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D. A Mediação de Conflitos Material de estudo- AULA 01 A 06

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MEDIAÇÃO DE CONFLITOS 
 
AULA 1 
 
-Introdução:​ É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, 
mas também, e principalmente, a tutela jurisdicional efetiva, rápida e sem demoras 
indevidas. Isto significa dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos 
prejuízos que causa quando não presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não 
respeita, por omissão, o direito humano fundamental de real acesso à justiça. 
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos 
dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de 
1988. 
O que percebemos, na atualidade, é que os limites do Judiciário, que eram organizados 
buscando uma precisão, estão com seu alcance diminuído. A expansão da informática, dos 
meios de comunicação e dos transportes vão estabelecendo múltiplas redes de 
relacionamento. O formalismo demanda tempo para a solução dos litígios, e o tempo é 
inimigo da efetividade da função pacificadora. 
O Judiciário foi estruturado para atuar sob a orientação de Códigos, cujos prazos e 
procedimentos tornaram-se incompatíveis com as várias lógicas, processos decisórios, 
ritmos e tempos, presentes em nosso mundo globalizado. 
Estamos no tempo da simultaneidade, com um Judiciário ainda sem meios materiais e 
técnicos para acompanhar esse contexto cada vez mais complexo.A garantia ao acesso à 
justiça deve ser entendida, então, como uma garantia que vai além do simples ingresso no 
Poder Judiciário. Nesse contexto, tendem a se desenvolver outros procedimentos 
jurisdicionais como a negociação, a conciliação, a mediação e a arbitragem, como formas 
alternativas para alcançar a informalidade, a celeridade e a praticidade. 
 
Mudança de Paradigma: ​As relações sociais são extremamente ricas em detalhes 
emocionais e culturais e, ao mesmo tempo, demasiadamente frágeis. Diante dessas 
características, os conflitos não podem ser tratados de forma generalizada e superficial, 
sendo necessária e fundamental uma ruptura com o paradigma vigente que é o da lógica 
determinista binária. 
O paradigma da lógica determinista binária é o paradigma do ganhar/perder, em que a 
perpetuação do litígio é quase inevitável, podendo chegar a níveis patológicos. Quem é 
ferido, quer ferir, depois há o revide, e, por causa dessa reação, ocorre outra reação. Essa 
situação é infinitamente alimentada pelos sentimentos que desperta. As partes são 
dominadas pela emoção, perdem a noção de responsabilidade pelos seus atos e a 
importância de uma convivência pacífica com o próximo. 
Como você percebeu, é importante a adoção de novas técnicas e posturas que possibilitem 
a minimização das consequências geradas pelo litígio. Fica claro, então, que não basta, 
para a solução dos conflitos, a mera aplicação da Lei. Essas relações não são matemáticas. 
Normalmente, para os envolvidos em um conflito, dois mais dois nunca é quatro. Há sempre 
este ou aquele detalhe, e que teve consequências determinantes e irreparáveis na maneira 
de ver a realidade que se apresenta. Portanto, percebe-se como urgente e necessária uma 
mudança de paradigmas para o manejo dos conflitos. Em vez de privilegiar os processos 
litigiosos, deve-se buscar o entendimento entre as partes, sempre visando à manutenção e 
responsabilização correlatas. 
Dessa maneira, percebe-se claramente a importância dessa nova postura, que privilegia a 
formação de novos paradigmas em substituição àquele do “ganhar/perder”. Esses novos 
paradigmas têm como matriz a cooperação e a construção conjunta das soluções. 
E o que está sendo feito? 
Desde o fim dos anos 90, a demora na prestação judicial e o acesso à justiça vem sendo 
destacada em nosso país. De acordo com o Manual de Mediação para a Defensoria Pública 
(cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014), há um movimento conjunto dos três 
poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário, para modificar o sistema judiciário brasileiro e a 
cultura do litígio (lógica determinista binária), que ainda é predominante em nosso país. 
Algumas ações são destacadas: 
a) Prevenção do litígio por meio de políticas que garantam uma melhor prestação de 
serviços à população, por parte de empresas que hoje representam um dos polos da 
maioria dos processos judiciais; 
b) Promoção de alternativas ao Judiciário para resolução de conflitos, com ênfase no uso de 
técnicas autocompositivas (autocompositivas “são aquelas em que as próprias partes 
interessadas, com ou sem a colaboração de um terceiro, encontram, através de um 
consenso, uma maneira de resolver o problema.” (SANTOS, 2004, p. 14); nas 
heterocompositivas, “o conflito é administrado por um terceiro, escolhido ou não pelos 
litigantes, que detém o poder de decidir, sendo a referida decisão vinculativa em relação às 
partes.” (SANTOS, 2004, p. 14).) como a mediação, a conciliação e a negociação; 
c) Capacitação de profissionais que possam atuar como mediadores extrajudiciais, judiciais 
e no âmbito da Administração Pública (cf. ROSENBLATT, KIRCHNER e BARBOSA, 2014). 
Não podemos esquecer do incentivo às Universidades para criar disciplinas voltadas a essa 
temática. 
Referências 
ROSENBLATT, A.; KIRCHNER, F.; BARBOSA, R. V. M.; CAVALCANTI, R. R. B. (Orgs.). 
Manual de mediação para a Defensoria Pública. Brasília, DF: CEAD/ENAM, 2014. 
SANTOS, R. S. S. dos. Noções gerais da arbitragem. Florianópolis: Fundação Boiteux, 
2004. 
 
Mecanismos alternativos de resolução de conflitos: 
-Negociação:​ Você, possivelmente, já participou de uma negociação no decorrer de sua 
vida. Concorda que a negociação é o caminho natural nas relações humanas para a 
resolução de conflitos? Com frequência, em nossas vidas, temos de negociar algumas 
questões. Tais situações tornaram-se tão comuns que, algumas vezes, não percebemos 
que estamos diante de uma negociação. Em vários momentos, sejam eles no convívio 
social e familiar, em uma loja, na Universidade, no trânsito ou no trabalho, estamos 
vivenciando relações com contínuas propostas e contrapropostas. 
● Definição-​ A negociação pode ser definida como uma relação que duas ou mais 
pessoas estabelecem a respeito de um assunto, visando encontrar posições comuns 
e chegar a um acordo que seja vantajoso para todos. 
● Dinâmica-​ A negociação inicia-se quando há diferença de posições entre as partes. 
No entanto, ela só existe se houver interesse das partes em tentar chegar a um 
acordo. Dessa forma, respeitar o outro é uma norma que existe em qualquer 
negociação. 
● As partes- ​É preciso ficar claro que as pessoas não são consideradas inimigas em 
uma negociação. Muito pelo contrário, são vistas como colaboradoras, trabalhando 
para eliminar as diferenças existentes e chegar a um acordo aceitável por todos. 
Quando negociamos, enfrentamos os problemas e não as pessoas. 
● Meta da negociação-​ Buscar um acordo que satisfaça as necessidades de todos os 
envolvidos. Deve-se tentar chegar a uma solução equitativa que inclua os pontos de 
vista e interesses de todos os envolvidos. Assim, todos os envolvidos considerarão o 
acordo como algo construído por todos, e não como uma solução imposta. Enfim, 
todos sairão satisfeitos de uma negociação, com a intenção de cumprir o que foi 
combinado e com o interesse de manter essa relação que teve um resultado tão 
vantajoso para todos. 
-Conciliação:​ Conciliar, se olharmos os dicionários, significa harmonizar-se, alcançar 
pacificação. A tentativa de conciliação prevê, portanto, a expressão maior do pacto social 
entre as partes. Vamos aprofundar um pouco mais esse significado. 
● Conceito-​ Conciliação é uma forma de resolução de controvérsias na relação de 
interesses administrada por um Conciliador (investido de autoridade ou indicado 
pelas partes), a quem compete: aproximar as partes, controlar as negociações, 
aparar as arestas, sugerir e formular propostas, apontarvantagens e desvantagens. 
O objetivo do conciliador é sempre o de estabelecer uma composição do litígio pelas 
partes. 
● O Conciliador-​ A participação ativa do conciliador, como instrumento e garantia de 
possibilidade de acordo, a renovação da proposta pelo juízo e o bom senso das 
partes e dos advogados são questões fundamentais. Empenho e técnica, assim 
como o tratamento respeitoso, farão com que as partes, diante da resposta rápida e 
eficiente através da conciliação, sejam vistas como o próprio fim da prestação 
jurisdicional. 
● Características da Conciliação-​ A conciliação tem suas próprias características. 
Além da administração do conflito por um terceiro imparcial, esse conciliador tem a 
prerrogativa de poder sugerir um possível acordo, após avaliar as vantagens e 
desvantagens que tal proposta acarretaria para as pessoas. 
● Amparo legal-​ Em resposta aos anseios sociais e em atendimento ao mandamento 
constitucional, contido no artigo 98 da Constituição da República Federativa do 
Brasil (1988), o Legislativo editou e aprovou a Lei 9.099/95. Os Juizados Cíveis e 
Criminais, de que trata essa lei, são órgãos da Justiça criados para conciliação, 
processo, julgamento e execução, nas causas de sua competência, disciplinadas por 
essa lei. O processo, nesses Juizados, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, 
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade. 
● Juizados e Justiça do Trabalho-​ O Juizado Especial Cível (JEC) tem competência 
para a conciliação, processo e julgamento de causas cíveis de menor complexidade. 
O Juizado Especial Criminal (JECRIM) também tem competência para a conciliação, 
julgamento e execução de infrações penais de menor potencial ofensivo, tais como 
as contravenções penais e os crimes que a lei comine pena máxima não superior a 
dois anos, cumulada ou não com multa, excetuando os casos em que a lei prevê 
legislação especial. A conciliação é também consagrada na Justiça do Trabalho para 
prestigiar o espaço de autonomia das vontades individuais, buscando uma solução 
negociada de conflitos entre patrão e empregado. 
-Arbitragem:​ A arbitragem já estava prevista em nossas leis há muito tempo, e, segundo 
alguns autores, ganhou força apenas em 1996, quando foi editada a Lei 9.307 – Lei de 
-Arbitragem. A arbitragem é um meio privado e alternativo de solução de controvérsias 
extrajudiciais de direito patrimonial disponível nas áreas cível, comercial e trabalhista. Ela 
pode ser usada para resolver problemas jurídicos sem a participação do Poder Judiciário. É 
um mecanismo voluntário: ninguém pode ser obrigado a se submeter à arbitragem contra 
sua vontade. 
● Instrumentos da arbitragem- ​Os instrumentos que podem ser utilizados na 
arbitragem são a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Esses dois 
instrumentos levam as partes para a arbitragem e excluem a participação do 
Judiciário, desde que a escolha pela arbitragem tenha sido feita livremente por todos 
os envolvidos. 
● Adesão das partes-​ É importante destacar que ninguém pode ser obrigado a 
assinar um compromisso arbitral ou um contrato que contenha a cláusula 
compromissória. Contudo, se os envolvidos já fizeram livremente a opção pela 
arbitragem no passado, não poderão voltar atrás no futuro e desistir dela, caso surja 
algum problema. Somente será possível recorrer ao Judiciário se tiver ocorrido uma 
violação grave do direito de defesa, bem como em outras situações bem limitadas. 
 
 
AULA 2 
VOCÊ SABIA? 
Somente a partir da virada do século XX, a mediação tornou-se institucionalizada em vários 
países, e desenvolveu-se como uma profissão reconhecida. O crescimento da mediação 
deve-se, principalmente, ao reconhecimento dos direitos humanos: aspirações em relação à 
participação democrática em todos os níveis sociais, a crença de que o indivíduo tem o 
direito de participar e ter controle sobre as decisões que afetam a sua vida e maior 
tolerância à diversidade. 
 
Aula voltada à fatos históricos e a evolução da Mediação no mundo, baixa relevância, para 
um material preparatório para a prova, caso tenha interesse, estude pelo SIA. 
 
 
AULA 3 
 
 ​-Bases teóricas e princípios da mediação​: A mediação, como já vimos, é um meio 
não adversarial, voluntário e pacífico de resolução de conflitos, em que um terceiro (o 
mediador, imparcial) atua como facilitador do diálogo entre as partes envolvidas. Ele as 
conduz a encontrarem, de maneira cooperativa, as soluções que melhor satisfaçam os seus 
interesses. No entanto, esse procedimento exige uma base teórica, na qual fundamenta 
suas técnicas e princípios que devem ser respeitados para que essa prática ocorra de forma 
correta e ética. 
Vamos iniciar nossa aula conhecendo a relação da mediação com algumas disciplinas: 
-Direito:​ A Mediação inspira-se no Direito quando objetiva auxiliar as pessoas a 
resolverem seus conflitos, orientadas pelo parâmetro da solução justa, respeitando as 
questões legais determinadas pela sua cultura. Isso fica mais claro quando, por exemplo, é 
solicitada a revisão legal de um acordo, antes da assinatura pelos mediandos, sempre que 
a matéria assim o exigir, cumprindo uma norma ética na Mediação. A mediação, dessa 
forma, poderia ser considerada como uma forma de ordem jurídica justa, porque leva a uma 
justiça mais: 
● Adequada: ​Aumenta o acesso à justiça porque, entre os outros métodos, possui 
uma forma mais apropriada de abordar e resolver aquele determinado conflito. 
● Tempestiva:​ Por ocorrer no tempo dos mediandos, uma vez que, de certa forma, 
estabelecem o período de duração da mediação, a partir de suas habilidades e 
capacidades de negociação, aumentam o acesso à justiça. 
● Efetiva:​ A solução é construída pelas próprias pessoas envolvidas no conflito, tendo 
como base a satisfação e o benefício mútuos, a partir do atendimento de suas 
necessidades, aumentando, assim, o acesso à justiça (ALMEIDA, 2014). 
 
-Sociologia:​ A contribuição da Sociologia é decisiva para a compreensão do valor das 
redes sociais nos processos de negociação. Mediadores também trabalham com a 
negociação que os mediandos precisam fazer com os seus interlocutores – advogados, 
amigos, parentes, colegas de trabalho ou de crença religiosa, entre outros. 
Com essas pessoas, são estabelecidas alianças e construídos entendimentos sobre o 
desacordo e sobre o outro, assim como soluções e interesses a serem defendidos. 
Os mediandos não podem, em algumas situações, avançar em uma negociação, em função 
de compromissos estabelecidos com suas redes de pertinência. Nesses casos, é preciso 
ajudá-los a negociar com essas redes, dentro ou fora do processo de mediação, para que 
possa ocorrer a autocomposição. 
A mediação estimula o diálogo dos mediandos com suas redes de pertinência e permite que 
elas venham à mediação, quando são identificadas como geradoras de impasses à solução 
do processo, ou, ainda, quando são o suporte para o cumprimento do que foi estabelecido 
na mediação. 
 
Teoria dos sistemas: 
Há anos, as pessoas perceberam que há coisas comuns nas diferentes áreas do 
conhecimento. Existem problemas similares que podem ser resolvidos com soluções 
similares. Essas mesmas pessoas perceberam que algumas características e regras 
aconteciam em todas as áreas. Assim, surgiu a definição de Sistema, que é um conjunto de 
elementos inter-relacionados com um objetivo comum. 
Todas as áreas do conhecimento possuem sistemas com características e leis 
independentemente da área onde se encontram. Os sistemas apresentam como 
características básicas: os elementos formadores do sistema, a relação entre eles e um 
objetivo comum. 
Além disso, não podemos esquecer o meio ambiente, que é o que está fora do sistema, ou 
seja, não pode ser controlado por ele. No entanto, o sistema pode estabelecer uma relação 
de troca com o meio ambiente e, por isso falamosque um pode influenciar o outro. 
A abordagem sistêmica é uma forma de resolver situações sob o ponto de vista da teoria 
geral dos sistemas. Muitas soluções surgem quando analisamos um sistema sendo formado 
por elementos que estabelecem relações entre eles, que apresentam um objetivo, inseridos 
em um meio ambiente. 
Essa abordagem é uma ferramenta, um método que nos capacita a promover mudanças. 
Ela enfatiza a interação entre os componentes em vez de os componentes por si só, o 
propósito do sistema em vez de suas causas, as regras operacionais que capacitam o seu 
desenvolvimento, o objetivo a ser alcançado, o futuro, o envolvimento das pessoas. 
O olhar sistêmico, segundo Vasconcellos (2002), contribui para que a mediação reconheça 
os componentes multifatoriais dos desacordos – legais, psicológicos, sociológicos, 
financeiros, entre outros, e trabalhe com eles conforme a sua prevalência, de forma a 
atender aos interesses e necessidades dos mediandos. 
Também como resultado dessa abordagem, os mediadores entendem que o que é trazido à 
mediação faz parte de uma cadeia de acontecimentos passados e futuros e que sua 
intervenção provocará alterações na lógica de desenvolvimento dessa cadeia, com 
repercussões sobre um conjunto de pessoas. 
Os mediadores comprometem-se com o curso e com o resultado da mediação, agindo na 
condução de sua dinâmica, avaliando, de forma continuada, a adequação de sua atuação, 
pois a consideram parte do sistema de resolução. Os mediadores sabem que sua 
intervenção poderá contribuir para a construção ou para a desconstrução de impasses 
futuros. 
 
Estratégias da abordagem sistêmica: 
Algumas estratégias da abordagem sistêmica são importantes na mediação. Vamos vê-las 
a seguir: 
● Dividir para atingir um fim –​ todo problema deve ser dividido em partes menores 
porque isso facilita a sua compreensão e o seu manejo; 
● Identificar todas as partes do sistema –​ identificar tudo o que faz parte do 
sistema, porque algumas partes identificadas podem fazer a diferença; 
● Atentar​ para detalhes que estão sendo demonstrados pelas pessoas; 
● Olhar para o todo​, para ter uma compreensão sobre como as partes se relacionam; 
● Utilizar analogias​, comparações, ou seja, usar soluções antigas adaptadas à nova 
realidade, na solução de problemas similares. 
 
-Teoria da cibernética:​ A Teoria Cibernética ou Teoria do Controle foi desenvolvida pelo 
matemático N. Wiener. E tem por objeto o estudo da autorregulação dos sistemas, uma vez 
que é necessária a manutenção da ordem no interior de cada um, ou entre sistemas, 
combatendo o caos. A cibernética é uma teoria de controle, baseada na comunicação entre 
os sistemas e o meio ambiente, bem como a comunicação dentro do próprio sistema. A 
Teoria da Cibernética foi dividida em dois períodos: 
● 1º período-​ De acordo com Grandesso (2000), no primeiro período da cibernética, a 
preocupação consistia nos mecanismos e processos pelos quais os sistemas 
funcionavam com a finalidade de manter a sua organização. O objetivo do sistema 
era, então, corrigir os desvios para poder se manter estável e sobreviver. Esse 
processo é conhecido como retroalimentação, em que um sistema sobrevive 
mantendo a sua constância apesar das mudanças do meio. 
● 2º período-​ No segundo período da cibernética, mudou-se o foco de trabalho e o 
conflito passou a ter a função de mostrar que algo não vai bem no sistema. O foco 
sai do conflito e vai para as relações estabelecidas naquele sistema. Fato importante 
para o trabalho com a mediação. A partir desse segundo momento, houve a 
possibilidade de compreender o potencial de transformação dos sistemas, levando 
ao desenvolvimento de técnicas na mediação que possibilitassem a ampliação 
dessa capacidade de mudança. 
Reflexão:​ Unindo os dois paradigmas teóricos, cibernético e sistêmico, podemos chegar à 
conclusão de que, na mediação, são trabalhadas as relações e a comunicação no sistema, 
propondo a compreensão da função do conflito dentro do próprio sistema. E, para isso, 
precisamos também do auxílio das teorias da comunicação, como uma forma de identificar 
como as pessoas estão expressando os seus conflitos. 
-Teorias da comunicação:​ Teorias da comunicação contribuem com numerosas 
abordagens e dão suporte a algumas das técnicas utilizadas na Mediação. 
A comunicação humana é uma das bases de sustentação da dinâmica da Mediação e 
precisa ser decifrada pelo mediador, a cada momento, de forma a servir de referencial para 
a identificação da intervenção a ser utilizada. 
As contribuições são inúmeras. Algumas estão mais ligadas com o pragmatismo da 
comunicação humana (WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967), outras com as 
narrativas e a análise dos discursos e de sua subjetividade (MAINGUENEAU, 1997). 
Os axiomas da comunicação foram desenvolvidos por Watzlawick e colaboradores (1967) e 
fornecem importante base conceitual para entendermos o processo de comunicação, sendo 
aplicados no procedimento de mediação. 
A seguir, veremos o que, resumidamente, estes autores estabeleceram. 
É impossível não comunicar, mesmo quando achamos que não estamos nos comunicando, 
existe uma mensagem. 
Há mediandos que utilizam o silêncio como estratégia para agredir o outro. Outros podem 
usar o silêncio para criar uma atmosfera de mistério sobre o que estão pensando, para 
aguardar que os outros transmitam informações importantes, que eles utilizarão de acordo 
com as suas conveniências. 
O silêncio pode permitir a organização dos pensamentos e encorajar a outra pessoa a 
expandir suas ideias, reações ou sentimentos. Saber calar quando necessário também é 
muito importante na comunicação.O silêncio pode, também, ser sentido como confortável 
ou perturbador, e ser utilizado para aproximar ou afastar as pessoas nas relações com as 
outras. 
Toda comunicação possui uma forma e um conteúdo. A relação entre o conteúdo e a forma 
na comunicação é chamada de metacomunicação. Pode-se usar de gestos, olhares, 
expressões corporais e faciais para dar mais ênfase ao que queremos comunicar e ao 
modo como queremos ser interpretados. 
A técnica de metacomunicação é utilizada, em geral, quando queremos expressar algum 
sentimento, mas de forma não invasiva a uma pessoa. É uma forma menos brusca de se 
transmitir uma mensagem, como uma preparação para que a pessoa receba a mensagem 
sem constrangimento ou espanto. 
Usamos a metacomunicação quando fazemos uma pequena introdução àquilo que se quer 
comunicar, por exemplo, ao noticiar fatos ruins, ao dar alguma advertência etc. 
Ao censurarmos alguém, podemos realizar uma metacomunicação verbal e não verbal, 
quando, por exemplo, dizemos “Estou brincando“ e piscamos o olho ao mesmo tempo. Essa 
comunicação precisa ser neutralizada pelo mediador, que deverá estar atento às situações. 
A natureza de uma relação encontra-se na contingência da identificação das sequências de 
comunicação entre os envolvidos. 
É fundamental identificar quem comunica, quem responde, como e quando, para obter 
informações a respeito do equilíbrio ou do desequilíbrio de poder nas relações, dos estados 
emocionais das pessoas e outras situações significativas na comunicação. 
Os seres humanos comunicam-se de forma digital e analógica. Na mediação, na maior 
parte das vezes, a comunicação será analógica, ou seja, face a face. 
Dessa forma, haverá possibilidade de observar os conteúdos analógicos da comunicação, 
como por exemplo: o sorriso, o brilho no olhar, o timbre de voz, a postura corporal, a 
disposição para ouvir etc. Esses conteúdos valorizam a comunicação e devem ser 
explorados pelo mediador. 
Todas as trocas comunicacionais são simétricas ou complementares. 
As simétricas são aquelas que possibilitam o diálogo entre as pessoas. Já as 
complementares, em geral, aparecem em situações de dependência, em que um manda e o 
outro obedece, um grita e o outro se cala, porexemplo. Este último tipo de troca deve ser 
convertido ou restabelecido em uma troca simétrica através do trabalho do mediador. 
Em comum, tais contribuições trazem o entendimento de considerar a linguagem como um 
cenário em que se constroem os sujeitos, sua forma de expressão e de ação, nas suas 
relações com os outros. 
-Comunicação não violenta (CNV):​ A Comunicação Não Violenta (CNV) é um 
processo conhecido por sua capacidade de inspirar ação solidária, ponto fundamental no 
procedimento da mediação. Foi desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, doutor em 
Psicologia Clínica, mediador internacional e fundador do Centro Internacional de 
Comunicação Não Violenta. 
É uma teoria prática, que se confunde com um processo educativo e questiona os perigos 
da linguagem. A partir do conceito de Ahimsa, tornado famoso por Mahatma Gandhi, 
ressalta o poder que é liberado quando a intenção de agredir o outro é totalmente superada. 
Baseado na ideia de que todos os seres humanos têm a capacidade da compaixão e 
recorrem à violência quando não percebem outro recurso, ou quando não têm suas 
necessidades supridas, busca-se criar uma cultura de expressão que resolva os conflitos, 
em vez de criá-los. 
Para isso, a CNV se baseia na escuta empática e na expressão autêntica em três âmbitos: 
nossa própria experiência interior, nossa relação com os outros e nossa conexão com os 
sistemas nos quais estamos inseridos. 
Ela foi utilizada, primeiramente, em projetos americanos do governo federal, a fim de 
integrar, de forma pacífica, escolas e instituições públicas durante os anos 60. A CNV parte 
da observação de que a crescente violência na qual vivemos e estamos inseridos é o 
resultado de uma lógica de ação e reação dissociada de seus verdadeiros valores. 
A CNV afirma que formas culturais predominantes de comunicação levam-nos a entrar em 
choque com as pessoas de opiniões e culturas diferentes. Em sua prática, a CNV propõe 
alternativas aos confrontos em que nos colocamos e ajuda a desconstruir a lógica destrutiva 
da raiva, da punição, da vergonha e da culpa. O seu fundamento é a cooperação e a 
harmonia, princípios e valores básicos universais. 
Dessa forma, as críticas pessoais, os rótulos, os julgamentos dos outros, os atos de 
violência física, verbal ou social, são entendidos como expressões de necessidades não 
atendidas. A abordagem da CNV possibilita mudanças estruturais na forma de viver e 
organizar as relações humanas, responsabilizando as pessoas pelos seus atos, diminuindo 
a chance de agressões e opressões. 
A Comunicação Não Violenta tem se mostrado eficaz na resolução de conflitos, tanto no 
âmbito interpessoal, quanto na prevenção de agressões, na reconciliação de comunidades 
e 
na criação de sistemas de parceria e convívio, que demonstram que a Cultura de Paz é 
possível. 
-Princípios da mediação: 
LEI Nº 13.140, DE 26 DE JUNHO DE 2015. 
CAPÍTULO I 
DA MEDIAÇÃO 
Seção I 
Disposições Gerais 
Art. 2º A mediação será orientada pelos seguintes princípios: 
 
I - imparcialidade do mediador; 
 
II - isonomia entre as partes; 
 
III - oralidade; 
 
IV - informalidade; 
 
V - autonomia da vontade das partes; 
 
VI - busca do consenso; 
 
VII - confidencialidade; 
 
VIII - boa-fé. 
 
 
 
AULA 4 
-Manejo do conflito:​ A mudança de foco na evolução da resolução (baseada na 
imposição, pela força e pelo poder para uma busca de solução que identifique os interesses 
das pessoas envolvidas e a possibilidade de atendê-las) levou a uma mudança de foco da 
preocupação com o resultado do problema para uma preocupação com as pessoas e suas 
relações. 
Essa mudança nos leva a entender que não existe uma solução apenas para resolver os 
conflitos. Dessa forma, vários autores destacam alguns aspectos importantes a serem 
observados na forma de abordar os conflitos. Schimidt e Tannenbaum (1992)apontam para 
três aspectos que devem ser observados no diagnóstico de uma situação de conflito. São 
eles: 
● Pontos de vista e interesses divergentes ​– a natureza das diferenças; 
● Informações, percepções e papéis que as pessoas ocupam na sociedade​ – 
fatores subjacentes; 
● Momento em que o conflito se encontra​ – estágio do conflito. 
 
-Classificação de conflito: 
● Intrapessoal-​ É um conflito exclusivamente nosso, e que, às vezes, existe porque 
nós o vivemos assim. Ou seja, é o que cada um de nós vive quando está perante 
motivações que são incompatíveis. É o que chamamos de conflito interno. 
● Interpessoal-​ Os conflitos interpessoais se dão entre duas ou mais pessoas e 
podem ocorrer por vários motivos: diferenças de idade, de sexo, de valores, de 
crenças, por falta de recursos materiais, financeiros, e por diferenças de papeis. 
Neste último caso, podemos dividir o tipo de conflito em duas situações: conflitos 
hierárquicos são aqueles que colocam em jogo as relações com a autoridade 
existente; e conflitos pessoais, que dizem respeito ao indivíduo, à sua maneira de 
ser, agir, falar e tomar decisões. Você já percebeu que as relações interpessoais, 
com sua pluralidade de percepções, crenças e interesses, são conflituosas. Negociar 
conflitos é o nosso cotidiano. 
● Intragrupal- ​Falar de conflitos grupais é muito complicado porque a mera descrição 
de algumas características não esgotará todas as possibilidades de se entender 
essa questão. As diferenças individuais têm influência na dinâmica dos grupos, 
podendo levar a discussões, tensões, insatisfações e ao conflito aberto, ativando 
sentimentos e emoções mais ou menos intensos, que afetam a objetividade do 
grupo, reduzindo-a a um mínimo e transformando o clima emocional do grupo. 
● Intergrupal-​ Esse conflito ocorre quando temos dois ou mais grupos com um 
problema a ser resolvido. O conflito intergrupal é definido como uma 
incompatibilidade de objetivos, crenças, atitudes ou comportamentos encontrados 
entre grupos. 
● Social-​ É o conflito que afeta a sociedade como um todo. Os conflitos na sociedade 
humana não podem ser reduzidos a uma abordagem, tendo em vista que cada 
nação, cada cultura, cada sociedade engendra modelos de relações sociais que são, 
invariavelmente diferentes, gerando conflitos sociais com interesses também 
diferentes. 
Além disso, para os mediadores, os conflitos também podem ser divididos em quatro 
espécies. Ainda, tais espécies podem ocorrer de forma cumulativa em determinadas 
situações. São elas: 
● Conflitos de valores-​ Ocorrem entre pessoas que têm modos diferentes de vida ou 
critérios divergentes de como avaliar comportamentos. Os valores surgem como 
uma expressão cultural específica das necessidades, das motivações básicas e dos 
requisitos do desenvolvimento comuns a todos os seres humanos, que podem ser 
exemplificados pelas diferenças morais, éticas, religiosas etc. As diferenças reais ou 
percebidas em termos de valores não levam necessariamente ao conflito. Este surge 
apenas quando são impostos valores aos grupos ou quando se impede que os 
grupos mantenham os seus sistemas de valores (ONU,2001). 
● Conflitos de informação-​ Envolve a falta de informação e a informação errônea, 
assim como pontos de vista diferentes sobre os dados que são relevantes, a 
interpretação desses dados e como é feita a avaliação (ONU,2001). Podem decorrer 
da sonegação de dados ou de mensagens mal compreendidas, podendo a 
informação ser distorcida ou ter uma conotação negativa. 
● Conflitos estruturais-​ São causados pela distribuição desigual ou injusta do poder 
e dos recursos. Limitações de tempo, padrões de interação destrutivos e fatores 
geográficos ou ambientais desfavoráveis (ONU,2001). 
● Conflitos de interesses-​ São aqueles que envolvem a concorrência real ou 
percebida de interesses em relação aos recursos, à forma de resolver uma disputa 
ou às percepções de confiança e equidade (ONU,2001). 
-Níveis de conflito 
Ainda podemos falar de diferentesníveis em que o conflito pode ocorrer. São eles: 
● Latente-​ O conflito latente pode-se dizer que existe, mas não é dito, porque não é 
percebida a sua existência por quem o detém. O conflito está lá, mas escondido, não 
é notado nem sentido ainda; 
● Percebido-​ A pessoa ou as duas partes sabem da existência dele, mas não querem 
resolvê-lo, talvez por não incomodar o suficiente, ainda, os envolvidos; 
● Sentido-​ É aquele que já atinge ambas as partes, e em que há emoção e 
consciência da sua existência; 
● Manifesto-​ “A agressividade está explícita, os comportamentos são assumidos 
como tais. Essa agressão explícita pode variar desde a resistência passiva branda, 
passando pela sabotagem, até o conflito físico real” (BOWDICTH, 2002, p. 111). 
-Conflito e mediação: 
Para lidarmos bem com nossos conflitos interpessoais, devemos desenvolver uma 
comunicação de caráter construtivo. A evolução do conflito e suas manifestações ligadas à 
violência variam de acordo com as circunstâncias históricas, sociais, culturais e 
econômicas. Os conflitos, como percebemos, têm aspectos positivos e negativos, e pode 
haver um ciclo construtivo e outro destrutivo, a partir de um certo nível. A visão negativa que 
temos do conflito está mais ligada ao desgaste emocional que eles geram. 
Um manuseio adequado do conflito tem a ver com a gestão das relações emocionais que 
eles provocam. O mediador contribui com um outro olhar sobre a questão. Deve fazer com 
que as partes enxerguem esse conflito como um espaço de reconstrução, de aprendizado e 
de formação de sua autonomia. O mediador precisa cooperar para que o conflito seja visto 
e analisado de forma pedagógica e, assim, contribuir para que a mediação seja 
compreendida como um espaço de aprendizagem das questões que estão sendo discutidas 
e, também, dos próprios envolvidos. 
O conflito precisa ser interpretado e elaborado pelos interessados em conjunto com o 
mediador, pois é dessa forma que eles poderão ser ressignificados e transformados. O 
mediador deve tratar o conflito como algo positivo, sem a percepção de ameaça, atuando 
com moderação, equilíbrio, naturalidade, compreensão, não reagindo de forma a lutar ou 
fugir, pois, se o conflito for visto como uma questão negativa, poderá desencadear a reação 
denominada “retorno de luta ou fuga”. 
O mediador não encerra o conflito segundo as normas legais, comunicando a sua decisão 
às partes. Ele incentiva a construção de um acordo comum, construído a partir dos 
conhecimentos e com as propostas dos envolvidos. Sendo assim, o mediador estimula a 
transformação da curiosidade comum em curiosidade do conhecimento a respeito da 
situação. 
A mediação é uma prática pedagógica para a autonomia, voltada para a emoção e ligada 
com a ressignificação dos conflitos e com a origem dos sentimentos. É importante, na 
mediação, a escuta do outro, revelando-se, cada vez mais, como uma prática política e 
ética na formação e no crescimento do ser humano. 
 
 
AULA 5 
-Fundamentos da negociação:​ Somos todos negociadores, desde crianças e durante 
toda a nossa vida. Negociar é um ato inevitável em nosso dia a dia. Negociamos aumento 
de salário, tentamos chegar a um acordo sobre o preço de uma mercadoria à venda, 
tentamos persuadir nosso amigo a ir ao cinema no sábado à noite. Todos esses casos são 
exemplos de negociação. Apesar de usarmos a negociação todos os dias, não é fácil 
realizá-la e, muitas vezes, as pessoas podem ficar insatisfeitas, com raiva ou cansadas. 
A negociação direta é considerada um meio autocompositivo de resolução de conflitos e, a 
partir dos estudos sobre negociação da Escola de Direito de Harvard, ganharam uma 
perspectiva colaborativa, fundamental para a mediação. 
As negociações podem ocorrer de várias formas, e há vários perfis de negociadores. No 
entanto, o melhor caminho para uma negociação é a colaboração. A partir dela, haverá a 
possibilidade de construir o consenso e de chegar a um acordo, sem o desgaste da relação. 
A negociação é o meio pelo qual as pessoas lidam com suas diferenças. Na verdade, 
negociar é buscar um acordo por meio de um diálogo. É importante que você perceba que a 
negociação está de forma permanente em nossas vidas. Negociamos com nossos pais, 
nossos filhos, nossos companheiros, ou seja, tanto em nossa casa, como no trabalho com 
nossa chefia ou nossos subordinados. 
-Conceito de negociação:​ O que se escrevia sobre negociação consistia em estratégias 
para tirar vantagem sobre o adversário por meio de truques que só funcionavam se ele não 
tivesse lido nada sobre o tema. No final da década de 70, a negociação começou a ser 
estudada de forma integrada, com metodologia e visando uma aplicabilidade a qualquer tipo 
de negociação e útil para todas as partes envolvidas na negociação. 
A partir dessa mudança de abordagem da negociação como tema de estudo e 
desenvolvimento, surgiram diferentes modelos para a prática da negociação que tiveram a 
colaboração de várias ciências, como a Psicologia, o Direito, a Sociologia, a Política, entre 
outras. Essas disciplinas foram importantes porque trouxeram contribuições para o 
aprofundamento das formas como as pessoas podem resolver os seus problemas juntas, 
trabalhando e construindo algo sobre as suas diferenças. 
Observe três condições necessárias para que uma negociação ocorra: 
● As partes devem ter interesses em comum–​ as partes preferem, em conjunto, 
certos resultados no lugar de outros. 
● As partes devem ter interesses conflituais–​ alguns dos resultados desejados são 
melhores para uma das partes e outros são melhores para a outra. 
● As partes devem ter possibilidade de comunicar entre si-​ para que exista a 
busca de um acordo, é necessário ter oportunidade de comunicar o que se oferece e 
o que se aceita. 
-Negociação como processo 
A negociação é um processo em que deverá ocorrer um planejamento prévio, 
desenvolvimento e conclusões finais. A necessidade de negociar surge quando duas ou 
mais partes desejam resolver um conflito, chegando a um acordo que seja benéfico para 
todos. O desejo de chegar a um acordo é um requisito que não pode faltar em uma 
negociação. 
Segundo Moore (1998), para que ocorra o processo de negociação, é imprescindível uma 
série de quinze condições, são elas: 
● Partes identificadas que estão dispostas a participar–​ se uma parte decisiva está 
ausente ou não está disposta a negociar, diminui a possibilidade de acordo; 
● Interdependência–​ para que a negociação seja produtiva, os participantes devem 
depender uns dos outros para a satisfação de suas necessidades e interesses; 
● Disposição para negociar–​ para que comece o diálogo, as partes têm de estar 
dispostas a negociar; 
● Meios de influência ou de pressão–​ para que as pessoas cheguem a um acordo 
sobre problemas sobre os quais discordem, devem possuir alguns meios de 
influenciar nas atitudes ou nas condutas das outras partes; 
● Acordo em alguns pontos de interesse– ​em geral, os participantes compartilham 
alguns pontos de interesses e outros não; 
● Vontade de acordo–​ se a continuação de um conflito é mais importante que o 
acordo, a negociação está condenada ao fracasso; 
● Resultado imprevisível– ​as pessoas negociam porque o resultado de não negociar 
é imprevisível; 
● Urgência e velocidade de tempo– ​os participantes devem ter uma sensação de 
urgência e ser conscientes de que, se não conseguirem uma decisão a tempo, 
poderão sofrer uma ação adversa ou uma perda de benefícios; 
● ​Ausência de impedimentos psicológicos importantes para um acordo–​ fortes 
sentimentos expressados ou silenciados para a outra parte podem afetar a 
disposição psicológica de uma pessoa para negociar; 
● Os temas têm de ser negociáveis–​ as partes devem estar conscientes de que há 
opções de acordo aceitáveis que tornam possível a participação no processo. 
● As pessoas têm autoridadepara decidir– ​se uma das partes não tem direito 
legitimado e reconhecido para decidir, o processo será apenas uma troca de 
informações entre as partes; 
● Vontade de compromisso–​ para alcançar uma conclusão satisfatória deve–se ter o 
compromisso de aceitação das partes daquela decisão; 
● O acordo deve ser razoável e realizável–​ os participantes devem ser capazes de 
construir um acordo realista e factível; 
● Fatores externos favoráveis ao acordo–​ devem ser criadas condições externas 
favoráveis a um acordo; 
● Recursos para negociar– ​os participantes devem colocar em ação suas 
habilidades necessárias para negociar e o compromisso com o diálogo. 
MOORE, C. W. O processo de mediação. Estratégias práticas para a resolução de conflitos. 
2. ed. Porto 
-Negociação colaborativa, integrativa ou baseada em princípios:​ Agora que você 
já conheceu as condições para que ocorra uma negociação, vamos iniciar nossa 
aprendizagem sobre a Negociação colaborativa ou baseada em princípios, desenvolvida 
pela Escola de Harvard. 
A abordagem principal da negociação, utilizada na mediação, é aquela que foge de uma 
forma de negociar chamada de posicional. Nesse tipo de negociação, os negociadores se 
tratam como oponentes, o que acarreta uma situação em que um ganha e o outro perde. No 
lugar de analisar os méritos da questão, as partes pressionam o máximo e cedem o mínimo. 
Desse modo, pode haver um aumento de raiva e ressentimento, prejudicando a relação 
social dos envolvidos e, principalmente, levando uma parte a sentir que está cedendo às 
intransigências da outra, enquanto suas preocupações permanecem desatendidas. 
Voltaremos a apresentar essa negociação quando abordarmos a barganha distributiva. 
Destacamos a importância da negociação colaborativa ou baseada em princípios, que 
chega a resultados justos, abordando os reais interesses dos envolvidos, e não suas 
posições. É muito importante que você aprofunde seus conhecimentos sobre essa 
negociação e, para isso, indicamos o livro: Como chegar ao SIM, de Roger Fisher, William 
Ury e Bruce Patton (2005). 
Para esses autores, quatro pontos fundamentais são necessários na negociação 
colaborativa: 
● Separação das pessoas dos problemas- ​Os negociadores são pessoas que, em 
conflito, tendem a misturar questões referentes à relação com a questão objetiva a 
ser negociada. Os aspectos pessoais fazem parte da negociação, não podem ser 
ignorados, mas não devem se misturar às questões objetivas. O revide em uma 
discussão não ajudará a solucionar um problema. As emoções se misturam com 
frequência aos méritos de uma negociação. As questões subjetivas – relacionais, 
emocionais, comunicacionais – devem ser reconhecidas e trabalhadas através de 
ferramentas apropriadas que veremos na aula 7.Dessa forma, antes de atacar as 
pessoas, deve-se atacar os méritos da negociação. Por exemplo, alguém pode 
iniciar uma negociação exigindo que uma pessoa se mude de um condomínio 
porque não tem educação quanto à altura do som que costuma escutar. Uma outra 
forma de iniciar a mesma negociação seria falando sobre algumas práticas como as 
proteções acústicas existentes e muitas utilizadas na vizinhança. Ao estabelecer que 
o problema é o vizinho, a comunicação fica difícil na negociação. 
● Foco nos interesses e não nas posições-​ Um conflito se expressa, primeiro, 
através de posições. Os autores do livro já citado Como chegar ao Sim (FISHER; 
URY e PATTON, 2005), apresentam um exemplo que esclarecerá muito bem o que 
estamos querendo dizer.Exemplo: duas irmãs brigavam por uma laranja. Depois de 
muita discussão resolveram dividi-la ao meio. A primeira pegou a sua metade, 
comeu a polpa e jogou a casca no lixo; a segunda usou a casca de sua metade para 
fazer uma geleia e jogou a polpa fora.Como você explicaria o que aconteceu?Se 
elas tivessem usado uma negociação colaborativa e colocado o foco nos seus 
interesses e não em suas posições, teriam terminado a negociação integralmente 
satisfeitas.Muitos autores costumam representar este tema usando a figura do 
iceberg. As posições correspondem à parte visível do iceberg e os interesses o que 
fica submerso e deve ser descoberto.Os interesses são identificados por meio de 
perguntas como: por quê? Com qual finalidade? O que pretendo ou o que o outro 
pretende? 
● Geração de opções de ganhos mútuos-​ Muitas vezes, as pessoas em conflito 
acreditam que apenas existe uma quantidade fixa de recursos a serem partilhados. 
Quando uma parte fica atendida na maior parte de seus interesses, a outra se 
sentirá desatendida. Neste caso, a ideia é aumentar os recursos disponíveis, 
gerando novas possibilidades para resolver o conflito. Os negociadores devem 
buscar atender os interesses de todos os envolvidos, numa solução ganha-ganha. É 
através da geração de novos recursos, articulação de necessidades e possibilidades 
de cada um dos negociadores que será possível atender os interesses em comum e 
criar harmonia entre os diferentes, de forma a satisfazer a todos os envolvidos. São 
diferentes as necessidades dos negociadores e estas podem trabalhar de forma a 
gerar benefícios mútuos. O que para um negociador é secundário, para o outro pode 
não ser, o que pode gerar novos recursos de negociação. 
● Utilização de critérios objetivos-​ Os negociadores devem utilizar critérios objetivos 
para avaliar as soluções que foram levantadas e para a tomada de decisão. Como 
esses critérios são externos, não envolvem a subjetividade das partes na decisão e 
evitam a polarização nesse momento. São exemplos: a legislação, o parecer de um 
técnico, o valor de mercado etc. 
-Melhor alternativa à negociação de um acordo (MAANA):​ Além dos quatro 
princípios da Escola de Harvard, um importante conceito é o da melhor alternativa à 
negociação de um acordo (MAANA). Trata-se do curso de ação de nossa preferência caso 
não haja consenso. É saber o que faremos ou o que vai acontecer se não conseguirmos 
chegar a um acordo. É importante observar qual é a MAANA antes de entrar em uma 
negociação, do contrário, não se saberá se o acordo será proveitoso ou não. 
Por exemplo, Luis XI, rei da França resolveu negociar quando Eduardo IV, rei da Inglaterra, 
atravessou o Canal da Mancha para capturar territórios franceses. Sabendo que poderia 
envolver-se em uma guerra prolongada e dispendiosa (MAANA), Luis XI calculou que seria 
melhor fazer um acordo com Eduardo IV. Assinou um tratado de paz com o rei da Inglaterra, 
pagando um certo valor adiantado e uma anuidade pelo resto da vida do monarca inglês, 
expulsando os ingleses da França. 
O melhor negócio não é aquele que prevalece em detrimento do outro, mas aquele que 
satisfaz os dois lados. 
-Barganha distributiva e negociação integrativa:​ É importante lembrar que a 
escolha do tipo de negociação está ligada a uma série de fatores como: 
 
● O objetivo que se tem em mente ao participar da negociação; 
● O comportamento característico dependendo da abordagem utilizada; 
● Os resultados alcançados a partir do modelo usado. 
 
Não basta saber que o conflito é uma oportunidade positiva, mas temos de saber em que 
essa disputa pode contribuir para a vida das pessoas envolvidas. Em contraposição a essa 
negociação, temos a barganha distributiva ou negociação baseada em posições, em que os 
interesses reais das pessoas não serão contemplados e sequer discutidos, podendo levar a 
negociação para um impasse e deterioração das relações. A barganha distributiva tem 
como premissa que tudo que se ganhar na negociação é à custa do oponente. Cada ganho 
que tiver implica diretamente perda para o outro. Exemplo: Se você vai negociar o prazo de 
entrega de um relatório com um membro de sua equipe e o pressiona para que a data seja 
antecipada para o mais breve possível, cada dia que se ganhar de antecipação implica 
diretamente trabalho dobrado para o outro, porque esse teráque se dedicar ao máximo 
para dar conta dessa demanda e de outras. 
De acordo com o Manual de Mediação Judicial (2013): 
O regateio, a barganha, a informação não revelada, a desconfiança na proposta do outro 
lado, a sensação de que pode estar sendo enganado, o jogo de concessões mútuas, a 
necessidade de dividir a diferença ou o prejuízo, o medo de estar sendo explorado e tantos 
outros aspectos, fazem parte de um tipo de negociação impregnado culturalmente em 
nossa sociedade. 
 
Voltando à aula 4, a partir da Moderna Teoria do Conflito, devemos utilizar as situações de 
conflito como uma oportunidade de aprendizado, crescimento e geração de ganhos mútuos. 
É importante aproveitar a energia do conflito causado pela divergência de interesses, ideias 
e valores para construir novas realidades e relacionamentos, mais produtivos para todos. A 
negociação integrativa, como já vimos e queremos reforçar porque ela é fundamental para a 
mediação, é uma forma de resolver conflitos que leva em conta a satisfação conjunta dos 
interesses das pessoas envolvidas. Ela obedece a uma sequência lógica e cronológica de 
passos a serem seguidos, diferente da barganha distributiva, em que a resolução da 
questão acontece de forma aleatória. Os passos a serem seguidos são: 
 
● Identificar e definir o problema; 
● Entender o problema e trazer os interesses e necessidades para a negociação; 
● Gerar soluções alternativas para o problema; 
● Avaliar e selecionar as alternativas. 
 
-Habilidades do negociador:​ Em linhas gerais, as habilidades que os negociadores 
utilizam depende do tipo de negociação que será realizada, do método e das estratégias 
empregadas. No entanto, existe um número significativo de habilidades que todo 
negociador deve ter, independente da situação. Resumindo algumas, podemos destacar: 
 
● Excelente comunicação; 
● Flexibilidade; 
● Criatividade; 
● Capacidade de observação; 
● Decisão. 
 
Além disso, não deve superestimar ou subestimar as suas próprias capacidades pois, isso 
pode levar ao fracasso da negociação. 
 
 
AULA 6 
 -Agentes e alguns fatores importantes na mediação:​ Definiremos, a seguir, os 
sujeitos no processo de mediação. Contudo o faremos de forma geral, lembrando que, no 
Judiciário, existem algumas peculiaridades, a partir da Lei da Mediação e do novo CPC, que 
serão explicados separadamente. 
● Mediador-​ O mediador tem como função exclusiva mediar a negociação. Ou seja, 
ele está eticamente impedido de exercer sua profissão de origem, inclusive no que 
diz respeito a prestar esclarecimentos técnicos às partes. Caso essas informações 
sejam necessárias, os mediandos devem ser orientados a procurar um especialista 
naquela área. O mediador deve cumprir e fazer cumprir os princípios da mediação, 
vistos na aula 3. É frequente, quando possível ou necessário, o trabalho em 
conjunto, chamado de comediação. Em geral, usamos esse termo para designar o 
trabalho de duplas de mediadores, que apresenta características valorizadas na 
mediação como: colaboração, diálogo e inclusão. É um trabalho enriquecedor 
porque, de certa forma, amplia a visão sobre o conflito, suas possibilidades de 
atuação, além de demonstrar para os mediandos a possibilidade de um trabalho 
colaborativo. Para um aprofundamento sobre a importância da comediação, 
sugerimos a leitura da página 82 do Manual de mediação Judicial (2013). 
● Partes-​ São os participantes da mediação e aqueles que têm o poder de decisão. A 
participação de quaisquer outros poderá ser vista como uma violação ao caráter 
privado e confidencial da mediação, pondo em risco o seu sucesso, por dificultar a 
abertura do diálogo. No entanto, em muitos casos, a decisão poderá vir a traduzir-se 
em impacto nas relações pessoais dos intervenientes, pelo que se promove a 
consideração da possível intervenção de outras pessoas relevantes para o 
processo. Mas essas são situações que deverão ser analisadas caso a caso, não 
trataremos delas neste momento. Destacamos, contudo, que tais discussões devem 
ser realizadas numa capacitação e em sua respectiva supervisão. As partes têm 
autonomia e protagonismo na mediação. Sendo toda e qualquer decisão fruto de 
suas reflexões e diálogos. Além disso, devem assumir a responsabilidade de tomar 
as decisões que influenciarão as suas vidas, no presente e no futuro. 
● Advogados-​ A mediação é um processo que não envolve apenas direitos, mas 
outros interesses mais amplos. Na maior parte da mediação, quando há a presença 
dos advogados, estes não se manifestam. E, se isso ocorre, entendemos que estão 
desempenhando os seus papéis de forma correta. Por quê? O objetivo da mediação 
é promover a comunicação entre as partes, é permitir que elas se expressem 
livremente e que possam se entender diretamente a partir daí. Os advogados são os 
assessores jurídicos das partes, garantindo que ninguém abrirá mão de direitos sem 
estar plenamente consciente dessa renúncia e dos ganhos possíveis decorrentes da 
decisão. Assim, os advogados ou representantes legais participarão das mediações, 
também esclarecendo os direitos de seus clientes. Para que você entenda melhor 
como ocorre a mediação judicial e a participação desses profissionais, julgamos 
fundamental a leitura dos dois documentos que especificam e esclarecem sua 
participação na mediação: a lei da mediação e o novo CPC. Acrescentamos, ainda, 
algumas considerações importantes sobre os advogados na mediação, destacadas 
na página 86 do Manual de Mediação Judicial (2013). 
-Estrutura do processo de mediação:​ Antes de conhecermos a dinâmica da 
mediação, é necessário entender que ela é composta de uma série de atos coordenados, 
no entanto, o mediador tem a liberdade de, dependendo da situação, flexibilizar o 
procedimento para que seja eficaz. Cada mediador desenvolve e tem um estilo próprio, 
respeitando as questões técnicas e éticas. É essa flexibilidade que torna a mediação um 
procedimento que requer não apenas a capacitação, mas também a criatividade do 
mediador. 
Além de enfatizar a flexibilidade na estrutura do processo de mediação, é importante 
destacar a informalidade que ela deve incentivar. Para isso, é necessário que o mediador 
não se apresente como uma figura de autoridade. Ele deve coordenar a mediação em um 
tom de conversa, sem formalidades e estimulando o diálogo. Você deve entender que essa 
informalidade não exclui a preservação de uma postura profissional adequada. 
-A dinâmica da mediação:​ Atualmente, no Judiciário, temos uma série de 
procedimentos que deverão ser seguidos para que a mediação ocorra. Podemos citar, entre 
eles, o encaminhamento para a mediação, o comparecimento obrigatório a partir da 
designação da mediação, além da possibilidade de poder desistir do processo sem mesmo 
ter comparecido a ele em um primeiro momento. Para melhor esclarecer esses aspectos, 
acreditamos ser fundamental para o seu aprendizado a leitura dos documentos que 
legalizam a mediação: a lei 13.105 (2015) e a lei 13.140 (2015). 
Em contrapartida, nas mais variadas áreas, incluindo aquelas ligadas ao Judiciário (a 
Defensoria Pública, os Escritórios de Prática Jurídica das Universidades, por exemplo), 
podemos ter a situação em que uma pessoa procura a instituição para dar entrada em uma 
ação. É, pois, oferecida a mediação (com uma breve explicação sobre ela) a partir de uma 
avaliação sobre a pertinência desse procedimento, segundo o caso apresentado. 
Sendo aceita a proposta pela parte, é importante que o contato com a outra seja realizado, 
por escrito ou por telefone, mas, principalmente, sob a forma de um convite para um 
diálogo, e não de uma convocação. Havendo a aceitação do convite, teremos um momento 
denominado pré-mediação. Antes de falarmos da pré-mediação, é importante lembrarmos 
que o seu ambiente deve ser bem confortável, mantendo a privacidade, e estimulante para 
o diálogo. O espaçodeve conter, sempre que possível, uma mesa redonda, em que é 
criada a garantia de que todos se veem e estão no mesmo plano. Todos devem ter acesso 
a papéis e canetas para realizar as anotações que se fizerem necessárias. 
-Pré-mediação: ​Esse momento pode ser feito individualmente ou com as duas partes 
simultaneamente. 
Na pré-mediação, ocorre a troca de informações que antecede a mediação propriamente 
dita. O mediador explica sobre o processo de mediação, avalia se ela é possível, a partir 
das informações das partes, e analisa a possibilidade da sua atuação como mediador 
naquele caso (se há algum impedimento quanto a sua imparcialidade). 
É importante que, na pré-mediação, os mediandos sejam informados sobre a técnica da 
mediação, seus objetivos e alcance. São descritos os papéis do mediador e dos mediandos. 
Se estes comparecerem com seus advogados, o mediador deve esclarecer a importância 
deles como assessores e consultores jurídicos, assegurando que a mediação é uma prática 
colaborativa que busca o consenso. Devem ser tranquilizados sobre a necessidade desses 
profissionais na revisão legal do acordo e encaminhamento para a homologação do mesmo, 
caso seja preciso. 
Há um breve relato das partes sobre o conflito, a fim de ser avaliada a pertinência da 
mediação e a existência de algum impedimento ético ou pessoal. Após a pré-mediação, se 
os mediandos optarem pela mediação e o mediador avaliar como possível sua realização, o 
procedimento terá início. 
Alguns autores evidenciam a importância de estabelecer uma agenda nessa fase, que deve 
conter os seguintes itens: estimativa do tempo de duração, frequência e duração das 
reuniões; lugar e idioma da Mediação ou, se assim o desejarem, deixar a critério da 
Instituição ou entidade organizadora do serviço; e custos e formas de pagamento da 
Mediação. 
-Etapas da mediação:​Vamos observar, agora, como as etapas da mediação funcionam. 
● Abertura- ​Chamamos esse momento de discurso de abertura. É a partir daí que tem 
início a mediação. O discurso pode ocorrer após a pré-mediação, principalmente 
quando as partes comparecem juntas, ou em um outro momento em que deve ser 
lembrado, de forma resumida, o que foi conversado na pré-mediação. São 
estabelecidas, pois, as regras de comportamento dos mediandos, os princípios da 
mediação e o papel do mediador. Quanto à regra fundamental, deve ficar claro que, 
para uma comunicação ser eficaz, quando uma parte fala, a outra deve escutar, sem 
interromper. O enfoque das partes deve ser nos interesses e não na discussão de 
provas jurídicas. Deve ser abordada a possibilidade de sessões individuais, além 
das expectativas do mediador em relação às partes. Deve ser relembrado o papel 
dos advogados na mediação e explicado como a mediação ocorrerá. O 
entendimento das regras pelas partes deve ser confirmado, além da disposição de 
participarem. Após esse momento, em vários setores, há a assinatura de um Termo 
que pode ser denominado, por exemplo, Termo de Consentimento ou Termo de 
Participação, dependendo da instituição em que acontece a mediação. Para que 
você veja como uma sessão de abertura ocorre, indicamos a leitura do material do 
Manual de Mediação Judicial (2013) contido nas páginas 97 a 112. 
● Relato das histórias-​ Nesse momento, ouvimos a história de cada uma das partes 
sobre o conflito que as levou à mediação. O objetivo é dar a todos a oportunidade de 
ouvir o relato dos fatos e analisar as percepções das pessoas envolvidas. Podemos 
ter uma visão geral e, ao mesmo tempo, identificar questões e interesses que estão 
por trás das posições declaradas nas histórias. Há possibilidade de expressão de 
sentimentos, sem interrupções ou outros impedimentos, sempre mantendo um clima 
respeitoso e educado. O mediador deve escutar os relatos de forma ativa 
(ferramenta que será estudada na aula 7) e, após a exposição das partes sobre suas 
perspectivas, poderá elaborar perguntas, reunindo informações que o auxiliarão a 
entender aspectos que podem não estar claros em relação ao conflito trazido. 
● Resumo-​ Após o relato das histórias, o mediador faz um resumo do que foi dito, 
utilizando uma linguagem neutra ou positiva. Ele deve transformar posições trazidas 
nos relatos como, por exemplo, “Eu não aceito pagar esse valor pelo serviço 
prestado, porque isso não foi o combinado”, em interesses “Acredito que o senhor 
esteja falando que concorda em pagar o valor justo pelo serviço prestado” (veremos 
mais detalhes na aula 7). Como você percebeu, o mediador faz uma leitura do 
conflito de forma despolarizada, evidenciando interesses comuns e compartilhados, 
que foram identificados nos relatos das partes, potencializando uma postura 
colaborativa. O resumo fornece uma orientação para a mediação, buscando 
centralizar o diálogo entre as partes para os principais pontos a serem trabalhados. 
O mediador deve construir uma versão imparcial, neutra e prospectiva daquilo que 
escutou e entendeu. Além disso, a realização do resumo serve para avaliar a 
compreensão do mediador sobre o que foi trazido. É importante saber que a técnica 
do resumo pode ser utilizada em etapas posteriores: após troca de informações 
importantes, após sugestões de possíveis soluções, lembrar os reais interesses e 
apaziguar ânimos. 
● Pauta de trabalho-​ Após o resumo realizado pelo mediador e a confirmação das 
partes sobre a compreensão do profissional em relação ao ocorrido, é definida uma 
pauta de trabalho. Esta traduz os interesses ressaltados em temas a serem tratados. 
Ela pode ser confirmada, ratificada ou adequada pelos mediandos. A pauta é 
dinâmica e deve ser atualizada conforme o trabalho na mediação vai acontecendo. 
Podem aparecer outros temas no decorrer da mediação e deverão ser organizados 
pelo mediador, para que mantenham uma sequência lógica. Sistematizar o trabalho 
através de uma pauta de trabalho é uma forma de organizar a mediação e promover 
uma certa tranquilidade aos mediandos, que conhecerão os temas a serem tratados. 
É importante que se inicie a mediação a partir dos temas que apresentam menos 
desacordo, para que possa ser criada a percepção nos mediandos de que a 
colaboração entre eles é possível. 
● Esclarecimento das controvérsias-​ Com o uso das ferramentas que serão 
apresentadas na aula 7, o mediador trabalhará as questões da pauta de trabalho 
junto com os mediandos, buscando elucidá-las. 
● Resolução de questões-​ A partir do trabalho realizado quanto ao esclarecimento 
das controvérsias e tendo sido alcançada a compreensão sobre o conflito, chega a 
hora de o mediador utilizar as ferramentas para conduzir as partes para a análise 
das possíveis soluções. É importante que os mediandos elejam critérios objetivos na 
tomada de suas decisões, evitando o surgimento de novas polarizações. 
● Finalização da mediação-​ Você deve saber que a mediação pode terminar com a 
assinatura ou não de um acordo ou pode ser interrompida a qualquer momento pelo 
mediador ou pelas partes quando alguma situação dificultar a sua continuidade. No 
entanto, isso não quer dizer que a mediação que não acaba em acordo, assinado ou 
não, seja um fracasso. Muitas vezes, a mediação já possibilitou a abertura para um 
diálogo, que levará a uma solução daquele conflito no Judiciário, frente ao juiz, se for 
o caso, ou em um outro momento. O acordo escrito deve ser redigido pelo mediador, 
na linguagem dos mediandos, evitando, sempre que possível, o uso de termos 
técnicos que comprometem a compreensão deles. Deve refletir os compromissos 
mútuos e sua complementaridade. A linguagem é sempre positiva, otimista e com 
foco no futuro. Deve ser lembrada a possibilidade de um acordo provisório, que 
necessitará de um período de monitoramento ou de reavaliação para verificar a 
eficácia ou não daquela decisão. Essa situação ocorre com a marcação de futuras 
sessões de mediação a fim de avaliar a necessidadeou não de revisão sobre o que 
foi combinado. 
-Benefícios da mediação:​ Todos nós já sabemos que um conflito é muito mais amplo do 
que aquilo que é apresentado e discutido entre as partes. Temos o que as partes revelam e 
o que é realmente o interesse delas. 
Sendo assim, acreditamos que só quando resolvemos o conflito como um todo é que 
teremos resolvido a questão. Não basta solucioná-la superficialmente se os verdadeiros 
interesses, que motivaram o conflito, não foram identificados e muito menos resolvidos. 
Além do problema trazido pelas partes, temos, em várias situações, relacionamentos 
anteriores que ficaram desgastados, personalidade de cada um dos mediandos, valores, 
formas de comunicação e, ainda, seus interesses e necessidades. Algumas pessoas 
acreditam que esses fatores são secundários na solução de conflitos, mas, pelo contrário, 
eles estão na origem do conflito. 
É a partir da consideração desses aspectos, que são trabalhados pelo mediador, que as 
partes chegarão a um diálogo construtivo, transpondo as barreiras de comunicação e 
superando as diferenças para chegarem a uma solução. Como você está percebendo, a 
mediação apresenta vários benefícios. Podemos destacar, por exemplo, o empoderamento 
das partes, em que cada uma delas terá o seu senso de valor e poder restaurado para que 
possa resolver aquele conflito e os futuros conflitos, porque, como sabemos, não há vida 
sem conflitos. 
Um outro benefício da mediação é poder proporcionar um ambiente neutro para que as 
partes possam expor os seus sentimentos e, também, compreender o ponto de vista 
contrário, com a facilitação da comunicação pelo mediador. Sendo assim, há a possibilidade 
de manter, construir de outra forma ou melhorar o relacionamento com a outra parte. E, por 
fim, não poderíamos deixar de lembrar da celeridade e dos baixos custos que envolvem a 
mediação. 
 
 
 
É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, mas também, e 
principalmente, a ​tutela jurisdicional efetiva​, rápida e sem demoras indevidas. Isto significa 
dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos prejuízos que causa quando não 
presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não respeita, por omissão, o direito 
humano fundamental de real acesso à justiça. 
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos                             
dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de                               
1988. 
É direito fundamental não apenas o simples acesso ao Poder Judiciário, mas também, e                           
principalmente, a ​tutela jurisdicional efetiva​, rápida e sem demoras indevidas. Isto significa                       
dizer que o Estado deve ser considerado responsável pelos prejuízos que causa quando não                           
presta a eficiente tutela jurisdicional, ou seja, quando não respeita, por omissão, o direito                           
humano fundamental de real acesso à justiça. 
O aumento da demanda de processos no Judiciário foi fruto de uma ampliação dos direitos                             
dos cidadãos, entre eles, o direito do acesso à justiça do período após a Constituição de                               
1988.