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LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 1 1) CONCEITO Conceitos de contrato: Conceito clássico: negócio jurídico bilateral ou plurilateral, que visa à criação, modificação ou extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial ato jurídico lato sensu - negócio jurídico alteridade patrimonialidade Conceito pós-moderno: relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da relação, como também perante terceiros ato jurídico lato sensu - negócio jurídico alteridade possibilidade de eficácia externa: perante terceiros valores constitucionais contrato pode envolver conteúdo existencial (direitos da personalidade) Enunciado CJF 23: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 2 Questões relativas à alteridade: Conceito de alteridade: presença de ao menos 2 pessoas na formação do contrato = composição de interesses a autocontratação perfeita: é vedada pelo sistema o artigo 117 do CC: o mandato em causa própria = ainda está presente a alteridade, uma vez que a contratação é feita com representação Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo. Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido subestabelecidos. o mandado em causa própria: é ANULÁVEL se não houver: autorização do representado ou autorização legal prazo decadencial da anulabilidade: 2 ANOS (regra geral do CC, art. 179) CC, art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 3 2) CATEGORIZAÇÃO JURÍDICA DOS CONTRATOS – AS PRINCIPAIS CLASSIFICAÇÕES 2.1) CLASSIFICAÇÃO QUANTO AOS DIREITOS E DEVERES DAS PARTES CONTRATANTES O contrato é sempre negócio jurídico bilateral ou plurilateral (participação). Mas o contrato, com relação aos direitos e deveres das partes, pode assim ser classificado: contrato unilateral: apenas um dos contratantes assume deveres em face do outro exs.: doação pura e simples, mútuo, comodato contrato bilateral: contratantes são simultaneamente e reciprocamente credores e devedores uns dos outros denominação moderna: contrato sinalagmático = noção de proporcionalidade das prestações contrato plurilateral: várias pessoas + direitos e deveres para todos os envolvidos 2.2) QUANTO AO MOMENTO DO APERFEIÇOAMENTO DO CONTRATO O contrato pode ser: consensual: aperfeiçoamento pela simples manifestação de vontade real: aperfeiçoamento com a entrega da coisa antes da entrega da coisa: há apenas uma promessa de contratar LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 4 2.3) QUANTO AO SACRIFÍCIO PATRIMONIAL DAS PARTES O contrato pode ser: oneroso: traz vantagens para ambos os contratantes gratuito ou benéfico: onera somente uma das partes a interpretação do contrato gratuito é restritiva CC, art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam- se estritamente. o contrato gratuito X unilateral regra geral: o contrato gratuito é unilateral há exceções: o contrato de mútuo feneratício (sujeito a juros) obrigação de restituir o dinheiro = contrato unilateral obrigação de pagar juros = contrato oneroso 2.4) QUANTO À PREVISÃO LEGAL O contrato pode ser: típico: com um estatuto legal mínimo atípico: NÃO há previsão legal específica regra: é lícita a criação de contratos atípicos CC, art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 5 2.5) QUANTO AOS RISCOS QUE ENVOLVEM A PRESTAÇÃO O contrato pode ser: comutativo: as partes já sabem quais são as prestações contrato aleatório (CC, art. 458/461): a prestação de uma das partes NÃO é conhecida no momento da celebração do contrato – pois depende da álea contrato aleatório emptio spei: risco é relativo a própria existência da coisa CC, art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. contrato aleatório emptio rei seperatae: o risco versa sobre a quantidade/qualidade da coisa CC, art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 6 2.6) QUANTO À NEGOCIAÇÃO DO CONTEÚDO PELAS PARTES O contrato pode ser: contrato de adesão: uma das partes, o estipulante, impõe o conteúdo negocial Enunciado CJF 171: Art. 423: O contrato de adesão, mencionado nos arts. 423 e 424 do novo Código Civil, não se confunde com o contrato de consumo contrato de consumo: aquele que há a presença de fornecedor + consumidor (CDC, arts. 2º e 3º) pode ser também um contrato de adesão contrato paritário ou negociado: o conteúdo é discutido entre as partes 2.7) QUANTO À PRESENÇA DE FORMALIDADES OU SOLENIDADES O contrato pode ser: formal: exige qualquer formalidade formal solene: exige solenidade pública formal não solene: exige determinada formalidade, mas não solenidade pública informal: não exige qualquer formalidade CC, art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir. regra geral do sistema LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 7 2.8) QUANTO À INDEPENDÊNCIA CONTRATUAL O contrato pode ser: principal ou independente: existe por si só acessório: a validade depende do contrato principal o princípio da gravitação judicia: o acessório segue o principal CC, art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcialde um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. contratos coligados (natureza híbrida): independência relativa entre negócios jurídicos com efeitos interligados Enunciado CJF 421: Arts. 112 e 113: Os contratos coligados devem ser interpretados segundo os critérios hermenêuticos do Código Civil, em especial os dos arts. 112 e 113, considerada a sua conexão funcional. reconhecimento jurisprudencial: compra separada de 2 lotes, um para casa e outro para anexo de lazer – a nulidade de um afeta o outro, mesmo que independente (STJ – REsp. 337.040/AM) 2.9) QUANTO AO MOMENTO DO CUMPRIMENTO O contrato pode ser: instantâneo ou de execução imediata: tem aperfeiçoamento e cumprimento imediato execução diferida: cumprimento de uma vez no futuro execução continuada ou trato sucessivo: cumprimento fracionado no tempo, de forma periódica LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 8 2.10) QUANTO À PESSOALIDADE O contrato pode ser: pessoal ou personalíssimo: a pessoa do contratante é elemento determinante de sua conclusão contrato impessoal: a pessoa do contratante não é relevante para a conclusão do contrato 2.11) QUANTO À DEFINITIVIDADE O contrato pode ser: Preliminar ou pré-contrato (pactum de contrahendo): negócio que tende à celebração de outro futuro (CC, art. 462/466) o contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado exceção: quanto à FORMA qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo exceção: se constar cláusula de arrependimento após o prazo para cumprimento: suprimento de vontade – se possível ou perdas e danos Definitivo: não tem qualquer dependência futura LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 9 1) INTRODUÇÃO Fundamentos modernos do estudo dos princípios contratuais: Diálogo das fontes CC/CDC: Enunciado CJF 167: Arts. 421 a 424: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código de Defesa do Consumidor no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos. Direito civil constitucional (Gustavo Tepedino): valorização da dignidade da pessoal humana (CF, art. 1º, III) igualdade (CF, art. 5º, caput) solidariedade social (CF, art. 3º, I) LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 10 2) PRINCÍPIOS EM ESPÉCIE Princípios Autonomia privada Função social dos contratos Força obrigatória dos contratos Boa-fé objetiva Relatividade dos efeitos contratuais LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 11 2.1) PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PRIVADA Conceitos básicos: Liberdade de contratar: escolha do momento e com quem contratar Liberdade contratual: escolha do conteúdo A terminologia do princípio – doutrina moderna: Denominação clássica: princípio da autonomia da vontade conotação subjetiva – alheia ao dirigismo contratual típico do direito civil constitucional Denominação moderna: princípio da AUTONOMIA PRIVADA conotação objetiva: a liberdade contratual dentro dos limites da ordem pública – princípios sociais do contrato Enunciado CJF 23: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. personalização do direito civil – exemplos de institutos típicos relacionados: estatuto jurídico do patrimônio mínimo (Luiz Edson Fachin) Império dos contratos-modelo: onde a vontade passa a ter papel mínimo (Take it or leave it) LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 12 2.2) PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS Teor normativo: a liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato Críticas ao art. 421 do CC: CC, art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Substituição de “liberdade de contratar” por “liberdade contratual”: dando a noção de conteúdo do contrato Retirada do “em razão”: a função social não é razão para o contrato, mas sim a autonomia privada Dupla eficácia do princípio: eficácia externa – aspectos: abrangência metaindividual tutela externa do crédito: possibilidade de o contrato gerar efeitos perante terceiros ou de conduta de terceiros repercutir nos contratos ex.: aquele que aliciar pessoas obrigadas por contrato escrito a prestar serviços a outrem, pagará a este o correspondente a 2 anos da prestação de serviços CC, art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 13 Eficácia interna - aspectos: proteção dos vulneráveis contratuais: CDC, art. 47: interpretação pró-consumidor CDC, art. 51: nulidade de cláusula de renúncia antecipada de direito resultante do negócio Enunciado CJF 364: Arts. 424 e 828: No contrato de fiança é nula a cláusula de renúncia antecipada ao benefício de ordem quando inserida em contrato de adesão. Enunciado CJF 433: Art. 424: A cláusula de renúncia antecipada ao direito de indenização e retenção por benfeitorias necessárias é nula em contrato de locação de imóvel urbano feito nos moldes do contrato de adesão. (Exceção à Súmula 335 do STJ cláusulas abusivas: não é matéria exclusiva de contrato de consumo, mas também previstas em contratos de adesão Enunciado CJF 172: Art. 424: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002. vedação da onerosidade excessiva ou desequilíbrio contratual LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 14 proteção da dignidade humana e dos direitos da personalidade Enunciado CJF 23: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana. descumprimento de contrato pode gerar dano moral, quando envolver direito fundamental Enunciado CJF 411: Art. 186: O descumprimento de contrato podegerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido pela Constituição Federal de 1988. Jurisprudência: STJ, REsp. 880.035/PR nulidade de cláusulas antissociais função social do contrato = plano validade Enunciado CJF 431: Art. 421: A violação do art. 421 conduz à invalidade ou à ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais. Enunciado CJF 432: Art. 422: Em contratos de financiamento bancário, são abusivas cláusulas contratuais de repasse de custos administrativos (como análise do crédito, abertura de cadastro, emissão de fichas de compensação bancária, etc.), seja por estarem intrinsecamente vinculadas ao exercício da atividade econômica, seja por violarem o princípio da boa-fé objetiva. tendência de conservação contratual Enunciado CJF 22: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. STJ, REsp 1.073.595/MG: continuidade de seguro de vida estabelecido por longo prazo LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 15 O art. 2.035, parágrafo único: norma primordial da função social do contrato no CC: Art. 2.035. (...) Parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos. Aspectos: função social dos contratos = preceito de ordem pública Cabe intervenção do MP fundamento para a crítica da Súmula 381 do STJ: que proíbe o conhecimento de ofício da abusividade de cláusula em contrato bancário STJ, Súmula 381 - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas função social do contrato está ao lado da função social da propriedade: dando fundamento constitucional ao mesmo retroatividade motivada ou justificada da função social do contrato LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 16 2.3) PRINCÍPIO DA FORÇA OBRIGATÓRIA DO CONTRATO (pacta sunt servanda) Visão clássica: o contrato faz lei entre as partes Visão moderna - o princípio da força obrigatório tende a desaparecer e se substituir por: princípio da conservação dos contratos princípio da boa-fé objetiva princípio da função social do contrato: princípio relativizador LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 17 2.4) PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA Conceito: exigência de conduta leal das partes contratantes Enunciado CJF 27: Art. 422: Na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos. Deveres anexos: cuidado respeito informação lealdade e probidade cooperação razoabilidade quebra dos deveres anexos: = violação positiva do contrato Enunciado CJF 24: Art. 422: Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa. Responsabilidade OBJETIVA boa-fé objetiva: é preceito de ordem pública Enunciado CJF 363: Art. 422: Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas demonstrar a existência da violação LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 18 As funções da boa-fé objetiva no CC/02: Função interpretativa CC, art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Função de controle CC, art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê- lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. responsabilidade civil por abuso de direito: é objetiva Enunciado CJF 37: Art. 187: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico. Função de integração CC, art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. a boa-fé em todas as fases contratuais enunciado dirigido ao Juiz Enunciado CJF 25: Art. 422: O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual. enunciado dirigido às partes contratantes Enunciado CJF 170: Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 19 A aplicação da boa-fé nas várias fases do contrato – questões práticas: Fase pré-contratual: leading case (TJRS – Embargos Infringentes n.º 591083357): “o caso dos tomates”: a CICA fornecia sementes prometendo compra futura da plantação de tomates. A inexistência de compra gerou responsabilidade civil Fase contratual: a súmula 308 do STJ: STJ, Súmula 308: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel. fase pós-contratual: dever de retirada do nome do devedor do cadastro de inadimplentes após pagamento (pos factum finitum) Conceitos parcelares da boa-fé objetiva: Enunciado CJF 26: Art. 422: A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos contratantes. Supressio (Verwirkung): supressão, por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica. Ex.: pagamento reiterado em outro local presume renúncia do credor ao previsto no contrato (CC, art. 330) Surrectio (Erwirkung): surgimento de um direito diante de práticas, usos e costumes. Ex.: aluguel a preço inferior gera direito a estabilização da situação consolidada (TJMG, Acórdão 1.0024.03.163299-5/001) LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 20 Tu quoque: contratante que viola uma norma jurídica não poderá aproveitar-se dessa situação jurídica Ex.: exceção de contrato não cumprido não pode ser alegada por aquele que está inadimplente (TJMG, AI 1.0024.09.732895-9/0011) Exceptio doli: a defesa do réu contra ações dolosas, contrárias, contrárias a boa-fé Ex.: excepcio non adimpleti contractus (CC, art. 476) Venire contra factum proprium: determinada pessoa não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior (tese dos atos próprios) Enunciado CJF 362: Art. 422: A vedação do comportamento contraditório (venirecontra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. duty to mitigate the loss: dever imposto ao credor de mitigar suas perdas Enunciado CJF 169: Art. 422: O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 21 2.5) PRINCÍPIO DA RELATIVIDADE DOS EFEITOS CONTRATUAIS Regra: o contrato gera efeitos inter partes Exceções: Estipulação em favor de terceiro (CC, arts. 436/438) podem exigir o cumprimento do contrato: o estipulante o terceiro beneficiado o estipulante NÃO pode exonerar o devedor - se deixou ao terceiro beneficiado o direito de exigir o cumprimento o estipulante pode reservar o direito de substituir o terceiro beneficiado Promessa de fato de terceiro (CC, arts. 439/440) aquele que prometer responde pelo inadimplemento do terceiro Contrato com pessoa a declarar ou com cláusula pro amico eligendo (CC, arts. 467/471) pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Tutela externa do crédito ou eficácia externa da função social do contrato (CC, art. 421) Enunciado CJF 21: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 22 Fases da formação dos contratos Negociações preliminares ou puntuação Proposta, policitação ou oblação Contrato preliminar Contrato definitivo ou conclusão do contrato LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 23 1) FASE DE NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES OU PUNTUAÇÃO Conceito: debates prévios sobre o contrato preliminar ou definitivo Regras: a puntuação NÃO vincula as partes quanto a formação do contrato é possível responsabilização com base na boa-fé objetiva 2) FASE DE PROPOSTA, POLICITAÇÃO OU OBLAÇÃO Conceito: fase onde há a declaração de vontade unilateral receptiva = manifestação de vontade de contratar + a solicitação de aceitação da outra parte Fase vinculativa - a proposta VINCULA o proponente: gera obrigação de contratar, sob pena de perdas e danos Denominação das partes: policitante, proponente ou solicitante: formula a proposta policitado, oblato ou solicitado: recebe a proposta e, se a acatar, torna-se aceitante A receptividade e a proposta ao público CC, art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos. (...)Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada. regra: é vinculativa se conter os requisitos essenciais do contrato revogação da proposta: mesmos meios de publicidade da proposta + ressalva da possibilidade de revogação na proposta LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 24 O encontro de vontades: proposta: séria, clara, precisa e definitiva CC, art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso. aceitação: pura e simples CC, art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. aceitação com ressalvas: é considerado nova proposta (contraproposta) CC, art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. aceitação tácita: contratos cujo costume não seja a aceitação expressa CC, art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa. exceção à regra geral do artigo 111: segundo o qual quem cala NÃO consente LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 25 Hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória (CC, art. 428): CC, art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta: I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. contrato com declaração consecutiva: feita sem prazo a pessoa presente + não foi imediatamente aceita. Considera-se presente: a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante; contrato com declaração intervalada: feita sem prazo a pessoa ausente + tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente; NÃO tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado; antes ou juntamente com a aceitação chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 26 A formação do contrato – o encontro de vontades: Contrato entre presentes: se NÃO houver prazo para aceitação: deverá ser aceito imediatamente se houver prazo para aceitação: aceitação deve ser feita no termo Contrato entre ausentes (epistolar): regra - TEORIA DA AGNIÇÃO, SUBTEORIA DA EXPEDIÇÃO: concluído no momento em que a aceitação for EXPEDIDA Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida (...) exceções – TEORIA DA AGNIÇÃO, SUBTEORIA DA RECEPÇÃO: CC, art. 434. (...) I - no caso do artigo antecedente; II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta; III - se ela não chegar no prazo convencionado. antes ou junto com a aceitação chegar a retratação proponente se comprometer a esperar a resposta (convenção pela subteoria da recepção) resposta não chegar no prazo estipulado contrato eletrônico (doutrina) Enunciado CJF 173: Art. 434: A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 27 Lugar da formação do contrato: Nos contratos nacionais: lugar da proposta CC, art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto. Nos contratos internacionais: lugar de residência do proponente LINDB, Art. 9o (...) § 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituida no lugarem que residir o proponente. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 28 3) FASE DE CONTRATO PRELIMINAR Conceito: conjunção de vontades com assunção de obrigação de realizar o contrato definitivo Fase facultativa na formação do contrato Requisitos do pré-contrato: as mesmas do contrato definitivo, EXCETO a FORMA CC, art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. Espécies de contratos preliminares: Compromisso unilateral de contrato ou contrato de opção: apenas uma das partes assume a obrigação de realizar o contrato definitivo CC, art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor. Compromisso bilateral de contrato: as duas partes assumem a obrigação de celebrar o contrato definitivo qualquer das partes pode exigir a realização do contrato definitivo – salvo se houver cláusula de arrependimento CC, art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 29 3.1) O COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA Conceito: espécie de contrato preliminar por meio do qual o promitente se compromete a vender o seu bem ao promissário após o pagamento integral do preço Forma: instrumento público ou particular Retratabilidade: regra: retratável exceção: cláusula em sentido oposto O pré-contrato de venda de bens imóveis (compromisso de compra e venda) compromisso + registro na matrícula do imóvel: há direito REAL de aquisição CC, art. 1.225. São direitos reais: (...) VII - o direito do promitente comprador do imóvel; Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel. não é propriamente um compromisso de compra e venda o parágrafo único do art. 463: o “deverá” diz respeito exclusivamente a efetividade perante terceiros Enunciado CJF 30: Art. 463: A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros. Art. 463. (...) Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente. opção do credor: adjudicação compulsória prazo da ação de adjudicação: NÃO há1 1 STJ. 4ª Turma. REsp 1.216.568-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 3/9/2015 (Info 570). LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 30 Compromisso de compra e venda NÃO registrado: o compromissário terá 3 opções tutela específica de obrigação de fazer (CPC, art. 461) suprimento de vontade - adjudicação compulsória (CC, art. 464) quando exercida perante o promitente, não é necessário o registro na matrícula do imóvel Enunciado CJF 95: Art. 1.418: O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do novo Código Civil), quando exercido em face do promitente vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de compra e venda no cartório de registro imobiliário (Súmula n. 239 do STJ). perdas e danos CC, art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 31 O contrato com pessoa a declarar – cláusula pro amico eligendo A cláusula pro amico eligendo: uma das partes pode se reservar a faculdade de indicar outra pessoa que deve assumir as obrigações e adquirir os direitos CC, art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes. Requisitos de efeito da indicação: comunicação em 5 dias da conclusão do negócio definitivo CC, art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver sido estipulado. aceitação: MESMA FORMA do contrato Art. 468. (...) Parágrafo único. A aceitação da pessoa nomeada não será eficaz se não se revestir da mesma forma que as partes usaram para o contrato. NÃO terá efeito a cláusula pro amico eligendo nos seguintes casos: Art. 470. O contrato será eficaz somente entre os contratantes originários: I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la; II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. NÃO houver indicação da pessoa a pessoa indicada se negar a aceitar a indicação pessoa nomeada for insolvente ou incapaz CC, art. 471. Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá seus efeitos entre os contratantes originários. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 32 4) FASE DO CONTRATO DEFINITIVO Conceito: encontro de vontades LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 33 1) INTRODUÇÃO Princípios regentes: princípio da conservação dos contratos a extinção do contrato é a ultima ratio Enunciado CJF 22: Art. 421: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. princípio da função social do contrato boa fé objetiva 2) A REVISÃO DO CONTRATO NO SISTEMA BRASILEIRO – SISTEMA DE DUALIDADE NORMATIVA Os sistemas de revisão contratual no Direito brasileiro Revisao no CC/02 Revisão no CDC LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 34 2.1) REVISÃO DO CONTRATO POR FATO SUPERVENIENTE NO CÓDIGO CIVIL Previsão normativa: CC, arts. 317 e 478 CC, art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. CC, Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resoluçãodo contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. art. 317: próprio da revisão de contratos art. 478: próprio da extinção dos contratos (resolução) Doutrina: o art. 418 deve ser interpretado de forma a possibilitar também a revisão = princípio da conservação dos contratos Enunciado CJF 176 - Art. 478: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual. A teoria adotada pelo Código Civil: 1ª corrente (majoritário): teoria da imprevisão 2ª corrente: teoria da onerosidade excessiva LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 35 Requisitos para a REVISÃO - quanto ao contrato e quanto ao motivo contrato deve ser: bilateral ou sinalagmático oneroso comuntativo ou não-aleatório* parte da doutrina entende ser possível a revisão de contratos aleatórios na sua parte comutativa Enunciado CJF 440 - Art. 478: É possível a revisão ou resolução por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível não se relacione com a álea assumida no contrato. de execução diferida ou de trato sucessivo STJ prevê a possibilidade de revisão de contrato instantâneo2 na Súmula 286 STJ, Súmula 286: A renegociação de contrato bancário ou a confissão da dívida não impede a possibilidade de discussão sobre eventuais ilegalidades dos contratos anteriores. 2 Nesse mesmo sentido: CESPE - 2014 - TJ-DF - Juiz de Direito Substituto LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 36 Motivo imprevisível crítica da doutrina: hoje pouca coisa pode ser tida como totalmente imprevisível portanto, a imprevisibilidade pode ser também das consequências do motivo Enunciado CJF 17: Art. 317: A interpretação da expressão “motivos imprevisíveis” constante do art. 317 do novo Código Civil deve abarcar tanto causas de desproporção não-previsíveis como também causas previsíveis, mas de resultados imprevisíveis. Enunciado CJF 175: Art. 478: A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às conseqüências que ele produz. Onerosidade excessiva = quebra do sinalágma Enunciado CJF 365: Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena. Enunciado CJF 366: Art. 478: O fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação. ausência ou não de mora 1ª corrente (minoritário): havendo mora não seria possível a pretensão de revisão de contrato 2ª corrente (majoritário): a mora é irrelevante para o pedido de revisão contratual Enunciado CJF 354: Arts. 395, 396 e 408: A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor. X STJ, Súmula 380: A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 37 2.2) REVISÃO CONTRATUAL POR FATO SUPERVENIENTE NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Previsão normativa: Art. 6º São direitos básicos do consumidor: V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; Teoria adotado pelo CDC: teoria da BASE OBJETIVA DO NEGÓCIO JURÍDICO ou TEORIA DA EQUIDADE CONTRATUAL Requisito: basta a demonstração da onerosidade excessiva Requisitos da revisão no CC Quanto ao contrato bilateral ou sinalagmático oneroso doutrina: é possível no contrato aleatório - na parte alheia ao risco intrinseco do contrato comutativo ou não-aleatório doutrina: é possível a revisão da parte comutativa do contrato aleatório de execução diferida ou trato sucessivo Motivo imprevisível ou que gere consequencias imprevisiveis Onerosidade excessiva Requisitos da revisão no CDC Onerosidade excessiva LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 38 1) INTRODUÇÃO Conceito de vícios redibitórios: defeitos que desvalorizam a coisa ou a torna imprópria para o uso o contrato deve ser: bilateral, oneroso e comutativo ou doação onerosa: remuneratória ou modal CC, art. 441. A coisa recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor. Previsão normativa: CC, arts. 441/446 Vício redibitório X erro VÍCIO REDIBITÓRIO ERRO Vício do objeto do negócio Vício de vontade Plano da eficácia = resolução ou abatimento do preço Plano da validade = anulabilidade A aplicação do princípio da conservação dos contratos: a resolução é o último caminho vícios sem grandes repercussões à utilidade da coisa: NÃO cabe ação rescisória, mas apenas quanti minoris LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 39 A responsabilidade do alienante persiste mesmo se a coisa perecer em poder do adquirente, em razão do vício redibitório CC, art. 444. A responsabilidade do alienante subsiste ainda que a coisa pereça em poder do alienatário, se perecer por vício oculto, já existente ao tempo da tradição. Ações edilícias: Espécies: quanti minoris ou estimatória: pretensão de abatimento proporcional do preço ação redibitória: resolução do contrato + perdas e danos (se houver má-fé) CC, art. 443. Se o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não conhecia, tão- somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato. Natureza das ações edilícias: constitutivas negativas LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 40 Prazos das ações edilícias: prazos decadenciais (CC, 445 e Enunciado CJF 28): vício perceptível de imediato: bem móvel: 30 dias contado da entrega da coisa bem imóvel: 1 ano se já estava na posse da coisa: o prazo conta da alienação e pela metade vício NÃO-verificável de imediato: bem móvel: 180 dias contado da ciência do vício bem imóvel: 1 ano a divergência doutrinária relativa ao art. 445, § 1º: 1ª corrente: a pretensão nos prazos de 30 dias e 1 ano (CC, art. 445, caput) para vícios ocultos não verificáveis de imediato somente acontece se o vício aparecer nos 180 dias ou 1 ano (CC, art. 445, §1º) Enunciado CJF 174:Art. 445: Em se tratando de vício oculto, o adquirente tem os prazos do caput do art. 445 para obter redibição ou abatimento de preço, desde que os vícios se revelem nos prazos estabelecidos no § 1º, fluindo, entretanto, a partir do conhecimento do defeito. 2ª corrente (Tartuce): não importa quando o vício se tornou conhecido, é a partir daí que se inicia os prazos de 180 dias ou 1 ano LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 41 Jurisprudência sobre prazo: Prazo no vício oculto em bem móvel: prazo máximo de 180 dias para perceber o vício (§ 1º do art. 445) = se o notar neste período, tem o prazo de decadência de 30 dias (a partir da verificação do vício) para ajuizar a ação redibitória.3 Regras especiais: venda de animais - ordem de preferência normativa para os prazos das ações edilícias: CC, art. 445. (...) § 2o Tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria. Legislação especial Usos e costumes Código Civil a cláusula de garantia obsta a contagem do prazo decadencial – desde que o adquirente denuncie o defeito em 30 dias do conhecimento do vício CC, art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência. a não informação no prazo de 30 dias gera: perda do direito de garantia – e não de ação edilícia 3 STJ - REsp 1.095.882-SP, Info 554/15 LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 42 1) INTRODUÇÃO Conceito de evicção: perda da coisa diante de uma decisão judicial ou de um ato administrativo que a atribui a um terceiro Denominação das partes: alienante: aquele que transfere a coisa viciada evicto ou adquirente: aquele que perde a coisa viciada evictor ou terceiro: aquele que tem a decisão judicial ou ato administrativo a seu favor A autonomia privada e a responsabilidade pela evicção: CC, art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção. reforço da evicção: até o limite do dobro do valor da coisa exclusão da evicção (cláusula non praestaenda evictione): cláusula expressa de exclusão + conhecimento do risco da evicção = isenção de toda responsabilidade cláusula expressa de exclusão + não conhecimento do risco = alienante responde pelo preço da coisa CC, art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 43 A prescrição: NÃO corre prescrição pendendo ação de evicção CC, art. 199. Não corre igualmente a prescrição: III - pendendo ação de evicção. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 44 A garantia legal contra a evicção: para contratos onerosos (mesmo que em hasta pública) CC, art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública. no caso de evicção TOTAL: CC, art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço ou das quantias que pagou: I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído. Parágrafo único. O preço, seja a evicção total ou parcial, será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de evicção parcial. restituição integral do preço pago – valor da coisa à época em que se perdeu indenização de frutos que foram restituídos ao evictor indenização por prejuízos advindos da evicção custas judiciais e honorários de advogado valor das benfeitorias úteis e necessárias não abonadas pelo evictor se forem abonadas: o valor destas deverá ser levado em conta na restituição devida evicção parcial: CC, art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização. evicção parcial considerável: opção pela rescisão do contrato ou restituição da parte do preço (perdas e danos) evicção parcial não considerável: perdas e danos LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 45 A deterioração da coisa: permanece a responsabilidade do alienante, salvo dolo do evicto CC, art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do adquirente. Se o evicto tiver vantagem com a deterioração e não tiver sido condenado a indenizar o evictor: o valor da vantagem será descontado do pedido de indenização em face do alienante CC, art. 452. Se o adquirente tiver auferido vantagens das deteriorações, e não tiver sido condenado a indenizá-las, o valor das vantagens será deduzido da quantia que lhe houver de dar o alienante. Questões processuais: a denunciação da lide na ação de evicção: NÃO é obrigatória Enunciado CJF 434: Art. 456: A ausência de denunciação da lide ao alienante, na evicção, não impede o exercício de pretensão reparatória por meio de via autônoma. é possível a denunciação por salto – de qualquer dos responsáveis pelo vício Enunciado CJF 29: Art. 456: A interpretação do art. 456 do novo Código Civil permite ao evicto a denunciação direta de qualquer dos responsáveis pelo vício. CC, Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do processo. exemplo típico de eficácia externa dos contratos sendo manifesta a evicção – pode o adquirente deixar de oferecer defesa (exceção ao art. 75, II, do CPC) CC, art. 456. (...) Parágrafo único. Não atendendo o alienante à denunciação da lide, e sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos. CPC, art. 75. Feita a denunciação pelo réu: (...) II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que Ihe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até final; LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 46 Formas de extinção do contrato extinção normal do contrato cumprimento da obrigação termo por fatos anteriores à celebração invalidade contratualcláusula de arrependimento cláusula resolutiva expressa por fatos posteriores à celebração resolução - inadimplemento inexecução voluntária inexecução involuntária onerosidade excessiva cláusua resolutiva tácita resilição - direito potestativo resilição bilateral resilição unilateral por morte LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 47 1) EXTINÇÃO NORMAL DOS CONTRATOS A extinção normal: cumprimento verificado o termo do negócio Consequências da extinção normal do contrato regra: extingue-se as obrigações entre as partes contratantes exceção – deveres anexos responsabilidade civil pós-contratual post factum finitum CC, art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 48 2) EXTINÇÃO POR FATOS ANTERIORES À CELEBRAÇÃO DO CONTRATO 2.1) INVALIDADES CONTRATAUAIS Casos de invalidade Nulidade CC, art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. Anulabilidade CC, art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. 2.2) CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO Conceito: estipulação contratual de que este pode ser extinto mediante declaração unilateral de vontade (direito potestativo) LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 49 2.3) CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA Conceito: previsão de que um evento futuro e incerto (condição) acarrete a extinção do contrato CC, art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. extinção do contrato: independe de pronunciamento judicial na cláusula resolutiva expressa Enunciado CJF 436: Art. 474: A cláusula resolutiva expressa produz efeitos extintivos independentemente de pronunciamento judicial a mora: necessário notificação para a constituição em mora STJ, Súmula 369: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 50 3) EXTINÇÃO POR FATOS POSTERIORES À CELEBRAÇÃO Conceitos básicos: rescisão (plano da eficácia): extinção por fatos posteriores ao contrato – pode ser: resolução: extinção por descumprimento resilição: extinção por vontade bilateral ou unilateral (quando permitido em lei) LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 51 3.1) RESOLUÇÃO – O INADIMPLEMENTO CONTRATUAL 3.1.1) A INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA Conceito: impossibilidade da prestação por culpa ou dolo do devedor Efeitos: Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos. Perdas e danos: danos emergentes lucros cessantes danos morais danos estéticos outros danos imateriais Enunciado CJF 31: Art. 475: As perdas e danos mencionados no art. 475 do novo Código Civil dependem da imputabilidade da causa da possível resolução. Direito potestativo de resolução exigir cumprimento da outra parte A teoria do adimplemento substancial (substantial performance): quando o contrato tiver cumprimento substancial não caberá sua extinção, mas apenas outros efeitos jurídicos Enunciado CJF 361: Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 52 3.1.2) INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA Conceito: descumprimento contratual por fato alheio à vontade das partes = caso fortuito e força maior Efeitos jurídicos: regra: resolução sem perdas e danos exceção – responsabilidade mesmo em caso fortuito ou força maior: devedor estiver em MORA – salvo se provar que a perda ocorreria mesmo não havendo mora CC, art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada. cláusula de assunção convencional CC, art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado demais casos expressamente previstos em lei. Exemplo: CC, art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força maior. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 53 3.1.3) RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA A resolução do art. 478: onerosidade excessiva + imprevisibilidade e extraordinariedade CC, art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação. Enunciados do CJF: imprevisibilidade e extraordinariedade: do motivo E DE SUAS CONSEQUÊNCIAS Enunciado CJF 175: Art. 478: A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às conseqüências que ele produz. Enunciado CJF 17: Art. 317: A interpretação da expressão “motivos imprevisíveis” constante do art. 317 do novo Código Civil deve abarcar tanto causas de desproporção não-previsíveis como também causas previsíveis,mas de resultados imprevisíveis. fato extraordinário e imprevisível: é aquele não coberto pelos riscos próprios da contratação Enunciado CJF 366: Art. 478: O fato extraordinário e imprevisível causador de onerosidade excessiva é aquele que não está coberto objetivamente pelos riscos próprios da contratação. dispensa-se a prova da vantagem para a incidência do art. 478 Enunciado CJF 365: Art. 478. A extrema vantagem do art. 478 deve ser interpretada como elemento acidental da alteração das circunstâncias, que comporta a incidência da resolução ou revisão do negócio por onerosidade excessiva, independentemente de sua demonstração plena. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 54 A possibilidade de revisão contratual Enunciado CJF 176: Art. 478: Em atenção ao princípio da conservação dos negócios jurídicos, o art. 478 do Código Civil de 2002 deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial dos contratos e não à resolução contratual. o juiz NÃO pode impor a revisão do contrato ex ofício Enunciado CJF 367: Art. 479: Em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo eqüitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada sua vontade e observado o contraditório. o réu pode, em defesa, se oferecer à revisão do contrato: nova forma de pedido contraposto CC, art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do contrato. a possibilidade de revisão de contratos que envolvem negócios unilaterais CC, art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva. LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 55 3.1.4) A CLÁUSULA RESOLUTIVA TÁCITA (LEGAL) Conceito: previsão normativa de resolução do contrato diante do acontecimento de algum fato é necessária a interpelação judicial CC, art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial. A exceção de contrato não cumprido como cláusula resolutiva tácita o descumprimento total: antes de cumprida sua obrigação não se pode exigir a do outro é possível a alegação da exceptio non adimplenti contractus em sede de petição inicial: objetivo de resolução do contrato CC, art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro. o descumprimento parcial ou o descumprimento antecipado: diminuição patrimonial que torna duvidoso o cumprimento do contrato = pode a outra parte recusar-se a cumprir sua prestação até o cumprimento da outra ou de oferecimento de garantia Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la. Enunciado CJF 437: Art. 475: A resolução da relação jurídica contratual também pode decorrer do inadimplemento antecipado. Enunciado CJF 438: Art. 477: A exceção de inseguridade, prevista no art. 477, também pode ser oposta à parte cuja conduta põe, manifestamente em risco, a execução do programa contratual. a cláusula que exclui o direito de exceção de contrato não cumprido é ilegal LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 56 3.2) RESILIÇÃO 3.2.1) RESILIÇÃO BILATERAL OU DISTRATO Conceito: novo negócio em que ambas as partes põem fim ao anterior distrato: MESMA FORMA do contrato CC, art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato. 3.2.2) A RESILIÇÃO UNILATERAL Conceito: dissolução pela simples vontade (direito potestativo) de uma das partes requisito: previsão legal CC, art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte. denúncia vazia: na lei de locações revogação e renúncia: nos contratos baseados na confiança exoneração por ato unilateral: na fiança por prazo indeterminado Art. 835. O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por todos os efeitos da fiança, durante sessenta dias após a notificação do credor. a fiança por prazo certo – é possível previsão de prorrogação automática no contrato4 resilição unilateral e a realização de investimentos: somente poderá ser feita após o prazo compatível com a natureza e vulto dos investimentos Art. 473. (...) Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. 4 STJ. 2ª Seção. REsp 1.253.411-CE, julgado em 24/6/2015 (Info 565). LUCAS SACHSIDA JUNQUEIRA CARNEIRO – Teoria Geral dos Contratos Página 57 4) EXTINÇÃO POR MORTE DE UM DOS CONTRATANTES Extinção por morte: somente no caso de obrigação personalíssima
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