade ou os padrões técnicos, éticos, jurídicos ou econômicos;
Separar o conflito subjetivo (relação interpessoal) do conflito objetivo (questões concretas), conforme Fisher, Ury e Patton (1994).
Esses procedimentos são aplicados como técnicas de negociação e priorizam o conflito objetivo, visando ao acordo negociado. Esse modelo foi bastante usado, também, na contribuição para a solução de impasses entre países.
-Mediação transformativa: Robert Bush, professor de Resoluções Alternativas de Disputas (ADRs), da Hofstra University – Nova York – e Joseph Folger, professor de Comunicação da Escola de Comunicação da Temple University – Texas, fundaram esse modelo, que ganhou seguidores por todo o mundo. Eles escreveram o livro A Promessa da Mediação: uma abordagem transformativa do conflito (1996), cujo modelo foi amplamente divulgado. É considerada uma visão moderna do movimento das ADRs, que se afasta, relativamente, da construção de acordos como objetivo e privilegia a transformação do conflito, modificando uma postura adversarial para uma postura colaborativa. Esse modelo de mediação apresenta a contribuição da Escola de Harvard no que diz respeito à compreensão da complexidade, da flexibilidade e da intersubjetividade das relações. A mediação transformativa tem como objetivo enfrentar o conflito por meio do fortalecimento próprio e do reconhecimento dos outros. Segundo Bush e Folger (1996), nesse modelo de mediação, o mais significativo é o ganho social envolvido na restauração do diálogo entre as partes. Para os autores, o diálogo entre ser atendido e atender, desde que possível para ambos, é transformador e se traduz em acordo como uma consequência natural para aqueles que, de forma real, vivenciam o empoderamento e o reconhecimento. A autocomposição que leva ao acordo transforma-se na consequência e não no objetivo da mediação transformativa. Esse modelo, no que diz respeito à teoria da comunicação, também adota técnicas para aperfeiçoar a escuta do mediador, sua investigação e a reformulação da comunicação, através da paráfrase e dos questionamentos. Adota, em suas estratégias, o resumo, que auxilia no aperfeiçoamento da comunicação e na mudança de posições dos mediandos sobre as questões que têm relação com o conflito.
A mediação transformativa engloba, portanto, técnicas da mediação satisfativa, aspectos da terapia sistêmica de família e os elementos já citados do modelo de ciência contemporânea, que são: complexidade, intersubjetividade e instabilidade. Destaca a importância da pré-mediação e dos conceitos e procedimentos como: posições, escuta, questionamentos, prevalência dos aspectos intersubjetivos do conflito, resumos, interesses, opções, dados de realidade e acordos subjacentes. A maioria desses procedimentos foi vista na aula 7.
-Mediação circular-narrativa: É um modelo de mediação que adiciona ao modelo satisfativo tradicional conceitos da teoria geral dos sistemas, da teoria da cibernética e teoria da comunicação, entre outras teorias específicas do modelo. Com a união dos paradigmas teóricos, sistêmico e cibernético, podemos chegar à conclusão de que, na mediação, são trabalhadas as relações e a comunicação no sistema, propondo a compreensão do conflito no próprio sistema. A teoria da comunicação seria a forma de compreender como as pessoas estão expressando os seus conflitos. Sara Cobb, mediadora americana

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